Microbiologia do trato genital
feminino e masculino
Estrutura do trato genital feminino
O trato genital consiste na genitália externa e na genitália interna em ambos os sexos.
Nas mulheres a genitália externa inclui e a genitália interna inclui
Estrutura do trato genital masculino
Nos homens a genitália externa inclui e a genitália interna inclui
Flora normal em homens
Nos homens, à exceção do último terço da uretra, o trato genital não tem microbiota normal e é estéril.
Flora normal em mulheres
• Influenciada pelos hormônios sexuais e pH:
Meninas após o nascimento → estrogênio materno transferido para a recém-nascida → favorece o acúmulo de glicogênio nas células que revestem a vagina → lactobacilos aeróbios convertem glicogênio em ácido lático → tornam o pH vaginal convertem glicogênio em ácido lático → tornam o pH vaginal ácido (várias semanas) → com a redução dos efeitos do estrogênio → favorece crescimento de outras bactérias (Corinebacterium, cocos e bacilos ) → contribuem para alteração do pH próximo da neutralidade até a puberdade.
Puberdade e idade adulta → aumento dos níveis de estrogênio → predomínio de lactobacilos → pH vaginal ácido.
Flora normal em mulheres
Na menopausa e pós-menopausa → com a redução dos efeitos do estrogênio → pH próximo da neutralidade → favorece crescimento de outras bactérias (flora mista).
Variações na flora normal → população selecionada (gestantes, pós-menopausa...), porção anatômica em estudo (colo, vagina pós-menopausa...), porção anatômica em estudo (colo, vagina ...), técnica de coleta ...
Outras bactérias que pertencem a flora normal
Micro
Micro--organismos organismos Comumente IsoladosComumente Isolados
• Stafilococcus epidermidis • Streptococcus fecalis • Lactobacillus sp • Corynebacterium sp • Escherichia coli Micro
Micro--organismos Ocasionalmente Isolados organismos Ocasionalmente Isolados
• Staphylococcus aureus
• Streptococcus sp (Grupo B - b hemolítico) • Bacteroides fragilis * • Fusobacterium sp * • Veillonella sp * • Peptococcus sp * • Peptostreptococcus sp * *anaeróbios
• Streptococcus sp (Grupo B - b hemolítico) • Clostridium perfringens *
• Protues sp. • Klebsiella sp.
Fatores extrínsecos que podem alterar a
flora normal
• Medicamentos: uso de antibióticos, corticóides, anticoncepcionais, hormônios.
• Grande número de parceiros sexuais. • Uso de sabonetes com perfume.
• Uso de desodorantes íntimos. • Uso de desodorantes íntimos. • Uso de roupas sintéticas.
• Higiene pessoal deficiente. • Alterações hormonais.
Fatores intrínsecos que podem alterar a
flora normal
• Diabetes.
• Imunossupressão.
• Alterações hormonais (puberdade, gravidez, menopausa, amamentação).
Mecanismos de proteção
•
pHpH ácido é um fator protetor → pH vaginal normal: 3,8 a 4,5 Redução do pH → favorece a instalação de micro-organismos
patogênicos e oportunista.
•
Células fagocíticas MacrófagosCélulas Langerhans Células dendríticas
Mecanismos de proteção
•
Reação inflamatóriaOcorre quando o antígeno alcança a mucosa cervical ou vaginal→ estimula a migração de fagócitos no local da infecção;
Migração das células fagocitárias → ativada por citocinas Migração das células fagocitárias → ativada por citocinas (peptídeos ou glicoproteínas que atuam como sinais intercelulares regulando a resposta imune e inflamatória) → contribui para eliminar a maioria dos micro-organismos patogênicos.
Mecanismos de proteção
•
Lactobacillus sp.Oferecem proteção natural à mucosa vaginal:
produzem ácidos orgânicos e substâncias antimicrobianas (peróxido de hidrogênio e bacteriocinas;
Competem por nutrientes e receptores celulares com as Competem por nutrientes e receptores celulares com as bactérias patogênicas → inibem a adesão, colonização, multiplicação e difusão de patógenos;
Flora normal vaginal em mulheres em
idade fértil
Flora normal vaginal em mulheres em
idade fértil
Doenças do Trato Genital
• A maioria das doenças do trato genital é transmitida pela atividade sexual → doenças sexualmente transmissíveis (DSTs);
• Problemas de saúde pública mais comuns em todo o mundo;
• No Brasil, as estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS) de infecções de transmissão sexual na população sexualmente de infecções de transmissão sexual na população sexualmente ativa, a cada ano, são:
Clamídia: 1.967.200 Gonorreia: 1.541.800 Sífilis : 937.000
HPV: 685.400
Epidemiologia
• Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que ocorram mais de 340 milhões de novos casos de DST curáveis (bacterianas e protozoárias) anualmente, no mundo, acometendo homens e mulheres entre 15 e 49 anos de idade, sendo quase 80% desses casos nos países em desenvolvimento;
• No Brasil, a incidência anual estimada das DST é de 10 a 12 milhões • No Brasil, a incidência anual estimada das DST é de 10 a 12 milhões
de casos
• No Brasil, em torno de 17% dos homens sexualmente ativos entre 15 e 64 anos declararam ter tido pelo menos um antecedente relacionado às DST;
• No Brasil, em torno de 56,5% mulheres sexualmente ativas entre 15 e 64 anos declararam antecedentes de DST.
Epidemiologia
• Dentre os indivíduos sexualmente ativos de 15 a 64 anos que declararam ter tido antecedentes relacionados às DST (corrimento, feridas, verrugas ou bolhas), a busca por tratamento, no último episódio, foi consistentemente maior entre as mulheres (88,6%) quando comparadas aos homens entre as mulheres (88,6%) quando comparadas aos homens (82%).
• Enquanto a maior parte das mulheres que declararam história prévia relacionada às DST procuraram, no último episódio de algum desses agravos, tratamento com médico (99%), mais de um quarto dos homens (25,3%) buscaram atendimento em farmácias.
Chlamydia sp.
• Parasitas intracelulares obrigatórios → dependem da célula do hospedeiro para obter energia em forma de ATP e NAD+ • Gênero é dividido em três espécies:
Chlamydia trachomatis Trato geniturinário + olhos; Chlamydia psittaci
Chlamydia pneumoniae
Tem parede análoga a parede celular dos Gram negativos → dupla camada lipídica, sem peptideoglicano e ácido
murâmico.
Infecções
causadas por
Fisiopatologia da infecção
Corpo Elementar(CE) Forma Infectante, sobrevive a passagem extracelular Receptores específicos Liga-se à célula hospedeira suscetível fagocitose Incorpora-se ao citoplasma da célula CE impede ligação fagossoma e lisossomaProteínas membrana (adesinas) que se ligam a receptores glicolipídicos ou
glicopolissacarídeos da célula do hospedeiro
CEs são liberados para infectar novas células CRs recém-formados,
formam corpos de inclusão
CR sofrem divisão binária até a célula ser depletada do ATP e dos aminoácidos
essenciais
O corpo elementar reorganiza-se em corpo reticulado maior
(não infeccioso)
Forma metabolicamente ativa
Após 48h, a multiplicação cessa, CR condensam-se formando os Corpos Elementares infecciosos Lise da célula hospedeira
Uretrites não gonocócicas
• Acometem indivíduos jovens e sexualmente ativos;
• Tempo de incubação → 2 a 3 semanas
• Infecções frequentemente são assintomáticas
(mulheres ↑ 50%);
• Em homens → afeta uretra (principal local de infecção)
• Em homens → afeta uretra (principal local de infecção)
e epididímo;
• Em mulheres → afetar uretra, cérvice, trompas de
falópio e tecidos adjacentes (Doença inflamatório
pélvica – DIP);
• Infecção crônico ou recorrente pode causar
esterilidade em ambos os sexos e gestações
ectópicas.
Linfogranuloma venéreo
• Caracteriza-se por lesões primárias
indolores no local da infecção,
após 1 a 4 semanas de incubação
→ seguida em 1 a 2 meses por
edema doloroso dos linfonodos
edema doloroso dos linfonodos
inguinais e perriretais →
linfonodos afetados supuram →
inflamação crônica e a fibrose
provocam ulceração extensa e
bloqueio da drenagem linfática.
Identificação laboratorial
• Não são visualizadas pela coloração de Gram;
• Cultura celulares (Células MacCoy)→ padrão ouro
→ alto custo e alta complexidade;
• Testes de amplificação de Ác. Nucleico (NAAT) →
muito sensíveis e específicos → pesquisa em
muito sensíveis e específicos → pesquisa em
urina e uretra de homens e mulheres; cérvice de
mulheres.
• Imunofluorescência direta (IFD) → utilizando
anticorpos monoclonais marcados com
fluorescência → detecta em vários materiais a
bactéria intacta marcada com Ac monoclonais
Identificação laboratorial
• Ensaio imunoenzimático (EIA) → detecta
antígenos bacterianos ou um anticorpo marcado
com enzima;
• Testes de amplificação de Ác. Nucleico (NAAT) →
muito sensíveis e específicos → pesquisa em
muito sensíveis e específicos → pesquisa em
urina e uretra de homens e mulheres; cérvice de
mulheres;
• Hibridização de ácido nucleico (sonda de NA) →
Detecta sequências de DNA ou RNA específicas
de C. trachomatis.
Identificação laboratorial
• Sorologia(EIA) :
Raramente utilizado para infecções não
complicadas (resultados difíceis de interpretar)
→ tem valor limitado porque os títulos se
mantém altos por longos período de tempo;
mantém altos por longos período de tempo;
Os critérios utilizados no diagnóstico LGV
Títulos > 1:64 sugestivas;
Títulos > 1:256 diagnóstico;
Títulos < 01:32 descartar.
Neisseria gonorrhoeae
• Coco Gram negativo → diplococos frequentemente
observado dentro de leucócitos polimorfonucleares;
• Aeróbio;
• Imóveis;
• Produz infecção piogênica com grande quantidade de
• Produz infecção piogênica com grande quantidade de
leucócitos;
• Espécies patogênicas para o ser humano:
Neisseria gonorrhoeae → gonococo → gonorreia
Neisseria meningitidis → meningococo → meningite;
• Transmissão durante contato sexual →
Neisseria gonorrhoeae
Mecanismos de virulência
• Não possuem cápsula (N. meningitidis → cápsula)
• Pillis → pilina → conferem resistência a fagocitose e
aumentam a capacidade de fixação do micro-organismo na
célula do hospedeiro → antigênicos;
• Mecanismos de resistência
• Mecanismos de resistência
• Conversão genética → mistura e recombina regiões
cromossômicas → codificação de pilina com diferentes
sequência de aminoácidos → produção de pilina
antigenicamente diferente → evita a resposta imune →
causa infecções repetidas no mesmo indivíduo;
• Variação de fase → alteração na sequência de genes → não
há produção de pilina → sem resposta imune.
Neisseria gonorrhoeae
Mecanismos de virulência
• Proteínas externas de membrana (OMPs)
• OMP I → porinas → proteína integral que formam poros
hidrofílicos e permitem a passagem de nutrientes e
produtos metabólicos → está relacionada com a fixação da
N.gonorrhoeae na célula hospedeira e prevenção da
N.gonorrhoeae na célula hospedeira e prevenção da
formação do fagolisossoma em neutrófilos;
• OMP II → proteína associada à opacidade da colônia em
meio de cultura → medeia a fixação do micro-organismo na
célula do hospedeiro → sofre variações antigênicas →
contribui significativamente para a capacidade do
organismo de evadir da resposta imune e causar infecções
repetidas.
Fisiopatologia da infecção
Pillis (fímbria tipo 4) + ÓMP II Receptores específicos Glicoproteína de membrana Liga-se à célula hospedeira suscetível:
Uretra, reto, cérvice, trompa de falópio Penetração na célula epitelial Endocitose OMP I Proliferação da
N.gonorrhoeae Atinge camada subepitelial
Transporte do vacúolo endocítico para membrana basal da
célula infectada
Forma metabolicamente ativa Exocitose
Gonorreia
• Uretrite gonocócica ou blenorragia; • É uma DST
• Entre 0,5% a 3% de assintomáticos evoluem para infecção gonocócica disseminada → artrites, endocardites,meningites e lesões cutâneas.
e lesões cutâneas.
• Homem → infecção da uretra: uretrite → caracterizada por processo inflamatório agudo e piogênico, 3 a 7 dias após contágio → sintomas: corrimento uretral purulento + disúria + algúria → sem tratamento, a infecção se estende para próstata, vesícula seminal e epidídimo.
Gonorreia
• Mulheres → infecção cérvice: cervivite → corrimento e
disúria → maioria das mulheres é assintomática → sem
tratamento, a infecção se estende para útero, trompas de
falópio e ovários → 10% a 20% evolução para doença
inflamatória pélvica;
• Infertilidade ocorre em 20% das mulheres com salpingite
→ fibrose tubária
Identificação laboratorial
• Exame bacterioscópico das secreções uretral e
cervical corado pelo Gram;
• Cultivo de secreções em meio de
Thayer-Martin (ágar chocolate suplementada do
Martin (ágar chocolate suplementada do
vancomicina, colistina, trimetroprima,
nistatina);
• Em homens → sedimento corado do primeiro
jato de urina
Identificação laboratorial
• No homem:
Esfregado de exsudato uretral
achados de
numerosos
neutrófilos
e
diplococos
Gram
negativos → intracelular e extracelular;
diagnóstico presuntivo de infecção gonocócica →
diagnóstico presuntivo de infecção gonocócica →
suficiente
para
estabelecer
tratamento
medicamentoso;
• Na mulher:
• Necessário cultura positiva → meio de
Thayer-Martin (ágar chocolate suplementada do
Treponema pallidum
• Gram negativa
• Bactérias móveis
• Helicoidais
• Não é cultivável em meio de cultura →
• Não é cultivável em meio de cultura →
fastidioso
• Humanos são o único reservatório
• Causador da sífilis venérea → DST +
transmissão congênita transplacentária
Treponema pallidum
Diagnóstico →Lesão primária com espiroquetas + sorologia Cancro regride entre 3 a 6 sem. Inicia 2 a 8 sem. Após cancro Diagnóstico é sorológico ou microscopia das lesões Sintomas subclínico Diagnóstico somente por sorologia Diagnóstico por sorologia de líquorTreponema pallidum
• Provas sorológicas
• Agentes não treponêmicos
Úteis em triagens
Ex: VDRL → antígeno é a cardiolipina → reação de
aglutinação;
VDRL falso positivo → hanseníase, tuberculose,
VDRL falso positivo → hanseníase, tuberculose,
colagenases, mononucleoses, artrite reumatóide
• Agentes treponêmicos
Usados como testes confirmatórios
Ex.: Imunofluorescência indireta com antígeno
treponêmico (FTA-ABS) → positivo para outras espécies de
Vaginoses
• Microbiologicamente se caracteriza por uma
alteração
alteração
qualitativa
qualitativa
e
e
quantitativa
quantitativa
da
da
microflora
microflora
vaginal
vaginal,
marcada por franca diminuição da concentração de
Lactobacillus.
• É a causa de infecção vaginal mais comum em mulheres
• É a causa de infecção vaginal mais comum em mulheres
em idade reprodutiva e sexualmente ativas, com uma
prevalência em torno de 50%.
Na vaginose as lesões dos tecidos são muito
discretas, caracterizando-se apenas pelo
rompimento do equilíbrio microbiano vaginal
Vaginose por
Gardnerella vaginalis
• Bacilo pleomórfico (coco bacilo);
• Gram lábil (metacromático, variável);
• Faz parte da flora normal de 70% das mulheres assintomáticas • Está associado a corrimento vaginal → é caracterizada por
odor fétido e secreções com pH ↑ 4,5;
Está associado a corrimento vaginal → é caracterizada por odor fétido e secreções com pH ↑ 4,5;
• A proliferação de G. vaginalis está associada a: • Diminuição de Lactobacillus
• Aumento de bactérias anaeróbias estritras (Bacteoides,
Mobiluncus, Peptoestreptococcus)
• Clue Cells → células epitélio vaginal cobertas por bactérias Gram variáveis, na ausência ou raros leucócitos e Lactobacillus
Coloração de Gram
Célula normal
Vulvovaginites e vaginites
• Vulvovaginites
→
apresentam
intenso
processo
inflamatório que englobam tanto a vulva como a vagina.
• Vaginites→ intenso processo inflamatório vaginal.
• Podem ser:
Específicas: quando se conhece o agente etiológico
Inespecíficas: quando o causador não é conhecido
Agentes etiológicos mais frequentes
Bactérias: - Gardnerella vaginalis - Chlamidia trachomatis - Neisseria gonorrheae - Mobilluncus sp - Leptotrix sp Protozoários: - Trichomonas vaginalis - Leptotrix sp- Bactérias Gram negativas em geral
Vírus: - Herpes - HPV Fungos: - Candida sp (C. albicans, C. tropicallis, C. glabrata, C. krussei, C.parapsilosis) - Geotrichium sp
Exame de Secreção Vaginal
• Material obtido por raspado da parede vaginal
e corado pela metodologia de Gram;
• O diagnóstico do exame de SV é realizado para
• O diagnóstico do exame de SV é realizado para
observação
observação de
de alteração
alteração de
de Flora
Flora Bacteriana
Bacteriana
Vaginal
Vaginal ou
ou identificação
identificação de
de Protozoários
Protozoários,
Bactérias Gram
negativas
Bactérias Gram
positivas
Vulvovaginites Fúngicas
• Agente mais comum Candida sp (também conhecida como
monilíaside).
• Estima-se que cerca de 75% das mulheres adultas apresentem pelo menos um episódio de vulvovaginite fúngica em sua vida.
• Destas, 40% a 50% vivenciam um novo surto.
• Os episódios de recorrência, por sua vez, acometem 5% das • Os episódios de recorrência, por sua vez, acometem 5% das
pacientes.
• Intenso processo inflamatório da mucosa.
• Sintomas → ardência, prurido e secreçãoecreção emem formaforma dede leiteleite coalhado
coalhado.
• As lesões podem estender-se pelo períneo, região perianal e inguinal.