• Nenhum resultado encontrado

A STUDY OF INDOOR SOCCER PRACTICE BY SMALL CHILDREN (“CATEGORIA FRAUDINHA”): NA ECOLOGICAL APPROACH

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2019

Share "A STUDY OF INDOOR SOCCER PRACTICE BY SMALL CHILDREN (“CATEGORIA FRAUDINHA”): NA ECOLOGICAL APPROACH"

Copied!
10
0
0

Texto

(1)

PESQUISAS

ESTUDO DA PRÁTICA DO FUTSAL NA CATEGORIA FRALDINHA:

UM ENFOQUE ECOLÓGICO

Itamar Adriano Tagliari* Lenamar Fiorese Vieira**

RESUMO. O principal propósito deste estudo foi investigar a influência da prática do Futsal no desenvolvimento das crianças da categoria Fraldinha (7 aos 8 anos de idade) na Associação Atlética Banco do Brasil na cidade de Maringá, dentro de um enfoque ecológico. O estudo caracterizou-se como pesquisa descritiva. A amostra, do tipo intencional, constituiu-se por 10 crianças. Como instrumento de medida utilizou-se filmagem, fichas para obutilizou-servação e uma entrevista utilizou-semi-estruturada. Com bautilizou-se nos resultados, pode-utilizou-se chegar às seguintes conclusões: as atividades que tiveram significância e persistência temporal foram chute, cobrança de pênalti e jogo coletivo; as relações interpessoais concretizaram-se basicamente sobre a observação das crianças e explicações do técnico que nem sempre eram entendidas pelas mesmas; as crianças não tinham oportunidade de vivenciar diferentes papéis durante os treinos. Desta forma, existem evidências de que os treinos não vêm priorizando fatores que atuam como essenciais para o desenvolvimento das crianças desta faixa etária.

Palavras-chave: futsal, fraldinha, ecológico.

A STUDY OF INDOOR SOCCER PRACTICE BY SMALL CHILDREN

(“CATEGORIA FRAUDINHA”): NA ECOLOGICAL APPROACH

ABSTRACT. The main purpose of this study was to investigate the influence of Futsal practice in the Fraldinha

Category (7 and 8 years old) in the Athletic Association of Banco do Brasil (AABB), in Maringa, based on ecological approach. The study is characterized as a descriptive research. The sample, of an intentional kind, was constituted of 10 children. The research was conducted by means of filming, files for observation and a semi-structured interview. Based on the results one can conclude that: the activities that accounted both for significance and temporal persistency were kicking, penalty and collective game. The intepersonal relationships have been basically presented about the children's observations in relation to the coach's explanations, which were not always understood by de children. Besides children had no opportunity to experience different roles during the trainings. There are evidences that the trainings have not given priority to factors that are essential for the development of children at this age.

Key words: futsal, fraldinha, ecological

* Professor de Educação Física, formado pela Universidade Estadual de Maringá.

* * Professora Mestre do Departamento de Educação Física da Unversidade Estadual de Maringá, Doutoranda em

(2)

INTRODUÇÃO

O Futsal é um esporte que faz parte da cultura nacional por ter características semelhantes ao Futebol de Campo e por se tratar de uma atividade simples de ser praticada, rapidamente conquistou inúmeros praticantes, principalmente nas categorias menores, pois em Clubes, Associações e Escolas tem seu espaço garantido, sendo praticado em forma de lazer ou competição.

O entendimento do Futsal no desenvolvimento da criança torna-se importante a partir da influência que este pode exercer no desenvolvimento desta, pois sabe-se que o desenvolvimento da criança é influenciado tanto por fatores genéticos como ambientais, onde os genéticos estabelecem o limite de potencial para cada indivíduo e os ambientais estabelecem até onde, dentro destes limites, o indivíduo irá desenvolver-se.

Estudiosos da linha desenvolvimentista revelam a existência de períodos sensíveis na vida do indivíduo, onde a falta de estimulação ou sua construção inadequada, eventualmente, implicaria, negativamente, no desenvolvimento ulterior. Entretanto, a ação educativa exerce grande força neste aspecto, principalmente favorecendo experiências nas fases precoces da vida do indivíduo, que serão pré-requisitos para atividades posteriores mais complexas. Nesse sentido, autores do desenvolvimento humano revelam importantes características encontradas na fase do desenvolvimento das crianças entre os 7 e os 8 anos de idade.

Segundo Tani et alii (1988), Krebs (1992) e Gallahue (1993), a nível motor, a criança encontra-se na faencontra-se de estimulação, onde o domínio motor caracteriza-se pela definição dos movimentos fundamentais e início da combinação dos mesmos. A nível cognitivo Piaget (1973), relata que a criança encontra-se na fase das operações concretas, assim seu nível de pensamento abstrato é baixo, e para Bayer (1985), a criança apresenta instabilidade na sua atenção. A nível afetivo, o egocentrismo ainda não foi totalmente dominado, e para Gallahue (1989), a criança apresenta-se agressiva, orgulhosa, autocrítica e tem baixa noção sobre vitória e derrota.

(3)

suporte teórico a Teoria Ecológica do Desenvolvimento Humano de Bronfenbrenner (1987), a qual enfoca a dinâmica da pessoa em desenvolvimento no ambiente no qual ela vive e cresce, e seu ponto central é um exame multidimensional das interações do ambiente.

Krebs (1995a) relata que esta teoria aborda o ambiente em que o indivíduo vive, tanto nos seus aspectos concretos como dinâmicos de desenvolvimento, o qual é constituído por diferentes elementos: atividades (molares: formas de comportamento que sejam significantes para os indivíduos envolvidos no ambientes e persistentes, a nível temporal, ao desenvolvimento deste indivíduo; ou moleculares: caso não sejam significantes e

persistentes); relações interpessoais

(apresentam-se em forma de díadas, ou seja uma inter-relação de no mínimo duas pessoas, e dependendo do tipo de relação estabelecida, podem ser classificadas em: díada de observação, ex: quando um indivíduo observa as atividades do outro e este percebe que está sendo observado; díada de participação, ex: quando existe igualdade de poder, reciprocidade e relação afetiva entre as pessoas envolvidas; e díada primária, ex: quando a atividade continua ocorrendo mesmo na ausência de uma das partes) e papéis (posição social que um indivíduo ocupa num determinado ambiente, que indica não apenas as expectativas da sociedade em relação ao ocupante, mas também as expectativas que o ocupante da posição tem dele próprio), porém elementos indissociáveis e que identificados possibilitam uma análise deste ambiente, e é parte integrante de um conjunto de sistemas aninhados, no qual a pessoa em desenvolvimento é influenciada e influencia o ambiente em que ela está relacionada.

Neste sentido, Krebs (1995a), cita que a partir da identificação dos elementos do ambiente, é possível analisar-se diferentes ambientes classificados como microssistemas (local onde o indivíduo participa ativamente, ex: escolinha de Futsal onde este treina) e, ainda, as forças que afetam o desenvolvimento humano a nível de mesossistema (relação entre microssitemas, ex: casa do indivíduo e a escolinha de Futsal onde este treina), exossistema (ambiente que afeta indiretamente outro microssistema, ex: casa do treinador, através deste, afeta a escolinha de Futsal onde o

indivíduo treina) e macrossistema (toda extensão cultural na qual o indivíduo vive).

Assim, este estudo pretende fazer uma análise do microssistema treino de Futsal, ou seja, um ambiente em que o indivíduo participa, ativamente, deste modo, investiga-se como se desenvolvem os elementos atividades, relações interpessoais e papéis.

Frente aos diferentes aspectos e à complexidade do tema iniciação esportiva realizada em escolinhas de Futsal, além das diversas conclusões contraditórias, pretende-se investigar a influência da prática do Futsal no desenvolvimento das crianças da categoria Fraldinha na Associação Atlética Banco do Brasil da cidade de Maringá - PR.

MATERIAIS E MÉTODOS

Este estudo caracterizou-se por ser uma pesquisa descritiva A amostra foi intencional e constituiu-se de 10 crianças entre 7 e 8 anos de idade inscritas na categoria Fraldinha da escolinha de Futsal da Associação Atlética Banco do Brasil da cidade de Maringá - PR.

Como instrumento de medida utilizou-se para o registro de informações uma filmadora Panasonic, uma ficha para observação e uma entrevista semi-estruturada, onde pretendeu-se investigar os elementos atividades, relações interpessoais e papéis, dentro do treino de Futsal.

Para a etapa da coleta de dados foi feita uma solicitação à instituição para realização do projeto. A realização desta constituiu-se em três partes, primeiramente foram realizadas filmagens e observações diretas anotadas em fichas, onde foram registradas várias situações, durante 5 sessões de treinamento com duração de 1:20h cada, num segundo momento foi aplicada uma entrevista semi-estruturada aos alunos, individualmente, após todas as sessões de filmagens e observações diretas, e finalmente foram feitas observações indiretas também registradas em fichas. A coleta foi realizada pelo pesquisador e a filmagem por um sujeito treinado que filmou as situações de treino de locais e com ângulos que permitiram abarcar tais situações.

(4)

Teoria Ecológica do Desenvolvimento Humano de Urie Bronfenbrenner.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

O desenvolvimento da criança é um processo influenciado tanto por fatores genéticos, que estabelecem o limite de potencial para cada indivíduo, como ambientais, que estabelecem até onde, dentro destes limites, o indivíduo irá desenvolver-se. Assim, torna-se necessário investigar se o ambiente em que o indivíduo se encontra está colaborando para o desenvolvimento de suas potencialidades.

Para investigar como ambiente treino de Futsal influencia no desenvolvimento das crianças entre os 7 e os 8 anos de idade, utilizou-se a Teoria Ecológica de Urie Bronfenbrenner (1987), onde foram analisados os elementos atividades, relações interpessoais e papéis, que são indissociáveis no desenvolvimento do indivíduo, e que, identificados, possibilitam uma análise deste microssistema.

Neste primeiro momento, serão apresentadas as atividades desenvolvidas pelas crianças da categoria Fraldinha em situação treino. Bronfenbrenner, citado por Krebs (1995a), relata que uma atividade pode ser considerada como molar ou como molecular, para ser molar é preciso que hajam duas condições: a) uma certa persistência temporal e b) uma significância para os indivíduos envolvidos no ambiente, caso contrário é considerada molecular.

Verifica-se, através do quadro 1, que apenas três atividades (molares) parecem estar

influenciando significativamente no

desenvolvimento das crianças: cobrança de pênalti, jogo coletivo e chute, que cinco atividades apresentaram-se persistentes e que sete atividades parecem não ter significado (moleculares) para o desenvolvimento das crianças, durante os treinos.

Nota-se também que entre as cinco atividades que persistiram durante os treinos, três foram consideradas molares e outras duas moleculares, pois os alunos não as citaram durante as entrevistas quando lhes foram perguntados os tipos de atividades que eles mais gostavam de fazer durante os treinos, e sete atividades foram também consideradas moleculares, pois, como foi citado anteriormente, duas não eram de interesse das crianças, assim tornou-se um fazer por fazer, e outras cinco, por não se apresentarem persistentes durante os treinos.

Quadro 1: Atividades desenvolvidas pelas crianças da categoria Fraldinha em situação treino.

molares

- Cobrança de pênalti; - Jogo coletivo; - Chute;

persistência

- Cobrança de pênalti; - Jogo coletivo; - Chute;

- Condução de bola de frente - Recepção de bola; ATIVIDADES

moleculares

- Passe de bola; - Atividades para goleiro; - Atividades de passe em conjunto com o professor; - Condução de bola de frente; - Condução de bola de costas; - Arremessar a bola com as mãos; - Recepção de bola.

Entretanto, nota-se que as atividades de noção de espaço e tempo não foram muito visadas, e atividades de ritmo, lateralidade, sensação e percepção quase não ocorreram, consequentemente, não houve um desenvolvimento coerente destes fatores. Sobre tais fatores, Bayer (1983) e Gomes (1991), aconselham que se utilize, nesta fase, vários exercícios de ordem coordenativa, lateralidade, ritmo, reação acústica, óptica, orientação espacial, temporal, apreciação das trajetórias, distâncias, velocidades e direções, pois estas capacidades permitirão ao aluno identificar a posição do corpo, ou segmento corporal em relação ao espaço, executar corretamente a sincronização do espaço temporal dos movimentos e reagir prontamente a um estímulo, e os mesmos autores recomendam que estes exercícios sejam desenvolvidos através de jogos de baixa para alta organização.

Outro fator não observado foram os jogos pré-desportivos, que são pré-requisitos para os jogos esportivos coletivos, pois através destes a criança se familiarizará com o jogo modificando suas regras, tornando-o útil e agradável (significante) para o seu desenvolvimento, e, Bayer (1985), pondera que, sendo o jogo desportivo uma atividade institucionalizada tal qual como desenvolvido pelos adultos, esta impossibilita outras atividades, assim, deve-se buscar os jogos pré-desportivos com regras mais simples e possíveis de mudança pelas crianças participantes através do consentimento mútuo, e também os jogos lúdicos organizados, é consentir à criança o seu desejo, responder a sua espera e satisfazer suas motivações e não as criadas pelos adultos.

(5)

envolvimento com esta, desta forma, Dietrich et alii (1984), relatam que, deve-se conceber à criança saber reconhecer sua posição em relação a esta situação e saber criar novos planos para solução desta situação, além de conseguir tornar claras suas intenções aos seus companheiros. Porém, para as crianças, aconselha-se simplificar o jogo modificando algumas de suas características, a fim de possibilitar uma melhor compreensão e condição de jogo para as mesmas e também situações que desenvolvam melhor suas características afetivas, cognitivas e motoras.

Frente a tais considerações, deve-se procurar descodificar as regras do jogo e organizá-las de diversas formas em busca de diferentes objetivos, assim, segundo os mesmos autores, pode-se ter: a) um menor número de jogadores, o que aumenta a intensidade dos movimentos, proporciona um contato mais freqüente com a bola e dá uma melhor visão tática de jogo; um maior número de jogadores, o que permite uma maior diferenciação das tarefas e solicita, com isso, um raciocínio mais rápido; b) o aumento das dimensões do campo, o que possibilita ações mais amplas e maior esforço físico, já o campo pequeno obriga ações mais compactas e rápidas; c) o gol grande estimula o jogo com ênfase no gol, forçando a equipe da defesa a uma maior cobertura cooperativa e consciente do gol; já o gol pequeno obriga a equipe atacante a movimentar a bola mais rapidamente para oportunizar o chute ao gol; d) uma modificação na textura, no tamanho e ou no peso da bola possibilita acionar diversos mecanismos perceptivos sensoriais e cinestésicos.

Assim, modificar outras regras do jogo, além das suas dimensões concretas, antes ou durante o mesmo, possibilita uma díada de participação conjunta, havendo assim reciprocidade, equilíbrio de poder e relações afetivas, o que colabora também para uma melhor aprendizagem social e cognitiva, onde as eventuais discussões, sem dúvidas, favorecem a formação de crianças críticas e capazes de reconhecer valores e experiências grupais, bem como, desenvolver seu potencial criador, podendo agir com independência e se integrar à sociedade.

Neste segundo momento, através do quadro 2, serão apresentadas as relações interpessoais, onde a díada de observação, díada de participação e díada primária, de acordo com Bronfenbrenner

(1987), são fundamentais para o entendimento deste elemento.

O quadro 2 mostra as relações interpessoais apresentadas pelas crianças da categoria Fraldinha em situação de treino. Verifica-se através das díadas de relações interpessoais que: na díada de observação, algumas vezes o professor explicou as atividades de forma clara e sucinta; na díada de participação, onde o equilíbrio de poder, a reciprocidade a as relações afetivas são fundamentais, nota-se que ao elemento equilíbrio de poder, sempre o professor sugeriu as atividades e nunca os alunos interferiam no processo, ao elemento reciprocidade, poucas vezes os alunos discutiam as sugestões do professor com o mesmo antes ou durante as atividades, poucas vezes os alunos discutiam as sugestões entre si antes ou durante as atividades e nunca o professor discutiu com os alunos as sugestões dos mesmos antes ou durante as atividades.

Pode-se notar ainda que, às vezes, ocorreram relações afetivas negativas entre professor e alunos, poucas vezes ocorreram relações de afetividade positiva entre os alunos, algumas vezes ocorreram relações afetivas negativas entre os alunos e algumas vezes ocorreram relações afetivas positivas entre professor e alunos.

Quadro 2: Relações interpessoais: díada de observação, díada de participação e díada primária, apresentadas pelas crianças da categoria Fraldinha em situação treino.

díada de observação

- Algumas vezes o professor explicou as atividades de forma clara e sucinta.

Relações In-terpessoais

díada de participação

equilíbrio de poder

reciprocidad e

afetividade

- Sempre o professor sugeriu as atividades. - Nunca os alunos sugeriam as atividades. - Poucas vezes os alunos discutiam as

sugestões do professor com o mesmo antes ou durante as atividades. - Poucas vezes os alunos discutiam entre si

as sugestões.

- Nunca o professor discutia com os alunos as sugestões dos mesmos antes ou durante as atividades.

- Poucas vezes ocorreram relações afetivas negativas entre professor e alunos e positivas entre os alunos.

- Algumas vezes ocorreram relações afetivas positivas entre professor e alunos e negativas entre os alunos.

díada primária

- Os alunos desenvolviam as atividades dos treinos em outros momentos de suas vidas

(6)

algumas vezes, a informação e apresentavam resultados diferentes aos propostos pelo professor, assim, este tinha que reunir novamente as crianças para explicar as atividades. Neste sentido, Bento (1987), relata que a aprendizagem está ligada a uma assimilação da informação e associada a uma modificação do comportamento, que é condicionado e reforçado pela experiência. De acordo com estas colocações, no processo de aprendizagem, torna-se necessário criar condições que facilitem a assimilação da informação pela criança. Para isto o professor deve deixar as crianças num ótimo estado de atenção, mesmo porque Gallahue (1989), relata que a criança entre os 7 e os 8 anos tem baixo nível de atenção. Bento (1987), pondera que, ao passar a informação, o professor deve considerar a atenção e a preparação para a informação sensorial e a atenção e a capacidade de processamento da informação. Assim este deve posicionar-se de frente para os alunos para que possa ser visto por todos e utilizar uma tonalidade de voz que possa ser ouvida por todos, e nunca dar uma atividade diferente após informar os alunos sobre a atividade principal.

Segundo este mesmo autor, outro fator facilitador é o uso da memória, para isto o educador deve considerar a estrutura da memória da criança, seus estágios de armazenamento, bem como o esquecimento e perda da informação, assim o educador deverá ser sucinto e objetivo ao informar as atividades, pois, caso contrário, a criança poderá filtrar e reter informações irrelevantes, prejudicando seu entendimento e assim sua ação posterior. No entanto, tal fator não prejudica a caracterização de uma díada de observação, pois para Bronfenbrenner citado por Krebs (1995b):

Uma díada de observação é aquela que necessita do menor número de requerimentos para ser estabelecida; basta que um dos indivíduos se mantenha prestando atenção à atividade do outro e que este perceba que está sendo observado. No entanto, esta díada só se efetivará a partir do momento em que a pessoa, foco da atenção, emitir algum tipo de resposta ao seu observador. (p.106).

Analisando a díada de participação, verifica-se que esta foi prejudicada, pois observa-se através do quadro 2 que o equilíbrio de poder não existiu e

a reciprocidade quase não existiu, visto que apenas o professor sugeria as atividades e nunca os alunos sugeriam, assim o poder permaneceu apenas nas mãos do professor, e também poucas vezes os alunos discutiam as sugestões do professor, nunca o professor discutia as sugestões dos alunos e poucas vezes os alunos discutiam as sugestões entre si, nota-se que não houve reciprocidade entre o professor e os alunos, prejudicando assim as relações interpessoais, que para Bronfenbrenner (1987), significa a interação entre duas pessoas que buscam uma força motivacional própria na busca de interações mais complexas, o que consequentemente resultou em poucas atividades molares durante os treinos, ou seja, poucas atividades significantes para os alunos mantiveram-se constantes durante os treinos.

Segundo Bayer (1985), isto é resultado do uso incoerente da autoridade que acaba coibindo e repreendendo os próprios desejos das crianças, o que certamente acaba prejudicando o desenvolvimento destas, assim, o mesmo autor cita que a relação de autoridade deve tender para uma relação de igualdade baseada na compreensão, na aceitação e no respeito do outro. Esta atitude representa: a divisão de responsabilidades, uma tomada de decisão comum após combinação e acordo treinador x jogador; um sistema relacional baseado sobre o diálogo. Porém, esta relação de igualdade muitas vezes se revela difícil, devido a fatores sociais como a hierarquia de poder e a necessidade de segurança exigida pela criança. Entretanto, esta deve ser almejada, pois segundo Bronfenbrenner citado por Krebs (1995a):

Para uma criança jovem, a participação em interação em díada oferece a oportunidade para aprender tanto a conceitualizar quanto conviver com relações de poder diferenciadas.

(7)

existem evidências que sugerem que a situação ideal para aprendizagem e desenvolvimento é aquela na qual equilíbrio de poder muda gradativamente em favor da pessoa em desenvolvimento, em outras palavras, quando ao último são dadas mais oportunidades para exercitar o controle sobre a situação. (p.33).

Analisando a relação afetiva, nota-se através do quadro 2, que esta ocorreu de forma positiva, algumas vezes, entre o professor e os alunos, como elogios e incentivos, fator que enriquece o relacionamento das partes envolvidas e poucas vezes entre os alunos, o que deveria ser ampliado, pois tal entendimento colaboraria para o desenvolvimento das relações interpessoais entre estes, diminuindo, assim, a agressividade que, apesar de ser considerada normal para a idade, acabou ocorrendo algumas vezes. A ocorrência de afetividade negativa, algumas vezes entre os alunos, pode-se considerar normal para esta faixa etária, pois segundo Gallahue (1989), a criança mostra-se agressiva nesta idade e a ocorrência de pouca afetividade negativa entre o professor e os alunos (como punir e julgamentos estereotipados), torna-se ainda um fator inibidor no relacionamento interpessoal participativo, visto que estas não apresentam o pré-requisito reciprocidade, o que sugere respeito mútuo.

Nota-se ainda, no campo afetivo emocional, um egocentrismo mal acabado, segundo Bayer (1985), considerado normal para a idade, o que prejudicou e prejudica o desenvolvimento dos jogos desportivos coletivos, pois as crianças mostraram-se altamente individualistas durante os treinos e quando não, passavam a bola apenas para seu melhor amigo. Segundo o mesmo autor, esta busca incessante de transmissão da bola ao melhor amigo e a recusa de dar a outros jogadores da equipe, ocorre devido aos outros jogadores se tornarem pseudos adversários, pois a criança, antes dos 12 anos, vive a intensidade de seus sentidos, entrelaça-se com eles e parece submergida por sua rapidez e sua violência. Esta forma de comportamento se explica igualmente por um egocentrismo mal acabado ou imperfeitamente liquidado, onde a bola oferecida ao melhor amigo é esperança de recebê-la de volta.

Analisando a díada primária, constata-se que esta ocorreu, pois para Bronfenbrenner citado por

KREBS (1995a), esta ocorre quando a atividade continua ocorrendo mesmo na ausência de uma das partes. Isto pôde ser confirmado, durante as entrevistas, quando os alunos, ao serem questionados, disseram que desenvolviam as atividades aprendidas durante os treinos em outras situações de suas vidas, o que, de certa forma, efetiva a construção de uma díada primária.

Outro elemento significativo para o microssistema são os papéis desempenhados pelas crianças, os quais apresentam-se na figura 1, onde pode-se notar que os papéis verificados foram: capitão da equipe, melhor da equipe, atleta de que eles mais gostavam, atleta com quem eles mais gostavam de jogar, bem como, verificou-se, através da entrevista, o papel de titulares da equipe.

Nota-se ainda, que as crianças se repetem, se não em todos, em quase todos os papéis, a criança nº 1 é indicada como a melhor da equipe, como capitã da equipe, como aquele de que eles mais gostam e como aquele com que eles mais gostam de jogar. A criança nº 5 é indicada em quase todos os papéis, exceto como capitã da equipe, e a nº 4 só não é indicada como a melhor da equipe.

Figura 1: Papéis desempenhados pelas crianças da categoria Fraldinha em situação treino.

1

2

3

4

5 6 7 8 9

10

10

9

8

7 6

5 4 3 2 1

1

2

3

4

5 6 7 8 9

10 10

9

8

7 6

5 4 3 2 1

MAIS GOSTA

MAIS GOSTA DE JOGAR CAPITÃO DA EQUIPE

(8)

Durante as entrevistas, pôde-se verificar que as crianças nº 2 (goleiro), nº 4 (fixo), nº 1 e nº 5 (alas) e nº 3 (pivô), foram consideradas titulares da equipe. Sendo assim, estas jogavam em posições determinadas e representavam consequentemente os papéis relativos a estas determinadas posições (funções), assim, dentro das atribuições da cada função vê-se que esta possibilita a vivência de alguns papéis.

Verifica-se que o goleiro da equipe tem como função defender o gol da equipe, o fixo da equipe e deve basicamente saber marcar o giro do pivô, antecipar, dar cobertura para os demais companheiros e, ao mesmo tempo, cobrir e chegar no seu marcador na trajetória da bola quando este receber. É importante saber usar o corpo como parte de desequilíbrio do adversário. Quando a equipe está de posse da bola, o fixo deve também dar opção aos demais companheiros através de deslocamentos, tem-se muitos fixos que se limitam somente a marcar .

Outra função é a de ala da equipe, e esta demonstra ser importante na ligação das jogadas entre a defesa e o ataque, assim, são os alas os alas da equipe e devem atuar como elementos que mais se movimentam durante uma partida, eles são importantes para levar a equipe ao ataque e, também, elementos fundamentais em qualquer tipo de marcação. Os alas devem saber fintar, passar e finalizar num curto espaço de tempo, muitas vezes num mesmo lance. Para uma equipe ser eficiente no ataque e executar o padrão de jogo precisa criar espaço na armação das movimentações, para isto, é importante que todos os jogadores saibam jogar sem bola, mas que também, fundamentalmente, os alas tenham percepção de penetração no espaço vazio, no momento certo.

Ainda têm-se a posição de pivô da equipe e esta pode ter duas características distintas: aquele que entra na rotação de jogo e trabalha como pivo-ala para penetrar no espaço vazio e aquele que joga mais parado dando as costas para o marcador tentando o giro em cima da marca da marcação ou a definição do passe para os que vêm de trás. O pivô que entra na rotação procura abrir espaço para sua penetração e para os demais companheiros, enquanto que o pivô que joga parado faz com que, praticamente, em todas as jogadas ofensivas, a bola passe por ele. Nesse aspecto, dentro da característica da equipe e de acordo com o que o treinador quer, deve-se trabalhar o pivô obedecendo-se também as características individuais dos jogadores. Isto não

que dizer que as posições não sejam modificadas pelos técnicos ou pelos próprios jogadores durante o jogo.

Neste sentido, verificou-se que o papel das posições táticas dentro da equipe não variava, ou seja, as crianças titulares não vivenciavam as qualidades estabelecidas pelas outras posições, assim, a criança que atuava como goleiro da equipe não experienciava situações que os alas, o fixo ou o pivô experienciava, e, tal fato ocorria da mesma forma em todas as outros posições, o que prejudica o desenvolvimento das qualidades que são específicas de cada posição, entretanto, diminui também o interesse (significado) para desenvolver atividades relativas as outras posições táticas não vivenciadas, reduzindo assim as possibilidades de desenvolvimento das crianças.

Outro fator observado durante as filmagens, foi que a criança nº 1 apresentava-se como a melhor, tecnicamente, da equipe; era uma criança acessível às relações interpessoais, pois demonstrava reciprocidade e equilíbrio de poder nas suas ações, o que confirmou-se ao ser questionada, pois ela não se julgou a melhor do time, apesar de ter sido indicada pelas demais. E por ser ala da equipe, esta criança deve movimentar-se muito durante a partida, pois esta posição (ala) é importante para levar a equipe ao ataque, assim ela deve saber fintar, passar e finalizar, o que ela, sem dúvida fazia muito bem, talvez por exercer tais papéis, ela seja tão visada positivamente pelos companheiros.

Desta forma, além de exercer outros papéis, pondera-se, novamente, que a criança nº1 atuava como capitã da equipe, o que, para Bronfenbrenner, citado por Krebs (1995a), por si só, significa uma forte tendência da pessoa portadora deste papel evocar percepções consistentes com as expectativas associadas a este papel, certamente por este ser um papel bem estabelecido na estrutura institucional da sociedade, ou seja, um papel valorizado pela sociedade a qual a pessoa pertence, e, este depende da sua relação com a cultura em que ele está inserido. Assim,

(9)

submissão, dependência ou falta de iniciativa. (Krebs, 1995a, p.61).

Notou-se também que a posição de comando ficou quase exclusivamente com o professor e, nenhum, nem mesmo o capitão da equipe, exerceu este poder, não havendo participação conjunta, e também, como foi citado anteriormente, apenas 5 alunos foram relatados como titulares, e os reservas, a não ser o caso da criança nº 6, não foram citados em qualquer outro momento, supõe-se que isto supõe-se deva pelo papel que ocupam , ou seja, reservas. Tais fatores não propiciam a atuação das crianças em papéis diversificados.

No entanto, Bronfenbrenner, citado por Krebs (1995a), acredita que a diversificação de papéis seja importante, a vista disso, tal autor relata que:

A colocação de uma pessoa em um papel tende a evocar percepções, atividades, e padrões de relações interpessoais consistentes com as expectativas associadas a este papel, como ele é pertinente ao comportamento tanto da pessoa que ocupa o papel quanto aos outros a respeito desta pessoa.(p.61).

Isto é, além das pessoas detentoras do papel serem beneficiadas, outras pessoas ao atuarem frente a estas pessoas que exerçam diferentes papéis também sejam beneficiadas, sendo assim, a diversificação de papéis torna-se um ponto positivo para a pessoa em desenvolvimento. Jolibois (1977), relata ainda, que a criança pode assumir diferentes papéis, como o de liderança, tornando-se “capitão” da sua equipe e dar ordens que serão executadas. Tais papéis colaboram para uma disciplina do mesmo. Deve-se oportunizar que os alunos gradualmente assumam um papel ativo, ou seja, criando, imaginando e decidindo, o que certamente resultará na autonomia dos mesmos, visto que tais fatores contribuem para o desenvolvimento destes.

Finalmente, entendendo um microssistema como a integração de seus elementos atividades molares, relações interpessoais (díadas de observação, participação e primária) e papéis diversificados, pode-se notar, no entanto, que durante os treinos da escolinha de Futsal que estes elementos não se apresentaram significativos para o desenvolvimento das crianças, pois poucas atividades molares foram detectadas, as relações interpessoais ficaram basicamente na díada de

observação, não existindo reciprocidade e equilíbrio de poder entre professor e aluno, e as crianças não vivenciaram diferentes papéis, ficando estes centrados em algumas crianças.

Face ao exposto, acredita-se que os técnicos, professores, orientadores e acadêmicos de Educação Física atuantes nas escolinhas de Futsal devem repensar as atividades, as relações interpessoais e os papéis desenvolvidos com as crianças desta faixa etária, pois pelos resultados obtidos neste estudo, existem evidências que este microssistema pouco está contribuindo para o desenvolvimento destas crianças.

CONCLUSÕES E SUGESTÕES

Baseado nos resultados obtidos neste estudo, cujo objetivo foi investigar a influência da prática do Futsal na categoria Fraldinha na Associação Atlética Banco do Brasil na cidade de Maringá, podemos chegar a algumas conclusões:

- que as atividades, o chute, a cobrança de pênalti e o jogo coletivo ficaram caracterizados como molares, pois tinham significância e persistência temporal;

- que as relações interpessoais apresentadas ficaram basicamente sobre a díada de observação, e esta nem sempre apresentava-se de forma efetiva, pois as explicações do técnico nem sempre eram entendidas pelas crianças; - que as crianças não tinham oportunidade de

vivenciar diferentes papéis, ou seja, apenas duas crianças atuavam como capitãs da equipe, e também apenas cinco crianças foram apontadas como titulares e estas atuavam em posições táticas definidas e imutáveis;

- que existem evidências que os treinos não vêm priorizando fatores que atuam como essenciais para o desenvolvimento das crianças desta faixa etária, pois supõe-se que existe uma predominância das atividades moleculares da díada de observação e poucas vivências em diferentes papéis.

(10)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BENTO, Desporto, matéria de ensino. Lisboa: Caminho, 1987.

BAYER, Claude. I’ Enseignement des jeux sportifs collectifs. Paris: Éditions Vigót, 1985.

BAYER, Claude; MAUVOISIN. Hand-ball et psychomotricité. Paris: Les Editions ESF, 1983.

BRONFENBRENNER, Urie. La ecologia del desarrollo humano. Barcelona: Paídos, 1987.

DIETRICH, J. et al. Os grandes jogos: metodologia e prática. Rio de Janeiro: Ao livro técnico, 1984.

GALLAHUE, David. Understing motor development infants, childrens, adolescents. Indianápolis: Benchmark, 1989.

__________. Development phisical education for today’s children. Indianápolis: Benchmark, 1993.

GOMES, Paula Botelho. Aspectos do desenvolvimento motor e condicionantes da actividade desportivo-motora. Porto: FACDEX-UP, 1991, p. 31-42.

JOLIBOIS, Robert Pierre. Técnicas de educação: a iniciação desportiva da infancia à adolescência. Lisboa: Estampa, 1977.

KREBS, Ruy Jornada. Da estimulação à especialização: primeiro esboço de uma teoria da especialização motora. Kinesis, Santa Maria, 9: 29-44, 1992.

__________. Urie Bronfenbrenner e a Ecologia do Desenvolvimento Humano. Santa Maria: Casa Editorial, 1995a.

__________. (org.). Desenvolvimento humano: teorias e estudos. Santa Maria: Casa Editorial, 1995b.

PIAGET, Jean. Seis estudos de psicologia. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1973.

Imagem

Figura   1:  Papéis     desempenhados   pelas   crianças   da  categoria Fraldinha em situação treino.

Referências

Documentos relacionados

A prova do ENADE/2011, aplicada aos estudantes da Área de Tecnologia em Redes de Computadores, com duração total de 4 horas, apresentou questões discursivas e de múltipla

O enfermeiro, como integrante da equipe multidisciplinar em saúde, possui respaldo ético legal e técnico cientifico para atuar junto ao paciente portador de feridas, da avaliação

PASSADO tendências de evolução a diferentes escalas temporais PREVISÃO DE CONDIÇÕES FUTURAS FUTURO cenários de alterações climáticas e da ocupação humana

Como já destacado anteriormente, o campus Viamão (campus da última fase de expansão da instituição), possui o mesmo número de grupos de pesquisa que alguns dos campi

By interpreting equations of Table 1, it is possible to see that the EM radiation process involves a periodic chain reaction where originally a time variant conduction

O desenvolvimento desta pesquisa está alicerçado ao método Dialético Crítico fundamentado no Materialismo Histórico, que segundo Triviños (1987)permite que se aproxime de

Para evitar que pacientes com complicações causadas pela Covid-19 fiquem sem atendimento médico, a se- cretaria de Saúde de Pinda- monhangaba ampliou, nesta semana,