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Cem Oswald anos: o mapa da mina

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Academic year: 2020

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CEM OSWALD ANOS: O MAPA DA MINA

Adilson RUIZ*

Antes de mais nada g o s t a r i a de informar que e s t e tento f o i e s c r i t o a p ó s a f i n a l i z a ç ã o do video "Cem Oswald Anos: v i d e o v i d a de um poeta", portanto depois de nossa p a l e s t r a em Araraquara, quando falamos de improviso. No entanto, o teor daquele

improviso f o i o mesmo deste t e x t o , uma d e s c r i ç ã o dos p r o c e s s o s de c r i a ç ã o e de r e a l i z a ç ã o d e s t a v i d e o - b i o g r a f i a de Oswald de Andrade.

Na qualidade de d i r e t o r e produtor e x e c u t i v o deste video vou ater-me às q u e s t õ e s r e l a t i v a s ao processo de e x e c u ç ã o do video como um todo, enquanto que Geraldo Nascimento, co-autor do r o t e i r o , falará mais e s p e c i f i c a m e n t e sobre e s t a importante etapa da c o n f e c ç ã o do v i d e o .

COMO SURGIU

Em 1990, A S e c r e t a r i a de Estado de C u l t u r a de São Paulo r e s o l v e u adotar como patrono de suas a t i v i d a d e s o e s c r i t o r p a u l i s t a Oswald de Andrade no ano de c e n t e n á r i o de seu nascimento, prestando assim uma t a r d i a mas j u s t a homenagem ao p r e c u r s o r e maior batalhador do Modernismo b r a s i l e i r o .

A equipe do Museu da Imagem e do Som, um dos ó r g ã o s de a t u a ç ã o da S e c r e t a r i a , em f i n s de 1989, c o m e ç a v a a p r e p a r a ç ã o de sua p a r t e nas c o m e m o r a ç õ e s . Em meio às p e s q u i s a s que desenvolviam, descobriram o f i l m e " I n f i n i t a T r o p i c á l i a " , de minha a u t o r i a , e que mostra a l i g a ç ã o e n t r e a T r o p i c á l i a e a

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t e o r i a da a n t r o p o f a g i a c u l t u r a l c r i a d a por Oswald de Andrade. 0 f i l m e , segundo e s t a s p e s s o a s , h a v i a " m a t e r i a l i z a d o " alguns c o n c e i t o s e procedimentos oswaldianos. Em c o n s e q ü ê n c i a , acabei sendo convidado a p r e s t a r e s c l a r e c i m e n t o s e i n f o r m a ç õ e s sobre a p e s q u i s a do f i l m e que poderiam c o n t r i b u i r para o t r a b a l h o que vinham desenvolvendo. Nesse contato f u i informado das d i v e r s a s a t i v i d a d e s que seriam r e a l i z a d a s no d e c o r r e r de todo o ano de 1990: mostras de f i l m e s sobre ou embasados na obra de Oswald de Andrade, um c a t á l o g o de r e f e r ê n c i a s b i b l i o g r á f i c a s , uma série de depoimentos com p a r e n t e s , amigos e admiradores do e s c r i t o r , e t c . S u g e r i , considerando a d i s p o n i b i l i d a d e de toda e s s a i n f o r m a ç ã o , que s e r i a p o s s í v e l r e a l i z a r um v í d e o reunindo num só corpo o m a t e r i a l levantado. A idéia f o i imediatamente acatada pelo grupo e aprovada por Ricardo Otake, d i r e t o r do Museu. Em seguida f u i convidado a d i r i g i r e p r o d u z i r o p r o j e t o que v e i o a culminar neste v í d e o , a l v o deste t e x t o .

A P R O D U Ç Ã O

De maneira a v i a b i l i z a r os c u s t o s para r e a l i z a ç ã o do v í d e o , montamos uma co-p r o d u ç ã o que acabou envolvendo o MIS, o Departamento de Multimeios do I n s t i t u t o de A r t e s da UNICAMP e a FDE - F u n d a ç ã o para o Desenvolvimento da E d u c a ç ã o . No d e c o r r e r da r e a l i z a ç ã o tivemos ainda o apoio de d i v e r s a s pessoas e e n t i d a d e s , das quais d e s t a c a r í a m o s , p e l a i m p o r t â n c i a e qualidade da c o l a b o r a ç ã o , o SENAI e a F u n d a ç ã o Cinemateca B r a s i l e i r a .

E s t a f e l i z a s s o c i a ç ã o de c o l a b o r a d o r e s acabou por g a r a n t i r um c i r c u i t o e x i b í d o r dos mais importantes para o produto de nosso t r a b a l h o . Além da e x i b i ç ã o possível

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na rede de c e n t r o s c u l t u r a i s da S e c r e t a r i a de C u l t u r a , a t r a v é s do FDE estamos a t i n g i n d o um p ú b l i c o p o t e n c i a l de 5 m i l h õ e s de jovens e s t u d a n t e s do 1 Q e 2Q graus em todo o Estado de S ã o Paulo, estando ainda d i s p o n í v e l aos alunos das e s c o l a s p r o f i s s i o n a l i z a n t e s do SENAI em todo o p a i s , e a toda e qualquer pessoa ou i n s t i t u i ç ã o i n t e r e s s a d a no v í d e o .

0 ARGUMENTO

Quando partimos para a r e a l i z a ç ã o do v í d e o n ã o s a b í a m o s exatamente onde q u e r í a m o s chegar, porém t í n h a m o s uma boa idéia do que d e v e r í a m o s escapar ao falarmos de Oswald. De i n i c i o nos propomos a f u g i r das

i d é i a s mais comuns sobre o e s c r i t o r , como e n f a t i z a r o seu decantado c a r á t e r i r r e v e r e n t e e gozador, ou f o r j a r uma t e o r i a sobre a sua

i m p o r t â n c i a para a t r a n s f o r m a ç ã o da l i t e r a t u r a b r a s i l e i r a . P r e t e n d í a m o s também f u g i r da t r a d i c i o n a l forma do d o c u m e n t á r i o onde um " t e n t o sobre" é simplesmente i l u s t r a d o pelo m a t e r i a l arregimentado p e l a pesqui s a .

Q u e r í a m o s um Oswald r e d i v i v o , como se o e s c r i t o r pudesse s a i r de sua cova e v i r pessoalmente v e r i f i c a r o que de sua v i d a e sua obra h a v i a f i c a d o , c e r t i f i c a r - s e de que sua passagem no mundo dos v i v o s n ã o h a v i a s i d o em v ã o .

Dessa idéia s u r g i u o p r i m e i r o argumento b a t i z a d o com o t i t u l o de " 1 0 0 a n t r o p ó f a g o s anos: um p e r f i l da v i d a e da obra do e s c r i t o r Oswald de Andrade". E s t e argumento, s u b d i v i d i d o em c i n c o p a r t e s , nos s e r v i u de guia para a p e s q u i s a . I n i c i a v a - s e com a s a l d a do e s c r i t o r de seu j a z i g o e s e g u i a v i s i t a n d o l u g a r e s e pessoas de sua v i d a . E s t e a r t i f i c i o n o s a b r i u a p o s s i b i l i d a d e de explorar um f l u x o de m e m ó r i a

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que nos p e r m i t i s s e u t i l i z a r n a r r a t ivamente todo o r i c o m a t e r i a l i c o n o g r á f i c o e c i n e m a t o g r á f i c o levantado p e l a p e s q u i s a . Como veremos mais a d i a n t e f o i possível d i s p e n s a r , no r o t e i r o f i n a l , e s t a r e f e r ê n c i a à s a l d a do t ú m u l o sem perder a idéia de f l u x o de m e m ó r i a p e r c o r r i d o pelo nosso personagem.

OS DEPOIMENTOS

Ao mesmo tempo que e s t u d á v a m o s a v i d a e a obra de Oswald, r e a l i z á v a m o s em conjunto com a equipe de pesquisadores do MIS, sob a c o o r d e n a ç ã o de S ô n i a de F r e i t a s , uma s é r i e de pormenorizadas e n t r e v i s t a s <*) com amigos, parentes e seguidores de Oswald. E s t a s e n t r e v i s t a s , já anteriormente programadas pelo Museu e das quais nos integramos como uma e s p é c i e de "caronas p a r t i c i p a n t e s " , s e r v i r a m para que p u d é s s e m o s perceber com razoável acuidade o c a r á t e r m ú l t i p l o e exuberante da personagem que e s t á v a m o s a r e c r i a r . I s t o se deveu fundamentalmente ao f a t o de que e s t e s depoimentos n ã o tinham a f i n a l i d a d e de fundamentar uma t e o r i a sobre Oswald, mas de r e v e l a r os c o n t e ú d o s humanos de sua p e r s o n a l i d a d e e de sua obra. Assim, demos o mesmo tratamento de i l u m i n a ç ã o , c e n o g r a f i a e de d i r e c í o n a l i d a d e do o l h a r em r e l a ç ã o à c â m a r a a todos os depoimentos, s a l v o duas e x c e ç õ e s : o caso de Rudá de Andrade que nos forneceu depoimento em meio ao banquete comemorativo ao i n i c i o dos t r a b a l h o s que

*Forai entrevistadas as seguintes personalidades: Antonieta Harilia de OsNald de Andrade, Antonio Candido de Hei lo e Souza, Arrigo Barnabé, Caca Rosset, Celso Favaretto, Décio de Altmda Prado, Dulce Carneiro, Dulce Salles Cunha Braga, José Celso Hartinez Correa, Julieta Guerrini de Andrade, Harcos Rea, Rogério Sganzerla, Rudâ de Andrade, Sidèria Galvão Fragoso.

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r e a l i z a m o s no Restaurante do Museu <*), e de S i d è r i a G a l v ã o que p r e f e r i u que a e n t r e v i s t á s s e m o s na sua c a s a .

P r o c u r á v a m o s n e s t e s depoimentos, que s e estendiam por mais de hora e meia, d e i x a r o depoente o mais d e s c o n t r a í d o

p o s s í v e l . I n t e r e s s a v a - n o s c a p t a r p r i n c i p a l m e n t e o b r i l h o de seus pensamentos e

l e m b r a n ç a s r e f l e t i d o s em suas e x p r e s s õ e s e g e s t o s . Para tanto nos p r e p a r á v a m o s para conhecer previamente o n i v e l de envolvimento de cada um em r e l a ç ã o à v i d a e/ou a obra de Oswald. P a r t i c i p a v a m d e s t a s " c o l e t i v a s " , além de S ô n i a , mais um ou d o i s pesquisadores do MIS e alguns convidados e s p e c i a i s (**)» dentre os mais f r e q ü e n t e s a pesquisadora e e s c r i t o r a Maria Augusta Abramo, que na

qualidade de b i ó g r a f a de Oswald atuou também como c o n s u l t o r a e s p e c i a l e C e l s o F a v a r e t t o , p r o f e s s o r de e s t é t i c a e conhecedor dos procedimentos oswaldianos de c r i a ç ã o a r t i s t i c a . 0 e n t r e v i s t a d o , sentava confortavelmente em um sofá no c e n t r o do

e s t ú d i o e das a t e n ç õ e s , t i n h a como fundo um a r r a n j o com c a r t a z e s a l u s i v o s ao c e n t e n á r i o Oswald de Andrade, e à sua f r e n t e colocados em forma de meia l u a os e n t r e v i s t a d o r e s e duas c â m a r a s com as quais r e g i s t r á v a m o s o depoimento. E s t a forma de a r r u m a ç ã o do e s t ú d i o p e r m i t i a - n o s c o l h e r dos e n t r e v i s t a d o s pontos de v i s t a d i f e r e n t e s , p o i s e l e s se d i r i g i a m para uma p l a t é i a m u l t i d i r e c i o n a l m e n t e s i t u a d a . E s t e e f e i t o ajudou a c r i a r um c l i m a de relaxamento e i n t i m i d a d e que pode s e r captado e t r a n s m i t i d o pelo olho e l e t r ô n i c o da c â m a r a .

«Participara! deste alioço, além da equipe de pesquisa: Guilhene Reboujas, Júlio Bressane, Plácido Ca«pos J r . , Ricardo Haranhão, Ricardo Otake.

* * A coordenação dos depoiientos esteve a cargo da pesquisadora Sônia Haria de Freitas. A pesquisa contou coi a participarão de Deuse Perelautter.

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Quando falarmos em r o t e i r o d e f i n i t i v o * veremos que dessas mais de 20 horas gravadas» foram u t i l i z a d a s na e d i ç ã o f i n a l apenas 10 a 15 minutos de t r e c h o s s e l e c i o n a d o s » enxertados no corpo do v í d e o .

0 ROTEIRO

A etapa s e g u i n t e * a p ó s e x a u s t i v a p e s q u i s a que culminou com o encerramento das g r a v a ç õ e s dos d e p o i m e n t o s » f o i a de r o t e i r i z a ç ã o . Trabalho e s t e que requereu de mim e de Geraldo Nascimento aproximadamente t r ê s m e t ó d i c o s e dedicados meses de t r a b a l h o . Ao mesmo tempo que a d e q u á v a m o s o argumento

( e s c r i t o ainda quando a pesquisa e s t a v a em f a s e e m b r i o n á r i a ) ao nosso a t u a l conhecimento do assunto» i n d i c á v a m o s com a p r e c i s ã o p o s s í v e l o assunto de cada sequência» chegando a razoável nível de p l a n i f i c a ç ã o técnica» o que v e i o a f a c i l i t a r muito o p o s t e r i o r t r a b a l h o de g r a v a ç ã o .

AS G R A V A Ç Õ E S

T í n h a m o s d o i s t i p o s de imagens para c o l h e r nas g r a v a ç õ e s do v í d e o : o p a s s e i o s u b j e t i v o do personagem p e l a s ruas e l o c a i s determinados de São Paulo; e o p a s s e i o emotivo do personagem sobre as r e f e r ê n c i a s i c o n o g r á f i c a s que restaram de sua v i d a e de sua é p o c a ( f o t o g r a f i a s , cartas» m a n u s c r i t o s » l i v r o s , obras de arte» e t c ) .

P a r t e das imagens das a n d a n ç a s de Oswald p e l a cidade colhemos ainda durante o p r i m e i r o p e r í o d o de gravações» que se seguiram às gravaçõt.".. dos depoimentos. Todas as demais foram r e a l i z a d a s a p ó s a r o t e i r i z a ç ã o . S a í m o s com uma pequena equipe» composta de diretor» fotógrafo» operador de

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video e som, produtor, e l e t r i c i s t a e m o t o r i s t a . Nestas g r a v a ç õ e s u t i l i z á v a m o s apenas uma c â m a r a , um gravador de á u d i o e video, um monitor de t v , um t r i p é , alguns r e f l e t o r e s , cabos e outros poucos a c e s s ó r i o s . Dispendemos e n t r e duas a três semanas de t r a b a l h o n e s t a t a r e f a »

A p o r ç ã o mais dedicada, d i v e r t i d a e t r a b a l h o s a das g r a v a ç õ e s f o i aquela em que filmamos o r e s u l t a d o da p e s q u i s a i c o n o g r á f i c a . Aqui r e s i d i a o maior d e s a f i o , p o i s grande p a r t e do tempo f i n a l do video r e s u l t a r i a deste m a t e r i a l . T í n h a m o s que t r a b a l h a r sobre e l e de maneira muito e s p e c i a l para escapar de alguns r i s c o s . 0 p r i m e i r o e mais e v i d e n t e s e r i a impor uma d i n â m i c a de movimento t a l que impedisse o video »de se t r a n s f o r m a r em um enfadonho a u d i o v i s u a l . Tirvhamos também que c r i a r uma r e l a ç ã o e n t r e imagem e som que i m p o s s i b i l i t a s s e uma montagem onde e s t e m a t e r i a l a d q u i r i s s e um v a l o r de i l u s t r a ç ã o . B u s c á v a m o s i n t r o d u z i r um v a l o r n a r r a t i v o a e s t a s imagens no corpo do f i l m e ( * > .

E s t e s r i s c o s no% impuseram um t r a b a l h o muito grande no processo de g r a v a ç ã o : t r a b a l h á v a m o s no e s t ú d i o como se e s t a s f o t o g r a f i a s , p i n t u r a s , desenhos, m a n u s c r i t o s , fossem a t o r e s , requerendo a cada s e q ü ê n c i a um tratamento determinado, um enfoque e s p e c i f i c o , uma ordem de entrada e

*U« exeaplo disto é quando utilizamos, na terceira parte, "Antropófago", duas gravuras de Theodor de Bry sobre antropofagia dos Índio brasileiros: na priaeira veaos ua índio puxando uaa série de brancos encoleiradosj e, na segunda, uaa cena de antropofagia explicita, onde vários Índios se banqueteavam ea torno de uaa fogueira, assando pedaços de brancos. Ho vídeo, a priaena iaagea è lentamente substituída através de uaa cortina que corre de baixo para cima. Inicialmente vea aparecendo a fogueira que parece consuair pouco a pouco a fieira de brancos para dar lugar a grelha com pedaços de braços e pernas. Finalmente, no alto da tela surgea os índios a se banquetear.

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s a l d a de cena. I s t o e x i g i u da equipe muita c o n c e n t r a ç ã o e d i s c i p l i n a . E s t e cuidado e r a tanto que quando c o n s e g u í a m o s gravar mais de uma s e q ü ê n c i a em um p e r í o d o de c i n c o horas, saiamos muito s a t i s f e i t o s com a produtividade do d i a .

Neste t r a b a l h o consumimos em torno de quatro semanas. As g r a v a ç õ e s foram e f e t u a d a s em e s t ú d i o , com duas c â m a r a s e uma mesa de e f e i t o s ( " s w i t c h e r " ) . A equipe v a r i a v a e n t r e três e quatro pessoas conforme a d i s p o n i b i l i d a d e do d i a e e r a composta basicamente pelo d i r e t o r e d o i s operadores de c â m a r a .

A E D I Ç Ã O

Finalmente e s t á v a m o s em c o n d i ç õ e s de r e a l i z a r a ultimar e mais complexa o p e r a ç ã o de c o n s t r u ç ã o de nosso video: a e d i ç ã o f i n a l . Agora é que i r í a m o s v e r i f i c a r a t é que ponto todas aquelas idéias concebidas e preparadas p e l a s etapas a n t e r i o r e s formavam um conjunto h a r m ô n i c o e c o e r e n t e , capaz de mostrar o r e t r a t o s u b s t a n c i a l e convincente da v i d a e obra de Oswald de Andrade: s e r d i d á t i c o sem s e r c r u e l . B u s c á v a m o s r e a l i z a r uma peça que f o s s e ao mesmo tempo i n f o r m a t i v a e a r t í s t i c a visando a t i n g i r o p ú b l i c o n ã o apenas p e l a r a z ã o , mas p r i n c i p a l m e n t e p e l a e m o ç ã o : s e r comunicativo e s e n s í v e l . Dispendemos n e s t a t a r e f a , eu, como d i r e t o r e Paulo A s p i s , d i r e t o r de video, aproximadamente 850 horas de t r a b a l h o na i l h a da e d i ç ã o .

0 mesmo cuidado que tivemos nas f a s e s precedentes dedicamos a e s t a . A margem que t í n h a m o s para d e s i s t i r de um c o r t e e r a muito pequena: a simples idéia de e n x e r t a r mais uma s e q ü ê n c i a e n t r e duas o u t r a s já e d i t a d a s e r a , s e n ã o i m p o s s í v e l , extremamente

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complicada <**). E s t a s l i m i t a ç õ e s de ordem t é c n i c a nos impunham um r i g o r muito grande em r e l a ç ã o à s d e c i s õ e s de c o r t e , uma vez que tudo a q u i l o que e s t a v a editado e r a d e f i n i t i v o , i s t o è , tanto a p e r t i n ê n c i a de um determinado m a t e r i a l quanto o seu ritmo estavam determinados ao fim de cada jornada de t r a b a l h o . N ã o p o d í a m o s perder em nenhum momento a n o ç ã o do todo.

0 ú n i c o luxo a que nos permitirmos f o i o de deixarmos para o f i n a l do processo a d e c i s ã o dos planos que i r i a m a b r i r cada um dos c i n c o segmentos do f i l m e . I s t o f o i p o s s í v e l g r a ç a s a um a r t i f í c i o que adotamos: ao invés de editarmos os segmentos um a p ó s o outro em uma mesma f i l a de uma hora de d u r a ç ã o , editamos cada um dos blocos em separado, em f i t a s de 20 minutos. Assim, pudemos t e r uma boa idéia do todo e de cada uma das p a r t e s antes de r e a l i z a r a " c o s t u r a " f i n a l : i n t r o d u ç ã o dos planos de a b e r t u r a , de l i g a ç ã o e n t r e os segmentos e de encerramento.

E s t e s planos, s u b j e t i v a s do personagem Oswald de Andrade, sempre acompanhados do P r e l ú d i o da "Bachiana no4" de Vi 11a-Lobos» deveriam funcionar como s í m b o l o da t e m á t i c a p r i n c i p a l de cada uma das p a r t e s .

Na a b e r t u r a , a s u b j e t i v a tomada no c o r e t o do Parque da Luz, além de suportar os c r é d i t o s i n i c i a i s do v í d e o , introduz o p r i m e i r o bloco "Sob as Ordens da m a m ã e " : a p o r ç ã o do v í d e o que dá conta da v i d a de Oswald, do seu nascimento em 1890 a t é a morte de sua m ã e em 1918.

»*EB cineia, o processo de fontaãea peraite que o f i l i e seja lontado seqüência por seqüência e que a ordei das K s i a s seja deteninada a posteriori» tornando possível uia afinatao «uito elaborada do r i t s o e ordenarão f i n a l . No caso do vídeo» e e i particular dos equipamentos que tínhamos a nossa disposição na realização desle trabalho» a introdução de uia inagt;» nuva un «eio de u i trabalho j<t editado nplitava na perda de todo o trabalho realizado a partir do ponto da i».*ge« intioduzida.

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O segundo segmento, "Cubo-f u t u r i s t a " , è i n t r o d u z i d o por uma caminhada pelo a n t i g o c e n t r o da cidade de São Paulo na c o n f l u ê n c i a da avenida S ã o João com as ruas S ã o Bento, XV de Novembro e L i b e r o de B a d a r ó , na é p o c a muito f r e q ü e n t a d a por aqueles que

futuramente fariam o Modernismo b r a s i l e i r o . E s t e bloco culmina com uma r e f e r ê n c i a à Semana de Arte Moderna de 1922.

A t e r c e i r a p a r t e , " A n t r o p ó f a g o " , r e t r a t a os anos 20, momento em que o e s c r i t o r p r a t i c a a l i t e r a t u r a mais i r r e v e r e n t e e l i b e r t á r i a de sua obra. E s t a p a r t e é i n t r o d u z i d a por um p a s s e i o da câmara sobre o monumento em homenagem aos b a n d e i r a n t e s de B r e c h e r e t . Ê quando ao lado de T a r s i l a do Amaral c r i a a P o e s i a P a u - B r a s i l e lança as bases de seu r e v o l u c i o n á r i o c o n c e i t o de a n t r o p o f a g i a c u l t u r a l .

0 vôo de uma g a i v o t a sobre a cidade abre a quarto bloco, "Mi 1 i t a n t e Pol i t i c o " : t r a t a - s e da é p o c a f i n a l i z a d a pelo rompimento de Oswald com T a r s i l a e com o Modernismo. Casase com P a g ú , adota a d o u t r i n a M a r x i s t a -L e n i n i s t a , engaja-se no PCB. Ocupa-se em d i s c u t i r o papel do a r t i s t a e das a r t e s no processo de l i b e r t a ç ã o do jugo do homem pelo homem. Datam deste momento as suas p r i n c i p a i s p e ç a s t e a t r a i s .

0 quinto e ú l t i m o segmento, " I r r e v e r e n t e - c o n t r o v e r s o " , r e p o r t a à maturidade do e s c r i t o r , agora acompanhado de Maria Antonieta de Alkmim: sua esposa, s e c r e t á r i a , e n f e r m e i r a , e d e r r a d e i r o amor. E s t e bloco é i n t r o d u z i d o por uma v i s ã o do porto do ponto de v i s t a de quem p a r t e e termina com um grande plano neg.ro por cima do qual correm os c r é d i t o s do encerramento do v i d e o , quando se d i v i s a a p a i a v r a ' "fim".

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Referências

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