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Características funcionais e fisiológicas do destreinamento – respostas hormonais e cardiovasculares

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Características funcionais e fisiológicas

do destreinamento – respostas hormonais

e cardiovasculares

Physiologic and functional characteristics of detraining – hormonal

and cardiovascular responses

Michel Arias Brentano, M.Sc.*,Tiago Santi**

*Ciências de Movimento Humano, **Educação Física

Resumo

Estudos têm demonstrado que o destreinamento causa rever-sões nas adaptações morfológicas e fi siológicas alcançadas com o treinamento. Em um período médio/longo percebem-se ainda reduções no VO2máx, além de um aumento na ventilação, quocien-te respiratório e utilização de glicogênio como fonquocien-te energética. Além disso, ocorrem aumentos na freqüência cardíaca e na pressão arterial de repouso. Paralelo às reduções no desempenho aeróbio, existe uma redução na atividade das enzimas oxidativas e expressão mitocondrial. Porém, algumas enzimas glicolíticas não são alteradas em indivíduos treinados em endurance. Em indivíduos treinados em força ocorre uma elevação da relação testosterona x cortisol após o destreino, provavelmente pela tentativa de manutenção da massa muscular. Em atletas de endurance, os níveis de catecolaminas ten-dem a aumentar, provavelmente pela maior utilização de glicogênio como substrato.

Palavras-chave: adaptações ao destreinamento, exercício físico,

inatividade, adaptações cardiovasculares e hormonais.

Abstract

Studies have shown that detraining leads to a reversal of the morphological and physiological adaptations achieved through training. In the medium/long term reductions are perceived in the VO2max as well as increases in ventilation, respiratory quotient and the use of glycogen as an energy source. Add to that, there is a rise in heart rate and blood pressure. Together with the reductions in aerobic performance, there is a reduction in oxidative enzyme activity and mitochondrial expression. However, some glycolytic enzymes remain unaltered in endurance trained individuals. Strength training individuals show an increase in testosterone x cortisol ratio after detraining, probably to preserve the lean body mass. Endurance athletes show higher catecholamine levels after detraining, probably because the higher glycogen utilization during exercise.

Key-words: detraining adaptations, exercise, inactivity,

cardiovascular and endocrine adaptations.

Endereço para correspondência: Michel Arias Brentano, Laboratório de Pesquisa do Exercício, GPAT, UFRGS, Rua Felizardo, 750, 90690-200 Porto Alegre RS, Tel: (51)3308-5820. E-mail: michel.brentano@terra.com.br

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Introdução

Quando se interrompe ou se reduz o treinamento, seja em seu volume, intensidade ou freqüência, ou mesmo uma associação destes, esta interrupção poderá implicar destreina-mento, sendo este, um processo de descondicio namento que afeta o desempenho através da diminuição da capacidade fi -siológica [1]. Esta interrupção pode ser espontânea, ou condi-cionada devido a uma lesão, às vezes passível de imobilização. Como resultado do destreina mento verifi camos reduções nas adaptações cardiovasculares (VO2máx, capilarização, FC de repouso) e hormonais que infl uenciam de forma nega tiva o desempenho de atletas.

Sendo assim, o objetivo do presente estudo é revisar as principais características funcionais e fi siológi cas acarreta-das pelo destreinamento, causado pela interrupção treina-mento.

O destreinamento

Uma das mais importantes características do músculo esquelético é a sua capacidade de adaptação a variados es-tados e demandas fun cionais, atividades neuromusculares e estímulos hormonais [2]. O treinamento físico implica em estresse fi siológico, que provoca adaptações funcionais no músculo para re sistir a tal estresse. Por outro lado, o processo in verso, ou seja, o destrei namento gera a reversão total ou parcial das adaptações funcionais alcan çadas em treinamento hormonais [2].

Em relação ao treinamento de força, a diminuição na massa magra é mediada pela diminuição no tamanho e/ou número de células musculares, especialmente as fi bras tipo II [3]. Teoricamente, a atrofi a de fi bras musculares extrema-mente hipertrofi adas – como é o caso de atletas altaextrema-mente treinados em força –, especialmente fi bras do tipo II, causa diminuições na força muscular. Alterações hormonais podem também contribuir para a atrofi a. Por outro lado, uma redução na condução neural das unidades motoras pode reduzir a força máxima sem atrofi a muscular [3]. Também é conhecido que em destrei namento ocorrem di minuições na ativação vo-luntária máxima do músculo, e na força em adultos jovens, acompa nhadas de atrofi a mus cular [3].

Em relação às modalidades esportivas essencialmente aeróbias – também conhecidas como esportes de endurance –, reduções no consumo máximo de oxigênio (VO2máx) em destreinamento são associadas a reduções na performance em endu rance [4-8]. Estas alterações são acompanhadas por fatores como redução na atividade de enzimas oxidati-vas [4-6,8-11], alterações cardiooxidati-vasculares e respiratórias [4,6,7,10,12].

Como as adaptações decorrentes do destreinamento são variadas, a seguir, elas serão apresentadas separadamente.

Consumo máximo de oxigênio e respostas

car-diovasculares

Em adolescentes e jogadores de futebol, o destreinamento de 6 meses, reduziu o VO2 máx (volume máximo de oxigênio), aos valores pré-treinamento, tanto para jogadores treinados em endurance, como em sprint [5]. Também são observadas reduções signifi cativas no VO2máx em atletas de endurance, destreinados por longos [6] e curtos períodos [9](Tabela I), juntamente com a redução do limiar de lactato. O mesmo resultado foi verifi cado em indivíduos não-atletas após três [8,10] e oito semanas [4] de abstenção da atividade aeróbica. Costill et al. [12] verifi caram um grande declínio da

capacida-de respiratória muscular (QO2) (Tabela I), após uma semana de destreinamento em nadadores, sugerindo que o QO2 pode não ter uma relação com o VO2máx, já que este não apresenta alterações em um período tão curto (entre 5-12 dias) [11,12]. Esta rápida redução estaria associada a reduções na atividade enzimática mitocondrial após o destreinamento.

Madsen et al. [13] não verifi caram reduções do VO2máx

de atletas de endurance após quatro semanas de destrei-namento, apesar de relatarem uma grande diminuição no tempo de exaustão em exercício submáximo. Esta resposta foi atribuída a um aumento de Mg²+ muscular nos sujeitos destreinados, que poderia ter causado a exaustão, pois, um grande volume de Mg2+ livre, inibiria o retorno de Ca2+ para o retículo sarcoplásmatico; e com menos cálcio disponível, a interação da actina-miosina poderia ser prejudicada. En-tretanto, durante o período de destreinamento, os atletas não permaneceram totalmente inativos, realizando um trabalho de alta intensidade (95% da freqüência cardíaca máxima), com um volume semanal de treinamento bastante reduzido (de ± 8.3 h/semana para 35 min/semana). Talvez este treinamento tenha contribuído para a não alteração em parâmetros como o VO2máx, densidade capilar, ventilação e concentração de lactato, assim como já havia servido para manter a atividade da citrato sintase constante após as quatro semanas.

A freqüência cardíaca sub-máxima [6,7,13], a ventilação [6], e o quociente respiratório (RER) de indivíduos treina-dos em endurance, são aumentatreina-dos após o destreinamento. Particularmente em relação ao RER, esse aumento parece estar associado à maior utilização de carboidratos como substrato energético [6,10,13], que também aumenta após um destreinamento em atletas de endurance. Houston et al.

[9] inclusive, verifi ca ram aumentos na freqüência cardíaca máxima após 15 dias de destreinamento em corredores de elite, enquanto Madsen et al. [13] não relata ram alterações na

freqüência cardíaca máxima e na ventilação após 4 semanas sem treinamento (Tabela I). A pressão arterial apresentou au-mentos em seu valor, que foram acompanhados pelo aumento da tensão vascular periférica, em exercício sub- máximo, após um período de destreinamento em corredores [7]. Ainda, a freqüência cardíaca submáxima de in divíduos não-atletas

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treinados aerobicamente apresenta um aumento após o des-treinamento [4] ou não se altera [8].

O destreinamento pode causar uma redu ção no volume de ejeção cardíaca [7]. O volume sanguíneo também parece so frer infl uência do destreinamento, sendo redu zido em 4 semanas, com uma maior redução no volume de plasma em comparação ao volume de eritrócitos, sendo este fator considerado como um dos principais responsáveis pela re-dução da performance em destreinamento de curto/médio prazo [7]. Justifi cando esta afi rmação, no trabalho citado, os sujeitos realizaram o mesmo teste ao fi nal do destreina-mento, após a elevação artifi cial de seu volume sanguíneo, resultando em reversões de várias variáveis prejudicadas pela inatividade, como volume de ejeção, freqüência cardíaca e tensão vascular periférica, sendo a última, responsável pela re tomada dos valores normais de pressão arterial, sugerindo que o volume sanguíneo infl uencia diversos aspectos da regulação cardiovascular durante o exercício, provavelmente afetando receptores de baixa pressão, sensíveis ao retorno venoso para o coração [7].

Capilarização

Em duas a três semanas de inatividade, a densidade capilar no músculo diminui [2,4]; apesar da redução observada por Klausen et al. [4] não apresentar uma implicação prática,

pois foi acompanhada por atrofi a das fi bras musculares, o que ocasionou um número de capilares por mm² de fi bra idêntico

ao inicial. Madsen et al. [13], em contraste, não verifi caram

alterações na capilarização das fi bras musculares após quatro semanas de destreinamento em endu rance. A diferença arté-rio-venosa de O2 também parece diminuir com 3-8 semanas de destreina mento em atletas de endurance [2].

Alterações bioenergéticas e atividade enzi mática

Verifi cou-se que, em períodos de inatividade, os níveis de lactato dehidroge nase aumentaram em ciclistas e corredores após 7-12 semanas de destreinamento [6,14], enquanto outros pesquisadores [9,13,15]relataram modifi cações em sua atividade.

Atletas de endurance, após um período de inatividade de longa duração, apresentam um aumento da concentração de lactato sanguíneo [6,12], acompa nhada por um aumento da utilização de carboi drato como fonte energética, sendo esta altera ção evidente já no 21° dia de destreinamento [6]; porém em períodos menores de destreinamento (15 dias) não se verifi cou nenhuma alteração na concentração de lactato sanguíneo [9,13].

Apesar das alterações de lactato e redu ção no bicarbona-to sanguíneo verifi cadas por Costill et al. [12], não houve

uma alteração signifi cativa no pH sanguí neo (Tabela II). Já indivíduos não atletas, não apresentam alterações após três semanas de destreinamento subseqüentes ao treinamento de endurance [9], ou podem aumentar a concen tração de lactato sanguíneo [10,16].

Tabela I - Relação dos trabalhos abordando o destreinamento e adaptações cardiovasculares, Onde: A = aeróbio; VO2 máx = consumo

máxi-mo de oxigênio; QO2 = capacidade respiratória muscular; D cap = densidade capilar; RER = quociente respiratório; VS = volume sistólico; VE = volume de ejeção; DC = débito cardíaco; PA = pressão arterial total; TVP = tensão vascular periférica; FC Max = freqüência cardíaca máxima; FC sub = freqüência cardíaca sub-máxima; n.s.= não signifi cativo.

Condições Adaptações cardiorrespiratórias

Referência Período Treino VO2 máx QO2 D cap RER VS VE DC PA TVP FCmáx FCsub

Houston et al [9] 15 dias A - - n.s. - - - + 4 bpm -Klausen et al [4] 8 sem A -15% - - - 10% Fournier et al [5] 6 meses A -11% - - - n.s. -Costill et al [12] 4 sem A - -50% - - - -Coyle et al [6] 12 sem A -15% - - - - -8,9% - - - +5,1% Coyle et al [7] 4 sem A - - - 9% -12% - +7% -Moore et al [10] 3 sem A n.s. - - - n.s. Wibom et al [8] 3 sem A 6% - - - n.s. McCoy et al [11] 10 dias A n.s. - - -

-Tabela II - Relação dos trabalhos abordando o destreinamento e adaptações metabólicas e nos substratos energéticos. Onde: LAC = lactato;

GLI = glicose; GLC = glicogênio muscular; AGL = ácidos graxos; ns = não signifi cativo.

Condições Alterações metabólicas Substratos energéticos

Período Treino pH LAC GLI GLCG AGL

Madsen et al [13] 15 dias aeróbio - n.s. - -

-Costill et al [12] 4 semanas aeróbio - 1% + 131% - - 39,2%

-Coyle et al [6] 12 semanas aeróbio - + 68% - 26,1% - n.s.

Houston et al [9] 3 semanas aeróbio - n.s. - -

-McCoy et al [11] 10 dias aeróbio - - n.s. -

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Com o destreinamento, atletas de endu rance não demons-traram alterações na glicose plasmática [6,11,13] e ácidos graxos livres [6]; porém o conteúdo muscular de glicogênio parece sofrer reduções signifi cantes [12-14]. Madsen et al. [13]

observaram uma alta concentração de ácidos graxos livres, durante o exercício, após o período de destreinamento, sem nenhuma alteração no glicerol plasmático, atribuindo este fator a uma redução da oxidação de ácidos graxos e não a um aumento de sua mobilização, já que o glicerol é um indicador desta mobilização. Este resultado pode ter sido causado pela baixa atividade da enzima beta-hidroxiacil CoA dehidrogenase e/ou um menor transporte de ácidos graxos na membrana da mitocôndria pelo sistema carnitina-palmitil transferase.

Para atletas e não-atletas treinados aero bicamente, o destreinamento parece reduzir a atividade de enzimas oxi-dativas (Tabela III), como a citrato sintase [6,8,10,11,16], a succinato desidrogenase [4-6,9,16], a beta-hidroxiacil-CoA dehidrogenase [6,13,16] a citocromo oxidase [4], a malato dehidrogenase mitocondrial [8,16] e a glutamato dehidro-genase [8].

Entretanto, alguns autores não observam essas respostas, particularmente em relação à malato dehidrogenase citoplas-mática, sucinato citocromo c redutase, NADH citocromo c

redutase e betahidroxiacil-CoA dehidrogenase [8,13] e citrato cintase [13]. Essas respostas podem ser infl uenciadas, em parte, por um destreinamento caracterizado pela prática de treinamento de alta intensidade com um volume muito mais baixo que o normal [13]. Essa possibilidade é sustentada pelos resultados de Fournier et al.[5], que verifi caram uma resposta

da sucinato dehidrogenase diferente em destreinamento após treinamento de endurance e de sprint, reduzindo no primeiro caso, e permanecendo igual no segundo. Entretanto, Houston

et al. [15], avaliando sujeitos treinados em força, não verifi

-caram alterações na atividade da succinato desidrogenase e da após 12 semanas de inatividade.

As avaliações com enzimas glicolíticas (Tabela IV) mostram que a hexoquinase apresenta uma redução em sua atividade com o destreinamento para treinados em endurance [6,16], mas não se altera para treinados em força [15]; enquanto a fosfofrutoquinase [6,12,15,16], a fosforilase [6,9,12,16], a beta-hidroxibutirato dehidrogenase [16], a frutose bi-fosfatase [16], a adenilato quinase [16] e a creatina quinase [16] não foram alteradas pelo destreinamento em indivíduos treinados em endurance. Entretanto, para atletas de força, destreinados por pe ríodos de longa duração, há uma redução na concen-tração plasmática de creatina quinase [18], isto, segundo

Tabela III - Relação dos trabalhos abordando o destreinamento e adaptações enzimáticas 2. Onde: CS = citrato sintase; cMDH = malato

dehidrogenase citoplasmática; mMDH = malato dehidrogenase mitocondrial; GDH = glutamato dehidrogenase; HAD = beta-hidroxiacil-CoA dehidrogenase; SCR = sucinato citocromo c redutase; NCR = NADH citocromo c redutase; COX = citocromo c oxidase; SDH = sucinato dehidrogenase; n.s.= não signifi cativo.

Condições Proteínas e enzimas oxidativas

Referência Período Treino GLUT-4 CS cMDH mMDH GDH HAD SCR NCR COX SDH

Houston et al [15] 15 dias aeróbio - - - 24%

Klausen et al [4] 8 semanas aeróbio - - 35% - - - 40%

Fournier et al [5] 6 meses aeróbio - - - 42%

Chi et al [14] 7 semanas aeróbio - - 39% - - 28% - - 17% - - - - 28%

Houston et al [9] 12 semanas força - - - n.s. - - - n.s.

Coyle et al [6] 12 semanas aeróbio - - 40% n.s. - - n.s. - - - - 25%

Moore et al [10] 3 semanas aeróbio - - 35,7% - - -

-Wibom et al [8] 3 semanas aeróbio - - 10% n.s. - 28% - 17% n.s. n.s. n.s. n.s.

-McCoy et al [11] 10 dias aeróbio - 33,2% - 28,6% - - -

-Tabela IV - Relação dos trabalhos abordando o destreinamento e adaptações enzimáticas 1. Onde: HK = hexoquinase; PFK =

fosfofrutoqui-nase; PRHL = fosforilase; LDH = lactato dehidrogefosfofrutoqui-nase; CK = creatina quifosfofrutoqui-nase; Beta-H = beta-hidroxibutirato dehidrogefosfofrutoqui-nase; Frut-bifos = frutose bi-fosfato; ADEN = adenilato quinase; n.s .= não signifi cativo.

Condições Enzimas anaeróbicas

Referência Período Treino HK PFK PHRL Beta- H Frut-bifos ADEN LDH CK

Houston et al [9] 15 dias aeróbio - - n.s. - - - - 13%

-Klausen et al [4] 8 semanas aeróbio - n.s. n.s. - - - - 10%

-Fournier et al [5] 6 meses aeróbio - - 21% - - -

-Chi et al [14] 7 semanas aeróbio n.s n.s. n.s. n.s. n.s. n.s. + 21,1% n.s.

Houston et al [15] 12 semanas força n.s n.s. - - - - n.s. n.s.

Costill et al [12] 4 semanas aeróbio - n.s. n.s. - - - -

-Coyle et al [6] 12 semanas aeróbio - 20% - n.s. - - - + 20%

-Wibom et al [8] 3 semanas aeróbio - + 16% - - -

-Hortobagyi et al [18] 12 semanas força - - - 82,3%

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Clarkson apud Hortobagyi et al. [18], pode indicar uma

reorganização miofi brilar. Entretanto Houston et al. [9] não

relataram alterações na sua atividade após 12 semanas de ina-tividade subseqüentes ao treinamento de força. Em contraste a estes resultados, Klausen et al. [4] verifi caram uma redução

na atividade da fosfofrutoquinase após destreinamento, assim como Fournier et al. [5] para treinados em sprint - porém a

atividade não se alterou quando o treinamento priorizou a en-durance - enquanto Wibon et al. [8] verifi caram um aumento da atividade da fosfofrutoquinase após destreinamento.

Paralelo as reduzidas atividades enzimá ticas, Wibon et al. [8] observaram reduções na quantidade de mitocôndrias

musculares com o destreinamento em sujeitos sedentários, o mesmo sendo sugerido por Mo ore et al. [10]. Além disso,

McCoy et al. [11] verifi caram um sensível decréscimo de

GLUT-4 após 10 dias de destreinamento em triatletas, para-lelo e altamente correlacionado a uma redução na atividade da citrato cintase (Tabela IV).

Alterações hormonais

Em indivíduos altamente treinados em força muscular, o destreinamento causa um au mento da concentração basal de hormônio de crescimento (GH) e testosterona, com uma di minuição do cortisol plasmático (Tabela V), alterando a relação testosterona x cortisol [18], estes dados sugerem um aumento dos processos anabólicos, possivelmente como

feedback de resposta aos processos catabólicos causados pelo

destreinamento, entretanto, isto não indica necessariamente um aumento no ana bolismo muscular.

Em atletas de endurance, a insulina não apresenta variação na sua concentração após períodos curtos [11,14] ou longos de destreinamento [6]. Apesar disso, mesmo em reduzidos períodos de destreinamento, a sensitividade do organismo à ação da insulina parece ser alterada [11,14], alte rando a utilização de substrato energético du rante o exercício.

Os níveis de adrenalina e noradrenalina não apresentaram variação nas três primeiras semanas de destreinamento, mas ao fi nal de 12 semanas, seus níveis plasmáticos aumentaram em atletas de endurance, entretanto os mesmos níveis não se

alteraram após um teste em inten sidade submáxima (75% do VO2máx), permanecendo os mesmos encontrados no teste antes do destreinamento [6]. Esse au mento na concentração

de catecolaminas circu lante pode ser relacionado em alguns fatores ob servados no destreinamento, entre eles, uma maior utilização de glicogênio como fonte ener gética, e um aumento da freqüência cardíaca e pressão arterial [6].

Conclusão

Verifi ca-se que as reduções no VO2máx nas primeiras sema-nas de destreinamento, po dem ser devido a redução do débito cardíaco [6,19] e, após este período inicial, contribuições como a redução na diferença artério-venosa de O2 [6,19], re-duções na capilarização e atividade das enzimas oxidativas [4] podem ser as principais responsáveis pela queda do consumo máximo de O2. Entretanto o VO2máx não necessariamente se modifi ca na mesma magnitude que as alterações das enzimas oxidativas, sendo que estas últimas apresentam variações muito maiores que o VO2máx [6,7,9,10]. Modifi cações na atividade enzimática são apontadas como uma das principais responsáveis pela diminuição do desempenho aeróbio, sendo que essas alterações parecem ser mais importantes nas fi bras musculares do tipo I [28].

A queda no débito cardíaco seria mediada pela queda no volume de ejeção, e esta, mediada pela redução do volume sanguíneo – o destreinamento parece reverter rapidamente a hipervolemia de estado treinado ದ, dos refl exos cardiovascula-res e/ou do retorno venoso [19]. A redução no VO2máx através deste mecanismo, poderia ser compensada pelo aumento da freqüência cardíaca máxima, apontado em alguns estudos, o que contribuiria para que esta redução fosse pequena. Além disso, esta redução no volume de ejeção poderia ser responsá-vel por uma redução do volume ventricular esquerdo, porém esta redução não é claramente confi rmada.

Também se atribui a responsabilidade das alterações nas respostas metabólicas e cardiovasculares ao aumento da atividade simpato adrenal, já que os aumentos nos níveis plasmáti cos de catecolaminas podem contribuir para grandes aumentos na freqüência cardíaca, ven tilação, e concentração de lactato sanguíneo, devido ao maior uso de substrato energético de rivado de carboidrato. Porém deve-se ressalvar que no estudo citado, os maio res aumentos na freqüência cardíaca e concen tração de lactato sanguíneo ocorreram nos pri meiros 21 dias, e os níveis de catecolaminas permane-ceram praticamente inalterados neste período, mostrando

Tabela V - Relação dos trabalhos abordando o destreinamento e as adaptações hormonais. Onde: I=insulina; C = cortisol; GH = hormônio

do crescimento; T = testosterona; A = adrenalina; N = noradrenalina; ns = não signifi cativo.

Condições Adaptações hormonais

Período Treino I C GH T A N

Madsen et al [13] 15 dias aeróbio - - -

-Costill et al [12] 4 semanas aeróbio - - -

-Coyle et al [6] 12 semanas aeróbio n.s. - - - + 99% + 65%

Houston et al [15] 3 semanas aeróbio - - -

-Hortobagyi et al [18] 12 semanas força - + 21,5% + 58,3% + 19,2% -

-McCoy et al [11] 10 dias aeróbio n.s. - - - -

-Fisiologia do Exercicio_v7n3.indb 143

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uma alteração consistente apenas em períodos mais longos de destreina mento.

Além disso, verifi ca-se que aumentos da pressão arterial, após destreinamento, podem ser causados pela queda da pressão das veias centrais, que causam a vasoconstrição da pele, mús culos inativos e outras áreas periféricas au mentando a tensão vascular periférica. Este aumento da pressão arterial, por sua vez, pode contribuir para as reduções no volume de ejeção cardíaco, por causar de uma sobrecarga na sístole.

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Tabela II - Relação dos trabalhos abordando o destreinamento e adaptações metabólicas e nos substratos energéticos
Tabela III - Relação dos trabalhos abordando o destreinamento e adaptações enzimáticas 2

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