• Nenhum resultado encontrado

AMBIENTE COMPETITIVO DA MACADÂMIA BRASILEIRA

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "AMBIENTE COMPETITIVO DA MACADÂMIA BRASILEIRA"

Copied!
14
0
0

Texto

(1)

1123

EIXO TEMÁTICO:

( ) Bacias Hidrográficas, Planejamento e Gestão dos Recursos Hídricos ( ) Biodiversidade e Unidades de Conservação

( X) Campo, Agronegócio e as Práticas Sustentáveis ( ) Cidade, Arquitetura e Sustentabilidade ( ) Educação Ambiental

( ) Geotecnologias Aplicadas à Análise Ambiental ( ) Gestão dos Resíduos Sólidos

( ) Gestão e Preservação do Patrimônio Arquitetônico, Cultural e Paisagístico ( ) Mudanças Climáticas

( ) Novas Tecnologias Sustentáveis

( ) Paisagem, Ecologia Urbana e o Planejamento Ambiental ( ) Saúde, Saneamento e Ambiente

( ) Turismo e o Desenvolvimento Local

AMBIENTE COMPETITIVO DA MACADÂMIA BRASILEIRA

COMPETITIVE ENVIRONMENT OF BRAZILIAN MACADAMIA

AMBIENTE COMPETITIVO DE LA MACADAMIA BRASILEÑA

Marcos José Perdoná

Pesquisador Científico Doutor, APTA Regional-Bauru/SAA-SP, Brasil marcosperdona@apta.sp.gov.br

Raquel Nakazato Pinotti

Pesquisador Científico Doutor, APTA Regional-Bauru/SAA-SP, Brasil raquelnakazato@apta.sp.gov.br

Fernando Takayuki Nakayama

Pesquisador Científico Doutor, APTA Regional-Adamantina/SAA-SP, Brasil fnakayama@apta.sp.gov.br

(2)

1124

RESUMO

No mercado internacional, a noz-macadâmia é um das amêndoas mais valorizadas, pelas características peculiares da sua noz (sabor, nutrientes e funcionalidade), tanto para o consumo “in natura”, como na produção de óleo para indústria de cosmético e alimentício. O objetivo desse artigo é analisar o agronegócio da macadâmia através da descrição de seu ambiente competitivo (evolução da cultura, consumo, preço e cadeia produtiva), que se tornou muito atraente para os investimentos no setor produtivo. A ascensão na demanda pela macadâmia não é atendida pelo volume de produção atual, essa movimentação trouxe maior rentabilidade aos produtores rurais e poderá ser trazer um novo ciclo de expansão da cultura no Brasil.

Palavras-chave: noz- macadâmia; comercialização e mercado.

ABSTRACT

In the international market, macadamia nut is one of the most valued almonds, due to the peculiar characteristics of its nut (flavor, nutrients and functionality), both for the consumption "in natura" and in the production of oil for cosmetic and food industry. The objective of this article is to analyze macadamia agribusiness by describing its competitive environment (evolution of culture, consumption, price and production chain), which has become very attractive for investments in the productive sector. The rise in the demand for macadamia is not met by the current volume of production, this movement brought greater profitability to the rural producers and could be to bring a new cycle of expansion of the culture in Brazil.

Keywords: macadamia nuts; marketing and market.

RESUMEN

En el mercado internacional, la nuez-macadamia es una de las almendras más valoradas, por las características peculiares de su nuez (sabor, nutrientes y funcionalidad), tanto para el consumo "in natura", como en la producción de aceite para industria de cosmético y alimenticio. El objetivo de este artículo es analizar el agronegocio de la macadamia a través de la descripción de su ambiente competitivo (evolución de la cultura, consumo, precio y cadena productiva), que se ha vuelto muy atractivo para las inversiones en el sector productivo. El ascenso en la demanda por la macadamia no es atendida por el volumen de producción actual, ese movimiento trae mayor rentabilidad a los productores rurales y podrá ser traer un nuevo ciclo de expansión de la cultura en Brasil.

(3)

1125

INTRODUÇÃO

A nogueira-macadâmia (Macadamia ssp.) é uma árvore nativa das florestas tropicais costeiras da Austrália. É a única planta, com origem na Austrália, cultivada comercialmente para a produção de alimentos (HUETT, 2004). Walter Hill é considerado o descobridor da planta, apesar de sua amêndoa já ser consumida pelos aborígines australianos, muitos séculos antes. Sua descrição botânica ocorreu em 1858 quando Ferdinand Von Mueller, em homenagem ao amigo John MacAdam, grande apreciador da noz, nomeou-a Macadâmia. Apesar de serem mais de 10 espécies do gênero descritas, somente as espécies Macadamia integrifolia (Maiden e Betche) e Macadamia tetraphylla (L.) e seus híbridos, são exploradas economicamente (BRENES, 1983).

De porte alto e copa densa, chega a atingir 19 metros de altura e 15 metros de diâmetro (SÃO JOSÉ, 1991). Seu fruto é chamado de noz, entretanto, botanicamente é classificado com um folículo, composto por carpelo (exocarpo e mesocarpo), casca (endocarpo) e amêndoa (embrião) (VILAS BOAS et al., 2012). Apesar da origem Australiana, a Hawaii Agricultural Experiment Station (HAES) é o local onde foram selecionadas as principais cultivares plantadas no mundo (PIMENTEL, 2007; MCFADYEN et al., 2012), entre elas: HAES 788, HAES 344, HAES 246, HAES 741, HAES 333, HAES 508, HAES 660, HAES 800, HAES 224 e HAES 816 (PEACE et al., 2005). No Brasil, os trabalhos de adaptação e melhoramento da espécie foram iniciados com o plantio de nogueiras-macadâmia provenientes da HAES, na década de 1940, no Instituto Agronômico de Campinas (IAC) que, três décadas após, lançou cultivares adaptadas às condições climáticas brasileiras, entre elas: IAC 121, IAC 4-12B, IAC Campinas B, IAC 9-20 e IAC 4-20.

O Brasil, por suas condições climáticas, está entre os países com maior potencial para produção de noz macadâmia no mundo. Para Schneider et al. (2012), extensas áreas na região Centro-Sul são aptas para o cultivo e produção da noz. Atualmente, a distribuição dos cultivos no Brasil acontece em regiões tradicionalmente cafeeiras e a produção está concentrada no Estado de São Paulo, Espírito Santo, Bahia e Rio de Janeiro (PERDONÁ et al., 2012).

Considerada a mais saborosa noz do mundo, sua amêndoa é consumida crua ou torrada e salgada, sendo muito utilizada em confeitaria, bolos, biscoitos, sorvetes e outros tipos de doces (SACRAMENTO, 1999; MARTIN, 1992; HUETT, 2004; FRANÇA, 2007). É rica em óleos monoinsaturados e, graças às características nutricionais, é considerada excelente fonte energética. Possuem um conjunto de componentes altamente nutritivos e são importantes para uma dieta saudável, promovendo boa saúde, longevidade e redução de doenças degenerativas (BUENO, 2009). Em sua composição encontram-se importantes ácidos graxos: palmítico, palmitoleico (ômega-7), esteárico, oléico (ômega-9) e linoléico (ômega-6) (MARO et al., 2012), muito utilizados pela indústria de cosméticos, para uso na composição de hidratantes, e por laboratórios farmacêuticos, como redutor dos níveis de colesterol (HUETT, 2004; SILVA et al., 2007; SPONCHIATO, 2008).

(4)

1126

Apesar do seu alto valor no mercado internacional, essa noz ainda é pouco explorada no Brasil (VILAS BOAS et al., 2012; MARO et al., 2012; SCHNEIDER et al., 2012). Embora haja um rápido crescimento no mercado nacional, há ainda um imenso mercado interno inexplorado, que pode ser fator de incremento no agronegócio nacional (PIMENTEL, 2007). As três maiores indústrias, localizadas em São Paulo, Espírito Santo e Rio de Janeiro, com capacidade total de beneficiamento de seis mil toneladas de amêndoas por ano, exportam mais de 80% de sua produção. Porém, até 2008, pelo menos dez pequenas unidades processadoras foram instaladas no Estado de São Paulo. Hoje são mais de vinte, servindo aos mercados regionais e fazendo crescer o consumo interno. Além disso, novas modalidades de vendas da noz em casca, nos mercados asiáticos, abrem mercados com preços mais atrativos à macadâmia brasileira.

OBJETIVOS

O presente artigo tem como objetivo descrever o ambiente competitivo da noz-macadâmia, através da conjuntura do mercado internacional e a estrutura de mercado nacional.

METODOLOGIA

Utilizou-se a metodologia qualitativa-descritiva, por meio de coleta de dados secundários (revisão bibliográfica) para a contextualização do setor, entrevistas abertas com produtores rurais e especialistas do setor produtivo.

RESULTADOS

Os resultados desse trabalho são apresentados a seguir, em três tópicos: Caracterização do Setor, Estrutura da Cadeia e Ambiente Competitivo.

CARACTERIZAÇÃO DO SETOR

Nos últimos anos, a demanda global da macadâmia excedeu a oferta. O consumo está aumentando como resultado do ascendente interesse por alimentos saudáveis e uma crescente conscientização da versatilidade da macadâmia. Nesse aspecto, destaca-se, a região da Ásia e América do Norte, onde os principais consumidores urbanos estão focados em saúde, conveniência e novos produtos. Outro fator é o estilo de vida, de pessoas que migram para produtos veganos, para obter os benefícios à saúde, aumentando ainda mais a demanda pelo produto.

Durante décadas os Australianos dominaram a produção mundial de macadâmia. Porém, a partir de 2016, a África do Sul passou a ser o maior produtor (Tabela 1) e exportador mundial da noz. Juntos, esses dois países representam mais da metade da produção mundial de macadâmia na atualidade. Entretanto, novos plantios e outros países foram feitos nos últimos anos. Assim, pode-se observar uma projeção de expansão na produção dos países, com destaque para a China, que realizou vultosos investimentos em novas áreas, e que, em poucos

(5)

1127

anos estará nos mesmos patamares de produção da África do Sul e Austrália. Nota-se que, em 2015, a China já possuía a maior área plantada, com 75.000 ha, sendo que a perspectiva para 2.020 é que o país já ocupe a 3ª posição de país produtor. O Quênia, com a mesma área cultivada que a Austrália, em 2015, porém com lavouras mais jovens, também apresenta boas expectativas de crescimento nas produções vindouras. Já para o Brasil, as projeções não são tão animadoras, com crescimento de apenas 1.500 toneladas em 5 anos. O que demonstra uma necessidade de maiores incentivos à divulgação desse cultivo aos produtores brasileiros, além de políticas públicas que estimulem à expansão dessa nogueira no Brasil.

Existem duas formas de comercialização do produto para o consumidor final, sendo com ou sem casca, assim as informações disponibilizadas ocorrem nas duas formas.

TABELA 1 - Área e volume de produção mundial de noz-macâdamia com casca, 2015 a 2020.

Países

Área de plantação (ha) 2015

Produção com

casca(t) Projeções da produção*

2015 2016 2017 2018 2019 2020 África do Sul 19500 46950 50500 54000 57600 61200 64800 Austrália 17500 43945 46000 50000 53000 55000 58000 EUA 8160 16500 16500 16500 16500 16500 16500 Quênia 17500 24000 27500 32000 36000 42000 47000 Guatemala 10000 8867 9050 9225 9400 9575 9800 Brasil 6000 6000 6300 6600 6900 7200 7500 China 65000 5000 8000 12000 20000 30000 50000 Outros 44058 7159 9073 9967 14803 18178 23040 Total 152718 158421 172923 190292 214203 239653 276640

* as informações nos anos de 2016 a 2020 são projeções da produtividade nos países pela área plantada. Fonte: SAMAC, 2018.

Os valores globais do volume de produção da amêndoa (noz sem casca) também demonstram a mesma evolução encontrada na produção mundial da noz-macadâmia em casca. Com incremento expressivo de 95,7% nos últimos 10 anos, 2007 a 2017 (Tabela 2).

TABELA 2 - Produção mundial de noz-macadâmia sem casca em tonelada, 2007-2017.

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

26.495 27.951 27.639 28.714 29.484 36.907 37.497 41.687 47.256 49.813 51.854 Fonte: Elaborados a partir de ANIC, 2018.

A qualidade das nozes é mensurada pela taxa de recuperação (TR), que é o peso de amêndoas em relação ao peso da noz. Esse é um importante fator para que o produtor obtenha sucesso no seu empreendimento. Até 2015, as indústrias processadoras compravam dos produtores as

(6)

1128

nozes pelo seu peso, mas pagam ágios por lotes com maiores TRs, pois isso melhora o rendimento do processamento na indústria (PERDONÁ et al, 2012). Segundo ANIC (2018), a Austrália teve o maior rendimento de nozes sem casca no ano de 2017, assumindo o 1ª lugar na produção da amêndoa. Os australianos consideram que o resultado dessa boa produtividade ocorre em função da Austrália possuir um setor produtivo, legislação, pesquisa e investimentos mais organizados e regulamentados. Um exemplo é um forte compromisso financeiro com o desenvolvimento do mercado interno e da exportação e com a pesquisa na fazenda financiada por uma imposição compulsória do produtor sobre a produção. Eles relatam que a indústria gasta cerca de US$ 2,2 milhões anualmente em pesquisa, desenvolvimento e marketing. Enquanto isso, a África do Sul apresenta dificuldades na modernização do seu parque industrial, legislação que taxa as exportações e questões sociais, para que ocorram melhorias do setor produtivo (SAMAC, 2018), exportando um grande volume em casca.

Após passar pela indústria, as macadâmias sem casca (kernel) são destinadas aos processadores, para linhas de salgadinhos, e como ingrediente em confeitaria, cereais, sorvetes e produtos de panificação. Há também um mercado crescente de óleos alimentares e produtos de beleza, tais como hidratantes e cuidados com os cabelos (ANIC, 2018). De modo geral, as exportações mundiais de macadâmia sem casca aumentaram ao longo do período 2006-2016, totalizando mais de 31.000 toneladas, em 2016. Nesse período, a África do Sul e a Austrália foram os principais exportadores de macadâmia, somando 45% do total. Os principais destinos da macadâmia produzida na África do Sul foram os EUA (38%) e os Países Baixos (11%), enquanto a China e o Japão representaram mais de metade embarques da Austrália (36% e 17%, respectivamente).

Entretanto, recentemente surgiu um novo mercado de venda para os produtores da noz. As indústrias chinesas comercializam, ao consumidor final, nozes em casca. Elas são cortadas para permitir a quebra com uma chave, comercializada juntamente com as nozes (Figura 1). Nesse processamento também recebem sabor doce ou salgado e aromatizações. Cerca de 54.500 toneladas de macadâmias em casca foram exportadas em 2016. Austrália e África do Sul representaram 30% e 27% das exportações mundiais de casca, destinada principalmente para a China e Vietnã. Assim, a TR deixou de ser o fator mais relevante na formação do preço de um lote de macadâmia e o tamanho da noz passou a ser o principal fator de precificação.

(7)

1129

Figura 1 – Noz cortada e chave para abertura

ESTRUTURA DA CADEIA

Poltronieri (2005) fez uma delimitação da cadeia produtiva da macadâmia com a descrição de todos os atores. Dependendo do tratamento recebido na agroindústria, a macadâmia pode seguir dois destinos diferentes. A macadâmia natural pode seguir o caminho preferencial, a exportação, ou ainda ser destinada à indústria de alimentos, de cosméticos e farmacêuticos. Já o produto torrado e salgado são destinados, principalmente, ao mercado interno e distribuído por meio de atacadistas e varejistas até chegar ao consumidor final.

A análise de competitividade pelas cadeias produtivas possui um caráter estático, assim com o passar dos anos ocorreram alterações nas relações e configuração dos atores participantes. Como por exemplo, os produtores rurais realizando a etapa de beneficiamento, similar ao da indústria que fornece matéria-prima para a indústria de alimentício e cosmético nacional. Outro fator de mudança foi à entrada de compradores chineses juntos aos produtores rurais (Figura 2).

(8)

1130

FIGURA 2- Cadeia produtiva da macadâmia brasileira, 2018.

Fonte: elaboração dos autores a partir de Poltronieri (2005). Com casca INDÚSTRIA Com casca INDÚSTRIA Torrada e salgada VAREJO CONSUMIDOR ATACADO VAREJO CONSUMIDOR ATACADO VAREJO CONSUMIDOR ATACADO CONSUMIDOR VAREJO Sem casca Natural INDÚSTRIA (cosmético e alimentício) ATACADO EXPORTAÇÃO INSUMOS PRODUÇÃO AGRÍCOLA Sem casaca

(9)

1131

AMBIENTE COMPETITIVO

O ambiente competitivo da noz é definido pelo mercado internacional, em consequência do baixo consumo interno da macadâmia e da pequena relevância do Brasil na produção mundial. Assim, a dinâmica da cadeia é determinada pelas mudanças internacionais, de consumo e produção. O mercado internacional vive uma grande expansão de consumo, investimentos e produção nas últimas décadas. Entretanto, no Brasil, apesar dos cultivos comerciais terem sido iniciados há mais de quatro décadas, a velocidade de expansão dos cultivos não ocorreu na mesma velocidade que em outros países. Tal fato decorreu, principalmente, em virtude de dois fatores: 1 – Os baixos preços recebidos pelos produtores brasileiros da noz, no período; 2 – A falta de conhecimentos técnicos sobre a cultura, resultando produtividades não muito expressivas. Somados, esses dois fatores impediram, por décadas, que os produtores recebessem remuneração que justificassem novos investimentos e houve pouco crescimento na área de produção da noz. Pelo contrário, produtores relatam que na década de 1990 e 2000, muitas lavouras foram erradicadas, pois seus proprietários estavam tendo prejuízo e não tinham boas expectativas com a atividade. Entretanto, a realidade para produtores de outros países era muito diferente e esses atores aproveitaram o momento favorável para expandir suas áreas e mercados.

Historicamente, o mercado internacional da macadâmia não está sujeito às grandes variações de preços. Superssafras são incomuns devido ao prolongado tempo para formação do pomar e ampliação da oferta (PIMENTEL et al., 2007). No decorrer dos anos, os preços internacionais se

mantiveram estáveis, em torno de US$ 3,0 a 3,5 kg-1 da noz-macadâmia com casca. No

entanto, no Brasil, os preços praticados no mercado nacional não acompanhavam os preços do

mercado mundial. Os produtores relatam que receberam R$0,50 kg-1 no ano de 2005 (Gráfico

1), pois só havia dois compradores para toda macadâmia brasileira, e os produtores não tinham poder de barganha. Relatam também que o baixo valor impulsionou os produtores da noz a um movimento para o processamento e distribuição das próprias colheitas. Com isso, no ano de 2009, já haviam surgido 10 produtores da noz que estavam realizando o beneficiando da sua produção e de adquirindo a produção de outros produtores, elevando os preços. A quase totalidade da produção dos novos processadores foi destinada ao mercado interno. Assim, surgiu o mercado interno da macadâmia. Hoje, o número de produtores que beneficiam está em pelo menos 20 unidades. Com o aumento da opção de venda dos produtores rurais, o

(10)

1132

GRÁFICO 1- Evolução do preço pago ao produtor de macadâmia com casca no mercado brasileiro, 2004 a 2018.

Fonte: Dados elaborados de pesquisa de campo.1

Os produtores relatam que outro fator relevante para melhoria no valor do preço pago pela noz, que mudou completamente os patamares de preços praticados até então, ocorreu em 2015, com a entrada de chineses, comprando diretamente dos produtores rurais. Esses compradores passaram a adquirir e exportar a noz com casca, pois antes só era realizada a venda da amêndoa (noz sem casca) ao exterior. Desse momento em diante os valores pagos aos produtores brasileiros passaram a serem os mesmos praticados pelo mercado

internacional, em média de US$3,50 kg-1 com a exigência de o produto ter apenas 1,5% de

umidade. Os produtores relataram que a partir desse ano, novos investimentos começaram a serem feitos, pois a atividade passou a ser vantajosa e muitos produtores iniciaram novos plantios. Com isso as mudas ficaram escassas no mercado, necessitando encomendá-las com 1,5 anos de antecedência do plantio.

Dessa forma, a mudança na forma de consumo da noz-macadâmia para com casca, pelo consumidor final, teve um efeito muito significativo na dinâmica da cadeia brasileira. A abertura de possibilidade de maiores ganhos do produtor rural tornou-se real, pois a compra da amêndoa sem casca proporcionava maior poder de barganha para a indústria, remunerando menos o produtor. Da mesma forma, novos patamares de preços se estabeleceram, trazendo a realidade do mercado internacional para os produtores brasileiros e impulsionando novos investimentos na expansão da atividade.

Para Pimentel et al. (2007), que fizeram seus estudos em tempos de preços desfavoráveis ao produtor brasileiro, o tempo de retorno do capital é o principal gargalo da cultura da

1

Entrevistas realizadas com 16 produtores de noz macadâmia (10 no estado de São Paulo e 6 de Minas Gerais)

(11)

1133

macadâmia no Brasil. Apesar disso, os autores consideravam que cultura da nogueira-macadâmia é uma atividade viável, apresentando um Valor Presente Líquido (VPL) de

R$16.789,47 ha-1 e Taxa Interna de Retorno (TIR) de 26,05%, porém, o período de retorno do

capital (Pay-back) era de 11 anos, para o Pay-back descontado, fato que é agravado pelo elevado período juvenil da planta (5 a 6 anos). Outro agravante é que a produtividade da

nogueira-macadâmia é próxima a 12 kg planta-1 ano-1 no Brasil (SOBIERAJSKI et al., 2006), e é

de 12,2 kg planta-1 no Estado de São Paulo (CATI, 2008) baixa, portanto, se comparada a

produtividade média no Hawai, de 45 kg planta-1 ano-1 (STEPHENSON & CULL, 1986). Diversos

fatores podem estar interferindo nas baixas produtividades brasileiras e acredita-se que entre os principais estão: o controle fitossanitário ineficiente e às adubações inadequadas praticadas na cultura (PERDONÁ et al., 2015a). Os produtores, por décadas, foram orientados a praticar adubações aquém das necessidades das plantas. Tal situação só se modificou a partir dos estudos e publicações nacionais sobre adubação da macadâmia, realizadas por pesquisadores da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Perdoná et al., 2013).

O uso de irrigação também é um fator que pode promover o aumento da produtividade das nogueiras (PERDONÁ & SORATTO, 2015; PERDONÁ et al., 2015a). Stephenson e Cull (1986) demonstraram a importância do fornecimento de água em fases específicas do desenvolvimento dos frutos, com ênfase para as fases de expansão. Na Austrália, em um ano de baixa precipitação, Rothwell (2007) verificou um aumento de 97% na produção de nozes em áreas irrigadas. No Brasil, Perdoná et al. (2015) verificaram aumento de 176% nas cinco safras iniciais, pelo uso da irrigação em lavouras no estado de São Paulo.

Uma forma de reduzir os custos da implantação e manutenção do pomar e obter um retorno econômico antecipado é utilizar-se do consórcio com outras culturas, assim, a maior parte dos plantios de nogueira-macadâmia no Estado do Espírito Santo aconteceu em consórcio com café, mamão papaya e pimenta do reino (SOBIERAJSKI et al., 2006). Quando conduzidas sob o sistema de cultivo consorciado com cafeeiros sob irrigação, as nogueira-macadâmia estudadas diminuíram consideravelmente o período juvenil, apresentando boa produção desde o terceiro ano de idade (PERDONÁ et al., 2015a; PERDONÁ & SORATTO, 2016). Assim, verifica-se que o avanço da cultura no país depende da melhoria na produtividade das lavouras e da viabilização técnica do seu cultivo em consórcio com outras culturas, principalmente nos anos inicias, como forma de diminuição do pay-back (PERDONÁ et al., 2015a,b).

Essa cultura realmente possui indicadores excelentes em retorno do investimento para os produtores rurais, além disso, não apresenta problemas comuns aos outros produtos agrícolas, como: perecibilidade dos produtos, pois é possível o armazenamento da produção; problema de logística, pois há possibilidade de percorrer grandes distâncias sem perder a qualidade; dificuldades na comercialização, pois a demanda é superior à oferta. Enquanto que as vantagens estão em: um gap para aumentar a oferta do produto (culturas perenes), variáveis macroeconômicas (câmbio, preços internacionais, crescimento econômico internacional) e possibilidades de serem contemplados também por programas ambientais. Além das

(12)

1134

vantagens descritas, existe a possibilidades de produzir a noz em pequenas áreas, servindo à agricultura familiar, com possibilidades de financiamentos públicos.

CONCLUSÃO

A macadâmia é um produto nobre, com muitos usos e funcionalidades. Apesar do mercado internacional da macadâmia experimentar uma grande expansão de consumo, investimentos e produção, nas últimas décadas, essa realidade não se repetiu no Brasil. Em virtude das baixas produtividades e baixa remuneração dos produtores, o crescimento da área plantada foi lento nas últimas quatro décadas. A partir de 2015, os produtores brasileiros da noz passaram a receber os mesmos valores praticados pelo mercado mundial, em virtude da demanda pela noz em casca, possibilitou nova forma de comercialização da noz, nos mercados asiáticos. Novos patamares de preços geraram mais renda, aumentaram os investimentos em novos plantios e estimularam uma nova expansão da cultura no país.

REFERÊNCIAS

ANIC- Australian Nut Industry Council. Disponível em http://www.nutindustry.org.au. Acesso em 30/05/2018.

BRENES, G.C. El cultivo de la macadamia. San Jose: Editorial Cafesa, 1983. 75p.

CATI - COORDENADORIA DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA INTEGRAL. Levantamento das unidades de produção agropecuária, estatísticas agrícolas, Estado de São Paulo, 2007/2008, Projeto LUPA. Disponível em: <http://www.cati.sp.gov.br/projetolupa>. Acesso em: 15 maio. 2018.

HUETT, D.O. Macadamia physiology review: a canopy light response study and literature review. Australian Journal of Agricultural Research,v.55, n.6, p.609-624, 2004.

MARO, L.A.C.; PIO, R.; PENONI, E.S.; OLIVEIRA, M.C.; PRATES, F.C.; LIMA, L.C.O.; CARDOSO, M.G. Caracterização química e perfil de ácidos graxos em cultivares de nogueira-macadâmia. Ciência Rural, v. 42, n.12, p.2166-2171, 2012.

MARTIN, N.B. Análise do potencial de competição da produção da noz macadâmia em São Paulo e no Havaí. Informações Econômicas, v.22, n.1, p.9-53, 1992.

MCFADYEN, L.M.; ROBERTSON, D.; SEDGLEY, M.; KRISTIANSEN, P.; OLESEN, T. Effects of the ethylene inhibitor aminoethoxy vinyl glycine (AVG) on fruit. Scientia Horticulturae, v.137, n.2, p.125-130, 2012. NOGUEIRA, N.; MUNDO NETO, M. O mercado da Noz Macadâmia e a Agricultura Familiar. In: Anais do XXX Encontro nacional de Engenharia de Produção, 2010, São Carlos. XXX ENEGEP, 2010

PEACE, C.P.; ALLAN, P.; VITHANAGEB, V,; TURNBULL, C.N.; CAROLL, B.J. Genetic relationships amongst macadamia varieties grown in South Africa as assessed by RAF markers. South African Journal of Plant and Soil, v.22, n.2, p.71-75, 2005.

(13)

1135

PERDONÁ, M.J.; MARTINS, A.M.; SUGUINO, E.; SORATTO, R.P. Crescimento e produtividade de nogueira-macadâmia em consórcio com cafeeiro arábica irrigado. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.47, n.11, p.1613-1620, 2012.

PERDONÁ, M.J.; MARTINS, A.M.; SUGUINO, E.; SORATTO, R.P. Nutrição e produtividade da nogueira-macadâmia em função de doses de nitrogênio. Pesq. agropec. bras. vol.48, n.4, 395-402, 2013.

PERDONÁ, M.J.; SORATTO, R.P. Higher yield and economic benefits are achieved in the macadamia crop by irrigation and intercropping with coffee. Scientia Horticulturae 185, 59-67, 2015.

PERDONÁ, M. J.; SORATTO, R. P. Arabica Coffee-Macadamia Intercropping: A Suitable Macadamia Cultivar to Allow Mechanization Practices and Maximize Profitability. Agronomy Journal (Print), v. 108, p. 2301-2312, 2016.

PERDONÁ, M.J.; SORATTO, R.P., ESPERANCINI, M.S.T. Desempenho produtivo e econômico do consórcio de cafeeiro arábica e nogueira-macadâmia. Pesquisa Agropecuária Brasileira, 50, 12-23, 2015a.

POLTRONIERI , C. F.; LOURENZANI, A.E.B.S.; SILVA, A.L. O Agronegócio da Macadâmia no Estado de São Paulo: Aspectos Gerais e Breve Caracterização dos Elos de Produção e Processamento. 2005, XII SIMPEP- Bauru. Disponível em: www.simpep.feb.unesp.br. Acesso em 28/05/2018.

PIMENTEL, L.D. A cultura da macadâmia. Revista Brasileira de Fruticultura, v.29, n.3, p.414-416, 2007. ROTHWELL, L. The effect of irrigation on the yield of Macadamia integrifolia (cultivar 246) for the harvest year of 2007 at Clunes, Northern New South Wales, Australia. Environment Information Technology. Australia, personal communication, 2007.

SAMAC- Southern African Macadamia Growers´ Association. Disponível em https://samac.org.za/, acessado em 28/05/2018.

SÃO JOSÉ, A. R. Macadâmia: tecnologia de produção e comercialização. Vitória da Conquista-BA, DFZ-UESB, 1991, 224 p.

SACRAMENTO, C.K.; PEREIRA, F.M.; PERECIN, D.; SABINO, J.C. Capacidade combinatória para frutificação em cultivares de nogueira-macadâmia. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.34, n.11, p. 2045-2049, 1999.

SCHNEIDER, L.M.; ROLIM, G. de S.; SOBIERAJSKI, G. da R.; PRELA-PANTANO, A.; PERDONÁ, M.J. Zoneamento agroclimático de nogueira-macadâmia para o Brasil. Revista Brasileira de Fruticultura, v.34, n.2, p.515-524, 2012.

SILVA, F.A.; MAXIMO, G.J.; MARSAIOLI JR, A.; SILVA, M.A.A.P. Impacto da secagem com microondas sobre o perfil sensorial de amêndoas de noz macadâmia. Ciência e Tecnologia de Alimentos, v.27, n. SPONCHIATO, D. Uma castanha por dia. Revista Saúde, v.298, p.18-23, 2008.3, p.553-561, 2007.

SOBIERAJSKI, G. da R.; FRANCISCO, V.L.F. dos S.; ROCHA, P.; GHILARDI, A.A.; MAIA, M.L. Noz-macadâmia: produção, mercado e situação no Estado de São Paulo. Informações Econômicas, v.36, n.5, p.25-36, 2006.

(14)

1136

SPONCHIATO, D. Uma castanha por dia. Revista Saúde, v.298, p.18-23, 2008.

STEPHENSON, R.A.; CULL, B.W. Standad leaf nutrient levels for bearing macadamia trees in southest Queensland. Scientia Horticulturae, v.30, n.1, p.73-82, 1986.

VILAS BOAS, N.; CASARIN, J.; CAETANO, J.; GONSALVES JR., A.C.; TARLEY, C.R.T.; DRAGUNSKI, D.C. Biossorção de cobre utilizando-se o mesocarpo e o endocarpo da macadâmia natural e quimicamente tratados. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola Ambiental, v.16, n.12, p.1359-1366, 2012.

Referências

Documentos relacionados

1) Melhoria a capacidade de atingir clientes rentáveis  Utilizando as informações comumente disponíveis em tecnologia CRM, Thomas, Reinartz, and Kumar (2004)

The objectives of this article are as follows: (1) to describe the assessment protocol used to outline people with probable dementia in Primary Health Care; (2) to show the

xi The Tlim-100%VO2max is similar in-between exercise modes; xii Swimmers evidence a slower response in VO2 kinetics and a lower amplitude of the fast component compared with

Especialmente quanto à microbacia do Rio São Marcos, localizado na região da bacia hidrográfica do Rio Paranaíba, o conflito pelo uso da água entre irrigantes e a

Crisóstomo (2001) apresenta elementos que devem ser considerados em relação a esta decisão. Ao adquirir soluções externas, usualmente, a equipe da empresa ainda tem um árduo

Promover medidas judiciais e administrativas visando responsabilizar os causadores de poluição ou degradação ambiental e aplicar as penalidades administrativas previstas em

Ainda nos Estados Unidos, Robinson e colaboradores (2012) reportaram melhoras nas habilidades de locomoção e controle de objeto após um programa de intervenção baseado no clima de

Classificação, em etapas silvigenéticas Machado & Oliveira-Filho, 2008a, dos 19 fragmentos de florestas estacionais da região do Alto Rio Grande MG, tendo como base a porcentagem