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MAPEAMENTO DE INUNDAÇÕES NO BRASIL: PROPOSTA
DE GESTÃO AMBIENTAL ATRAVÉS DE UM SISTEMA DE
INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS
João Paulo Rodrigues Pacheco da Silva1 H
RESUMO
As inundações são um fenômeno que apresentam gradual aumento nos últimos anos no Brasil. Estas informações são comprovadas pelos registros de desastres disponibilizados pela Secretaria Nacional de Defesa Civil. A análise destes dados possibilitou a geração de diversos mapas que mostram os efeitos das inundações em todo o país. Diante disso, este artigo propõe a utilização de um Sistema de Informações Geográficas como instrumento de Gestão Ambiental de inundações.
Palavras chave: Desastres, Gestão Ambiental, Sistema de Informações Geográficas, Inundações, Defesa Civil.
INTRODUÇÃO
As inundações são fenômenos de ocorrência antiga na historia do planeta, mais antigas que a existência do próprio Homem, ultimamente estas tem ocorrido com grande frequência e magnitudes cada vez maiores em praticamente todas as regiões do Brasil, as conseqüências são grandes prejuízos financeiros e perdas de vidas humanas. Saber coexistir com as inundações através da mitigação dos seus impactos adversos é uma medida que deveria ser adotada pela sociedade civil e órgãos públicos, através de um planejamento urbano e ambiental integrados.
A escolha do tema se justifica em razão dos presentes problemas e preocupações ambientais relacionados às inundações. O crescimento desordenado e acelerado das cidades, em conjunto com a falta de planejamento urbano e ambiental, propiciou o surgimento e ocupação de áreas consideráveis em relação à ocorrência de riscos e
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desastres naturais e sociais, estes fatores tem uma estreita relação com a vulnerabilidade social de determinadas populações, tendo como conseqüências prejuízos materiais de grande monta.
O levantamento e análise de dados sobre a ocorrência de desastres comunicados a Defesa Civil, possibilitaram a elaboração de mapas de inundações, desastres e vítimas. A distribuição espacial destes fenômenos apresentam números impressionantes quanto a ocorrência e vítimas das inundações. O uso destes mapas pode servir como ferramenta para a elaboração de um Sistema de Informações Geográficas para gestão ambiental e controle de inundações nas escalas municipal, estadual e/ou federal.
Ocorrência de inundações e desastres ambientais no Brasil
Na busca por um maior conforto a população passou a viver em um meio marcadamente artificial, construído, no qual os rios se tornaram o lugar de destino da água pluvial e de lançamento de efluentes de diversas origens. Dessa maneira as cidades vêm se expandindo, registrando um aumento dos índices de adensamentos demográficos, que na maioria dos casos não contam com qualquer tipo de planejamento, o que leva a deterioração e exploração não racional dos recursos naturais, especialmente dos recursos hídricos. Isto é, na busca de uma equivocada qualidade de vida, deterioram-se os recursos ambientais.
A realidade brasileira, no contexto dos desastres ambientais pode ser caracterizada pela frequência dos desastres naturais cíclicos, especialmente as inundações em todo o país; pela seca na região Nordeste, e um crescente aumento dos desastres antropogênicos, devido ao crescimento urbano desordenado, às migrações internas e ao fenômeno da urbanização acelerada sem a disponibilidade dos serviços essenciais relativos às infra-estruturas urbanísticas, de saneamento, entre outros. (BRASIL, 2007, p.14).
Marcelino (2007 p. 19), utilizando dados sobre desastres do Banco Global
Emergency Events Database (EM-DAT), mostrou que ocorreram 150 registros de
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Diante destas conjunturas, os tipos de desastres mais freqüentes no Brasil nos últimos anos foram as inundações, representadas tanto pelas graduais como pelas bruscas, com 59% dos registros totais, seguidas pelos escorregamentos, com 14% de registros. A grande maioria dos desastres no Brasil, cerca de 80%, está associada às instabilidades atmosféricas severas, que são responsáveis pelo desencadeamento de inundações, vendavais, tornados, granizos e escorregamentos. Com relação à distribuição espacial, mais de 60% dos casos ocorreram nas regiões Sudeste e Sul. (MARCELINO, 2007, p. 19).
Na busca de uma melhor compreensão deste artigo, torna-se necessário conceituar o
termo inundação, que de acordo com a Secretaria Nacional de Defesa Civil (SEDEC), é definido como:
inundações são causadas pelo afluxo de grandes quantidades de água que, ao transbordarem dos leitos dos rios, lagos, canais e áreas represadas, invadem os terrenos adjacentes, provocando danos. As inundações podem ser classificadas em função da magnitude e da evolução. (BRASIL, 2007, p. 45)
Kobiyama (2008, p.8) conceitua tal evento como:
a inundação é o resultado de uma grande quantidade de chuva que não foi suficientemente absorvida por rios e outras formas de escoamento, causando transbordamentos. A situação é pior nas cidades, porque os prédios, casas e o asfalto recobrem áreas antes cobertas por vegetação, que em um momento anterior seguravam a água no solo e também absorviam parte da chuva, isso tudo impede que a água se infiltre no solo, gerando a chamada "impermeabilização do solo.
O uso de geotecnologias no combate a desastres e como instrumento de suporte ao
planejamento urbano e ambiental.
Uma das principais ferramentas que podem ser utilizadas na gestão de riscos são as chamadas geotecnologias, representadas especialmente pelo Sistema de Informações Geográficas (SIG), o Sensoriamento Remoto e o Sistema de Posicionamento Global (GPS). As geotecnologias possibilitam a coleta, armazenamento e análise de grande quantidade de dados, que devido a complexidade dos desastres naturais, seriam praticamente inviáveis de serem tratados utilizando os tradicionais métodos analógicos.
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e regional. É utilizado largamente como fonte de tomada de decisões sobre problemas urbanos e ambientais, sendo uma ferramenta que pode ajudar em muito os administradores públicos na gestão do espaço urbano.
O que distingue um SIG de outros tipos de sistemas de informação são aquelas funções que possibilitam a realização de análises espaciais. Tais funções utilizam os atributos espaciais e não-espaciais das entidades gráficas armazenadas na sua base de dados, buscando fazer simulações sobre os fenômenos do mundo real, seus aspectos ou parâmetros. O aspecto mais fundamental dos dados tratados em um SIG é a natureza dual da informação: um dado geográfico possui uma localização geográfica e atributos descritivos. Outro aspecto muito importante é que os dados geográficos não existem sozinhos no espaço: tão importante quanto localizá-los é descobrir e representar as relações entre os diversos dados (INPE, 2009).
A importância da utilização de um SIG pelas autoridades governamentais, se mostra presente em algumas etapas da gestão ambiental, como: prevenção, preparação, resposta e reconstrução, que de acordo com MARCELINO, (2008, p. 33-34) seriam:
O uso das geotecnologias na prevenção concentra-se basicamente nas avaliações de risco. Os dados geoambientais que podem ser obtidos com o auxílio das imagens de satélite e GPS, são transformados em planos de informações no SIG.
Na preparação, momentos antes do impacto, as geotecnologias são utilizadas na definição de rotas de evacuação, identificação de abrigos e centros de operações de emergência, além da criação e gerenciamento de sistemas de alerta e elaboração de modelos meteorológicos e hidrológicos utilizados na previsão.
Nas ações de resposta, com um SIG é possível gerenciar de maneira eficiente e rápida, as situações mais problemáticas, como as ações de combate a sinistros (conter efeitos adversos) e de socorro às populações afetadas (busca e salvamento). No SIG, um banco de dados associados a um mapa da área urbana, poderá fornecer informações completas sobre abrigos, hospitais, polícia, bombeiros, entre outros. Já o GPS é extremamente útil nas operações de busca e salvamento em áreas que foram devastadas. Essas áreas ficam muitas vezes descaracterizadas dificultando a orientação e a localização de ruas e edificações.
Na reconstrução, as geotecnologias também são amplamente usadas na realização do inventário, avaliação dos danos e na identificação de áreas seguras para a realocação e reconstrução das comunidades afetadas. Informações estas que posteriormente são inseridas em um banco de dados para serem utilizadas novamente na fase de prevenção e preparação do risco e na gestão ambiental.
A ação defesa civil e o mapeamento de desastres e vítimas
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em sua página eletrônica – Hhttp://www.defesacivil.gov.br/H – os registros dos desastres ocorridos no pais, e comunicados à Defesa CivilF. Os dados referentes período ano de 2008, indicam a ocorrência de um grande número de desastres no Brasil, em particular as inundações, que vitimaram mais de 1.500.000 pessoas. As informações detalhadas sobre tais eventos serão apresentadas em um anexo ao final deste artigo.
Num cenário de extensão continental, com cerca de 8,5 milhões km² 7.367 km de litoral banhado pelo Oceano Atlântico e 191.480.630 milhões de habitantes (IBGE 2009), o Brasil apresenta características regionais específicas quanto à ocorrência de desastres ambientais, onde de acordo com (BRASIL, 2009a) os desastres naturais mais prevalentes são:
– Região Norte: incêndios florestais e inundações; – Região Nordeste: secas e inundações;
– Região Centro-Oeste: incêndios florestais; – Região Sudeste: deslizamento e inundações; – Região Sul: inundações, vendavais e granizo.
Uma pesquisa sobre informações básicas municipais realizada em 2002 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apresentou um panorama interessante sobre a incidência de desastres no Brasil. Destacando a ótica do gestor municipal, foi mostrado que no Brasil entre os maiores desastres destacam-se as inundações e que este processo está associado à degradação de áreas frágeis, potencializado pelo desmatamento e ocupação de áreas irregulares. Os dados revelam que cerca de 50% dos municípios brasileiros declararam ter sofrido algum tipo de alteração ambiental nos 24 meses anteriores à pesquisa, sendo 19% relacionados às inundações. Este tipo de informação conduz os pesquisadores à conclusão de que no Brasil há uma relação muito estreita entre o avanço da degradação ambiental, a intensidade do impacto dos desastres e o aumento da vulnerabilidade social. (BRASIL, 2005, p. 220).
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Figura 1: Mapa de inundações no Brasil em 2008. Fonte: Brasil, 2009b. Organização: Silva.
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Figura 3: Mapa regional de inundações no Brasil em 2008. Fonte: Brasil, 2009b. Organização: Silva.
Discussao dos dados sobre desastres e proposições
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Como dito anteriormente, a inundação é um fenômeno que tem sua ocorrência
atribuída a inúmeras variáveis, tais como: impermeabilização do solo, alta declividade do
terreno, ocupação de áreas de várzea entre outros, além da vulnerabilidade social, que é a
causa que leva muitas pessoas a ocuparem áreas de risco.
Uma das formas de diminuir as estatísticas sobre desastres e vítimas, é através da
prevenção dos riscos que se efetiva com a elaboração de
mapeamento de riscos
. Segundo
Brasil (2006, p. 49) de início, é necessário definir quais as áreas que serão objeto do
mapeamento de risco, bem como a localização e a dimensão das mesmas. O Programa de
Redução de Riscos do Ministério das Cidades recomenda que sejam priorizados os
assentamentos precários nos quais já tenham sido registrados acidentes. Neste caso, a
utilização dos mapas de desastres e de vítimas é uma importante ferramenta para a redução
dos desastres de situações de risco. Em seguida, para que seja possível uma visualização da
distribuição das áreas de risco mapeadas, é desejável que seja elaborado um mapa de
localização destes locais, em escala que permita a análise da distribuição espacial destas
áreas. Os dados componentes deste mapa de risco podem ser cruzados em um Sistema de
Informações Geográficas, gerando um mapa de riscos final.
Considerações finais
Saber coexistir com as inundações através da mitigação dos seus impactos adversos
é uma medida que deveria ser adotada pela sociedade civil e órgãos públicos, através de um
planejamento urbano e ambiental integrados. Uma outra medida que poderia ser tomada
neste sentido é a elaboração de um Sistema de Informações Geográficas que poderia servir
de instrumento de gestão ambiental e de planejamento urbano, assim de um zoneamento
ambiental que orientaria as áreas a serem ocupadas e os locais do município onde a
ocupação seria restrita ou proibida.
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ANEXO
Estado Região Sigla total desastres 2008 inundações 2008 vitimas 2008*
DISTRITO FEDERAL CENTRO-OESTE DF 3 2 900
ACRE NORTE AC 3 3 13,826
ALAGOAS NORDESTE AL 7 4 2130
AMAPA NORTE AP 4 2 7,500
AMAZONAS NORTE AM 16 8 48,806
BAHIA NORDESTE BA 13 3 6,417
ESPIRITO SANTO SUDESTE ES 37 21 78,778
GOIAS CENTRO-OESTE GO 3 2 84029
MARANHAO NORDESTE MA 73 70 176106
MATO GROSSO CENTRO-OESTE MT 27 12 80338
MATO GROSSO DO SUL CENTRO-OESTE MS 10 5 29230
MINAS GERAIS SUDESTE MG 67 32 94990
PARA NORTE PA 32 25 175327
PARANA SUL PR 31 0 0
PERNAMBUCO NORDESTE PE 4 2 800
RIO DE JANEIRO SUDESTE RJ 64 39 287667
RIO GRANDE DO NORTE NORDESTE RN 94 38 234736
RIO GRANDE DO SUL SUL RS 146 25 37134
RONDONIA NORTE RO 4 3 2014
RORAIMA NORTE RR 0 0 0
SANTA CATARINA SUL SC 94 51 94071
SERGIPE NORDESTE SE 5 2 2060
TOCANTINS NORTE TO 8 0 0
SAO PAULO SUDESTE SP 16 2 1450
CEARA NORDESTE CE 46 29 106206
PIAUI NORDESTE PI 21 19 112042
PARAIBA NORDESTE PB 3 3 12139
*Vítimas de inundações.
BRASIL. Ministério da Integração Nacional. Secretaria Nacional de Defesa Civil. Ocorrência de desastres . 2009.
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Referências
BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Ministério do Meio Ambiente. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa de informações Básicas Municipais. Perfil dos Municípios Brasileiros. Brasília, 2005.
______. Ministério das Cidades. Prevenção de Riscos de Deslizamentos em Encostas: Guia para Elaboração de Políticas Municipais. Brasília, 2006.
______.Ministério da Integração Nacional. Secretaria de Defesa Civil. Política Nacional de Defesa Civíl. Brasília, 2007.
______.Ministério da Integração Nacional. Secretaria Nacional de Defesa Civil.
Sistema Nacional de Defesa Civil . 2009a. Disponível em:
<http://www.defesacivil.gov.br/sindec/index.asp>. Acesso em: 28 mar. 2009.
______.Ministério da Integração Nacional. Secretaria Nacional de Defesa Civil.
Situação de Emergência ou Calamidade Pública. 2009b. Disponível em: <http://www.defesacivil.gov.br/situacao/documentos.asp>. Acesso em: 28 mar. 2009
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Estimativa das populações residentes, em 1 de Julho de 2009. 2009. Disponível em: <
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/estimativa2009/POP2009_DOU.pdf
>. Acesso em: 24 ago. 2009.
KOBIYAMA, M. (Org.) Projeto universitário de extensão “Aprender hidrologia
para prevenção desastres naturais”. Disponível em:
<http://hercules.cedex.es/hidraulica/PROHIMET/Br07/Comunicaciones/Kobiyama-yvarios.pdf.>. Acesso em: 10 fev. 2008.
MARCELINO, E. V. Desastres naturais e geotecnologias: conceitos básicos. Santa
Maria: INPE, 2007. Disponível
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______. Desastres naturais e geotecnologias: conceitos básicos. Santa Maria: INPE, 2008.