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Política nacional de relações de consumo: referencial para a concretização da proteção do consumidor / National consumer relations policy: framework for achieving consumer protection

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p.61543-61560 aug. 2020. ISSN 2525-8761

Política nacional de relações de consumo: referencial para a concretização da

proteção do consumidor

National consumer relations policy: framework for achieving consumer

protection

DOI:10.34117/bjdv6n8-541

Recebimento dos originais:08/07/2020 Aceitação para publicação:25/08/2020

Bruna Sheylla de Olivindo

Mestranda em Políticas Públicas, Sociedade Civil e Proteção das Pessoas, no Centro Universitário de Brasília (UniCEUB). Advogada

Endereço: Quadra 101, lote 06, bl A, apt 901-Águas Claras – Brasilia/DF. CEP:71.907-180 E-mail: brunasheylla@yahoo.co.br

Héctor Valverde Santanna

Doutor e Mestre em Direito das Relações Sociais - Direito do Consumidor - pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Professor do Centro Universitário de Brasília (UniCEUB), do

Centro Universitário da União Educacional do Planalto Central Apparecido dos Santos (UniCEPLAC) e da Fundação Escola Superior do Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios (FESMPDFT). Juiz de Direito Substituto de Segundo Grau do Tribunal de Justiça do

Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT)

Endereço: SHIN QI 12, Conjunto 07, Casa 07, Lago Norte - Brasília-DF.CEP: 71.525-270 E-mail: hectorvsantanna@gmail.com

RESUMO

O presente artigo tem por escopo demonstrar que as diretrizes estabelecidas pela política nacional de relações de consumo concorrem para a concretização da proteção do consumidor. O Estado tem o dever constitucional e legal de realizar ações no sentido de alcançar os objetivos fixados pelo Código de Defesa do Consumidor para a concretização da proteção do consumidor. Os objetivos da política nacional de relações de consumo correspondem ao atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à dignidade, saúde e segurança, bem como a proteção dos seus interesses econômicos. A transparência e harmonia das relações de consumo promovem a compatibilização de interesses eventualmente em conflito. O presente trabalho fundamenta-se na técnica de pesquisa, revisão e análise crítica das referências bibliográficas sobre o tema. Conclui-se que o Código de Defesa do Consumidor reconhece valores fundados na dignidade da pessoa humana. A defesa do consumidor está contemplada como direito fundamental (art. 5º, XXXII, da CF), o que implica na obrigatoriedade do Estado de formular e executar a política pública de proteção do consumidor considerando as diversas peculiaridades sociais e econômicas relativas aos sujeitos vulneráveis no mercado de consumo. Portanto, a política nacional de relações de consumo apresenta-se como indispensável referencial para a concretização dos direitos do consumidor.

Palavras-chave: Política, Pública, Relação, Consumo, Proteção. ABSTRACT

The purpose of this paper is to demonstrate the guidelines established by the nacional consumer relations policy contribute to the realization of consumer protection. The State has a constitutional

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and legal duty to take actions in order to achieve the objectives set by the Consumer Protection Code for the realization of consumer protection. The objetives of the nacional consumer relations policy correspond to meeting the needs of consumer, respecting dignity, health and safety, as well as protecting their economic interests. The transparency and harmony of the consumer relations promote the compatibility of interests that may be in conflict. The present paper is based on the technique of research, review and critical analysis of bibliographic references on the subject. It is concluded that the Consumer Protection Code recognizes values based on the dignity of the human person. Consumer protection is contemplated as a fundamental right (art. 5º, XXXII, Federal Constitution), which implies the State’s obligation to formulate and execute public consumer protection policy considering the diverse social and economic peculiarities related to vulnerable subjects in the consumer market. Therefore, the national consumer relations policy presents itself as an essential reference for the realization of consumer rights.

Keywords: Policy, Public, Relationship. Consumption. Protection.

1 INTRODUÇÃO

Há algumas décadas, nos planos internacional e nacional, fortaleceu-se a preocupação com os direitos e a proteção do consumidor no mercado, fenômeno que refletiu na incorporação do tema na Constituição Federal. O Estado deve proteger os consumidores quando se trata do consumo de produtos e serviços essenciais e não essenciais, garantindo o mínimo para uma sobrevivência digna. Dessa forma, o objetivo do presente artigo é demonstrar a importância das políticas públicas em prol da proteção do consumidor nas relações jurídicas estabelecidas com o fornecedor (agente econômico).

O esclarecimento acerca do conceito de política pública mostra-se imprescindível, além de breve exposição sobre seus atores, características, modalidades, bem como a análise do caminho que se percorre até a respectiva concretização. Os referidos conhecimentos possibilitam a abordagem dos itens subsequentes relativos à política nacional de relações de consumo, com foco em seus objetivos e princípios.

O que se almeja esclarecer ao longo do texto é o acesso aos produtos e serviços de forma eficiente, implementando políticas públicas voltadas aos consumidores, com o apoio de leis específicas e a criação de órgãos públicos encarregados dessa proteção, além do incentivo à criação e desenvolvimento de entidades privadas de proteção do consumidor. A política nacional de relações de consumo tem o propósito colocar o consumidor em condições de igualdade em relação ao fornecedor, fomentando a equidade necessária para o desenvolvimento da relação consumerista.

O presente artigo consiste fundamentalmente em pesquisa teórica cuja técnica utilizada consiste na revisão e análise crítica das referências bibliográficas. Conclui-se que a política nacional de relações de consumo é uma política pública voltada para o desenvolvimento dos direitos dos consumidores que promove o equilíbrio da relação de consumo, considerada uma grande evolução

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nos programas governamentais dessa área, tentando reduzir a assimetria dessa relação que nasce desequilibrada em razão da vulnerabilidade do consumidor. Tem por objetivo garantir a dignidade, saúde, segurança, proteção dos interesses econômicos e melhoria da qualidade de vida do consumidor, propondo um modo consciente de consumo.

2 POLÍTICAS PÚBLICAS

Antes de enfrentar a questão principal do presente estudo, qual seja, a implementação de políticas públicas como referencial de concretização do Direito do Consumidor, é necessário conceituar políticas públicas, analisar suas principais modalidades, identificar seus principais atores. Assim, resulta possível a compreensão da política pública desde o reconhecimento do problema e definição da agenda, até a fase de implementação e avaliações das ações governamentais.

2.1 CONCEITO

A compreensão do papel das políticas públicas passa por uma delimitação conceitual, contudo a doutrina especializada reconhece a dificuldade da referida tarefa em razão da complexidade e densidade que envolve o tema. Pretende-se apresentar considerações e informações que facilitem a sua aplicação na esfera consumerista, porém sem a pretensão de esgotar o assunto, tendo em vista que não há uma teoria completa e delimitada sobre o tema, principalmente em virtude do campo multidisciplinar.

A Constituição Federal rompe inequivocamente com o modelo anterior e se volta para garantir os direitos fundamentais, porquanto resgata as promessas do Estado do bem-estar Social.1

Neste sentido, as políticas públicas são decisões públicas que tem por objetivo o equilíbrio social, que por meio de ações e omissões governamentais visam à manutenção ou alteração da realidade dos setores da vida social. O almejado equilíbrio social demanda ações governamentais que devem alcançar o bem-estar social em consonância com o interesse público.2

Os diversos atores que fazem parte dessa relação (grupos econômicos, políticos, classes sociais e sociedade civil) tentam compatibilizar os objetivos políticos na busca da solução de problemas sociais, sempre utilizando o meio mais eficaz possível. Nessa esfera de soluções de problemas, identificam-se duas dimensões. A primeira dimensão é a técnica, que procura estabelecer

1 BARROSO, Luís Roberto. A constituição brasileira de 1988: uma introdução. In MARTINS, Ives Gandra da Silva; MENDES, Gilmar Ferreira; NASCIMENTO, Carlos Valder do (Coord.). Tratado de direito constitucional. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2012, v. 1. p. 13-14.

2 GIANEZINI, Kelly. MANIQUE BARRETO, Letícia. GIANEZINI, Miguelangelo. LAUXEN, Sirlei de Lourdes. BARBOSA, Gabriel Dario. SOUZA VIEIRA, Reinaldo. Políticas públicas: definições, processos e constructos no século XXI. Disponível em: http://dx.doi.org/10.18764/2178-2865.v21n2p1065-1084. Acesso em: 10 maio. 2020.

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uma relação perfeita entre objetivos a serem alcançados e instrumentos utilizados, pois alguns instrumentos são mais adequados que outros para resolver as celeumas sociais.3

A segunda é a dimensão política, pois se trata de um problema político. O agente político tem que fazer escolhas que melhor atendam os anseios sociais dentro da concepção política, uma vez que o Estado dispõe de conhecimento sobre os problemas sociais e agem por meio dos seus atores, de acordo com a ideologia política, que define os caminhos mais apropriados a serem seguidos com os recursos ali disponibilizados. Os problemas públicos precisam encontrar o equilíbrio entre o que é tecnicamente eficiente e também o que é politicamente viável.4

As políticas públicas são programas de ação governamental, as quais tentam compatibilizar os recursos existentes que se encontram a disposição do Estado para realizar os objetivos socialmente relevantes e que pertencem ao âmbito do direito público. A análise jurídica da questão se faz necessária, vez que é por meio do direito que se firma um quadro institucional público, contexto este que permite implementação de uma determinada política pública.Há um vínculo entre governo e administração pública, conferindo uma expressão formal e vinculativa, por meio dos atos normativos (leis, decretos e demais atos vinculativos) quando a política se materializa.5

A análise de políticas públicas sob um enfoque jurídico permite um melhor exame entre as esferas jurídica e política, atribuindo critérios de qualificação jurídica para as decisões políticas. Uma vez que, após todo o seu ciclo de formulação e implementação, a política pública se materializa por meio de normas cogentes, o programa assume no mundo jurídico um caráter absolutamente vinculante. As políticas públicas têm, na perspectiva jurídica, como finalidade concretizar direitos, principalmente os de ordem social, estabelecidos pela Constituição Federal, expressão de sustentação do Estado Democrático de Direito.6

A discussão em referência não abarca uma única formulação, como já mencionado, em razão da sua multidisciplinariedade, intrínseca em diversos campos da ciência, mas pretende apresentar algo para servir como ponto de partida. Sucede-se, portanto, em complemento à descrição aqui dada e de forma a contribuir para a análise do presente estudo, as suas modalidades, atores e principalmente como as políticas públicas se concretizam por meio do ciclo de formulação.

3 HOWLETT, Michael; RAMESH, M.; PERL, Anthony. Política Pública: seus ciclos e subsistemas. Uma abordagem integral. Tradução de Francisco G. Heidemann. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013, p. 6.

4 HOWLETT, Michael; RAMESH, M.; PERL, Anthony. Política Pública: seus ciclos e subsistemas. Uma abordagem integral. Tradução de Francisco G. Heidemann. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013, p. 7.

5 BUCCI, Maria Paula Dallari (Org.). Políticas públicas: reflexões sobre o conceito jurídico. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 37.

6 BUCCI, Maria Paula Dallari (Org.). Políticas públicas: reflexões sobre o conceito jurídico. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 38.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p.61543-61560 aug. 2020. ISSN 2525-8761 2.2 MODALIDADES

As políticas públicas podem ser classificadas em distributivas, redistributivas, constitutivas e regulatórias, sobre esse prisma são analisadas a partir do modo como manifesta sua abrangência nas relações sociais.7 As políticas públicas distributivas manifestam-se pela distribuição de recursos

a um determinado grupo. A modalidade mencionada se caracteriza pela implementação do bem-estar social por meio da redução de desigualdades. Nesse caso, implica em decidir sobre alocação de recursos financeiros e, considerando que os recursos estatais são finitos, que tais políticas públicas podem privilegiar determinados grupos, setores ou regiões, a depender da força política que tais grupos detenham na tomada de decisão e a inclusão na agenda. É difícil identificar quais são os reais custos para esse tipo de política, principalmente quando se trata de recursos públicos, vez que são abarcados pela sociedade de forma diluída.8

As políticas redistributivas fundamentam-se na redistribuição de recursos entre os grupos sociais. Pretendem alcançar uma certa equidade entre os grupos sociais, retirando de quem tem mais recursos e redistribuindo para aqueles que não possuem. Resta evidente as posições antagônicas entre os atores afetados, pois haverá necessariamente perda de um deles para ganho do outro. Por exemplo, a política de incentivos fiscais em que um determinado setor é privilegiado, contudo, os demais setores que não foram beneficiados por tais incentivos acabam por serem penalizados com maiores taxações.9

As políticas públicas redistributivas correm o risco de incidirem nos mesmos desequilíbrios das políticas públicas distributivas, nas quais a força de atuação dos atores envolvidos no processo decisório interferem na maneira como tais políticas são desenvolvidas. Desta forma, é possível identificar privilégios de determinados grupos que não são necessariamente o público pretendido inicialmente ou ainda que não necessitem de tais políticas. O resultado é o descumprimento de sua função primordial por intermédio da tentativa de promover o equilíbrio social com a redução das desigualdades entre os membros da sociedade.

As políticas públicas constitutivas ou estruturadoras estabelecem regras para as demais ações governamentais. Estão ligadas ao modo como o sistema político se organiza, diferente das demais

7 AGUM, Ricardo. RISCADO, Priscila. MENEZES, Monique. Políticas Públicas: Conceitos e Análise em Revisão. In: Revista Agenda Política Vol.3 – n.2 – julho/dezembro – 2015. Disponível em: http://www.agendapolitica.ufscar.br/index.php/agendapolitica/article/view/67. Acesso em: 12 maio. 2020.

8 AGUM, Ricardo. RISCADO, Priscila. MENEZES, Monique. Políticas Públicas: Conceitos e Análise em Revisão. In: Revista Agenda Política Vol.3 – n.2 – julho/dezembro – 2015. Disponível em: http://www.agendapolitica.ufscar.br/index.php/agendapolitica/article/view/67. Acesso em: 12 maio. 2020.

9 AGUM, Ricardo. RISCADO, Priscila. MENEZES, Monique. Políticas Públicas: Conceitos e Análise em Revisão. In: Revista Agenda Política Vol.3 – n.2 – julho/dezembro – 2015. Disponível em: http://www.agendapolitica.ufscar.br/index.php/agendapolitica/article/view/67. Acesso em: 12 maio. 2020.

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por não tratar de uma prestação concreta voltada para a sociedade, mas que visam regular as normas e poderes, bem como sobre os outros tipos de políticas públicas.10 Por fim, a modalidade regulatória

define regras e procedimentos que disciplinam comportamentos dos atores para atender interesses gerais da sociedade. Destaca-se porque não objetiva benefícios imediatos para qualquer grupo, mas para sua aprovação é necessária força política dos atores em razão do ambiente pluralista que ela se encontra inserida.11

Após essa breve exposição sobre os tipos de políticas públicas, pode-se relacionar com o tema do presente estudo as políticas públicas voltadas para a proteção do consumidor, com a modalidade regulatória que estabelece regras e comportamentos a fim de tornar a relação consumidor e fornecedor mais equânime. Desta forma, a superioridade técnica, jurídica e econômica do fornecedor não deve acentuar a desproporcionalidade na relação de consumo, evitando desigualdades sociais que possam ocorrer no âmbito do mercado.

2.3 ATORES

As políticas públicas são processos dinâmicos com negociações, pressões, mobilizações, alianças e coalizões de interesses. Os atores acabam por ter grande interferência sobre as políticas pública, vez que apresentam reivindicações e executam ações que interferem na formação do conteúdo daquelas. Os atores também participam do processo de implementação e avaliação, cuja intervenção pode ser decisiva no resultado final da política pública a depender da força do ator que participa do ciclo de formulação.12

Os principais atores envolvidos na formulação e implementação de políticas públicas estão diretamente ligados ao Estado, porém há outros atores não estatais que atuam na respectiva construção. Com efeito, os atores que participam do ciclo de construção das políticas públicas podem ser públicos e privados. Os atores públicos envolvidos são estruturados pelas normas que regem as competências e os processos administrativos e também por outras regras institucionais mais informais. Baseia-se, portanto, na existência de uma responsabilidade pública e o correspondente controle governamental.13

10 GIANEZINI, Kelly. MANIQUE BARRETO, Letícia. GIANEZINI, Miguelangelo. LAUXEN, Sirlei de Lourdes. BARBOSA, Gabriel Dario. SOUZA VIEIRA, Reinaldo. Políticas públicas: definições, processos e constructos no século XXI. Disponível em: http://dx.doi.org/10.18764/2178-2865.v21n2p1065-1084. Acesso em maio de 2020. 11 AGUM, Ricardo. RISCADO, Priscila. MENEZES, Monique. Políticas Públicas: Conceitos e Análise em Revisão. In: Revista Agenda Política Vol.3 – n.2 – julho/dezembro – 2015. Disponível em: http://www.agendapolitica.ufscar.br/index.php/agendapolitica/article/view/67. Acesso em: 12 maio. 2020.

12 DIAS, Reinaldo. MATOS, Fernanda. Políticas públicas: princípios, propósitos e processos. São Paulo. Atlas, 2012. p.39.

13 SUBIRATS Joan; KNOEPFEL, Peter; VARONE, Frédéric; LARRUE, Corinne. Análisis y gestión de políticas públicas. Barcelona: Ariel, 2012. p. 54.

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Os atores privados também participam da constituição e estruturação do espaço de uma política pública, todavia sem envolver o controle governamental diretamente. Podem ser indiretamente afetados com os resultados de políticas públicas (terceiros afetados ou beneficiados), como por exemplo a imprensa, centros de pesquisas, grupos de interesses, lobbies, associações e os próprios destinatários finais.14

Os atores têm papel fundamental nos ciclos das políticas públicas, pois é por meio deles e o modo como se organizam que a tomada de decisão é feita. Ressalte-se que o processo decisório pode sofrer alterações, dando visibilidade suficiente aos seus anseios ou da classe que representa, transformando em um problema político, que fará parte de uma agenda pública e, posteriormente, passar para a fase de formulação e implementação, chegando finalmente na fase de monitoramento e avaliação das políticas públicas.

2.4 CICLO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS

É dever do Estado concretizar os direitos previstos na Constituição Federal, contudo tais direitos são vastos e o recursos são limitados. Torna-se necessário definir o problema e estabelecer quais adversidades podem ser consideradas de ordem pública. O problema a ser combatido também deve ser apto a receber uma solução governamental e ainda ser de interesse geral. O problema se situa no campo do ser e do dever ser coletivo. O campo de competência governamental das políticas públicas são adaptadas às posições ideológicas de quem está no poder decisório.15

Após a definição do problema, é necessário estabelecer prioridades e mais uma vez os atores agem de forma preponderante nessa fase, pois como os recursos são limitados nem todas as situações entre ser e dever ser conseguem ser tuteladas pelo Estado. O ator público estabelece quais demandas apresentadas como problemáticas merecem ser colocadas na agenda política, estabelecendo o que é relevante e prioritário, em que pese alguns atores privados poderem interferir, a exemplo da sociedade civil.16

Estabelecida a agenda, o próximo passo é formular um plano a ser seguido. Denomina-se etapa de formulação de políticas públicas aquela em que se busca encontrar soluções para a problemática estabelecida. É necessário traçar objetivos e estratégias para analisar eventuais

14 SUBIRATS Joan; KNOEPFEL, Peter; VARONE, Frédéric; LARRUE, Corinne. Análisis y gestión de políticas públicas. Barcelona: Ariel, 2012. p. 60.

15 LANCOUMES, Pierre; LES GALES, Patrick. Sociologia da ação Pública. Maceió, EdUFAL, 2012.p 167-168. 16 GONÇALVES, Guilherme Corrêa. Elaboração e implementação de políticas públicas. Porto Alegre: SER - SAGAH, 2017. p. 65.

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consequências práticas que cada alternativa apresenta. Nessa fase existe uma maior atuação dos atores políticos, uma vez que é nesse momento que a meta pública é colocada em prática.17

A fase de formulação é caracterizada por estabelecer o marco teórico de estudos da política que será adotada, tentando inclusive prever alguns problemas causados com a sua implementação, como por exemplo, estudos sobre eventuais impactos que uma determinada política pode trazer a uma sociedade, posto que envolve uma série de fatores, inclusive causar efeitos em áreas não pensadas inicialmente.

A formulação é responsável por garantir sucesso ou não a uma determinada política. Determina como a implementação ocorre e por meio dessa última observa-se que a fase de formulação foi elaborada de forma a atender os anseios de determinada política pública. Ressalte-se que há manifesta interferência dos atores envolvidos e que podem alterar o curso da política pública, principalmente a depender do caráter ideológico de cada um deles, favorecendo determinadas classes sociais.

A próxima fase refere-se à implementação dos projetos formulados nas fases anteriores. Refere-se à concretude das políticas públicas, cujas regras, rotinas e processos são convertidos em ações. A implementação corresponde a ações destinadas a atingir os fins estabelecidos em decisões políticas anteriores.18 Após a implementação, pode-se analisar como a política vai se comportar observando eventuais problemas e falhas no processo, bem como observa-se também problemas mal formulados, resoluções que não atendem o público alvo.19

Após a implementação vem o monitoramento e a avaliação. As políticas públicas são avaliadas e, principalmente, a sua eficácia aferida perante os seus destinatários finais, que normalmente é a sociedade. Critérios avaliativos são criados por intermédio do monitoramento a fim de calcular a efetividade da política pública para o fim proposto. A fase avaliativa também é utilizada para conhecer melhor o Estado e se a problemática inicialmente estabelecida foi resolvida.20

O objetivo primordial das políticas públicas é concretizar os direitos sociais. A seguir demonstra-se como as políticas públicas são importantes na esfera consumerista, especialmente na

17

DIAS, Reinaldo. MATOS, Fernanda. Políticas públicas: princípios, propósitos e processos. São Paulo. Atlas, 2012. p.76.

18 CRISTINELIS, Marco Falcão. Políticas Públicas e Normas Jurídicas. Rio de Janeiro. América Jurídica, 2012. p.54. 19 GONÇALVES, Guilherme Corrêa. Elaboração e implementação de políticas públicas. Porto Alegre: SER - SAGAH, 2017. p. 66.

20 GIANEZINI, Kelly. MANIQUE BARRETO, Letícia. GIANEZINI, Miguelangelo. LAUXEN, Sirlei de Lourdes. BARBOSA, Gabriel Dario. SOUZA VIEIRA, Reinaldo. Políticas públicas: definições, processos e constructos no século XXI. Disponível em: http://dx.doi.org/10.18764/2178-2865.v21n2p1065-1084. Acesso em: 15 maio. 2020.

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proteção e garantia dos direitos sociais do consumidor, por meio da política nacional de relações de consumo.

3 OBJETIVO DA POLÍTICA NACIONAL DE RELAÇÕES DE CONSUMO

O Código de Defesa do Consumidor foi editado sob a égide do Estado Social e representa novos valores, fundado na dignidade da pessoa humana e visa a efetiva proteção do consumidor, resultando na promoção do desenvolvimento econômico e social.21 Tem-se a ideia que o consumo está sempre relacionado a aquisição de produtos de grande valor econômico, entretanto as relações de consumo estão voltadas majoritariamente para aquisição de produtos e serviços essenciais,como o fornecimento de energia elétrica, água, gás, compra de alimentos e outros produtos que garantem a sobrevivência dos indivíduos. Por isso, há preocupação com os consumidores e, principalmente, que tenham seus direitos resguardados para que se alcance a tão desejada igualdade social, objetivo fim das políticas públicas no alcance do ideal de justiça.22

O Código de Defesa do Consumidor prevê a política nacional de relações de consumo (arts. 4º e 5º). Estabelece as diretrizes e cria instrumentos para a sua execução pelos órgãos integrantes do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor (SNDC), que por sua vez é composto por órgãos federais, estaduais, distritais e municipais, além de entidades privadas de defesa do consumidor. O Sistema Nacional de Defesa do Consumidor (SNDC) é coordenado pela Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), no âmbito do Ministério da Justiça e Segurança Pública.

A função da Política Nacional das Relações de Consumo é a padronização da atuação do Estado, dos órgãos administrativos e da sociedade civil a fim de garantir uma aplicação equânime da lei consumerista, garantindo o equilíbrio das partes na relação de consumo. A simples existência da legislação específica não é suficiente para alcançar e dar concretude aos referidos direitos do consumidor.23

Os objetivos da política nacional de relações de consumo estão disciplinados no artigo 4º, caput, do Código de Defesa do Consumidor, que dispõe sobre o atendimento das necessidades dos consumidores, respeitando sua dignidade, saúde, segurança, a proteção dos seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, a transparência e harmonia das relações de

21 CHAVEIRO, Simone Fernandes dos Santos; BORGES, Eduardo Batista. O papel das políticas públicas na defesa do consumidor. In: Revista Eletrônica de Economia da Universidade Estadual de Goiás UEG ISSN: 1809-970X Disponível em: https://www.revista.ueg.br/index.php/economia/article/view/4787 Acesso em: 20 maio. 2020.

22 EFING, Antônio Carlos; RESENDE, Augusto César Leite de. Educação para o consumo consciente: um dever do Estado. In: Revista de Direito Administrativo, Rio de Janeiro, v. 269, p. 197-224, mai. 2015. ISSN 2238-5177. Disponível em: http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rda/article/view/57599. Acesso em: 23 maio. 2020. 23 ALMEIDA, João. Manual de Direito do Consumidor. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 34.

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consumo.24 O referido dispositivo legal deriva da Constituição Federal e busca a proteção tanto na esfera da integridade física do consumidor, bem como na esfera da integridade moral.25

O que se extrai do dispositivo legal acima mencionado é que, além da obrigação estatal quanto ao fomento de tais direitos, a legislação consumerista deve perseguir a preservação da qualidade, segurança, desempenho dos produtos e serviços que são colocados à disposição dos consumidores, a fim de que se atenda às suas necessidades descritas no artigo supramencionado, por meio de instrumentos de execução adequados e eficientes.26

A Política Nacional de Relações de Consumo, por meio de uma série de ações devidamente organizadas, promove o equilíbrio nas relações de consumo, oferecendo condições de igualdade aos participantes da referida relação, o que não pode ser confundida com a proteção desmedida dos consumidores. O objetivo do Código de Defesa do Consumidor não é desequilibrar a relação, favorecendo unicamente o consumidor, mas na verdade pretende harmonizar todo o sistema em consonância com a ordem econômica definida na Constituição Federal.27

A proteção do consumidor transformou a realidade de todos os países, o que culminou na adoção de iniciativas no sentido de promover os interesses dos consumidores no cenário econômico e no mercado de consumo. As bases da referida política pública experimentou três grandes avanços em direção à concretização dos direitos do consumidor. O primeiro avanço foi a adoção de estrutura legislativa adequada por meio do Código de Defesa do Consumidor e outras legislações esparsas. O segundo avanço foi o estabelecimento de órgãos estatais especificamente responsáveis por assuntos ligados ao consumidor. O terceiro aspecto inovador foi o surgimento de organismos não governamentais que promovem os interesses dos consumidores.28

Asrelações de consumo também podem fomentar o desenvolvimento econômico, pois uma economia bem-sucedida depende de um mercado de consumo fortalecido, no qual consumidores e fornecedores dispõem de prerrogativas para exercer seus direitos em harmonia e de participar de uma relação equilibrada. Assim, a busca por um consumo consciente, bem como a regulamentação

24CÓDIGO DE DEFESA DO CONUSMIDOR, LEI Nº 8.078, DE 11 DE SETEMBRO DE 1990. “Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios.

25 CHAVEIRO, Simone Fernandes dos Santos; BORGES, Eduardo Batista. O papel das políticas públicas na defesa do consumidor. In: Revista Eletrônica de Economia da Universidade Estadual de Goiás UEG ISSN: 1809-970X Disponível em: https://www.revista.ueg.br/index.php/economia/article/view/4787 Acesso em: 20 maio. 2020.

26 BESSA, Leonardo Roscoe; MOURA, Walter José Faiad. Manual de Direito do Consumidor. 4. ed. Brasília: Escola Nacional do Consumidor, 2014. p 101.

27 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Direito do Consumidor. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2019. p. 47-48.

28 BOURGOIGNIE, Thierry. A política de proteção do consumidor: desafios à frente. In: Revista de Direito do Consumidor. n. 41. Revista dos Tribunais: jan – mar. 2002. p. 30-31.

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do mercado de crédito, podem também ser estratégias adotadas pelo Estado na efetivação dos direitos do consumidor.29

A relação de consumo pode representar uma forma de inclusão social e de exercício da cidadania, garantindo que exerça seus direitos como cidadão por meio das políticas públicas, o acesso à educação, saúde, meios de transporte, serviços de água, energia elétrica, dentre outros. As políticas públicas voltadas para a educação do consumidor são relevantes, pois é por meio da educação que o sujeito vulnerável tem conhecimento de seus direitos. O acesso à proteção concedida pelo Código de Defesa do Consumidor deve ser universal e atingir os consumidores de todas as classes sociais, impondo ao Estado a responsabilidade de garantir a assistência jurídica àqueles que não têm condições econômicas de promover a sua defesa.30

4 PRINCÍPIOS DA POLÍTICA NACIONAL DE RELAÇÕES DE CONSUMO

A fim de dar concretude ao estabelecido no artigo 4º, caput, do Código de Defesa do Consumidor, os incisos que o seguem estabelecem diversos princípios relativos aos direitos do consumidor. Referidos princípios devem estar presentes na análise de qualquer relação que inclua o consumidor como participante da demanda. A equalização dos conflitos próprios das relações de consumo decorre da estrita observância dos mencionados princípios, considerados como alicerces para o desenvolvimento da política nacional de relações de consumo.

4.1 PRINCÍPIO DA VULNERABILIDADE

O primeiro princípio diz respeito a vulnerabilidade presumida do consumidor. A vulnerabilidade do consumidor pode ser técnica, jurídica ou econômica em relação ao fornecedor. A vulnerabilidade técnica ocorre em razão da ausência de conhecimento específico sobre os produtos ou serviços, visto que os fornecedores detêm o controle amplo das informações necessárias à fabricação e comercialização de produtos ou da prestação dos serviços. O fornecedor controla a forma de produzir e para quem produzir, além da fixação de suas margens de lucro, enquanto tais prerrogativas não estão ao alcance do consumidor. A vulnerabilidade jurídica se manifesta pelo desconhecimento dos direitos assegurados ao consumidor, além da notória dificuldade de acesso junto aos órgãos administrativos e jurisdicionais. A vulnerabilidade econômica se apresenta pelo

29 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de Direito do Consumidor. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2019. p. 48.

30 CHAVEIRO, Simone Fernandes dos Santos; BORGES, Eduardo Batista. O papel das políticas públicas na defesa do consumidor. In: Revista Eletrônica de Economia da Universidade Estadual de Goiás UEG ISSN: 1809-970X Disponível em: https://www.revista.ueg.br/index.php/economia/article/view/4787 Acesso em: 20 maio. 2020.

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fato de que o fornecedor, em regra, detém poder econômico superior em relação ao consumidor, desequilibrando a relação no campo fático.

Por se sujeitar às práticas dos fornecedores de produtos e serviços no mercado de consumo e, consequentemente, algumas vezes, às práticas abusivas, é que as normas de defesa do consumidor passam a considerá-lo como parte vulnerável na relação jurídica com o fornecedor. A previsão de vulnerabilidade do consumidor é decorrente de lei, não admite prova em sentido contrário, pois independe da sua formação acadêmica ou do seu poder aquisitivo.31

A vulnerabilidade não se confunde com hipossuficiência, pois nem todo consumidor deve ser considerado hipossuficiente. A vulnerabilidade é um critério de direito material, condição ínsita a todo destinatário final fático e econômico de produtos e serviços disponibilizados no mercado de consumo. A hipossuficiência é um critério de direito processual que se verifica na dificuldade ou impossibilidade de produção de prova do fato constitutivo do direito do consumidor. O Código de Defesa do Consumidor prevê a inversão judicial do ônus da prova (art. 6º, VIII), avaliada casuisticamente, e a inversão legal do ônus da prova (arts. 12, § 3º, 14, § 3º e 38).32

4.2 PRINCÍPIO DA AÇÃO GOVERNAMENTAL

Oprincípio da ação governamental decorre diretamente da vulnerabilidade do consumidor. A desigualdade entre membros da relação de consumo demanda intervenção estatal de acordo com os preceitos estabelecidos pela Constituição Federal, que assegura a defesa do consumidor pelo Poder Público (art. 5º, XXXII). O Código de Defesa do Consumidor prevê também a criação e desenvolvimento de associações representativas dos consumidores e a manutenção dos órgãos administrativos oficiais de defesa do consumidor.33

A intervenção do Estado vai além de editar leis relacionadas a proteção do consumidor. O Estado deve atuar sobre o mercado de consumo, criando órgãos e entidades a fim de promover os direitos do consumidor e fiscalizar a atividade dos fornecedores, a exemplo dos Procons, as Promotorias de Justiça Especializadas, o Inmetro, plataformas digitais de acesso aos consumidores. O Ministério da Justiça e Segurança Pública disponibiliza a plataforma de reclamações cujo endereço é consumidor.gov.br, na qual o consumidor pode resolver determinadas demandas sem acionar o Poder Judiciário.

Deste modo, o Estado deve atuar com o objetivo de viabilizar os preceitos legalmente estabelecidos, por meio da sua presença no mercado de consumo, para garantir que os serviços

31 FILOMENO, José Geraldo Brito. Manual de Direitos do Consumidor. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2001, p. 26. 32 ALMEIDA, João Batista de. Manual de Direito do Consumidor. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 35.

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tenham padrões adequados de qualidade, segurança, durabilidade e desempenho, equilibrando as relações de consumo nas quais o consumidor passa a ser o destinatário da proteção legal, harmonizando uma situação desigual desde sua origem.34

As políticas públicas desenvolvem um importante papel nessa interferência Estatal nas relações privadas, pois é por meio delas que o Estado identifica eventuais problemas e falhas que desequilibram as relações de consumo ou ferem os preceitos estabelecidos no Código de Defesa do Consumidor. O Estado identifica os problemas do mercado de consumo e possibilita que os objetivos e princípios das políticas públicas possam orientar diretamente a defesa dos direitos dos consumidores.

4.3 PRINCÍPIO DA HARMONIZAÇÃO DOS INTERESSES DOS PARTICIPANTES

Um dos principais objetivos da política nacional de relações de consumo corresponde ao equilíbrio e harmonização da relação entre fornecedores e consumidores. O referido princípio pretende um mercado de consumo equilibrado, que por sua vez interessa a todos os envolvidos. Nesse sentido, a proteção dada ao consumidor não pode prejudicar o desenvolvimento econômico ou tecnológico, justamente em face da dinâmica própria das relações de consumo.35

Destaca-se que essa harmonia não está vinculada apenas às partes que participam da relação. O princípio mencionado abarca o interesse difuso, atuando na realização da harmonia entre consumidor e fornecedor e a ordem econômica. Os sujeitos da relação de consumo (fornecedor e consumidor) são vistos como agentes econômicos que estão interligados, gerando riquezas e o desenvolvimento econômico e tecnológico.36

4.4 PRINCÍPIO DA INFORMAÇÃO E EDUCAÇÃO

A educação tem um papel primordial para a concretização dos direitos do consumidor. A educação tem função transformadora na sociedade. Nesse sentido, é dever do Estado promover políticas públicas educacionais voltadas ao consumo consciente, que incentivará mudanças de comportamento na forma de consumir, construindo bases para um futuro mais sustentável. A título de exemplo, citem-se os incentivos da Unesco que colocam a educação em situação de destaque,

34

BESSA, Leonardo Roscoe; MOURA, Walter José Faiad. Manual de Direito do Consumidor. 4. ed. Brasília: Escola Nacional do Consumidor, 2014. p. 102.

35 FINKELSTEIN, Maria Eugênia Reis. Manual de Direitos do Consumidor. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010, p.25. 36 GRINOVER, Ada Pellegrini. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor: comentado pelos autores do anteprojeto: direito material e processo coletivo [et al.]; colaboração Vicente Gomes de Oliveira Filho e João Ferreira Braga. – 12. ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2019.

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como um meio para um consumo consciente, bem como ressalta as consequências negativas do consumo excessivo e do desperdício.37

Faz-se necessário a implementação de políticas públicas no campo da educação para um consumo consciente que podem contribuir para o desenvolvimento no campo econômico, jurídico e social. Aeducação como instrumento de um consumo consciente pode contribuir no sentido de reduzir desequilíbrios e discrepâncias nas relações de consumo, que merecem especial atenção principalmente de conscientização e orientação ao consumidor.

A informação decorre do princípio da transparência e, por conseguinte, consiste no dever do fornecedor de inteirar previamente o consumidor, com informações adequadas e claras acerca do produto ou serviço que está adquirindo, sua qualidade e atributos, bem como as condições de pagamento. Qualquer dado que sirva para corroborar ou modificar a decisão do consumidor deve ser informado de forma ampla e inequívoca.38

O referido princípio também é aplicado ao fornecedor como conscientização. Deve ser entendido como a educação do fornecedor para o desenvolvimento de sua atividade no mercado de consumo. Destaca-se mais uma vez que o objetivo primordial é o equilíbrio nas relações de consumo, pois é necessário que sejam atendidas as necessidades de ambas as partes atuantes na relação negocial de consumo. Então, quanto maior for a conscientização das partes envolvidas, menor será o índice de conflito nas relações de consumo.39

4.5 PRINCÍPIO DO INCENTIVO AO AUTOCONTROLE DE QUALIDADE

O referido princípio diz respeito à melhoria e ao incentivo à criação pelos fornecedores de meios eficientes de controle de qualidade e segurança de produtos e serviços, ou seja, que se mantenha a qualidade, a segurança, a durabilidade e o desempenho dos produtos e serviços que são postos em circulação pelos fornecedores. O princípio em comento está relacionado aos demais princípios da política nacional de relações de consumo, especialmente quanto à proteção física e moral do consumidor.

O Estado tem ainda o dever de mediar os conflitos de consumo. A ação estatal deve igualmente incentivar que tais controles sejam feitos pelos próprios fornecedores, mediante a utilização de mecanismos alternativos de autocontrole, como por exemplo o Serviço de

37 EFING, Antônio Carlos; RESENDE, Augusto César Leite de. Educação para o consumo consciente: um dever do Estado. In: Revista de Direito Administrativo, Rio de Janeiro, v. 269, p. 197-224, mai. 2015. ISSN 2238-5177. Disponível em: http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rda/article/view/57599. Acesso em: 15 maio. 2020. 38 THEODORO JUNIOR, Humberto. Direito do consumidor. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001, p. 19. 39ALMEIDA, João Batista de. Manual de direito do consumidor. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 37.

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Atendimento ao Consumidor - SAC, no qual o contato do fornecedor é feito diretamente com o consumidor. Considera-se que o SAC é uma ferramenta da melhoria na qualidade das relações de consumo, evitando em muitos casos até a judicialização de determinadas demandas.40

O autocontrole pode-se ser estabelecido de três maneiras: o primeiro modo é referente a um eficiente controle de qualidade e segurança de produtos colocados no mercado, inclusive com a criação de selos e certificados privados para atestar a qualidade, reduzindo assim eventuais atritos entre fornecedores e consumidores; o segundo modo seria pela realização do recall, ou seja, pela convocação dos consumidores para reparos em peças defeituosas; e a terceira pela criação de centros ou serviços de atendimento ao consumidor, o SAC.41

4.6 PRINCÍPIO DA COIBIÇÃO DE ABUSOS NO MERCADO

Esse princípio representa a tentativa do legislador em vincular a política nacional de relações de consumo como instrumento para evitar abusos no mercado, pois interessa a relação de consumo o equilíbrio do mercado. O princípio da coibição de abusos no mercado tem fundamento no art. 170, V, da Constituição Federal. A ordem econômica nacional está fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, cujo objetivo é a garantia de existência digna, fundada na justiça social. O princípio visa proteger o consumidor por meio da proibição de abusos ocorridos no mercado de consumo. As técnicas utilizadas pelo fornecedor para comercialização de seus produtos ou serviços não podem ingressar no campo da abusividade de forma a prejudicar o consumidor. Os órgãos do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor (SNDC) fazem o trabalho de coibir e reprimir tais abusos praticados pelo uso do poder econômico no mercado.

O abuso do poder econômico pode interferir na esfera da dignidade do consumidor, como no caso da concorrência desleal que, além de atentar contra a ordem econômica, tem condão de afetar direta ou indiretamente o consumidor. Por exemplo, no caso da utilização de marca idêntica ou que se assemelhe a uma já existente, cuja semelhança pode enganar o consumidor, fazendo que a sua vontade não seja respeitada, ou ainda produtos que iludam sobre a qualidade. A publicidade enganosa ou abusiva é outra prática empresarial que ingressa no campo da ilicitude com expressivo poder de desequilibrar a relação de consumo, motivo pelo qual é tema que interessa de perto para efeito de controle estatal.42

É importante que essas condutas sejam coibidas de forma preventiva e eficiente a fim de servir como desestímulo aos fornecedores. A ação estatal deve prestigiar a criação e manutenção de

40 FINKELSTEIN, Maria Eugênia Reis. Manual de direitos do consumidor. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010, p. 26. 41 ALMEIDA, João Batista de. Manual de Direito do Consumidor. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 36. 42 FINKELSTEIN, Maria Eugênia Reis. Manual de Direitos do Consumidor. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010, p.28.

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órgãos e entidades capazes de fiscalizar e aplicar eventuais sanções para coibir efetivamente as práticas consideradas danosas ao mercado.

4.7 PRINCÍPIO DA RACIONALIZAÇÃO E MELHORIA DO SERVIÇO PÚBLICO

OEstado é fornecedor de serviços de consumo singulares, remunerados mediante um preço público ou tarifa de acordo com a utilização pelo destinatário final, a exemplo do fornecimento de água e energia elétrica. A racionalização e a melhoria dos serviços públicos funcionam como um meio para o Estado prestar serviços seguros e eficientes, que não atentem contra a vida e segurança do consumidor, lembrando que essa imposição também é voltada ao setor privado.

Todas as imposições estabelecidas ao setor privado na defesa do consumidor se aplicam ao serviço público, no sentido de prestar um serviço de qualidade, além de agente regulador e fomentador de políticas públicas. O princípio decorre da precariedade dos serviços prestados, razão pela qual é necessário assegurar que os mesmos sejam racionalizados e constantemente melhorados.43

5 CONCLUSÃO

O ato de consumir de forma massificada tornou-se algo recorrente na vida contemporânea. A produção e o consumo de produtos e serviços aumentam constantemente, acentuando as desigualdades geradas por essa relação. A relação de consumo nasce desequilibrada diante da vulnerabilidade do consumidor e a posição de dominação do fornecedor. A política nacional de relações de consumo é considerada como referencial de garantia de concretização desses direitos.

O estudo apresenta breves aspectos sobre as políticas públicas, especificamente sobre o conceito, modalidades e outros pontos relevantes para orientar a análise da política nacional de relações de consumo. Os objetivos da política pública estão conectados com os principais problemas enfrentados diariamente pelos consumidores brasileiros, dirigidos para o atendimento de suas necessidades existenciais e materiais, com ênfase ao respeito a sua dignidade, saúde, segurança e proteção de seus interesses econômicos. Os princípios gerais relativos aos direitos do consumidor, que fundamentam toda a estrutura relativa ao consumo e visam a equalização da relação consumidor/fornecedor, garantem o mínimo necessário para que o consumidor possa exercer seus direitos de modo pleno e equilibrado.

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Compreende-se que a intenção do legislador com o capítulo criado para a política nacional de relações de consumo é orientar e dar concretude aos demais direitos estabelecidos no Código de Defesa do Consumidor, pois cria um sistema de proteção e estabelece diretrizes que pautam as relações jurídicas entre as partes, normatizando como deve ser a atuação do Estado e de outros atores privados, que de algum modo podem interferir na relação de consumo.

A política nacional de relações de consumo é considerada como um importante referencial dos profissionais do direito na defesa dos consumidores. A relação justa e equilibrada representa, sobretudo, um exercício de cidadania e a efetivação do direito à igualdade material consagrada na Constituição Federal. Registre-se, por fim, que a política pública de proteção do consumidor atua também na garantida de integridade dos direitos da personalidade do consumidor, alinhada com o núcleo axiológico do ordenamento jurídico brasileiro que é a tutela da dignidade da pessoa humana.

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