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IDENTIDADE DAS POLÍTICAS PÚBLICAS BRASILEIRAS SETORIAIS EM SAÚDE

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Identidade das políticas públicas brasileiras setoriais em Saúde.

Ana Paula Martins Vicentin Prof. Dr. Aguinaldo Gonçalves

Grupo de Saúde Coletiva e Atividade Física, FEF/Unicamp, Brasil.

Resumo

Recuperados pioneirismo e identidade do Sistema Único de Saúde brasileiro, expressam-se os objetivos de apropriarem-expressam-se, a partir de periódico nacional técnico da área, demandas e características das principais iniciativas federais pertinentes contemporâneos, ou seja, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o Programa Mais Saúde, o PAC Saúde. Reconhece-se a associação entre elevada participação privada na assistência e a presença de iniqüidades atuando nas decorrentes morbidade e comorbidade. Em contra-parte, evoluíram as chamadas políticas públicas compensatórias, desde o Renda Mínima no começo dos anos 90 e a unificação das quatro então existentes na geração do Bolsa Família, no início desta década, até os citados instrumentos atuais de gestão sócio-sanitária, a envolver a focalização nos segmentos populacionais da exclusão.

Palavras-chave: Saúde; Brasil; Políticas Públicas

________________________________ Endereço para correspondência:

Rua Luverci Pereira de Sousa, 1151. Cidade Universitária, Campinas, SP 13084031 - Brasil

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Summary

Brazilian Public Policies Identity in Health Sector

The basic identity of the Brazilian Public Healthcare System (SUS - Sistema Único de Saúde) briefly recovered, it is expressed the objective of improving, according to the technical national journals in this area, the main federal bootstraps on health programmes, in other words, Growth Acceleration Program (PAC – Programa de Aceleração do Crescimento) in its general level and, sectionally, „Programa Mais Saúde‟, or „PAC Saúde‟. It is recognized in this context, the relevance and the association between the high private segment participation in health care assistance in the country and the strong presence of the social injustices to the respective access, acting as a cause of morbidity and comorbidity. In contrast, the so called compensatory public policies have been developed, since the beginning of 90‟s with the Minimum Income Program (Renda Mínima) and the unification of the four generations of the „Family Grant‟ program (Bolsa Família Program) at the beginning of this decade, until the current instruments of the already mentioned socio-sanitary management, involving the focus on the exclusion of population segments.

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Identidade Setorial da Saúde Brasileira

O Sistema Nacional de Saúde – SUS- é construção social atualmente bastante discutida nos meios de comunicação brasileiros, seja na imprensa corrente, seja nos círculos acadêmicos. Criação ambiciosa desde seus primórdios, a lei 8080/1990, destacadamente, prega os princípios éticos de universalidade, equidade e integralidade e os balizamentos operacionais da descentralização, regionalização das redes e controle social. Com isso, oferece ao mesmo tempo aos gestores, profissionais e usuários, responsabilidades extremamente reais e concretas.

São inúmeros os desafios desse sistema que, segundo o Ministério da Saúde, é responsável por atender diretamente 70% da população brasileira (BRASIL PAC SAÚDE, 2007). A Reforma Sanitária, ocorrida na década de 80, representou processo alicerçado em concepção ampliada do cuidado em saúde, do indivíduo, família e comunidade. Com as mudanças do panorama político-econômico, as barreiras para a democratização da saúde se transformaram e hoje novos reptos devem ser enfrentados. Nesse sentido, um dos mais destacados periódicos especializados na área no país, o Ciência e Saúde Coletiva, vem repetidamente se dedicando a reconstruir conhecimentos e informações. Nessa fonte buscaram-se, então, os elementos que constituem a centralidade do presente texto, formulado com o objetivo de detalharem-se demandas, identidades e características das principais políticas federais pertinentes atualmente

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vigentes, ou seja o chamado PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) no nível mais geral e, setorialmente, o “Programa Mais Saúde”, ou PAC Saúde.

De fato, são delineadas com clareza características do SUS e apontados caminhos para superação de obstáculos. Ressaltam-se sinais de crescimento e degradação, perspectivando que o avanço depende de uma “tríade complexa” (CAMPOS, 1999), composta pela: i) criação de movimento em defesa de políticas de proteção social e distribuição de renda; ii) apresentação do SUS para a sociedade como parte de alteração significativa; iii) operacionalidade do sistema, demonstrando sua capacidade de melhorar as condições sanitárias e de saúde das pessoas. A partir dos mesmos, identificam-se alternativas para garantir necessária reformulação. Dentre elas, vale pontuar a necessidade de mudança progressiva no modelo de atenção em saúde, com a ênfase estratégica da atenção primária e revisão da função dos hospitais e especialidades. De maneira congruente, é citada também a importância do Programa Saúde da Família – PSF - , dada suas metas de oferta de atendimento a 80% da população e resolução de 95% dos problemas, razão para constituir condição básica de viabilidade do público em saúde.

Isto posto, são relevados os reais impasses do SUS no sentido de que, diante das características atuais, sua vulnerabilização frente à opinião pública se dá quanto ao acesso a medicamentos, procedimentos de baixa e moderada complexidade, exames complementares, consultas especializadas e internações, ao passo que se tem amplamente reconhecidas ações e programas eficientes que abordam vigilância em saúde, prevenção (COELHO , 2007)- como a vacinação infantil – e serviços de alta complexidade - como transplantes. Indica-se igualmente a grande disparidade de investimento: o SUS é sustentado por aporte de aproximadamente 30 bilhões de dólares/ano e a saúde suplementar no mesmo período por 20 bilhões, quase que

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exclusivamente em assistência. E assim, situa-se o paradoxo de que “ao mesmo tempo em que (o SUS) é defendido e elogiado em seus princípios, por um lado, por outro praticamente todas as pessoas que têm oportunidade estão sendo atendidas pela saúde suplementar ou gostariam de estar ”(pág. 310).

A forma de acolhimento dos usuários é julgada outro fator a considerar, com possibilidade de oferecer maior satisfação aos SUS dependentes. Atualmente a via de entrada é a unidade básica e as unidades de urgência, e a partir dai a pessoa segue diferentes caminhos; já nos planos privados aplica-se a lógica de mercado, na qual se oferecem diversas opções e o cliente faz a escolha.

São evidências assim que permitem perceber a extensão do desafio por melhora desse sistema que atende a população brasileira. No contexto global, motivações como as reformas neoliberais da década de 80 fixaram caminho contrário do esperado: privatizações com redução de gastos públicos, flexibilização do mercado e desregulamentação financeira (GIFFIN , 2007) fazem com que as políticas públicas se comprometam e as iniqüidades persistam sistematicamente (FLEURY, 2007).

Reconhecidamente, estudos repetem que as desigualdades sociais constituem determinantes não só do acesso aos serviços, mas também do padrão de morbidade. Diversas pesquisas mostram que os que têm pior renda são exatamente aqueles também com pior acesso à habitação adequada, água potável, saneamento, alimentação, educação, transporte, lazer e emprego (BUSS, 2007). De forma sintética, importa perscrutar o recente Relatório do Banco Mundial apontando o crescimento da desigualdade social entre países e dentro dos mesmos, fato que agrava ainda mais as iniqüidades nas condições de vida e de saúde. De fato, na Holanda, foi

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analisada a associação entre disparidade socioeconômica, utilização de serviços e comorbidade (definida pela ocorrência de duas ou mais condições crônicas severas na mesma pessoa). Os autores registram que aqueles classificados no status social mais baixo buscam maior acesso à saúde e apresentam alta prevalência de comorbidade, concluindo que a população de menor nível socioeconômico encontra-se mais doente e utiliza mais os serviços de saúde (DROOMERS; WESTERT, 2004).

O Brasil apresenta colocação notável no ranking de desigualdade social (BANCO MUNDIAL, 2007). A maioria dos trabalhos utiliza dados do inquérito de saúde de base populacional, com abrangência nacional, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). A coleta de dados se faz anualmente com exceção de anos censitários, com objetivo de formar panorama sobre características demográficas, habitação, educação, trabalho e renda. Algumas informações assim amealhadas se tornam reveladoras, como se pode apreender a seguir.‟

Em ensaio de corte transversal, objetivou-se avaliar o padrão da diversidade geográfica e hiato social em crianças e adultos residentes em áreas urbanas em 2003 e compará-lo com o de 1998. Pela análise dos dados, as autoras afirmam a forte pressão, no Brasil, da condição social e do local de residência das pessoas, tanto para adultos, quanto para crianças, bem como da renda familiar com maior influência que a escolaridade. O local de moradia também expressou influência no acesso, sendo melhorado com o grau de desenvolvimento socioeconômico da região. Contudo, avançou-se na comparação entre os anos estudados, em todas as regiões do país, com exceção da Norte (TRAVASSOS, et al, 2006).

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Em pesquisa que também recorreu a PNAD 1998 - 2003, observaram-se, nas relações de desigualdades entre idosos e adultos, que a associação de menor renda domiciliar per capita, piores condições de saúde, menor capacidade funcional com menos uso de atenção médica e odontológica constatados em 1998 persistiu em 2003, tanto em adultos quanto em idosos (LIMA-COSTA, et al, 2006).

Já em intervenção que visou avaliar as distinções sociais e a prevalência de doze doenças crônicas, detectou-se diferença significativa segundo gênero, cor/raça, nível de escolaridade, região de residência e situação do domicílio. Ainda assim, é chamada a atenção para o fato de, em investigações que utilizam informações de morbidade referida, as pessoas de menor escolaridade tenderem a sub-referir a presença de algum agravo. Porém, mesmo assim, apresentam maior índice de morbidade e comorbidade e são eles que utilizam mais os serviços de saúde (BARROS, 2006).

As Políticas Públicas

Face a tais recortes da realidade brasileira, econômica e em especial da Saúde, importa considerar as respostas que o aparelho de Estado vem propondo, diferencial e recentemente, gerar no sentido da superação (BRASIL PAC, 2007). Com efeito, em se tratando de não acesso a vínculos empregatícios formais e participação em transferências condicionadas de renda, importam aqui os argumentos que esclareçam como esses programas, as chamadas políticas compensatórias de combate à pobreza, foram concebidos e como se inseriram na realidade brasileira, bem como a discussão que se faz acerca delas, apontando-lhe tendências de evolução em direção a resolutividade.

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Tais iniciativas surgiram inicialmente em países da Europa, quando fatores que singularizam o modelo político-econômico estavam apontando para o progresso e, ao mesmo tempo, contemplando amplos contingentes privados de direitos básicos de cidadania. Na região o debate desses temas se adensou com a Basic Income Europoean Network, que em 2004 passa-se a chamar Earth Basic Income. Existem experiências construídas também nos Estados Unidos, América Latina e África, cada uma delas comportando especificidades da realidade local e buscando subtrair-se ao assistencialismo e à ineficiência (MAGALHÃES, et al, 2007).

No Brasil, essas ações ganharam força a partir de 1991, com o Renda Mínima e desde então evoluíram avanços operacionais, como o cadastro unificado, atualmente, de responsabilidade do município. Em 2003 o governo federal lança o Bolsa Família (PBF), fruto da articulação de quatro programas anteriormente existentes: Bolsa Escola, Bolsa Alimentação, Auxílio-Gás e Cartão Alimentação. Como dito na lei que o institui, o PBF objetivou aumentar a efetividade do gasto social através da otimização, racionalização, ganhos de escala e facilidade da interlocução entre federados (BRASIL, MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE A FOME, 2007), com responsabilidade partilhada entre a União, Estados, municípios e sociedade, pela implementação descentralizada, atendendo a dois requisitos: a existência formal e o pleno funcionamento de comitê ou conselho local de controle social, incluindo a indicação do gestor municipal do programa. O PBF inicialmente foi implantado em cidades com menor Índice de Desenvolvimento Humano, localizados na região Norte e Nordeste com o foco em famílias vivendo em pobreza e pobreza extrema, definidos a partir do critério de renda monetária. Além do benefício de 60,00 reais, o núcleo tem direito a auxílio de 15,00 a cada gestante, nutriz ou criança de zero a quinze anos até o limite de três filhos. Casais pobres

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sem filhos podem ser contemplados, mas recebem apenas o valor fixo, fato esse pensado para que se oportunizasse a cobertura para quilombolas, indígenas e moradores de rua. Geralmente concede-se a titularidade às mulheres, com o pressuposto de que elas tendem a maximizar estratégias de sobrevivência e melhoria do bem estar. As exigências do PBF constituem-se da manutenção de crianças e adolescentes na escola, cumprindo a exigência de 85% de freqüência; acompanhamento de crianças de zero a seis anos nos serviços de saúde, bem como programas de saúde com fins específicos.

É discutida a transferência de renda e a legitimidade de condicionar algo de direito do cidadão (MONNERAT, et al, 2007). Cita-se também a maior efetividade da assistência aliando-a ao uso de equipamentos sociais que potencializam o desenvolvimento humano, de forma a facilitar a integração futura ou a não reprodução da pobreza (CONILL, 2007). Da mesma forma, na perspectiva dos idealizadores é preciso criar mecanismos para estimular a inserção, tendo em vista a perspectiva de ruptura com o ciclo da exclusão. Por outro lado, questiona-se a capacidade de esses serviços absorverem adequadamente o aumento da demanda resultante da implementação do PBF e a gravidade da situação, que é a não garantia de oferta de serviços básicos como educação e saúde.

Atrelado a isso, situa-se o PBF como a primeira etapa para a implantação da Renda Básica da Cidadania, compreendida pelo direito de todas as pessoas, incondicionalmente, receberem o suficiente para atender suas necessidades vitais (SUPLICY, 2007). A lei 10.835 foi aprovada em 2004, conferindo prioridade aos mais necessitados, até abranger todos os brasileiros residentes no país e os estrangeiros que aqui se instalaram há pelo menos cinco anos, independente da situação econômica.

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Nessa direção o PAC representa o marco do início do segundo mandato do mesmo governo brasileiro, contendo, em sua concepção, alvos diferenciados: um deles é a denominada “Social Urbana”, o que em potencial atingiria enfaticamente o segmento vulnerável e excluído economicamente. Lançado em janeiro de 2007, segundo sua cartilha de divulgação, tem como objetivos promover a aceleração do crescimento, aumento do emprego e melhoria das condições de vida da população brasileira1. Para isso a meta é combinar conquistas na economia com distribuição de renda e a inclusão no mercado formal de trabalho e na sociedade de consumo.

O Programa de Aceleração do Crescimento e o PAC-Saúde

De forma sumária, no panorama atual, o que se viu foi a queda da taxa da inflação e dos juros, a partir do sistema de metas inflacionárias, implantado em 1999 e, por isso, a redução da dependência do financiamento externo e aumento da participação no comércio internacional. Partindo desses precedentes, o governo federal gestou o PAC, como estratégia para elevar os investimentos e alcançar o crescimento sustentável, que beneficie os diferentes núcleos da sociedade, seja por meio do Produto Interno Bruto, do número de empregos, da inclusão social e melhor distribuição de renda.

De acordo com documento preparado pela Secretaria de Imprensa, podemos compreender a estrutura do programa em: i) medidas econômicas para o crescimento e ii) infra-estrutura para o desenvolvimento, organizada em logística, energética e social urbana. Quanto às primeiras, são pontuados o aumento do crédito habitacional e para infra-estrutura viabilizados principalmente pela Caixa Econômica Federal e pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, bem como a desoneração tributária para maior aporte financeiro na construção civil e na

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aquisição de bens de capital. Outras questões também se tornam contempladas, como as fiscais e a política para o salário mínimo, além da previdência e assistência social; ainda assim, propõem-se incentivos ao crédito e financiamento, como aqueles voltados ao saneamento básico e habitação para situações de exclusão social, com rendimento mensal de até três salários mínimos.

A segunda parte do PAC, chamada de infra-estrutura para o desenvolvimento, prevê a associação do setor público e investimentos privados, para a qual ter-se-ia em torno de 250 bilhões de dólares até 2010, tendo como principais eixos de investimento:

- Logística: com aplicação em portos, aeroportos, duplicação ou pavimentação de rodovias, construção de ponte e dragagem de portos nas cinco regiões do Brasil.

- Energética: medidas que buscam aumentar a geração e transmissão de energia elétrica, de combustíveis renováveis, petróleo e gás natural, com a implantação de usinas hidroelétricas ou linhas de transmissão, bem como a ampliação da infra-estrutura e transporte de gás natural e biocombustível.

Em se tratando do social e urbano, o PAC aponta especialmente investimentos em saneamento, habitação, metrôs, “luz para todos” (universalização de atendimento em energia elétrica) e recursos hídricos, destacadamente para o acesso a água tratada, com meios específicos para irrigação, principalmente para região Norte e Nordeste, alocando aplicação de 170 bilhões até 2010.

Como maneira de controlar o que se pretende com relação ao PAC, criou-se comitê formado pelos ministros da Casa Civil, da Fazenda e do Planejamento Estratégico com finalidade de estabelecer metas de implementação. Respondendo às críticas surgidas em relação ao conteúdo, a então Ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, ressaltou tratar-se do fruto de

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processo, um projeto feito para um país concreto (ABREU, et al, 2007) .Ressalta características como a unidade, que favorece seu acompanhamento, a abrangência e a continuidade que leva a possibilidade de longo prazo.

O questionamento sobre a maneira de interlocução como foi elaborado foi dos mais incisivos. Líderes de diferentes estados iniciaram diálogo com reivindicações quanto ao plano de obras pensado para cada localidade e o montante reservado para investimento. O então governador de São Paulo, José Serra, apontou para possível inversão lógica de formulação, por considerar a variável crescimento econômico como suposição para sua viabilização, na direção de que resultado passou a ser premissa (GUERREIRO; ZIMMERMANN, 2007). Ressaltam-se também as intenções voltadas ao marketing, por implicar em ampla agenda de inaugurações ou lançamentos, mostrando que existe trabalho coordenado, ou até como meio de contemplar estratégias eleitorais (AZEVEDO, 2007).

A abordagem do PAC em relação à saúde foi lançada em Brasília com o “Mais Saúde”, com vigência prevista de 2008 a 2011. De acordo com o próprio documento de apresentação, trata-se de reorientação radical da política de saúde em busca do maior oferecimento de serviços de qualidade. Para isso aponta, dentre outras iniciativas, a ampliação dos recursos aplicados, novos modelos de gestão, fortalecimento do controle social e de mecanismos de ouvidoria e auditoria. „E baseado em quatro pilares, o primeiro deles chamado de “Promoção e Atenção à Saúde: a família no centro da mudança”. Esse segmento foca melhorias ao acesso ao planejamento familiar, saúde do homem, cadernetas de controle de saúde para pessoas acima de 60 anos e ampliação do PSF.

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O segundo chama-se “Gestão, trabalho e controle social” e tem objetivo de informatizar e integrar todas as 60 mil unidades públicas de saúde, apoiar a estruturação dos conselhos tanto estaduais quanto municipais e a capacitação de profissionais, bem como recompor e ampliar o valor de procedimentos da tabela do SUS conjuntamente aos tetos financeiros para redução de desigualdades e ampliação de cobertura. O terceiro, nomeado de “Ampliação do acesso com qualidade”, visa aumentar o número de transplantes, a expansão do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, construir, incrementar e reformar unidades de saúde e hospitais, além da humanização dos serviços. O quarto pilar, identificado por “Produção, desenvolvimento e cooperação em saúde”, destina-se a reduzir o déficit comercial da saúde e aumentar à taxa de 7% ao ano a produção local de farmoquímicos e medicamentos, além de fomentar a capacidade produtiva e de inovação nas indústrias privadas nacionais de medicamentos, com financiamentos superiores a R$ 3 bilhões. Na área de cooperação internacional, o “Mais Saúde” visa apoiar países africanos na formação de docentes com cursos de qualificação e ainda instalar escritório da Fiocruz junto à União Africana.

Nos itens que seguem nessa mostra de como o atual governo planejou enfrentar os desafios do sistema de saúde, consta também toda entrada e destino dos recursos financeiros. No entanto, pela sua conclusão ter-se dado anteriormente à votação que efetivou o encerramento da cobrança do imposto sobre movimentação financeira, conhecido como CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira), assim como da plena evolução da crise econômica globalizada vivida atualmente, prevê-se que deverão ocorrer reduções substanciais sob o argumento de acertos de verba federal.

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Referências

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governo, definido como „fruto de um processo‟. Disponível em:

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<http://veja.abril.com.br.blogs/reinaldo/2007/01/serra-crticas-ao-pac-aos-juros.html>. Acesso em: 05/11/2007.

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