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PERCEPÇÃO AMBIENTAL E PROPOSTA DIDÁTICA SOBRE A DESMISTIFICAÇÃO DE ANIMAIS PEÇONHENTOS E VENENOSOS PARA OS ALUNOS DO ENSINO MÉDIO

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Percepção ambiental e proposta

didática sobre a desmistificação de

animais peçonhentos e venenosos para

os alunos do ensino médio

Azevedo, B.R.M.1;

Almeida, Z.S.2;

1 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão. E-mail: brunarafaela_bio@hotmail.com;

2 Laboratório de Pesca e Ecologia Aquática, Departamento de Química e Biologia, Universidade Estadual do Maranhão, Cidade Universitária Paulo VI, Caixa Postal 9, São Luís/MA, Brazil, zafiraalmeida@hotmail.com

RESUMO

Animais peçonhentos e venenosos frequentemente despertam o interesse geral dos es-tudantes, já que geralmente estão cercados de histórias populares, lendas e crendices. As concepções errôneas que cercam esses animais são acompanhadas de um desconhecimen-to geral sobre a biologia e formas de identificação das espécies, medidas de prevenção de acidentes e práticas corretas de primeiros socorros. A educação ambiental, neste contexto, tenta desconstruir visões equivocadas da natureza e construir o conhecimento científico a partir do conhecimento popular, além de contribuir na conservação de espécies e ecos-sistemas. O presente trabalho teve como objetivo investigar o conhecimento prévio dos estudantes do ensino médio acerca dos mitos e verdades existentes sobre animais peço-nhentos e venenosos e, ainda, elaborar um material didático complementar que auxilie as práticas pedagógicas dentro e fora de sala de aula. Foram entrevistadas 258 estudantes, que responderam a um questionário semi-estruturado, que trazia perguntas referentes às experiências prévias dos alunos com o tema, procedimentos de manejo de animais peçonhentos e primeiros socorros, além da definição correta de conceitos e espécies. Foi elaborada uma proposta de material didático complementar, do tipo cartilha, para auxi-liar o professor na transmissão de conhecimentos específicos aos alunos. As respostas às perguntas dos questionários indicam uma carência na abordagem em sala de aula e na propagação de conceitos e ideias erradas sobre o tema o que contribui na disseminação de mitos e dificultam as estratégias de conservação.

Palavras-chave: Educação ambiental. Cartilha. Serpentes. Artrópodes.

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Environmental perception and didactic

proposal about the dismissal of vermin

and poisonous animals for middle

school students

ABSTRACT

Vermin and poisonous animals frequently arouse the general interest of students, since they are generally surrounded by popular stories, legends and superstitons. The wrong conceptions that surround these animals are accompanied by a general not know about the biology and the ways of identifying the species, accident prevention measures and right practices of first aid. The environmental education, in this context, tries to decons-truct wrong views of nature and build scientific knowledge from the popular one, beyond to contribute with ecosystems and species conservations. The present work had as objec-tive to investigate the previous knowledge of high school students about the myths and truths existing about vermin and poisonous animals, and still to produce a complement educational material which helps the pedagogical practices in and out of the classroom. We interviewed 258 students who answered a half structured questionnaire that brought questions reported to previous experience of the students with the theme, handling pro-cedures of vermin and poisonous animals and first aid, beyond the correct definition of concepts and species. It was produced a proposal of a complement didactic material like a primer to try to provide the teachers’ needs in the transmission of specific knowledge to the students. The answers pointo to lack of this approach in the classroom and in the spread of wrong conceptions and ideias about the theme that contribute to dissemination of myths and difficult conservation strategies.

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1. INTRODUÇÃO

A clássica definição de educação ambiental é dada por Dias (1994) como sendo uma orientação ao conteúdo e à prática da educa-ção, na busca da solução para os problemas concretos do meio ambiente, através de en-foques interdisciplinares e da participação ativa e responsável de cada indivíduo e da coletividade. No Brasil, a Educação Ambien-tal, definida nos Parâmetros Curriculares Nacionais, sugere a discussão de questões éticas, ecológicas, políticas, econômicas, so-ciais, legislativas e culturais de forma trans-versal e abrangente (BRASIL, 1997).

De acordo com Baptista (2006), a prática de ensino em ciências no Brasil vem assumin-do uma postura cientificista, que distancia a cultura do estudante da ciência. Traba-lhos como de Maldaner (2000) e Mortimer (2005) mostram que persiste, nas salas de aulas, um distanciamento entre a aborda-gem dos conteúdos científicos escolares e as concepções prévias dos estudantes. Por-tanto, hoje, um dos desafios da Educação Ambiental é o de pôr o saber científico ao alcance do público escolar. Contudo, é mais do que claro que esse desafio não pode ser enfrentado com práticas docentes antigas, visto que o contexto escolar mudou, pois o contingente estudantil aumentou e a socia-lização, as formas de expressão, as crenças, os valores, as expectativas e a contextuali-zação sócio-familiar dos alunos são outros (DELIZOICOV et al., 2002).

Materiais didáticos que despertem o in-teresse dos alunos e formas diferenciadas

de exposição do conhecimento científico contribuem para melhor assimilação dos conteúdos. As atrativas e múltiplas possibi-lidades de tecnologias, como o videogame e jogos eletrônicos, que não estão disponí-veis na escola, estão associadas a falta de motivação dos alunos com os estudos, ca-bendo à escola encontrar alternativas e no-vas abordagens para estimular o processo de ensino-aprendizagem (KNÜPPE, 2006). A proposta de elaboração de cartilhas edu-cativas complementares aos materiais didá-ticos tradicionais vem na tentativa de auxi-liar o professor na preparação de aulas mais atrativas aos alunos. Segundo Souza e cola-boradores (2009), a cartilha é utilizada des-de o início da metades-de do século XIX como material didático de grande aceitação entre professores, devido a sua formatação que facilita a compreensão do tema abordado, por meio de uma linguagem simples, didá-tica e ilustrada. Assim, através das cartilhas, é possível que temas cientificamente con-ceituados sejam trabalhados e apresentados como conteúdos de fácil compreensão. Ao se tratar a temática de animais peço-nhentos e venenosos, quase sempre os es-tudantes apresentam visões preconcebidas errôneas sobre o risco e manejo correto des-ses animais. Serpentes, anfíbios, aranhas, lacraias, abelhas e escorpiões são alguns dos muitos animais que vivem envoltos a histórias e lendas a respeito da sua pericu-losidade e ameaça à vida de homens e ani-mais domésticos. A falta de conhecimento sobre a ecologia e os hábitos desses animais provoca sensação de repúdio e não

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te ao indivíduo a correta identificação do animal, nem tampouco proceder conforme medidas corretas de manejo e segurança. Conceitos como os de animal peçonhen-to, venenoso e não venenoso nem sempre são claros para a maioria da população. Segundo Ferreira e Soares (2008), um dos principais fatores responsáveis pelo alto ín-dice acidentes com animais peçonhentos é o desconhecimento da população sobre aspectos biológicos e ecológicos básicos de cada animal, assim como sobre a prevenção de acidentes. Sendo assim, cabe à Educação Ambiental a desconstrução dessas visões distorcidas da realidade e a formação de uma consciência ambiental, pois, segundo Chassot (2010), somente um indivíduo al-fabetizado cientificamente entende o meio onde vive e age de forma a melhorá-lo. Entende-se por animal venenoso aquele que secreta alguma substância tóxica para outros animais, inclusive para o ser huma-no. Essas substâncias podem estar presentes na pele ou em outros órgãos e têm a função de proteger o animal contra predadores. Alguns peixes, diversos anfíbios e alguns invertebrados são exemplos de animais venenosos (COTTA, 2014). Animais peço-nhentos são aqueles capazes de produzir e inocular substância tóxica, sendo responsá-veis por causar acidentes que podem pro-vocar complicações locais, gerando seque-las e em casos mais graves, evoluir ao óbito (BRASIL, 2009). Essa definição é a mesma utilizada por diversos autores, como Puorto e França (2003) e Bernarde (2012), e será adotada nas discussões desse trabalho.

Nesse contexto, o objetivo desse trabalho foi avaliar o conhecimento dos alunos de ensino médio do IFMA - Campus Codó so-bre os animais venenosos e peçonhentos, tais como: identificação correta, importân-cia ecológica e procedimentos de manejo e segurança, além da elaboração de um ma-terial didático complementar a ser utiliza-do nas aulas de biologia e em palestras de educação ambiental que contribua para a desmistificação de conceitos sobre o tema.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

A pesquisa foi desenvolvida no campus do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IFMA) localizado em Codó, município situado na chamada e na Zona dos Cocais no estado do Mara-nhão. O campus Codó está localizado na zona rural do município e possui como característica o ensino, pesquisa e exten-são fortemente voltadas para as questões agrícolas e ambientais, possuindo grande parte do corpo docente composto por pro-fessores que integram o campo de ensino das Ciências Agrárias. A presença de cam-pos agropecuários experimentais e de uma considerável vegetação no entorno da in-fraestrutura do campus facilita o encontro ocasional dos alunos com vários animais peçonhentos e venenosos. Sendo assim, a instituição foi escolhida como um ótimo local para fomentar discussões sobre a te-mática animais peçonhentos e venenosos com a comunidade escolar, já que a educa-ção ambiental nas comunidades inseridas nesse contexto é de extrema importância para a conservação das espécies e

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ção do equilíbrio dos ecossistemas, além de contribuir na formação acadêmica de téc-nicos agrícolas e ambientais.

Foram elaborados questionários semiestru-turados para investigar os conhecimentos prévios dos alunos a respeito da impor-tância e dos cuidados que se devem ter ao encontrar ocasionalmente um animal pe-çonhento/venenoso. Foram investigados também os conceitos prévios dos alunos so-bre a temática e se estes conseguiam proce-der à correta classificação de alguns animais quanto ao grau de perigo ao homem. Para elaboração das questões, considerou-se as concepções alternativas ou o senso comum existente sobre o tema, buscando a compa-ração entre o conhecimento científico e os mitos e crenças populares. Adotou-se uma visão antropocêntrica em algumas pergun-tas, pois é a visão mais difundida pelo saber popular e por alguns livros didáticos.

Os questionários foram aplicados em maio de 2014 para estudantes do ensino médio, na faixa etária de 14 a 19 anos. Após a apli-cação, os dados foram tabelados e analisa-dos por meio de estatística descritiva e os resultados apresentados por meio de grá-ficos. Os dados também foram utilizados para elaboração de material didático do tipo cartilha e subsidiaram os conceitos e as práticas que foram abordadas em um mini-curso ministrado para os alunos, intitulado “Animais Peçonhentos: mitos e verdades”.

3.RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram aplicados 258 questionários com alunos do ensino médio do IFMA - Campus

Codó. Dentre os entrevistados, 71% afir-mou já ter tido algum tipo de contato com um animal peçonhento, enquanto 29% nunca teve nenhuma experiência com esse tipo de animal. Caso a aluno desse uma res-posta afirmativa a esse questionamento, era solicitado então que o estudante especificas-se qual animal já havia avistado ou tocado. Vários animais foram citados neste campo, sendo que serpentes foram responsáveis por uma alta porcentagem (60%) das respostas (ver Figura 1). Essa alta porcentagem pode ser explicada pelo fato das serpentes serem notadamente os animais que mais frequen-temente são associados como perigosos e nocivos aos seres humanos. Esses animais fazem parte da mitologia de muitos povos, representando tanto o bem quanto o mal (PIZZATO, 2003). Por conta disso, são mais popularmente relacionados a acidentes com envenenamento e são associados no imagi-nário popular e nas crenças e mitos a senti-mentos e atitudes ruins.

A grande incidência de alunos que tiveram algum tipo de contato com animais peço-nhentos se justifica pela a localização geo-gráfica e aptidão econômica do município de Codó. O campus está localizado na sede da antiga Escola Agrotécnica Federal de Codó, possui vocação totalmente voltada para o ensino das Ciências Agrárias e muitos dos alunos são oriundos de famílias que pos-suem ampla ligação com a terra e atividades agrícolas. Muitos contatos com animais pe-çonhentos são relatados em comunidades rurais ou com trabalhadores que exercem alguma função relacionada à agropecuária (BOCHNER e STRUCHINER, 2003).

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Figura 1: Porcentagens das respostas dadas pelos estudantes do câmpus Codó quando questionados se: a)

Você já viu ou tocou algum animal peçonhento/venenoso? Qual?; b)Qual a sua reação ao avistar um animal peçonhento?

A segunda pergunta do questionário trata-va sobre qual tipo de reação o entrevista-do teria ao encontrar ocasionalmente um animal peçonhento nas dependências da instituição. As respostas mostram que os alunos, em sua maioria, ou chamariam a ajuda de algum professor (32%), ou corre-riam (27%) ou esperacorre-riam o animal ir em-bora (25%) (ver figura 1). Esses resultados permitem perceber ainda uma forte hie-rarquia presente no ambiente escolar. O professor é visto com detentor do conhe-cimento e, portanto, tomador de decisões. Outro aspecto importante nas respostas a esse questionamento foi a baixa incidência de alunos (7%) que afirmaram que mata-riam o animal ao avistá-lo. Apesar da for-ma como esta pergunta foi elaborada ter potencial para indução de uma resposta esperada, em um estudo onde foi feito per-gunta similar, 84% dos entrevistados afir-maram que costumavam matar as aranhas que encontravam (SOUZA e SOUZA, 2005), o que pode demonstrar que os alunos por

estarem inseridos em um contexto rural já tenham noções mínimas de meio ambiente e conservação das espécies.

Os alunos também foram questionados se conheciam alguém que já havia sido pi-cado por algum animal peçonhento. Para essa pergunta, mais da metade dos entre-vistados (53%) afirmaram conhecerem al-gum amigo ou parente que já tenha sofrido um acidente com animal peçonhento. Ao serem questionados sobre qual animal se-ria o causador do acidente, a maiose-ria res-pondeu que o responsável pelo ataque se tratava de uma serpente (57%) ou um es-corpião (27%) (ver Figura 2). Inclusive foi registrado um relato de um aluno que foi picado por escorpião nas dependências da própria escola. Segundo dados do Sinan – Sistema de Informação de Agravos de Noti-ficação, órgão vinculado aos Ministério da Saúde, foram registrados, apenas em 2014, um total de 2290 notificações de acidentes envolvendo serpentes e aranhas no estado do Maranhão.

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Sobre os conceitos referentes ao uso correto dos termos peçonhento e venenoso, 50% dos alunos responderam corretamente afirmando que existem animais venenosos que não são peçonhentos. A outra metade dos alunos deram respostas que variavam numa série de conceitos equivocados (ver Figura 2). Esses altos números de conceitos errôneos difundi-dos entre os estudantes podem estar associadifundi-dos a fato de muitos livros didáticos do ensino médio e fundamental ainda apresentarem erros conceituais graves ao tratarem sobre a di-ferenciação de animais peçonhentos e venenosos (SANDRIN et al., 2005). Em decorrência da avaliação pedagógica realizada nos livros didáticos a partir de 1998, pelo Ministério da Educação, e que resultou na publicação dos Guias de Livros Didáticos (BRASIL, 1999), a maioria dos livros que apresentavam graves erros conceituais e metodológicos foram excluídos do processo de aquisição e distribuição pelas escolas. Contudo, esses livros de edições anteriores e obras recentes não analisadas estão disponíveis aos alunos e professo-res, fazendo parte do acervo bibliográfico das escolas, o que contribui para disseminação de um falso conhecimento científico (NUNEZ et al., 2001).

Figura 2: Porcentagens das respostas dadas pelos estudantes do câmpus Codó quando questionados se a) Você

conhece alguém que já tenha sido picado por animal peçonhento? Que animal era esse?; b) Qual o conceito de animal peçonhento e venenoso?

A quinta pergunta do questionário tratava sobre as medidas a serem tomadas em caso de picada de animal peçonhento. Nessa pergunta, os alunos poderiam escolher múltiplas res-postas, visto que não existe um único procedimento correto a ser adotado. A maioria dos alunos (44%) respondeu corretamente, que a pessoa acidentada deverá ser encaminhada ime-diatamente a um posto de saúde, contudo apenas 13% dos entrevistados detectou que não permitir que o acidentado realize grandes esforços físicos como andar ou correr seja uma me-dida eficaz a ser adotada em caso de acidente. Os procedimentos incorretos e que são, muitas vezes, adotados pelo senso comum representaram, no total, 43% das respostas (ver Figura 3). Segundo Sandrin e colaboradores (2005), a execução de programas de educação ambiental e em saúde que tratem sobre acidentes com animais peçonhentos tem o objetivo de reduzir o número de casos, a letalidade e o não uso de práticas caseiras como primeiros socorros.

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Figura 3: Porcentagens das respostas dadas pelos estudantes do câmpus Codó quando questionados se: a)

Quais procedimentos devem ser adotados em caso de picada por animal peçonhento?; b) Qual a importância da preservação dos animais peçonhentos?

Muitos dos procedimentos de primeiros socorros tidos como corretos por grande parte da população advém de crenças populares, do erro de identificação das espécies de animais e da divulgação errada de procedimentos em programas de televisão, internet e livros didáticos antigos. O incentivo à adoção de medidas preventivas e a divulgação de proce-dimentos adequados a serem tomados em caso de acidente, reduz o número de casos com sequelas e representa uma economia para o serviço público (FERREIRA e SOARES, 2008). Quando questionados se os animais peçonhentos deveriam ser preservados, a maioria dos alunos (96%) respondeu que sim. A justificativa escolhida, predominantemente nes-se caso, é que os animais peçonhentos também contribuem para o equilíbrio ecológico (ver Figura 3). Esse resultado demonstra que os alunos do IFMA – Campus Codó, em sua maioria, já percebem o papel das diferentes espécies nos ecossistemas e rejeitam a visão antropocêntrica que toma como referência as vantagens ou desvantagens que as outras espécies venham a conferir ao homem. Esse tipo de reposta positiva pode já ser reflexo do conhecimento técnico adquirido pelos estudantes nas dependências próprio instituto. O uso de classificações não científicas tais como “feios”, “nojentos”, “nocivos” também são encontradas em alguns livros didáticos (SANDRIN et al., 2005) que podem, inclusive, contri-buir para a matança indiscriminada dos animais que, aparentemente, não oferecem nenhum tipo de utilidade ao homem.

A pergunta final do questionário pedia aos alunos que classificassem as fotos de 15 animais nas categorias: animal não venenoso, animal venenoso e animal peçonhento. As imagens utilizadas foram selecionadas entre espécies locais que frequentemente esses alunos pos-suíam contato, tanto no ambiente escolar como nas suas residências. Muitas espécies não venenosas como rato, barata e piolho de cobra foram classificadas, na maioria dos ques-tionários, como animais peçonhentos ou venenosos (ver Figura 4). Isso se justifica, pois a

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maioria da população possui algum tipo de aversão a esses animais que são frequentemen-te associados a doenças e falta de higiene. Tanto essas espécies como as serpenfrequentemen-tes, aranhas, vespas e escorpiões são classificadas no grupo de animais indesejáveis ao homem. Com as respostas dadas a essa pergunta também é possível perceber que a maioria dos alunos não consegue fazer a correta distinção entre um animal venenoso e peçonhento, demons-trando a carência na abordagem, em sala de aula, dessa caraterística tão importante para compreensão do tema e a para identificação dos potenciais riscos à saúde.

Figura 4: Frequência absoluta da classificação dos animais feita pelos estudantes do campus Codó nas

catego-rias animal não venenoso, animal venenoso e animal peçonhento.

As respostas fornecidas pelos alunos nos questionários foram utilizadas na formulação do material didático do tipo cartilha. A necessidade de produção da cartilha vem do fato da carência da abordagem realizada nos livros didáticos de ensino médio sobre uma temática tão relevante para estudantes inseridos em uma realidade rural. A cartilha continha infor-mações acerca das principais espécies peçonhentas de répteis e artrópodes encontradas no Brasil, conceitos básicos e mitos relacionados à identificação dos animais peçonhentos, métodos para identificação de espécies de interesse médico, consequências e sintomas dos principais acidentes ocasionados por animais peçonhentos, além de cuidados no campo e procedimentos de segurança caso ocorra o encontro ocasional com esses animais.

Como detectado por vários autores (SANDRIN et al., 2005; FERREIRA e SOARES, 2008), os livros didáticos apresentam inúmeros erros conceituais e muitos professores têm dificuldade de acesso à literatura especializada. Portanto, a cartilha tem a proposta de auxiliar o profes-sor na sua prática pedagógica, ajudando-o a enfrentar as dificuldades relacionadas ao tema. O material produzido também pode ser utilizado como material para educação ambiental em ambientes fora da escola em palestras, oficinas e discussões, já que a linguagem empre-gada é bem acessível para os diferentes públicos.

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Além da cartilha educativa, um total de sessenta alunos participaram do minicurso “Animais peçonhentos: mitos e verdades”, que foi ministrado durante dois dias e pos-suiu carga horária total de 10h. O objetivo central dessa ação educativa foi repassar o conhecimento científico e desmistificar uma série de crenças que cercam o imaginário po-pular. A aceitação do minicurso pelo público foi considerada muito boa e houve grande participação dos alunos. Pode-se considerar essa estratégia um bom recurso pedagógico como complemento aos conteúdos regulares ministrados em sala de aula, sendo uma im-portante ferramenta de educação ambiental. Os resultados dos questionários, o processo de elaboração da cartilha didática e o diálo-go desenvolvido com os estudantes durante o minicurso mostram que existem muitas dúvidas e mitos sobre a temática animais peçonhentos. O professor, ao abordar esse tema em sala de aula, deve partir, primei-ramente, dos conceitos prévios dos alunos, procurar desmistificar visões incorretas, mitos e crenças populares, numa aborda-gem que permita ao aluno reconhecer a si mesmo como parte integrante do meio am-biente e como construtor e propagador do conhecimento científico.

Esse estudo aponta que as grandes deficiên-cias conceituais apresentadas pelos estudan-tes estão concentradas na diferenciação de animais peçonhentos, medidas de preven-ção e primeiros socorros. Portanto, cabe, ao docente, buscar informações atualizadas sobre esses temas e utilizar métodos didáti-cos para transmissão do conteúdo, visto que esse é um tema de importância não apenas ambiental, mas também de saúde pública.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho mostrou que há uma carência grande na compreensão dos principais aspec-tos que cercam a temática animais peçonhen-tos, principalmente no que se refere à identi-ficação das espécies de interesse médico e ao procedimento em caso de acidente.

Serpentes, escorpiões e aranhas despertam o interesse de crianças e adolescentes e en-tende-se que esse tipo de tema deve ser abor-dado de uma forma mais cuiabor-dadosa pela es-cola. Noções de saúde e ambiente buscam fazer um paralelo entre o conhecimento científico e a vida prática dos estudantes, contribuindo, portanto, para aproximar os jovens do saber científico, despertar o in-teresse pelos estudos, além de desmistificar visões de mundo errôneas e preconcebidas. Acredita-se que ações de educação ambiental nas escolas e o estímulo à produção de mate-riais didáticos auxiliares, como os produzidos a partir desse trabalho, contribuam na forma-ção de cidadãos mais conscientes e de profis-sionais com maior qualidade, com visão de mundo aprofundada e que saibam reconhe-cer a importância das questões ambientais para o pleno desenvolvimento da sociedade.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos ao Programa de Especializa-ção em EducaEspecializa-ção Ambiental e Gestão Par-ticipativa de Recursos Hídricos do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão - IFMA, ao IFMA - Campus Codó e aos inúmeros estudantes que gentil-mente aceitaram participar dessa pesquisa.

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Figura 1: Porcentagens das respostas dadas pelos estudantes do câmpus Codó quando questionados se: a) Você já viu ou tocou algum animal peçonhento/venenoso? Qual?; b)Qual a sua reação ao avistar um animal  peçonhento?
Figura 2: Porcentagens das respostas dadas pelos estudantes do câmpus Codó quando questionados se a) Você  conhece alguém que já tenha sido picado por animal peçonhento? Que animal era esse?; b) Qual o conceito  de animal peçonhento e venenoso?
Figura 3: Porcentagens das respostas dadas pelos estudantes do câmpus Codó quando questionados se: a)  Quais procedimentos devem ser adotados em caso de picada por animal peçonhento?; b) Qual a importância  da preservação dos animais peçonhentos?
Figura 4: Frequência absoluta da classificação dos animais feita pelos estudantes do campus Codó nas catego- catego-rias animal não venenoso, animal venenoso e animal peçonhento.

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