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Conservadorismo(s)? Reflexões a partir das mobilizações antigênero 1

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Conservadorismo(s)? Reflexões a partir das mobilizações antigênero

1

Patricia Jimenez Rezende (Universidade de São Paulo)

2

Rodrigo Cruz (Universidade Nova de Lisboa)

3

Apresentação

Nos últimos anos, a expressiva mobilização em torno de temas relacionados às questões de gênero, sexualidade e reprodução tem contribuído para reavivar o interesse dos cientistas sociais pelo estudo das direitas, das contramobilizações (BANASZAK e ONDERCIN, 2010) e dos protestos morais (JASPER, 1997). Entre os muitos desafios teóricos e metodológicos desta agenda de pesquisa está a tarefa de identificar analiticamente a pluralidade de pautas e atores que compõem estas mobilizações. Embora parte da literatura tenha optado por falar em “mobilizações conservadoras” ou “movimentos conservadores”, (por exemplo DIDES, 2013; RUIBAL, 2014; MACHADO, 2017) o fenômeno quase sempre extrapola o campo conservador propriamente dito, mobilizando também setores liberais, intelectuais laicos e mesmo atores com trajetória política à esquerda.

Tomando como exemplo o caso das mobilizações antiaborto e dos recentes protestos contra a chamada “ideologia de gênero” no Brasil, este artigo adota uma abordagem relacional para discutir os limites do uso da categoria “conservadorismo” para a análise das chamadas mobilizações antigênero (KUHAR e PATERNOTTE, 2018). Embora a oposição aos direitos sexuais e reprodutivos constitua uma pauta de viés conservador, compreendemos que as mobilizações em torno de temas relacionados à sexualidade e reprodução têm aglutinado uma variedade mais ampla de atores sociais, movidos por interesses distintos e às vezes antagônicos. Sendo assim, sugerimos uma abordagem menos focada no agenciamento de categorias políticas consagradas e mais concentrada na análise do contexto político e nas dinâmicas de deslocamentos, alianças, sínteses e sobreposições que se estabelecem entre os atores ao longo do processo político.

Para fins analíticos, ao longo deste texto, tratamos as mobilizações antiaborto e contra a “ideologia de gênero” como parte das mobilizações antigênero, as quais consideramos como um

1Artigo apresentado ao 44º Encontro Anual da ANPOCS, no SPG30 - Movimentos Sociais no Brasil Contemporâneo:

contramovimentos, democracia e cultura.

2 Doutoranda em Sociologia pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo -

USP. Este artigo apresenta achados empíricos parciais da pesquisa de Doutorado (2019-Atual) (realizada com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, Brasil - CAPES, Código de Financiamento: 001).

Contato​: patijrezende@usp.br.

3Doutorando em Sociologia pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (Portugal)

e pesquisador do Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais (CICS.NOVA). Bolsista de Doutoramento da Fundação para a Ciência e Tecnologia de Portugal (FCT). ​Contato​: rrcruz@campus.fcsh.unl.pt.

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campo de ação estratégica (FLIGSTEIN e ADAM, 2012) mais amplo de oposição aos direitos sexuais e reprodutivos. Isso porque, nos últimos anos, todas as demandas que buscam ampliar os espaços jurídicos da sexualidade não reprodutiva têm sido consideradas como pertencentes à “ideologia de gênero” e como manifestações de uma “cultura da morte” (VIVALDI, 2019). Contracepção, casamento entre pessoas do mesmo sexo, reconhecimento da identidade de gênero de pessoas transexuais e aborto são alguns dos temas que compõem este quadro. O aborto, em particular, parece ocupar um lugar central nesse discurso, uma vez que implica “o reconhecimento da separação entre sexualidade e reprodução” 4 e representa um desafio à suposta naturalidade dos

papéis sociais desempenhados por homens e mulheres (Ibidem). Sob o enquadramento antigênero, mesmo quando os argumentos não são apresentados em termos religiosos, o que está em causa é uma lógica moral de matriz cristã, que pensa a mulher a partir do seu papel reprodutivo e de cuidado do outro e nunca a partir da sua auto realização (ROSADO-NUNES, 2008).

Embora não tenhamos a intenção de fazer uma análise exaustiva das mobilizações antigênero, recorremos a alguns conceitos da abordagem do confronto político (TARROW, 2009; TILLY, 2010) para ressaltar como as perspectivas ancoradas unicamente em categorias ideológicas podem limitar a compreensão da ação coletiva, sua morfologia e dinâmicas próprias. De acordo com esta perspectiva, o confronto entre aqueles que detêm poder e aqueles que, ao menos a priori, são destituídos dos meios institucionais de reivindicação (TARROW, 2009), ocorre em uma ampla arena de disputa na qual interagem movimentos sociais, contramovimentos (MEYER e STAGGENBORG, 1996), meios de comunicação, Estado e público espectador do confronto. Por meio do conceito de Oportunidades Políticas - OPs, essa abordagem tem enfatizado a dimensão contextual e relacional da ação coletiva ao apontar para o modo como as alterações no ambiente político afetam as possibilidades de insurgência, permitem a construção de alianças, garantem o sucesso ou fracasso de uma reivindicação ou implicam na criação de oportunidades políticas para a ação de movimentos adversários (MEYER, 2004; KRIESI, 2004; TARROW, 2009; TILLY, 2010). As oportunidades políticas podem frequentemente transgredir as fronteiras nacionais, como acontece nos casos em que a assinatura de acordos ou a realização de conferências internacionais acabam por alterar a dinâmica do âmbito nacional (TARROW, 2009). A ação dos movimentos altera ela própria o ambiente político e as oportunidades e restrições, tanto para movimentos aliados e quanto para os opositores (McADAM e TARROW, 2011; TARROW, 2009; TILLY, 2010).

Nesse sentido, buscamos abordar as mobilizações antigênero como parte de um confronto político mais amplo no qual estão em jogo diferentes projetos de poder, além de recursos de ordem

4VIVALDI, Lieta. In Defence of Women: Anti-gender Campaigns and Abortion in Chile. ​Engenderings​. The London

School of Economics and Political Science, 2019. (​Disponível em​:

<https://blogs.lse.ac.uk/gender/2019/03/12/in-defence-of-women-anti-gender-campaigns-and-abortion-in-chile/>.

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material e simbólica. Dois momentos do contexto político brasileiro recente são fundamentais para a compreensão do argumento desenvolvido nas próximas páginas. O primeiro momento, com maior impacto na dinâmica das mobilizações antiaborto, diz respeito à chegada do Partido dos Trabalhadores (PT) ao executivo federal em 2003. Esse evento sinalizou um novo contexto de oportunidades políticas tanto para o movimentos feminista e LGBTQI+ quanto para seus opositores, com intensidades e sentidos distintos. Dois anos depois, o chamado escândalo do “mensalão” viria alterar esse quadro, com o governo petista deslocando seu arco de alianças em direção a setores adversários do movimento pela legalização do aborto e abrindo caminho para uma ofensiva contra as iniciativas pelo direito ao aborto. O segundo momento diz respeito ao período de mobilizações pelo impeachment de Dilma Rousseff (2011-2016), inaugurado com sua reeleição no ciclo eleitoral de 2014. Em um contexto marcado por sucessivas denúncias de corrupção contra as elites políticas e o PT, este último apontado pela imprensa como principal responsável pela crise política, econômica e moral que atravessava o país, o ciclo de protestos pela destituição de Rousseff permitiu a formação de uma ampla coalizão de opositores reunidos sob a retórica da pátria, tradição e família (ALONSO, 2017). Nos anos seguintes, estes mesmos setores foram fundamentais para transformar a agenda moral em uma questão central no debate político brasileiro (Idem, 2019).

O artigo está dividido em três seções principais. A primeira parte apresenta um breve debate sobre conservadorismo, gênero, sexualidade e reprodução. Longe de realizar uma revisão exaustiva da bibliografia, buscamos sobretudo introduzir a relação teórica entre os temas, de modo a oferecer elementos para a discussão empírica. A segunda parte aborda o caso antiaborto, de forma longitudinal, reconstitudindo o contexto político que impulsionou as mobilizações contra o aborto e discutindo exemplos que apontam para os problemas analíticos que pretendemos questionar. A terceira e última parte focaliza nas mobilizações contra a “ideologia de gênero” entre os anos de 2014 e 2018, mapeando o engajamento de atores de perfil liberal em múltiplas arenas e contextos.

A proposta lança mão de métodos e técnicas do tipo qualitativo, como revisão da bibliografia secundária na área das Ciências Sociais e pesquisa documental nos jornais do Grupo Folha/UOL, Globo e Gazeta do Povo, com o objetivo de reconstruir o contexto político mais amplo em que se desenrolam as disputas sobre as questões de gênero, sexualidade e reprodução no contexto brasileiro. Também foram realizados levantamentos de dados em sites de movimentos sociais, associações e outros tipos de entidades dedicadas a pauta antiaborto e contra a “ideologia de gênero”, além do Portal da Câmara dos Deputados.

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Na literatura sobre mobilização política, o conservadorismo tem sido enquadrado como uma tradição originalmente à direita. São considerados como conservadores grupos e movimentos que buscam a manutenção de determinado ​status quo​, fazendo pouco uso de violência e tomando como base o patriotismo/nacionalismo, livre capitalismo, normas tradicionais e valores morais pautados na religião (LO, 1982; BLEE e CREASAP, 2010). Para Dides (2013), conservadores seriam aqueles que, a princípio, se opuseram às mudanças provocadas pelas ideias liberais, democráticas e republicanas da Revolução Francesa no século XVIII, atuando para manter a integridade das instituições sociais e dos valores tradicionais. A corrosão de um determinado ​status ​seria um elemento decisivo para que grupos conservadores sejam encorajados a agir em favor da manutenção de seus interesses. Para Vaggione ​et al ​(2020), os fundamentos conservadores estabelecem-se justamente na reação e na resistência às políticas contestatórias e a quadros sócio-históricos em reconfiguração. Dides (2013) complementa: trata-se de “uma determinada interpretação do mundo, de seu funcionamento e de suas regras” (Ibidem: 100).

Com a politização de temas em torno da sexualidade e da reprodução humana ao longo do século XX, particularmente após o invento dos métodos contraceptivos, sexualidade/erotismo e reprodução/fertilidade passaram a ser enquadrados como termos distintos e autônomos (CORRÊA, 2004). Como parte desse fenômeno, as noções de família, sexualidade, reprodução e gênero passaram a ser disputadas por diferentes atores sociais no campo político, como os movimentos de mulheres, feministas, LGBTQI+ e também anti-feministas e antiaborto.

Nos últimos anos, a oposição às demandas pela ampliação dos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres e da população LGBTQI+ tem sido apontada como um elemento chave do ideário conservador contemporâneo (VAGGIONE ​et al​, 2020). Ao tratar das mobilizações feministas no Brasil dos anos 1980, Saffioti (1987) já havia destacado a atuação e formação de seus pares oponentes, correntes anti-feministas, em solo norte-americano. A autora observou que estes grupos, os quais denominou “conservantistas”, buscavam fundamentar as desigualdades entre homens e mulheres com base nas diferenças naturais entres os sexos, de modo a justificar os papéis desempenhados pelos mesmos no mundo social.

Estudos de casos mais recentes sobre as mobilizações antigênero na América Latina têm reforçado que, apesar das diferenças entre os grupos nomeados conservadores (ou neoconservadores)5​, a ampla oposição às demandas pela ampliação direitos sexuais e reprodutivos

tem figurado como um denominador comum entre os mesmos (como em: FAÚNDES, 2012; VAGGIONE, 2012; CUNHA, 2014; FACCHINI e SÍVORI, 2017; MACHADO, 2017; SHAMEEM, 2017; VAGGIONE ​et al​, 2020). Embora possa ser considerado um elemento

5 Parte da bibliografia que discute conservadorismo e mobilizações antigênero tem se valido da noção de

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importante na caracterização dos grupos conservadores contemporâneos, esse aspecto isolado não dá conta de explicar a multiplicidade de atores engajados nas mobilizações antigênero, os quais nem sempre se encaixam na classificação “conservadora”. Nas seções a seguir, buscaremos desenvolver esse argumento a partir de achados empíricos acerca do caso antiaborto e das recentes mobilizações contra a “ideologia de gênero” no Brasil.

O caso antiaborto

Impulsionadas pelo ativismo da Igreja Católica em reação à “primeira onda [internacional] de reformas legais” do aborto (CORRÊA, 2004: 02), as mobilizações antiaborto estão presentes na política brasileira desde os anos 1970 6 e ganharam novo fôlego a partir dos anos 2000. Na medida

que os movimentos feministas passaram a reivindicar a ampla legalização do aborto como parte das demanadas pela autonomia das mulheres sobre seus próprios corpos nos anos 1980, as mobilizações antiaborto também se estenderam no contexto nacional, marcando o período da democratização brasileira, com destaque para o processo Constituinte (1986-1988) (RUIBAL, 2014; REZENDE, 2016; MACHADO e MACIEL, 2018).

Durante a presidência de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) as disputas em torno do tema já se encontravam instauradas nas variadas esferas políticas e sociais do Brasil, no entanto, foi a partir do primeiro quadriênio do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) que grupos contra o aborto passaram a se mobilizar mais intensamente no bloqueio das demandas feministas e, ao mesmo tempo, mais propositivamente em relação as suas próprias demandas (REZENDE, 2016; MACHADO e MACIEL, 2018). No primeiro mandato do governo Lula, foi apresentada a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental n°54 (ADPF-54) 7​, visando incluir entre as excessões

não criminalizadas de aborto os casos de anencefalia fetal grave (LUNA, 2010; SALES, 2015); foi aprovada a Lei de Biossegurança 8​, permitindo pesquisas com células tronco de embriões fertilizados

in vitro (LUNA, 2010; SALES, 2014); foi formada (por iniciativa do governo federal) Comissão

Tripartite9 e apresentado o substitutivo ao Projeto de Lei n° 1135/9, debatendo a ampla legalização

6Em 1973, se formou em Santa Catarina a primeira organização antiaborto do país, o Movimento Gianna Beretta Molla

- GBM, vinculada à Igreja Católica. (​Disponível em: <​https://www.semprefamilia.com.br/defesa-da-vida/

movimento-pro-vida​-se-organiza-e-cresce-no-brasil/>. ​Acesso em​: 24 de setembro de 2020).

7 Movida pela Confederação Nacional dos Trabalhadores da Saúde (CNTS) e elaborada em parceria com a Anis:

Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero. A liminar foi revogada meses depois, tendo a Arguição sido votada e, então, aprovada apenas em 2012 (SALES, 2015).

8 A Lei foi contestada, no mesmo ano, através de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) movida pelo então

procurador-geral da República Cláudio Fonteles. A ADI foi julgada em 2008 e, por fim, negada (SALES, 2014).

9 A Comissão foi oficialmente instalada em abril de 2005, composta por seis representantes do Legislativo, seis do

Executivo e seis da sociedade civil, a Comissão teve como objetivo elaborar projeto que abarcasse a ampla legalização do aborto. O processo de elaboração do Anteprojeto possibilitou um estreitamento da relação do movimento feminista com alguns órgãos federais (como o Ministério da Saúde) e parlamentares (MAYORGA e MAGALHÃES, 2008).

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do aborto. E ainda foram elaboradas e editadas, pelo Ministério da Saúde, Normas Técnicas regulamentando os atendimentos em casos de aborto legal, incluindo a dispensa da obrigatoriedade de Boletim de Ocorrência (BO) para a realização de aborto nos casos de estupro (BARSTED, 2009): respectivamente, a Norma “Atenção Humanizada ao abortamento” (BRASIL, 2005a) e a “Prevenção e Tratamento dos Agravos Resultantes da Violência Sexual contra Mulheres e Adolescentes” (BRASIL, 2005b).

Nesse contexto, em resposta às propostas de revisão e ampliação das possibilidades de aborto legal apresentadas ao Judiciário e Legislativo, com suporte do Executivo federal, grupos antiaborto de base católica, evangélica, espírita e demais confissões, assim como atores aconfessionais, formaram a primeira Frente Parlamentar em Defesa da Vida – Contra o Aborto (2005) e se organizaram numa rede de atuação coordenada através do Movimento Nacional de Cidadania pela Vida – Brasil sem Aborto. A formação da I Frente Parlamentar contra o Aborto, em 2005, inaugurou uma tendência organizativa de grupos contra o aborto no parlamento brasileiro que possibilitou um intenso fluxo entre os âmbitos societário e institucional. Foram realizados Seminários e Plenárias na Câmara dos Deputados com grupos contra o direito ao aborto e lançadas campanhas em períodos eleitorais, como a Campanha Nacional Por Um Parlamento em Defesa da Vida, com o slogan “Por um Brasil sem Aborto”, em 2006​ ​(REZENDE, 2016).

Entretanto, os estudos sobre as mobilizações antiaborto têm apresentado algumas limitações analíticas de respaldo normativo e metodológico. Por exemplo, Machado (2017) defende que as mobilizações pela criminalização do aborto implicam uma concepção una de modelo familiar baseada em valores morais e religiosos, contrariando a diversidade que permeia a realidade social. Abordagens que reiteram o debate a partir do binarismo conservador/religioso/valores morais

versus progressista/laico/valores seculares tendem a (1) evocar os valores morais que estão em jogo no campo antiaborto e, ao mesmo tempo, omitir os valores morais que também estão em jogo do lado pró-aborto das disputas, além de (2) marginalizar o imbricamento sócio-histórico de valores cristãos que, como ressaltado por Almeida (2017), perpassam toda a sociedade brasileira.

Como alguns estudos têm enfatizado, grupos antiaborto também se valem de retóricas que incorporam o discurso científico em detrimento de argumentos de fundamentações puramente religiosas. No Brasil, desde o período Constituinte (1987-1988) as abordagens antiaborto já articulavam saberes de cunhos jurídico e médico (WOHNRATH, 2017). Contudo, é especialmente a partir dos anos 1990 que argumentos bioéticos e genéticos 10 começam a ser apresentados para

defender a ideia de que a vida tem início no momento da concepção (RUIBAL, 2014). Ao observar

10 De tradição do geneticista francês Jérôme Lejeune (1926-1994) (HUSTING e KING, 2003). ( ​Disponível em​:

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os debates nas Audiências referentes à da Lei de Biossegurança e da ADPF-54, Sales (2015) também verificou a articulação de uma gramática secular por parte de grupos antiaborto, que respeitam assim as “regras” seculares da disputa, expediente que Vaggione (2012) conceituou como “secularismo estratégico”.

Do ponto de vista dos atores, para além dos grupos religiosos que estão na linha de frente antiaborto, como os organizados através das Associações Pró-Vida e Pró-Família: Movimento em Defesa da Vida da Arquidiocese do Rio de Janeiro (1975), Associação Nacional Pró-Vida e Pró-Família de Brasília (1993), Associação Jamais Abortar (1993), Associação de Mulheres pela Vida (1997) e etc. (REZENDE, 2016), há ainda organizações de base religiosa que se posicionam de forma favorável à legalização do aborto, como as dissidentes Católicas pelo Direitos de Decidir (1993)11 e Frente Evangélica pela Legalização do Aborto (2017) 12​. Diferentes igrejas evangélicas,

mesmo dentre as de tradição com maior alinhamento em relação ao tema, como a pentecostal, também se posicionam distintamente, tanto de forma mais restrita quanto de forma mais flexível em relação à legislação do aborto. Aprovam o aborto em casos de risco de morte materna (como é o caso da Igreja Presbiteriana do Brasil), para fins de planejamento familiar (como a Igreja Metodista) e em casos de estupro, anomalias fetais graves e até mesmo devido a questões socio-econômicas (como a Igreja Universal do Reino de Deus) (GOMES, 2008).

Ao mesmo tempo, mesmo os setores da Igreja Católica que tradicionalmente atuam na linha de frente na defesa de direitos humanos e da democracia, como as Comunidades Eclesiais de Base - CEBs13​, possuem posicionamentos controversos a respeito do aborto. Durante o período de

redemocratização brasileira, a despeito de terem composto a ala de oposição ao regime militar, o vínculo de grupos e movimentos de mulheres às CEBs foi mais um entrave para a defesa do direito ao aborto (ROSADO-NUNES, 2008). A atuação eclesial, nesse período, não incorporou a defesa do aborto em sua agenda. Ao contrário, o aborto foi tratado como uma ameaça aos direitos humanos nos mesmos termos que a tortura e a eutanasia (SALES e MARIANO, 2019). Se do lado evangélico podemos destacar suas variantes que se posicionam favoráveis ao aborto legal, do lado católico podemos apontar para a complexidade da questão ao registrar que mesmo parte de uma ala consagrada como pró-direitos humanos se posiciona contra a legalização do aborto.

Contudo, a História tem nos demonstrado que posicionamentos a favor ou contra a legalização do aborto podem ser sustentados de formas variadas. Uma digressão mais longa até o Brasil do início do século XX, nos mostrará posicionamentos favoráveis à ampla legalização do

11 Representante brasileira das Catholics for Choice (1973) (​Disponível em​:

<https://www.catholicsforchoice.org/about-us/>. ​Acesso em​: 22 de outubro de 2020).

12 (​Disponível em​: <https://g1.globo.com/sp/santos-regiao/noticia/2019/02/19/grupo-de-evangelicas

-se-une-para-lutar-pela-legalizacao-do-aborto-nosso-direito.ghtml>. ​Acesso em​: 04 de novembro 2020).

13 As CEBs constituem um movimento católico, formado nos anos 1960-70, voltado para ação político-social contra

desigualdades sócio-econômicas e em prol dos direitos humanos. Possuem como corrente teológica a Teologia da Libertação (PIERUCCI e PRANDI, 1996).

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aborto justificados a partir de uma chave neomalthusiana, que defendia o aborto com o objetivo de estimular o controle de natalidade e evitar o esgotamento dos recursos naturais. Nessa corrente, incorporavam-se argumentos de caráter eugênicos e higienistas que defendiam o aborto e a esterilização compulsória de mulheres das camadas mais pobres da população como métodos contraceptivos (SILVA, 2012). Ou seja, nem tão somente os posicionamentos pró e anti aborto deslocados de seus atores e contexto político nos permitem adotar classificações prontas como “progressista” e “conversador”.

Ao olhar para campo político institucional contemporâneo, encontramos um quadro desalinhado no qual representantes de legendas, tradicionalmente classificadas pela ciência política, à esquerda14 compõem Frentes Parlamentares contra o aborto, assumindo posicionamentos de teor

conservador no que diz respeito a sexualidade e reprodução. O estudo apresentado por Miguel ​et al (2017) corrobora com essa assertiva, quando analisados os discursos realizados na Câmara dos Deputados em torno do tema do aborto, partidos políticos como Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido Verde (PV) destacam-se entre aqueles que mais se remetem ao tema. Por exemplo, no caso do PV, de 2011 a 2014, houve ampla prevalência de discursos de posicionamentos contrários ao aborto (Miguel ​et al​, 2017: 241).

(Elaboração própria)15

14 Para fins de classificação dos partidos políticos na Câmara dos Deputados, recorremos aos três grandes grupos

ideológicos (direita, centro e esquerda) propostas por Codato ​et al (2018) com base nas siglas que apresentaram candidatos à Câmara Federal nas últimas cinco eleições (1998, 2002, 2006, 2010 e 2014) no Brasil.

15 O gráfico apresenta informações apenas dos partidos políticos com mais de 50 signatários, ou seja, apenas dos

partidos com maior engajamento nessas Frentes. O gráfico foi produzido a partir da lista de signatários da Frente Parlamentar Mista em Defesa da Vida - Contra o Aborto e Frente Parlamentar da Família e Apoio à Vida (54ª Legislatura); Frente Parlamentar Mista da Família e Apoio à Vida e Frente Parlamentar em Defesa da Vida e da Família (55ª Legislatura); e Frente Parlamentar em Defesa da Vida e da Família (56ª Legislatura - atual). Os dados utilizados para elaboração do gráfico encontram-se disponíveis no site da Câmara dos Deputados.

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Entre as Frentes formadas da 54ª a 56ª legislaturas (2011-2019) pode-se observar um suporte expressivo de representantes do PT e do Partido Socialista Brasileiro (PSB) às Frentes “pela família e pela vida”. Como bem salientado por Miguel ​et al​ (2017: 246):

A posição “ideológica”, no entanto, precisa ser relativizada. A atribuição de posições no espectro esquerda-direita é complexa em si mesma, uma vez que reduz a disputa política a uma escala bidimensional, e mais complexa ainda no caso dos partidos brasileiros, que são muito diversos internamente e programaticamente muito frágeis.

Durante os governos petistas houve a ingerência de atores com pautas e alinhamentos diversos em cargos governamentais e através de alianças com o governo federal. Com suas bases de apoio desgastadas após o episódio do “Mensalão” 16​, em 2005, (CARREIRÃO, 2007) o governo

firmou alianças e fez acordos com setores que se afastavam do programa políticos da legenda. Analisar o ativismo antiaborto exclusivamente a partir do par conservador/religioso exclui os pontos de inflexão que o campo apresenta. Ao analisar o caso norte-americano, Blee e Creasap (2010) apontaram para os limites das determinações prognósticas ao explicitar que atores de um mesmo movimento podem concomitantemente defender pautas diferentes a partir de critérios contraditórios, como a reforma penal e a criminalização da violência de gênero. A ampla participação de representantes de legendas à esquerda nas Frentes Parlamentares pela Família e pela Vida, mais uma vez, nos revela os perigos de classificar determinados atores antiaborto. Isto porque, como a sociologia de tradição processual vem nos ensinando, diferentes atores e seus posicionamentos não se dão num vácuo conjuntural, mas sempre em relação uns aos outros atores em um tempo e espaço determinados.

O caso das mobilizações contra a “Ideologia de Gênero”

No Brasil, as mobilizações contra a chamada “ideologia de gênero” irromperam a cena pública na última década. O marco histórico foi a votação do Plano Nacional de Educação (PNE) na Câmara dos Deputados, em 2014, quando a inclusão de um trecho que orientava a “superação das desigualdades educacionais, com ênfase na promoção da igualdade racial, regional, de gênero e de orientação sexual” (BRANDÃO e LOPES, 2018) provocou debates acalorados entre os parlamentares. Diante da polêmica, a referência às formas de discriminação específicas acabaram por ser suprimidas, prevalecendo uma formulação genérica sobre a "erradicação de todas as formas

16Denúncias de corrupção contra diversos membros que ocupavam cargos de alto escalão do governo federal levaram à

instauração de Comissões Parlamentares de Inquéritos (CPIs) e Inquérito pela Procuradoria Geral da República (CARREIRÃO, 2007).

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de discriminação"17​. Entre os anos de 2015 e 2016, o embate parlamentar se repetiu nas

Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais de todo o país durante a votação dos Planos Estaduais e Municipais de Educação. À época, os protestos pelo impeachment de Dilma Rousseff, a desmoralização do governo diante das denúncias de corrupção e a crise econômica abriram caminho para todo o tipo de coalizão contrária a pautas identificadas como “progressistas”. Em várias cidades, a sociedade civil protestou contra e a favor da inclusão do debate de gênero nas escolas 18​,

contribuindo para que um termo até então pouco conhecido da opinião pública, a chamada “ideologia de gênero”, atraísse os holofotes.

Elaborada por membros da alta cúpula da Igreja Católica ainda nos anos 1980 (RATZINGER e MESSORI, 1985), a noção de “ideologia de gênero” ganhou força entre a intelectualidade clerical e laica ao longo dos anos 1990, especialmente após a Conferência Mundial sobre as Mulheres de 1995, em Pequim, quando ocorreu a substituição da categoria “mulher” pelo conceito de “gênero” no âmbito do sistema de direitos das Nações Unidas. O Vaticano interpretou o episódio como uma estratégia dissimulada dos movimentos feministas, cujo verdadeiro objetivo seria “desestabilizar a família e sua ordem natural” (MISKOLCI e CAMPANA, 2017). Nos anos seguintes, a Igreja passou a investir na organização de publicações com tradução para vários idiomas e outras iniciativas de escopo internacional na tentativa de difundir os perigos por trás da “ideologia de gênero”. Uma década depois, o discurso antes restrito aos círculos eclesiásticos finalmente ganhou as ruas, animando mobilizações contra questões relativas à moralidade, corpo, sexualidade e reprodução em países da Europa, América do Norte e América Latina.

Ao analisar uma variedade de casos no continente europeu, Kuhar e Paternotte (2018) concluíram que parte do sucesso das mobilizações contra a “ideologia de gênero” naquele continente se deve à associação com o populismo de direita, que reforça estas campanhas fornecendo-lhes novos apoiadores. Dado quecompartilham das mesmas estruturas ideológicas (divisões binárias do tipo “nós” contra “os outros”; a ideia de uma maioria silenciada por uma elite corrupta; a excessiva interferência de organismos internacionais na política local; a inversão agressor/vítima e a instrumentalização de minorias políticas), ativistas antigênero e populistas de direita por vezes se sobrepõem, atuando simultaneamente nas mesmas organizações (partidos, movimentos e associações) e nas mesmas arenas de disputa política (ruas, parlamentos, tribunais).

17TOKARNIA, Mariana. Comissão da Câmara aprova texto base do PNE e retira questão de gênero. ​Agência Brasil​.

Educação. Brasília, 22 de abril de 2014. (​Disponível em​:

<https://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2014-04/comissao-da-camara-aprova-texto-base-do-pne-e-retira-que

stao-de-genero>. ​Acesso em​: 20 de maio de 2020).

18 Embora não tenha sido realizado um levantamento específico dos eventos de protesto relacionados ao debate de

gênero nos Planos Estaduais e Municipais de Educação neste período, foram identificados ao longo desta pesquisa protestos em cidades como São Paulo, Salvador, Fortaleza, Maceió, Campinas, Londrina, Maringá, Sorocaba. (​Disponível em​: <​https://www.cartacapital.com.br/educacao/por-que-e-tao-dificil-falar-de-genero-na-escola/​>. ​Acesso

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No contexto brasileiro, o combate à “ideologia de gênero” tem mobilizado católicos (com protagonismo da corrente eclesiástica Renovação Carismática) e evangélicos (Igreja Universal do Reino de Deus, Assembleia de Deus, Igreja Batista, Quadrangular, Sara Nossa Terra, Metodista e Presbiteriana), muitos dos quais abrigados em associações ecumênicas, de pais, jovens e psicólogos cristãos. Em 2014, representantes de algumas destas denominações religiosas no Congresso Nacional, distribuídos principalmente entre partidos de direita e centro-direita, foram peças chave para barrar a inclusão do termo “gênero” no Plano Nacional de Educação. Entretanto, o arco de alianças foi além, atraindo também partidos, movimentos, entidades e indivíduos historicamente associados ao liberalismo econômico. A seguir, buscaremos mapear o engajamento destes últimos em diferentes arenas (parlamento, ruas e ciclos eleitorais) entre os anos de 2014 e 2018, a fim de problematizar as classificações que tomam as mobilizações anti “ideologia de gênero” como essencialmente conservadoras.

A ascensão de um discurso contra a “ideologia de gênero” na arena parlamentar e a amplitude das alianças forjadas em torno dele estão bem documentadas. Ao verificar o percurso histórico do debate na Câmara dos Deputados durante as últimas quatro legislaturas, Aragusuku (2020) apontou que foram realizados apenas 15 menções ao termo entre 2003 e 2014, sendo 8 delas feitas em 2014, ao passo que nenhum projeto baseado no tema foi proposto neste período. Enquanto os primeiros pronunciamentos a mencionar a suposta ameaça da “ideologia de gênero” foram proferidos por deputados de partidos de direita vinculados ao catolicismo, verificou-se a partir de 2013 uma expansão do uso do termo, que passou a ser agenciado também por deputados evangélicos (ARAGUSUKU, 2020). Em 2014, durante a votação em plenário do PNE, somente partidos tradicionalmente classificados como de esquerda e centro-esquerda como o Partido Comunista do Brasil (PCdoB), Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), Partido Democrático Trabalhista (PDT), PV e PSB, ou de centro, no caso do Partido Popular Socialista (PPS), atual Cidadania, recomendaram o voto contrário ao texto final do projeto, que a esta altura já não contava com qualquer menção ao debate de gênero. O PT foi exceção, votando majoritariamente a favor da proposta por recomendação do governo Dilma Rousseff. Paralelamente, os demais partidos de centro, centro-direita e direita, tanto os de tradição secular quanto confessional 19​, recomendaram

voto favorável ou simplesmente liberaram seus deputados da votação20​.

Na legislatura seguinte (2015-2018), as políticas de educação se consolidaram como o principal campo de disputa entre atores contra e a favor do debate de gênero. Foram realizados 160

19 Para fins de classificação dos partidos políticos na Câmara dos Deputados, recorremos à tipologia proposta por

Codato, Berlatto e Bolognesi (2018), que divide os partidos políticos brasileiros em três grandes grupos ideológicos (direita, centro e esquerda) com base nas siglas que apresentaram candidatos à Câmara Federal nas últimas cinco eleições (1998, 2002, 2006, 2010 e 2014)

20 Os dados da votação estão disponíveis no site da Câmara do Deputados para consulta pública. ( ​Disponível em​:

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pronunciamentos em plenário com referência à “ideologia de gênero”. Deste total, somente 23 foram proferidos por deputados de partidos à esquerda, que utilizaram a tribuna para se posicionar de forma contrária ao termo e suas variadas significações (ARAGUSUKU, 2020). Chama a atenção, o relativo consenso que a noção de “ideologia de gênero” parece gozar entre membros de partidos de centro, centro-direita e direita, independente da tradição laica ou confessional, o que pode indicar tanto uma ampla distribuição de parlamentares defensores de uma pauta conservadora entre estes partidos quanto a existência de um apoio significativo à agenda anti “ideologia de gênero” entre parlamentares de perfil não confessional localizados neste espectro político.

Se no parlamento estas posições aparecem mais ou menos difusas, um olhar para a sociedade civil contribui para tornar mais transparente o engajamento liberal em torno da agenda anti “ideologia de gênero”. Fundado em 1983, no Rio de Janeiro, o Instituto Liberal (IL) foi idealizado pelo empresário Donald Stewart Jr. para difundir o ideário liberal entre formadores de opinião de diferentes categorias, nomeadamente professores, estudantes, intelectuais, jornalistas e empresários. Entre suas principais atividades estão a organização de seminários, conferências e publicações destinadas à divulgação de autores liberais como Friedrich Hayek e de uma agenda política e econômica orientada para o livre mercado. Ao longo de suas mais de três décadas de existência, o IL se expandiu para outros estados, consolidando-se como referência do pensamento liberal entre as elites políticas brasileiras, sobretudo entre os legisladores ​(ROCHA, 2017).

O site oficial do IL se apresenta hoje como principal veículo de informação da entidade. Além de apresentar o perfil institucional do ​think tank​, cumpre a função de um portal de notícias, que busca refletir “sobre os principais assuntos que preocupam e chamam a atenção da sociedade e da mídia, a partir de perspectivas ancoradas em todas as diferentes escolas e posições que dialogam com as ideias clássicas do liberalismo”21​. Uma busca pelo termo “ideologia de gênero” no

mecanismo de pesquisa do portal resultou em 70 registros entre os anos de 2015 e 2020. São notícias, artigos de opinião e resenhas de livros que alertam para os supostos perigos por trás da “ideologia de gênero”. Um desses artigos, publicado em março de 2017 e assinado por um colunista que se apresenta como Defensor Público do Estado de Santa Catarina, procura articular a “ideologia de gênero” com uma agenda socialista e entusiasta de um Estado forte:

Na verdade, a ideologia de gênero não passa de um arcabouço acientífico (​sic​) que faz parte de uma pauta socialista que é um verdadeiro esgoto a céu aberto. Seus praticantes e adeptos em geral pretendem um Estado maior para o cometimento de abusos legislativos e tiranias contra criancinhas de tenra idade, sem autodeterminação e sem desenvolvimento psicológico adequado destes tipos de coisas22​.

21 (​Disponível em​: <​https://www.institutoliberal.org.br/il-linha-editorial/>. ​Acesso em​: 19 de outubro de 2020).

22MELLO, Sérgio de. Os crimes cometidos por quem pratica a Ideologia de Gênero. ​Instituto Liberal​. 14 de março de

2017. (​Disponível em​: <​

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Da mesma forma, o economista e escritor Rodrigo Constantino, atual presidente do IL e uma das principais vozes do pensamento liberal na imprensa brasileira, tem se dedicado a difundir o discurso anti “ideologia de gênero” em suas colunas semanais. Com passagem pelo Grupo Record, revistas como Veja e Istoé, e Rádio Jovem Pan, Constantino dispõe ainda de um canal no YouTube com quase meio milhão de inscritos, no qual se apresenta como um “liberal clássico com um viés conservador”. Em um desses vídeos, intitulado “Desafios do liberalismo na era moderna”23​, o

escritor se debruça longamente sobre a importância dos temas morais para a ideologia liberal, reivindicando os filósofos clássicos do liberalismo britânico para criticar as “políticas igualitárias esquerdistas”, as quais considera responsáveis por “derrubar os pilares morais essenciais à sobrevivência do sistema capitalista liberal”. Ressalta ainda o papel de uma “sociedade civil saudável”, que por meio da família seria responsável por civilizar o homem a partir da introdução dos valores, tradições e tabus. “A liberdade não existe num vácuo moral”, conclui Constantino.

Em que pese o fato de o Instituto Liberal representar uma geração mais antiga de militantes liberais no contexto brasileiro (ROCHA, 2017), as pautas morais parecem interessar igualmente as novas gerações. Em 2017, o Movimento Brasil Livre - MBL, grupo de jovens liberais que esteve à frente das mobilizações pelo impeachment de Dilma Rousseff entre 2014 e 2016, liderou osos protestos pelo fechamento da exposição Queermuseu em Porto Alegre. Um vídeo com mais de 400.000 visualizações publicado pelo movimento nas redes sociais causou comoção pública ao apontar apologia à pedofilia e à prostituição infantil nas obras expostas. O grupo Santander Cultural acabou por cancelar a mostra e, por meio de um comunicado, pediu desculpas ao público pela exposição de peças que “desrespeitavam símbolos, crenças e pessoas”. O MBL foi às redes comemorar o cancelamento, que considerou uma “vitória da pressão popular” 24​. Um ano depois, já

durante o ciclo eleitoral 2018, o grupo convocou um novo protesto, desta vez contra a reabertura do Queermuseu no Parque Lage, no Rio de Janeiro. Ao lado de grupos nacionalistas e religiosos como o Templários da Pátria e Liga Mundial Cristã, os manifestantes gritaram o nome do então candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro, na tentativa de abafar o discurso de abertura do curador da mostra, Gaudêncio Fidelis25​.

23 CONSTANTINO, Rodrigo. ​Desafios do liberalismo na era moderna​. 2019. (​Disponível em​:

<https://www.youtube.com/watch?v=QPu4n9XJpHU&t=989s>. ​Acesso em​: 26 de outubro de 2020).

24 SPERB, Paula. Após protestos do MBL, Santander fecha exposição sobre diversidade. ​Veja​. Porto Alegre, 10 de

setembro de 2020, atualizado em 12 de setembro de 2017. (​Disponível em​:

<https://veja.abril.com.br/blog/rio-grande-do-sul/apos-protesto-do-mbl-santander-fecha-exposicao-sobre-diversidade>.

Acesso em​: 20 de maio de 2020).

25 PAMPLONA, Nicola. Abertura da mostra Queermuseu, no Rio, tem protestos de movimentos religiosos. ​Folha de

S.Paulo​. Rio de Janeiro, 18 de agosto de 2018. (​Disponível em​:

<​https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2018/08/exposicao-queermuseu-abre-no-rio-com-protestos-de-movimentos-re

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O protesto no Parque Lage evidenciou o peso do discurso contra a “ideologia de gênero” no ciclo eleitoral de 2018, bem como o seu amplo poder de aglutinação, capaz de mobilizar tanto atores liberais quanto setores religiosos. Nesse sentido, todos os candidatos à Presidência da República foram interpelados sobre o tema ao longo da campanha. Figuras tradicionalmente vinculadas ao liberalismo econômico como Henrique Meirelles (MDB) e Geraldo Alckmin (PSDB) responderam de forma contrária ou ambígua, com o primeiro se posicionando contra “qualquer possibilidade de ideologização do ensino", e o segundo apresentando ressalvas em relação ao papel professor e à idade apropriada para a realização de debates sobre gênero e sexualidade no ambiente escolar26​. Candidato pelo Partido Novo, legenda estreante na disputa pelo executivo federal, o

empresário João Amoedo foi além e se declarou abertamente contra a “ideologia de gênero” 27 e

“contra qualquer tipo de doutrinação nas escolas” 28​. A posição já havia sido expressa em dezembro

de 2017, quando o então pré-candidato publicou um ​tweet 29elucidando sua opinião contrária ao

assunto, mas ressaltando que “o problema principal está relacionado à centralização das decisões no âmbito federal e ao escopo de atuação do MEC. Os estados, municípios, bairros e pais devem ter maior participação sobre a grade curricular”.

Como destaca Amaya (2017), o combate à “ideologia de gênero” no Brasil não pode ser desvinculado dos ataques à educação pública, à liberdade de cátedra e à produção do conhecimento científico. A constante vinculação entre o debate de gênero no ambiente escolar e os riscos de uma suposta “doutrinação ideológica” (em referência ao projeto “Escola Sem Partido”) por parte de atores políticos associados ao liberalismo revela que ambas as preocupações caminham de mãos dadas. Nesse sentido, tanto as declarações dos candidatos à presidência quanto às publicações no site do Instituto Liberal apontam para uma lógica privatista que pensa a educação como um serviço, reduz o exercício docente à uma atividade instrutiva e reivindica uma maior interferência da sociedade civil organizada na gestão escolar como alternativa para a diminuição do papel do Estado no setor. O debate sobre “ideologia de gênero” aparece, ao mesmo tempo, como consequência da excessiva interferência estatal e como resultado da suposta infiltração da esquerda nas instituições

26 REBELLO, Aiuri. Gênero e partido: Veja o que pensam os presidenciáveis sobre as polêmicas da “Ideologia de

gênero” e escola sem partido”. ​UOL​. São Paulo, setembro de 2018. (​Disponível em​:

<​https://www.uol/eleicoes/especiais/eleicoes-2018-propostas-para-educacao-candidatos-a-presidente-sobre-ideologia-de

-genero-e-escola-sem-partido.htm#genero-e-partido​>. ​Acesso em​: 03 de Outubro de 2020).

27MINERVINO, Tiago. Candidato a presidente, João Amoêdo causa polêmica ao falar sobre gênero. Observatório G-

Site parceiro UOL/BOL. São Paulo, 7 de setembro de 2018. (​Disponível em​:

<https://observatoriog.bol.uol.com.br/noticias/2018/09/candidato-a-presidente-joao-amoedo-causa-polemica-ao-falar-so

bre-genero>. ​Acesso em​: 20 de maio de 2020).

28 REBELLO, Aiuri. Gênero e partido: Veja o que pensam os presidenciáveis sobre as polêmicas da “Ideologia de

gênero” e escola sem partido”. ​UOL​. São Paulo, setembro de 2018. (​Disponível em​:

<https://www.uol/eleicoes/especiais/eleicoes-2018-propostas-para-educacao-candidatos-a-presidente-sobre-ideologia-de

-genero-e-escola-sem-partido.htm#genero-e-partido>. ​Acesso em​: 03 de Outubro de 2020).

29AMOEDO, João. Ideologia de gênero: meu posicionamento é contrário, mas o problema principal está relacionado à

centralização das decisões no âmbito federal e ao escopo de atuação do MEC. Os estados, municípios, bairros e pais devem ter maior participação sobre a grade curricular. 26/12/2017, 6:47 PM. Twitter.

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públicas, em especial nos órgãos de gestão da educação. O acionamento de pânicos morais, como no caso da intervenção do MBL na mostra ​Queer Museu em Porto Alegre, busca estabelecer um falso debate acerca da proteção da infância na esfera pública, cujo intuito é o de mobilizar pais, mães e cuidadores em geral em torno de uma perspectiva anti-estado. É a ideia da “sociedade civil saudável” e mobilizada, defendida por Rodrigo Constantino.

Por fim, um aspecto a ser explorado em futuras pesquisas, e que pode contribuir para aprofundar as reflexões apresentadas nesta seção, tem a ver com os interesses econômicos por trás da incorporação de uma agenda antigênero por parte de atores liberais. Uma pista interessante pode ser uma análise dos financiamentos de campanha. Por exemplo, João Amoedo, candidato do Partido Novo, recebeu em 2018 pelo menos R$ 135 mil vindos de doadores ligados ao mercado financeiro. Pelo menos R$ 50 mil vieram do fundador do Banco Itaú BBA, Fernão Carlos Botelho Bracher 30​.

Por meio de seu braço social, a Fundação Itaú Social, o Banco Itaú tem se destacado no Brasil como um investidor de peso no setor da educação, tendo investido somente em 2016 cerca de R$ 95 milhões em projetos que vão desde as Olimpíadas da Língua Portuguesa 31 até programas de

avaliação e monitoramento dos processos de ensino e aprendizagem junto às Secretarias Estaduais e Municipais de Educação32​. Parafraseando Amaya (2017), a “ideologia de gênero” também é um

debate com implicações econômicas. Conclusões

Procuramos neste artigo avançar na análise das mobilizações antigênero a partir de uma crítica do uso inflexível da categoria “conservadorismo”. Em vez disso, desviamos o foco para o contexto político, para as dinâmicas relacionais estabelecidas entre os atores e a construção de sínteses e alianças em torno da oposição às pautas de gênero, sexualidade e reprodução. Também exploramos o potencial aglutinador do debate de gênero, capaz de mobilizar atores de diferentes partidos, movimentos, denominações religiosas e orientações ideológicas. Ao sublinhar a pluralidade destas mobilizações, deixamos de lado uma análise essencialista do fenômeno para focalizar nos variados interesses em jogo, nos discursos agenciados e nos repertórios compartilhados. Tamanha complexidade chama a atenção para a importância do trabalho empírico

30 DAL MOLIN, Giorgio. Banqueiro, empresário,vaquinha: quem está financiando cada presidenciável. ​Gazeta do Povo​. Curitiba, 29 de agosto de 2018, atualizado em 3 de setembro de 2018. Eleições 2018. (​Disponível em​:

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ando-cada-presidenciavel-5125gal0rajyyi136aw5m90py/>. ​Acesso em​: 3 de outubro de 2020).

31AZEVEDO, Rodrigo. Quem são e quanto gastam as fundações privadas que investem na educação. ​Gazeta do Povo​.

Curitiba, 15 de dezembro de 2017, atualizado em 28 de junho de 2018. Educação. (​Disponível em​:

<https://www.gazetadopovo.com.br/educacao/quem-sao-e-quanto-gastam-as-fundacoes-privadas-que-investem-na-educ

acao-05pxperfz1kpe44fw0mny54pg/​>. ​Acesso em​: 03 de outubro de 2020).

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rigoroso, que permita a construção de categorias analíticas à luz da empiria e que sejam capazes de explicar de forma mais afinada os fenômenos políticos contemporâneos.

Uma das possibilidades apontadas pela literatura tem sido interpretar o enquadramento do “gênero” como uma “cola simbólica” (KOVÁTS e PÕIM, 2015) que permite, sob determinadas circunstâncias, que atores distintos e com objetivos e estratégias divergentes, atuem juntos contra um inimigo comum (KUHAR e PATERNOTTE, 2018). Esta perspectiva permite, entre outras coisas, compreender como estas alianças impactam e são impactadas pelo processo político mais amplo. No caso brasileiro, é interessante refletir como as várias alianças forjadas em torno da agenda antigênero forneceram apoiadores à campanha de Jair Bolsonaro e em que medida o fortalecimento institucional dos setores bolsonaristas beneficiou essas mobilizações. Para mitigar os desafios impostos por um campo de estudos tão complexo, é necessária uma agenda de pesquisa ampla e comparada, capaz de analisar os vários casos nacionais e internacionais, identificando as semelhanças e as particularidades, sem essencialismos e generalizações.

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Referências

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