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Pode a educação plurilingue constituir-se como educação anti-racista?

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Academic year: 2021

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Vo l. 7 – n. º 2 – 20 19 < 151 >

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R AQ UE L MAT IAS ra que l_m ati as@hotm ail .c om IS C TE – I nsti tut o Unive rsit ário de L isbo a e C entr o de Inve sti ga çã o e Estud os de S oc iol og ia P ED R O MA R T INS pe dro glm artins@ gmail.c om C entro de Estudos de L in guíst ica G era l e Aplica da (CE L G A -IL T EC) Re su m o Neste ar ti go , p ro po m os u m en qu ad ra m en to co m par ati vo e ntr e dif er en tes ex per iê n-cias de ed uca çã o b ilin gu e/p lu rilin gu e q ue ti ver am lu gar e m P or tu gal no s ú lti m os 4 0 an os . A an ális e pr ocu ra d is cu tir a cu lt ur a de ed uca çã o m on olin gu e e m on oc ult ur al vig en te n as esco la s d e en sin o pú blico , p or co ntr aste às in ter ven çõ es cu jas ab or da-gen s i m plicar am m eto do lo gias d e alf ab etiza çã o c om u so d o c ab o-ver dian o, co m re-su ltad os n o e m po der am en to d os alu no s e fa m ílias e nv olv id as, nu m a m aio r ab er tu ra e co ns ciên cia co m un icati va e nas ati vid ad es de escr ita e leitu ra. Dis cu ti m os , p os te-rio rm en te, e m to rn o de rep resen taçõ es so br e lín gu a de esco la riz açã o ass ociad a a no çõ es de ob jetivid ad e, a deq ua bilid ad e, n atu ra liz açã o, de svio e d éfice , lig ad as a pr oce ss os h istó rico s d e esti gm atiza çã o li ng uís tica e cid ad ã. C on cl uím os co m u m a ref lex ão cr ítica so br e a utili za çã o d a ed uca çã o b ilin gu e e das lín gu as men or iz ad as , dis cu ti nd o a su a valê nci a nu m a ab or dag em ed uca ti va an tir ra cist a e po r o po sição a um a ed uca çã o m on oli ng ue e m on ocu ltu ral. P alavras -c h ave : E du ca çã o an tir rac is ta; E du ca çã o p lu ril in gu e; L ín gu a de esco -lar izaç ão ; L ín gu as m en or izad as . Abstr ac t In th is ar ticle, w e pr op os e a co m par ati ve fra m ew or k b et w ee n d if fer en t e xp er ien ce s of b ilin gu al/p lu rili ng ual ed uc atio n th at ha ve tak en p lace in Po rtu gal in th e last 4 0 yea rs . T he an al ys is ai m s to d is cu ss th e m on oli ng ual an d m on ocu ltu ral ed uca tio n cu lt ur e pr ev aili ng in p ub lic sch oo ls , in co ntr ast to th e in ter ven tio ns w ho se ap -pr oac hes in vo lv ed liter ac y m eth od olo gies us in g C ap e Ver dea n, w it h resu lts in th e em po w er m en t o f th e stu den ts an d f am ilie s i nv olv ed , in a gr eater o pen nes s an d co m -m un icat iv e aw ar en es s, an d in w riti ng an d r ea din g ac ti vitie s. W e th en d is cu ss rep re-sen tat io ns o f t he la ng ua ge of in str uctio n ass ociate d w ith n otio ns o f o bjectivity , ad-eq ua cy , n atu ra lis atio n, dev ia tio n an d d eficit, co nn ec ted w it h h is to rical pr oce ss es of lin gu istic an d citi ze n sti gm ati satio n. W e co nclu de w it h a cr itical ref lectio n on th e us e of b ili ng ual ed uca tio n a nd min or itis ed la ng ua ges, dis cu ss in g t heir relev an ce in an a nti -rac is t e du ca tio na l a pp ro ac h, as o pp os ed to a m on olin gu al an d m on ocu lt ur al ed uca tio n. K ey con ce p ts: An ti-rac is t ed uca tio n; P lu rili ng ual ed uca tio n; L an gu ag e of in str uctio n; M in or iti sed lan gu ag es.

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Me diaçõ es – R ev is ta On L in e d a E sco la Su per io r d e E du ca çã o d o I ns tit uto P olitécn ico d e Setú bal http :// m ed iaco es.e se. ip s.p t Vo l. 7 – n. º 2 – 20 19 < 152 > In tr od u ção O ensino públi co em P ort ug al tem sido pa lco de a borda ge ns inovado-ra s ao nível de e xpe riê nc ias de e du ca çã o bil in gue /pluri li ng ue nos úl-ti mos 40 a nos . Enqua dra da s e m proje tos n ac ionai s e int erna cionais , a va lênc ia de stas ex pe riê nc ias re side no re conh ec im ento de qu e, na s es -colas portug ue sa s, a c onst it uiçã o de turma s se fa z c om fa lante s de por-tug uê s c omo lí ng ua m ate rna , f alante s d e po rtug uê s como lí ng ua n ão mate rna e a lunos se m pr ofic iênc ia em portug uê s. Ta l diver sidade é int eg ra da n as metodolo gia s de a lfa be ti za çã o– a qui, pe lo uso do portu-guê s e c abo -v erdia no, do jar dim de infâ nc ia a o 2.º ciclo , esta últ im a lí ng ua tendo sido de sv aloriz ada hist óric a e so cial mente nos espa ços de e nsino for mal. Toda s estas int erv enç õe s de corr era m em esc olas pú bli ca s da Ár ea Me -tropoli tana de L isboa (A M L ), onde se c onc entra a maior ia de fa lante s de c abo -ve rdia no, re ali za ndo -se à mar ge m do sis tema e du ca ti vo po r se d ife re nc iar em da s con striçõe s do ensino e da s polí ti ca s li ng uíst ica s 1 Dif er en te m en te, o p lu rili ng uis m o f az ref er ên cia à relaç ão en tr e o in div íd uo e o seu co nte xto , o nd e se ob ser va a co ns tr uçã o d e “u m a co m petê ncia co m un icati va, par a a qu al co ntr ib ue m to do o co nh ec im en to e to da a ex per iê ncia das lí ng uas e n a qu al as lí ng uas se in ter -relac io na m e in ter ag em .” In C on selh o d a E ur op a, 20 01 : 2 3. ofic iais . Estas ex pe riê nc ia s de mons tra ra m ainda que , no ensino pú-bli co, a comuni ca çã o em sa la de a ula a cont ec e pre domi na nteme nt e em portu guê s, ti da c omo a única ngua de int egraç ão e de e sc olari -zaç ão , re mete ndo a s re st antes lí ng ua s a o sil enc ia mento na s a ulas, to-ler ada s nos esp aç os priva dos/ fa mi li are s/comuni tá rios, mas pe rc ec io-na da s como bloque adora s da int eg ra çã o da s com unidade s. O ensino vig ente tem -se , a ssi m, ca ra cte riz ado por a borda ge ns monol ing ue s e m re laç ão a toda a c omuni da de e sc olar , a nc ora ndo -se e m polí ti ca s li n-guíst ica s nã o ce ntr ada s nos fa lante s, mas em pro ce ssos de ofic ializ a-çã o de norma s pa dr ão na cionaliz ada s c om maior p re stí gio ec onómi co . Esta tem sido a ba se de u ma educ aç ão supost ame nte mul ti li ng ue por ce ntra r ape na s no ensino de lí ng ua s em modelos monol ing ue s, de di-ve rsific aç ão da “ of erta de lí ng ua s numa esc ola ou num sis tema de e n-sino espe cífic os, ince nti va ndo os alunos a a pre nd er mais do que uma lí ng ua e stra ng eira , ou, a inda , dim inui ndo a posi çã o domi na nte do in-glês na c omuni ca çã o int erna cional” 1 , mesmo se ne ste últ im o ponto a evidênc ia te m si do c ontr ária 2 . 2 Destaca nd o-se o r ef or ço lín gu as e str an geir as c om o in glês ( desd e 20 14 ) e o m an -dar im (e ns in o b ásico d esd e 20 12 , en sin o s ec un dár io d esd e 20 15 ); o test e Ke y f or Sch oo ls (d esd e 20 13 , em p ar cer ia co m C am br id ge E ng lis h L an gu ag e A ss es sm en t)

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Me diaçõ es – R ev is ta On L in e d a E sco la Su per io r d e E du ca çã o d o I ns tit uto P olitécn ico d e Setú bal http :// m ed iaco es.e se. ip s.p t Vo l. 7 – n. º 2 – 20 19 < 153 > Ne ste arti go 3 , propo mos um enqua dra mento compa ra ti vo entre a s di-fe re nt es ex pe riê nc ias re fe rida s, cuj a re le vâ nc ia re side nã o no ensino de lí ng ua s no se nti do est rito, mas na sua uti li za çã o como pa rte int e-gr ante de proje tos educ ativos mais alar ga dos de e duc aç ão bil ing ue e pluril ing ue 4 . R ec orr emos à c onsul ta de doc umento s publi ca dos re lati-vos a ca da e xpe riê nc ia e re spe ti vos arquivos, ent re vist as re ali za da s junt o de teste munhas privil eg iad as de c ad a proje to a e spe cialist as em polí ti ca s li ng uíst ica s em P ortug al (tota l de oit o entre vist as), ana li -sa ndo ainda o conteúdo de um eve nto científic o que c ontou com a pa rtic ipa çã o da s coorde na dora s de c ad a proje to e outros pa rtic ipan-tes 5 . No fina l, propo mos uma re fle xã o crítica sobre a uti li za çã o da educ aç ão bil ing ue e da s líng ua s meno riz ada s no ensino , discuti ndo a o en sin o p úb lico , p ar ticu lar e co op er ativ o; o P ro jeto E ns in o B ilin gu e P rec oce (in -glês -p or tu gu ês e m p ar ce ria co m B ritis h C ou ncil P or tu ga l) em esco las p úb lica s d o 1.º ciclo d o en sin o b ásico d esd e 20 11 /2 01 5, e o Pro gr am a E sco las B ilin gu es d esd e 20 16 /2 01 7, alar gad o ao p ré -esco lar . 3 R es ulta nte do p ro jeto " Ko nta b u sto ria: P ad rõ es de ac ultu raç ão lin gu ís tica en tr e descen den te s d e im ig ran te s af rican os n o Vale d a Am or eir a" (f in an ciad o p ela FC T / MCT E S e em p ro to co lo en tr e C IE S -IU L , C E S -UC e C E L G A / I L T E C -UC ). 4 Dis ti ng ue -se aq ui da ed uca çã o m ultil in gu e, sab en do q ue um a ed uca çã o p lu rili ng ue fo ca an te s e m to da a ex per iên cia in div id ual n a co ns tr uçã o d e um rep er tó rio lin gu ís-tico co m po sto p or v ár ias lín gu as qu e se in ter -relac io na m e in ter ag em , co ns ti tu in do -se, ass im , u m a co m petên cia co m un icati va in div id ual. C on selh o da E ur op a, 20 01 : 23. sua va lênc ia numa abo rd age m educ ati va a nti -ra cist a e por oposi çã o a uma e duc aç ão monol in gue e monocultura l. 1. E d u caç ão b il in gu e e b icul tur al com c ab o-ve rd ian o A s prime ira s ex pe riê nc ia s ini ciar am -se no ba irr o de const ruç ão espon-tâne a 6 de Ma io (Ama dor a) , c om um prime iro estu do , « C ri anç a C abo -ve rdia na : Qu e I nte gra çã o? », re ali za do por M aria M anue la de Duque Vie ira e S ousa e m 1986 -1987 6 . Este estudo c onsi sti u numa compar a-çã o entr e c ria nç as ca bo -v erdia na s do C entro S oc ial 6 de Ma io 7 , e dois grupos de c ontrolo, um de c ria nç as ca bo -ve rdi ana s e portug ue sa s no ba irr o da C ova d a Mour a, e outro de c ria nç as po rtug ue sa s num ba irr o em L isboa . Em 1997 , a mesma a utora re ali zou uma compar aç ão com os prime iros da dos do Ja rdim -de -infâ nc ia do C entro S oc ial 6 de Ma io , 5 “ Dive rs id ad e lin gu ís tica e ed uca çã o b i e p lu rilin gu e: em to rn o d e qu atr o p ro je-to s p io neiro s em P or tu ga l”, 1 d e m ar ço 2 01 8, ISC T E -IUL , in C iclo d e 6 s em in á-rio s P olíti ca s e pr ática s lin gu ística s em P or tu ga l: Qu e esco lh as , imp os içõ es e re-sis tên cia s? http s:/ /www .o m .ac m .g ov .p t/d ocu m en ts /5 84 28 /7 86 92 /1 .%C 2%B A +se -m in % C 3% A 1r io +d o+c iclo +1 + m ar % C 3% A 7o +2 01 8+%2 8I SC T E -IUL %2 9.p df /5 ab 70 61 d-b81b -4386 -a2 7a -cf c3 a0 aa 3d 39 6 In teg rad o n a E sco la Su per io r d e E du ca do res d e In fân cia Ma ria Ulr ich . 7 O C en tr o So cial 6 d e Ma io fu ncio na desd e 19 80 , en vo lv en do cr ian ça s d e vár io s bair ro s d as Po rtas d e B en fica (6 d e Ma io , E str ela de Á frica e Fo ntai nh as ), s en do um a In sti tu ição P ar ticu lar d e So lid ar ied ad e So cial (IP SS ) d esd e 19 91 . À d ata de ho je, este b air ro en co ntr a-s e em p ro ce ss o d e des m an tela m en to fin al.

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Me diaçõ es – R ev is ta On L in e d a E sco la Su per io r d e E du ca çã o d o I ns tit uto P olitécn ico d e Setú bal http :// m ed iaco es.e se. ip s.p t Vo l. 7 – n. º 2 – 20 19 < 154 > «E duc aç ão e Mino ria s Ét nica s numa P ersp ec ti va Inte rc ult ura l – Uma C ami nha da de De z Anos » 8 . P oster iorme nte , no â m bit o do P rogr ama S óc ra tes/C omenius e de uma pa rc eria int erna cion al entre Dina mar ca , R eino Unido e P ortug al, surge o proje to «O ri entaç õe s e P rá ti ca s Edu -ca ti va s no Ja rdim -de -inf ânc ia em C ontex to B il in gue » (1998 -2000 ). Em P ortug al, a e xpe riê nc ia de cor re u em dois ja rdi ns -de -infâ nc ia (6 de Ma io , na Ama dora , e Ma rvila , e m L isboa ), dois contex tos c om cr ian-ça s de o rige m cab o-ve rd iana , guinee ns e, sa ntom ense e po rtug ue sa , que a pre se ntav am dific uldade s de a pre ndiz age m se melha nt es, inde -pe nde nteme nte de se re m ou nã o de o rige m im ig ra nte ou fa la ntes de uma lí ng ua mate rna dif ere nte da lí ng ua d e e nsino na e sc ola 9 . Toda s estas int erve nç õe s de se nvolver am metodolog ia s educ ati va s de c 8 In teg rad o n a E sco la Su per io r d e E du ca do res d e In fân cia Ma ria Ulr ich . 9 O pr ojeto d e 19 98 tem p or n om e em in glês : N ur se ry P olicy an d P ra ctice w ith in a B ilin gu al Co ntext, im ple m en tad o em P or tu gal pelo Sec retar iad o E ntr ec ultu ra s ( na altu ra Min is tér io d a E du ca çã o) so b a co or den aç ão d e Ma nu ela de So us a. Os p ar -ce ir os d in am ar qu ese s er am d o Dep ar tam en to « C rian ça s e Jo ven s» d o Mu nicíp io de Od en se, Jar dim -de -In fâ nci a de Hu m li ky . o Jar dim -de -In fân cia de B og elu nd , a E sco la de Fo rm aç ão E jer sly kk e B or nec en ter ; p elo R ein o Un id o, o I nn er L on do n E du ca tio n, atr av és d o C olla bo ra tive Lea rn in g P ro ject , e o J ard im -de -In fân cia Ma rg ar et Mc Millan . V er e m Acç ão II d a C om is são d as C om un id ad es E ur op eias, e ba te ao insuce sso es colar a tra vé s da a pli ca çã o de e st ra té gias de e du-ca çã o int erc ult ura l e mul ti li ng ue no e nsino pr é-es colar . No conc elho de Oe ir as teve lug ar o Projec to Pilot o de Educ ão Bi-li ngue e Bic ult ural Pré -Primári o e Primári o: na Pe dre ira dos Hún -garos (1990 -1994) 10 , outro ba irr o de c onst ruç ão espont âne a onde 90% e ra m fa mí li as de o rig em c abo -ve rdi ana or ga niz ada s por fo rte s re de s de a poio fa mi li ar e de viz inhanç a. O proj eto envolveu uma turma de 25 cria nç as de orig em ca bo -v erdia na a companha da s do jar -dim -de -infâ nc ia a o se gu ndo ano do 1.º ciclo , fo ca ndo no ensino da lí ng ua mat erna e do port ug uê s c omo lí ng ua se gun da e m im ers ão li n-guíst ica n a sa la de a ul a ( B ake r, 1993: 356 -357 11 ). P re tendia -se um a tra nsiçã o mais ha rmonios a pa ra a e sc ol a primá ria , mom ento em que o ac ompanha m ento ex tra curr icula r conti nuo u em educ aç ão nã o-for m al em : http ://eace a. ec .eu ro pa. eu /static/B ots /d ocb ots /Do cu m en ts/C om pe nd iu m /C om e-niu s/co m p_ C 2_ 99 .P df . 10 Fin an ciad o d a Fu nd aç ão C alo us te G ulb en kia n ( FC G) , co or den aç ão d a lin gu ista R aj a L it w in of f, e ste pr ojeto d eco rreu n o C en tr o So cial da P ed reir a do s Hú ng ar os , ten do o b air ro sid o d em olid o p elo en tão p ro gr am a P lan o E sp ec ial de R ea lo jam en to (P E R ). 11 Qu an do a lín gu a em q ue stão n ão é ap en as o te m a de est ud o, m as ta m bé m u m a fer ra m en ta de en sin o, pr op or ci on an do u m a m aio r en vo lv ên ci a na lín gu a qu e se pr eten de en sin ar , e pr om ov en do ass im o lu gar d e lín gu a de esco lar izaç ão a am bas as lín gu as e m q uestão .

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Me diaçõ es – R ev is ta On L in e d a E sco la Su per io r d e E du ca çã o d o I ns tit uto P olitécn ico d e Setú bal http :// m ed iaco es.e se. ip s.p t Vo l. 7 – n. º 2 – 20 19 < 155 > (3 hora s diár ias ). O mod elo pe da gó gico consi sti a e m trê s ve rte ntes: 1) de se nvolvi mento li ng uíst ico, cog nit ivo e a fe ti vo dos alunos ; 2) for ta-lec im ento de c apa cid ade s e duc ati va s e a e manc ipa çã o c ult ura l e soc i-opolí ti ca do meio (f amí lia e c omuni da de ); 3) de mocr ati za çã o, abe r-tura e a da ptaç ão da s inst it uiçõe s que dire ta (Ce ntr o S oc ial; esc olas) e indi re tame nte (Câ m ara Muni cipal, Mini stér io da Educ aç ão, C entro de S aúde , C entro R eg ional de S eg ur anç a S oc ial, E mbaix ada de C abo Ve rde , me dia ) se re spons abil iz ava m pela int egra çã o dos a lunos . Dua s outra s ex pe riê nc ia s de corr era m na investi ga çã o-aç ão Vam os C onv ersar na Esc ola – N u Be n Papia na Sk ola (20 02 -2005) , se guindo as orie ntaç õe s de e nsino inter cult ura l do C onse lho da Eur opa 12 , a pa r-ti r de um protoc olo entr e a Esc ola S upe rior de Ed uc aç ão (E S E) Joã o de De us e o Insti tut o P eda gó gic o do Mind elo (IP M). For am envolvi -dos educ ador es de infâ nc ia, prof esso re s do ensin o bá sico e cria nç as dos 5 aos 12 anos de ida de de P ortu ga l e C abo V erde 13 . O foc o da 12 C on sel ho d a E ur op a, 20 01 . 13 P ro jeto fin an ciad o p ela FC G, co or den ad o p or Ma ria da L uz C or reia (E SE Jo ão de Deu s), e m p ar ce ria co m M ar gar id a San to s ( IP M) , c on tan do co m a co ns ultad or ia lin gu ística de Du lce P er eir a (F L U L ) e a av alia ção ex ter na de L uís a So lla (E SE de Setú bal ). P ar ticip ar am ai nd a a Ass ociaç ão C ult ur al Mo in ho d a Ju ven tu de. E m P or -tu ga l: Ag ru pa m en to d e E sco las d e Alf or nelo s ( Am ad or a) e E B 1 n .º 3 d o C ac ém (Sin tr a) . E m C ab o V er de, d ois jar din s-de -in fâ ncia (Mi nd elo , São V icen te) e qu atr o in ter ve nç ão era m cri anç as de orig em ou na cionalid ade ca bo -ve rdia na , a maior ia oriunda s de fa mí li as com ba ix os re ndim entos, apre se ntando sim ult ane amente risc os de indi sc ipl ina, re tenç ão, aba ndono esc ola r e re curso a o tr aba lho pr ec oc e (sob re tudo em C abo Ve rd e) . Estes sã o dois contex tos esc olar es em que o portug uê s é lí ng ua o fic ial , mas que ainda hoje ap re se nt am espe cific idad es soc iol inguí sti ca s dife re nc ia-da s. Em C abo Ve rde , a s turma s sã o li ng uist ica mente mais homo gé -ne as, com d omí nio do ca bo -ve rdia no mas dim inut as competê nc ia s em portug uê s à e ntra da d a e sc ol a, se ndo que os prof essore s domi na m a lí ng ua mate rna c abo -ve rdiana a li ada a o portu guê s como se gund a lí n-gua . Em P ortu ga l, o dom íni o da s lí ng ua s portu gue sa e c abo -ve rdi ana dos alunos é v aria do, e os prof essor es ap re se nta m competê nc ias e m portug uê s enqu anto lí ngua e sc olar e lí ng ua mate rna , e ra ro conh ec i-mento do ca bo -ve rdia no. Os conteúdos do proj eto for am estrutu ra dos em dua s ve rte ntes. A ve rtente Ensinar C onv ersando divi dia -se e ntre : esco las b ásicas i nte gr ad as ( C am pim , Mo nte So ss eg o e Hu m ber to Du ar te, n o Min -delo , São V icen te; e A lto d e P eix in ho , e m P or to No vo , San to An tão ). E m P or tu gal, co nto u-se co m a par ticip aç ão d e du as tu rm as co m pleta s, co m 2 0 a 23 alu no s en tr e os 9 e 12 an os , d e vár ias o rig en s, e em C ab o V er de par ticip ar am ap en as a lg un s alu -no s d e ca da tu rm a. Dese nv olv eu -s e, ain da, u m a co lab or aç ão co m o p ro jeto d e in -vesti gaç ão -aç ão C on tin ua r a S er C ria nça (Ma rg ar id a San to s ( IP M) , C ab o V erd e) , utili za nd o o s tex to s u tili za do s d o p rim eir o p ro jeto n a fo rm aç ão d e pr of ess or es.

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Me diaçõ es – R ev is ta On L in e d a E sco la Su per io r d e E du ca çã o d o I ns tit uto P olitécn ico d e Setú bal http :// m ed iaco es.e se. ip s.p t Vo l. 7 – n. º 2 – 20 19 < 156 > 1) enqua dr amento conc eptual, re unindo re fe rê nc ias pa ra a e duc aç ão li ng uíst ica e e nsino de lí ng ua s, ce ntra ndo no pa pe l fulc ra l da c onve r-sa çã o no de se nvolvi men to li ng uíst ico e pe ssoal; 2) planif ica çã o em contex tos de diver sidade c ult ura l, com sug estões de ope ra cion ali za -çã o, inst rume ntos e mate ria is prá ti cos de e nsino , guiões de a ná li se e se leç ão e elabor aç ão de mate ria is de a pr endiz age m; 3) investi ga çã o pa ra o ensino , c om estudo s de c as o e m P ortu ga l e C abo Ve rde , in ce n-ti va ndo nova s ini ciativas com prof essore s e educ adore s. A ve rte nte Apre nde r C onv ersando e ra suport ada po r fi che iros de im age ns le ge n-da da s ac er ca d e maté ria s c urr icula re s nos dois pa íses, incluindo de se -nhos e tex tos produz id os pe las c ria nç as. Entre 2007 -2012, sur ge o proje to T urma Bili ngue , no 1.º ciclo da Es-cola B ásica n.º 1 do A gr upa mento de Esc olas do Va le da Amor eir a (A VE VA , Moit a). Este proje to foi coorde na do pe lo então IL TEC 14 , atualmente C E L GA -IL T EC, consi sti ndo numa ex pe riê nc ia de a lfa be -ti za çã o atra vé s de bil ingui smo im ersivo e m portu guê s e uma hor a de 14 In teg rad o n os T er ritó rio s E du ca tiv os d e In ter ve nçã o P rio ritár ia (T E IP ), este p ro -jeto fo i d esen vo lv id o p elo In stitu to d e L in gu ística T eó rica e C om pu tacio nal (IL -T E C ), c oo rd en ad o p or Du lce P er eir a, sen do p arte in teg ran te d o p ro jeto B ilin -gu is mo , A pr en diz ag em d o P or tu gu ês L2 e Su ce ss o E du ca tiv o n a E sco la P or tu -gu esa , f in an ciad o p ela FC G. e e m ca bo -v erdia no por dia, onde pa rtic ipar am 28 a lunos numa Tur ma B il ing ue (T B ), e 29 aluno s numa Tur ma de C ontrol o (T C ) c om ensino monol ing ue e m portug uê s. Amba s as tu rma s era m const it uídas por alunos de ori ge m po rtugue sa , ca bo -ve rdia na , gui ne ense , an golana e mar roquina , f alante s ou nã o da lí ng ua c abo -ve rdia na , c onst it uindo -se vá rios grupos soc iol ing uí sti cos: alunos in icia lm ente monol ing ue s em portug uê s e a lunos c om con tac to de sde a infâ nc ia c om o portug uê s e uma lí ng ua a fr ica na . O objetivo da c ompar aç ão ce ntra va -se na a qui-siçã o de c onhe cim ento em portug uê s, noutros ca mpos da c onsc iên cia li ng uíst ica e n as ati tudes pe ra nte a s dife re ntes lí ng ua s em pre se nç a. Numa se gunda fa se , sur ge o proje to U ma Esc ola M ult il ingue (2012 -2013) , numa turma de 2.º c iclo na e sc ola se de do AV EV A, cont ando com alunos da T urma B ili ng ue (T B ), da T urma d e C ontrolo (T C ) e novos alunos (17 alunos no 5.º ano, e 19 no 6.º 15 ). Em dois tempo s letivos da discipl ina de P ortug uê s e num tempo letivo da discipl ina de In glês, promove u-se a a ná li se li ng uíst ica contr asti va , metodolo gias de 15 Nu m to tal de 25 alu no s n es ta seg un da fase, in clu in do 1 1 alu no s d a T B , 3 alu no s da T C , 3 jo ven s d a co m un id ad e cig an a, 1 alu na de or ig em g uin ee ns e e 1 alu no d e or ig em p or tu gu es a co m u m b ack gr ou nd d e em ig raç ão e m In glater ra (R ein o Un id o) .

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Me diaçõ es – R ev is ta On L in e d a E sco la Su per io r d e E du ca çã o d o I ns tit uto P olitécn ico d e Setú bal http :// m ed iaco es.e se. ip s.p t Vo l. 7 – n. º 2 – 20 19 < 157 > tra duç ão e pe da go gias m ult il ing ue s incluindo outra s lí ng ua s m enori-za da s na sa la de a ula, pri nc ip alm ente o ca bo -v erdi ano, mas també m o roma ni e o fula . Ao long o dos 6 anos, envolveu -se a c omuni da de e s-colar , nomea da mente os pa is , prof essor es e fun cionár ios da s esc ol as . 2. A im p or tância d os d iagn óstic os A va rie da de dos contex tos soc iol ing uíst icos de c ad a int erve nç ão mo-ti vou a e labor aç ão de diag nóst icos por ca te gori as (pa is, prof essore s, func ionár ios e a lunos ), id enti fic ando os pontos de pa rtida li ng uíst icos indi viduais e fa mi li are s, e potenc iais tr ansmi ss õe s int erge ra cionais de uma ba ix a a utoesti ma li ng uíst ica (Briz ic , 2006) . Onde ha via grupo s de c ontrolo, a pli ca ra m -s e prova s de se leç ão li ng uí sti ca e fic ha s soc i-oli ng uíst ica s a c ada g rup o, e quipar ados no se u co ntex to sociol ing uís-ti co 16 . No ba ir ro 6 de Ma io , e stes dia gnóst icos de ix ara m um conjunt o de sug estões e li nha s de guia como aux ílio a prof essore s e e duc ado re s 16 No C en tr o So cial 6 d e Ma io , as f ic has c on sis tia m e m q ue sti on ár io s d esti nad os a ap ur ar d iv er sas in fo rm aç ões so cio lin gu ís ticas, co m o a id ad e, n atu ralid ad e, fr e-qu ên cia de jar dim -de -in fân cia, lí ng ua s f alad as c om o p ai, co m a m ãe , co m o utr os ad ulto s co m q ue m v iv e, etc. O m ater ial ap licad o in cid ia não ap en as so br e a id en ti-ficaç ão p ess oal, m as ta m bé m so br e o co nh ec im en to d e m ate riais , en un ciaç ão d e op os to s, co m pr ee ns ão d e frase s e nú m er o d e su bs ta nti vo s ap licad os n um d iálo go so br e um a gr av ur a. em futur os diag nóst icos (Pe re ira 2006: 75 -105). No Va le da Amo-re ira , for am apli ca dos te stes li ng uíst icos, fic ha s soc iol ing uíst ica s e a ti -vidade s li ng uíst ica s, re colhendo mate ria l esc rito e a udiovi sua l qu e pe rmiti u uma ava li aç ão contí nua e pe riódic a do pr og re sso dos alunos na s dua s lí ng ua s e na s su as a ti tudes li ng uíst ica s 17 . 3. Co m b ate r m itos sob re as l ín gu as m ate rn as A s dife re ntes int erve nç õe s de fr ont ara m -s e com a re ce çã o ini cial de re ce ios dos pa is e re stant e c omuni da de e sc ola r de que o ensino bil in-gue , e do ca bo -v erdia no em pa rtic ular , pr ejudi ca sse a a pre ndiz ag em do portug uê s dos alunos , mesmo qua ndo as dif ere ntes lí ng ua s fa lad as pe los alunos e ra m ac eit es (c omo no 6 de Ma io e e m Ma rvila ). Fa ce a tais re sis tênc ias, na P ed re ira dos Hún ga ros as au las ini ciar am com ape na s 30 -60 mi nutos se mana is, enqua nto no Va le da Amor eira s e admi nist rou uma hora de c abo -v erdia no por dia – a mbas sit ua çõe s 17 Na T B , o s test es so cio lin gu ís tico s co ns is tia m e m d iv er so s in str um en to s d e an á-lis e, in cl uin do a tiv id ad es d e nar rativ a/d escr ição escr ita e or al, d e escr ita ditad a, d e descr ição e de rec on hec im en to d e palav ras; as f ich as d e ca rac ter izaç ão so cio lin -gu ística co m ple m en tad as c om in qu ér ito s e en tr ev istas s ob re co ns ciê ncia li ng uís -tica; na E sco la Mu ltil in gu e, rea lizar am -se tr ês a ti vid ad es d e diag nó stico escr ito e m in glês ( ca rac ter izaç ão , n om ea çã o e test e escr ito ), u m a at iv id ad e de diag nó stico e m po rtu gu ês (s il hu eta s), d uas a ti vid ad es d e tr ad uçã o ( in glês -p or tu gu ês) e um a ati vi-dad e de nar rativ a escr ita em p or tu gu ês.

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Me diaçõ es – R ev is ta On L in e d a E sco la Su per io r d e E du ca çã o d o I ns tit uto P olitécn ico d e Setú bal http :// m ed iaco es.e se. ip s.p t Vo l. 7 – n. º 2 – 20 19 < 158 > long e da s condi çõ es de e duc aç ão testa da s int ern ac ionalmente 18 . O s proje tos foc ar am -se e m de sc onst ruir os medos ac erc a dos pe ri gos da bil it era cia 19 c om ca bo -ve rdiano, promove ndo a co nsc iênc ia sobr e o va lor posit ivo das lí ng ua s mate rna s e outra s em pre se nç a. Esp ec ific a-mente no Va le da Amo re ira , tra ba lhou -se o conf ron to li ng uíst ico entre dois s ist emas de e sc rita d ife re ntes m as próx im os, junto dos a lunos da TB , e sc lar ec endo a re stan te comuni da de e sc olar qu e se pre te ndia pro-mover uma alf abe ti za çã o mais rá pida e sis tema ti za da , um maior de -se nvolvi mento da c ap ac ida de de re fle xã o meta li ng uíst ica e de tra du -çã o, e a int erior iz aç ão da ideia de que a s lí ng ua s sã o pa rte int eg ra nte de c ada indi víduo, pode ndo se r usa da s de fo rma a utónom a e a de qua -da s a diver sa s si tuaç õe s e int enç õe s c omuni ca ti va s. Alé m di sso, a va -loriz aç ão da lí ng ua meno riz ada pe rmiti u r efor ça r o se nti mento de pe r-tenç a (a o grupo de p are s, à fa mí li a, à c omuni da de ) em ter ritórios es-ti gmatiz ados por re pre se ntaç õe s soc ia is ne ga ti va s, e sobre tudo de se 18 On de pelo m en os 5 0% d o tem po leti vo er a atr ib uíd o à lín gu a dita m in or itár ia, ver P ro jeto d e E ns in o B ilin gu e P or tu gu ês/ Ale m ão , d e Ha m bu rg o C f. D uar te, Jo an a (2 01 0) . 19 O ter m o b ilit er ac ia ref er e-se , aq ui, a to das e q uaisq uer in stâ ncias e m q ue a co -m un icaç ão o co rre em d ua s ( ou m ais) lí ng ua s d en tr o o u e m to rn o d a escr ita , v er e m Ho rn ber ger 1 99 0: 21 3. volver a sua c onsc iên cia meta li ng uíst ica , ou se ja , a c ap ac idad e de re -fle ti r sobr e a n ature za e funç õe s da lí ng ua ( B ow ey e t al 1984) . 4. P rod u ção d e m ate riai s e f or m ão d ese n volvi d a T odos os proje tos proc ur ara m uma ad equa çã o esp ec ífic a a o contex to de identific aç ão e v aloriz aç ão cult ura l e li ng uíst ica , a borda nd o pa rti-cular idade s gr amatica is com ba se na s dific uldade s e int erf er ênc ias ve -rif ica da s, de stac ando pro blema s re la cionados com c onc ordâ nc ia, arti-gos e c onju ga çã o ve rba l, com o propó sit o de evit ar a int er fe rê nc ia li n-guíst ica e nt re o portu gu ês e o ca bo -ve rdia no. Os ma ter iais for am pro-duz idos pe las equipas, em colabor aç ão com as cri anç as, ou ainda com a comuni da de , como na P edre ira dos Hún ga ros 20 . No ba irr o 6 de Ma io, produ zira m -se mate ria is pe da gó gic o-didátic os pa ra uso em sa la de a ula (jo gos d e li ng ua ge m, l ivros de e stórias, c arta ze s c om di fe re n-tes lí ng ua s), e a va li aç ão de ati vidade s (víd eos de fo rma çã o, gra va çõe s e aná li se de produ çõe s ling uíst ica s dos alunos ) 21 . No proje to entre 20 A co m po ne nte bili ng ue e bic ult ur al no s p rim eir os d ois an os fo i d esen vo lv id a pela ed uca do ra do p ro jeto , u m a au xil iar d e ed uca çã o e um p ro fess or d e ca bo -v er -dian o ex ter io r ao b air ro . 21 C om a co or den aç ão d e Du lce P er eir a, to da a ex per iên cia e os ref er id os m ater iai s

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Me diaçõ es – R ev is ta On L in e d a E sco la Su per io r d e E du ca çã o d o I ns tit uto P olitécn ico d e Setú bal http :// m ed iaco es.e se. ip s.p t Vo l. 7 – n. º 2 – 20 19 < 159 > P ortug al e C abo Ve rd e, produz iu -se mate ria l de ap oio ao ensino int er-cult ura l do portug uê s (c omo lí ng ua mate rna ou nã o) e de va loriz aç ão li ng uíst ica e c ult ura l de c ada a luno, compl ementa re s a outros mate ri-ais didáticos, como gra mática s e re fe re nc ia is de planif ica çã o pa ra o ens ino ini cial de portug uê s como lí ng ua nã o mate rna . Os métodos ce ntra va m -se na e xpre ssão de c ada identidad e e e xpe riê nc ia, esti mu-lando a a pre ndiz ag em e a mot ivaç ão pa ra a a quisi çã o de novos conte-údos (a pre ndiz ag em r efle xiva) 22 . P re tendia -se que os re sul tados dos proje tos orie nt assem e duc ador es e prof essor es sobre a e voluçã o li ng uíst ica dos alun os, dire ciona ndo o ensino pa ra a s difi culdad es e ne ce ssi da de s de c ad a c ria nç a. Esta foi uma que stão ce ntra l no Va le da Amor eira e no 6 de Ma io, com aç õe s de for maç ão jun to de pa is, prof essore s, edu ca do re s, aux il iar es de edu-ca çã o e fun cionár ios, pr etende ndo se nsibi li za r, de finir estra té gia s e plane ar ati vidade s orie ntada s pa ra o de se nvolv im ento do plurin-guism o e e duc aç ão bil ingue. Entre P ortug al e C abo Ve rde , a da pt ara m ped ag óg ico s p ro du zid os (f ich as d e diag nó stico e m ater iais p ar a a ed uca çã o in ter -cu lt ur al e desen vo lv im en to d a lín gu a po rtu gu es a) d er am o rig em ao liv ro « C re sce r B ilin gu e» e a um C D de ap oio à fo rm aç ão p ar a pr of ess or es, ed uca do res e p ais. 22 A eq uip a do p ro jeto c rio u, em 2 00 5, um a pág in a on lin e e um C D -R OM co m co nteú do s e m ater iais ú teis p ar a a fo rm aç ão d e pr of ess or es, no m ea da m en te so br e a se modelos teór icos pra ti ca dos no ensino do port ug uê s como lí ng ua se gund a, apli ca ndo o princ ípi o de ig ua ldade e ntr e lí ng ua s nã o pe lo pre stí gio mas pe la fun cionalidade c omuni ca ti va de c ada lí ng ua e m pre se nç a (inc lui ndo lí ng ua s c om si stema s de e sc rita dist int os, ou sem tra diçã o esc rita ), o fe re ce ndo um espa ço de le git im idade de pr áti ca e apre ndiz ag em em ambie nte e sc olar . 23 5. L im itaç õe s n a p ar tic ip ão d as e sc olas O s estabe le cim entos esc olar es de mons tra ra m uma ati tude de obse rv a-çã o ex ter na pouc o conse que nte na sua rotina diár ia após o tér mi no dos proje tos. A c oorde na dora do pr ojeto na P edre ira d os Húng aros de cla -rou -se inc apa z de im ple menta r uma for ma çã o co ntí nua na á re a do en -sino do portug uê s apli cá ve l à doc ênc ia com cri anç as de ori ge m de ca bo -ve rdia na 24 , con clui nd o que a e sc ol a mante ve uma ausê nc ia de pre oc upa çõe s li ng uíst ica s na s estra té gias pe da gó gic as, aborda ndo a(s) lí ng ua (s) mate rna (s ) c om o uma de sva nta ge m e nã o c omo uma rique za ap ren dizag em e us o d e lín gu as e o d iálo go so br e este te m a. V er em http :// www .e se -jd eu s.ed u.p t/p ro jec to s/p l2 . ( ac ed id o em 31 -10 -2019) . 23 R ec om en daç ões ex po stas po r Du lce P er eir a ( http :// www .ese -jd eu s.ed u.p t/p ro jec to s/p l2 /A pr _C on v/ac !d p_ desen vli ng .h tm ). 24 L it w in of f, 1994 : 52 -53.

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Me diaçõ es – R ev is ta On L in e d a E sco la Su per io r d e E du ca çã o d o I ns tit uto P olitécn ico d e Setú bal http :// m ed iaco es.e se. ip s.p t Vo l. 7 – n. º 2 – 20 19 < 160 > li ng uíst ica a se r ex plora da . O ag rup amento esc ola r do Va le da Amo -re ira nã o de se mpenhou o se u pa pe l compl ement ar de a va li aç ão do proje to ini cialmente pr ev ist o, ne m se a prop riou da c ult ura de mul ti -li ng uism o. Dur ant e a apli ca çã o de um inquér it o so ciol ing uíst ico junt o de prof esso re s e func ion ários, os prime iros most ra ra m -se pouc o dis-postos a pa rtic ipar . J á a a most ra dos func ionár ios pe rmiti u de most ra r que 43% ti nha outr as or ig ens, fa lav am uma outr a lí ng ua qu e nã o o portug uê s na sua in fâ nc ia , tendo pa rtilhado a s sua s hist ória s socioli n-guíst ica s c om os a lunos . As conc lusões do proje to e ntre P ortuga l e C abo V erde sã o, a e st e ní-ve l, esc la re ce dora s. A fo rmaç ão e videnc iou la cuna s na for m aç ão pré -via dos prof essore s, se ja na sua inada ptaç ão a c on tex tos mul ti ling ue s se ja na pre fe rê nc ia por ab orda ge ns pe da gó gica s pr esc ritivas mais ce n-tra da s no pr of essor e nos manua is esc olar es, e men os nos sabe re s tra -zidos p

elos alunos. Est

as a borda ge ns re lev ar am -se obst ác ulos n a pr á-ti ca de modelos de e nsin o e a pr endiz ag em dif ere ntes dos tra diciona is, tendo os prof essore s re agido às nova s metodolog ia s como uma int er-fe rê nc ia nos proc essos pa droniz ados, e uma sobre ca rg a no se u tra ba -lho. Dife re nt emente , no 6 de Ma io re gist ar am -se melhor ias na qu ali -da de da s int erv enç õe s pe da gó gic as dos edu ca dor es e a ux il iar es, con-soli da ndo conhe cim entos e prá ti ca s de e duc aç ão mul ti li ng ue e int er-cult ura l, lembr ando que a inst it uiçã o de e nsino e ra , ne ste c aso, a c o-orde na dor a da s int erv enç õe s. 6. E fe itos n os al u n os e n os p ais T oda s as int erve nç õe s re gist ar am um empoder am ento nos alunos e n-volvi dos, re fle ti ndo -se n uma maior c uriosidade e a be rt ur a c omuni ca -ti va e na s ati vidade s de es crita e leitura . Obs ervou -se uma maior cons-ciênc ia li ng uíst ica pe la va loriz aç ão da c ult ura c abo -ve rdi ana e um a identific aç ão posi ti va c om as dua s lí ng ua s e c ult ura s, a ssi m como u m entendimento do pa pe l e va lor de dife re nt es lí ng ua s e c ult ura s, e, nã o menos re lev ante, a im po rtâ nc ia da tra du çã o no pl ano comuni ca ti vo. Estes efe it os manif esta ra m -se na s competê nc ias li ng uíst ica s em por -tug uê s (c omo se gunda lí ng ua na lg uns ca sos), no conhe cim ento e me -lhora da dife re nc ia çã o ent re a s dua s lí ng ua s, assi m como de sini biçã o na uti li za çã o da s lí ng ua s, incluindo uma ada pta çã o mais ade qua da da s mesma s aos int erloc utor es e contex tos apropr iad os, tanto na e sc ola

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Me diaçõ es – R ev is ta On L in e d a E sco la Su per io r d e E du ca çã o d o I ns tit uto P olitécn ico d e Setú bal http :// m ed iaco es.e se. ip s.p t Vo l. 7 – n. º 2 – 20 19 < 161 > como na fa mí li a, num rá pido code -sw it ching 25 , e mbora com espe ra da s de svios da n orma e int erf erê nc ia s. No V ale d a Amor eira , a bil it era cia, e m ais propr ia mente o modelo de educ aç ão bil in gue e m qu e e la se ins ere , c onst it uiu va lênc ia s pa ra um de se nvolvi mento li ng uíst ico e soc iol ing uíst ico pre coc es 26 . Se no iní -cio da a va li aç ão (2010 ) a TC a pre se nt ou va nta ge m nos re sult ados li n-guíst icos em portu gu ês, os re stante s mom entos de a va li aç ão (2010 -2012 ) re ve la ra m melhor es re sult ados da TB 27 , c om ra ros ca sos de in-ter fe rê nc ia e ntr e a s du as líng ua s 28 . Em ter mos de re sult ados esc olar es em se nti do estrit o, na Esc ola M ult il ingue a pe rc enta ge m de a lunos pa rtic ipante s se m ne ga ti va s era supe rior à de outra s turma s 29 ; no fina l do 5.º ano, nã o ex ist iam ca sos de a ba ndono esc ola r e ha vi a a pe na s um aluno em a bse nti smo, se ndo a única turm a (e m 9 turma s da e sc ola do 25 Co de -s w itch in g – alter nân cia en tr e lín gu as o u v ar ied ad es lin gu ística s d en tr o d e um ú nico d is cu rs o. 26 Ver em http :// www .iltec. pt/p ro jec to s/em _cu rs o/tu rm as_ bili ng ues. htm l (e m m i-gr aç ão p ar a o s ite do C E L G A -IL T E C ). Vár io s d os resu ltad os lin gu ístico s f or am pu blicad os n o liv ro d e atas d o co ló qu io « E du ca çã o B ili ng ue e B ilin gu is m o» (I L -T E C ) e na co lectâ nea « P or tu gu ês L ín gu a Não Ma ter na - I nv esti gaç ão e E ns in o» (L IDE L ), e ap resen tad os e m e ven to s cien tíf ico s. 27 Nas a tiv id ad es i niciai s, reg is to u-se um a dif er en ça d e 2%, m ed id a atr av és d e um a cla ss ificaç ão tr ip ar tid a, ap licad a ao s d iv er so s p ar âm etr os d e an ális e def in id os par a ca da ativ id ad e (d ir ec io nalid ad e da escr ita, co esão ref er en cial, co rreç ão 2.º ciclo) se m c asos de in discipl ina. Na P edr eira d os Húnga ros, r eg is-tou -se uma tax a de a ssi duidade à s aulas entre 95 e 100% , com uma tax a de re tenç ão de 40% no 2.º a no, nã o ha ve ndo, no fina l do 3.º ano, ac umul aç ão de r etenç õe s ne m quebr a n a tax a de a ssi du idade (98% ). Nos pr ojetos que promov era m a pa rtic ipaç ão dos pa is, ver ific ar am -se ati tudes mais posi ti va s fa ce à uti li za çã o quoti dia na da lí ng ua c abo -ve rdia na , e m contex to de sa la de a ula e a tr avé s de métodos promoto-re s de bil it era cia . Os e fe it os t iver am t ambém im pa cto na pa rtic ipa çã o cidadã . Na P edre ir a dos Húnga ros, re gist ou -se ma ior pa rtic ipa çã o na s re uniões de pa is, indi ca ndo um aumento da se gu ra nç a e con fia nç a na s inst it uiçõe s e se us re pr es entante s, a p ar de um a maior c onsc iên cia so-bre o e xter ior do ba irr o e a s for mas de o na ve ga r. No V ale da Amo-re ira , os pa is dos alunos d a TB assum ira m –se form adore s dos pa is dos or to gr áf ica, etc. ). Nas 1 2 ativ id ad es a nalis ad as q ue se seg uir am (ex er cício s d e re-gr as d e escr ita , leitu ra, d itad o, 4 n ar rativ as e scr ita s, 3 n ar rativ as o rais e 2 d escr i-çõ es), a T B ev id en cio u m elh or es r esu ltad os e m 1 1. E m sete ativ id ad es e m q ue se an alis ou a per ce ntag em d e co rrec çã o o rto gr áf ica, cin co d elas rev elav am v an ta ge m par a a T B , e nas r estan tes d ua s, am bas a s t ur m as ti ver am a m es m a per ce nta ge m . 28 Os p ro blem as e xis ten te s p ren dem -s e ess en cial m en te co m er ro s d e co nco rd ân cia em p or tu gu ês, po r f alan tes d e ca bo -v er dian o ( ten den do este s p ar a a fo ss ilizaçã o, ca so n ão sej am ab or dad os ). 29 5 3%, po r o po sição a per cen tag en s en tr e os 3 0% e o s 4 4%, no utr as tu rm as (d ad os rec olh id o n o f in al do 2 .º p er ío do , d o 5 .º an o d e esco la rid ad e) .

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Me diaçõ es – R ev is ta On L in e d a E sco la Su per io r d e E du ca çã o d o I ns tit uto P olitécn ico d e Setú bal http :// m ed iaco es.e se. ip s.p t Vo l. 7 – n. º 2 – 20 19 < 162 > outros alunos da Esc ola M ult il ingue , pa rtilhando as va nta ge ns e e fe i-tos posi ti vos do modelo de e duc aç ão, e se rvindo sim ult ane amente de int eg ra çã o dos novos p ais. 7. E d u caç ão an ti rr ac ist a n u m a c u ltu ra m on oli n gu e? S abe mos hoje que o bil ing uism o é uma va lênc ia indepe nde nteme nt e de uma da s lí ng ua s e m ca usa se r uma lí ng ua afr ica na tra dicion alm ente de sva loriz ada na e duc aç ão for mal (Andr ad e & F anha 1979; Ma teus, P ere ira & F ische r 2008: 20 -27; C ardoso 2005) . Inter essa -nos, por iss o, dis cuti r o po tenc ial da e duc aç ão bil ing ue e pl urilin gue int eg ra da numa estra té gia de educ aç ão anti rra cist a, pe la incl usã o de lí ng ua s me -noriz ada s no contex to d e ensino for mal em P ort ug al. E pa rtindo de uma aborda ge m da c ons ciênc ia crítica da li ng ua ge m (F lore s & R osa , 2015 re fe rindo Alim , 2005 ), propo mos re pe ns ar a c ria çã o de e spa ços e fe rr amenta s pa ra que o s alunos e re stante c omu nidade e sc ola r pos-sa m critica r os contex tos soc iop olí ti cos que de sle git im am as sua s prá -ti ca s li ng uíst ica s e outra s em pre se nç a, to rna ndo -os consc iente s da s hier arquia s li ng uíst ica s ex is tente s e do se u própr io comporta mento comuni ca ti vo. Tr ata -se d e da r conti nuidad e à s pr opost as da s ex pe ri-ênc ias de sc rita s, p ensa nd o a dive rsida de li ng uíst ica e nqua nto fo rma de c ontesta çã o da s de si gua ldade s, mas re fo rmula ndo a sua in clusão na e duc aç ão nã o pe la via do discur so de a de qua çã o e dé fic e da s prá ti -ca s li ng uíst ica s dos estudante s, mas pe la ne ce ssi da de d e de sn atura li -za r a p rópr ia id eia de c ate goria s li ng uíst ica s objetiv amente p adroniz a-da s e a de qu ada s. A noç ão de lí ng ua pa dr oniz ada a nc ora da à lí ngua de e sc olar iz aç ão produ z discur sos sobre a de qua çã o e dé fi ce qu e re fle tem pe rc eç õe s ideológ ic as e nã o li ng uíst ica s, im pli ca da s em proc essos de e sti gmati-za çã o li ng uíst ica . I sto po rque a s ca te go ria s norma ti va s da lí ng ua sã o idea li za çõe s em torno de uma lí ng ua na cional pa droni za da e nqua nto a norma a que todos os sujeitos na cionais se de ve m subm eter (F lore s & R osa , 2015 ), mas nã o re fle tem prá ti ca s li ng uíst ica s empí ric as pro-pria mente dit as, no se nti do em que ne nhum sujeito pra ti ca e usa e ssa mesma norma ex ce to em contex tos téc nic os. É -nos , por iss o, ne ce ssá -rio que sti ona r a ideia d e objetivi da de e n atura li da de a ssocia da a prá ti -ca s li ng uíst ica s pa droniz ada s (le cion ada s na s esc olas) , apa ná gio da s re sis tênc ias aos proj etos ac im a de sc ritos. Uma ta l empre sa im pli ca aprof unda r o nosso en ten dim ento em torno da s condiçõe s hist óric as e atuais que têm produz ido a norma do portu guê s le cionado na s esc olas enqua nto sím bolo de iden ti da de na cional monol ingue e monocultura l, e o se u pa pe l e nqua nto pa rte int eg ra nte de proc essos de re produ çã o da

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Me diaçõ es – R ev is ta On L in e d a E sco la Su per io r d e E du ca çã o d o I ns tit uto P olitécn ico d e Setú bal http :// m ed iaco es.e se. ip s.p t Vo l. 7 – n. º 2 – 20 19 < 163 > estr ati fic aç ão soc ia l que e xc lui fa lante s da lí ng ua , e fa lant es de outra s lí ng ua s – identific ando assi m a na ture za da viol ênc ia sim bóli ca que re jeita e e xc lui leg ados cult ura is e li ng uíst icos que se dist ing ue m da norma domi na nte pa dron iz ada (B ourdie u and P ass eron 1 977). Em si, a diver sidade da lí ng ua po rtug ue sa re sult a da e xpa nsã o e oc u-pa çã o de ter ritórios, e c onse que ntes de sig ua ldade s polí ti ca s, soc iais e ec onómi ca s que se re fle ti u nos contac tos entre indi víduos de dife re n-tes estatutos soc iais e ra ciais. F alam os de um a gove rna menta li da de coloni al que c riou hier ar quias entre lí ng ua s euro pe ias (sup erior es ) e nã o europ eias (inf erio re s), num ac esso ex tre mame nte li mi tado a for -mas dit as leg ít im as da s líng ua s europe ias (F anon, 19 75 ). Dur ante a coloni za çã o portu gue sa , e xist ira m dist in tas ca te go riz aç õe s le ga is dos grupos popula cionais na Guiné -B iss au, An gol a e Moç ambi que – e s-tatuto de indíg ena portuguê s e cidad ania portu gu esa (de 1836 a 1954, ter mi na ndo em 1961) – e m que um dos crité rios de dife re nc iaç ão era ex atame nte a pro fic iênc ia no portu guê s pa droniz ado pe la m etrópole (a se gunda d as cinco co ndiçõe s pa ra a dquirir cid ada nia portu gue sa , P int o 2001: 88 -89). Ainda hoje se obse rv am ati tude s for teme nte esti g-matiz antes em re la çã o à s lí ng ua s dos afr ic anos e de c omo fa la (va )m portug uê s, ti dos como fa lante s de for mas de li ngua ge m incoe re nte – de sde a « lín gua de p re to » (re mete ndo a obra s de 1455, 1522, 1524, ve r e m He nrique s 2009; P ere ira 2002) ao «p re tuguês/pre to guê s» (Oli-ve ira 2017) . A lí ng ua ca bo -ve rdia na tem sofr ido de ste pre con ce it o li n-guíst ico qua ndo vist a co mo corr uptela do portu guê s (Pe re ir a 2002: 250), e mesmo qua ndo re conhe cida enqua nto lí ng ua de ba se lex ica l portug ue sa c om uma for te pre se nç a de mográ fi ca e hist óric a e m P or-tug al, é ainda pe rc ec iona da c omo nã o-na cional, nã o-ter ritori al, nã o-re gional, nã o-na ti va e n ão -e urope ia ( Ma ti as, 2017 : 157). Um ponto de re fl ex ão crí ti co re side, por iss o, no enqua dra mento his-tóric o sobre a e voluçã o da s pe rc eç õe s europ eias sobre sujeitos li ng uis-ti ca mente ra cializ ados como « Outro s» (Ros a & F lore s 2017 re fe rindo Ma koni & P enn yc ook 20 07 ): de sde fa lante s de lí ng ua s inf erior es sub -humana s; a fa lant es de lí ng ua s humana s, mas inf erior es em ter mos de de se nvolvi mento human o; a f alante s de lí ng ua s c om dé fic e voc abular fa ce à li ng ua ge m ac adé mi ca /e sc olar n ec ess ária à e conomi a do mer

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-Me diaçõ es – R ev is ta On L in e d a E sco la Su per io r d e E du ca çã o d o I ns tit uto P olitécn ico d e Setú bal http :// m ed iaco es.e se. ip s.p t Vo l. 7 – n. º 2 – 20 19 < 164 > ca do global. Ap esa r da te ndê nc ia inclusi va , a a bor da ge m ba se de dé -fic e e a lt erida de li ng uíst ica 30 manté m -se , mot ivando a supost a ne ce s-sidade de modi fic ar a s prá ti ca s li ng uíst ica s dos s uj eit os c ujas pr áti ca s e usos li ng uíst icos ti dos como de fic it ários ou de sviante s fa ce à norma na cional pa droniz ada – p re mi ssa -c ha ve da s inst it ui çõe s de ensino pa ra tra ba lhar a a sc ens ão soc ial dos fa lante s, se ndo esta uma pre oc up aç ão ini cial dos a nter iore s proj etos. No re fe re nte a medid as de c ombat e à s de si gua ld ade s soc ia is, propo -mos alt erna ti va mente col oc ar a tóni ca na s re pre se ntaç õe s que ha bit am os sujeitos ouvint es que leg it im am o que é uma norma -pa dr ão e um fa lante le gít im o de ssa norma (F lor es & R osa , 2015 re fe rindo Inou e 2006) - enqua nto su jeitos pe rc ec ionados como nã o ra cializ ados e li n-guist ica mente he ge móni cos. Estas re pr ese nta çõe s nã o sã o de cre ta da s por biogra fia s indi viduais, mas antes por inst it uiçõe s, polí ti ca s e te c-nolog ias re fe re ntes à no çã o de br anquit ude e nqua nto posi cioname nto his tóric o e c ontempor âne o de sujeitos ra cializ ados e nã o ra cializ ados, como bre ve mente re fe ri do ac im a. Este conhe cim ento ajuda -nos a 30 Mo rello (2 01 9) . compre end er os pro ce sso s atra vé s dos qu ais as pr áti ca s e usos de lí n-gua s de popula çõe s ra cia li za da s sã o pe rc ec ionad as como de sviante s aqua ndo da a fe ri çã o dos se us pe rf is, e, conse que nteme nte, na s tom a-da s de de cisões sobr e o ac esso aos se us dire it os – nomea da mente na s tec nolog ia s de vi gil ân cia e pro ce dim entos inst it uc ionais onde a s id e-olog ias li ng uíst ica s dos sujeitos ouvint es leg iti mador es de norma s na -cionais pa droniz ada s s ão ati va da s, c omo n as a va li aç õe s no P ortu guê s L ín gua N ão Ma ter na (PL NM ), P rova de L ín gu a P ortug ue sa pa ra Aquisi çã o da Na cion ali da de (Pa N) , re nova çã o de vist os, ac esso ao mer ca do d e tra ba lho e bo lsas de e studo . G ostar íamos de c onc lui r sublinhando a ne ce ssi da de de uma e duc aç ão pluril ing ue c rítica , re fle xiva e anti rra cist a como estra té gia cha ve na contesta çã o da s de sig ua ldade s. Ta l empre sa te rá im pa cto li mi tado se foc armos na s va lênc ia s da s ex pe riê nc ias de sc rita s e na inclusã o do ca bo -ve rdia no como lí ngua e sc olar le gít im a, mas nã o re confi gur ar-mos o nosso e ntendimento em torno do pa pe l da (s) lí ng ua (s ) esc o-lar (e s) na pr eve nç ão de prá ti ca s e a ti tudes li ng uí sti ca s re sult antes de

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Me diaçõ es – R ev is ta On L in e d a E sco la Su per io r d e E du ca çã o d o I ns tit uto P olitécn ico d e Setú bal http :// m ed iaco es.e se. ip s.p t Vo l. 7 – n. º 2 – 20 19 < 165 > um lega do de se gr eg aç ão hist óric a. É ur ge nte apro funda r o nosso co-nhe cim ento sobre o pa pe l que a lí ng ua tem de se mp enha do no ra cism o int erna li za do de toda a c omuni da de e sc ola r, ide nt ific ando a s const ru-çõe s soc ia is que têm co rre lac ionado c ara cter íst ic as li ng uíst ica s a c a-teg ori as ra ciais, e a s su as impl ica çõe s nos proc esso s de a pre ndiz ag em dos alunos ra cializ ados (Hudle y et al. 2018 ). R es umi ndo, uma pre -mi ssa ce ntra l da e du ca çã o anti rra cist a pluril ing ue im pli ca que sti ona r se é e fe ti va m ente possí ve l identific ar dife re nç as li ng uíst ica s objetivas entre pr áti ca s li ng uíst ica s a ca dé mi ca s/esc ola re s e p rá ti ca s li ng uíst ica s (tida s c omo) r ac ializ ada s. Re fe n cias B ib li ogr áf ic as C onse lho da Eur opa (2001 ), Q uadro Eu rope u C om um de Ref er ênc ia par a as Língua s Aprend izag em , Ensi no, Aval ia ção , Por to, Ediç ões A SA A ndr ade , A m ál ia and D ulce FA N H A [ = PE R EI R A ] (1979 ), “O cr iou lo com o um a líng ua” , in C ol óqui o sob re a Prob lemá tic a do C ri oul o, Mi nd el o, C ape V er de, Ap ril B ak er , C . (1993 ). Fou ndat ions of B ili ngua l Edu cat io n and Bi lingua lism . C lev edon: Mu lti ling ual Ma tte rs. Pp. 356 -357. ht tps :// cr ian ca bil in-gue.f iles .w or dpr es s. com /2013/ 10 /co lin -b ak er -foundat ions -of -bi lin-gual -educ at ion -and -bi ling ual ism -bi ling ual -educ at ion -and -bi lin-gual ism -27 -2001.pdf B our di eu, Pi er re & P as ser on, Je an -C laude (1977 ). R ep roduc tio n in Ed uca -tion, Soc ie ty and C ul ture . L ondon: S ag e. B ow ey , J .; R . G riev e, M. H er rim an, Ma rion My hi ll, A . N es dal e (1984 ). M et -al ing ui st ic A w ar en es s i n C hi ld ren : T heor y, R ese arch, and Im pl ica -tion s. Be rli m -H ei del ber g: S pr ing er -V er lag . B riz ic, K at har ina 2006 T he se cr et lif e of lang uag es . O rig in -spe ci fic dif fer -enc es in L1/ L2 acqui si tio n by im m ig rant ch ild ren, Int er nat iona l Jo ur nal o f A pp lie d Ling ui st ics V ol. 16, 3, 339 -362 C ar doso , A na Jo se fa G om es (2 005) , A s I int er fer ênc ias Ling uí sti ca s do C a-bov er di an o no pr oce sso de apr end iz ag em do Port ug uês , T es e de Me str ado em R el aç ões Int er cul tu rai s, U ni v. A ber ta htt ps: //r epo si to-rioa ber to.u ab.p t/b itst rea m /1 0400.2/ 633/ 1/ LC 225 .pdf (a ce di do a 31 -10 -2019) D uar te, Joa na (2 010) B ili ng ual Langu age Pr of ici enc y: a compara tive st udy . Muni que /N ov a Ior que: Wa xm an. Fanon , F ran tz (19 75 ), Pe le N egr a, M ás car as Bran ca s, Pai sa gem , Mut açõe s, Port o, 280 p. Flor es, N el son & R osa , J on at han (2015 ), “Undo ing A ppr opr ia ten es s: R ac i-ol ing ui st ic Ideol og ies and Lang uag e D iv er si ty in Ed uca tion” , in H arv ard Ed uca tio nal R ev ie w , V ol. 85, n. º 2, 149 -171 H enr iq ues , I sa bel C ast ro (2 009) . A H er ança A fri cana e m Port ug al . L isbo a: C TT C or re ios d e Po rtug al H or nbe rg er , N anc y H . ( 199 0) ‘C rea ting su cc ess fu l l ea rni ng cont ext s fo r b i-ling ual lit er ac y’ , in T eac he rs Coll eg e Recor d 92 (2) , 2 12 –229. H udl ey , A nne H . C har ity ; Ma llinson, C hr ist in e; B uc hol tz , Ma ry ; F lo res , N el son ; H oll iday , N ico le; C hun, Ela ine ; Spea rs, A rthur ( 2018) , “Ling ui sti cs an d rac e: A n int er disc ip lin ar y app roac h tow ar ds an

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Referências

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