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Profissionalização do servidor público: Requisito para o Desenvolvimento

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Academic year: 2020

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P

ROFISSIONALIZAÇAO DO SERVIDOR

PÚBLICO

Raquisito p a ra o D « M n v o lv im * n t o

R u b e n s R i c u p e r o

E

x i s t c h o je c o n s e n s o i n ­ tern acio n al d e q u e uma das p r é - c o n d i ç õ e s mais im p o r t a n t e s para o d e s e n v o l ­ vimento eco n ô m ico de um país é a qualidade da administração pública. Q u a lqu er governo que p r e t e n d a v e r s u a s d e c i s õ e s i m p l e m e n t a d a s d e m a n e ir a a d e q u a d a e co m r a p id e z n ã o p o d e abrir mão de um aparato burocrático eficiente, ágil, disci­ plinado e preparado. A ausência o u d e f i c i ê n c i a d e s t e a p a r a t o reduz a capacidade dos governos d e c o n c r e t i z a r p r o j e t o s d e interesse público.

No Brasil, o debate sobre a ques­ tão, além d e não ter recebido a d e v i d a a t e n ç ã o , e s t e v e até o p a ssa d o rece n te m arcado p elo q u e c o n s i d e r o d i s t o r ç õ e s e equívocos de interpretação.

Muitos confundiram, no Brasil, a noção de um governo eficiente e forte com a presença estatal em d iv e rsa s áreas da e c o n o m ia e m esm o da vida social. Os q u e

A

ausência ou deficiência do

aparato burocrático reduz a

capacidade dos governos de

concretizarem projetos de interesse

público. A p rofission alizaçã o do

serviço público é objetivo prioritário

e de curto prazo, ao qual não poderão

se furtar os dirigentes máximos do

Brasil. Não se pode conceber um corpo

de funcionários do qual se possam

exigir a prestação de bons serviços

sem que lhes possa oferecer em

contrapartida, a existência de um

plano racional de carreiras, estímulos

ao aperfeiçoamento, perspectivas de

progressão profissional e estrutra

flexível de salários que os permita

adequarem -se tanto ao n ív el de

exigências para a função exercida

quanto ao m érito in d iv id u a l

devidamente aferido.

abraçam esta visão p e cu lia r d o que seja a eficiência estatal são os mesmos que consideram haver na e co n o m ia d iversos “setores estratégicos” que deveriam estar reservados à participação e xclu ­ siva d o Estado. São os mesm os q u e a d v o g a m a i n t e r v e n ç ã o g o v e r n a m e n t a l n a s r e l a ç õ e s em in entem ente privadas, co m o aquelas resultantes d e contratos livremente negociad os entre as

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partes. Dentro desta ótica, o que se quer é um Estado interventor, p o u c o importando a qualidade, os resultados e os benefícios da intervenção para a coletividade. Levada às últimas conseqüências, esta lógica co n d u z a um Estado totalitário.

M ais r e c e n t e m e n t e , n u m a mudança radical de perspectiva, d e t e r m i n a d o s c í r c u l o s , a s ­ s i m i l a n d o mal t e n d ê n c i a s n e o l ib e r a is em cu rso n o u tro s países, puseram-se a defender, n o B ra s il, a r e d u ç ã o e até a e l i m i n a ç ã o d o E s t a d o c o m o c a m i n h o para a re to m a d a d o d e s e n v o l v i m e n t o e p a ra o encaminhamento da solução dos problem as nacionais. Esta visão e s t e v e p r e s e n t e em a lg u m a s d e c is õ e s d o g o v e r n o anterior, q u a n d o a s s i s t i m o s a u m a tentativa d e desm antelam ento, conduzida de maneira tão rápida q u an to irresponsável, d o quadro b urocrático a serviço d o gover­ no. Demitiram-se funcionários e reduziram-se salários sem que se pesassem as conseqüências para a e f ic á c i a d a a d m in is t r a ç ã o pública. Estamos hoje pagando o p r e ç o d o e rro c o m e tid o . O govern o teve fraturado um dos braços essenciais à consecução de seus objetivos.

Hoje, felizmente, dispomos de c o n d iç õ e s mais favoráveis para s u p e r a r v i s õ e s u n i l a t e r a i s e

relançar o tão necessário debate s o b re a q u a li d a d e d o s e r v iç o p ú b l ic o , p a r t i n d o s e m p r e da p r e m is s a d e q u e é um d o s ingredientes necessários para o desenvolvimento.

P o r e x p e r i ê n c i a p r ó p r i a e convicção, não tenho dúvida de q u e a b o a a d m i n i s t r a ç ã o go vern am en tal está in ev ita v el­ mente vinculada à p rofission a­ lização d o funcionalismo. Passei a maior parte de minha vida de servidor p ú b lic o n o Itamaraty, instituição que sempre prestou s e r v i ç o s r e l e v a n t e s a o p a ís justamente por constituir-se num s e r v i ç o p r o f i s s i o n a l i z a d o e perm an en te, com regras p r ó ­ prias que não apenas favorecem o aprim oram ento constante d o diplomata ao longo da carreira, m as t a m b é m r e c o m p e n s a m aqu e le s q u e se d estacam p e lo mérito profissional. Dentro d o Executivo, o Itamaraty é, ao lado das Forças Arm adas, um a das p o u c a s c a r r e i r a s p ú b l i c a s t r a d i c i o n a i s c o m v o c a ç ã o profissional. Não é assim fruto do mero acaso q u e o Itamaraty sempre tenha forn ecido quadros p ara o u t r o s s e t o r e s da administração pública.

A profissionalização d o serviço p ú b lico é, a meu ver, o b jetiv o prioritário e de curto prazo, ao qual não p o d e r ã o furtar-se os d irige n te s m áxim os d o Brasil.

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Não se p o d e co n ceb er um corpo d e funcionários do qual se possa e x i g i r a p r e s t a ç ã o d e b o n s serviços sem q u e se lhes possa o f e r e c e r , em c o n tr a p a r tid a , a existência de um plano racional d e c a r r e i r a s , e s t í m u l o s ao aperfeiçoam ento e perspectivas d e progressão profissional, bem c o m o e s t r u t u r a f l e x í v e l d e s a l á r i o s q u e os p e r m i t a adequarem-se tanto ao nível de exigências para a função exercida q u a n t o ao m é r i t o in d i v id u a l devid am ente aferido. A profis­ s io n a li z a ç ã o d o s s e r v id o r e s é um a estrada de duas vias. Deles se d e v e c o b r a r d e s e m p e n h o p r o f i s s i o n a l . A e l e s se d e v e proporcionar as condições para q u e p o s s a m te r b o m d e s e m ­ penho.

Q uan to ao plano de carreiras do fu n cion alism o, matéria técnica q u e d eixo para especialistas com mais conhecim ento comentarem, lim it o - m e a s u b l in h a r a lg u n s pontos que me parecem de maior importância. O primeiro é o de que o Executivo não conta com uma carreira pública profissional q u e o sirva em seu conjunto. Há alg u m a s p o u c a s carreiras com g r a u s d i f e r e n c i a d o s d e e s tru tu ra ç ã o profission al. Isto favorece o corporativism o, em detrim ento d o espírito público. Seria alta m e n te desejáv el q u e p u d é s s e m o s o r g a n i z a r um serviço público de alto nível que

f o rn e c e s s e q u a d r o s civis para toda a adm in istração direta, à s e m e l h a n ç a d o s s i s t e m a s existentes no Reino U nido ou na França. Neste último país, por exemplo, todos os funcionários públicos civis de escalão superior passam pela Escola Nacional de Adm inistração, d e o n d e saem, graduados, para ocupar diferen­ tes posições no serviço público francês. Faz-se in icia lm en te a o p ç ã o p e lo s e r v iço p ú b l i c o e a p e n a s a p ó s a p a s s a g e m obrigatória pela Escola é que, em função d o d e s e m p e n h o a ca d ê ­ mico, o servidor ingressará nesta ou naquela carreira, sempre com f l e x i b i l i d a d e . Esta s e r ia a verdadeira vocação da ENAP, no Brasil. Mas para que a cumpra, é preciso que sejam introduzidas as necessárias m od ificações na legislação que rege o funciona­ mento d o funcionalismo público.

Num serviço profission alizado, n ã o se p o d e p r e s c i n d i r d e m ecanism os q u e in cen tivem o a p r i m o r a m e n t o c o n t í n u o a o lo n g o da carreira d o servidor. Cursos de atualização, estágios cm áreas distintas d a q u e la em que se trabalha, estímulo à a p re­ sentação de inovações são, entre outros, elementos que devem ser parte integrante do apren dizad o e desenvolvimento constantes. É p r e c i s o e v it a r q u e h aja u m a a c o m o d a ç ã o d o f u n c i o n á r i o p ú b l i c o d u r a n t e sua v id a

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profissional, fato infelizm ente c o m u m . N e s s e s e n t i d o , a progressão funcional deve estar sujeita a exam es com probató- rios d e capacidade em estágios in term ed iário s da carreira. No Itamaraty, p o r exemplo, além do Curso d e Preparação à Carreira de Diplomata, de dois anos , no Instituto Rio Branco, passamos p o r u m C u r s o d e A p e r f e i ­ çoam ento, pré-requisito para a p r o m o ç ã o d e S e g u n d o a Prim eiro Secretário, e p o r um C u r s o d e A lto s E stu d o s, com a p resen tação e defesa d e tese, q u e é condição para a ascensão d e C o n s e l h e i r o a M inistro d e Segun da Classe.

Por fim, o profissionalismo tem com o regra básica a existência de s a l á r i o s c o m p a t í v e i s c o m a q ualidade d o serviços prestados. Um s e r v i ç o p ú b l i c o q u e n ã o ofereça remuneração apropriada n ã o p o d e r á a t r a ir e m a n te r pessoal de bom nível. É preciso q u e se m u d e o e n f o q u e da q u a n t i d a d e para a q u a lid a d e . Para q u e d i s p o n h a d e u m a b u r o c r a c i a m ais e f i c i e n t e , o E s t a d o ta lv e z n ã o p r e c is e d e núm ero elevado de funcionários. Mas precisa de funcionários com r e m u n e r a ç ã o c o n d i z e n t e com u m a m e l h o r p r e p a r a ç ã o e desem p en h o. Faz-se necessário também introduzir maior flexi­ b i l i d a d e para q u e , d e n t r o d e determinadas categorias e faixas,

a remuneração seja diferenciada d e a c o r d o c o m o m é r i t o i n d i v i d u a l c o m p r o v a d o p o r avaliações sistemáticas, c m vez de, por exemplo, critérios com o o tempo de serviço.

A q u a lid a d e da a d m in is tr a ç ã o pública se mede, em suma, por r e s u l t a d o s , e n t e n d i d o s e s t e s como a capacidade d o g o vern o de formular e im plementar com êxito decisões que beneficiem o c o n j u n t o da c o l e t i v i d a d e . A d eficiên cia no serviço p ú b l ic o compromete esta capacidade. É hora de encararmos d e frente a questão da profissionalização do funcionalismo brasileiro. Este é, entre outros, um passo n e ce s­ sário e inadiável para q u e o país possa retomar o seu cam inho de desenvolvimento. Resumen PROFESIONALIZACIÓN DEL FUNCIONÁRIO PÚBLICO La a u s ê n c ia o d e f i c i e n c i a d e i aparato b u r o c r á tic o r e d u c e la capacidad de los g o b ie m o s d e concretar p royectos d e interés público. La profesionalización dei s e rvicio p ú b l ic o es o b je t iv o prioritário y de corto plazo, que no

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p o d r á n ig n o r a r los m áx im o s dirigentes de Brasil. No se puede c o n c e b i r un c u e r p o d e fu n ­ cionários dei que se pueda exigir la prestación de buenos servicios sin que se le pueda ofrecer, en contrapartida, la existencia de un plan racional de carreras, estímulos al perfeccionamento, perspectivas d e p r o g r e s o p r o fe s io n a l y estructura flexible de salarios que le permita adecuación tanto a nivel d e e x ig e n c ia s para la fun ción exigida como de mérito individual debidamente evaluado.

flexible salary structure which is a d a p tc d both to the levei o f demands presented by the post they have and to the individual merit which has been duly proven.

Abstract

PROFESSIONALIZATION OF CIVIL SERVANTS

A b s e n c e o r d e f ic ie n c y in the b u r e a u c r a c y m ach in e r e d u ce s govemmental capacity to carry out p r o je c t s o f p u b l ic interest. Professionalization of civil servants is a priority goal on the short run, which the highest authorities in Brazil cannot ignore. You cannot co n c e iv e a Corporation o f civil servants which can be askcd to ofler good Service without being able to offer them, in return, a rational careerplan that stimulates th e ir i m p r o v e m e n t , offers p e r sp e c tiv e s fo r rising up the professional ladderand presents a

Rubens Ricupero é em baixad or; e x - m in is t ro da F a z e n d a e ex- m inistro d o Meio A m b ie n te e da A m azô n ia Legal.

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