• Nenhum resultado encontrado

Educação, Laicidade e Espiritualidade: as Contribuições do Ensino Religioso para o Pleno Desenvolvimento do Educando

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2020

Share "Educação, Laicidade e Espiritualidade: as Contribuições do Ensino Religioso para o Pleno Desenvolvimento do Educando"

Copied!
8
0
0

Texto

(1)

EDUCAÇÃO, LAICIDADE E

ESPIRITUALIDADE: AS CONTRIBUIÇÕES

DO ENSINO RELIGIOSO PARA O PLENO

DESENVOLVIMENTO

DO EDUCANDO*

CRISTINE GABRIELA DE CAMPOS FLORES**, EVALDO LUIS PAULY***

A

Constituição Federal de 19881 assumiu os tradicionais princípios republicanos da educação universal, do estado laico e do direito à liberdade de crença. Ao serem colocados em prática, estes princípios, geralmente, tornam-se contraditórios entre si, ou, no mínimo, provocam mútuo tensionamento. A educação universal obriga qualquer pessoa a se submeter à educação, um “direito público subjetivo” irrenunciável sob qualquer alegação do livre arbítrio. Em decorrência desse princípio, exige-se a laicidade na educação pública ofertada pela escola estatal, permitindo-se a confessionalidade na educação pública ofertada pela escola privada. Gerando a tensão entre a escola pública e a escola privada. Essa tensão foi agudizada porque, segundo Cury, a atual

Constituição Federal subdividiu as escolas privadas. Há aquelas que, embora devendo prestar um serviço de interesse público (direito ao saber), fazem-no através de mecanismos próprios do sistema contratual de mercado. São as ‘escolas privadas lucrativas’. Trata-se de figura nova no âmbito do ensino superior, já que anteriormente este nível da educação nacional não poderia ter finalidade lucrativa (CURY, 2006, p. 149).

Resumo: o trabalho defende que a disciplina de Ensino Religioso pode trazer contribuições

para a formação de um cidadão livre, para o fortalecimento da democracia em nossa sociedade, para o desenvolvimento da tolerância e respeito entre as pessoas e ainda, poderia preencher uma lacuna existente na educação brasileira, a saber, atender ao desenvolvimento espiritual, direito da criança e do adolescente conforme seu Estatuto.

Palavras-chave: Ensino Religioso. Laicidade. Desenvolvimento Espiritual. Estágios da Fé.

* Recebido em: 13.03.2016. Aprovado em: 27.04.2016.

** Mestranda no Programa de Pós Graduação em Educação do Centro Universitário La Salle (Unilasalle). Bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio Grande do Sul (FAPERGS). Pedagoga. E-mail: cristinegabriela@gmail.com.

*** Doutor em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Mestre em Teologia pelas Faculdades EST de São Leopoldo. Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Educação do Centro Universitário La Salle (Unilasalle). E-mail: evaldo@unilasalle.edu.br.

(2)

Entre as garantias fundamentais da cidadania brasileira proclamadas no art. 5º, no inciso VI, está a de inviolabilidade da “liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos” prevendo uma lei específica para tal que, nesses 25 anos, nunca foi promulgada pelo Poder Legislativo. O artigo 9º estabelece o princípio da laicidade de modo negativo pela proibição de qualquer ente federado “estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento” de modo que o

dispositivo constitucional em análise não permite a transferência de recursos a entidades eclesiásti-cas, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público. Ocorre que, até a presente data, a ressalva constitucional não foi regulada pela legislação ordinária (SAMBOSUKE, 2007, p. 138). Um dos modos previstos pela legislação para a colaboração de interesse público é, exatamente, a educação oferecida pelas escolas privadas não-lucrativas, algumas das quais são confessionais e filantrópicas. Nesse caso, essas escolas, ao

controlarem sua lucratividade e submeterem-se às determinações específicas da normatização, po-dem receber verbas públicas (CF/88, artigo 213, e LDB, artigo 77) e estão isentas de determinados impostos (CF/88, artigo 150, inciso VI, letra c). Seja para regulamentar a possibilidade constitu-cional de que escolas sem fins lucrativos possam receber recursos públicos (CURY, 2006, p. 149). A inexistência da Lei prevista pela Constituição, exigiu que o Poder Executivo es-tabelecesse a regulamentação acerca desta cooperação através do Decreto nº 5.773/20062, mais precisamente no art. 15, inciso I, alínea g que exige, para fins de credenciamento das instituições de ensino superior, no caso das

entidades sem fins lucrativos, demonstração de aplicação dos seus excedentes financeiros para os fins da instituição mantida; não remuneração ou concessão de vantagens ou benefícios a seus instituido-res, dirigentes, sócios, conselheiros, ou equivalentes e, em caso de encerramento de suas atividades, destinação de seu patrimônio a outra instituição congênere ou ao Poder Público, promovendo, se necessário, a alteração estatutária correspondente.

Muito recentemente, o país criou as Instituições Comunitárias de Educação Su-perior (ICES)3 pela Lei nº 12.881, de 12 de novembro de 2013, permitindo uma distinção mais efetiva entre a liberdade de mercado, assegurada pela iniciativa privada estritamente lucrativa, das iniciativas educacionais de cunho filantrópico, incluindo as confessionais, não lucrativas.

Até aqui analisamos o modo como a Constituição estabeleceu de forma objetiva a separação entre Igreja e Estado. Parece que essa objetividade não se manteve para o caso da disciplina escolar “Ensino Religioso”. O artigo 210 da Constituição Federal estabeleceu que o “ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental”. Decorre desta norma constitucional, a Lei nº 9394/19964 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a LDB, cuja redação do artigo 33 foi alterada, posteriormente, pela Lei nº 9.4755, restando definido que o

ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da formação básica do cidadão e consti-tui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respei-to à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo.

§ 1º Os sistemas de ensino regulamentarão os procedimentos para a definição dos conteúdos do ensino religioso e estabelecerão as normas para a habilitação e admissão dos professores.

(3)

§ 2º Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituída pelas diferentes denominações religio-sas, para a definição dos conteúdos do ensino religioso.

Este preceito da legislação nacional reforça o posicionamento político de combate ao proselitismo religioso conforme pactuado pela ONU em 25/11/1981 com a “Declaração para Eliminação de todas as Formas de Intolerância e Discriminação com base em religião ou convicção”:

Artigo 5

1. Os pais, ou no caso os tutores legais de uma criança terão o direito de organizar sua vida familiar conforme sua religião ou suas convicções e devem levar em conta a educação moral em que acredi-tem e queiram educar suas crianças.

2. Toda criança gozará o direito de ter acesso a educação em matéria de religião ou convicções conforme seus desejos ou, no caso, seus tutores legais, e não lhes será obrigado a instrução em uma religião ou convicções contra o desejo de seus pais ou tutores legais, servindo de princípio essencial o interesse superior da criança.

3. A criança estará protegida de qualquer forma de discriminação por motivos de religião ou con-vicções. Ela será educada em um espírito de compreensão, tolerância, amizade entre os povos, paz e fraternidade universal, respeito à liberdade de religião ou de convicções dos demais e em plena consciência de que sua energia e seus talentos devem dedicar-se ao serviço da humanidade (BRASIL, 2011, p. 17-8).

Esse ideal democrático, no entanto, enfrenta problemas na sua implementação den-tro das salas de aula. A exemplo do que a pesquisa de Ranquetat Júnior desvelou sobre o Ensino Religioso nas escolas públicas do Rio Grande do Sul:

O modelo de ensino religioso adotado nas escolas públicas do estado do Rio Grande do Sul segue, grosso modo, as orientações da Lei Federal, sendo supraconfessional e inter-religioso, vedando qual-quer forma de doutrinação e proselitismo, buscando respeitar a diversidade religiosa da sociedade gaúcha. Entretanto, como se pôde constatar na pesquisa de campo, o ensino religioso nas escolas públicas gaúchas ainda possui, em parte, um teor confessional cristão e, muitas vezes, proselitista, o que contrasta com o ideal pluralista e inter-religioso defendido pelos principais atores envolvidos na implantação dessa disciplina (RANQUETAT, 2009, p. 2).

ENSINO RELIGIOSO E LAICIDADE

A falta de objetividade pedagógica e direcionamentos didáticos claros na legislação para a disciplina escolar “Ensino Religioso” transformaram-na em um “ponto de interroga-ção”. Apesar de ser área do conhecimento, o Ministério da Educação (MEC) não estabeleceu parâmetros curriculares nacionais para o Ensino Religioso, em decorrência disso, a disciplina é objeto de discussão e alvo de polêmicas. Essa situação foi sintetizada pela pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Ciências das Religiões da Universidade Federal da Paraíba:

como ensinar religião ou falar de religião em um estado laico? Em outros termos, como separar ensino religioso sem confissão religiosa de catequese ou formação religiosa? As linhas de separação são muito tênues e os posicionamentos muito apaixonados para garantir uma adequada discussão (DOMINGOS, 2008, p. 154).

De acordo com Domingos, o assunto é recente no Brasil e, por isso, propõe-se a discutir o tema da laicidade a partir do modelo francês, país no qual a discussão vem se

(4)

de-senvolvendo há décadas. Assim, esse artigo desenvolve alguns conceitos e análises relevantes para a abordagem do tema em questão.

Domingos (2008, p. 156) esclarece que o laicismo não se posiciona com hostilida-de em relação à influência da Igreja, mas sim, “reclama uma autonomia face à religião, uma exclusão das Igrejas do exercício do poder político e administrativo e, em particular, da orga-nização do ensino público”. Na França, a laicidade é concebida como um fator que favorece a construção de uma sociedade livre, que preserva o espaço público de todo esfacelamento, concluindo que“é impossível compreender o princípio da laicidade sem investigar sua pró-pria construção como forma de pensar e de agir do homem livre” (DOMINGOS, 2008, p. 157). Nessa mesma perspectiva, Morais, fundamentando-se no conceito de homem livre de Anísio Teixeira, como sendo

aquele que sabe ir e vir com segurança, pensar com clareza, querer com firmeza e executar com te-nacidade, o homem que perdeu tudo o que era desordenado, informe, impreciso, secundário em sua personalidade, para tê-la, nítida, disciplinada e lúcida (TEIXEIRA apud MORAIS, 2013, p.108). O autor defende que “a construção de uma nação democrática não tem sustentação sem a garantia do direito de ampla liberdade, que responde, por exemplo, a liberdade de ex-pressão religiosa” (MORAIS, 2012, p. 109). Para Anísio Teixeira, a liberdade está intimamen-te relacionada com a lucidez, com a instrução, com a capacidade de tomar decisões baseadas na razão. Nesse sentido, a disciplina de Ensino Religioso pode ter um papel fundamental para a formação do homem livre, pois, como defende Domingos:

Entender o fenômeno religioso, então, é essencial para a própria formação do homem racional, para a aquisição e desenvolvimento de um espírito crítico, que lhe permitirá posicionar-se diante dos fenômenos de atualidade ou dos fatos da história da humanidade (DOMINGOS, p. 2008, p. 163). Trata-se de oferecer ao estudante os meios para que seja capaz de deliberar diante das diversas orientações religiosas, sendo esse um posicionamento consciente, motivado por informações, reflexões e análises fundamentadas no conhecimento. Dessa forma, a escola estaria cumprindo o verdadeiro significado do ato de educar - no original educare – a forma-ção do indivíduo de dentro para fora. Pode-se inferir que é nesse sentido que a Constituiforma-ção Federal proclama o ensino religioso como “parte integrante da formação básica do cidadão” (LDB, art. 33)6. Sendo assim, é indispensável que a escola esteja apta para orientar seu aluno tanto na dimensão material, quanto na dimensão imaterial, de sua vida.

Além disso, o conhecimento acerca dos fenômenos religiosos em um local neutro, fora das paredes das instituições religiosas e orientado por um educador, abre espaço para diálogo e respeito. Isso é educar para a tolerância! Nesse sentido, Holmes7 anuncia que atra-vés do Ensino Religioso a escola oferece a seus alunos, “a oportunidade de compreender sua dimensão religiosa, permitindo-lhe encontrar respostas aos seus questionamentos existenciais mais profundos e descobrindo e redescobrindo o sentido de sua busca, na convivência, diá-logo e respeito com as diferenças”. Nessa mesma perspectiva Xavier Darcos, então, Ministro Delegado do Ensino Escolar da França, disse em sua palestra de abertura do seminário “O ensino dos fatos religiosos” em 2003 naquele país:

No mundo de hoje, a tolerância e a laicidade não podem encontrar bases mais sólidas que o co-nhecimento e o respeito do outro, pois é o enclausuramento e a ignorância que alimentam os

(5)

preconceitos e os comunitarismos. Reforçar o conhecimento das religiões, melhorar o ensino do fato religioso […], confortará o espírito de tolerância nos nossos concidadãos, dando-lhes meios de melhor respeitar uns aos outros (DARCOS apud DOMINGOS, 2008, p. 158).

Compreende-se assim, as contribuições da disciplina de Ensino Religioso para a formação de um cidadão livre e para o fortalecimento da democracia em nossa sociedade e, ainda, para o desenvolvimento da tolerância e respeito nas pessoas. Além dessas importantes contribuições, a referida disciplina pode preencher outra lacuna existente na educação bra-sileira, a saber, o desenvolvimento espiritual, direito da criança e do adolescente conforme o artigo 3º do ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente.8 Apesar de proclamar esse direito, da mesma forma que a legislação não traz as diretrizes para a disciplina de Ensino Religioso, o Estatuto não deixa claro como o desenvolvimento espiritual livre e digno, de fato, acontece e nem qual instituição ou instituições sociais são responsáveis por promovê-lo e assegurá-lo. Questões explanadas a seguir.

DESENVOLVIMENTO ESPIRITUAL

A Espiritualidade é uma dimensão íntima e pessoal da vida do ser humano. Ques-tões existenciais como: “De onde eu vim?”, “Por que estou aqui?” e “O que existe após a morte?”, parece que acompanham a pessoa desde o início de sua autoconsciência até o fim de sua vida. De acordo com Fowler essas perguntas são perguntas de fé, já que, através delas, o ser humano expressa suas incessantes buscas para atribuir sentido à sua vida. Diferentemente dos animais, o homem precisa de um sentido para viver de forma plena.9 As respostas que encontramos para essas perguntas, durante nossa existência, fazem com que consideremos a vida plenamente digna de ser vivida e que podem nos tornar pessoas mais ou menos livres, mais ou menos felizes.

Tais questões, porém, não podem ser resolvidas apenas utilizando os recursos da inteligência científica da humanidade, vários acontecimentos e situações no mundo permane-cem ocultas ao nosso conhecimento. As pessoas vivenciam diversas experiências para as quais não encontram ou não existem explicações científicas, mas sobre as quais é possível pensar racionalmente, ainda que seja para concluir que tais experiências estão acima de nossa capa-cidade de compreensão. Mesmo assim, são experiências reais, sobre as quais podemos refletir, meditar e costuma-se denominá-las como sendo experiências espirituais. Nesses momentos da vida aparece a necessidade e o pensamento sobre o transcendente e através de uma relação estabelecida com a transcendência ou o ser divino, as pessoas buscam consolar-se da angústia oferecida pelo “não saber” da ciência e de sua razão.

James Fowler foi professor de teologia e lecionou até 2005 na Universidade de Emory em Atlanta nos EUA. O seu livro mais conhecido é “Estágios da Fé”, publicado em 1981. Em sua teoria sobre os “Estágios da Fé” aborda a fé em um sentido mais genérico e inclusivo, caracterizando-a como um processo centralizador e integral que subjaz à formação de crenças, valores e sentidos. Para o autor, a fé deve ser entendida em um sentido mais amplo, sendo um traço comum dos seres humanos. Fowler e seus colaboradores entrevistaram 359 pessoas com idades entre 3 e 84 anos, entre os anos de 1972 e 1981. Seu objetivo era compreender o desenvolvimento da fé. Após as análises das entrevistas o autor afirmou que seu estudo sobre o desenvolvimento da fé “confirma, o julgamento de que os seres humanos são geneticamente

(6)

po-tenciados - quer dizer - são dotados no nascimento - com prontidão para desenvolver-se na fé” (FOWLER, 1992, p. 248). Para o referido autor, a fé é uma das potencialidades da capacidade cognitiva do ser humano, como algo a ser desenvolvido. E, de acordo com Fowler, tal constructo permite à pessoa atribuir significado e propósito para a existência humana.

A perspectiva da educação integral também dá subsídios para que se possa pensar na relevância de uma educação que promova o desenvolvimento da espiritualidade. Nesse sentido, a professora universitária e pesquisadora Leda Lísia Franciosi Portal (2007) defende a construção de uma “cultura educacional ‘verdadeiramente integral’, que reconheça a in-separabilidade do corpo, mente, coração e espírito” (PORTAL, 2007, p. 287). Para Portal, a Universidade deve oportunizar “espaços de discussão e construção do conhecimento que ampliem a consciência de professores e alunos sobre a importância e necessidade de inves-timento nas Dimensões constitutivas do SER, enfatizando o estudo da menos desenvolvida delas – a espiritual” (PORTAL, 2007, p. 287). Em concordância com a teoria de Fowler, a autora considera que não nascemos com um sentido pré-concebido para a vida, mas que cada ser humano tem em si a capacidade de descobrir e cultivar um sentido pessoal e único para sua existência (PORTAL, 2007).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Segundo Pauly (2004) o “dilema epistemológico” atribuído ao componente curri-cular Ensino Religioso é devido a sua localização ambígua, já que o art. 210, § 1º da Consti-tuição Federal de 1988 situa o ensino religioso no espaço, ao mesmo tempo, público (escola) e privado (liberdade de consciência). Na tentativa de superar essa e outras questões, educa-dores - leigos e clérigos - organizaram o Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso (FONAPER). De acordo com o website do FONAPER, sua origem se deu através de:

Algumas experiências de acolhimento e respeito entre igrejas cristãs levaram, posteriormente, a re-pensar novamente o Ensino Religioso. Grupos de educadores, entidades religiosas, universidades e secretarias de educação, sentiam a necessidade de encaminhar uma nova forma de ministrar o En-sino Religioso, que acolhesse a diversidade cultural religiosa brasileira. Em 1995, persistentes neste ideal, os participantes da vigésima nona Assembléia Ordinária do Conselho de Igrejas para o Ensino Religioso – CIER, que no ato comemorava seus 25 anos de experiência ecumênica, propõe a ins-talação do Fórum Nacional Permanente de Ensino Religioso (FONAPER, www.fonaper.com.br). Em outubro de 1996, o Fonaper apresentou ao Ministério da Educação (MEC) um documento contendo uma proposta para os “Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Religioso”, posteriormente editado pela Editora Ave-Maria em 1997. O documento marca um passo histórico para a educação brasileira, uma vez que

Pela primeira vez, pessoas de várias tradições religiosas, enquanto educadores conseguiram elabo-rar uma proposta pedagógica para o Ensino Religioso, tendo como objeto de estudo o fenômeno religioso, sem proselitismo, mediante amplo processo de reflexão sobre os fundamentos históricos, epistemológicos e didáticos desse componente curricular, explicitando seu objeto de estudo, seus objetivos, seus eixos organizadores e seu tratamento didático (HOLMES, s.d., p. 8).

De acordo com Pauly (2004) essas iniciativas representam “um avanço importante em relação aos programas das ‘aulas de religião’, quase sempre definidos por bispos ou pastores.” (2004, p.174), porém, o autor afirma, que o dilema epistemológico do Ensino Religioso não foi resolvido.

(7)

Junqueira e Dissenha (2013) realizaram uma pesquisa do tipo Estado da Arte em diferentes produções que abordam o tema em questão e identificaram e analisaram a produção do conhecimento sobre o Ensino Religioso, com o objetivo de traçar a identidade desse com-ponente curricular a partir da produção científica. De acordo com os autores, de forma geral, os textos analisados, necessitam de “um mergulho mais denso na literatura de base e um apro-fundamento nas reflexões teórico-metodológicas” (JUNQUEIRA; DISSENHA, 2013, p. 148). Apesar da pluralidade dos trabalhos encontrados, não representam avanços no estado do conhe-cimento uma vez que “influenciados pelas novas abordagens metodológicas dos microcosmos e contextos localizados, há poucos trabalhos que conseguem generalizar os achados de forma que constituam novas categorias para o campo” (JUNQUEIRA; DISSENHA, 2013, p. 149), dificultando a demarcação epistemológica dessa área de conhecimento. Junqueira e Dissenha (2013) também verificaram que as pesquisas realizadas sobre o Ensino Religioso vêm crescendo e expandindo-se para além dos limites da Teologia e da Educação, pois foram localizados tra-balhos em áreas como, Direito, Antropologia, Sociologia e outros campos do conhecimento.

Esse artigo defendeu a importância da disciplina do Ensino Religioso para a forma-ção de uma cidadania livre e para o fortalecimento da democracia em nossa sociedade e para o desenvolvimento da tolerância e respeito entre as pessoase ainda identifica na disciplina a pos-sibilidade de oferecer o desenvolvimento espiritual à criança e ao adolescente como previsto no ECA. Porém o trabalho também verificou que a disciplina ainda necessita de fundamen-tação epistemológica, um desafio a ser superado pela comunidade acadêmica, tendo em vista as possibilidades de contribuição da disciplina para o pleno desenvolvimento do educando. EDUCATION, SECULARITY AND SPIRITUALITY: THE RELIGIOUS

EDUCATION CONTRIBUTIONS FOR FULL DEVELOPMENT OF THE STUDENT Abstract: the work argues that the Religious Education discipline should contribute to the forma-tion of a free citizen , for the strengthening of democracy in our society , for the development of tolerance and respect among people and also could fill a gap in Brazilian education, namely the spiritual development of the child and adolescent rights as its Statute.

Keywords: Religious Education. Secularism. Spiritual Development. Stages of Faith. Notas

1 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituiçao.htm

2 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/decreto/d5773.htm 3 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Lei/L12881.htm 4 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9394.htm

5 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9475.htm

6 Vide o texto atualizado da LDB em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm

7 Disponível em: http://www.fonaper.com.br/noticias/64_texto_apresentado_no_vi_conere__fonaper_ mariajose.pdf. Acesso em 30/11/2015

8 “Art. 3º “A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade”. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069.htm 9 Assim, parece possível associar o desenvolvimento espiritual previsto no ECA com um princípio fundamental

(8)

da educação, conforme a LDB em seu Art. 2º: “A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (Grifo nosso). Referências

BRASIL. Presidência da República. Secretaria de Direitos Humanos. Diversidade religiosa e

direitos humanos: reconhecer as diferenças, superar a intolerância, promover a diversidade.

Brasília: Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, 2011. Disponível em: http://portal.mj.gov.br/sedh/biblioteca/diversidade/libro_diversiade.pdf. Acesso em: 26/10/2013. CURY, Carlos Roberto Jamil. A educação escolar no Brasil: o público e o privado. Trabalho,

Educação e Saúde, Rio de Janeiro, v. 4, n. 1, p. 143-158, Mar. 2006. Disponível em: http://

www.scielo.br/pdf/tes/v4n1/09.pdf. Acesso em: 22/09/2013

DOMINGOS, Marília de Franceschi Neto. Escola e laicidade: o modelo francês.

Inte-rações - Cultura e Comunidade, Uberlândia, v. 3, n. 4, p. 153-170, jul./dez. 2008.

Dispo-nível em: http://www.ce.ufpb.br/ppgcr/arquivos/producoes/producao_4.pdf . Acesso em: 22/09/2013

JUNQUEIRA, Sérgio Rogério Azevedo; DISSENHA, Isabel Cristina Piccinelli. A Identi-dade do Ensino Religioso a partir da produção científica. Estudos Teológicos, v. 53, n.1, Jul. 2013. Disponível em: http://periodicos.est.edu.br/index.php/estudos_teologicos/article/ view/423/798. Acesso em: 01/12/2013.

HOLMES, Maria José Torres. O Currículo do Ensino Religioso à Luz do FONAPER: uma

construção coletiva. Documento eletrônico. Disponível em:

http://www.fonaper.com.br/noticias/64_texto_apresentado_no_vi_conere__fonaper_maria-jose.pdf . Acesso em 01/12/2013.

MORAIS, Lindberg Clemente. Educação e Espiritualidade: reflexões sobre ensino reli-gioso e democracia. Diálogo: pesquisa e extensão universitária, Brasília, v. 18, n. 1, p 106 – 113, jan./jun. 2012. Disponível em: http://portalrevistas.ucb.br/index.php/RDL/article/ view/3918/2395. Acesso em 20/09/2013.

PAULY, Evaldo Luis. O Dilema Epistemológico do Ensino Religioso. Revista Brasileira de

Educação, n. 27, p 172 – 182, set./dez. 2004. Disponível em:

http://www.scielo.br/pdf/rbe-du/n27/n27a11.pdf . Acesso em 01/12/2013

PORTAL, Leda Lísia Franciosi. Educação para inteireza: um (re)descobrir-se. Educação, Porto Alegre, RS, edição especial, p. 285-296, 2007.

_____. O Sentido da Existência Humana: Um Olhar para Cima na Aventura do Encontro Interior. In: ENRICONE, Delcia. et al. (org) A Docência na Educação Superior: Sete Olha-res. 2 ed. Porto Alegre, RS: ediPUCRS, 2008, p. 49-64.

RANQUETAT JÚNIOR, Cesar A. Educação e religião: o novo modelo de ensino religio-so nas escolas públicas do estado do Rio Grande do Sul. Debates do NER, Porto Alegre, v. 9, n. 14, p. 1-19, ago/dez. 2009. Disponível em: http://seer.ufrgs.br/debatesdoner/article/ view/7282/4634. Acesso em 25/10/2013.

SAMBOSUKE, Sérgio Tadao. Transferência de recursos públicos para entidades eclesiás-ticas. Cadernos ASLEGIS, Brasília, v.11, n. 32, p. 135-144, set/dez 2007. Disponível em: http://bd.camara.gov.br/bd/bitstream/handle/bdcamara/11397/transferencias_recursos_

Referências

Documentos relacionados

Para entender o supermercado como possível espaço de exercício cidadão, ainda, é importante retomar alguns pontos tratados anteriormente: (a) as compras entendidas como

Os estudos originais encontrados entre janeiro de 2007 e dezembro de 2017 foram selecionados de acordo com os seguintes critérios de inclusão: obtenção de valores de

Este trabalho buscou, através de pesquisa de campo, estudar o efeito de diferentes alternativas de adubações de cobertura, quanto ao tipo de adubo e época de

O valor da reputação dos pseudônimos é igual a 0,8 devido aos fal- sos positivos do mecanismo auxiliar, que acabam por fazer com que a reputação mesmo dos usuários que enviam

Box-plot dos valores de nitrogênio orgânico, íon amônio, nitrito e nitrato obtidos para os pontos P1(cinquenta metros a montante do ponto de descarga), P2 (descarga do

As bandas 3 e 4 resultantes da fusão foram empregadas na geração da imagem NDVI, utilizada na classificação orientada a objetos para diferenciar a classe vegetação das demais

(essencialmente toalhas adamascadas, damasquilho de linho e algodão, panos de linho e lenços de linho e algodão, desenvolvidos essencialmente em 17 freguesias do concelho

• Inicialmente, é necessário saber o valor futuro desta operação, visto que o desconto é aplicado sobre esta expectativa de recebimento... Esta empresa decide antecipar a dívida