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A arte de tramar e tecer presente no espaço escolar / The art of weaving and weaving presente in the school space

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Academic year: 2021

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A arte de tramar e tecer presente no espaço escolar

The art of weaving and weaving presente in the school space

Recebimento dos originais: 09/09/2017 Aceitação para publicação: 13/11/2017

Lucinéa Aparecida Dobrychlop

Formada em Licenciatura em Artes Visuais: Escola de Música e Belas Artes do Paraná –EMBAP – UNESPAR. Especialização em História da Arte Contemporânea. Professora de Arte dos anos Iniciais do Ensino Fundamental- Secretaria Municipal de Educação de Curitiba. Escola Municipal

Presidente Pedrosa.

Instituição: Secretaria Municipal da Educação

Endereço: Av. João Gualberto, 623 - Alto da Glória, Curitiba - PR E-mail: dobrychloplu@gmail.com

RESUMO

O Projeto Oficilinha, Oficina da Linha, é uma experiência que vem acontecendo no Ensino Fundamental, no interior da Escola Municipal Presidente Pedrosa, na cidade de Curitiba. Neste projeto, que é desenvolvido nos momentos de recreio, estudantes são convidados a fazer Arte a partir das técnicas do tecer e do tramar. Para isso, a professora que idealizou o projeto, orienta os interessados nas questões técnicas de produção, do fazer artístico e na organização dos materiais. Nesses momentos meninos e meninas desenvolvem suas tramas, por vezes individualmente, por vezes em equipe, fator este que é definido pelos próprios participantes e de acordo com as suas respectivas intenções. Assim, estes estudantes colocam em prática a sua autonomia e a sua liberdade para produzir seus trabalhos, sendo a professora a mediadora das técnicas e dos materiais que são disponibilizados de acordo com as necessidades que os alunos demonstram. É perceptível que os alunos artistas, dentro de suas estéticas e gostos, procuram estabelecer relações com os diferentes tipos de materiais (cores e texturas de lãs) e também com relação às técnicas que podem ter acesso, entre elas o tricô, o bordado, o crochê e o tear. Com esses dois elementos, técnicas e materiais, estudantes desenvolvem suas produções artísticas. Essas produções entram nos contextos de exposições da escola durante o ano letivo. Os alunos participantes do projeto Oficilinha, têm acesso ás diversas reproduções de imagens de diferentes artistas que se utilizam, ou se utilizaram, do tecer e/ou do tramar para a produção de suas obras. Estabelecendo assim, um vínculo com produções artísticas de pessoas, que no início desconhecidas para eles, mas que estão presentes no cenário da História da Arte através de diferentes obras. O projeto em questão é objeto de estudo e pesquisa da professora que o desenvolve há dois anos.

Palavras-chave: Produção artística; Tramas; Pesquisa. ABSTRACT

The Oficilinha Project, Oficina da Linha, is an experience that has been happening in Elementary School, inside the Presidente Pedrosa Municipal School, in the city of Curitiba. In this project, which is developed in the moments of recreation, students are invited to make Art from the weaving and weaving techniques. For this, the teacher who idealized the project, guides those interested in the technical issues of production, artistic making and the organization of materials. In these moments boys and girls develop their plots, sometimes individually, sometimes as a team, a factor that is defined by the participants themselves and according to their respective intentions. Thus,

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these students put into practice their autonomy and their freedom to produce their work, and the teacher is the mediator of the techniques and materials that are made available according to the needs that the students demonstrate. It is noticeable that student artists, within their aesthetics and tastes, seek to establish relationships with different types of materials (colors and textures of wool) and also with regard to the techniques they can access, among them knitting, embroidery, crochet and loom. With these two elements, techniques and materials, students develop their artistic productions. These productions enter the contexts of school exhibitions during the school year. The students participating in the Oficilinha project have access to several reproductions of images of different artists that are used, or used, to weave and / or plot for the production of their works. Establishing thus, a link with artistic productions of people, which at the beginning unknown to them, but which are present in the scene of the History of Art through different works. The project in question is object of study and research of the teacher who develops it two years ago.

Keywords: Artistic production; Plots; Search. INTRODUÇÃO

O Projeto Oficilinha, Oficina da Linha, iniciou em meados de março de 2015, nos horários de recreio na Escola Municipal Presidente Pedrosa, no bairro Vila Isabel, em Curitiba, Paraná. O projeto, que se mantém vigoroso, permite que estudantes do período da manhã, horário em que as atividades são realizadas, tenham acesso a ação do “tecer”. Nestes momentos, no recreio, são disponibilizados alguns materiais como: lãs, agulhas de crochê, de tricô e de bordado, além de pequenos teares e telas plásticas, aos alunos e alunas. Há que se esclarecer que a atividade em questão é ofertada aos estudantes que manifestam interesse para participar do projeto, não existindo assim a obrigatoriedade em desenvolver o trabalho.

O fazer Arte no horário do recreio através das técnicas do tecer, originou-se da intenção de brincar com materiais que a escola tinha em desuso no seu acervo, porém como seriam ofertadas as agulhas, fez-se necessário a presença de um profissional da escola para acompanhar as crianças, prezando pela segurança destas. Assim, o acompanhamento deu-se pela professora de Arte da escola, também idealizadora do projeto. O olhar dado às técnicas propostas, passaram para além do seu domínio, para as produções que os estudantes desenvolviam e como o faziam, notando as escolhas de cores, formas, texturas, técnicas, como os grupos se organizavam, quais suas necessidades, interesses e dificuldades.

As Diretrizes Curriculares do município de Curitiba orientam para um trabalho de Arte com abrangência de dois eixos que se complementam nas práticas de sala de aula: o primeiro, a compreensão das artes como produto cultural, social e histórico; o segundo, a compreensão da produção artística a partir da especificidade de cada uma das quatro linguagens: artes visuais, dança, música e teatro. A professora sendo conhecedora destes dois eixos, encarregou-se de “orientar” a

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brincadeira do tecer no recreio com o objetivo de colaborar na construção do conhecimento em Arte dos educandos.

Importante lembrar que a “arte na escola não prevê a formação profissional de artistas, mas tem, como objetivo principal, o desenvolvimento do pensamento estético através da experiência estética, âmago do ensino de artes em todas as suas formas” (SME, 2008, p.9), assim o projeto Oficilinha surgiu como um meio facilitador para as experiências em produções artísticas visuais a partir de materiais pouco ofertados nas aulas de Arte, salvo raras exceções, assim como as técnicas do tramar e do tecer.

Muitos artistas, evidenciando-se os da contemporaneidade, utilizam-se do bordado, do crochê, ou do tricô para suas produções artísticas. Fruir entre as obras destes, também se fez presente neste projeto, pensando-se nas questões culturais da humanidade, nas técnicas desenvolvidas no decorrer do tempo, nos objetivos dos grupos que tecem, que diálogos ou reflexões tais trabalhos podem trazer para a experiência dos estudantes.

A Arte, o tecer e o recreio

O ato de tecer próprio à humanidade responde a uma necessidade imediata: vestir. Com o tempo essa ação ganha contornos estéticos, que são absorvidos no processo de tecelagem, na produção de tecidos e diferentes peças de lã conforme os materiais disponibilizados, sobretudo em razão de sua proximidade. É o que se pode constatar com os produtos tecidos no Continente Africano, por exemplo, muito distantes, nas suas cores e nos seus fios, dos produtos tecidos nas comunidades andinas. Pode-se supor que há, então, a tradição de tecer para vestir e para produzir peças de decoração, inclusive com preocupação e a serviço de uma estética.

Pensando na tradição do tecer e no Ensino da Arte, comenta Ivone RICHTER:

O grande desafio da arte, atualmente, é o de contribuir para a construção crítica da realidade através da liberdade pessoal. Precisamos de um ensino de arte por meio do qual as diferenças culturais sejam vistas como recursos que permitam ao indivíduo desenvolver seu próprio potencial humano e criativo, diminuindo o distanciamento existente entre arte e vida. (2008, p.51)

É o que é possível observar nos horários da Oficilinha, estudantes de diferentes turmas se reúnem para tramar, tricotar, crochetar, tecer, ou seja, atividades diferenciadas atreladas ao domínio de determinadas técnicas que podem ser utilizadas na produção de objetos artísticos.

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Figura 1- Durante o recreio meninas e meninos tecem (abril/2016)

Fonte: A autora

Nesses encontros, alunos e alunas se encontram movidos pelo interesse nas atividades ofertadas, o que nos leva a repensar nas questões de gênero, ainda olhadas de modo enviesado nos espaços escolares, contando com uma visão binária de sexualidade dos educandos. Entende-se por educação binária aquela em que a “divisão entre masculino e feminino como algo fixo, natural, indiscutível e repleto de verdades inquestionáveis, ou seja, como algo reificado.” (CARRIERI; SOUZA, 2010, p. 49).

Sobre a educação de meninos ligados às técnicas da tecelagem, nas comunidades litorâneas que têm como subsistência a pesca, é recorrente que meninos, desde cedo, sejam inseridos no aprendizado de como fazer as redes de pesca e até o conserto destas, bem como nos devidos cuidados no seu manuseio. No artigo Educando meninos e meninas: transmissão geracional da pesca artesanal no ambiente familiar, as autoras comentam que os meninos

(...) repetem os ensinamentos recebidos por seus pais ou parentes. Os conteúdos presentes nesses saberes e ensinamentos fazem referência à captura do pescado, ao manuseio de equipamentos e embarcações, às percepções sobre o clima e as marés, limpeza e preparo do pescado para comercialização, confecção e remendo de redes, dentre outros. (GRCIA, YUNES, CHAVES, SANTOS, 2007.)

Portanto, a participação masculina em produções que envolvem o tecer, no que se refere às famílias de pescadores, segue a tradição da técnica ensinada pelos familiares mais experientes, entre eles os pais.

Voltando ao projeto que aqui se destaca, cabe esclarecer que começou com a organização de materiais guardados numa caixa da escola, à época notou-se que havia nela telas de bordar, bem como agulhas e restos de lãs. Eram sobras de atividades de anos anteriores. E como este material não era suficiente para o número de alunos de uma turma, pensou-se em apresentá-los a alguns

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aquele em que o aluno, a aluna escolhe o que quer fazer, sem o compromisso de chegar ao resultado final tal qual uma tarefa solicitada em aula.

Então, numa determinada manhã, foi dado início ao trabalho. A professora idealizadora e orientadora do projeto sentou-se no pátio e começou a bordar uma tela, e, rapidamente os “curiosos” e as “curiosas” aproximaram-se para saber do que se tratava. O material que anteriormente não foi considerado suficiente para uma turma de trinta alunos, demonstrou não ser suficiente também para os interessados e as interessadas do horário do recreio.

Com o tempo o projeto cresceu e mais estudantes demonstraram gosto em manusear as linhas e as agulhas. Foi preciso providenciar mais materiais. Bilhetes foram para as casas dos estudantes pedindo aos familiares diferentes tipos de agulhas e retalhos de lãs. Também pelas redes sociais pedidos de doações foram feitos. O resultado foi positivo, pois a escola recebeu muitos materiais e de diferentes pessoas, incluindo a secretária de educação do município, senhora Roberlayne Roballo, e, pessoas da comunidade escolar, porém sem vínculo direto com a escola, ou seja, não trabalham no ambiente em que o projeto é desenvolvido e não têm filhos ou familiares alunos nessa escola. O que nos mostra que é possível pensar na participação destes como simpatizantes do projeto Oficilinha.

Mesmo contando com apoio de colegas da escola também, ainda assim muitas vezes, foi necessário que a professora orientadora do trabalho, usasse de recursos próprios para a aquisição de agulhas e telas de bordar. Houve uma pesquisa para a busca de materiais alternativos para a continuidade e desenvolvimento da técnica da tecelagem, por exemplo. É o caso do rolinho de madeira que vem dentro de um do rolo de papel bobina, papel muito utilizado nas escolas para diferentes atividades. Este rolinho de madeira, depois de lixado e fixado sobre ele três a quatro pregos, funciona como um tear, conhecido na história como ”tripa de mico” ou “rabo de gato”.

Figura 2 - Aluna tecendo em tear alternativo, detalhe ampliado (setembro/2015)

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Atualmente, o projeto vem se desenvolvendo nos recreios do período da manhã nas quartas e quintas-feiras. As produções das crianças são bem variadas, assim como os participantes, pois nem todos participam de todos os encontros. Mas há aqueles que estão sempre presentes, que cuidam e zelam pelas suas produções bem como pela continuidade destas. Pedem para guardar o que está em processo e retornam no próximo encontro em busca do seu trabalho. Mas há outros também que compõem equipes, distribuem atividades entre si a fim de compor um único trabalho. Esta situação, de trabalho coletivo, nos leva a refletir sobre os coletivos ou grupos de artistas que se encontram a fim de desenvolver determinada ideia em conjunto.

O coletivo é a união de pessoas para a produção em torno de um tema comum. Esse tema, normalmente abrangente a ponto de permitir diferentes leituras, serve como pano de fundo para as produções individuais ou coletivas a ele associadas. (TSCHAPE E HOLANDA, 2011, não paginado)

Ainda mais adiante sobre coletivos artísticos, as mesmas autoras comentam que: “muitas vezes, o resultado da atuação é uma única produção, compartilhada em regime de co-autoria por todos os seus criadores que atuam em regime de ‘sociedade’”. (TSCHAPE e HOLANDA, 2011, não paginado). Esta colocação permite-nos esclarecer o porquê de alguns participantes do projeto não se importarem de trabalhar juntos na mesma peça que está sendo produzida. A imagem a seguir, apresenta um trabalho que foi criado, desenvolvido e apresentado por uma equipe que tomou todas as decisões em torno de sua produção e execução.

Figura 3 – Produção desenvolvida por equipe de alunas através do crochê (novembro/2016)

Fonte: A autora

Outro exemplo é Thiago Resende, um artista de São Paulo, que vem desenvolvendo ações coletivas em diferentes locais públicos da cidade de São Paulo. Ele convida homens para participarem de aulas de tricô desenvolvendo uma espécie de performance-aprendizado em

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Figura 4 - Homens fazendo tricô ao ar livre (São Paulo/2015).

Fonte:NARDINI, jun.2015.

Sobre artistas e a técnica do tecer

O Projeto Oficilinha não tem um fim em si, primeiro, porque no tempo em que acontece, traz diferentes situações e possibilidades de reflexões e atitudes para quem dela participa, sendo tanto em relação às questões próprias da Arte, seus materiais, cores, composições, especialmente sobre a técnica, mas também são comuns àquelas questões que se referem ao convívio com o outro, a lida com o espírito de grupo, aspectos de individualidade e compreensão da diversidade cultural, passando pela relação de autonomia para a produção dos trabalhos, ao fato de não se ter um tempo exato para conclusão – liberdade de tempo para término das produções – e a não homogeneidade, ou seja, embora todas as práticas estejam relacionadas ao tecer, as técnicas se diversificam para as escolhas dos estudantes, que podem também optar em trabalho de equipe ou trabalho individual.

O Projeto também possibilita-nos refletir sobre nossas práticas como professoras, assim como sobre as finalidades do Ensino da Arte. Uma reflexão a ser feita é no que se refere à Arte Têxtil e sobre como os artistas se apropriaram e se apropriam da técnica do tecer no decorrer da História da Arte para produzir suas obras, e, o porquê tão pouco a produção em questão é levada para sala de aula, no que se refere ás técnicas e no que diz respeito ao entendimento da produção artística, inseridas nessa categoria, como produto cultural, social e histórico. Destes artistas, podemos citar vários: no âmbito internacional, Sheila Hicks, por exemplo, no nacional, Leonilson, Bispo do Rosário, Norberto Nicola. Sobre a questão de gênero, com grande destaque para as reflexões sobre o Feminismo, a mulher artista, a mulher negra, não há como não citar Rosna Paulino sendo uma referência importantíssima com seus trabalhos intitulados Bordados e Transgressões.

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Figura 5 – PAULINO, Rosana. Série Bastidores. (Xerox transferido sobre tecido, com bordados), 31,3 cm x 310x 1,1 cm. 1997

Fonte: www.rosanapaulino.com.br/blog/galeria

Na cidade de Curitiba, onde se realiza o Projeto Oficilinha, é importante citar: Anna Mariah Comodos, Bernadete Amorin, Ida Hanemann de Campos, artistas que produzem sua arte apropriando-se e propondo novos sentidos para a técnica do tecer.

Importante lembrarmos aqui, que arte têxtil ainda é considerada por muitos como uma arte menor, muito próxima do artesanato, como se produzida por pessoas desprovidas de conhecimentos artísticos necessários a produção de objetos que alcancem status de Arte. Nesse caso, destaca-se Anni e Josef Albers, um casal de artistas alemães, respectivamente aluna e professor na Bauhaus, que tiveram contato com a tecelagem através do design, no período que antecede a Segunda Guerra Mundial. O casal, por conta dos conflitos gerados em decorrência dos interesses desta guerra, mudou-se para a América Latina, passando por várias cidades andinas, mantendo contato com a produção artística e cultural dos locais visitados, privilegiadamente estiveram “frente a frente com um dos mais belos acervos de têxteis andinos antigos”, conforme destaca LIESBROK (2008, p.20).

O rico acervo da Coleção Anni e Josef Albers contém peças coletadas na América Latina e foi exposto no Museu Oscar Niemeyer no período de 29 de maio a 24 de agosto de 2008. Na Introdução do catálogo da mostra, LIESBROK comenta:

Passaram-se décadas antes que as instituições educacionais latino-americanas começassem a olhar para manifestações locais desta arte como assunto com conteúdo acadêmico e digno de pesquisa. Como resultado da institucionalização da dominação européia sobre a América latina, a educação formal tendia a impor os modelos ocidentais: para que algo fosse correto, para ter aprovação, deveria estar de acordo com os padrões ocidentais – um pensamento que continua a ditar nossa maneira de ver e de ser e, assim, dificulta qualquer busca de autoconhecimento. As realizações culturais, que na América latina sempre tiveram conotação negativa por serem “indígenas”, eram compreendidas pelos artistas da Bauhaus na Alemanha, que se apropriaram delas. Eles levaram ao máximo a excelência da arte têxtil dos Andes e iniciaram assim um novo processo de auto-avaliação. (2008, p. 52).

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Assim é preciso perguntar-se: por que a sociedade ainda considera a arte têxtil menor em relação a outros produtos artísticos e culturais? Sobretudo por que ela pode muito enriquecer as aulas de arte principalmente no que se refere a técnicas tradicionais para composições têxteis, além de oportunizar que as mãos articulem-se a consciência, em nossos alunos e alunas. Complementando:

(...) ao se afirmar a necessidade de educar o sujeito humano tomado no seu mais amplo sentido, isto é, estimulando também seu contato sensível com a realidade na qual se insere, tem-se em mente uma ação que o leve ainda a descobrir e a valorizar conhecimentos presentes na cultura onde vive e a redescobrir saberes que, por esquecidos, tendem ao desaparecimento. (DUARTE JÚNIOR, 2001, p. 182)

Conhecer para valorizar saberes da tradição humana, a fim de preservá-los e não permitir que caiam no esquecimento, é uma tarefa árdua, que passa pela categoria da pesquisa e da experiência, procurando assim dinamizar e compartilhar com diferentes grupos de pessoas tais vivências. A escola, a Arte e a educação pode contribuir com para que esse feito tenha êxito.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No projeto que aqui se apresenta é possível refletir na possibilidade de estudantes estarem tendo a oportunidade de fazerem arte de uma forma não convencional dentro da escola, uma vez que no ensino formal as propostas de trabalho decorrem de contextos desenvolvidos em sala de aula. Ao contrário disto, o Projeto Oficilinha acontece nos momentos de recreio como uma atividade extra-classe, permitindo aos estudantes a participação voluntária, ou seja, sem a obrigatoriedade que as aulas têm ao exigirem sua permanência e produção.

Neste projeto, situações de autonomia e liberdade para produção são características presentes na pesquisa e produção dos estudantes, bem como na pesquisa e ação pedagógica da professora que idealizou o projeto e o orienta. Aliás, uma forma de fazer arte que se tornou também objeto de pesquisa da professora envolvida, pois esta, na condição de mediadora dos trabalhos, desenvolve pesquisas sobre as técnicas do projeto, sobre artistas que se utilizam destas nas suas produções, e, na produção de artigos e relatos dessa experiência.

Nota-se que esse projeto é apenas um percurso de um caminho maior, pois ele permite que estudantes avancem seus conhecimentos e tenham experiências no campo das Artes como um produtor de objetos de Arte, como aquele que pesquisa técnica, estabelece escolhas estéticas, avalia seu próprio desempenho através do produto final por conta de resultados satisfatórios para si mesmo, ou, na busca de como melhorar seu trabalho alterando o que não está concordando, mudando um traçado aqui, uma cor ali.

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Conclui-se esse relato com a expectativa de muito ainda fazer nesse modelo de Arte dentro da escola, através de investigações do fazer dos alunos e através de pesquisas bibliográficas que venham a complementar e enriquecer essa vivência.

REFERÊNCIAS

MUSEU OSCAR NIEMEYER. Anni e Josef Albers: Viagens pela América Latina. Curitiba, 2008. Cátalogo de exposição.

CARRIERI, Alexandre de Pádua, SOUZA, EloisioMoulin de. A analítica queer e seu rompimento com a concepção binária de gênero. Revista de Administração Mackenzie, v. 11, n. 3, Edição Especial. São Paulo, SP. Mai/Jun. 2010. p. 46-70. Disponível em:

http://editorarevistas.mackenzie.br/index.php/RAM/article/view/1712. Acesso em 14 de junho de 2015;

CURITIBA, Prefeitura Municipal. Secretaria Municipal de Educação. Diretrizes Curriculares

para a Educação Municipal de Curitiba. Ensino Fundamental. Curitiba: SME, 2006 – v.3.

DUARTE JUNIOR, João Francisco. O Sentido dos Sentidos: a educação (do) sensível. Campinas, São Paulo: Criar Edições, 2001;

CHAVES, Priscila Freitas, GARCIA, Narjara Mendes, SANTOS, Lída Oliveira dos, YUNES, Maria Angela Mattar. Educando meninos e meninas: transmissão geracional da pesca artesanal no ambiente familiar. Psicologia da Educação, n.25 São Paulo. Dez. 2007. Disponível em:

http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414- 69752007000200006. Acesso em 13/05/2016;

NARDINI, Rafael. Homem na Agulha: Porque não tem nada de errado em ser homem e fazer tricô e crochê. HuffpostBrazil. São Paulo. Jun. 2015. Disponível em

http://www.brasilpost.com.br/2015/06/28/homens-na-agulha_n_7676208.html Acesso em 01/05/2016

RICHTER, Ivone Mendes. Interculturalidade e estética do Cotidiano no Ensino das Artes

Visuais. Campinas, São Paulo: Mercado das Letras, 2003;

HOLLANDA, Lula Buarque, TSCHÄPE, Janaína. Coletivos Artísticos do Brasil. Disponível em: https://crowdartizing.wordpress.com/2011/08/16/coletivos-artisticos-no-brasil/. Acesso em

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Figura 1- Durante o recreio meninas e meninos tecem (abril/2016)
Figura 2 - Aluna tecendo em tear alternativo, detalhe ampliado (setembro/2015)
Figura 3 – Produção desenvolvida por equipe de alunas através do crochê (novembro/2016)
Figura 4 - Homens fazendo tricô ao ar livre (São Paulo/2015).
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