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JOGOS INDÍGENAS KRAHÔ 2016: UM APRENDIZADO A SER RELATADO

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JOGOS INDÍGENAS KRAHÔ 2016:

UM APRENDIZADO A SER RELATADO

Francisca Martim CAVALCANTE¹, Danielle Mastelari LEVORATO², Francisco Edviges ALBUQUERQUE³

¹ Universidade Federal do Tocantins UFT. Possui graduação em Letras pela Universidade Federal do Tocantins (2014) e mestrado em Ensino de Língua e Literatura pela Universidade Federal do Tocantins (2018). Tem experiência na

área de Letras, com ênfase em Letras, atuando principalmente nos seguintes temas: estudo de caso, monitoria, evolução acadêmica, lexicografia e vocabulário da língua Krahô-Português. E-mail: franciskavalcante@hotmail.com ² Universidade Federal do Tocantins UFT. Professora Danielle Mastelari Levorato, possui graduação em Direito pela Fundação de Ensino “Eurípides Soares da Rocha” (1998) e Mestrado pelo Centro Universitário Eurípides de Marília - UNIVEM (2004), além de Pós-Graduação Lato Sensu em Direito Processual Civil e Direito Empresarial pela mesma instituição. É Professora Adjunta, Nível 1, Classe C da Universidade Federal do Tocantins. É professora Extencionista,

atuando a frente de questões indígenas, especialmente com os povos Krahô e Apinayé no Tocantins. E-mail: daniellemastelari@hotmail.com

³ Universidade Federal do Tocantins UFT. Possui mestrado em Letras e Linguística pela Universidade Federal de Goiás (1999) e doutorado em Doutorado em Letras Universidade Federal Fluminense pela Universidade Federal Fluminense (2007). Atualmente é professor associado i da Universidade Federal do Tocantins. Tem experiência na

área de Lingüística, com ênfase em Sociolingüística e Dialetologia, atuando principalmente nos seguintes temas: educação, educação escolar indígena, língua Apinayé, inteculturalidade e educação indígena.Professor de Curso de Educação continuada para os Professores indígenas e não indígenas da Educação Básica do estado do Tocantins, no

período de 200 a 2014. E-mail: fedviges@uol.com.br

INDIGENOUS KRAHÔ GAMES 2016: A LEARNING TO BE REPORTED

RESUMO: Este artigo visa a apresentar um relato de experiência sobre os jogos indígenas Krahô

ocorridos na aldeia Manoel Alves de Itacajá em 2016. O objetivo do evento foi contribuir para o fortalecimento da cultura dos povos indígenas Krahô. Aproximadamente 200 indígenas de 24 aldeias Krahô participaram dos jogos. Além dos Krahô de Itacajá participaram dos jogos os Krahô Kanela de Lagoa da Confusão. Foram realizadas várias modalidades esportivas distribuídas entre crianças, jovens e adultos divididas em equipes femininas e masculinas. Durante os seis dias de competição nos jogos, todos participaram, os mais velhos como orientadores tradicionais, transmitindo suas experiências, e os jovens, os quais, além de aprender, se destacaram no atletismo. Neste momento foi possível observar como o evento contribuiu com os objetivos da Educação Escolar

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1. INTRODUÇÃO

Este relato de experiência apresenta uma visita à aldeia Manoel Alves Pequeno, do Povo Indígena Krahô, que ocorreu entre os dias 16 e 22 de agosto de 2016, oportunidade em que se realizava a terceira edição dos Jogos Esportivos Krahô (17 a 22 de agosto).

Os jogos esportivos Krahô foi um evento

de 24 aldeias participaram da tradição esportiva. Além dos Krahô de Itacajá e Goiatins participaram dos jogos os Krahô-Kanela da Lagoa da Confusão e não indígenas, professores, pesquisadores e visitantes das comunidades mais próximas.

Foram realizadas várias modalidades de jogos, distribuídas entre crianças, jovens e adultos e divididas em equipes femininas e masculinas. Durante os seis dias de competição Indígena, que é preservar os costumes e tradições, bem como reafirmar sua identidade enquanto povo, utilizando de estratégia participativa-cooperativista e recursos didáticos. Assim, temos como objetivo partilhar as experiências vivenciadas enquanto não-indígenas estando em uma aldeia para assistir aos jogos. Para tanto utilizamos como metodologia a descrição da experiência a partir de um diário de campo, produzido com base em nossas observações, do qual resultou este trabalho, revelando como a experiência contribuiu para conhecer mais sobre a cultura do povo Krahô.

Palavras-chave: Povos indígenas. Ensino. Cultura.

ABSTRACT: This article aims to present an experience report about the Indigenous Krahô Games

that took place in Manoel Alves village in 2016. The objective of the event was the search for the strengthening of the culture of the peoples. About 200 indigenous people from 24 villages participated in the games. In addition to the Itacajá Krahô participated in the games the Krahô Kanela from Lagoa da Confusão. Several modalities were distributed among children, youth and adults divided into female and male teams. During the six days of competition in the games everyone participated, the olders as traditional guiders, transmitting the experiences, the youngers, besides learning, excelled in athletics. At this moment, it was possible to observe how the event contributed with the objectives of the Indigenous School Education, which is to preserve the customs and traditions, as well as reaffirm their identity as peoples, using participative-cooperative strategy and didactic resources. Thus, we aim to share the experiences lived as non-Indians being in a village to watch the games. Therefore, we used as a methodology the description of the experience from a field diary, produced basing on our observations, which resulted in this work, revealing how the experience contributed to know more about the culture of the Krahô peoples.

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as experiências; os jovens, além de aprender, se destacaram em diversas modalidade específicas da cultura Krahô.

Nesta oportunidade, foi possível observar

como o evento contribuiu com a Educação Indígena e com a Educação Escolar Indígena que, dentre outras coisas, busca preservar os costumes e tradições bem como reafirmar a identidade do povo Krahô ao utilizar seus jogos como estratégias participativa-cooperativistas e como recursos didáticos específicos.

Assim, temos como objetivo compartilhar as experiências vivenciadas enquanto pesquisadores e extensionistas não-indígenas durante o desenvolvimento dos jogos e outras atividades que foram realizadas pelo Laboratório de Línguas Indígenas - LALI, pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas com Povos Indígenas - NEPPI e pelo Programa do Observatório da Educação Escolar Indígena da CAPES.

Para tanto, utilizamos como metodologia a descrição da experiência a partir de um diário de campo, produzido com base em nossas observações participativas que se deram em virtude de um sistema etnográfico de análise, do qual resultou este trabalho, revelando como a experiência contribuiu para conhecer mais sobre a cultura do povo Krahô.

O embasamento teórico deste artigo acionou autores voltados para os estudos com os

povos indígenas e da Educação Escolar Indígena Krahô, tais como: Albuquerque (2012), Rodrigues (1986), Melatti (1978) e Santos (2003).

2. POVO INDÍGENA KRAHÔ

O povo indígena Krahô habita uma área situada à margem direita do Rio Tocantins, entre os municípios de Itacajá e Goiatins, a nordeste do atual Estado do Tocantins. Segundo dados do Distrito Sanitário Especial Indígena - DISEI (2016), a população Krahô é de aproximadamente 3.265 habitantes distribuída por 29 aldeias, que integram as terras indígenas desse povo, região denominada Kraholândia.

Os Krahô falam uma língua de mesmo nome de sua etnia. De acordo com classificação de Rodrigues (1986), a língua desse povo pertence ao tronco linguístico Macro–Jê, da família linguística Jê. Trata-se de uma língua Timbira. A língua Krahô é composta por 29 grafemas, sendo 13 consoantes (c, g, h, j, k, m, n, p, q, r, t, w, x), 16 vogais, sendo 10 orais (a, à, e, ê, i, o, ô, u, y, ỳ) e 6 nasais (ã, ẽ, ĩ, õ, ũ, ỹ). Além dos aspectos linguísticos os Krahô possuem uma sociedade complexa, com ampla organização social, constituem suas aldeias em forma circular onde as ruas, nas quais se localizam as casas, levam ao centro comum a todos, chamado de Pátio.

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[...] o formato da comunidade Krahô é em círculo e se assemelha em quase todas as aldeias de povos Timbira. Em volta do pátio (Cà) estão as casas de cujas entradas dirigem-se ruas até o centro do pátio onde são realizados os rituais e as reuniões mais importantes da aldeia com os sábios e as demais autoridades da comunidade. Essa disposição circular das casas e do pátio é um dos principais traços das aldeias Krahô, bem como de todas as comunidades Timbira (SANTOS, 2014, p. 24).

A sociedade Krahô é dividida em duas metades sazonais: Catàmjê, que está relacionada ao período chuvoso (inverno) e ocupa o lado

lado leste do pátio. Segundo Melatti (1967, p.65), a escolha do nome é que determinará a qual metade o indivíduo fará parte, sendo que existe uma lista de nomes pessoais pertencente a cada metade.

Os Krahô ainda são considerados bilíngues por fazerem uso tanto da língua materna quanto da língua portuguesa e isso decorre da necessidade imediata de comunicação com o não indígena quando se procura o supermercado ou o posto de saúde, por exemplo, junto a sociedade não indígena.

Albuquerque (2012) explica que o povo indígena tem que se “adequar” e adotar a língua da sociedade envolvente e ao mesmo tempo lutar para que sua língua materna não morra de fato. Assim devido ao processo de contato com a sociedade não indígena próxima ao seu território

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sido dominante, o que causa preocupação em virtude da necessidade da preservação da língua materna como primeira língua.

O povo Krahô possui uma diversidade cultural muito rica, pois ainda praticam a pintura corporal, mantendo os rituais e preservando seus mitos enquanto herança imaterial e seus pratos típicos. Os Krahô permanecem com sua cultura viva, visíveis nas festividades, como: a festa da batata, corrida da tora, Hotxuà, entre outras. A atividade relacionada à roça também é predominante na cultura desse povo.

Rodrigues diz que:

Os índios no Brasil não são um povo: são muitos povos, diferentes de nós e diferentes entre si. Cada qual tem usos e costumes próprios, com habilidades tecnológicas, atitudes estéticas, crenças religiosas, organização social e filosofia peculiares, resultantes de experiências de vida acumuladas e desenvolvidas em milhares de anos. E distinguem-se de nós por falarem diferentes línguas (RODRIGUES, 1986, p. 17).

Segundo Melatti (1978) antigamente era costume para os homens andarem nus dentro da aldeia, ou com um pano quadrado pendurado ao redor da cintura com o auxílio de um cinto de couro ou palha de buriti, de modo a cobrir-lhes a parte íntima.

Atualmente os homens fazem uso de bermuda e costumam ficar sem camisa, já as mulheres continuam usando um tecido ao redor da cintura, como se fosse uma saia. A maioria das mulheres ficam com os seios à mostra. Os

Krahô, homens e mulheres, continuam a usar suas pinturas corporais feitas com urucum e/ou jenipapo.

Esse povo sobrevive da produção de mandioca, milho, arroz, feijão, inhame, batata, dentre outros, plantam, ainda, urucum, cabaça e algodão. Alguns criam porcos, galinhas e também utilizam a caça e a pesca para completar a alimentação. A pesca é uma importante fonte de alimentos para os indígenas, mas tem declinado progressivamente com o passar dos anos devido ao impacto ambiental nos rios da reserva (ALBUQUERQUE e ALMEIDA, 2012). As caçadas são realizadas individualmente ou em grupos e estas acontecem geralmente no período da seca. Entretanto, essa prática tem sido menos frequente devido à escassez de animais.

3. A CHEGADA DA EQUIPE E O LANÇAMENTO DOS LIVROS

Os Jogos Indígenas Krahô ocorreram entre os dias 17 e 22 de agosto de 2016, na aldeia Manoel Alves Pequeno, que foi fundada entre os anos de 1.982 para 1.983. Atualmente conta com 325 indígenas, sendo 152 homens e 173 mulheres, com um total de 67 famílias vivendo em 44 casas (YAHÉ KRAHÔ, 2016). Desde a fundação da comunidade até o momento somente 4 caciques estiveram à frente dos trabalhos.

A equipe do Laboratório de Línguas Indígenas (LALI/UFT), composta de 20 pessoas, dentre elas professores-pesquisadores, discentes de diversas graduações, além de mestrandos e doutorandos, chegou à aldeia no dia 16 de agosto de 2016 no início da tarde, oportunidade em que realizaram a organização logística para a acomodação nos próximos dias e que tiveram

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os primeiros contatos com a comunidade Krahô, especialmente com os homens mais velhos e as crianças.

O Cacique Dodanin Piken Krahô Krahô recebeu todos muito gentilmente, nos apresentando aos líderes mais velhos, criando um ambiente agradável a nossa estadia. Os Krahô são muito receptivos, carismáticos, além, de gentis.

A acomodação ocorreu na escola 19 de Abril, que é de alvenaria, composta de 02 salas de aula, 01 sala de reunião para professores, 01 sala para acomodação de material didático, secretaria, cozinha, banheiros femininos e masculinos. Observou-se que a aldeia possui, além da escola, posto de saúde, antena para captação de sinal de internet, telefone público.

No dia 17 de agosto de 2016, logo pela manhã, foram realizados os preparativos para o lançamento dos livros produzidos pelo Laboratório de Línguas Indígenas - LALI, pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas com Povos Indígenas - NEPPI e pelo Programa do Observatório da Educação Escolar Indígena da CAPES.

Após a estruturação do ambiente, que foi decorado com a ajuda da comunidade com a exposição de elementos típicos do povo, foi realizada a solenidade de lançamento dos livros de Ciências Krahô, Gramática Krahô e Matemática Krahô, que fazem parte do Projeto de Apoio Pedagógico à Educação Escolar Indígena Krahô do Laboratório de Línguas Indígenas da Universidade Federal do Tocantins, que tem como organizador o Professor Doutor Francisco Edviges Albuquerque, oportunidade em que também foi realizado o pré-lançamento do livro Aspectos Histórico e Cultural do Povo Karajá Xambioá, que tem como autor o geógrafo Adriano Dias Gomes Karajá e

Francisco Edviges Albuquerque.

Na ocasião houve os pronunciamentos do Professor Edviges, responsável por todos os trabalhos desenvolvidos pelo LALI junto a comunidade, o pronunciamento do Cacique Dodanin Piken Krahô e de outros líderes Krahô, além dos pronunciamentos dos professores da Escola 19 de Abril e representante da Diretoria de Ensino de Pedro Afonso que estiveram presentes à solenidade.

O lançamento dos livros foi motivo de grande alegria para o povo Krahô, pois se trata do registro de aspectos específicos de uma cultura, na qual os mais velhos transmitiam os saberes oralmente. O registro dos elementos específicos da cultura Krahô, representa a oportunidade de perpetuação dos seus saberes, suas tradições, além da colaboração para a preservação da língua e por consequência de todo patrimônio cultural imaterial existente.

4. OS JOGOS INDÍGENAS KRAHÔ

Os Jogos tradicionais do Povo Krahô, já está na terceira edição e contam com o envolvimento da maioria das aldeias da Kraholândia. O evento tem atraído o interesse e fortalecido a aproximado o povo Krahô.

De acordo com o organizador e liderança indígena Yahé Krahô (2015): “Os Jogos tem o objetivo de proporcionar intercâmbio cultural, fortalecimento da língua, cultura e das políticas internas do povo Krahô”.

Este evento motiva o povo Krahô a aproximar-se e interagir festivamente, sentimento que fica claro nas conversas e entrevistas sobre o assunto. A programação dos jogos incluía

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várias modalidades.

Conforme Leite (2017), cada jogo significa algo importante para aquela comunidade, seja como práticas do seu passado ou dos dias atuais, onde se verifica que existe a criação de imagens do mundo real por meio do mundo imaterial. Os jogos foram criados pelos povos primitivos e foram sendo difundidos pelo contato e re-significados de acordo com as transformações das sociedades tradicionais.

Ainda no dia 17, por volta das 15 horas, todos se reuniram no pátio por chamamento de um dos líderes, sendo que mais tarde houve a cerimônia para o acendimento da tocha, em que um dos jovens correu com ela ao redor do pátio e após, acendeu uma pira que estava localizada ao centro. O acendimento da tocha e consequentemente da pira simboliza para os Krahô “a chama que foi roubada da onça-pintada”, conforme nos relatou SECUNDO KRAHÔ (2016), ancião Krahô.

Dando sequência às atividades, as lideranças se apresentaram e declararam abertos os jogos, agradecendo a participação de todos em língua krahô, as delegações se apresentaram e todos se reuniram no pátio ao redor da Pira para celebrar com danças e cânticos tradicionais.

Dentre as principais provas que foram realizadas presenciamos durante as seguintes:

a) Futebol: com equipes separadas entre

masculino e feminino;

b) Kuj tatac xà: trata-se de uma modalidade

de jogo importante para a preservação da cultura indígena Krahô. Neste jogo, a equipe é formada por oito competidores que têm o objetivo de rebater o “Kuj” (um pedaço de borracha) o mais longe do campo de jogo, usando um bastão. Vence a equipe que colocar a outra para fora do campo,

de modo que esse jogo está ligado à concepção de preservação do território;

c) Põhy pry japir xà: é um jogo tradicional

composto de um brinquedo confeccionado com palha de milho e penas de galinha, que lembra a peteca em nossa sociedade. Esse jogo é utilizado para valorizar a solidariedade e a união entre os povos;

d) Arremesso de lança: Jogo etnoesportivo

que consiste em arremessar a lança o mais longe possível. Essa atividade tradicional do povo Krahô consiste em utilizar a lança como instrumento para caça de grandes animais do cerrado. Conforme Leite (2017 p. 141) “[...] O arremesso da lança é um saber tradicional que acompanha os Krahô durante séculos e que está sendo resgatado por intermédio dos Jogos Krahô, que também pode ser utilizado no processo educacional com mesmo sentido através da Educação Física”.

e) Corridas: as corridas são disputadas

entre atletas masculino e feminino, nas seguintes categorias: 1) Corrida dos 200 metros: Realizada

em uma das ruas que leva ao pátio central da aldeia. 2) Corrida de revezamento com flecha 6 x 6: São seis atletas com a meta de percorrer

600 metros ao redor do “pátio” da aldeia, sendo que cada atleta percorrerá 100 metros assim que revezar a flecha que carrega.

f) Arco e flecha: O arco e flecha é

uma disputa tradicional da maioria dos povos indígenas, são instrumentos utilizados para a caça e como arma em caso de combate. Nos Jogos Krahô, o objetivo é fazer com que a flecha alcance a maior distância. Leite (2017, p.142), explica que “[...] O vencedor fica com as flechas do adversário. Esta prova assemelha-se ao tipo de caça do povo Krahô, pois muitos dos animais caminham sobre o chão do cerrado tocantinense, justamente a

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direção para onde as flechas são apontadas”.

g) Natação: As disputas acontecem nas

categorias masculino e feminino, no rio Manoel Alves Pequeno. Os nadadores atravessam o rio, ganha aquele que voltar primeiro “O nado é uma prática do cotidiano Krahô, faz parte do elemento lúdico e dos saberes tradicionais necessários à sobrevivência, todavia a técnica é livre, não há preocupação com fundamentos técnicos específicos, mas cada um realiza de forma pessoal” (LEITE, 2017, p. 144).

h) Corrida com tora: A corrida com tora é

uma das atividades mais esperadas pelo público presente nas disputas. Ela é praticada pelo povo Krahô, nas modalidades feminino e masculino, sendo que as toras possuem tamanhos e pesos diferentes conforme gênero e faixa etária, pois trata-se de uma modalidade que exige muita destreza e habilidade, além de força física. A corrida é realizada ao redor do pátio, com equipes compostas de várias pessoas da mesma categoria para o revezamento das toras que chegam a pesar cerca de 100 quilos. Vence a equipe que der uma volta completa ao redor do pátio.

5. METODOLOGIA

Este trabalho é de cunho qualitativo (ALMEIDA, et. all, 2017; MIRANDA e SILVA, 2019), uma vez que prioriza compartilhar as experiências vivenciadas enquanto pesquisadores quando da visita ocorrida entre os dias 16 e 22 de agosto de 2016, a aldeia Manoel Alves Pequeno para realizar os lançamentos dos livros produzidos pelo Laboratório de Línguas Indígenas e para assistirmos a terceira edição dos Jogos Esportivos Tradicionais do Povo Krahô.

busca por informações consistentes e válidas e não pode deter-se aos dados estruturados, puramente quantitativos, tal qual os imaginamos - na forma de clássicas planilhas, relatórios volumosos, números, percentuais e gráficos - cada vez mais precisamos ir aos dados de natureza qualitativa, como textos, discursos, entrevistas, trecho de livros, reportagens, etc. Dados que envolvem elementos que muitas vezes desafiam a astúcia do pesquisador ou do homem de negócios, pois escondem em suas entrelinhas posicionamentos, opiniões, perfis, que exigem uma leitura atenta e ferramentas (tal qual a lupa de um detetive) que possibilitem chegar com maior rapidez (condição de sobrevivência) às informações realmente pertinentes (POZZEBOM e FREITAS, 1996; LESCA, FREITAS e CUNHA, 1996).

Desta forma, a pesquisa foi realizada pelo prisma da etnografia, método muito utilizado pela antropologia na descrição de grupos étnicos e culturais, onde se descrevia o modo de vida da humanidade e, mais tarde passou a servir como modo de descrição social e científica de pessoas ou da configuração cultural de populações. Atualmente se observa uma crescente adoção da etnografia por diferentes disciplinas científicas como a sociologia, a educação e a psicologia, e sua utilização em diferentes áreas da pesquisa.

Foi por meio da etnografia que como pesquisadores adentramos no mundo do povo Krahô e observamos cada detalhe, de tudo o que nos era apresentado e ocorria ao nosso redor.

A etnografia caracteriza-se pela descrição ou reconstrução de mundos culturais originais de pequenos grupos, para fazer um

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singulares, a fim de recriar as crenças, descrever práticas e artefatos, revelar comportamentos, interpretar os significados e as ocorrências nas interações sociais entre os membros do grupo em estudo. O pesquisador permanece em campo envolvido, durante um período durável, na vida cotidiana dos membros de uma comunidade ou grupo homogêneo, geograficamente determinados, partilhando de suas práticas, hábitos, rituais e concepções, sem pré-julgamento ou preconceitos pessoais para compreender a cultura dos grupos. Esse contato próximo habilita o pesquisador para alcançar um conhecimento íntimo e amplo do grupo, aprendendo não só o que ocorre no local, mas também como é visto, construído e usado pelos membros do grupo nas atividades habituais do dia a dia (CHIZZOTTI, 2013, pp. 71-72).

Observa-se que a etnografia deu-nos a oportunidade de participarmos de perto de cada atividade. Podíamos interagir com a comunidade o tempo todo sem, contudo, interferir no planejamento dos acontecimentos e das festividades.

Também foi utilizado um diário de campo, onde tudo foi anotado rigorosamente a medida em que acontecia, este instrumento foi de suma importância para que pudéssemos resgatar as memórias dos fatos e atividades que aconteceram durante o período que estivemos em campo.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A experiência vivenciada durante a visita que ocorreu entre os dias 16 a 22 de agosto de 2016 nos oportunizou participar do lançamento dos livros produzidos pelo LALI e acompanhar a terceira edição dos Jogos Tradicionais Krahô, ocorrida a partir do dia 17, que nos proporcionou momentos inesquecíveis, pois tivemos a oportunidade de não só conhecer os jogos em suas diferentes modalidades, mas também conhecer o sentido de uma competição que prioriza a confraternização, interação e fortalecimento cultural.

Desde o momento em que chegamos até a nossa partida fomos tratados com muita atenção, carinho e respeito pelo Povo Krahô. Os mais velhos nos informavam sobre os valores e significados de cada atividade, sempre incentivando os mais jovens a praticar as modalidades da competição ativamente.

Durante o período em que estivemos junto aos Krahô presenciamos uma comunidade em festa, na qual a harmonia da vida em comunidade está em permanente construção, onde é valorizado a dimensão humana afetiva, emocional e espiritual dos indivíduos que compõem a comunidade.

Observamos ainda, que a natureza é utilizada como meio para a realização dos jogos e, é da natureza que se extrai quase todos os bens materiais para a confecção dos artefatos utilizados nos jogos, extração essa que não depreda e não expõe os recursos naturais. A utilização do rio na prova de natação e a confecção dos arcos e das flechas bem demonstram essa realidade.

Verificou-se que existe um anseio ético universal entre a comunidade e os participantes

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dos jogos, assim como uma estrutura moral também universal em que todos os participantes se respeitam mutuamente e agem sob os princípio da solidariedade a fim de manter viva e aperfeiçoar sua cultura.

Os jogos significam a vivência em comunidade, onde todos os integrantes se preocupam com todos. Significam que o povo Krahô busca o consenso entre todos da comunidade e não há rivalidade, mesmo nos momentos de conflitos se procura chegar a um ponto de neutralidade em que todos os interesses coincidem.

Por meio dos Jogos procura-se aprofundar os valores para que não haja submissão e pudemos conhecer alguns dos valores religiosos do povo Krahô como a pureza, perfeição, conhecermos

os valores éticos ligados a honestidade, lealdade;

valores políticos como igualdade, imparcialidade, cidadania, liberdade; valores vitais, como a importância da força física e da saúde; valores estéticos como as questões voltadas a harmonia, o belo, sublime, cômico e trágico

Enfim...

... a visita nos proporcionou momentos e conhecimentos inesquecíveis e os jogos esportivos significaram para os indígenas muito mais que somente recuperar a identidade, mas sim valorizá-la e preservá-valorizá-la para as futuras gerações. Para nós a visita significou a concretização do trecho da letra da música Índios (Russo, 1986) em que “ao menos uma vez o mais simples fosse visto como o mais importante”.

ALBUQUERQUE, Francisco Edviges. ALMEIDA, Severina Alves de (Orgs). Educação Escolar Indígena e Diversidade Cultural. Goiânia:Ed.

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