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MORFOLOGIA E SINTAXE DA LÍNGUA XAVANTE

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ROSANA COSTA DE OLIVEIRA

MORFOLOGIA E SINTAXE DA LÍNGUA XAVANTE

Universidade Federal do Rio de Janeiro Doutorado em lingüística

Orientador:

Profº Drº Marcus Antônio

Rezende Maia

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO FACULDADE DE LETRAS

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Livros Grátis

http://www.livrosgratis.com.br

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MORFOLOGIA E SINTAXE DA LÍNGUA XAVANTE

ROSANA COSTA DE OLIVEIRA

Tese de Doutorado em Lingüística apresentada à Coordenação dos Cursos de Pós-graduação em Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ

Orientador: Prof. Dr. Marcus Antônio Rezende Maia

Rio de Janeiro 2007

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MORFOLOGIA E SINTAXE DA LÍNGUA XAVANTE

Rosana Costa de Oliveira

Tese submetida ao Departamento de Lingüística da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Doutor.

Aprovada por:

Prof. ______________________________________________________ -Orientador Doutor Marcus Antônio Rezende Maia (UFRJ)

Prof. ______________________________________________________ Doutora Míriam Lemle (UFRJ)

Prof. ______________________________________________________ Doutora Márcia Maria Damaso Vieira (UFRJ)

Prof. ______________________________________________________ Doutora Yonne de Freitas Leite (UFRJ)

Prof. ______________________________________________________ Doutora Maria Filomena Spatti Sandalo (UNICAMP)

Prof. ______________________________________________________ Doutora Bruna Franchetto (UFRJ)

Prof. ______________________________________________________ Doutor Angel Humberto Corbera Mori (UNICAMP)

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Oliveira, Rosana Costa de

Morfologia e Sintaxe da Língua Xavante / Rosana Costa de Oliveira. Rio de janeiro: UFRJ / FL, 2007.

ix, 274p.

Tese (Doutorado)– Universidade Federal do Rio de Janeiro – FL, 2007.

1. Línguas Indígenas Brasileiras. 2. Teoria da Gramática. 3. Lingüística – Tese. I. Morfologia e Sintaxe da Língua Xavante. II. Tese (Doutorado – UFRJ/ FL, Departamento de Lingüística).

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, gostaria de agradecer ao meu orientador Marcus Maia, pela orientação, incentivo e dedicação. Obrigada!

Às professoras Miriam Lemle e Márcia Damaso, pelas importantes sugestões feitas à minha tese durante o exame de qualificação.

À Heidi Harley, por ter cedido parte do seu tempo para discutir os dados Xavante.

À professora Bruna Franchetto, por ter disponibilizado um espaço em seu escritório para eu estudar.

A todos os índios Xavante das aldeias Água Branca e Pimentel Barbosa, pela boa vontade de me ensinar um pouco sua língua.

A Paulo Domingues Xavante, por ter cedido grande parte de seu tempo para me ajudar.

Para meu marido, Alex, que sempre me deu muita força em tudo que resolvi fazer.

Para minha amiga, Mara, pela força e por ter compartilhado comigo os momentos difíceis.

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RESUMO

OLIVEIRA, Rosana Costa de Oliveira. Morfologia e Sintaxe da Língua Xavante. Orientador: Marcus Antonio Rezende Maia. Rio de Janeiro UFRJ/FL; 2007. Tese (Doutorado em Lingüística).

A proposta desta tese é a de empreender a análise da morfologia da língua Xavante, dentro do modelo da Morfologia Distribuída e também analisar algumas questões a respeito da sintaxe, com o aparato formal do Programa Minimalista e do Projeto Cartográfico.

Sob o enfoque da Morfologia Distribuída, evidenciamos os dados do Xavante, descrevendo e analisando o nome e o verbo nesta língua, além de mostrar que alguns itens de vocabulário são subespecificados. O nome, em Xavante, é formado pela junção de raízes acategoriais ou raízes verbais a nominalizadores fonologicamente nulos ou explícitos. O verbo é formado somente por raízes acategoriais juntadas a verbalizadores fonologicamente nulos ou explícitos. A língua Xavante, assim como qualquer língua natural, possui casos em que a mesma forma morfológica é encontrada em diferentes contextos sintático-semânticos. Neste caso, certos itens de vocabulário possuem o mesmo molde morfológico e traços diferentes, sendo portanto, subespecificados.

Tomando por base um pressuposto dentro do programa Minimalista de que a ordem SVO é universal para todas as línguas, verificamos o movimento dos constituintes para fora do vP. Foi possível observar que o verbo principal não precisa sair do núcleo vP para checar a flexão, pois o verbo auxiliar, que é gerado no núcleo de TP, carrega os traços flexionais. Primeiramente, o sujeito e o objeto se movem para posições funcionais acima do vP. O sujeito sobe para o especificador de TP para checar seu traço EPP. O objeto, que na ordem SOV pode estar à esquerda ou à direita do verbo auxiliar, sai do núcleo do VP para o vP para verificar caso acusativo. Com seus traços checados, o sujeito, e às vezes o objeto, sobem para uma posição de tópico ou foco no sintagma complementizador expandido por razões de pragmática. As construções de tópico e foco, em Xavante, assim como outras construções interrogativas que estão localizadas na periferia esquerda da oração, são analisadas, nesta tese, dentro das propostas feitas por Rizzi (1997 e 1999) e Benincá (2001), no âmbito do projeto cartográfico.

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ABSTRACT

OLIVEIRA, Rosana Costa de Oliveira. Morfologia e Sintaxe da Língua Xavante. Orientador: Marcus Antonio Rezende Maia. Rio de Janeiro UFRJ/FL; 2007. Tese (Doutorado em Lingüística).

The purpose of this thesis is to perform a morphological analysis of the Xavante language within the Distributed Morphology theoretical framework (cf. Halle & Marantz 1993) and also to analyze aspects of the syntax of the language in the light of the Minimalist Program (cf. Chomsky, 1995) and the Cartographic Project (cf. Rizzi, 1997).

Within the Distributed Morphology framework, we describe and analyze Xavante’s names and verbs, and show that some vocabulary items are undespecified. The name, in Xavante, is formed with acategorial or verbal roots merged to null or explicit phonological nominalizers. The verb is formed only by acategorial roots merged with null or explicit phonological verbalizers.

According to the Minimalist Program, the SVO order is universal. It is possible to observe that the main verb doesn’t need to go out of the vP to check inflection, because the auxiliary verb which is base generated in the head of T, carries the inflections features. Firstly, the subject and the object move for functional positions in the vP. The subject rises to the TP specifier to check its EPP trace. The object, which in SOV order can be in the left or in the right of the auxiliary verb, also goes out of the vP. Having its features checked, the subject, and sometimes the object, go up for a topic or focus position within a complex CP. Xavante interrogative, topic and focus constructions which have an impact on the left periphery of the clause are also investigated with reference to proposals made by Rizzi (1997 e 1999) and Benincá (2001).

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LISTA DE ABREVIATURAS A = adjetivo

AdvP = Sintagma Adverbial Agr. = agreement (concordância) Asp = aspecto AUM = Aumentativo C = complementizador COL = Coletivo CP = SC (sintagma complementizador) Dem. = demonstrativo Dim = Diminutivo

DiscP = sintagma do discurso DP = SD (sintagma determinante) Enf. = enfático

Estat. = estativo Fin = finitude

FinP = sintagma de finitude Foc = foco

FocP = sintagma de foco Fut = futuro G = genitivo Imp = Imperativo Imperf. = Imperfectivo INT = interrogativo IP = SF (sintagma flexional)

LD = left deslocation (deslocamento à esquerda) N = nome n = nome Neg. = negação NMLZ = nominalizador NP = Sintagma Nominal Num. = numeral O = objeto Pass. = passado Perf. Perfectivo pl. = plural Posp. = posposição Poss. = possessivo Pres. = presente R = Raiz Rel. = relativa S = sujeito

SIL = Summer Institute of Linguistic Spec = especificador

T = tempo t = vestígio Top = tópico

TopP = sitagma de tópico V = verbo

VBLZ = verbalizador VP = SV (sintagma verbal)

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Fonemas Consonantais 19

Quadro 2: Fonemas Vocálicos 22

Quadro 3: Morfemas marcadores de plural 75

Quadro 4: Morfemas marcadores de dual 76

Quadro 5: Morfemas marcadores de número e pessoa 76

Quadro 6: Verbo Matar 78

Quadro 7: Verbo correr 79

Quadro 8: Verbo ir 81

Quadro 9: Verbo sair 85

Quadro 10: Coletivo tsiwi 90

Quadro 11: Categorizadores verbais da classe I 96

Quadro 12: Categorizador verbal da classe II 97

Quadro13: Prefixos de pessoa sujeito dos verbos transitivos 110 Quadro 14: Prefixos de pessoa sujeito da classe I dos verbos transitivos 113 Quadro 15: Prefixos de pessoa sujeito da classe II dos verbos transitivos 117 Quadro 16: Prefixos de pessoa sujeito dos verbos intransitivos 118 Quadro 17: Prefixos de pessoa sujeito da classe I dos verbos intransitivos 122 Quadro 18: Prefixos de pessoa sujeito da classe II dos verbos intransitivos 124 Quadro 19: Prefixos de pessoa sujeito da classe III dos verbos intransitivos 126 Quadro 20: Prefixos de pessoa sujeito da classe IV dos verbos intransitivos 128

Quadro 21: Morfemas livres marcadores de sujeito 130

Quadro 22: Morfemas presos marcadores de sujeito 135

Quadro 23: Morfemas presos marcadores de objeto 136

Quadro 24: Morfemas marcadores de pessoa sujeito e tempo 154

Quadro 25: Subespecificação dos morfemas wa, te e ma 168

Quadro 26: Ocorrência dos morfemas marcadores de pessoa e tempo 175 Quadro 27: Sistema de marcação de caso dos morfemas livres marcadores de pessoa e

tempo em orações afirmativas: Sistema ativo/estativo. 177

Quadro 28: Sistema de marcação de caso dos morfemas livres marcadores de pessoa e tempo em orações negativas: Sistema ergativo/absolutivo. 177 Quadro 29: Ocorrência dos morfemas livres e morfemas presos marcadores de pessoa.

178 Quadro 30: Sistema de marcação de caso dos morfemas presos marcadores de pessoa

em orações afirmativas: Sistema ativo/estativo. 179

Quadro 31: Prefixos verbais de sujeito e objeto. 180

Quadro 32: Presença ou ausência dos morfemas de pessoa e tempo wa, te e ma. 187

Quadro 33: Morfemas presos marcadores de sujeito. 204

Quadro 34: Morfemas que indicam pessoa e tempo em orações transitivas negativas.

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SUMÁRIO

1-INTRODUÇÃO 12

1.1- Objetivo da Tese 12

1.2- A Família Jê e os Xavante 14

1.3- Estrutura da Tese 15

2- CONSIDERAÇÕES SOBRE A FONOLOGIA XAVANTE 18

2.1- Inventário Fonológico das Consoantes 19

2.2- Inventário Fonológico das Vogais 22

2.3- Estrutura Silábica 23

3- PRESSUPOSTOS TEÓRICOS 24

3.1- Morfologia Distribuída 25

3.1.1- A Estrutura da Gramática 26

3.1.2- Estágios da Derivação na Hipótese Lexicalista e na DM 27 3.1.3- Itens de Vocabulário e a Distinção entre Morfemas Funcionais e

Lexicais 31

3.2- Linearização Assimétrica 34

3.3- Projeto Cartográfico 37

3.3.1- Estrutura CP 38

4- ASPECTOS DA MORFOLOGIA XAVANTE 47

4.1- Nome em Xavante 49

4.1.1- Nomes Formados por um Categorizador Fonologicamente Nulo

juntados a uma Raiz Acategorial 54

4.1.2- Nomes Formados por Categorizadores Fonologicamente Explícitos

juntados a uma Raiz Verbal 63

4.2- Posposições 71

4.3- Número em Xavante 74

4.3.1- Plural 77

(12)

4.3.3- Coletivo “norĩ” 87

4.3.4- Coletivo “tsiwi” 89

4.4- A Organização da Estrutura Verbal em Xavante 91

4.4.1- Morfemas Verbalizadores em Xavante 92

4.4.1.1- Verbos Formados por um Categorizador Fonologicamente Nulo juntados a uma Raiz Acategorial 94

4.4.1.2- Verbos Formados por Categorizadores Fonologicamente Explícitos juntados a uma Raiz Acategorial 95 4.4.1.3- Categorizadores Verbais de Verbos Transitivos 96 4.4.1.4- Categorizadores Verbais de Verbos Intransitivos 100 4.4.1.5- Categorizadores Verbais de Verbos Transitivos e Verbos

Intransitivos 104

4.4.2- Classes Verbais 107

4.4.2.1- Classes de Verbos Transitivos 110

4.4.2.2- Classes de Verbos Intransitivos 118

4.5- Pessoa, Tempo e Aspecto em Xavante 129

4.5.1- Morfemas Marcadores de Pessoa 130

4.5.2- Morfemas Marcadores de Tempo 143

4.5.3- Morfemas Marcadores de Aspecto 145

4.6- Inserção Tardia e Subespecificação em Xavante 149 4.7- Estrutura Sintática e Morfológica de Orações Ativas da Língua Xavante 155

5- ASPECTOS DA SINTAXE XAVANTE 169

5.1. Sistema de Marcação de Caso 170

5.2-A Estrutura das Sentenças 182

5.2.1- Ordem dos Constituintes da Oração 189

5.2.1.1- Orações Declarativas 192

5.2.1.1.1- Derivaçao da Ordem Vocabular SOV 202

5.2.1.2- Orações Interrogativas 211

5.2.1.2.1- Interrogativas Sim /Não 212 5.2.1.2.2- Interrogativas QU Simples 213 5.2.1.2.3- Interrogativas QU Múltiplas 222

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5.2.2- Orações Transitivas 225

5.2.3- Orações Intransitivas 229

5.2.4- Orações Estativas 234

5.2.5- Orações Transitivas e Intransitivas Negativas 236

5.3- Projeto Cartográfico em Xavante 248

5.3.1- Análise da Estrutura CP em Xavante 248

5.3.1.1- Interrogativas 249

5.3.1.2- A Posição do Sujeito e do Objeto 253

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 270

(14)

O objetivo desta tese é descrever e analisar alguns aspectos da morfologia e da sintaxe da língua indígena Xavante (Tronco Macro-Jê), tratando de questões relacionadas à morfologia nominal e verbal, à marcação de caso, ordem de palavras, e estruturas com impacto na periferia esquerda da oração. Adotando o modelo teórico da Morfologia Distribuída (Halle & Marantz, 1993; Harley & Noyer, 1999), mostraremos que os verbos em Xavante são formados pela junção de morfemas verbalizadores a uma raiz acategorial. Já os nomes são formados pela junção de morfemas nominalizadores a uma raiz acategorial ou a uma raiz anteriormente verbalizada (raiz deverbal). Tanto categorizadores verbais quanto categorizadores nominais são sufixos.

Na língua Xavante, há três morfemas livres que sempre aparecem antes do verbo principal. Estes morfemas, que são analisados nesta tese como verbos auxiliares, carregam traços de pessoa e tempo. Veremos que esses morfemas são subespecificados. No quadro da Morfologia Distribuída, a subespecificação de itens de vocabulário significa que as expressões fonológicas não precisam ser completamente especificadas em termos de traços para serem inseridos nos nós terminais.

De forma idêntica aos verbos auxiliares, alguns verbalizadores também são subespecificados. Esses verbalizadores apresentam a mesma forma fonológica, mas possuem traços diferentes.

Além da descrição e análise dos morfemas verbalizadores, nominalizadores e dos verbos auxiliares em Xavante, faremos uma descrição do sistema de marcação de caso, sugerindo que essa língua possui um sistema cindido.

(15)

Pretendemos também, nesta tese, discutir a linearização da ordem básica SOV dessa língua através de um enfoque baseado no programa minimalista, que toma por base uma hipótese feita por Kayne (1994), para a linearização da cadeia dos constituintes frasais, que propõe que a ordem básica inicial é SVO, sendo as demais ordens atestadas nas línguas derivadas por movimento a partir desta ordem. Como, além da ordem SOV, a ordem SVO também é produtiva em Xavante, pareceu-nos que a hipótese de Kayne poderia explicar adequadamente a derivação das ordens vocabulares na língua.

No âmbito do projeto cartográfico, utilizamos a teoria de Rizzi (1997), onde se propõe uma expansão da camada complementizadora, postulando-se um componente fixo envolvendo os núcleos Força e Finitude, e um componente acessório envolvendo os núcleos Tópico e Foco, que são ativados quando necessários. Apresentamos também a proposta feita em Rizzi (1999), onde se acrescenta a posição INT (interrogativo) na camada complementizadora, argumentando-se em favor de uma posição distinta do sítio de aterrissagem do movimento QU, a posição INT, que daria conta dos elementos que fazem parte da oração interrogativa. Mostraremos que a posição INT é o ponto de aterrissagem da palavra QU que está abaixo do morfema interrogativo e, morfema que dá à oração o seu valor ou força ilocucionária interrogativa. Veremos, também, que a língua Xavante possui uma estrutura CP rica, pois o argumento externo e, às vezes, o argumento interno se movem para posições específicas na cartografia do CP expandido.

A respeito das construções de tópico e foco, além da proposta de Rizzi (1997), utilizaremos a análise feita por Paola Benincà (2001), seguindo a proposta de Rizzi (1997), na qual há uma posição de aterrissagem para um tipo de tópico que está acima de Força, que é a projeção DISC(ourse)P. Esta posição parece ser uma opção para a

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posição de tópico em Xavante que está deslocado para a esquerda da partícula interrogativa e, isto é, acima da Força da oração.

1.2- A Família Jê e os Xavante

A língua Xavante é uma língua que está classificada como pertencente à família Jê, principal família do tronco Macro-Jê, ao lado de outras onze famílias que fazem parte deste tronco, as famílias Maxacalí, Krenák, Yatê, Karajá, Ofayé, Bororo, Guató, Rikbaktsá, Kamakã, Puri e Kariri, sendo que nestas três últimas famílias, as línguas já estão extintas. Junto com os Xavante, há mais nove línguas ainda faladas que são classificadas como membros da família Jê e que estão divididas em três ramos: Jê setentrional, Jê central e Jê meridional. As línguas da família Jê não mais faladas são o Xakriabá e Akroá (Jê central), Ingaín (Jê meridional) e Jaikó, que constitui um outro ramo da família (cf. Rodrigues, 1999).

As línguas da Família Jê ainda faladas são o Timbira, Apinayé, Kayapó, Panará e Suya (Jê Setentrional), Xavante e Xerente (Jê Central) e Kaingang e Xokléng (Jê Meridional).

O povo Xavante vive hoje na parte leste do estado de Mato Grosso, região Centro-Oeste do Brasil, em uma área de cerrado. Eles, hoje, possuem uma população de cerca de nove mil pessoas (Rodrigues, 1999) distribuídas em 6 reservas diferentes: São Marcos, Sangradouro, Marechal Rondon, Parabubure, Areões e Pimentel Barbosa.

Cada região teve uma história diferente de contato. A maioria das regiões teve contato com missões religiosas, católicas ou protestantes. As regiões de Areões e

(17)

Pimentel Barbosa tiveram contato com o SPI (Serviço de Proteção ao Índio), órgão do estado brasileiro que precedeu a Fundação Nacional do Índio – FUNAI.

No início da década de 60, a maioria dos índios Xavante era monolingüe, mas, mesmo com o pouco tempo de convívio com os brancos, que se deu na década de 1950, passaram a falar fluentemente a língua portuguesa. Hoje cerca de 90% dos Xavante são bilíngües, isto é, falantes do português e de sua própria língua, que denominam de A’uwê. A minoria não-bilingüe é formada por velhos e crianças. Na comunicação entre os membros da etnia, geralmente, a língua Xavante é utilizada, sendo o português usado apenas como uma língua de contato com os brancos.

O povo Xavante se autodenomina A’uwê Uptabi, ‘povo verdadeiro’, sendo que a’uwê significa ‘gente’. O termo usado para designar os povos de outras etnias indígenas é A’uwê Prãire que siginifica ‘mais ou menos gente’, e o termo usado para designar os não indígenas é Warazu, que significa ‘branco’, ‘civilizado’.

1.3- Estrutura da Tese

Como foi dito anteriormente, esta tese pretende tratar de questões relacionadas aos aspectos morfológicos e sintáticos da língua Xavante. Os quadros teóricos tomados como referência para as análises são a teoria da Morfologia Distribuída, o Programa Minimalista e o Projeto Cartográfico.

Nossa metodologia, nesta tese, foi a de buscar conciliar as observações substantivas a respeito da morfologia da língua Xavante, possibilitadas pelo modelo da Morfologia Distribuída e também analisar algumas questões a respeito da sintaxe, com o aparato formal do Programa Minimalista e do Projeto Cartográfico.

(18)

A fim de efetivar esses estudos, esta tese se divide em cinco capítulos. O capítulo 2 apresenta uma descrição dos fonemas consonantais e vocálicos da língua Xavante.

O terceiro capítulo introduz as teorias escolhidas para tratar da formação dos nomes e verbos da língua Xavante, da linearização das orações e de algumas construções localizadas na periferia esquerda da oração. Neste capítulo, apresentamos a teoria da Morfologia Distribuída para mostrar que as raízes são acategoriais, e que somente juntando morfemas categorizadores a essas raízes iremos obter, por exemplo, um nome ou um verbo. Com o foco na ordem dos constituintes da oração, apresentamos a hipótese assimétrica adotada no programa minimalista que estipula que a ordem básica em todas as línguas é SVO. Com base no projeto cartográfico, analisamos a estrutura CP, focalizando as construções interrogativas, construções de tópico e construções de foco, e para isto, tomamos por base as propostas de Rizzi (1997) e Rizzi (1999) que, como veremos no capítulo 5, permitem representar melhor a periferia esquerda na língua Xavante.

O capítulo 4 apresenta alguns aspectos da morfologia Xavante. Veremos neste capítulo, com o aparato formal da Morfologia Distribuída, que os nomes em Xavante são formados a partir de categorizadores nominais fonologicamente explícitos ou fonologicamente nulos sufixados a uma raiz acategorial ou a uma raiz verbal. Os verbos também são formados por categorizadores verbais fonologicamente explícitos ou fonologicamente nulos sufixados a uma raiz acategorial. Além de mostrar alguns aspectos da morfologia Xavante, como os morfemas livres marcadores de pessoa sujeito e tempo, morfemas presos marcadores de sujeito e objeto, e morfemas marcadores de

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aspecto, apresentaremos também as classes verbais desta língua. Também neste capítulo, iremos mostrar que alguns morfemas da língua Xavante são subespecificados1.

O quinto capítulo é uma análise da sintaxe em Xavante. Neste capítulo, na seção 5.1, apresentaremos uma descrição dos sistemas de marcação de caso em Xavante, onde explicaremos a hipótese desta língua possuir um sistema de marcação de caso cindido. Em seguida, na seção 5.2, falaremos da estrutura das sentenças em Xavante, onde faremos uma descrição das orações declarativas e interrogativas simples e múltiplas. Apresentaremos uma hipótese para a linearização da ordem SOV da língua Xavante, tendo em vista a proposta de Kayne (1994), adotada por Chomsky (1995), de que os Princípios da Gramática Universal apenas determinam o ordenamento SVO, sendo as demais ordens atestadas nas línguas derivadas por movimento a partir desta ordem. A respeito das orações interrogativas, analisa-se a partícula interrogativa utilizada em perguntas do tipo sim/não e em perguntas do tipo QU. Esta partícula é a única forma de diferenciar uma oração interrogativa de uma oração declarativa. Nesta mesma seção, veremos que, além da partícula interrogativa, a língua Xavante possui movimento sintático QU. Além disso, apresentaremos a estrutura das orações transitivas, intransitivas e estativas afirmativas e negativas, mostrando que essas orações possuem marcações morfológicas e sintáticas distintas. E, por fim, na seção 5.3, analisaremos a estrutura CP em Xavante dentro do Projeto Cartográfico. Veremos que a língua Xavante possui uma estrutura CP rica, pois apresenta o sujeito, e às vezes o objeto, na posição de tópico ou de foco.

1 Mostraremos o que significa subespecificação dentro do aparato formal da Morfologia Distribuída no

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Este capítulo não tem como propósito apresentar uma análise original da fonologia da língua Xavante, apenas elaboramos uma breve descrição dos fonemas consonantais e vocálicos com base nos critérios de variação livre e distribuição complementar.

Como foge ao escopo da presente tese proceder a uma análise detalhada do subsistema fonológico do Xavante, procuramos apenas fazer o levantamento crítico de análises fonológicas desenvolvidas em trabalhos feitos previamente, como os estudos de lingüistas do SIL e também do lingüista Wellington Pedrosa2. Esta resenha crítica permitiu-nos comparar nossos dados com os dados coletados por esse lingüista. Nessa comparação, ao invés da fricativa velar //, descrita como fonema por Pedrosa (Pedrosa 2000), achamos a fricativa glotal /h/. O glide palatal foi descrito por ele como fonema da língua, possuindo três alofones [j], [] e []. Analisamos este glide também como fonema, embora possa aparecer como alofone do fonema /z/ na fala rápida, ocorrendo em variação livre. A nasal palatal [] está em nosso quadro de fonemas. Além disso, não encontramos a nasal velar [], encontrada por Pedrosa, em nosso corpus.

Apresentamos também uma pequena descrição dos tipos silábicos em Xavante. Veremos que o padrão silábico ‘default’ em Xavante é CV (consoante, vogal).

2 Wellington Pedrosa trabalhou com a fonologia Xavante e escreveu a dissertação de Mestrado “Aspectos

(21)

2.1- Inventário Fonológico das Consoantes

Em nossa análise, a língua Xavante possui 12 fonemas consonantais.

Bilabial Dental Alveolar Palatal Glotal

Oclusiva p b t d 

Nasal 

Tepe

Fricativa s z h

Glide w j

Quadro 1: Fonemas Consonantais

(a) O fonema oclusivo bilabial sonoro /b/ apresenta dois alofones [b] e [m]. Os dois alofones estão em distribuição complementar. O alofone [b] ocorre em posição de onset de sílaba sempre antes de vogal oral, como podemos observar nos exemplos a seguir: [buu] roça [aib] homem [abaze] caça [abazipaa] rede [bd] sol [tebe] peixe [sibi] aranha [ĩsib] pena

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O alofone [b] também ocorre antes de /d/ e /z/, em posição de coda: [bdui] caminhão

[zubz] lugar de socar

Aparece também como primeiro elemento do encontro consonantal br, antes de vogal oral, conforme os exemplos abaixo:

[watb] sair [watbrmi] criança

Já o alofone [m], ocorre sempre antes de vogal nasal, em posição de onset:

[damẽmẽ] palavra [dahjmn] vida

Aparece também no encontro consonantal mr, antes de vogal nasal:

[damẽmẽ] palavra [asm] sentar

O alofone [m] aparece antes de consoante nasal e antes da fricativa glotal //, como podemos observar nos dados abaixo:

[mẽmh] aqui [omhui] trabalho

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(b) O fonema oclusivo dental sonoro /d/ possui dois alofones [d] e [n]. Estes alofones estão em distribuição complementar. O alofone [d] aparece sempre antes de vogal oral, como nos mostra os exemplos a seguir:

[du] capim

[wedehu] vara

[daa] filha /filho [dadi] barriga

[ado] coco de bocaiuva [d] morrer

Já o alofone [n] ocorre sempre antes de vogal nasal:

[siono] cesto [dan] mãe [niwa] quando

(c) O fonema fricativo alveolar surdo /s/ possui três alofones [s], [] e [ts]. Esses três alofones ocorrem em variação livre, conforme os exemplos abaixo:

/isan/ [isan] ~[ian] ~[itsan] grande /supaa/ [supaa] ~[upaa] ~[tsupaa] areia

(d) O fonema fricativo alveolar sonoro /z/ possui quatro alofones [z], [], [dz] e [j]. Esses alofones ocorrem em variação livre, sendo que [j] ocorre na fala rápida, sempre antes de vogal oral. Vejamos alguna exemplos:

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/uz/ [uz] [u] [udz] fogo /zz/ [zz] [] [dzdz]gafanhoto

/zaa/ [zaa] [dzaa] [jaa] marcador de plural

(e) Os demais fonemas não possuem maiores restrições de ocorrências fonéticas:

2.2- Inventário Fonológico das Vogais

A língua Xavante possui treze fonemas vocálicos, sendo quatro destes fonemas nasais e nove, orais, conforme se vê no quadro abaixo:

Anteriores Oral Nasal Centrais Oral Nasal Posteriores Oral Nasal Alta i i   u Média –alta Média –baixa e e o o  Baixa  a

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2.3- Estrutura Silábica

Os tipos silábicos em Xavante podem ter os seguintes padrões: CV, CVC, CCV, CCVC, sendo que o padrão silábico ‘default’ é CV. As sílabas fonológicas podem ser compostas por tais padrões: CV, CVC, CCV, CCVC, V e VC. As sílabas fonéticas não podem ser iniciadas pela vogal do núcleo, isto é, a posição de onset é obrigatória nessas sílabas.

Sílabas Fonológicas: (CV) (CVC) (CCV) (CCVC) (V) (VC) Sílabas Fonéticas: (CV) (CVC) (CCV) (CCVC) *(V) *(VC)

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Neste capítulo, apresentaremos dois modelos teóricos baseados na teoria Gerativa, a teoria da Morfologia Distribuída e o Projeto Cartográfico, que está ligado ao programa Minimalista. Embora sejam modelos teóricos diferentes, mostramos que as duas teorias podem andar juntas, pois ambas têm em comum a visão de que a morfologia flexional é distribuída na sintaxe.

Discutiremos alguns tópicos sobre a morfologia distribuída, mostrando as unidades básicas da morfologia e seus estágios de derivação.

Dando continuidade à dissertação de Mestrado, em que foram abordadas questões relativas à ordem dos constituintes da oração dentro do quadro dos estudos de tipologia de ordem vocabular, discutiremos a linearização da cadeia dos constituintes frasais, adotando a proposta de Kayne (1994) que diz que o Princípio da Gramática Universal apenas determina o ordenamento Sujeito Verbo Objeto (SVO), sendo as demais ordens atestadas nas línguas derivadas por movimento a partir desta ordem.

Além das questões relativas à ordem vocabular da oração, falaremos também sobre a estrutura do sintagma complementizador dentro do projeto cartográfico (cf Rizzi 1997, 1999), no qual a camada complementizadora possui mais do que um único esquema estrutural para constituir a periferia esquerda da oração.

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3.1- Morfologia Distribuída

A Morfologia Distribuída (DM) é uma teoria que apresenta uma divergência fundamental em relação a outras teorias gerativas de natureza lexicalista. Enquanto as abordagens tradicionais assumiam que as palavras e morfemas eram criados no léxico, e que nesse léxico os itens lexicais já continham traços fonológicos, formais e semânticos por processos distintos dos processos sintáticos, a DM “explode” o léxico, isto é, põe um fim no léxico. A DM assume que as peças de vocabulário já contêm traços fonológicos e morfossintáticos, mas que eles só entram na derivação após a sintaxe, isto é, a inserção lexical é pós sintática.

Na DM, ao invés de um léxico unificado, a formação da palavra se dá nas interfaces entre os componentes, sendo distribuída entre eles. A sintaxe atua para juntar e mover; as operações morfológicas juntam, movem, eliminam e acrescentam; e na fonologia há a inserção de vocabulário e reajustes fonológicos. Como na DM a palavra não é uma unidade operacional, existe uma distribuição em três listas que possuem um tipo de informação lingüística. A lista 1 fornece informação gramatical, a lista 2, informação fonológica e a lista 3 fornece informações semânticas.

Nas próximas seções apresentaremos essas três listas mais detalhadamente e também as propriedades que definem a DM: a Inserção Tardia, a Subespecificação e a presença da Estrutura Sintática Hierarquizada All the Way Down.

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3.1.1- A Estrutura da Gramática

Há três propriedades que definem a Morfologia Distribuída (DM): a Inserção Tardia, a Subespecificação e a presença da Estrutura Sintática Hierarquizada all the way

down, isto é, desde a sintaxe até a entrada nos módulos da morfologia e fonologia.

A DM gera estruturas pela combinação de traços morfossintáticos (via juntar e mover)3 selecionados de uma relação disponível (Harley e Noyer, 1999).

Na Morfologia Distribuída, as conexões entre traços semânticos, sintáticos e morfológicos são implementadas pelo significado de unidades ou átomos.

A Inserção Tardia significa que na derivação sintática, as categorias sintáticas são puramente abstratas, isto é, não possuem conteúdo fonológico. Segundo Halle & Marantz, somente após as operações sintáticas realizadas, as expressões fonológicas, chamadas de Itens de Vocabulário, são inseridas nos nós terminais, em um processo chamado de spell out. A inserção tardia é motivada pelos núcleos funcionais.

A Subespecificação de itens de vocabulário da Morfologia Distribuída significa que as expressões fonológicas, ou Itens de Vocabulário, não precisam ser completamente especificadas em termos de traços para serem inseridos nos nós terminais durante o spell out. Os Itens de Vocabulário podem ser subespecificados a ponto de se encaixar em certas posições por default.

A Estrutura Sintática Hierarquizada All the Way Down significa que os nós terminais nos quais os Itens de Vocabulário são inseridos são determinados por princípios e operações da sintaxe. Antes dos Itens de Vocabulário serem enviados para o componente fonológico, podem sofrer algumas modificações como resultado de

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operações realizadas no componente morfológico. A DM é baseada em ‘pedaços’ no sentido que os elementos da sintaxe e da morfologia são entendidos como constituintes discretos.

3.1.2- Estágios da Derivação na Hipótese Lexicalista e na DM

Dentro do quadro do Programa Minimalista, a derivação de uma frase é feita por concatenação e movimento. No primeiro estágio da derivação, retiram-se do léxico os itens que irão participar da derivação sintática e em seguida agrupam-os na numeração.

Os itens lexicais que entram na derivação sintática já possuem seus traços fonológicos, sintáticos e semânticos ou esses traços podem ser combinados para criar palavras que serão manipuladas pela sintaxe. As palavras retiradas do léxico são palavras pré-formadas. Mesmo com seus traços já flexionados, os itens lexicais precisam verificar esses traços em uma posição funcional apropriada que retira os elementos da numeração e junta-os na estrutura sintática.

Na última etapa da derivação, os itens lexicais que foram unidos pela operação juntar (merge), são deslocados para outras posições dentro da sentença, através da operação mover (move), de modo a checar seus traços flexionais licenciados na estrutura sintática.

Então, as operações Juntar e Mover são operações básicas na estrutura sintática, pois as sentenças das línguas são construídas a partir dessas duas operações.

No final da operação, a estrutura sintática é enviada para spell-out, permitindo que essas estruturas ganhem forma em PF.

(30)

A derivação das sentenças no programa minimalista, então, possui a seguinte estrutura: 1) léxico numeração seleção (juntar e mover) spell out = PF LF

Dentro do quadro da Morfologia Distribuída (DM), a sintaxe atua no interior das “palavras”, não há um léxico de onde unidades de forma (som) e sentido saem prontas para a derivação.

Na Morfologia Distribuída, há uma interface direta entre sintaxe, morfologia e fonologia. Esta teoria é uma abordagem sintática para a morfologia, no qual formação de palavra é sintática.

A sintaxe manipula morfemas concretos que são as raízes e também manipula traços abstratos. Estes traços são preenchidos de conteúdo fonológico na forma fonológica. Os elementos da morfologia são peças de vocabulário.

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A gramática na Morfologia Distribuída tem a seguinte estrutura:

2)

Lista 1

Traços morfossintáticos [Det] [Raiz] [pl] etc.

Operações Sintáticas (Juntar, Mover)

Operações Morfológicas (Juntar, Fundir, Fissionar etc.)

Forma Lógica

Inserção das formas fonológicas (Itens de vocabulário)

Interface Conceitual (“significado”) Itens de Vocabulário

/gato/: [Raiz] [+cont] [+anim] [-s]: [Num] [pl]

Lista 2

Enciclopédia Lista 3 (conhecimento extralingüístico)

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Como podemos ver no esquema acima, a estrutura gramatical na Morfologia Distribuída possui três listas. A lista 1 fornece as raízes e os morfemas abstratos. A lista 2 é a lista dos Itens de Vocabulário, esta lista fornece o conteúdo fonológico aos morfemas abstratos. A lista 3 fornece a Enciclopédia, no qual os itens de vocabulário são relacionados à parte idiossincrática da informação semântica.

A lista 1, que segundo Marantz (1997), é chamado de léxico estrito, possui os nós terminais sintáticos, isto é, possuem informação gramatical. A lista 1 contém as raízes acategoriais e os morfemas abstratos. As operações realizadas pelo sistema computacional são juntar (merge) e mover (move), formando a árvore de baixo para cima, obedecendo a restrições de localidade dos deslocamentos no ciclo da derivação (Lemle 2001). Este sistema computacional operará juntando e movendo as raízes acategoriais e os traços morfossintáticos contidos na lista 1. Estas raízes acategoriais são morfemas concretos que já possuem traços fonéticos, embora não contenham traços gramaticais (traços sintáticos). As raízes já possuem conteúdo fonético desde a lista 1, portanto, a inserção destes conteúdos não é tardia. Ao contrário das raízes, os morfemas abstratos são compostos exclusivamente de traços não-fonéticos, tais como [Pass.], [pl.], etc. Durante a derivação, a informação que os nós resultantes das operações sintáticas possuem é mandada (em ciclos ou fases) para a Forma Lógica (LF) e para o componente morfológico. Pode-se dizer que a estrutura na DM é produzida na sintaxe, e após a sintaxe, no componente morfológico (Operações morfológicas). Por causa da Estrutura Sintática Hierárquica all the Way Down, as operações dentro da Morfologia ainda manipulam o que são essencialmente relações sintáticas estruturais (Harley & Noyer,1999). O componente sintático produz uma representação cujos elementos

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terminais são traços morfossintáticos que estão sujeitos a operações como juntar, fundir, fissionar, podendo criar novos nós, apagar alguns, mover, copiar traços, etc.

A inserção dos Itens de Vocabulário é o processo que adiciona conteúdo fonológico a morfemas abstratos. Estes morfemas adquirem conteúdo fonológico somente após a derivação sintática, isto é, após as operações morfológicas e sintáticas em cada fase, na Forma Fonológica, sendo, portanto, tardia. Quando essas operações sofrem o spell out, significa que nesse momento se dá a inserção dos itens de vocabulário, elementos contidos na lista 2 (Vocabulário, Marantz 1997). Durante o spell

out, para que um item de vocabulário seja inserido em um determinado nó, é preciso

que ele contenha, senão todos os traços, pelo menos um subconjunto dos traços morfossintáticos que este nó apresenta. O item de vocabulário, portanto, é subespecificado, uma vez que não precisa possuir todos os traços presentes em um nó para ser inserido nele.

Após a inserção dos itens de vocabulário, as expressões são enviadas para a lista 3, a Enciclopédia, lista que contém informação semântica. É na enciclopédia que os itens de vocabulário são relacionados a sentidos. Nesta lista, o contexto sintático é levado em conta, fato que pode explicar expressões idiomáticas.

3.1.3- Itens de Vocabulário e a Distinção entre Morfemas Funcionais e Lexicais

Os Itens de Vocabulário fornecem um conjunto de sinais fonológicos (sons) disponíveis nas línguas que servem para a expressão de morfemas abstratos. Essa seqüência de sons deve carregar algumas informações sintáticas, semânticas e morfológicas para indicar o lugar em que os nós sintáticos devem ser inseridos durante

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o spell out. O conjunto de todos os Itens de Vocabulário de uma língua é chamado Vocabulário (lista 2). As unidades chamadas de Itens de Vocabulário podem ser representadas pelo esquema seguinte:

Unidade Básica da Morfologia na Morfologia Distribuída (Halle & Marantz, 1994):

Traços Semântico

Traços Sintáticos ↔ Traços Fonológicos

Traços Morfológicos

Segundo o esquema acima, os traços fonológicos fornecem o “som” do item de vocabulário e os traços semânticos, sintáticos e morfológicos fornecem o contexto de inserção deste item.

Na DM, os morfemas são nós terminais sintáticos (ou morfológicos) constituídos por feixes de traços morfossintáticos disponíveis pela Gramática Universal.

Nos trabalhos iniciais da DM, os morfemas eram divididos em morfemas concretos, cuja expressão fonológica era fixa, e morfemas abstratos, cuja expressão fonológica era adiada até depois da sintaxe (Halle 1992). A distinção entre morfemas concretos e abstratos foi abandonada nos trabalhos recentes. Harley e Noyer (1998) propõem uma alternativa para a distinção entre morfemas concretos e abstratos. Eles sugerem que morfemas são de dois tipos básicos: morfemas l e morfemas f, que correspondem à divisão convencional entre categorias lexicais e funcionais, ou categorias de classes fechadas e classes abertas.

(35)

Os morfemas lexicais, morfemas l, são raízes, e os morfemas funcionais, morfemas f, são feixes de traços gramaticais sem traços fonéticos, como por exemplo, o vezinho, o determinante, traços de tempo, aspecto, traços de número, etc.. A diferença entre esses dois morfemas é baseada na inserção do item de vocabulário correspondente. Enquanto os morfemas l não possuem especificação suficiente para restringir um conjunto de candidatos à inserção, o conteúdo dos morfemas f é suficiente para determinar que expressão fonológica deve ser inserida nele.

A inserção dos itens nos morfemas l é guiada por condições de licenciamento, enquanto que a inserção dos itens nos morfemas f se dá através do Princípio do

Subconjunto.

O licenciamento dos morfemas l se dá através de morfemas f em certas relações estruturais com os morfemas l onde os Itens de Vocabulário são inseridos, isto é, as raízes são licenciadas no contexto dos elementos funcionais. Essas relações estruturais determinam a classe ou categoria desses itens de vocabulário.

O conjunto de itens de vocabulário nos morfemas f compete por inserção em um dado morfema, sendo regido pelo Princípio do Subconjunto (Halle,1997):

Princípio do subconjunto

“O expoente fonológico de um item de vocabulário é inserido em um morfema... se o item parear todos ou um subconjunto dos traços gramaticais especificados no morfema terminal. A inserção não acontece se o item de vocabulário contém traços que não estão presentes no morfema. Onde vários Itens de Vocabulário encontram as

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condições para a inserção, o item que parear o maior número de traços especificados no morfema terminal deve ser escolhido”4.

Segundo o Princípio do Subconjunto, todos os itens de vocabulário podem competir pela inserção em um dado morfema. De acordo com esse princípio, os elementos funcionais são inseridos pelo pareamento dos traços.

Nesta seção, vimos que as operações da sintaxe, juntar e mover, se aplicam fase a fase, a partir de três diferentes listas distribuídas em três estágios na derivação da estrutura sintática. A lista 1, que possui traços abstratos, a lista 2, que contém os itens de vocabulário, e a lista 3, que é a enciclopédia.

3.2- Linearização Assimétrica

Dentro da Teoria Gerativa, a ordem linear dos constituintes não é um primitivo, e sim um epifenômeno, no qual as palavras formam determinadas ordens através de operações sintáticas básicas.

No que se refere à linearização das ordens vocabulares, Chomsky (1995) adota a proposta de Kayne (1994) de que os Princípios da Gramática Universal apenas determinam o ordenamento Sujeito Verbo Objeto (SVO), sendo as demais ordens atestadas nas línguas derivadas por movimento a partir desta ordem.

4 Subset Principle. ‘The phonological exponent of a Vocabulary Item is inserted into a morpheme... if the

item matches all or a subset of the grammatical features specified in the terminal morpheme. Insertion does not take place if the Vocabulary Item contains features not present in the morpheme. Where several Vocabulary Items meet the conditions for insertion, the item matching the greatest number of features specified in the terminal morpheme must be chosen.’

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A posição dos advérbios adjungidos ao sintagma verbal é geralmente utilizada como teste para a demarcação de fronteira do SV. A partir da posição destes advérbios, é possível determinar se a linearização, por exemplo, da ordem SOV é produzida ou não pelo movimento do verbo e de seus argumentos para fora de SV.

A linearização das ordens de palavras encontradas nas línguas naturais tem sido bastante estudada na literatura gerativa. Podemos encontrar diversas abordagens referentes à derivação das ordens de palavras desde os primeiros trabalhos dentro da gramática gerativa (Chomsky 1965) que, por exemplo, tratava a diferença entre as ordens SVO e SOV simplesmente por duas diferentes regras da estrutura frasal. As línguas SVO tinham a ordem núcleo – complemento enquanto que as línguas SOV tinham a ordem complemento núcleo:

3)

Línguas SVO: VP→ V NP Línguas SOV: VP→ NP V

Os trabalhos posteriores sobre derivação de ordem vocabular dentro da gramática gerativa não tiveram uma mudança muito significativa. Na teoria de Princípios e Parâmetros (Chomsky 1981) e Lectures on Government and Binding (LGB), a derivação da ordem vocabular foi tratada basicamente da mesma forma dos trabalhos iniciais.

Nos anos 80 e início dos anos 90, muitos trabalhos sobre derivação de ordem vocabular tratavam a variação lingüística das ordens de palavras entre as línguas usando

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regras de estrutura frasal, e a variação da ordem de palavra interna de uma língua estava localizada nos componentes transformacionais.

Uma das tentativas de pôr a variação lingüística entre as línguas e a variação interna de uma língua dentro do mesmo componente da gramática foi na abordagem assimétrica de Kayne (1994). A idéia básica desta proposta é que todas as línguas possuem a ordem especificador-núcleo-complemento (SVO) como a única ordem possível para os subcomponentes do sintagma. Segundo esta abordagem, o especificador e o complemento de um núcleo devem estar em lados opostos de um núcleo e que o especificador antecede o núcleo enquanto o complemento o segue. Então, dentro desta proposta, o especificador e o complemento sempre vão ocupar posições opostas ao núcleo.

A explicação do fato de que há línguas que apresentam o complemento antecedendo o núcleo se dá a partir do movimento do complemento à esquerda. As línguas, em princípio, teriam a mesma ordem linear: especificador-núcleo-complemento (SVO). A variação da ordem dos constituintes SOV, OSV, VSO, VOS, OVS ocorre pelo movimento do sujeito, do objeto e do verbo.

No capítulo 5, trataremos a derivação da ordem de palavras em Xavante baseada na proposta de Kayne. Primeiramente, na seção 5.2.1, descreveremos as ordens possíveis que ocorrem em Xavante. Veremos que a língua Xavante possui a ordem SOV como sua ordem básica. A partir dessa descrição, discutiremos a linearização da ordem SOV.

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3.3- Projeto Cartográfico

O projeto cartográfico tem como objetivo desenhar mapas detalhados da estrutura oracional, identificando os diferentes tipos de posições sintáticas, isto é, há uma posição sintática específica dedicada a cada constituinte sintático.

O projeto cartográfico tem como precursor a literatura iniciada por Pollock (1989). Pollock expandiu a categoria flexional (IP), dividindo-a em componentes menores, passando a ser vista como uma seqüência detalhada de projeções funcionais como Tempo, Concordância, Modo, Aspecto, etc. Posteriormente, Chomsky (1995) propõe manter-se apenas o nó TP nesta camada.

Posteriormente, Rizzi (1997) propõe a expansão da categoria complementizadora (CP), prevendo posições para codificar um componente fixo envolvendo os núcleos Força e Finitude, e um componente acessório envolvendo os núcleos Tópico e Foco.

O núcleo Força determina o tipo das sentenças, ele é a força ilocucionária da oração. O núcleo finitude determina a forma das sentenças, fazendo uma interface com o IP. Os núcleos Tópico e Foco, que são componentes acessórios, são ativados quando necessário.

Em Rizzi (1999), há a proposta de acrescentar mais uma posição na camada complementizadore, o núcleo INT (interrogativo), argumentando-se em favor em uma posição distinta do sítio de aterrissagem do movimento QU, isto é, esta posição dá conta dos elementos que fazem parte da oração interrogativa.

Nesta seção, apresentaremos com mais detalhes a estrutura CP desde a primeira proposta de Rizzi, em que ele propõe os núcleos Força e Finitude e Tópico e Foco.

(40)

Dando continuidade a essa proposta, mostraremos que a camada complementizadora cindida irá ser mais elaborada, acrescentando os núcleos INT(errogativo), para argumentar em favor de uma posição distinta do sítio de aterrissagem do movimento QU. Seguindo a proposta de Rizzi, apresentaremos a proposta de Benincá (2001) que mostra uma nova opção para um tipo de tópico que está acima do sintagma de Força na cartografia do sintagma complementizador expandido.

3.3.1- Estrutura CP

A camada complementizadora (CP) foi inicialmente concebida, no âmbito da Teoria Padrão (Chomsky, 1965), como uma única posição pré-S, posteriormente caracterizada por Bresnan (1970) pela regra S’ → Comp S. Chomsky (1982) propôs que Comp fosse assimilado ao esquema X’, como uma projeção funcional, contendo posições de núcleo e especificador, do mesmo modo que as categorias lexicais. No dizer de Rizzi (1997), o sintagma complementizador “olha” para cima, expressando a relação entre o papel proposicional da sentença, marcando o tipo da sentença em relação com o discurso, no caso de uma oração matriz ou em relação a uma oração mais alta que a selecione. Por outro lado, o sistema de complementização também “olha” para baixo, replicando informações do sistema flexional.

Na literatura recente (cf. Rizzi 1997, 1999, 2000), tem sido proposto que a camada complementizadora contenha mais do que um único esquema x-barra para constituir a periferia esquerda da oração. Há uma série de elementos que ocupam posições possíveis de serem cartografadas na periferia esquerda: sintagmas interrogativos, sintagmas relativos, sintagmas exclamativos, elementos topicalizados,

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elementos focalizados, dêiticos, evidenciais, etc (Benincá, 2001). Todos estes elementos ocupam o especificador de uma projeção funcional. Alguns deles não parecem estar em distribuição complementar, podendo co-ocorrer e, então, não seriapossível que uma só projeção na periferia esquerda desse conta de todos estes elementos.

Rizzi (1997), seguindo a idéia mestra da proposta de Pollock (1989) na qual se divide o sistema IP em uma série de projeções funcionais, cada uma correspondendo a um traço expressado abstrato ou abertamente no sistema verbal (Agr, T, Asp...), estabelece uma estrutura fina da periferia esquerda da oração, dando um enfoque cartográfico, onde existe uma posição dedicada para cada categoria, obtendo posições definidas e evitando posições de adjunção livre, que são em princípio irrestritas e, portanto, teoricamente pouco interessantes.

Os complementizadores expressam o fato de uma oração poder ser uma oração interrogativa, uma declarativa, uma relativa, etc. Essa informação é chamada de Tipo da oração (Cheng 1993) ou especificada como Força (Chomsky 1995).

Rizzi postula que o CP engloba vários constituintes, propondo uma expansão da camada complementizadora, isto é, propõe um complexo de nós funcionais, postulando um componente fixo envolvendo os núcleos Força e Finitude, sendo que o primeiro “olha” para fora da estrutura do CP, e o segundo, “olha” para dentro da estrutura do IP. Há também um componente acessório envolvendo os núcleos Tópico e Foco, que são ativados quando necessários. Segundo Rizzi, é possível também que os sintagmas de Força e de Finitude sejam sincréticos, isto é, realizem-se em uma única projeção funcional.

Nesta análise, a periferia esquerda da oração é vista como uma zona estrutural definida por um sistema de núcleos funcionais e suas projeções:

(42)

4) Force (Top) (Foc) (Top) Fin IP

Os núcleos Force e Fin determinam respectivamente o tipo e a forma das sentenças. Eles podem ser nulos ou não.

A categoria Força distingue vários tipos de sentenças: declarativas, interrogativas, relativas, clivadas, etc. Mesmo não havendo um item lexical visível nos domínios do sintagma de Força, este sintagma sempre estará presente, isto é, existiria um sintagma complementizador encabeçando cada sentença, mesmo não se encontrando um elemento visível neste domínio. Esta categoria “olha” para a estrutura mais alta, marcando a oração para possibilitar sua seleção pela estrutura hiper-ordenada, por exemplo, uma oração matriz que seleciona uma subordinada. Resumindo, uma sentença engloba ForceP mesmo que de forma abstrata.

Segundo Rizzi (1997), o tipo do CP é determinado pelo preenchimento do spec de ForceP ou pelo preenchimento do núcleo. O sintagma Force é expresso, às vezes, por uma partícula visível no seu núcleo, isto é, possui uma morfologia especial para caracterizar uma interrogativa, declarativa, etc. Às vezes, Force é expresso simplesmente por fornecer a estrutura para hospedar um operador que foi movido de sua posição original, e também pode ser expressa por ambos os meios, mas, segundo Rizzi, isto é um caso raro devido a uma economia do tipo de representação favorecendo uma expressão aberta de uma certa especificação substantiva no núcleo ou no especificador, mas não simultaneamente em ambos.

Outro tipo de categoria do sistema complementizador é a categoria FIN (Finitude). Esta categoria “olha” para dentro da estrutura do IP, no qual o complementizador pode refletir certas propriedades do sistema flexional, por exemplo,

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regras de concordância entre C e I. Então, o sistema C expressa uma especificação de Finitude, no qual seleciona um sistema IP com características de finitude: distinção de modo, licenciamento de caso, distinção de tempo.

Por exemplo, em português, poderia se argumentar que os complementizadores ‘que’ e ‘para’ preencheriam a posição do núcleo do sintagma de finitude, FinP, determinando a flexão da oração, no qual o verbo, dependendo do tipo de complementizador, apresenta propriedades finitas ou não finitas:

5) Eu pedi para João sair Eu pedi que João saísse

Quando o complementizador é ‘para’, o verbo apresenta a forma infinitiva, isto é, não flexionada, e quando o complementizador é ‘que’, o verbo possui a forma finita, flexionada, indicando que propriedades do IP refletem-se em CP.

Uma construção que também faz parte da periferia esquerda da oração, isto é, faz parte de uma posição não argumental, é a construção de tópico. Segundo Rizzi, o tópico, assim como o foco, são núcleos funcionais que são ativados na camada complementizadora quando necessários.

Dentro da teoria de Rizzi, na qual há um complexo de nós funcionais no sistema complementizador, o SN topicalizado se move para a posição de especificador do sintagma de Top, então, um núcleo Top°, um núcleo funcional pertencendo a este sistema, projeta seu próprio esquema x-barra com as seguintes interpretações funcionais: seu especificador é o tópico e seu complemento é o comentário.

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6) TopP XP Top’ Top° YP (Rizzi, 1997) XP = tópico YP = comentário

O tópico é um elemento preposto que está deslocado do resto da oração em algumas línguas por uma entonação de vírgula comma intonation, e em outras, pela presença de uma partícula.

Como já dissemos, o SN topicalizado se move para a posição de spec de Top, enquanto que o núcleo de TopP pode ser nulo, contendo traços abstratos, ou pode ter uma partícula (um morfema livre) preenchendo esta posição, isto é, há uma marca morfológica explícita na posição de núcleo de Top. Normalmente, o tópico é uma informação velha retomada do discurso prévio.

Outra construção do sistema complementizador é a construção de foco.

Um núcleo Foc° projeta o foco como seu especificador e a pressuposição como seu complemento, isto é, o especificador é o lugar da informação nova, enquanto que o complemento é o lugar da informação velha:

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7) FocP ZP Foc’ Foc° WP (Rizzi, 1997) ZP = foco WP = pressuposição

As construções focalizadas e as construções interrogativas do tipo QU se estruturam de modo idêntico. Rizzi (1997) postula que FocP é a categoria da periferia esquerda a partir da qual se estruturam ambos os tipos de sentença. Então, nesta abordagem, o especificador do sintagma de foco (FocP) é a posição que aloja a expressão QU ou o foco deslocados.

Esta ambigüidade será desfeita em Rizzi (1999), no qual há o acréscimo da posição INT (interrogativa) para abrigar as palavras interrogativas deslocadas.

Segundo Rizzi, as construções de tópico e foco são similares em muitos aspectos como construções não argumentais envolvendo a periferia esquerda da oração, mas diferem em um número de aspectos. Por exemplo, um tópico pode envolver um clítico resumitivo dentro de seu comentário, enquanto que um constituinte focalizado não pode ter um clítico resumitivo em sua construção. Efeitos de cruzamento fraco podem ser observados em construções de foco, mas não de tópico. Uma oração pode conter mais de uma posição estrutural para tópico, enquanto que, para foco, por outro lado, há uma única posição estrutural. Um foco e um ou mais tópicos podem aparecer em uma mesma

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estrutura. O foco é quantificacional, o tópico não. O tópico é compatível com um operador QU em construções interrogativas principais, mas estas construções são incompatíveis com o foco. (cf. Rizzi 1997, p. 289-295)

Dando continuidade à análise proposta em Rizzi (1997), no qual o sintagma complementizador expandido possui um componente fixo que, como vimos anteriormente, são os núcleos Força e Finitude, e um componente acessório, que são os núcleos Tópico e Foco, Rizzi (1999) acrescenta a posição INT (interrogativa) na camada complementizadora, argumentando em favor de uma posição distinta do sítio de aterrissagem do movimento QU, isto é, esta posição dá conta dos elementos que fazem parte da oração interrogativa.

Neste trabalho, investiga-se a posição ocupada pelo complementizador se em italiano, que ocorre em orações encaixadas, e também mostra-se que este complementizador ocupa uma posição distinta e mais baixa do que a posição do complementizador declarativo che.

Segundo Rizzi, a posição INT pode hospedar elementos QU em orações interrogativas principais e encaixadas, e esta afirmação ajudará a explicar certas peculiaridades de tais elementos em italiano e outras línguas Românicas.

Em Rizzi (1997), os elementos QU em orações principais movem-se para o especificador do núcleo de Foc, no qual eles competem com os constituintes focalizados uma vaga nesta posição. Em Rizzi (1999) há duas posições distintas para elementos QU e elementos focalizados. A posição ocupada por um elemento QU é uma posição mais alta do que Foc, mas pode ser precedida por um tópico.

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Rizzi (1999) faz esta abordagem para abrigar o complementizador se que ocupa uma posição distinta e mais baixa que a posição de che que expressa força em italiano, isto é, Rizzi cria a posição INT para abrigar elementos QU em orações encaixadas. Segundo ele, não há evidencia direta da presença da posição INT em orações interrogativas principais em italiano, porque construções interrogativas do tipo sim/não nesta língua não possuem nenhuma marca morfológica especial, mas há razões para concluir que elementos QU possam preencher a posição INT.

Na seção sobre interrogativas QU iremos apresentar os dados em Xavante que mostram que a posição INT é a posição ideal para abrigar as palavras QU que foram deslocadas.

Seguindo a proposta de Rizzi (97), Benincà (2001) acrescenta uma nova posição na cartografia do sintagma complementizador expandido. Esta posição é uma nova opção para a aterrissagem de um tipo de tópico que está acima do sintagma de força que, como vimos antes, dá à oração o seu tipo ou força ilocucionária, que pode ser identificada como interrogativa, declarativa, relativa, etc.

Esta nova posição é a posição DISC(ourse)P, que serve para abrigar um tipo de tópico, Hanging Topic, que, segundo Benincá, é diferente de um simples deslocamento à esquerda (Left Deslocation).

De acordo com a análise de Benincà, com o deslocamento à esquerda (LD), um argumento inteiro aparece à esquerda da oração, incluindo algumas preposições. Um clítico resumitivo é obrigatório com objetos direto e partitivo, e opcional em outros casos. Se presente, o clítico concorda com o tópico em gênero, número e caso. Já com o

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clítico resumitivo expressando o tipo de argumento é obrigatório, e só concorda com HT em número e gênero, mas não em Caso.

No caso da Left Deslocation, quando um sintagma nominal é deslocado para a esquerda da oração, um vestígio é deixado no seu lugar de origem. O sintagma se move para uma posição específica na cartografia do sintagma complementizador expandido. Com o Hanging Topic, o sintagma nominal não seria gerado como complemento

do verbo, e sim na própria estrutura do sintagma complementizador.

Segundo Benincà, o sintagma de tópico, na abordagem do sintagma complementizador expandido, não é a única projeção onde um tema pode ser hospedado. O ‘Hanging Topic’ parece estar mais alto do que o TopP, situando-se, então, em uma posição mais alta do que o sintagma de Força, que é a posição DiscP, como podemos observar na estrutura abaixo:

9) DiscP HT Disc’ ForceP Force’ Force TopP Top’ Top FocP Foc’ Foc FinP Fin’ Fin IP

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Neste capítulo, pretendemos apresentar uma descrição dos principais aspectos da estrutura morfológica da língua Xavante, com ênfase especial na formação do nome e na formação do verbo. Discutimos esses aspectos da morfologia Xavante com base no quadro teórico da Morfologia Distribuída, no qual uma raiz acategorial juntada a determinados feixes de traços pode formar um nome ou um verbo.

Além de mostrar a formação do nome em Xavante, dentro da teoria da Morfologia Distribuída, faremos uma breve descrição de alguns aspectos da estrutura gramatical da língua Xavante, especificamente, a posposição e o número.

Apresentaremos uma descrição dos morfemas verbalizadores e também apresentaremos as classes verbais dos verbos transitivos e intransitivos.

Ainda, neste capítulo, descreveremos os morfemas marcadores de pessoa, tempo e aspecto, mostrando que esses morfemas são importantes na derivação sintática da língua.

Por fim, mostraremos que a língua Xavante possui uma forte evidência para inserção tardia e subespecificação no que diz respeito a alguns verbalizadores e aos morfemas de tempo e pessoa da língua.

A língua Xavante possui pouca morfologia na estrutura das palavras morfológicas nominal e verbal. Essa língua possui mais palavras isoladas do que morfemas afixados nas raízes. Os prefixos dessa língua marcam somente pessoa, tanto em verbos como em nomes. Antes da raiz verbal, além dos prefixos de pessoa, podem aparecer também morfemas reflexivos e antes de uma raiz nominal podem aparecer marcadores de posse alienável. Os sufixos da língua marcam grau (diminutivo e

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aumentativo). Quanto à mudança de classe, marcam as nominalizações e as verbalizações. Tempo, aspecto, número e negação são morfemas livres ou dependentes que podem aparecer antes ou depois da raiz. Tempo e aspecto perfectivo e imperfectivo de verbos ativos aparecem antes da raiz. Número, negação e aspecto imperfectivo de verbos estativos aparecem após a raiz.

Dentro do quadro teórico da Morfologia Distribuída, o que tradicionalmente se chamaria de nome e verbo são resultados de processos sintáticos entre raízes acategoriais e morfemas categorizadores. Para se tornar um nome ou um verbo, uma raiz acategorial, desprovida de traços funcionais, precisa se juntar a determinados feixes de traços, respectivamente, “nomezinho” para formar um nome e “vezinho” para formar um verbo.

Uma raiz, na língua Xavante, se torna um verbo a partir da junção de morfemas verbalizadores fonologicamente nulos ou fonologicamente explícitos. Para se tornar um nome, morfemas nominalizadores fonologicamente nulos ou fonologicamente explícitos se juntam, respectivamente, a uma raiz acategorial ou a uma raiz verbal.

Os prefixos pronominais da língua Xavante marcam o sujeito ou o objeto. O prefixo de sujeito co-ocorre com o sintagma nominal que indica sujeito. Neste caso, supomos que esse prefixo seja concordância. Já o objeto, quando aparece prefixado ao verbo, não pode co-ocorrer com o sintagma nominal de objeto. O prefixo de objeto ocorre em distribuíção complementar com esse sintagma.

A língua Xavante marca os tempos presente e passado. Os morfemas que marcam esses tempos são os mesmos que marcam pessoa sujeito. Esses morfemas são subespecificados. Falaremos sobre subespecificação desses morfemas na seção 4.6. Nessa língua, o futuro é marcado por um morfema de aspecto que aparece logo após os

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morfemas de pessoa e tempo em orações afirmativas e no final da oração em construções negativas. Os morfemas indicativos de aspecto perfectivo e imperfectivo de verbos ativos também ocorrem após os morfemas de pessoa e tempo. O imperfectivo de verbos estativos ocorre no final da oração. O aspecto continuativo e o pontual não são distintos.

O número é marcado por morfemas livres que aparecem após a raiz verbal ou nominal e também pode ser expresso por raízes verbais que indicam coletivo. Essas raízes variam sua forma de acordo com o número do objeto, em orações transitivas, e variam de acordo com o sujeito, em orações intransitivas.

A negação, que sempre ocorre junto ao morfema estativo, aparece também após a raiz nominal ou verbal, sendo o último morfema da oração, podendo ser seguido apenas pelo morfema de aspecto futuro imperfectivo e aspecto imperfectivo de verbos estativos.

Faremos uma descrição mais detalhada sobre estes tópicos e outros nas próximas seções deste capítulo.

4.1- Nome em Xavante

Dentro do quadro da Morfologia distribuída, os nomes podem ser formados de dois modos. Um nome pode ser formado direto da raiz, ou pode ser formado a partir de uma raiz verbalizada. Os nomes que são formados a partir de uma raiz verbalizada são chamados de deverbais.

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Nomes formados diretamente da raiz

Os nomes formados diretamente da raiz possuem um único categorizador, um morfema nominalizador. Uma raiz acategorial se junta diretamente a esse categorizador nominal.

10) n

R n

Nomes formados a partir de uma raiz verbal

No caso de nomes formados a partir de uma raiz verbalizada, uma raiz acategorial se junta primeiro a um morfema verbalizador e, depois do verbo já formado, se juntará a um morfema nominalizador, formando assim uma forma deverbal nominalizada.

11) n v

R v n

Em Xavante, um nome pode ser formado por esses dois modos: (1) é formado diretamente da raiz ou (2) é formado a partir de uma raiz anteriormente verbalizada. Os

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nomes formados diretamente da raiz são constituídos por uma raiz acategorial juntada a um categorizador fonologicamente nulo. Já os nomes formados a partir de uma raiz anteriormente verbalizada são constituídos pela junção de sufixos nominalizadores (ou deverbalizadores) fonologicamente explícitos.

Os nomes em Xavante podem apresentar prefixos que marcam pessoa. A relação de posse é indicada pela ocorrência de pronomes pessoais juntos aos nomes.

Os prefixos marcadores de posse são obrigatórios com nomes que expressam parentesco e partes do corpo. Esses prefixos são opcionais com raízes nominalizadas que expressam instrumento ou lugar.

12) Prefixos Marcadores de Pessoa

da- Sentido genérico (aparece com nomes e verbos)

singular plural

1ª pessoa ĩ.- wa-

2ª pessoa a-/ai- a-/ai-

3ª pessoa ĩ- ĩ-

Regra para os prefixos de pessoa:

2ª pessoa sg./pl. →a-/ai- 1ª pessoa pl. →wa-

Referências

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