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RENATA AZEVEDO ANDREUCCI O URBANO E O SANITÁRIO NA TRANSFORMAÇÃO DO ESPAÇO EM CAMPINAS

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Academic year: 2019

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

RENATA AZEVEDO ANDREUCCI

O URBANO E O SANITÁRIO NA TRANSFORMAÇÃO

DO ESPAÇO EM CAMPINAS

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Renata Azevedo Andreucci

O urbano e o sanitário na transformação

do espaço em Campinas

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Arquitetura e Urbanismo

Orientadora: Profa. Dra. Maria Isabel Villac

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3 A561u Andreucci, Renata Azevedo.

O urbano e o sanitário na transformação do espaço em Campinas / Renata Azevedo Andreucci – 2009.

191f. : il. ; 30 cm.

Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2009. Bibliografia: f. 127-140.

1. Urbanismo sanitarista. 2. Higienismo. 3. Planejamento urbano. 4. Saturnino de Brito. 5. Prestes Maia. I. Título.

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RENATA AZEVEDO ANDREUCCI

O URBANO E O SANITÁRIO NA TRANSFORMAÇÃO DO ESPAÇO EM CAMPINAS

Dissertação apresentada à Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Arquitetura e Urbanismo

Aprovado em

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________ Profa. Dra. Maria Isabel Villac - Orientadora

Universidade Presbiteriana Mackenzie

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AGRADECIMENTO

Há muito que agradecer e para muitos.

À minha orientadora, professora Dra. Maria Isabel Villac, por acreditar em mim e me incentivar com comentários sempre preciosos e generosos.

À banca de qualificação, professoras Dras. Eunice Abascal e Marica Cristina Schicchi, por sugerirem novos olhares sobre a cidade e pela indicação bibliográfica que muito contribuiu para a finalização dessa dissertação.

Aos meus amigos de toda hora: Flávia Nunes, Ana Paula M. Soares, Michel Farah, Fernando Prestes, Ana Paula Pedro, Luciana Antunes, Marcela Miranda, Bertha e Luis Renato, pela constante torcida pelo meu sucesso.

Aos meus familiares em especial: Maria Helena Ferreira do Nascimento, Maria Lucia Godoy, Gilberto Ferreira dos Santos, Maria von Ihering de Azevedo, Mario e Yolanda Andreucci e Rodolfo Azevedo.

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RESUMO

Aborda as questões relacionadas à implantação do urbanismo sanitarista nas cidades e do planejamento urbano, com intuito de ordenar o crescimento acelerado das cidades. Relata a atuação do engenheiro sanitarista, Francisco Saturnino de Brito e do engenheiro urbanista Francisco Prestes Maia e a influência no processo de transformação do espaço urbano de Campinas. A cidade, localizada no interior do estado de São Paulo, teve sua origem a partir do estabelecimento de tropas que seguiam em direção às minas de ouro. Constituiu-se como vila no ciclo da cana de açúcar e estava em processo intenso de modernização, com a consolidação do complexo cafeeiro, quando teve sua população dizimada por três grandes surtos consecutivos da epidemia de febre amarela. O trabalho compara algumas propostas inovadoras feitas por Saturnino de Brito, na condição de Chefe do Distrito da Comissão Sanitária do Estado de São Paulo; e de Prestes Maia, no Plano de Melhoramentos Urbanos. Conclui que o planejamento urbano é fundamental para direcionar o crescimento natural das cidades, antecipando a resolução dos principais problemas.

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ABSTRACT

The paper deals with issues related to the implementation of the town planning health in the cities and of the urban planning to order the accelerated growth of the cities. It relates the action of the sanitary engineer, Francisco Saturnino de Brito and the town planner engineer Francisco Prestes Maia and their influence in the transformation of the urban space of Campinas. The city, located in the inland area of the state of São Paulo, had his origin from the establishment of troops that followed in the direction of the goldmines. It became a town in the cycle of the sugar cane and since then was in intense process of development, with the consolidation of the coffee complex, when its population was devastated by three big consecutive outbreaks of the epidemic of yellow fever. The paper compares some innovative proposals of Saturnino de Brito, in the condition Chief Sanitary District Commission of the State of São Paulo; and of Prestes Maia, the Urban Improvement Plan. It concludes that the urban planning is fundamental to control the natural growth of the cities, avoiding the major problems.

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SUMÁRIO:

INTRODUÇÃO --- 10

CAPÍTULO I – Breve história da formação da arquitetura de Campinas --- 15

1.1 O povoamento --- 15

1.2 A vila da cana-de-açúcar --- 25

1.3 A cidade do café --- 38

CAPÍTULO II – A questão do saneamento enquanto parâmetro urbanístico --- 60

2.1 As cidades e a peste --- 60

2.2 A epidemia de febre amarela em Campinas --- 69

2.3 A presença de Saturnino de Brito na cidade de Campinas --- 78

CAPITULO III - A questão do urbanismo na modernização de Campinas --- 93

3.1 As cidades e urbanismo --- 93

3.2 Plano Prestes Maia --- 99

CONSIDERAÇÕES FINAIS --- 125

ANEXO A - Relatório de 1897 da Comissão de Saneamento do Estado de S. Paulo ---- 136

ANEXO B - Relatório sobre o caráter e o programa do Plano de Urbanismo de Campinas, 1934 --- 142

ANEXO C - Relatório da exposição preliminar, 1934 --- 146

ANEXO D - Ato no 118 de 24/03/1938 – Aprova o Plano de Urbanismo de Campinas --- 178

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“En mi peregrinación en la busca de la modernidad me perdí y me encontré muchas veces. Volvi a mi origen y descubrí que la modernidad no está afuera sino adentro de nosostros.”

Octavio Paz Discurso em Estocolmo, em 08 de novembro de 1990,

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INTRODUÇÃO

As cidades se modificam constantemente

respondendo a demanda de diversas naturezas e Campinas não foge a regra. A cidade, localizada no interior do estado de São Paulo, teve sua origem a partir do estabelecimento de tropas que seguiam em direção as minas de ouro. Constituiu-se como vila no ciclo da cana-de-açúcar e estava em processo intenso de modernização, com a consolidação do complexo cafeeiro, quando teve sua população dizimada por três grandes surtos consecutivos da epidemia de febre amarela.

Saturnino de Brito foi contratado, pela Prefeitura

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Outro momento de remodelação urbana foi com

o Plano de Melhoramentos Urbanos, que teve seu início definido pela contratação, em 1934, do engenheiro arquiteto Francisco Prestes Maia. Este, como urbanista, propôs que a antiga cidade cafeicultora passasse a ser pensada sob o aspecto funcional, dividida em quatro aspectos: habitação, recreação, trabalho e circulação.

O objetivo do trabalho que apresentamos é

estudar e resgatar a história econômica e social da importante cidade, Campinas, avaliando sua condição urbana e ambiental contemporânea. Visa também apontar conceitos urbanísticos que poderão contribuir para a prática do planejamento urbano no país.

O foco do trabalho é comparar as intervenções

apontadas no parecer proposto pelo engenheiro sanitarista Saturnino de Brito à cidade, em 1896, e as propostas do Plano de Melhoramentos Urbanos de Campinas, desenvolvido entre 1934 e 1962.

O trabalho compreenderá o período que

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12 Plano de Melhoramentos Urbanos, instituídos pelo Ato Municipal número 118 de 23 de abril de 1938. Este limite foi determinado para compreender alguns aspectos na formação da cidade de Campinas que induziram a contratação de Saturnino de Brito, em 1896, e depois a de Francisco Prestes Maia [1896-1965], em 1934, até a aprovação do Plano de Melhoramentos.

Na dissertação procuraremos responder, ao

longo de três capítulos, algumas questões:

1. Quais foram as condições que propiciaram a

contratação de Saturnino de Brito, em 1896?

2. Quais as intervenções do plano de

saneamento foram resgatadas ou complementadas com o Plano de Melhoramentos Urbanos proposto por Prestes Maia?

3. Quais os conceitos urbanísticos utilizados

pelos dois profissionais em que as propostas estavam assentadas?

A primeira tarefa com que nos deparamos foi a

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13 depois com processo intenso de modernização beneficiado pelas plantações de café. Buscamos compreender, no primeiro capítulo, as razões que justificariam, mais tarde, a necessidade de remodelação urbana em Campinas.

O segundo capítulo aborda as questões

relacionadas à implantação do urbanismo sanitarista nas cidades e as principais práticas adotadas pelos higienistas. Relata a atuação do engenheiro sanitarista, Francisco Saturnino de Brito e sua influência no processo de transformação do espaço urbano de Campinas. Procuramos avaliar, a partir da história, algumas questões atuais sobre a estrutura urbana.

O terceiro capítulo tratará o Plano de

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O último capítulo fará a comparação dos dois

planos e uma breve análise das propostas posteriores ao Plano de Saneamento e o de Melhoramentos Urbanos que foram feitas e as em andamento na cidade. Buscamos compreender os pontos em comum encontrado nas propostas e ver seu rebatimento na cidade nos dias atuais.

A abordagem do trabalho teve como objetivo

descrever, da maneira mais precisa possível, as propostas pioneiras feitas pelos dois profissionais, caracterizando aspectos singulares na configuração encontrada na cidade atualmente.

Ao final do trabalho pretendemos oferecer uma

contribuição a outros pesquisadores, incentivando

estudos mais aprofundados das práticas de

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Capítulo I:

BREVE HISTÓRIA DA FORMAÇÃO DA

ARQUITETURA DE CAMPINAS

1.1 – O povoamento

Campinas nasceu como muitas outras cidades do Brasil, resultante de pousos de Bandeirantes Paulistas, que partiam de São Paulo e Parati e seguiam principalmente para Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, em busca de ouro, pedras preciosas e escravizando índios. Os viajantes percorriam o caminho dos Guaiases, uma rústica picada, aberta em 1722, que ligava São Paulo às novas jazidas de ouro. Seu traçado permanece até hoje no desenho da cidade, atualmente encontrado na Rua Coronel Quirino e Itu, e no encontro com a Avenida Doutor Moraes Sales ficava o primeiro pouso de tropeiros (Figura 01).

Figura 01 – Localização do primeiro pouso na foto aérea da cidade de Campinas.

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16 A cidade originou-se de três pousos de tropeiros, os chamados “campinhos” (Figura 02), que floresceram às margens de três cursos d´água. O primeiro era banhado pelo Córrego Lavapés, atualmente conhecido como Córrego Proença. Já o segundo “campinho” era utilizado para descanso e pastagem das tropas de mulas, que por muitos anos foi conhecido como largo do capim e ficava próximo do córrego do Tanquinho, que servia de bebedouro de animais (SANTOS, 2004, p.60).

O terceiro pouso fazia parte do bairro chamado Santa Cruz, atual Largo da Santa Cruz, e era abastecido pelos córregos Tanquinho e Barbosa. Este último, depois conhecido como córrego Serafim e, atualmente, canal da Avenida Orosimbo Maia.

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Figura 02 – Na primeira imagem a localização provável dos campinhos no mapa de Campinas de 1879: na baixada da Av. Moraes Sales, na Praça Carlos Gomes e na baixada das Av. Brasil e Orozimbo Maia. Na segunda imagem a localização dos pousos na foto aérea atual.

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18 O declínio da mineração reduziu o trânsito nas estradas e os pousos foram perdendo a importância. Alguns viajantes permaneceram nas instalações, iniciando, assim, lentamente a formação de um bairro rural, pertencente à Vila de Jundiaí, denominado Bairro do Mato Grosso de Campinas.

No bairro rural, formado a partir de 1745, viviam cerca de 200 pessoas que dependiam totalmente de Jundiaí, onde resolviam suas pendências jurídicas e

administrativas, exerciam atividades políticas,

participavam de festas, cumpriam deveres religiosos (BADARÓ, 1996, p.18).

Sem assistência religiosa no local, os imigrantes eram obrigados a ir a Jundiaí para se desobrigarem de seus deveres para com Deus. Faltava-lhes uma igreja, que, por um lado, atendesse às suas necessidades espirituais e, por outro, Ihes servisse de ponto de encontro, nas horas de lazer (A EVOLUÇÃO DE CAMPINAS, jornal Correio Popular, Campinas, 1980).

Figura 03 – Sítio do Calu, Embu, em 1942.

Exemplar de casa banderista em taipa de pilão. Fonte: Lemos, 1999, p. 48

Legenda:

C: cozinha;

Co: corredor ou alpedre de

distribuição;

O: oratório;

Rh: dormitório de hóspedes;

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19 Em 14 de julho de 1774, o antigo pouso dos Bandeirantes foi elevado à categoria de Freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Campinas de Mato Grosso. Na data da inauguração foi celebrada uma missa em uma capela que, segundo Mariano (1974), era pequena e improvisada, pois não haveria tempo e dinheiro o bastante para a localização da Igreja Matriz (Figura 04). Sua provável construção é onde atualmente está o monumento-túmulo de Carlos Gomes, na praça Bento Quirino (Figura 05).

A fama de boas qualidades das terras de Campinas espalhou-se por outros lugares e atraiu para ela grande número de pessoas, entre outras, Francisco Barreto Leme e no antigo lugar, hoje denominado Campinas Velha, foram construídas as primeiras casas (GUIMARÃES, 1953, p.23).

A freguesia era o centro religioso de uma

pequena comunidade rural, dedicada a atividades de subsistência e a policultura rudimentar. O principal produto cultivado pelos poucos moradores era o milho e posteriormente a cana-de-açúcar.

Figura 04 - Igreja Matriz Velha de Campinas, (1848)

Aquarela de Hercules Florence, 20,5 x 30 cm

Fonte: SANTOS, 2004, p.61

Figura 05 - Estátua Carlos Gomes. Campinas, (190_)

Cartão postal, Casa do Livro Azul

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20 A criação da freguesia já demonstrava as primeiras delimitações urbanas (Figura 06). De acordo com o autor Matos (2006, p.38), o então capitão-general, atualmente chamado de governador, ao atender à petição dirigida por Francisco Barreto Leme, estabeleceu que a povoação fosse formada por quadras com largura de sessenta ou oitenta varas cada uma, e que as ruas fossem formadas em quadras de modo que os quintais ficassem para dentro a entestar uns com os outros. E o autor Lamas (1992, p.58) explica que

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Figura 06 – Mapa de Campinas em 1900 de Leopoldo Amaral com a situação urbana da cidade em 1774 com o núcleo urbano consolidado (em laranja)

e o rossio ¼ léguas (em amarelo). Desenho do Arquiteto Ricardo de Souza Campos Badaró.

Fonte: FERREIRA, 2007, p. 21

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22 Barreto Leme tinha como compromisso impulsionar a criação do povoado, nem que para isso fosse necessário doar parte de suas terras. Ele concedeu um quarto de légua de sua propriedade em torno da atual Praça Bento Quirino (Figuras 07 e 08). Alguns historiadores, como é o caso de Lapa (1996, p.49), cita que ele cedeu parte de sua propriedade à padroeira da cidade, Nossa Senhora da Conceição.

Esse quadrilátero está marcado pela multiplicidade de usos, pode ser considerado o marco zero da cidade, delimitado por quatro ruas: Rua de Cima (Barão de Jaguara), Rua Sacramento, Rua da Matriz Velha (Barreto Leme) e Rua da Cadeia (Bernardino de Campos). Chamado de Largo da Matriz Velha (Carmo), ele concentrava a simbologia do poder da cidade, tanto o religioso quanto o judiciário e administrativo. Pode assistir a evolução histórica, social, urbana, desde as celebrações na antiga capelinha – por ocasião da fundação da Freguesia (separada da de Jundiaí e sujeita à autoridade diocesana de São Paulo) até a elevação para a Vila – as primeiras eleições, à construção dos primeiros sobrados, os cortejos dos cidadãos ilustres e membros do clero que eram enterrados na igreja, as festas religiosas e o crescimento à sua volta (BATTISTONI FILHO, 2002, p.13).

Figura 07– Praça Bento Quirino - Autor e data desconhecidos Fonte: RIBEIRO, 2006, p. 119

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24 Os imigrantes que no povoado se instalaram, plantavam gêneros para sua subsistência e vendiam os excedentes. O principal produto, neste período, era o milho. Essa situação só iria se modificar com a introdução da lavoura da cana-de-açúcar (Figura 09).

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1.2 - A vila da cana-de-açúcar

Em 16 de novembro de 1797, Antônio Manuel de Melo Castro e Mendonça, então governador da Capitania de São Paulo, depois de avaliada a solicitação de 47 moradores, em sua maioria donos de engenho, elevou o povoado e determinou a instalação da Vila de São Carlos, como mostra o texto transcrito a seguir:

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de 1705 e outras ordens posteriormente dirigidas aos Governadores e Capitães-Generais desta capitania: hei por bem ordenar no Real Nome da sua Majestade e por serviço da mesma Senhora ao Doutor Ouvidor-geral desta cidade e comarca Caetano Luís de Barros Monteiro, que passando em continente à mencionada freguesia das Campinas, faça erigir a sua população em Vila, cuja se denominará - Vila de São Carlos – levantando aí pelourinho e assinado-lhe termo de que mandará lavrar auto, o que será remetido às Câmaras confinantes, para nelas ficar registrado. E demarcará também logo lugar e terreno para os Paços do conselho e cadeia, procedendo à eleição dos juízes, vereadores e mais oficiais da Câmara, que hão de servir por confirmação minha, o primeiro ano que terá princípio em janeiro de mil setecentos e noventa e oito. São Paulo, 16 de novembro de 1797 (MATOS; RICCI, 1985, p.22).

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Campinas fundada em 1774, já em 1797 atingia desenvolvimento suficiente para se tornar vila, o que não era comum no Brasil português, pois na capitania de São Paulo, muitas freguesias se tornaram mais que centenárias para atingir foros de promoção (PUPO, 1983, p.22).

Por volta dos anos de 1790-95, a Vila de São Carlos se lançou a cultura extensiva da cana e na indústria açucareira; “surgiram os engenhos com seu poderio, formando, cada um, centro autônomo de produção, com sua vida independente, auto-suficiente, abastecendo-se pelas próprias forças.” (PUPO, 1983, p.24). O comércio era voltado para a exportação, modificando os hábitos da vila e “imprimindo os primeiros traços de riqueza” (BADARÓ, 1996, p.21) (Figuras 10 e 11).

As casas térreas que predominavam na freguesia, pequenas e toscas, construídas de pau-a-pique, dispostas nos cantos das quadras, com amplos muros de barro vermelho ao longo do alinhamento, cederiam lugar para casario mais denso, seqüência de portas e

Figura 10 – Aquarela de Hércules Florence, em 1834, visualizando a implantação do engenho Salto Grande, em Americana

Fonte: LEMOS, 1999, p. 85

Figura 11 - Aquarela de Hércules Florence, em 1843, mostra escravos trabalhando ao longo da fornalha para aquecimento e evaporação do caldo de cana.

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janelas, interrompida por poucos casarões, e alguns sobrados construídos com taipa de pilão (BADARÓ, 1996, p.22) (Figura 12).

No primeiro recenseamento feito em Campinas, em 1775, a freguesia possuía menos de 400 habitantes, compostos por 39 famílias. No ano seguinte o número foi elevado para 444, sendo 51 famílias. Um terceiro recenseamento, em 1795, 1877 habitantes, sendo 283 moradores na área urbana.

A fama de fertilidade das terras campineiras cresceu e o desenvolvimento da cana de açúcar na vila e região constituiu o chamado “quadrilátero do açúcar”, que incluía ainda Itu, Piracicaba, Jundiaí e Mogi Mirim, favorecendo o crescimento e o desenvolvimento do povoado.

O próprio sistema de transportes passou por substancial transformação, pois pouco adiantariam os elevados índices de produção sem condições favoráveis que ligassem ‘as vilas de açúcar’ ao litoral. (...) Por Campinas passava o velho caminho dos ‘guaiazes’. Daqui saíam caminhos que demandavam o

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oeste e o sul da Capitania, estabelecendo ligações com as rotas de gado para o extremo meridional do país; aqui, articulava-se um emaranhado de caminhos demandando outras vilas, algumas bem distantes. E, sobretudo, esse sistema de transportes e comunicações de estabilidade à vida econômica (MATOS, 2006, p. 28).

A maioria dos habitantes era de agricultores. Porém, com o desenvolvimento da cana-de-açúcar, outras atividades se desenvolveram dentro do quadrilátero, para dar suporte comercial de gêneros, roupas, utensílios, ferramentas, etc. Os “engenheiros”, como eram conhecidos os donos de engenho de cana, foram os primeiros líderes políticos de Campinas e região.

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30 arquitetura resultante dessa técnica construtiva era limitada à composição de fachadas. Havia a predominância de cheios e vazios, devido a fragilidade que um número de portas e janelas acarretava às

paredes (BATTISTONI FILHO, 2004, p.15) (Figura 13).

O viajante Saint-Hilaire, em 1819, observou que em Campinas “as suas ruas não são muito largas e suas casas são novas, unidas umas às outras, cobertas de telhas e construídas, em sua maioria, com terra socada

(taipa)” (SAINT-HILARE, 1972).

É preciso acentuar que, nessa época, ainda eram desconhecidos os equipamentos de precisão de topografia e os traçados das ruas eram praticados por meio de cordas e estacas. A impressão de monotonia era acentuada pela ausência de verde. Inexistindo os jardins domésticos e públicos e a arborização das ruas, acentuava-se naturalmente a impressão de concentração, mesmo em núcleos de população reduzida. Destacavam-se os pomares, derramando-se por vezes, sobre os muros (BATTISTONI FILHO, 2002, p.13).

Figura 13 – Rara planta original de casa urbana do tempo do açúcar.

Residência do dono de engenho Luciano Teixeira Nogueira, em Campinas, de taipa de pilão e divisões interna de taipa de mão, construída em 1834.

Levantamento original de Celso Maria de Mello Pupo. Fonte: LEMOS, 1999, p. 122

Legenda:

C: cozinha;

Rh: dormitório de hóspedes;

Ri:dormitório;

S: sala de frente

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31 As residências eram construídas de maneira uniforme e muitas vezes a dimensão e números de aberturas, a altura dos pavimentos e alinhamentos com as edificações vizinhas eram definidas nas cartas-régias ou em posturas municipais. Essa padronização servia para garantir que as vilas mantivessem a aparência portuguesa.

Um conselho popular determinava a abertura e o prolongamento de ruas e a concessão de terrenos à população de forma gratuita, levando em consideração a dimensão que se pretendia erguer e a posse do interessado. Para os pequenos produtores eram concedidas extensas áreas na periferia da cidade, as chácaras. Este tipo de habitação era a solução preferida pelas famílias mais abastadas, por ser possível a criação de animais e o plantio de hortas e pomares. As moradias urbanas eram utilizadas apenas em ocasiões especiais.

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32 quermesse e festas religiosas. A água da chuva era escoada através de um tipo de sarjeta disposta no meio da rua. O esgoto era lançado naturalmente e sem tratamento, principalmente no córrego Tanquinho, o mais próximo do núcleo urbano (Figura 14).

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Figura 14 – Mapa de Campinas em 1900 de Leopoldo Amaral Fonte: BADARÓ, 1996, p. 36

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34 Nesta época a área urbana era limitada pelas atuais ruas Marechal Deodoro até a Moraes Sales e, em outro sentido pela Rua Lusitana até a Rua José Paulino (Figura 15). Devido à riqueza conquistada com as plantações de açúcar, numa das ruas inseridas nesse perímetro foi dado início em 1807 a construção de uma igreja, de proporções enormes, dedicada a Nossa Senhora da Conceição, a chamada Matriz Nova, atualmente conhecida por Catedral. A nova matriz demorou mais de 70 anos para ser concluída (Figura 16).

A enorme riqueza auferida com o açúcar e, sobretudo, com o café propiciou não apenas uma série de melhoramentos materiais que beneficiaram a cidade, mas igualmente uma preocupação de ordem cultural, artística, social e religiosa. É significativo que uma cidade ainda tão pequena, que mal passava dos seis mil habitantes tenha, tido condições para a edificação de uma igreja tão grandiosa – dos mais belos templos do Brasil – famosa pelas suas obras de arte (MATOS, 2006, p. 33).

Figura 15 – Em vermelho, demarcada a área urbana de Campinas, em 1800; em laranja, a localização da Matriz Nova; e em verde os antigos “campinhos”, os primeiros pousos.

Fonte: imagem gerada pelo programa Google Earth

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35 Esta situação começa a mudar no Brasil, pois a chegada da corte portuguesa no Rio de Janeiro, em 1808, alterou profundamente a arquitetura brasileira. D.João, o príncipe regente, determinou a

abertura de portos, a implantação da imprensa e de novas escolas, a chegada sistemática de profissionais qualificados e, principalmente, novos materiais como chapas de cobre, de chumbo ou de ferro, pregos e ferramentas de todas as qualidades, novos produtos introduzidos, inclusive, devido a cláusulas de tratados político-comerciais feitos, sobretudo com a Inglaterra (BATTISTONI FILHO, 2002, p.25).

No entanto, a arquitetura campineira manteve, de forma tardia, as mesmas características do período colonial. As casas construídas de maneira rudimentar eram ainda de taipa com pouquíssimos móveis. De acordo com Battistoni Filho (2002, p.25) as plantas das residências compreendiam, basicamente, duas salas, uma na frente e outra nos fundos, para aproveitar a possibilidade de iluminação de cada uma das fachadas. Tanto os ricos como os pobres habitavam no mesmo tipo de casa construída com taipa de pilão, sendo muito

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36 difícil identificar o status social de seus moradores pela sua moradia.

As pessoas que habitavam a Vila, 330 eram

agricultores que participavam da riqueza do açúcar e tocavam suas plantações com 700 escravos. “No ano de 1822 a vila alcançava 7.369 habitantes e já se tornara o maior produtor de açúcar de São Paulo. Doze anos depois, seria responsável por um terço da produção da província, concentrando cerca de 5% de sua população escrava”. (BICALHO; RODRIGUES, 2004, p.16).

No ano de 1842 a Vila de São Carlos alcançou a categoria de cidade, voltando ao nome de Campinas. Nesse período começam a surgir os primeiros sobrados de beiral, ainda de taipa, e as ruas eram estreitíssimas, sem qualquer sentido de planejamento, especialmente em sua área central. As residências “eram enfileiradas sobre o alinhamento e sobre os limites laterais dos terrenos, formando superfícies contínuas. Obviamente a escala da época era outra e outros eram os costumes, os quais dispensavam maiores amplitudes. As praças eram quase irregulares e raramente calçadas” (BATTISTONI FILHO, 2004, p. 36) (Figura 17).

Figura 17– Rua Treze de Maio. Desenho de Antonio Carlos Marotta

Na imagem é possível observar a largura das vias e as residências geminadas.

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As diferenças entre o sobrado e a casa térrea consistiam no tipo de piso: assoalhado no sobrado, e chão batido na casa térrea. Isso vai determinar o aparecimento de diferentes estratos sociais: habitar um sobrado significava riqueza e habitar uma casa térrea caracterizava pobreza. O sobrado, na realidade, podia ser uma construção de vários pavimentos assoalhados que permitiam uma conexão entre o térreo (almoxarifado) e o sótão (BATTISTONI FILHO, 2002, p.25).

E nessa época as residências urbanas passam a ser marcadas por ostentação e requinte. A maior diferença em relação às casas-grandes das fazendas era a incorporação de novos materiais e métodos construtivos.

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1.3 – A cidade do café

A cultura cafeeira no Brasil se consolidou entre 1800 e 1830 ocupando a região do Vale do Paraíba. No entanto, com o uso predatório da terra, foi necessário migrar a produção de café para Campinas, Itu e algumas cidades do interior paulista onde as terras eram mais férteis e produtivas (Figura18).

O autor Battistoni Filho (2004, p.23), em seu

livro Campinas: uma visão histórica, cita que “a primeira

notícia que temos sobre a introdução do café em Campinas nos é dada pelo botânico de renome internacional, Joaquim Correa Melo, o qual informa que o comandante da vila Raimundo Álvares ganhara algumas sementes de café do capitão-general da Província de São Paulo, Antonio Manuel de Castro e as plantara em sua residência”.

A produção de café, a partir de 1850, se expandiu para a parte mais antiga do Oeste Paulista – Bragança, Sorocaba, Piracicaba e Campinas. Na mesma época foi impedido o tráfego negreiro, fazendo Figura 18 - Fazenda Santa Genebra

Etapa de Beneficiamento do café. Campinas, 1900

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39 com que os cafeicultores da cidade emigrassem ou migrassem para suas fazendas cerca de nove mil trabalhadores livres. Neste período, a produção de Campinas tornou-se a maior entre todas as regiões cafeicultoras de São Paulo (BICALHO e RODRIGUES, 2004, p 17).

O café enriqueceu Campinas e fez da cidade pólo regional, no qual floresciam as atividades urbanas – serviços, casas bancárias e de comércio – e crescia o número de indústrias, incentivadas pela mecanização da lavoura, pela ferrovia e pela facilidade do uso do vapor como força motriz. Desde meados do século XIX as fábricas começaram a se instalar em Campinas; produziam chapéus, implementos agrícolas, selas e outros artigos de couro, gelo, bebidas, massa alimentícia, vidro e sabão. (BICALHO e RODRIGUES, 2004, p 17) (Figura 19).

A autora Ananias (2000, p.19) defende que a cultura de café campineira progrediu mais comparada com a de regiões do centro-sul, por utilizar técnicas agrícolas mais eficientes e pelo uso mais racional do trabalho escravo. Essa racionalidade pode ser entendida Figura 19 - Armazém de seccos e molhados

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40 como uma preparação para um trabalho que deveria ser, além de livre, eficiente.

Uma quebra na produção mundial, em 1868,

elevou o preço do café e impulsionou a produção

nacional e, conseqüentemente, promoveu o

desenvolvimento em Campinas. Na década de 1870, a cidade se tornou referência, pois ganhou os trilhos que

simbolizavam o progresso: os da ferrovia,

dinamizadores da circulação de riquezas; e os bondes de tração animal, primeiro modo de transporte coletivo (Figura 20).

A chegada dos trilhos é quase sempre um marco na história de uma cidade. Com a estrada de ferro, vem todo o aparelhamento que ela exige, especialmente quando a cidade, por alguma razão é escolhida para sede de qualquer atividade especial da estrada: armazém, oficinas, escritórios, pontos de cruzamento de terras ou local de baldeação. Tudo isso reflete sobre a vida da cidade, pois constitui mercado de trabalho de certa atração e estimula numerosas atividades correlatas, dando ao local mais animação que às demais cidades (MATOS, 1990, p.157) (Figura 21 e 22).

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A ferrovia afetava direta ou indiretamente a vida

urbana, implicava em obras de porte, construção de edifícios grandiosos, equipamentos diferenciados e mão de obra qualificada. Porém no caso de Campinas, as mudanças foram ainda maiores. A cidade tornou-se um dos maiores centros ferroviários do país. Primeiramente foi inaugurada a ferrovia “Paulista”, que ligava Campinas a Jundiaí e lá encontrava as linhas da “São Paulo Railway”, colocando a cidade em contato direto com a Capital e a cidade litorânea de Santos. Depois foi inaugurada a “Mogiana”, tendo sua estação inicial em Campinas e, posteriormente, a “Sorocabana”, a “Ramal Férreo Campineiro” e a “Funilense” (Figuras 23).

A localização dos terminais ferroviários dentro de grandes cidades fez-se o mais próximo possível um do outro (...). Próximas a estes terminais vão se localizar aquelas atividades, muitas delas então nascentes ou em ampliação, voltadas para o mundo exterior à cidade, o comércio atacadista, depósitos, escritórios, e a indústria: a localização junto aos terminais de transporte era essencial, significando diminuição de custos. Estas atividades criaram enorme mercado de trabalho, fazendo com que a área se tornasse, além de

Figura 21 - Oficina da Cia Mogiana. Campinas, (190_) Cartão postal, Casa Mascote

Fonte: RIBEIRO, 2006, p.66

Figura 22- Cadeia Pública e Ponte da Cia. Mogiana Campinas, (190_)

Austero Penteado. Campinas (190_)

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42 Figura 23 – Mapa de Campinas em 1900 de Leopoldo Amaral , no traçado em azul as linhas férreas. No lado esquerdo da página, o trajeto inicia no Ramal Férreo Campineiro, encontra a linha Funilense e se transforma em Estrada de Ferro Mogiana e posteriormente, em Sorocabana.

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foco de transportes inter-regionais, o foco de transporte intra-urbano, que também, a partir da segunda metade do século XIX, foram largamente ampliados. Emerge assim uma área de maior acessibilidade dentro da grande cidade (CORRÊA, 1999, p. 39).

A implantação da ferrovia refletiu na configuração dos espaços urbanos e nas atividades locais, como também a expansão do comércio da área central para as regiões próximas. Contribuiu para fazer chegar mais rápido as novidades vindas da corte. Antecipou a instalação de serviços urbanos, como o da iluminação a gás, em 1875; o telefônico, em 1884; e o de água e esgoto, que teve início em 1887(Figura 24).

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45 Apresentou, também, uma nova maneira de construir, já que muitas das ferrovias eram feitas com materiais importados, de acabamento diferenciado e que dependiam de mão de obra qualificada.

Implantados por capitalistas locais, com o apoio do poder municipal, estes serviços acompanharam a instalação de grandes proprietários rurais na cidade, o que representou, além de uma mudança de hábito de vida, enriquecimento e expansão de seus interesses econômicos para as atividades urbanas. A partir do fim da década de 1870, no centro de Campinas foram construídas grandes residências de famílias tradicionais (BICALHO & RODRIGUES, 2004, p.21).

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46 Municípios e número de escravos

Campinas 13.412

Bananal 8.141

Jundiahy 6.302

Constituição 5.339

Collectoria de Limeira 5.233

Mogi-Mirim 4.864

Guaratinguetá 4.632

Itú 4.245

Taubaté 4.184

Rio Claro 4.073

Pindamonhangaba 3.736

Amparo 3.527

Capital 3.481

Franca 3.481

Fonte: BADARÓ, 1996, p.25

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47 impedir-lhes a posse por negros e imigrantes que, sendo pobres, tinham como única alternativa se fixarem em lavouras alheias na condição de assalariados. (BADARÓ, 1996, p. 26).

O desenvolvimento industrial, em Campinas, foi iniciado por volta de 1870, coincidindo com o advento da ferrovia, a expansão da lavoura cafeeira e a vinda de imigrantes. O desenvolvimento foi tardio comparado a outras cidades, já que as culturas açucareira e cafeeira eram por demais afeitas à escravidão, não exigindo muito em matéria de mecanização (CASTRO, 1956-1957, p.56). Porém graças ao capital proveniente do comércio cafeeiro, pequenos núcleos fabris aparecem na cidade (Figura 25).

A industrialização fez com que a população de baixa renda se deslocasse para novos bairros. A Vila Industrial, por exemplo, era caracterizada por oficinas de concertos e adaptações das companhias de estradas de ferro; já no Bonfim localizavam-se as fundições, no Guanabara as indústrias de laticínios e no bairro da Ponte Preta, a indústria têxtil (BATTISTONI, 2002, p.35) (Figura 26).

Figura 25 - Empresa Fabril. Campinas, (190_)

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A partir de meados do século XIX a industrialização vai gerar dois padrões locacionais intra-urbanos. De um lado um padrão envolvendo áreas que eram periféricas, mas não distantes do espaço urbanizado de modo contínuo. (...) Isoladas da cidade, tais indústrias tinham junto a si uma força de trabalho cativa, residindo em vilas operárias: criou-se assim um espaço industrial constituído de lugar de produção e de residência. Em breve este espaço seria efetivamente incorporado à cidade, tornando-se um bairro ou um subúrbio. (...) O segundo padrão locacional (...) as indústrias localizavam-se no espaço que hoje constitui a Área Central. Em parte derivavam das antigas manufaturas do período anterior à industrialização, e que se achavam dispersas por toda a cidade (CORRÊA, 1999, p. 53).

A população, em sua maioria, tinha grande preconceito contra a indústria, pois achava que as fábricas eram prejudiciais à saúde e que a cidade não estava predestinada ao desenvolvimento industrial, por ser agrícola.

A cidade, neste período contava com mais de 41 mil habitantes e seu traçado urbano possuía uma malha urbana mal definida, não apenas pelo seu desenho, mas Figura 26 - Arredores de Campinas – Vila Industrial Austero Penteado

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49 também pela identificação pelos moradores. As ruas não possuíam nomes e as casas números, mas todos se conheciam. “Não há muito tempo em que ninguém era desconhecido na cidade, todas as caras que appareciam nas ruas, nas egrejas, nos theatros, nos bailes, eram pertencentes a indivíduos com os quaes, pode-se dizer, estava-se habituado desde a meninice” (AMARAL, 1892, p.167).

Entretanto, a Câmara Municipal, no dia 06 de setembro de 1848, exigiu que as ruas tivessem nomenclatura, na direção norte a sul. “Procuravam as ruas, naquela altura ainda que tortuosas, seguir de certa maneira a direção da velha estrada para as minas, enquanto que a cidade crescia em direção contrária, de sul a norte” (LAPA, 1996, p.40).

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Ao arruador competia ainda o alinhamento de ruas e becos, que deviam ter respectivamente 50 a 30 palmos de largura, portanto a simetria do conjunto edificado em relação aos espaços que o intervalam, objetivando o ordenamento funcional, econômico, social e estético que a sociedade local vai passando a exigir. (...) Ao arruador coube, a nosso ver, retificar o desenho urbano de Campinas, sobretudo em dois momentos, quando a cidade, num movimento seqüencial, vai deixando de ser colonial para tornar-se senhorial (1850) e mais tarde (1870) quando deixa essa condição para tornar-se burguesa (LAPA, 1996, p.40).

No primeiro momento era preciso acertar o traçado urbano segundo as orientações do governador da capitania, Francisco Barreto Leme. Nesse momento mostrava que a cidade crescia de maneira espontânea e o poder público cedia a interesses particulares e momentâneos, sem um planejamento prévio e cabia ao arruador a busca do traçado geométrico e rígido.

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51 respeitando a topografia do local. O desenho urbano, esteticamente mais agradável, exprimiu o desejo dos moradores de modernização urbana.

Em 1880, a Câmara Municipal apresentou em seu “Código de Posturas” a preocupação com a largura das ruas e determinou para as novas ruas, travessas e avenidas de quinze metros de largura e o alargamento dos espaços públicos. Os becos deveriam ser evitados (Figuras 27 e 28).

É a identificação da cidade burguesa e o seu melhor aproveitamento e preparo para o futuro. Agora, não mais uma cidade de senhores e escravos, mas de patrões e empregados, que precisavam todos, dentro dos princípios da nova ordem, educar os seus sentidos e exercitar-se para o uso das novas formas de convívio social e doméstico que a cidade passa a oferecer-lhes. À pessoalidade que ainda vigorava, vinda da Campinas colonial e senhorial, sucedia agora a impessoalidade das relações sociais numa aglomeração urbana que se ampliava e diversificava (LAPA, 1996, p.48) (Figura 29).

Figura 27 - Vista da entrada da estação de ferro, Campinas, 1872. Litogravura de Jules Martin.

Fonte: LAPA, 1995, p.90

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52 Em 1875 é implantado o sistema de água encanada provenientes do córrego Tanquinho, alimentando diversos chafarizes da cidade E, somente em 1887, é inaugurada a Companhia Campineira de Águas e Esgotos, oficialmente fundada por Bento Quirino.

As casas de pau-a-pique e taipa de pilão foram sendo substituídas ao poucos pelo tijolo, principalmente depois da inauguração da Imperial Olaria, em 1867, de propriedade de Antonio Carlos de Sampaio Peixoto. A olaria mecanizada, utilizando-se de uma patente industrial inglesa de Clayton & Clayton, fabricava tijolos de dois tamanhos e três qualidades, tubulares e ladrilhos; produzia, também, linha de implementos agrícolas, grades para casas, jardins e cemitérios contribuindo e alterando, consideravelmente, a construção civil na cidade.

As residências urbanas, que antes só tinham usos temporários, especialmente nas festas, feriados e domingos e nas épocas de entressafra, passaram a ser mais utilizadas.

Figura 29 - Réplica da Torre Eiffel erguida no Passeio Público, onde hoje se localiza o Centro de Convivência Cultural, durante a Primeira Quermesse em Benefício do Asilo de Órfãos, em 1889.

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Com todas essas transformações, é natural que o fazendeiro sinta-se atraído pela cidade. O interesse dos novos barões do café em ter na cidade faustosa residências vai atrair mestres carapinas, engenheiros práticos, capazes de grandes construções, como também encarregados de gigantescas armações de madeira, palanques e coretos. A taipa, marca registrada da arquitetura campineira, aos poucos deixa de ser usada, quando em 1867, foi instalada a olaria de Sampaio Peixoto, com máquinas de fazer tijolos de toda natureza, inclusive furados (BATTISTONI FILHO, 2002, p. 35).

A riqueza gerada pelo café e as conseqüentes

mudanças estruturais na cidade, juntamente com o anseio da população de adaptação aos moldes europeus, fizeram com que os campineiros buscassem uma nova maneira de morar. Ramos de Azevedo, recém chegado da Europa, foi quem melhor respondeu aos novos comportamentos sociais, inspirados nos modelos europeus da Belle Époque (Figura 30).

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Nas cidades provincianas evocava-se o brilho das luzes, o luxo ostensivo que as cidades modernizadas copiavam de Paris. Almejavam-se também o gênero de vida mundano que os romances e os jornais difundiam, e um certo tipo de anonimato que caracterizava a existência da grande cidade, graças ao qual a vida parecia mais livre e a possibilidade de aventura mais fácil (ROMERO, 2004, p. 284).

Francisco de Paula Ramos de Azevedo nasceu

no dia 8 de dezembro de 1851 em São Paulo. Nasceu ali por acaso, pois sua família morava em Campinas, mas sua irmã foi levada às pressas para a Capital devido a uma grave doença. Mas Ramos de Azevedo não “gostava de confessar a sua paulistaneidade. Sempre se dizia campineiro. (...) Orgulhava-se de ser homem do interior que venceu na Capital” (LEMOS, 1993, p.3).

Os jovens ricos, filhos de produtores de

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Ao retornar da Bélgica, o arquiteto viu a cidade

ser ocupada pelos produtores de café que deixaram suas fazendas para morar na cidade. As monótonas casas de taipa de pilão começavam a serem substituídas pelos sobrados dos modernos tijolos, a mão-de-obra imigrante dominando técnicas de construção e o capital cafeeiro acumulado investido na reurbanização moderna na cidade.

[sobre Ramos de Azevedo](...) chegada em Campinas de um agente cultural impelido a introduzir no meio de uma nova arquitetura totalmente alheia ao “barroco”, símbolo de um passado triste e distante das vantagens advindas da Revolução Industrial. O jovem arquiteto, trazendo, através dos grandes mestres as novidades ecléticas do mundo moderno, na verdade, estava rompendo com a tradição arquitetônica de sua sociedade que por quase 300 anos depurou soluções ibéricas, adaptando-as às condições dos trópicos , aos programas das necessidades peculiares e, antes de tudo, aos materiais disponíveis no meio ambiente. Ramos rompeu com tudo – propôs novos estilos, novos partidos arquitetônicos condicionados a materiais de construção importados, o que implicava nova mão-de-obra muito diferente daquela disponível em São Paulo (LEMOS, 1993, p.8) (Figura 31).

Figura 31 - O arquiteto Ramos de Azevedo em seu escritório Foto João Musa

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O arquiteto trouxe aos palacetes campineiros

janelas em todos os quartos de dormir, eliminou as alcovas abafadas, reformulou as vidraças de guilhotina, as portas enormes e pesadas de ferro. As casas passaram a não ser mais construídas no alinhamento da rua e, na lateral, surgiram passagens largas para a entrada dos carros.

As casas campineiras vão aos poucos perdendo aquela austeridade caipira do campineiro velho. Os palacetes recém-aparecidos apresentam salões ricamente ornamentados e com uma novidade: as paredes são empapeladas, substituindo as pinturas. As famílias abastadas, porém, não se privam dos quadros e litografias que ornamentam suas paredes, mostrando cenas, geralmente, de romances célebres vindos diretamente de Paris ou do Rio de Janeiro (BATTISTONI FILHO, 2004, p.66).

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Foi um dos introdutores da monumentalidade

que faltava à cidade. Mesmo nos projetos residenciais, o engenheiro-arquiteto deixava suas marcas “que ganhavam outras dimensões numa cidade provinciana, sendo capazes de intimidar e/ou deslumbrar a quem vê, a quem deles se aproxima, a quem neles penetra”

(LAPA,1996, p. 36).

A preocupação fundamental das novas burguesias latino-americanas – alias como as de grande parte do mundo – foi testar e consagrar finalmente um estilo de vida que expressasse de modo inequívoco sua condição de classe superior na pirâmide social através de claros sinais reveladores de sua riqueza. Não só mediante a atitude primária de exibir a posse de bens, mas, sobretudo, através de um comportamento sofisticadamente ostensivo (ROMERO, 2004, p. 319).

O engenheiro-arquiteto teve como centro das

atividades a cidade de Campinas no período de 1879 a 1886. Projetou importantes edifícios públicos como a Delegacia de Polícia; o Liceu de Artes e Ofícios, atualmente Liceu Salesiano Nossa Senhora Auxiliadora; Fórum, Câmara e Cadeia Pública (Figura 32); Circolo

PLANTA ANDAR INFERIOR PLANTA ANDAR SUPERIOR

Figura 32 - Fórum e Cadeia (concluído em 1896), Campinas, projeto de Ramos de Azevedo.

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58 Italiani Uniti (Figura 33), atualmente Casa de Saúde Campinas; Matadouro Municipal (já demolido); prédio do escritório central da Cia. Mogiana de Estradas de Ferro; Mercado Municipal; cemitério campineiro; prédios no Bosque dos Jequitibás, além de ter projetado os melhoramentos do Passeio Público. Finalizou, também, as obras da Matriz Nova, atualmente chamada de Catedral.

Em 1886, Ramos de Azevedo mudou-se para São Paulo, e sua carreira profissional seguiu dois caminhos: o de engenheiro e o de docente da Escola Politécnica de São Paulo, onde se tornou professor e, posteriormente, diretor.

O arquiteto não presenciou a tragédia, que poucos anos depois de sua mudança para a capital, se abatera sobre Campinas. A cidade que estava em processo intenso de modernização, com a consolidação do complexo cafeeiro, teve sua população dizimada por três grandes surtos consecutivos da epidemia de febre amarela.

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