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Temos Vivos. Tempos Mortos. Eclea Bosi

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Ecléa Bosi

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Existe, dentro da história cronológica, outra história mais densa de substância memorativa no fluxo do tempo. Aparece com clareza nas biografias; tal como nas paisagens, há marcos no espaço on de o s valores se adensam .

O tem po biográfico t em andamento com o n a m úsica desde o allegro da inf ância qu e aparece na lem brança lum inoso e do ce, até o adagio da velhice.

A sociedade industrial multiplica horas mortas que apenas suportamos: são os tempos vazios das filas, dos bancos, da burocracia, preenchimento de formulários...

Com o alguns percursos ob rigató rios na cidade, qu e nos trazem acúm ulo d e signo s de m era info rm ação no m elho r do s casos; tais percursos sem sign ificação b iog ráfica, são cada vez m ais invasivos.

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M eus dep oen tes eram jovens, decênios atrás e penso q ue neles ten ha p esado m eno s esse tem po vazio; p esa ent ão sob re n ó s um desfavor em relação a esses velh o s record ado res. Se eu pedir: – Cont e-m e sua vida! Sei qu e o intelectual m e virá com várias interpretações para preencher lacunas ou iludir esse d esf avo r.

M as se eu consegu ir qu e m e narrem seus dias com o f azem as pessoas mais simples, ficará evidente a espoliação do nosso tem po de vida pela ord em social sem escam ot eação p ossível.

Se a su bs t ân ci a m e m or at i v a se a de nsa em a l gu m a s passagens, noutras se esgarça com grave prejuízo para a formação da identidade. É grave também nesse processo o of uscam ento perceptivo, o u m elho r d izendo , sub jetivo, u m a vez qu e afeta o sujeito d a percepção.

As coisas aparecem com menos nitidez dada a rapidez e descontinuidade das relações vividas; efeito da alienação, a grand e em bo tad ora da cogn ição, da sim ples ob servação do m undo, do conhecim ento d o out ro.

Desse tempo vazio a atenção foge como ave assustada. Se há um a relação q ue u ne épo ca e narrativa, con vém verificar se a perd a do dom de narrar é sofrida p or tod as as classes sociais; mas não foi a classe dominada que fragmentou o mundo e a experiência; foi a outra classe que daí extraiu sua energia, sua fo rça e o con junt o d e seus ben s.

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Objetos Biog ráficos e Objetos de Status

Na Pequena História da Fotografia e em Paris, Capital do Século XIX, Benjam in d escreve o in terio r d os lares burg ueses, a intimidade atapetada e macia, os detalhes da decoração que procuram m arcar a singu laridade d e seus pro prietários.

Criam os sem pre ao no sso redo r espaços expressivos send o o processo de valorização d os int eriores crescent e na m edid a em que a cidade exibe uma face estranha e adversa para os seus moradores.

São tent ativas de criar um m un do acolhedo r entre as paredes qu e o isolam do m un do alienado e hostil de fora.

Nas biografias que colhi, as casas descritas tinham janelas para a frent e; ver a rua era um a diversão apreciada não havendo a preocupação com o isolam ento, com o h oje, em que altos mu ros m ant êm a privacidad e e escond em a fachada.

Fui tentada a rever uma oposição, que há muito venho fazendo ao comparar lembranças, a oposição entre objetos biográficos e ob jeto s de status.

Se a mobilidade e a contingência acompanham nossas relações, há algo que desejamos que permaneça imóvel, ao m enos na velhice: o con junt o de o bjetos que n os rodeiam . Nesse conju nt o am am os a dispo sição tácita, m as eloq üent e. M ais qu e uma sensação estética ou de utilidade eles nos dão um assent im ent o à n ossa po sição n o m un do , à nossa identid ade; e os que estiveram sempre conosco falam à nossa alma em sua líng ua n atal. O arranjo da sala, cuja cadeiras prep aram o círculo

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das conversas amigas, como a cama prepara o descanso e a m esa de cabeceira os derrad eiros instan tes do dia, o rit ual ant es do sono .

A ord em desse espaço no s un e e no s separa da sociedad e e é um elo f am iliar com o passado.

Quanto mais voltados ao uso quotidiano mais expressivos são os objetos: os metais se arredondam, se ovalam, os cabos de madeira brilham pelo contato com as mãos, tudo perde as arestas e se ab randa.

São estes os objeto s qu e Violette M orin 3 chama de objetos

biog ráficos, po is envelhecem com o po ssuido r e se incorpo ram à sua vida: o relógio d a fam ília, o álbu m de fot og rafias, a m edalha do esportista, a máscara do etnólogo, o mapa-múndi do viajante... Cada um desses objetos representa uma experiência vivida, um a avent ura afetiva do m orado r.

Diferent es são os am bient es arrum ados para patentear status, com o um décor de teatro: h á objeto s qu e a m od a valoriza, m as não se enraízam no s interiores ou têm garant ia po r um ano , não envelhecem com o d on o, apenas se deterioram .

Só o objeto biográfico é insubstituível: as coisas que e n v e l h e c e m c o n o s c o n o s d ã o a p a c í f i c a s e n s a ç ã o d e continuidade.

Reconhece M achado de A ssis:

Não, não, a minha memória não é boa. É comparável a alguém que tivesse vivido por hospedarias, sem guardar delas nem caras, nem no m es, e som ent e raras circun stân cias. A qu em

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passe a vida na mesma casa de família, com os seus eternos m óveis e costum es, pessoas e afeições, é que se lhe g rava tu do pela con tinu idade e repetição.

Não só em nossa sociedade dividimos as coisas em objetos de con sum o e relíqu ias de fam ília. M auss encon tra essa distin ção em m uito s po vos: tanto entre os rom anos com o ent re os po vos de Samoa, Trobriand e os indígenas norte-americanos. Há talism ãs, cob ertas de pele e cob res blason ado s, t ecido s arm oriais qu e se transm item solenem ente com o as m ulheres no casam ento , os privilégios, os nomes às crianças. Essas propriedades são sagrad as, não se vend em nem são cedidas, e a fam ília jam ais se desfaria delas a não ser com grande d esgo sto . O conjunt o dessas coisas em to das as tribo s é sem pre de nat ureza espiritual.

Cada u m a dessas coisas tem no m e: os tecido s bo rdados com faces, olhos, figuras animais e humanas, as casas, as paredes decoradas.

Tud o f ala, o t eto , o f og o, as escultu ras, as pint uras.

Os prat os e as colheres blason adas com o to tem do clã são anim ado s e feéricos: são rép licas dos instrum ent os inesgo táveis que o s espíritos deram aos ancestrais. O t em po acresce seu valor: a arca passa a velha arca, depois a velha arca qu e bóia no m ar, até ser chamada de a velha arca que bóia no mar com o sol nascente dentro.

A casa on de se desenvolve um a criança é po voada de coisas preciosas qu e não têm preço.

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A s coisas qu e m od elam os du rant e anos resistiram a nó s com sua alteridade e tom aram algo do qu e fom os. Ond e está no ssa primeira casa? Só em sonhos podemos retornar ao chão onde demos nossos primeiros passos.

Co nd enado s pelo sistem a econ ôm ico à extrem a m ob ilidade, perdemos a crônica da família e da cidade mesma em nosso percurso errante.

O desenraizam ent o é cond ição desagregadora da m em ória. * * *

Um a idéia-m estra para análise seria a de u m a separação d e um espaço p rivado, p essoal e o espaço p úb lico, anôn im o.

Creio q ue aind a se po ssa ir além e apro fu nd ar essa distinção em termos de psicologia social do espaço vivido.

To m e m o s um d os ex em pl os d ado s po r Be nj a m i n: as fotografias familiares que estão em cima de um móvel numa sala de visitas bu rguesa.

A sua presença física tem qu e ser lida feno m enologicam ente. E aqui a visada intencional da pessoa que colocou aquele

retrato sob re o m óvel é que d eve passar pelo crivo d o intérp rete. 1. A fot o d o p arente que já m orreu p ode ser cont emp lada pelo dono da casa como um preito sentido à sua memória. Estamos, portanto, em pleno reino de privacidade, tout court, qu e int eressa e afeta a relação p essoal, ínt im a, do recordad o e do recordado r.

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2. A fo to d aquele m esm o parent e po deria ter sido colocada com o espírito de q uem faz um a exposição q ue int eressa o o lhar do outro – o olhar social. Por essa visada a foto sobre o móvel carece de uma aura afetiva própria e ganha outra aura, a do status, on de estão em bu tido s valores de d istinção, sup erioridade, co m p et i çã o, na m edi da em q ue o m or t o f o i um a p ess oa im po rtante, logo do tada de valor-de-troca.

Um olhar inibe o outro: são abordagens qualitativamente excludentes. O objeto ou é biográfico, ou é signo de status, e, com o t al, ent raria para a esfera de um a “ intim idade” , ent re aspas, ostensiva e publicável, que já f az parte d a História d as Ideo log ias e das M entalidades, de qu e Benjam in fo i um adm irável precursor. Se essa observação faz sent ido , eu diria qu e o bu rguês, enquan to agente e produto do universo de valores de troca, não pode refu giar-se auten ticam ent e na esfera da int im idade afetiva, po is até m esm o os seus ob jeto s biog ráficos pod em converter-se – e freqüentem ente se con vertem – em peças de um m ecanism o d e reprodução de status. A sociedade de massas estendeu e m ultiplicou esse fenôm eno e, ao m esm o t em po , o d issipou e o desgasto u criando o ob jeto descartável. A sociedade de con sum o é apenas mais rápida na produção, circulação e descarte dos ob jeto s de status. E certam ent e m eno s requint ada e m ais pu eril do que a burguesia francesa ou alemã do começo do século. M as não m ais cruel.

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E existem, além desses, aqueles objetos perdidos e desparceirados que a ordenação racional do espaço tanto despreza. Cacos misteriosos são pedaços de alguma coisa que pertenceu a alguém. Benjamin, no ensaio famoso sobre Baudelaire, segue os passos do flaneur observando vitrinas e galerias; m as haverá algu ém para recolher o s despo jos da cidad e para os quais ning uém volta os olhos e o vent o dispersa.

Os depoim ent os que o uvi estão po voado s de coisas perdidas que se daria tudo para encontrar quando nos abandonam, sum indo em fu nd os inson dáveis de arm ários ou nas fen das do assoalho, e nos deixam à sua p rocu ra pelo resto d a vida 4.

Reprod uzo aqu i trecho da narrativa que ou vi do Sr. Am adeu, filho de u m a grand e e afet uo sa fam ília de Trieste, qu e com bat eu na Resistên cia du rant e a últim a gu erra m un dial:

 – Hoje as crianças lêem Pin óquio em ad ap tação e a história fica bem resumida. Ou vêem o filme de Walt Disney. Mas nós tínhamos em casa o livro original do escritor italiano Collodi. Nele, o carpinteiro Gepetto qu e criou o b on eco d e pau era um trabalhador que só conh eceu a pobreza. M orava num qu artinho onde lutava contra a fome e o frio com a força do seu braço que ia diminu indo com a idade. No fu ndo desse quartinho via-se um a lareira com um belo fo go : mas era apenas um a pintu ra do engenhoso Gepetto na parede, para iludir o f rio do inverno com a visão d e um a lareira. Esse desenh o m e encant ava e penso que ainda encanta as crianças que folheiam o livro.

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Gepett o acon selhava o teim oso Pinóq uio, cabeça de pau:  – Não jo gu e n ada f ora. Isso u m d ia p od e servir p ara algum a coisa!

( E st e c ons el ho o s v el h os v i v em r ep et i nd o: e l e s nã o conseguiram assimilar ainda a experiência do descartável que lhes parece um desperd ício cru el. Por isso o arm ário d as vovós é cheio de caixas, retalhos e vidrinhos...)

Os meninos italianos ouviam de suas mães este conselho qu e Gepetto dava para o endiabrado Pinóqu io.

* * *

Capturado pelos nazistas, Amadeu conheceu um extremo despo jam ent o, f oi privado de t ud o. A s roup as largas dan çavam no seu corp o e os sapato s, tirados de u m a pilha sem nu m eração, feriam seus pés. Vagava pelo cam po com o u m espectro f am into , ia resistind o n o “ avesso d o n ada” . M as sem pre havia algo a ser descoberto: um papel rasgado que a ventania arrastava, um santinh o am assado qu e algu ém esqu eceu, um prego sem cabeça, uma chave partida. Ele ia guardando cada um desses fiapos abandonados.

Por exemplo, de um papel rasgado fez um envelope, descreveu no avesso a sua ag on ia, end ereçou ao irm ão em Trieste e escond eu-o n um bu raco n o chão. Do is anos depo is seu irm ão

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recebia a carta. Alguém a havia encontrado e enviado pelo correio. Qu em teria sido? Nu nca sou beram .

A chave partida que recolheu n um ralo e conservou po r tant o tempo, ele transformou num instrumento heróico. Quando conduzido para Auschwitz, usou-a como chave de fenda na  janelinha do banheiro do trem e daí saltou para a lib erd ade e

para a vida.

* * *

A Luz de Estrelas Remotas

A m e m ó r i a o p e r a c o m g r a n d e l i b e r d a d e e s c o l h e n d o acont eciment os no espaço e no tem po , não arbitrariam ente m as p o r q u e s e r e l a c i o n a m a t r a v é s d e í n d i c e s c o m u n s . S ã o configurações mais intensas quando sobre elas incide o brilho de um signif icado coletivo.

É tarefa do cientista social procurar esses vínculos de afinidades eletivas ent re fenô m eno s distan ciados no t em po .

Com o exemp lo, cito u m a frase do long o depoim ento de Dona Jovina Pessoa, militante que acompanhou desde os primeiros vagido s anarqu istas do Brasil, até a lu ta pela anistia d os presos po líticos qu e ela travou já com 80 anos.

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 – Tinha m uit a ad m iração por todos os reb eldes. Quan do estu dant e, lia o grande geógrafo Reclus que só com ia pão p orq ue era o qu e a hu m anidade pob re po dia com er.

Fui con sult ar o d icion ário ond e encon trei: “ Reclus, Elisée, geógrafo, França (183 0-1905), autor d e um a Geografia Universal”.

A chei o verbet e m uit o seco com parado à alusão d e D. Jovina. Procurei m estres de Geo grafia e qu and o o s int errogu ei sob re esse autor colhi respostas pobres e evasivas. No entanto, que calor se irradia do rápido lembrar de uma criança atenta: “ Quand o estu dant e, lia o g rande geógrafo Reclus qu e só com ia pão porque era o qu e a hum anidade pobre pod ia com er” .

Em que m om ento terá ela abraçado o an arquism o? E qu em terá sido seu p rof essor? Em qu e aula transm itiu ele o espírito d o geó grafo fran cês para a m enina b rasileira?

É prodígio da memória esta evocação da personalidade coerent e e apaixon ada d e Reclus qu e no s to ca com o se estivesse  junto a nós.

Eis uma tensa configuração formada por Elisée Reclus, por um m estre-escola descon hecido , po r Jovina e, através de q uem a escuto u, vem chegand o até nó s com o índ ice de salvação.

A con stelação m em orativa tem um fu tu ro im previsível; com o gestalt requ er pregnância, fecham ento .

E às vezes esse fechamento vai depender de nossos gestos de ag ora, p orqu e seus aut ores m orreram na véspera, antes de com pletar a figu ra de suas vidas.

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É a história de um passado aberto, inconcluso, capaz de pro m essas. Não se deve julg á-lo com o u m tem po ult rapassado , m as com o u m un iverso cont raditó rio d o q ual se pod em arrancar o sim e o n ão, a tese e ant ítese, o qu e teve segu im ent o t riunf al e o que fo i truncado.

Para tanto exige-se o que Benjamin, no seu ensaio sobre Kafka, chamava de atenção intensa e leve.

Queria aproximar este conceito com o de Simone Weil, filósofa da atenção. Lendo a Ilíada como o poema da força, descobriu qu e Hom ero contem pla com igual serenidade o destino dos gregos e dos troianos, ambos os povos submetidos às leis im placáveis da g uerra e da m ort e.

Esse rem em orar m editativo é tam bém o de Benjam in qu ando, ao rever os prof etas do Ant igo Testam ento, encont ra neles direção para ações presentes. Ou seja, fazendo da memória um apoio sólido d a von tad e, m atriz de pro jeto s.

Isto só é po ssível qu and o o histo riado r pro voca um rasgo no discurso bem costu rado e eng om ado d o histo ricism o e “ se detém bru scam ent e nu m a constelação satu rada de t ensões” 5. Não o

faz para registrar po rm eno res da m ent alidade da época; é um a escolha que tem a ver com o sujeito definido pela ipseidade e não p ela sem elhança com ou tro s, pela m esm idade. Um sujeito qu e tom ou a palavra ou agiu, “ causa de si m esm o” e decidiu eticamente criando um tempo privilegiado, um tempo forte den tro d o correr plano do s dias.

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do passado , no s depo im ent os biog ráficos é eviden te o processo de re-conhecim ento e de elucidação. Escutem os D. Risoleta, anciã negra e antiga cozinh eira, qu e inicia o seu relato: – “ Já está acabando este ano santo e agradeço por estar recordando e burilando m eu espírito” .

O recordar para ela é um tem po sabático e cada fato brut o é lapidad o pelo espírito até qu e desprend a luz.

Por estar cega e muito idosa, medita em sua experiência e tem aut oridad e de con selheira com o p rova o resto da narrativa.

Quando o velho narrador e a criança se encontram, os conselhos são absorvidos pela história: a moral da história faz parte da narrativa como um só corpo, gozando as mesmas vantagens estéticas (as rimas, o humor...).

Não t em o p eso d a m oral abstrat a, m as a graça da f ant asia em bo ra seja um a norm a ideal de condu ta transm itida6.

Ho je precisam os decifrar o q ue esqu ecem os ou não f oi dito , como centelha embaixo das cinzas porque estamos entre dois m om ento s de um a narrativa. Não p od em os dizer com o o velho “ – M as a vida passou! ” , nem com o a criança “ – M as a vida ainda não chegou! ” .

Na cham ada idade prod ut iva (os velho s são os “ im prod ut ivos” nas estat ísticas), b em , n essa idad e o s con selhos foram perdido s, ai de nó s!

Ado rno nas M inim a M oralia já observa qu e não se dão m ais conselho s, cada um fiqu e com sua op inião.

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cam inhando entre destroços nu m chão atu lhado pelos tem po s m orto s qu e nos são im po sto s.

Num texto encantador, “ Narrar e Curar” , Jeann e M arie Gagnebin faz refletir sobre a função curativa das histórias. A narrat iva é terapêut ica, apressa a con valescença qu and o a m ãe, sent ada junt o ao leito da criança, desperta-lhe o ut ra vez o g osto pela vida.

Con cordo, po rque a histó ria con tada é um farmacon , antes preparado pela narrado ra no s tu bo s e pro vetas da f ant asia e da m em ória, através de sábia do sagem .

* * *

Nós devemos então contar histórias? A nossa história?

É verdade que, ao narrar uma experiência profunda, nós a perdem os tam bém , naquele mo m ento em qu e ela se corpo rifica (e se enrijece) na n arrativa.

Porém o m ut ism o tam bém petrifica a lem brança qu e se paralisa e sedim enta n o f un do da gargan ta com o d isse Ung aretti no po em a sob re a infância que ficou:

Arrestata in fo nd o alla go la com e um a roccia di gridi [Presa ao f un do da gargant a com o u m a rocha de gritos.]

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Notas

1. Este texto é um excerto do capítulo 1 – “ A sub stância social da m emó ria” – “ Sob o signo d e Benjamin” [Walter Benjamin], do livro O temp o vivo d a mem ória: en saios d e Psicolo gia Social (São Pau lo: A teliê Edit orial, 20 03 ), e fo i auto rizado po r sua au to ra, Ecléa Bo si, à Secretaria da Edu cação d o Estad o d e São Paulo, p ara com po r este livreto, ent regue a educadores da rede estadu al participantes do “ Program a Cam inho s da A rte – A escola vai ao t eatro” , du rante a exibição d a peça Primeira Pessoa, de Ed la van Steen , com Eva W ilm a e Vân ia Pajares, so b direção de W illiam Pereira, no Palácio d os Band eirant es, em ago sto de 2 00 5. 2. Ecléa Bosi é professora de Psicologia Social na Universidade de São Paulo e escreveu, entre outras, as obras Cultura de massa e cultura po pu lar: leituras de op erárias (Vozes), Simon e W eil: a cond ição o perária e ou tro s estud os sob re a op ressão (Paz e Terra), Rosalía de Castro: poesias (tradução, Brasiliense), Memória e sociedade: lembranças de velhos (Companhia das Letras), Velho s am igos (Companhia das Letras).

3. “ L’Objet” , Com m unications 13, 1969 .

4. No Orlando Furioso de Ariosto, as coisas perdidas na terra sobem para a lua o nd e perm anecem , quem sabe à nossa espera.

5. W. Benjam in, “ Teses sobre a Filosof ia da Histó ria” em Obras escolhidas, vol. I, São Paulo, Brasiliense, 1996. Tese 17 .

6. A s con dições para tran sm issão plena da experiência já não existem no m un do ind ustrial, segun do Benjam in.

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