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Metodologia e Conteúdos Básicos De Geografia. Prof.ª Rosimar Bizello Müller

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Academic year: 2021

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2011 Prof.ª Rosimar Bizello Müller

M

etodologia

e

C

onteúdos

B

ásiCos

d

e

(2)

Copyright © UNIASSELVI 2011

Elaboração:

Prof.ª Rosimar Bizello Müller

Revisão, Diagramação e Produção:

Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial.

372.89

M958 m Müller, Rosimar Bizello

Metodologia e conteúdos básicos da geografia / Rosimar Bizello

Müller. Indaial : UNIASSELVI, 2011.

225 p. : il.

Inclui bibliografia.

ISBN 978-85-7830-418-8

1. Geografia - ensino I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.

Ensino a Distância. II. Título.

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a

presentação

Prezado(a) acadêmico(a), seja bem-vindo(a) ao estudo desta disciplina! Conhecer e compreender a ciência geográfica é fundamental para que ela abarque seu verdadeiro propósito no âmbito escolar e social. Mas qual é esse propósito? Por que ensinar Geografia? Indubitavelmente, a Geografia é uma das poucas ciências que permite a compreensão do mundo em que vivemos. Enquanto ciência social, a Geografia se preocupa em compreender e entender o espaço geográfico em sua dimensão social de produção e transformação.

No âmbito escolar, os principais motivos que permeiam o ensino da Geografia é justamente a compreensão do mundo onde estamos inseridos. É fazer a leitura de mundo. É conhecer e interpretar o espaço produzido (e em produção) pelo ser humano e sua relação com a natureza, bem como fornecer ao educando condições para sua formação à cidadania. É descobrir o seu mundo, tornando-o um cidadão participativo, conhecedor da (trans) formação e organização socioespacial, local, nacional e global, das interfaces das relações socioeconômicas, geopolíticas e ambientais, bem como ser consciente e crítico dos problemas globais.

Segundo os PCN (1997), a aquisição de conhecimentos básicos de Geografia é algo importante para a vida em sociedade, em particular para o desempenho das funções de cidadania, ou seja, cada cidadão, ao conhecer as características sociais, culturais e naturais do lugar onde vive, ou de outros lugares, pode comparar, explicar, compreender e espacializar as múltiplas relações que diferentes sociedades em épocas variadas estabeleceram e estabelecem com a natureza na produção e transformação de seu espaço geográfico.

Neste Caderno de Estudos, nosso intuito é que você compreenda a importância do ensino da Geografia no contexto escolar, em particular, nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental. Assim, para uma melhor compreensão, elencamos a trajetória evolutiva desta importante ciência, a institucionalização do ensino da Geografia, seu(s) objeto(s) de estudo(s), os caminhos e descaminhos do verdadeiro propósito desta ciência, o ensino frente às novas tecnologias e as práticas educativas no ensino da Geografia.

Esperamos que você aproveite esse estudo para conhecer a fantástica ciência e também compreender o verdadeiro propósito de ensinar a Geografia.

Bons estudos e sucesso na sua vida acadêmica! Prof.ª Rosimar Bizello Müller

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IV

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.

Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE.

Bons estudos! NOTA

FIGURA 1 – A IMPORTÂNCIA DA GEOGRAFIA NA EDUCAÇÃO

FONTE: Disponível em: <http://tusgeo.blogspot.com/2009/03/ olapessoal.html>. Acesso em: 27 abr. 2011.

"O conhecimento torna a alma jovem e diminui a amargura da velhice.

Colhe, pois, a sabedoria. Armazena suavidade para o amanhã". (Leonardo da Vinci).

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UNIDADE 1: A GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA ... 1

TÓPICO 1: GÊNESE E EVOLUÇÃO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA ... 3

1 INTRODUÇÃO ... 3

2 O CONHECIMENTO GEOGRÁFICO NA ANTIGUIDADE ... 3

2.1 O CONHECIMENTO GEOGRÁFICO ENTRE OS POVOS PRIMITIVOS ... 3

2.2 O CONHECIMENTO GEOGRÁFICO ENTRE OS POVOS ORIENTAIS ... 5

2.3 A CONTRIBUIÇÃO DOS GREGOS E DOS ROMANOS PARA O CONHECIMENTO GEOGRÁFICO ... 7

3 A GEOGRAFIA NA IDADE MÉDIA ... 10

3.1 A (RE)ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO GEOGRÁFICO NA IDADE MÉDIA ... 10

3.2 A CONTRIBUIÇÃO DAS GRANDES VIAGENS MEDIEVAIS NO DESENVOLVIMENTO DA GEOGRAFIA ... 12

3.3 O CONHECIMENTO DO TERRITÓRIO E A EVOLUÇÃO DA GEOGRAFIA ... 13

4 A GEOGRAFIA NOS SÉCULOS XV, XVI E XVII ... 13

4.1 O CONHECIMENTO GEOGRÁFICO NOS CHAMADOS TEMPOS MODERNOS .... ... 15

4.2 OS PRECURSORES DO CONHECIMENTO GEOGRÁFICO NOS CHAMADOS TEMPOS MODERNOS ... 16

5 A CONTRIBUIÇÃO DO CAPITALISMO NO DESENVOLVIMENTO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA ... 17

6 O SURGIMENTO DA GEOGRAFIA MODERNA E SEUS PRECURSORES ... 19

6.1 A CONTRIBUIÇÃO DE ALEXANDRE VON HUMBOLDT ... 20

6.2 A CONTRIBUIÇÃO DE KARL RITTER ... 21

6.3 A CONTRIBUIÇÃO DE FRIEDRICH RATZEL ... 23

6.4 A CONTRIBUIÇÃO DE ÉLISÉE RECLUS E DE PIETR KROPOTKIN ... 24

RESUMO DO TÓPICO 1 ... 26

AUTOATIVIDADE ... 28

TÓPICO 2: AS CORRENTES DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO E O ENSINO DA GEOGRAFIA ... 29

1 INTRODUÇÃO ... 29

2 A GEOGRAFIA CLÁSSICA OU TRADICIONAL ... 29

2.1 A ESCOLA GEOGRÁFICA ALEMÃ ... 30

2.2 A ESCOLA GEOGRÁFICA FRANCESA ... 31

2.3 A ESCOLA GEOGRÁFICA BRITÂNICA ... 33

2.4 A ESCOLA GEOGRÁFICA NORTE-AMERICANA ... 33

2.5 A ESCOLA GEOGRÁFICA SOVIÉTICA ... 34

3 A CIÊNCIA GEOGRÁFICA E A BUSCA DE NOVOS PARADIGMAS ... 35

3.1 A NOVA GEOGRAFIA – TEORÉTICA – QUANTITATIVA ... 35

3.2 A GEOGRAFIA RADICAL OU CRÍTICA ... 36

RESUMO DO TÓPICO 2 ... 39

AUTOATIVIDADE ... 41

(8)

VIII

TÓPICO 3: A GEOGRAFIA NO BRASIL ... 43

1 INTRODUÇÃO ... 43

2 A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA GEOGRAFIA NO BRASIL ... 43

2.1 A CONTRIBUIÇÃO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - USP ... 44

2.2 A CONTRIBUIÇÃO DA ASSOCIAÇÃO DOS GEÓGRAFOS BRASILEIROS – AGB ... 45

2.3 A CONTRIBUIÇÃO DO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE ... 47

3 A CONTRIBUIÇÃO DE ALGUNS DOS ILUSTRES GEÓGRAFOS BRASILEIROS ... 51

3.1 AROLDO AZEVEDO, AZIZ AB’ SABER E JURANDYR ROSS ... 51

3.2 A CONTRIBUIÇÃO DE MILTON SANTOS ... 55

LEITURA COMPLEMENTAR ... 57

RESUMO DO TÓPICO 3 ... 59

AUTOATIVIDADE ... 60

TÓPICO 4: MAS AFINAL, QUAL É O OBJETO DE ESTUDO DA GEOGRAFIA? ... 63

1 INTRODUÇÃO ... 63

2 É POSSÍVEL CONCEITUAR A GEOGRAFIA? ... 63

2.1 MAS AFINAL, QUAL É O OBJETO DE ESTUDO DA GEOGRAFIA? ... 65

3 O CARÁTER SOCIAL DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA ... 69

4 O ENSINO DA GEOGRAFIA E SUA IMPORTÂNCIA ... 70

LEITURA COMPLEMENTAR ... 73

RESUMO DO TÓPICO 4 ... 77

AUTOATIVIDADE ... 79

UNIDADE 2: APRENDER E ENSINAR GEOGRAFIA ... 81

TÓPICO 1: APRENDENDO A LER O MUNDO ... 83

1 INTRODUÇÃO ... 83

2 O PLANETA TERRA ... 84

3 A ALFABETIZAÇÃO CARTOGRÁFICA ... 90

3.1 A ALFABETIZAÇÃO ESPACIAL ... 91

3.2 OS PONTOS DE ORIENTAÇÃO ... 96

3.2.1 Orientando-se por meio do Sol, da Lua e do Cruzeiro do Sul ... 96

3.2.2 Orientando-se por meio da bússola ... 97

3.3 A ROSA-DOS-VENTOS ... 98

3.4 AS COORDENADAS GEOGRÁFICAS ... 100

4 A LEITURA DOS MAPAS NA SALA DE AULA ... 103

4.1 SÍMBOLOS ... 104 4.2 ESCALA ... 105 4.2.1 Escala numérica ... 106 4.2.2 Escala gráfica ... 106 4.2.3 Calculando as escalas ... 106 4.2.4 O Ensino da escala ... 107 4.3 PROJEÇÕES CARTOGRÁFICAS ... 108

4.3.1 Os tipos de projeções cartográficas ... 108

4.4 A LEITURA DOS MAPAS: CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 110

5 A LEITURA DA PAISAGEM ... 112

6 O ESTUDO DO LUGAR ... 113

7 A QUESTÃO DO TERRITÓRIO ... 114

(9)

RESUMO DO TÓPICO 1 ... 117

AUTOATIVIDADE ... 119

TÓPICO 2: OS CAMINHOS E DESCAMINHOS DO ENSINO DA GEOGRAFIA: A BUSCA POR UMA NOVA GEOGRAFIA ... 123

1 INTRODUÇÃO ... 123

2 O CONTEXTO HISTÓRICO DO ENSINO DA GEOGRAFIA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL ... 124

3 QUAL É O LUGAR DA GEOGRAFIA NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL? ... 126

4 O ENSINO DE GEOGRAFIA EM TEMPOS DE GLOBALIZAÇÃO ... 129

5 POR UMA GEOGRAFIA INCLUSIVA ... 133

5.1 RECURSOS E ADAPTAÇÕES NO ENSINO DA GEOGRAFIA INCLUSIVA ... 134

LEITURA COMPLEMENTAR ... 135

RESUMO DO TÓPICO 2 ... 140

AUTOATIVIDADE ... 141

TÓPICO 3: O ENSINO DA GEOGRAFIA SEGUNDO OS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS – PCN ... 143

1 INTRODUÇÃO ... 143

2 A PROPOSTA TEÓRICO-METODOLÓGICA DOS PARÂMETROS CURRICULARES ... 143

2.1 OBJETIVOS GERAIS DO ENSINO DE GEOGRAFIA PARA O ENSINO FUNDAMENTAL ... 144

2.2 SELEÇÃO E ORGANIZAÇÃO DOS CONTEÚDOS DE GEOGRAFIA- PCN ... 145

3 O ENSINO DA GEOGRAFIA NO PRIMEIRO E SEGUNDO CICLO - PCN ... 147

3.1 ENSINO E APRENDIZAGEM DE GEOGRAFIA NO PRIMEIRO CICLO ... 148

3.1.1 Os critérios para avaliação no primeiro ciclo – PCN ... 149

3.2 ENSINO E APRENDIZAGEM DE GEOGRAFIA NO SEGUNDO CICLO ... 149

3.2.1 Os critérios para avaliação no Segundo Ciclo – PCN ... 150

4 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE O ENSINO DE GEOGRAFIA SEGUNDO OS PCN ... 151

RESUMO DO TÓPICO 3 ... 153

AUTOATIVIDADE ... 154

UNIDADE 3: PRÁTICAS EDUCATIVAS PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA: INTERAGINDO COM A GEOGRAFIA ... 155

TÓPICO 1: A UTILIZAÇÃO DE PRÁTICAS EDUCOMUNICATIVAS NO ENSINO DE GEOGRAFIA ... 157

1 INTRODUÇÃO ... 157

2 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A EDUCOMUNICAÇÃO ... 158

3 O USO DA MÍDIA NA ESCOLA ... 159

3.1 OS TIPOS DE MÍDIA ... 161

3.1.1 Televisão ... 161

3.1.2 Jornal ... 163

3.1.3 Rádio ... 167

3.1.4 Internet ... 171

3.1.4.1 O Uso da internet no ensino da Geografia ... 174

RESUMO DO TÓPICO 1 ... 177

(10)

X

TÓPICO 2: GEOGRAFIA DIVERTIDA ... 181

1 INTRODUÇÃO ... 181

2 A LUDICIDADE NO ENSINO DA GEOGRAFIA ... 181

2.1 OBJETIVOS DAS ATIVIDADES LÚDICAS ... 182

2.2 OS TIPOS DE JOGOS E SEUS USOS ... 183

2.3 EXEMPLOS DE PRÁTICAS LÚDICAS NO ENSINAR E APRENDER A GEOGRAFIA ... 184

2.3.1 O jogo da corrida de automóveis ... 185

2.3.2 Bingo das coordenadas geográficas ... 185

2.3.3 Batalha naval geográfica ... 187

3 EXEMPLOS DE SITES ELETRÔNICOS QUE PODEM SER UTILIZADOS NO ENSINO DE GEOGRAFIA ... 188

3.1 PORTAL SÓ GEOGRAFIA ... 188

3.2 QUEBRA-CABEÇA MAPAS ... 190

3.3 JOGO DA MEMÓRIA – SISTEMA SOLAR ... 191

3.4 OUTROS JOGOS EDUCATIVOS GEOGRÁFICOS ... 192

3.5 ANIMAÇÕES E VÍDEOS INTERATIVOS GEOGRÁFICOS ... 193

4 EXEMPLOS DE PRÁTICAS E/OU TÉCNICAS PARA ENSINAR DETERMINADOS CONTEÚDOS ... 195

4.1 TRAJETÓRIA APARENTE DO SOL ... 195

4.2 SIMULAÇÃO DE TERREMOTO ... 196

4.3 SIMULAÇÃO DE UM TORNADO ... 197

RESUMO DO TÓPICO 2 ... 198

AUTOATIVIDADE ... 199

TÓPICO 3: O USO DE MAQUETES: CONSTRUINDO O CONHECIMENTO GEOGRÁFICO ... 201

1 INTRODUÇÃO ... 201

2 A IMPORTÂNCIA DO USO DA MAQUETE EM SALA DE AULA ... 201

3 REPRESENTAÇÃO DO ESPAÇO GEOGRÁFICO ... 203

4 REPRESENTAÇÃO DO RELEVO ... 206

5 A REPRESENTAÇÃO E SIMULAÇÃO DE UM VULCÃO ... 209

6 REPRESENTAÇÃO DO SISTEMA SOLAR ... 210

LEITURA COMPLEMENTAR ... 213

RESUMO DO TÓPICO 3 ... 216

AUTOATIVIDADE ... 217

(11)

UNIDADE 1

A GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

A partir desta unidade, você será capaz de:

• conhecer a gênese e como o conhecimento geográfico era percebido na antiguidade;

• verificar o contexto histórico de evolução da Ciência Geográfica;

• relacionar o desenvolvimento do capitalismo com o surgimento da Geo-grafia Contemporânea;

• compreender a importância das correntes do pensamento geográfico no desenvolvimento e ampliação do ensino da Geografia;

• entender o processo de institucionalização da Geografia no Brasil; • identificar a importância do ensino da Geografia na sala de aula

Esta unidade está organizada em quatro tópicos. Em cada um deles, você encontrará atividades para uma maior compreensão das informações apresentadas.

TÓPICO 1 – GÊNESE E EVOLUÇÃO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA

TÓPICO 2– AS CORRENTES DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO E O ENSINO DA GEOGRAFIA

TÓPICO 3 – A GEOGRAFIA NO BRASIL

TÓPICO 4 – MAS AFINAL, QUAL É O OBJETO DE ESTUDO DA GEOGRAFIA?

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TÓPICO 1

UNIDADE 1

GÊNESE E EVOLUÇÃO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA

1 INTRODUÇÃO

Analisando o caráter atual de abrangência de estudo da ciência geográfica, podemos dizer que a Geografia sempre esteve presente no contexto histórico de formação e evolução do planeta Terra. Contudo, se a compararmos com o tempo geológico de formação do planeta (4,5 e/ou 4,6 bilhões de anos), a Geografia enquanto nomenclatura é muito recente, tem sua origem no século III a.C. pelo filósofo grego Eratóstenes, cujo significado abarca Geo = Terra e grafia = escrita, descrição. Desde então, o objeto de estudo da Geografia passou por diferentes concepções culturais e correntes epistemológicas.

Assim, neste tópico, caro(a) acadêmico(a), queremos que você compreenda o processo de evolução do conhecimento geográfico, bem como a relação deste conhecimento com a formação socioespacial e o desenvolvimento econômico na Antiguidade, na Idade Média e Moderna.

2 O CONHECIMENTO GEOGRÁFICO NA ANTIGUIDADE

Podemos dizer que a Geografia é uma das ciências mais antigas que existem. Isso porque, a confecção dos mapas, conforme registros históricos, ocorreu antes da própria escrita. Valiosos mapas foram deixados por diferentes povos, dentre eles: babilônios, egípcios, maias, astecas, esquimós, chineses, dentre outros. Todos eles representavam aspectos culturais de suas sociedades e sem dúvida são peças-chaves para que possamos compreender alguns dos seus aspectos socioculturais, bem como suas relações com a natureza. Desse modo, o conhecimento geográfico já se fazia presente com as primeiras civilizações. Vejamos:

2.1 O CONHECIMENTO GEOGRÁFICO ENTRE OS POVOS

PRIMITIVOS

Os povos primitivos, apesar de não serem detentores da escrita, já possuíam “ideias” geográficas em suas concepções de vida e cultura. Seus conhecimentos eram transmitidos de geração em geração através da versão oral

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UNIDADE 1 | A GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA

4

e dos desenhos rupestres (em rochas e cavernas). Vivam da caça, pesca, coleta e, às vezes, de uma agricultura primitiva. Inicialmente retiravam da natureza o que necessitavam para sobreviver sem ocasionar expressivas transformações. Ademais eram povos nômades, permitindo que a natureza se regenerasse caso houvesse uma exploração intensiva.

DICAS

Para saber mais sobre os povos primitivos, indicamos a leitura do livro intitulado “Povos Primitivos: a vida dos primeiros grupos sociais humanos, desde a Idade da Pedra até seu desenvolvimento nas Américas”. Esse livro é bem didático e ilustrativo. Vale a pena conferir.

É importante destacar também o conhecimento que estes povos continham em relação à natureza. Segundo Andrade (1987, p. 21):

[...] conheciam vegetais que colocados na água provocavam a asfixia de peixes que poderiam ser facilmente apanhados e utilizados como alimento, sem lhes causarem danos. Conheciam também as áreas fluviais e costeiras mais piscosas onde não só pescavam peixes e crustáceos como também apanhavam moluscos que consideravam saborosos. Conheciam o mecanismo das estações, fazendo migrações, às vezes de longos percursos, a fim de acompanharem os animais silvestres que utilizavam como alimentos ou para colherem os frutos de determinadas áreas, na ocasião da “safra”.

Gradativamente, os povos passaram a fixar território deixando de ser nômades para se tornarem sedentários. É evidente que neste processo, a natureza primeira ou natureza natural como diria Milton Santos, passou a ser transformada em natureza segunda ou humanizada. Na América Andina, por exemplo,

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TÓPICO 1 | GÊNESE E EVOLUÇÃO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA

os quéchuas, ao construírem o Império Inca, estabeleceram suas cidades em importantes pontos estratégicos, tanto do ponto de vista militar como alimentar. “Construíram estradas empedradas com centenas de quilômetros, partindo da capital em direção aos quatro pontos cardeais, como a que ligava Cuzco a Quito. Eles tinham uma noção da translação da Terra em torno do Sol e da importância da orientação”. (ANDRADE, 1987, p. 21).

No que tange ainda aos conhecimentos geográficos de alguns povos primitivos, gostaríamos de destacar que os polinésios (eram predominantemente pescadores) desenvolveram a arte da navegação e por conhecerem a direção dos ventos e das correntes marinhas puderam estabelecer a comunicação entre as inúmeras ilhas distantes do oceano com a navegação em seus barcos. Alias, cabe ressaltar que estes barcos eram considerados muito seguros para a época, bem como para o nível tecnológico que dominavam.

Outro aspecto importante dos povos primitivos era a concepção religiosa dominada por um Deus superior que na maioria das vezes estava atrelado aos astros (Sol, lua e estrelas).

De modo geral não se pode afirmar que estes povos desenvolvessem o conhecimento geográfico em caráter científico. Contudo, suas experiências diárias, ou saberes práticos e as noções e relações com a natureza permitiram mesmo que empiricamente a ampliação e desenvolvimento do conhecimento geográfico conforme veremos na próxima seção.

2.2 O CONHECIMENTO GEOGRÁFICO ENTRE OS POVOS

ORIENTAIS

Associadas a outras ciências, as ideias geográficas dos povos orientais através de seus conhecimentos práticos de exploração da Terra, bem como de suas observações (viajantes) e estudos matemáticos foram responsáveis pela sistematização do conhecimento do mundo.

Um exemplo típico desta sistematização foram os estudos do rio Nilo, Tigre e Eufrates realizados pelas civilizações agrícolas da Mesopotâmia e do Egito. Os estudos levavam em conta a origem, a extensão e o regime dos rios no que tange a periodicidade e a variação do volume de água durante o ano. Para estas civilizações, o período das cheias, principalmente do rio Nilo determinava a extensão da área que seria cultivada, da quantidade de alimentos que seria produzida e a oportunidade de trabalho para os que se dedicavam exclusivamente à agricultura. Podemos dizer que estas análises empíricas permitiram o desenvolvimento dos primeiros estudos da hidrografia fluvial e de geometria. Isso porque as cheias extinguiam as demarcações feitas entre as áreas cultivadas por várias famílias, forçando uma nova demarcação entre elas.

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UNIDADE 1 | A GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA

6

Caso você não saiba, a Mesopotâmia (onde é o Iraque hoje) estava localizada entre os rios Tigre e Eufrates, localizada na chamada Crescente Fértil (ver mapa a seguir). Para você ter uma ideia, todas as civilizações (sumérios, acádios, amoritas, assírios, caldeus, dentre outras) que se desenvolveram nestas áreas eram denominadas de Hidráulicas, isso porque dependiam dos rios e lutavam pela posse das terras férteis e aráveis. Observe o mapa a seguir

FONTE: Disponível em: <http://www.not1.com.br/wp-content/uploads/2011/03/ Mesopotamia-crescente-fertil.gif>. Acesso em: 10 abr. 2011.

FIGURA 2 – LOCALIZAÇÃO DA MESOPOTÂMIA

As civilizações orientais permitiram também o desenvolvimento econômico com a troca de produtos que engendrou a intensificação das relações comercias entre os povos que viviam em áreas mais distantes. Assim, a navegação se intensificou entre o mar Mediterrâneo e no mar Vermelho, ocasionando o aparecimento de núcleos coloniais e a dominação econômica e política dos povos em ascensão. Segundo Andrade (1987, p. 22), “os fenícios percorreram o Mediterrâneo e o mar Negro e, alcançando o sul da Espanha, atravessaram o estreito de Gibraltar e exploraram a costa europeia do Atlântico até a Grã-Bretanha e a África, possivelmente até o Camerum”. Traziam em suas embarcações mercadorias inexistentes na bacia do Mediterrâneo que eram trocadas por outros produtos.

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TÓPICO 1 | GÊNESE E EVOLUÇÃO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA

Para você ter uma ideia, no século VII a.C., a serviço do Faraó Nécao II, os fenícios fizeram a circunavegação da África. É importante destacar também

[...] que um faraó planejou construir um canal que cortasse o istmo de Suez, ligando os mares Mediterrâneo e Vermelho, com a finalidade de estender as navegações mediterrâneas até o oceano Índico, detendo-se em detendo-seu propósito ao constatar que o nível do mar Vermelho era mais elevado do que do mar Mediterrâneo e que a abertura do canal provocaria a invasão do mar Mediterrâneo pelas águas do mar Vermelho e a consequente inundação das planícies costeiras, onde se localizavam importantes cidades e campos cultivados. (ANDRADE, 1987, p. 23). Os conhecimentos geográficos acumulados pelas civilizações orientais foram fundamentais para a elaboração dos conhecimentos básicos da ciência moderna. Inclusive foram utilizados pelos gregos, que se tornaram uma civilização dominante.

2.3 A CONTRIBUIÇÃO DOS GREGOS E DOS ROMANOS

PARA O CONHECIMENTO GEOGRÁFICO

A exemplo dos fenícios, os gregos também eram grandes navegadores, fundaram colônias na Sicília, Sul da Itália, Espanha (costa do Mediterrâneo), dentre outras e desenvolveram o comércio, bem como adquiriram um vasto conhecimento sobre estas áreas. Muitos dos seus conhecimentos principalmente astronômicos eram oriundos das civilizações da Mesopotâmia, como por exemplo, a maneira de diferenciar as estrelas dos planetas e também como identificá-los (Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno). Outro conhecimento adquirido foi sobre o movimento de revolução da Lua em torno da Terra. Através das fases da Lua, os gregos passaram a dividir o ano e agrupar os dias da semana. Os gregos também adquiriram das civilizações orientais os conhecimentos de geometria que posteriormente foram realizadas por Dicearco e Eratóstenes, com a qual estabeleciam as dimensões da Terra no que concernem as latitudes.

À medida que o conhecimento geográfico se expandia, estudos descritivos das áreas litorâneas e centrais de domínio grego eram enriquecidos com mapas de itinerários denominados périplos. Estes apresentavam imperfeições, pois nesta época não se utilizavam escalas, ademais não era possível fazer a medição das longitudes. Apesar de não conhecerem, mas saberem da existência de terras situadas ao norte, na Europa Setentrional e na Ásia, os gregos as viam como reservas futuras de exploração.

Neste contexto de desenvolvimento do conhecimento geográfico, é importante destacar que os filósofos e matemáticos discutiam ideias sobre a forma e dimensões da Terra, bem como a distribuição das águas, terras e dos seres humanos. Aristóteles, por exemplo, admitiu a esfericidade da Terra, bem como pesquisou sobre a erosão, formação de deltas, a relação entre animais e plantas, as variações climáticas, as relações entre os seres humanos, dentre outros.

(18)

UNIDADE 1 | A GEOGRAFIA COMO CIÊNCIA

8 IMPORTANTE

Aristóteles chegou a apresentar que durante os eclipses, a Terra projetava na Lua uma sombra redonda, como prova da mesma (observe a imagem a seguir). Assim, os trabalhos posteriores de Geodésia elaborados por Eratóstenes para indicar as dimensões da Terra, partiam do pressuposto que ela tinha forma esférica. Para isso, Eratóstenes baseava-se na medida de inclinação dos raios solares em um poço, em dois pontos diferentes, situados na mesma longitude (Sienna e Alexandria), com o auxílio de um instrumento muito simples, o gnômon. Através deste, estabeleceu que a esfera da Terra teria 250.000 estádios, ou 42.000 km. (ANDRADE, 1987). O curioso é que esta medida é muito próxima da aceita atualmente (40.000 km).

FONTE: Disponível em: <http://astro.if.ufrgs.br/antiga/antiga.htm>. Acesso em: 10 abr. 2011.

FIGURA 3 – SOMBRA DA TERRA NA LUA DURANTE UM ECLIPSE LUNAR

No que tange à distribuição das terras e das águas, é interessante você saber que para os gregos a Europa, Ásia e África formavam um imenso continente setentrional (norte) contornado por águas. Segundo Andrade (1987, p. 26), “quanto à existência de outro continente, antípoda do que habitavam e situado no hemisfério sul, havia grande discussão entre eles, advogando uns a existência do mesmo como necessária ao equilíbrio do globo, enquanto outros não aceitavam”.

Ainda sobre o papel dos gregos no desenvolvimento da ciência geográfica, não podemos deixar de destacar a teoria geocêntrica de Ptolomeu (sec. II d.C.), ao afirmar que a Terra era o centro do Universo. Esta teoria, aceita até o século XIV, faz parte da famosa obra de Ptolomeu intitulada Sintaxis. Ptolomeu também

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TÓPICO 1 | GÊNESE E EVOLUÇÃO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA

fez descrições do mundo conhecido em outra obra, sendo considerada durante o final do Império Romano e durante a Idade Média, como verdade absoluta. Conforme Andrade (1987), com a queda do Império Romano e a conquista árabe, sua obra foi traduzido para a língua dos novos dominadores e continuou a ter grandes divulgações, tendo sido objeto de estudos e reflexões dos sábios da Igreja, durante a Idade Média. Por isso tem uma grande importância histórica.

Ao contrário dos sábios gregos que tinham uma maior preocupação com a geografia matemática, os romanos deram maior importância à geografia descritiva. Estes procuraram desenvolver ao máximo a organização do seu império, assim como o comércio sobre as dezenas de suas províncias. Exemplo disso foram as descrições realizadas pelos grandes geógrafos romanos, Pompônio Mela e Plínio, cujas preocupações estavam pautadas com o império romano no que tange à localização das áreas ricas em produtos comerciais, o acesso a elas, os problemas ligados ao abastecimento, a distribuição étnica, os problemas fronteiriços, dentre outras.

Segundo Andrade (1987, p. 28), “outro fato que se exacerbaria no período romano foi a expansão do Cristianismo, tornando religião oficial de Roma no século IV e que deu grande ênfase ao poder dos monges”. A dedicação dos monges no estudo da Bíblia Sagrada fez com que principalmente após a queda do Império Romano (século V) se tornassem detentores da cultura europeia, frente aos povos considerados bárbaros e pouco cultos. Assim, o domínio dos princípios bíblicos refutou muito das consideradas verdades científicas admitidas pelos gregos, a exemplo da esfericidade da Terra.

Na verdade, muitas das obras escritas no passado, conforme coloca Andrade (1987), eram fantasiosas, sobretudo aquelas que descreviam monstros, animais de dimensões extraordinárias, bem como informações distorcidas sobre as diversas formas de terrenos, o que dificultavam o melhor conhecimento da realidade existente e assim, o progresso do conhecimento científico.

Segundo Moreira (1987), a Geografia, dos romanos até a Idade Média, esteve cunhada como um inventário sistemático de terras e povos, ou seja, possuía um caráter descritivo, com o objetivo de auxiliar a administração do Estado.

IMPORTANTE

Caro(a) acadêmico(a)! Não podemos deixar de falar de Estrabão (nascido por volta de 64 a 63 a.C), considerado por muitos autores, o maior geógrafo de Roma. Suas viagens realizadas pela Europa, Ásia e África renderam-lhe a escrita de um tratado de dezesseis livros contendo descrições físicas de locais e povos da época. Obra considerada monumental. Observe a imagem de Estrabão.

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FIGURA 4 – IMAGEM DE ESTRABÃO

FONTE: Disponível em: <http://3.bp.blogspot.com/_xujLY8HuffY/ SwxcANyk7bI/AAAAAAAAAUQ/NMl3NOXUWu8/s1600/EStrab%C3%A3o. JPG>. Acesso em: 10 abr. 2011.

3 A GEOGRAFIA NA IDADE MÉDIA

Na Idade Média, o conhecimento geográfico passou por algumas reformulações porque muitos ensinamentos de sábios gregos, (Ptolomeu, Estrabão, Heródoto etc.), que haviam sido refutados durante o império romano, foram retomados. O espaço geográfico passou por um processo de reorganização associada à atuação do povo árabe, dos povos nórdicos e também com as grandes navegações.

3.1 A (RE)ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO GEOGRÁFICO NA

IDADE MÉDIA

Novas fronteiras surgiram e muitas das que existiam foram destruídas com a queda do Império Romano do Ocidente e sua divisão entre reinos bárbaros, bem como com a expansão do islamismo, a imposição dos turcos no Oriente e a decadência do Império Bizâncio. Na verdade, houve uma reorganização territorial durante a Idade Média.

Para você ter uma ideia da influência da expansão do islamismo, por exemplo, no que tange à reorganização territorial, os árabes (fundamentados em sua nova crença religiosa), após a pregação de Maomé e a conversão dos povos da península arábica ao islamismo, passaram a fazer guerras no intuito de conquistar as terras do Império Bizantino na Ásia Menor e no norte da África.

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TÓPICO 1 | GÊNESE E EVOLUÇÃO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA

Aproximadamente um século depois, os árabes já tinham dominado as velhas civilizações da Síria e da Palestina, cristãs e ortodoxas. Conquistaram também o norte da África, até a costa atlântica, bem como toda a Península Ibérica e a Mesopotâmia. O islamismo foi expandido pela Índia e Irã.

Os senhores árabes detentores de vasto Império procuravam organizar as vias de transportes não apenas por razões comercias, mas também para facilitar a peregrinação que todo muçulmano deveria fazer a Meca ao menos uma vez na vida. Anualmente, a cidade de Meca recebe milhões de muçulmanos para celebrar um ritual religioso histórico de desapego, arrependimento e reflexão.

IMPORTANTE

É importante você saber que muitas obras famosas pertencentes à biblioteca de Alexandria, por exemplo, caíram em poder dos árabes e foram traduzidas para a sua língua. Assim, os árabes passaram a conhecer as principais ideias de Aristóteles e Ptolomeu, dentre outras.

Podemos dizer que para a Geografia, os árabes contribuíram com suas viagens descrevendo as condições naturais, os recursos que seriam explorados, as características e costumes dos povos que iam sendo dominados. É evidente que as obras deixadas pelos escritores árabes não tinham nenhuma preocupação específica com a Geografia, porém foram muito importantes para o avanço desta ciência.

Neste contexto de reorganização do espaço geográfico e as contribuições para Geografia, não podemos deixar de abordar sobre os turcos. Estes, a partir do século XIV, passaram a conquistar as províncias orientais pertencentes ao Império Árabe e no século XV conquistaram a Constantinopla destruindo o Império Bizantino. Os turcos foram responsáveis pela interrupção do comércio entre o Oriente o Ocidente ocasionando sérios problemas aos países europeus que pregavam o catolicismo. Assim, estes países passaram a organizar expedições com destino à Palestina com o intuito de reconquistar os cristãos e lutar contra os turcos para garantir suas rotas comerciais do Oriente.

Povo, nobres, senhores feudais e até reis, como São Luís, da França, e Ricardo Coração de Leão, da Inglaterra, participaram de expedições que por terra e por mar partiram para atacar os infiéis na Terra Santa e no norte da África. Estas expedições, que se realizaram nos séculos X a XI, contribuíram tanto para a expansão das relações comerciais, como também para o intercambio cultural. Desse intercambio, os cristãos tiveram maior acesso às obras dos gregos, dominados pelos turcos, como também à cultura árabe, que nos legou os algarismos, ainda hoje denominados arábicos, e nos transmitiria o conhecimento de invenções chinesas a que tinham tido acesso, como a pólvora, o papel e a bússola. (ANDRADE, 1987, p. 31).

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Como você pode perceber, apesar do conflito existente, foi possível a consolidação e/ou recuperação entre povos que durante séculos estiveram sob domínio do Império Romano.

Gostaríamos de destacar ainda a atuação dos povos nórdicos (noruegueses, dinamarqueses, suecos, finlandeses e islandeses), que se dedicavam principalmente à pesca e à navegação. Embora não tenham deixado grandes registros de suas contribuições, é muito provável que para realizarem suas viagens transoceânicas deveriam ter certo conhecimento sobre o regime dos ventos, da direção e intensidade das correntes marítimas, da oscilação das ondas do mar, das geleiras e das condições do clima.

3.2 A CONTRIBUIÇÃO DAS GRANDES VIAGENS

MEDIEVAIS NO DESENVOLVIMENTO DA GEOGRAFIA

Inúmeros viajantes partiram do Ocidente, sobretudo da Itália, à procura de terras no Extremo Oriente. Na verdade, eles sabiam da existência do grande Império mongol e se aventuraram sob a cobiça do comércio e também como enviados do papa no intuito de converter os soberanos do Oriente. Dentre os inúmeros viajantes merecem ser destacados o monge Piano de Carpini, que conseguiu manter contato com o soberano mongol em Samarcanda (posteriormente transferido para Pequim), bem como o comerciante veneziano Marco Polo (este nome não é estranho para você) que acompanhado de seu pai viajou até a China colocando-se à disposição do soberano mongol.

Neste Império, Marco Polo desempenhou um cargo importante, era responsável pela administração de várias províncias e também executava missões de alta confiança. Retornando à Itália após vinte anos, escreveu um livro descrevendo suas viagens realizadas no Oriente. Apesar de suas contribuições descritivas, sua obra merece ser utilizada com certo cuidado, pois não havia uma preocupação com a veracidade das informações e por vezes suas histórias eram fantasiosas. De qualquer maneira não podemos desconsiderá-la.

Continuando com as grandes viagens, os italianos não se limitaram a fazer suas explorações no Mediterrâneo, na Ásia Central e Oriental, ampliaram suas navegações pelo Atlântico. A quem diga que antes dos portugueses e espanhóis, alguns viajantes italianos, no século XIV, já conheciam as Ilhas Canárias, Porto Santo, Madeira e Açores.

Podemos dizer que o período da Idade Média foi marcado pelas grandes e numerosas viagens realizadas principalmente pelos italianos, isso se confirma, pois nos séculos XV e XVI vários deles realizaram viagens a serviço dos reis da Espanha e Portugal. O que demonstra que tinham conhecimento sobre determinadas áreas exploradas anteriormente por eles.

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3.3 O CONHECIMENTO DO TERRITÓRIO E A EVOLUÇÃO

DA GEOGRAFIA

Na Idade Média, o pensamento geográfico foi influenciado pelos problemas culturais atrelados ao poder que caracterizava a Igreja Medieval. Os monges e os sacerdotes da Igreja procuravam desenvolver a fé, sobretudo quando ameaçada pela expansão muçulmana, bem como procuravam adaptar as ideias e concepções aos ensinamentos bíblicos. Assim, muitas das informações tidas como verdades foram questionadas pela igreja a exemplo da esfericidade da Terra e a distribuição das terras e das águas na superfície da Terra.

A cartografia antiga sofreu reformulações principalmente com as navegações que permitiram a elaboração de mapas detalhando as rotas marítimas. As navegações oceânicas instigaram a preocupação com o fenômeno das marés e questionava-se também a existência do relevo submarino.

As grandes viagens terrestres (desde o Mediterrâneo até o Extremo Oriente) possibilitaram descrições importantes a respeito dos rios, lagos, montanhas, povos (cultura, comércio), dentre outros. Os rios, por exemplo, já era objeto de estudo para os estudiosos, pois além de serem para os povos fonte de abastecimento de água para consumo e irrigação, também serviam como hidrovias já que os transportes terrestres eram muito precários. É provável que alguns desses rios você já tenha ouvido falar como o Nilo, Eufrates, Danúbio, Tigre, Reno, Volga, Ganges, Indus, Azul e Amarelo. Na verdade, esses rios exerceram e exercem ainda hoje uma grande importância socioeconômica.

4 A GEOGRAFIA NOS SÉCULOS XV, XVI E XVII

No final da Idade Média, as atividades comerciais passaram a ter um desenvolvimento ascendente, assim como houve uma maior intensificação do intercâmbio entre os povos do Ocidente e Oriente, ocasionando a ampliação cultural e a difusão de instrumentos importantes nas transformações socioeconômicas que seriam realizadas posteriormente (nos séculos XV, XVI e XVII).

Os séculos XV e XVI foram marcados pela intensificação das grandes navegações e com o descobrimento de caminhos marítimos, a exemplo do caminho marítimo às Índias, do descobrimento e “conquista” da América e o início da exploração no oceano Pacífico.

Observe no mapa a seguir o percurso das viagens ultramarinas. Perceba que o Brasil era uma das rotas.

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FIGURA 5 – AS GRANDES VIAGENS ULTRAMARINAS

FONTE: Disponível em: <http://www.curso-objetivo.br/vestibular/roteiro_estudos/imagens/ re_500anos_1.jpg>. Acesso em: 20 nov. 2010.

É evidente que os exploradores tinham apoio dos soberanos de seus países (Portugal, Espanha, França, Holanda e Inglaterra) que visavam fortalecer o poderio nacional com riquezas oriundas de terras desconhecidas (além-mar) através de “saques” e do desenvolvimento do comércio.

Para você ter uma ideia, foi na metade do século XVI que Fernão de Magalhães encontrou a passagem do oceano Atlântico para o Pacífico, o qual atribuiu seu nome no estreito (veja no mapa). Contudo, podemos dizer que o grande explorador do Pacífico foi o almirante James Cook. Ele navegou pelo oceano Pacífico em várias direções, acompanhado de cientistas que exploraram as águas e terras de clima tropical e glacial.

Sem dúvida, as inúmeras expedições auxiliaram o desenvolvimento da ciência geográfica com as informações catalogadas dos oceanos, dos tipos de climas das diferentes áreas, da geologia dos lugares, da economia e cultura dos diferentes povos.

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4.1 O CONHECIMENTO GEOGRÁFICO NOS CHAMADOS

TEMPOS MODERNOS

Nos chamados Tempos Modernos (séculos, XV, XVI, XVII), as grandes revoluções para o conhecimento geográfico foram as expansões territoriais, a dominação da configuração da Terra, bem como a rejeição de inúmeras ideias sobre a superfície da mesma.

É evidente que a expansão territorial repercutiu primeiramente na cartografia que gradativamente foi modificada e aprimorada. Ademais, nos novos mapas produzidos um novo continente foi abarcado, a América. Também foram aprimorados os conhecimentos a respeito do magnetismo da Terra, estabelecendo-se a diferença entre o polo geográfico e magnético. Ficou com dúvidas em relação a esta diferença? Pense um pouco e depois verifique no UNI. Continuando a nossa linha de raciocínio, a medida das longitudes também passou a ser feita com mais precisão a,

as correntes marítimas, de grande influência sobre a navegação entre os continentes, foram mais bem estudadas, assim como a intensidade e a direção dos ventos, sobretudo dos alísios. Os navegadores, nos mares tropicais, necessitavam usar os alísios para impulsionar as suas embarcações e fugir da calmaria equatorial, onde poderiam permanecer meses, praticamente sem se movimentar, à falta da força propulsora do vento. (ANDRADE, 1987, p. 43).

Todos esses estudos contribuíram para o surgimento de uma Geografia científica e o aparecimento de várias ciências.

DICAS

A Terra como você já sabe é um imenso ímã. Ela apresenta dois polos magnéticos: o Norte e o Sul. Esses polos estão próximos aos polos geográficos. Os polos geográficos são as extremidades do eixo da Terra. A extremidade localizada no Hemisfério Sul é o Polo Sul e a extremidade localizada no Hemisfério Norte é o Polo Norte. Saiba mais sobre o magnetismo da Terra acessando o site: <http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca /fisica/0011.html>.

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4.2 OS PRECURSORES DO CONHECIMENTO

GEOGRÁFICO NOS CHAMADOS TEMPOS MODERNOS

Para muitos, a obra de Nicolau Copérnico foi considerada um grande impulso para a Revolução Científica. Copérnico, em sua obra, defende matematicamente um modelo de cosmo, em que o Sol seria o centro do Universo (Teoria Heliocêntrica) e a Terra, era um astro que girava em torno do Sol. A teoria Heliocêntrica sem dúvida rompeu com a Teoria Geocêntrica (a Terra era o centro do universo) de Cláudio Ptolomeu. Conforme Viviane e Müller (2009, p. 40) “tal mudança representou uma das rupturas mais marcantes daquele período, o que culminou com o início da modernidade, pois a nova teoria estabelecida era contrária a uma teoria que reinava há quase vinte séculos”. Observe na figura a seguir a representação das duas teorias

FIGURA 6 – TEORIA GEOCÊNTRICA E TEORIA HELIOCÊNTRICA

FONTE: Disponível em: <http://www.escolas.trendnet.com.br/sjosesbc/renascimento/obras. htm>. Acesso em: 20 nov. 2010.

IMPORTANTE

No período do Renascimento Cultural e Científico (séculos XVI e XVII), a Igreja Católica ainda controlava a produção cultural e científica, e defendia a teoria Geocêntrica. Galileu Galilei, por defender o Heliocentrismo, foi condenado à Inquisição. Para se livrar da morte, Galileu negou o Heliocentrismo diante do tribunal. Contudo, não deixou de fazer suas pesquisas.

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Quem foi Galileu Galilei? Nasceu na Itália no ano de 1564. Grande Físico, Matemático e Astrônomo, Galileu fez a descoberta da lei dos corpos e enunciou o princípio da Inércia. Foi um dos principais representantes do Renascimento Científico dos séculos XVI e XVII. Foi o primeiro a contestar as afirmações de Aristóteles, que, até aquele momento, havia sido o único a fazer descobertas sobre a física.

Outros precursores do conhecimento científico que também merecem destaque, como Leibnitz que tentou explicar a deposição das rochas sedimentares; Montesquieu (famoso humanista francês) que estudou a influência dos climas na maneira de pensar e agir dos homens; Isaac Newton (famoso físico inglês) responsável pela formulação do princípio da lei da gravitação universal.

No entanto, para a ciência geográfica, o holandês Bernardo Varenius (morreu com 28 anos), sem dúvida foi um dos precursores mais importantes na primeira metade do século XVII. Embora não tenha concluído sua sublime obra intitulada Geografia Geral, Varenius fez uma abordagem sintética da chamada Geografia Matemática, que estuda a Terra como astro e procura explicar as relações existentes entre este planeta e os outros, enveredando em seguida pelos temas da Geografia Física, que procurou explicar as formas de relevo, a rede fluvial e as condições climáticas se interinfluenciando, para chegar ao papel da sociedade, do homem na elaboração do espaço. (ANDRADE, 1987).

Talvez a maior contribuição de Varenius tenha sido o fato de ele ter unido em uma só, a Geografia Geral, Geografia Matemática, Geografia Descritiva, Geografia Humanista e Geografia Literária.

5 A CONTRIBUIÇÃO DO CAPITALISMO NO DESENVOLVIMENTO

DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA

Antes de iniciarmos a nossa conversa sobre o papel do capitalismo no que tange ao desenvolvimento da ciência geográfica, gostaríamos que você refletisse. Será que o capitalismo realmente contribuiu para o desenvolvimento da ciência? De que forma? Pense um pouco.

Sim, sem dúvida o capitalismo contribuiu não só para o desenvolvimento da ciência geográfica, mas também para as demais ciências principalmente com sua expansão nos século XVIII e XIX proporcionando um acelerado desenvolvimento das mesmas. Para facilitar o seu entendimento, vamos voltar ao século XV. A partir deste, o capitalismo comercial marcado pela expansão das grandes navegações ocasionou o descobrimento de novas terras, culturas, bem como intensificou a comercialização entre os povos que viviam em condições naturais e organização social diversificadas. Neste período, a Europa detinha o núcleo de civilização mais dinâmica e também possuía um controle maior sobre

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a “tecnologia”. Gradativamente, expandiu sua influência econômica e política por grande parte da superfície da Terra, principalmente nas áreas litorâneas, cujo acesso às embarcações era mais fácil.

O capitalismo comercial proporcionou o enriquecimento da burguesia e esta, por sua vez, passou a exercer uma influência maior junto ao governo e na administração e com isso estimulou as técnicas e pesquisa com o intuito de ampliar, por exemplo, as explorações dos recursos naturais. Cabe destacar, que a burguesia, ao forçar o controle dos meios de produção promoveu sua revolução política ocasionando a destruição da monarquia francesa. Conforme destaca Andrade (1987, p. 46):

os ideais da Revolução Francesa foram levados a outros países da Europa, sobretudo durante o Império Nopoleônico, e, embora essas monarquias subsistissem, fizeram concessões e assimilaram diretrizes que permitiram e as vezes estimularam a sociedade burguesa, em formação. Na Inglaterra, por sua vez, desde a Revolução Gloriosa (1688), a burguesia vinha apossando-se de fatias do poder e enfraquecendo os poderes do rei frente aos interesses de classe. Daí a Revolução Industrial ter-se iniciado na Inglaterra, no século XVIII, se expandindo pela França na primeira metade do século XIX, e depois pela Europa central e ocidental, em meados do século XX.

Neste contexto, é importante destacar que a política da burguesia engendrou uma verdadeira revolução cultural e técnica. Para você ter uma ideia, em meados do século XVIII, as ciências naturais (Biologia, Botânica, Zoologia, dentre outras) desenvolveram-se com repercussões na Geografia. Os filósofos passaram a questionar ideias e crenças desenvolvidas em séculos anteriores, formulando novas bases para a ciência. Assim, a ciência geográfica se beneficiou com as reflexões de Immanuel Kant (filósofo alemão, que tinha como centro de sua filosofia, o ser humano, como um ser dotado de razão e liberdade), por exemplo.

A classe dominante europeia era cada vez mais deslumbrada com as novas áreas descobertas e buscavam explicações para tentar entender a diversidade dessas áreas no que concerne a paisagem, a cultura, hábitos, crenças e a própria relação entre o homem e a natureza. Desse modo, enquanto que os filósofos e cientistas políticos tentavam explicar as relações entre o meio e o homem (organização em sociedade, as formas de governo, de religiões, dentre outras), os comerciantes e os administradores articulavam os recursos disponíveis e possíveis de exploração, bem como constituíam a sua contabilidade para otimizar os lucros obtidos. Conforme Claval (1978), assim deu-se o desenvolvimento da estatística e a origem da Geografia Política e da Economia, inicialmente formadas por catálogos de estados e cidades, de um lado, e da distribuição da produção de outro.

Assim, inicia-se o século XIX (chamado século das luzes) com ampla revolução econômica e cultural que culminaria com a consolidação do domínio da burguesia e do modo de produção capitalista em quase todo o globo terrestre. Uma superestrutura ideológica e cultural passou a se consolidar consagrando

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TÓPICO 1 | GÊNESE E EVOLUÇÃO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA

a racionalidade da ação do homem sobre a natureza, “o que permitiria a sua exploração com grandes vantagens, a dominação técnica, a valorização do pensamento científico, com a preocupação do estabelecimento de leis universais, a partir das formulações de Newton, e a crença generalizada no progresso, que seria linear e contínuo”. (MENDONZA, 1982 apud ANDRADE, 1987, p. 49).

UNI

Você muito provavelmente deve se perguntar se este caderno é voltado à Geografia ou à História. Pois bem, para entendermos a Geografia atual precisamos entender o contexto histórico de produção do espaço geográfico.

6 O SURGIMENTO DA GEOGRAFIA MODERNA E SEUS

PRECURSORES

No início do século XIX, as condições culturais, econômicas e políticas, engendraram as novas diretrizes intelectuais e científicas do século. Expandem-se as ciências da obExpandem-servação e da experimentação em virtude da preocupação com o controle da natureza. Assim, muitos cientistas passaram a formular suas próprias teorias com o acúmulo de suas observações (conhecimento empírico). É evidente que a expansão colonial (de países como a Inglaterra, França, Portugal, dentre outros) estimulou a formação de “sociedades” geográficas com o intuito de realizar expedições científicas à procura de recursos naturais para explorar, como as expedições realizadas no interior do continente africano, asiático e sul-americano.

Você certamente já ouviu falar do inglês Charles Darwin, pois bem, este homem é considerado um dos mais famosos cientistas do século XIX que deu a volta ao mundo estudando os animais e plantas. Uma de suas célebres obras é o livro intitulado “A origem das espécies”. Neste livro, Darwin abarca a teoria da evolução das espécies conforme sua capacidade de adaptação ao meio natural. Sua teoria contrariava as concepções da Bíblia, bem como gerou forte influência aos estudos de numerosos cientistas, a exemplo de Haekel (uso da expressão ecologia) e Spencer (desenvolvimento do evolucionismo). Estas concepções influenciaram os fundadores da Geografia Moderna (Humboldt e Ritter).

Outro aspecto importante que marcou o século XIX e que merece ser destacado foram as desigualdades sociais. Estas eram tão intensas que levaram alguns estudiosos a formular teorias que contrariavam os princípios do capitalismo. Num primeiro momento, as contestações ao capitalismo eram realizadas por idealistas utópicos que imaginavam uma sociedade mais justa, posteriormente, eram realizadas por pensadores materialistas que criticavam as estruturas sociais através de uma análise mais dialética. Neste contexto, não podemos deixar de

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falar de Karl Marx e Friedrich Engels que tentaram elucidar a dinâmica social de forma totalizadora. Na verdade, estes dois pensadores estavam engajados na ação política e não exerceram grande influência aos geógrafos da época (século XIX), pois a maioria deles estava comprometida com as “políticas” de poder de seus países.

6.1 A CONTRIBUIÇÃO DE ALEXANDRE VON HUMBOLDT

Alexandre von Humboldt (1769-1859) é considerado um dos fundadores da Geografia Moderna. O nobre prussiano possuía formação naturalista e realizou inúmeras viagens pela Europa, na porção central e norte da Ásia e na América Latina. Procurou conhecer a natureza física no intuito de obter explicações sobre a evolução da sociedade sem se preocupar com as relações sociais.

FIGURA 7 – ALEXANDRE VON HUMBOLDT

FONTE: Disponível em: <http://en.academic.ru/pictures/ enwiki/65/AvHumboldt.jpg>. Acesso em: 10 set. 2010.

Na cartografia (que estava em expansão), Humboldt concebeu um traçado de linhas ligando pontos que apresentassem as mesmas temperaturas médias (as isotermas), a princípio para definir o que chamou de zodíaco isotérmino, que segundo Claval (1978), deveria ter uma largura de 35º tendo como centro o paralelo de 40º Norte.

É importante destacar que Humboldt, através de suas análises, comparava a distribuição do relevo, do clima e das associações vegetais, bem como a interação que ocorria entre estes elementos, no que tange causas e efeitos. Formulou o princípio da causalidade (a necessidade de explicar o porquê dos fatos). Pode-se dizer que é o princípio básico da Geografia moderna.

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TÓPICO 1 | GÊNESE E EVOLUÇÃO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA

Dentre suas obras merecem destaque os livros Quadros da Natureza e Cosmos. Na verdade, Humboldt reuniu, de forma sistemática, as tradições das narrativas de viagens e das cosmografias num só conjunto lógico. Em sua obra, encontram-se também alguns dos principais elementos que definem a ciência moderna, a explicação por meio das generalizações e um método de observação submetido a critérios bem definidos. (GOMES, 2007). Assim, a Geografia proposta por Humboldt envolve “[...] uma reflexão sobre o homem e uma reflexão sobre a natureza, sob um mesmo patamar de inteligibilidade. Por este programa, Humboldt legou à posteridade as bases de uma nova ciência, rica em tradições e, ao mesmo tempo, moderna e sistemática”. (GOMES, 2007, p. 162). Podemos dizer que para a Geografia, Humboldt exerceu um papel fundamental nos novos tempos, ao produzir um discurso e uma imagem coerente e científica do mundo moderno.

Cabe ressaltar também a obra “Ensaios políticos sobre o reino de Nova Espanha”, utilizado mais tarde por Thomas Malthus para formular suas teorias demográficas.

6.2 A CONTRIBUIÇÃO DE KARL RITTER

Assim como Humboldt, Karl Ritter (1779-1859) também é considerado fundador da Geografia Moderna. Ritter, filósofo e historiador, preocupou-se em estudar exaustivamente a Ásia Menor. Foi professor de alguns dos maiores geógrafos do final do século XIX: Ratzel, Reclus e La Blache.

FIGURA 8 – KARL RITTER

FONTE: Disponível em: <http://www.iamthewitness.com/ books/img/Karl.Ritter.jpg>. Acesso em: 10 set. 2010.

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Ao contrário de Humboldt, Ritter não foi um viajante e/ou explorador, mas sim um grande leitor e expositor. Buscou explicar a evolução da humanidade, ligando-a às relações entre o povo e o meio natural, fazendo sobretudo a descrição da sociedade.

Segundo Moraes (1986), na visão de Ritter a Geografia era o estudo dos lugares, a busca pela individualidade destes e, sendo assim, deveria estudar os arranjos individuais, bem como compará-los. No que tange aos arranjos, “cada arranjo abarcaria um conjunto de elementos, representando uma totalidade, onde o homem seria o principal elemento”. (MORAES, 1986, p. 49). Para Ritter, a Geografia teria a incumbência de explicar a individualidade dos sistemas naturais, pois nesta se expressaria o desígnio da divindade ao criar aquele lugar específico. (MORAES, 1986). Ainda conforme Moraes (1986), o objetivo para Ritter, era chegar a uma harmonia entre a ação humana e os desígnios divinos, manifestos na variável natureza dos meios. Desse modo, a ordem natural obedeceria a um fim previsto por Deus, a causalidade da natureza obedeceria à designação divina do movimento dos fenômenos.

A proposta de Ritter é considerada antropocêntrica, pois o homem é o sujeito da natureza. Também é considerada regional porque aponta para o estudo de individualidades, valorizando a relação homem-natureza. (MORAES, 1986).

De modo geral, podemos dizer que tanto Humboldt quanto Ritter eram ligados às classes dominantes de seu país. Estes dois sábios alemães respondiam aos desafios da sociedade europeia em que viviam, tanto em função da dominação capitalista como para a própria formação da unidade da Alemanha. Assim, para os grupos dominantes e/ou nações dominantes, o conhecimento do mundo, bem como das relações entre a sociedade e a natureza eram de grande importância para a ampliação do domínio extraeuropeu. Daí a importância dos estudos realizados por Humboldt e Ritter naquela época.

IMPORTANTE

Segundo Pereira (1989, p. 91) [...] “é em solo alemão que a Geografia alcança sua forma de Ciência Moderna. [...] com Humboldt e Ritter nasce a Geografia Científica ou Geografia Acadêmica. Isto é, uma Geografia produzida agora a partir dos centros universitários e, mais tarde, ensinada nas escolas. Apesar de Humboldt ser naturalista e Ritter historiador, ambos possuíam uma visão de totalidade típica do avanço alemão (Kant, Hegel, dentre outros).

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6.3 A CONTRIBUIÇÃO DE FRIEDRICH RATZEL

O alemão Friedrich Ratzel (1844-1904) representou um papel fundamental no processo de sistematização da Geografia Moderna, expressa principalmente através de suas duas obras mais importante, a Antropogeografia e a Geografia Política.

FIGURA 9 – FRIEDRICH RATZEL

FONTE: Disponível em: <http://people.wku.edu/charles.smith/ chronob/RATZEL.jpg>. Acesso em: 10 set. 2010.

Na primeira obra, Ratzel fundamenta sua teoria determinista inspirada na teoria de Darwin e depois Spencer. Para Ratzel, “o homem, em todos os seus planos de existência, tanto mental como civilizatório, é o que determina seu meio natural”. (MOREIRA, 1987, p. 31). Essa teoria ficou conhecida como teoria do Determinismo Geográfico. Na visão de Ratzel, “como na luta das espécies pelo domínio do espaço que contém sua nutrição, os homens organizam-se em Estados para os quais o espaço é fonte de vida”. (MOREIRA, 1987, p. 32). Teoria esta que ficou conhecida como Teoria do Espaço Vital, ou seja, entende-se como espaço vital o equilíbrio entre os recursos naturais disponíveis e a população que tenta satisfazer suas necessidades locais.

Neste contexto, observe como Moreira (1987, p. 33) descreve o raciocínio linear de Ratzel:

Os homens agrupam-se em Sociedade, a Sociedade é o Estado, o Estado é um organismo. A sociedade e o Estado são o fruto orgânico do determinismo do meio. O Estado é a expressão orgânica do “determinismo geográfico”. O Estado é um organismo em parte humano e em parte terrestre. É a forma concreta que adquire em cada

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canto a relação homem-meio. O Estado é assim porque possui uma relação necessária com a natureza. Os Estados necessitam de espaço, como as espécies, por isto lutam pelo seu domínio. A subsistência, energia, vitalidade e o crescimento dos Estados têm por motor a busca e a conquista de novos espaços. Troquemos “Estados” por “Imperialismo” e entenderemos Ratzel.

Do pensamento de Ratzel nasceu a Geografia Política, com a sua importante obra intitulada Geografia Política (1897). Nesta, Ratzel pensa o Estado como um organismo articulador entre o povo e o solo. Para ele, o solo condiciona as formas elementares e complexas da vida, bem como favorece e/ou emperra o desenvolvimento dos Estados. Conforme coloca Costa (1992, p. 33):

não se trata, porém de um determinismo estreito, meramente causal. O que está em jogo é a ideia de que o solo e seus condicionantes físicos são apenas um dado geral, uma base concreta, um potencial enfim, cuja eficácia para o desenvolvimento estatal de uma nação ou de um povo dependerá antes de tudo da sua capacidade em transformar essa potencialidade em algo efetivo.

Para Ratzel, a efetivação das potencialidades só seria concretizada com a existência de um Estado forte, centralizador e capaz de criar políticas territoriais, econômicas, culturais, dentre outras, visando à unidade nacional. De acordo com Costa (1992), outro aspecto importante do pensamento ratzeliano é o papel desempenhado pelo comércio internacional, que teria a função de transformar a terra inteira num vasto organismo econômico. Ratzel defendia a ideia de que o desenvolvimento dos povos, sobretudo, o alemão, deveria passar obrigatoriamente pelo “alargamento” do horizonte geográfico.

6.4 A CONTRIBUIÇÃO DE ÉLISÉE RECLUS E DE PIETR

KROPOTKIN

Diferentemente dos geógrafos estudados anteriormente, que estavam à mercê da classe dominante, bem como ocuparam cátedras universitárias, os geógrafos (final do século XIX e início do século XX) Élisée Reclus (origem francês) e Pietr Kropotkin (origem russa) se colocaram contra a estrutura de poder, negando a validade do Estado, adotaram concepções de reformas sociais radicais e defenderam as classes menos favorecidas.

Segundo Andrade (1987, p. 57), para Reclus os geógrafos deveriam fazer uma análise a partir das seguintes concepções: “que a sociedade está dividida em classes sociais; a diferença de classes provoca a luta entre as classes dominadas; a melhoria das estruturas sociais a partir do aperfeiçoamento progressivo do homem”. O cientificismo de Reclus estava pautado na ciência como solução dos problemas, ou seja, a ciência desenvolvida era capaz de solucionar os problemas e aperfeiçoar socialmente os homens. Dentre suas obras merecem destaque: A

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TÓPICO 1 | GÊNESE E EVOLUÇÃO DA CIÊNCIA GEOGRÁFICA

terra (dois volumes) publicada em 1869; A Nova Geografia Universal (dezenove volumes) publicada de 1875 a 1892 e O homem e a terra (seis volumes) publicada de 1905 a 1908.

Kropotkin tinha uma verdadeira paixão pela natureza. Para ele, a Geografia era uma ciência da natureza. Acreditava no poder da ciência e admitia que tanto nas ciências naturais como nas ciências sociais existiam leis gerais que regiam os fenômenos. Conforme coloca Andrade (1987, p. 59), Kropotkin “manteve-se fiel ao positivismo e admitia que a dialética, defendida por Marx e Engels, não podia dar contribuição positiva ao desenvolvimento das ciências. Preocupava-se muito com a educação e com o papel a ser desempenhado pela Geografia no processo educativo”.

Na visão de Kropotkin o ensino da Geografia deveria encaminhar os estudantes para maior compreensão dos povos, sem fronteiras territoriais, onde as diferentes culturas pudessem viver em harmonia. Na verdade, ele propunha o desaparecimento do Estado e a preparação de uma juventude para viver em uma sociedade livre.

Podemos dizer que estes dois geógrafos lutavam por uma Geografia Libertária, que não estivesse à mercê da conquista do poder.

UNI

Como você pôde perceber no decorrer do estudo realizado neste tópico, a Geografia até se tornar uma ciência percorreu um longo caminho. Neste longo caminho, muitas foram as concepções e/ou interpretações para tentar entender o nosso planeta, bem como a própria Geografia. Procure agora resolver as autoatividades e, se for necessário, retome a leitura deste tópico.

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Neste tópico você estudou que:

• A Geografia é considerada uma das ciências mais antigas. Isso porque, a confecção dos mapas, conforme registros históricos ocorreu antes da própria escrita.

• Os povos primitivos, apesar de não serem detentores da escrita, já possuíam “ideias” geográficas em suas concepções de vida e cultura. Suas experiências diárias, ou saberes práticos, e as noções e relações com a natureza permitiram mesmo que empiricamente a ampliação e desenvolvimento do conhecimento geográfico.

• As ideias geográficas dos povos orientais, através de seus conhecimentos práticos de exploração da Terra, bem como de suas observações e estudos matemáticos, foram responsáveis pela sistematização do conhecimento do mundo.

• Os filósofos e matemáticos gregos contribuíram para o desenvolvimento do conhecimento geográfico com suas ideias sobre a forma e as dimensões da Terra, bem como a distribuição das águas, terras e dos seres humanos, sem falar da teoria geocêntrica de Ptolomeu (século II d.C.), ao afirmar que a Terra era o centro do Universo.

• Os romanos deram maior importância à geografia descritiva. Eles procuraram desenvolver ao máximo a organização do seu império, assim como o comércio sobre as dezenas de suas províncias.

• Na Idade Média, o conhecimento geográfico passou por algumas reformulações isso porque muitos ensinamentos de sábios gregos, que haviam sido refutados durante o império romano, foram retomados. Este período foi marcado pelas grandes e numerosas viagens realizadas principalmente pelos italianos. Isso se confirma, pois nos séculos XV e XVI vários deles realizaram viagens a serviço dos reis da Espanha e Portugal.

• Nos chamados Tempos Modernos (séculos, XV, XVI, XVII), as grandes revoluções para o conhecimento geográfico foram as expansões territoriais, a dominação da configuração da Terra, bem como a rejeição de inúmeras ideias sobre a sua superfície. Para muitos, a obra de Nicolau Copérnico foi considerada um grande impulso para a Revolução Científica com sua teoria heliocêntrica.

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• O capitalismo contribuiu não só para o desenvolvimento da ciência geográfica, mas também para as demais ciências, principalmente, com sua expansão nos século XVIII e XIX, proporcionando um acelerado desenvolvimento delas. • No início do século XIX, as condições culturais, econômicas e políticas,

engendraram as novas diretrizes intelectuais e científicas do século. Expandem-se as ciências da obExpandem-servação e da experimentação em virtude da preocupação com o controle da natureza. Assim, muitos cientistas passaram a formular suas próprias teorias com o acúmulo de suas observações.

• Alexandre Von Humboldt e Karl Ritter são considerados os fundadores da Geografia Moderna. Enquanto Humboldt procurou conhecer a natureza física, no intuito de obter explicações sobre a evolução da sociedade sem se preocupar com as relações sociais, Ritter buscou explicar a evolução da humanidade, ligando-a às relações entre o povo e o meio natural, fazendo, sobretudo, a descrição da sociedade.

• O alemão Friedrich Ratzel representou um papel fundamental no processo de sistematização da Geografia Moderna, expressa principalmente através de suas duas obras mais importante, a Antropogeografia e a Geografia Política. • Élisée Reclus e Pietr Kropotkin se colocaram contra a estrutura de poder,

negando a validade do Estado, adotaram concepções de reformas sociais radicais e defenderam as classes menos favorecidas.

Referências

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