Delegação da FESETE: Manuel Freitas, Fátima Coelho, Carlos João e Sónia Monteiro CASA SINDICAL T.V.C. Avenida da Boavista, Nº 583 – 4100 – 127 PORTO Portal: www.fesete.pt fesete@netcabo.pt
FESETE
Relatório do Seminário
“A Crise Económica: o impacto social e
económico da crise financeira nas ITV; as
consequências para os trabalhadores e o
diálogo social”
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Porto, Julho 2010 Porto, Julho 2010 Porto, Julho 2010 Porto, Julho 20101. Organização e Temas do Seminário
A convite dos Sindicatos ACV-CSB METEA da Bélgica e Holanda e da EZA (Centro Europeu sobre as questões dos Trabalhadores), participamos no Seminário realizado em Santiago de Compostela, Galiza, Espanha, nos dias 16 e 17 de Junho, com o tema: “A Crise Económica: o Impacto Social e Económico da Crise Financeira nas ITV; as Consequências para os Trabalhadores e o Diálogo Social”. Este convite decorreu das relações sindicais fraternais e de cooperação que mantemos há décadas com os Sindicatos cristãos da Bélgica e Holanda. Estes Sindicatos que inicialmente apenas tinham âmbito às ITV, por processos de reestruturação alargaram o seu âmbito a outros sectores industriais, dando origem ao novo Sindicato ACV-CSC-METEA.A EZA é um Centro Europeu com sede na Alemanha, vocacionado para o apoio aos Sindicatos (é uma organização cristã), funcionando com o elo de ligação entre as necessidades dos Sindicatos e a apresentação de projectos na União Europeia.
2. Delegações presentes e sua Organização
Para além da delegação da FESETE composta por: Manuel Freitas, Fátima Coelho, Carlos João e Sónia Monteiro, membros da Direcção Nacional, estavam presentes: técnicos da EZA; professor Daniel Navas especialista em políticas de
desenvolvimento; sindicalistas da ACV-CSC METEA da Bélgica; sindicalistas da
Bósnia; da Hungria, Eslovénia, Sérvia, Croácia, Holanda e da CIG da Galiza. Para assegurar uma boa participação de todas as delegações presentes, a organização do Seminário garantiu tradução simultânea em todas as línguas. Os custos de deslocação, alojamento e refeições dos participantes no Seminário, foi suportado pela organização. Todo o apoio logístico foi garantido pelos companheiros da CIG Galiza (Confederação Intersindical Galega).
3. Desenvolvimento do Seminário
3.1 A Situação Social e Económica das ITV Europeias; A Crise Financeira e Económica: Consequências e Previsões
A EZA fez uma exposição inicial tendo por base o Relatório, Anexo I. O Relatório faz uma caracterização da crise financeira, analisa quatro questões: 1ª quais são os maiores problemas sociais nas diversas regiões resultantes da crise? 1a) – como é que estes problemas podem ser resolvidos a longo prazo com a ajuda da sua organização?
2ª os parceiros sociais e as organizações da sociedade civil participaram na elaboração de programas conjunturais nacionais e europeus nas diversas regiões? 3ª como é que o papel dos parceiros sociais pode ser consolidado ao futuro?
4ª Como é que se pode alcançar mais crescimento a longo prazo e uma negociação responsável dentro da UE, tendo em conta a justiça social e uma correcta distribuição das questões sociais?
Na parte final, o Relatório aponta um conjunto de orientações.
Mesa Participantes Seminário
De seguida interveio o especialista professor Daniel Navas, convidado da organização do seminário, “que voltou à crise financeira e suas consequências no emprego e nas perdas do emprego. Há uma perda de confiança, aumento da xenofobia, aumento dos impostos, aumento das desigualdades e da pobreza. O comércio das ITV ao nível mundial diminuiu.
Denunciou a acção dos gestores das grandes grupos financeiros, a falta de regulação, a ausência de controlo e supervisão pelo FMI e Banco Mundial. Nos últimos tempos os meios financeiros disponíveis nos bancos não foram canalizados para os investimentos na produção, mas para a especulação financeira, tendo aqui um papel relevante os gestores dessas organizações, que, com esta orientação, aumentaram exponencialmente os seus prémios.
Em relação às expectativas futuras, prevê a manutenção de taxas elevadas do desemprego; haverá crescimento mas será insuficiente, o emprego a criar será nas micro e PME’s. É fundamental manter o espaço da negociação e do diálogo social e o respeito pela liberdade sindical. Neste contexto, é do interesse dos trabalhadores insistir na negociação e no diálogo social, com vista à defesa do modelo social europeu. Questionou o que fazem nesta fase a CES e a CSI. Defende uma nova arquitectura mundial com nova e efectiva regulação, onde os estados mantenham o seu espaço de actuação. Relevou a importância do ensino e das qualificações para os trabalhadores.
De seguida passou-se ao debate com a intervenção de quase todos os participantes, incluindo a FESETE, tendo o Relatório da EZA sido questionado quer na sua caracterização da situação, quer nas orientações apontadas.
O debate acentuou uma relação entre a crise financeira e suas consequências na economia real com o modelo capitalista e as teorias neoliberais que hoje servem de âncora às políticas dos Governos e às orientações das instituições globais e da UE. O professor Daniel Navas retomou a palavra para responder às questões suscitadas e chamou a atenção para o “Doing Business – 20110”, informe anual do Banco Mundial, que investiga o funcionamento das instituições públicas e as regulações de cada País, quer as que favorecem a actividade empresarial, quer as que limitam essa actividade. Neste informe anual Portugal está classificado na posição 48ª, na lista dos países mais competitivos, num total de 183 países (Anexo II).
3.2 Discussão sobre a Situação Económica e Social nas ITVC
Foi solicitado antecipadamente a todas as organizações sindicais participantes que preparassem uma intervenção sobre a situação no País para o Seminário, abordando os seguintes tópicos:
• Situação económica e social do País;
• Situação nas ITV;
• Medidas tomadas pelos Governos para superar a crise;
• Acção e iniciativas sindicais;
• Perspectivas
Todas as organizações sindicais dos países presentes intervieram, algumas muito extensas e com muitos dados estatísticos, apresentando a sua caracterização da situação e perspectivas. Algumas notas sobre as diferentes intervenções:
Bélgica – a crise teve consequências no emprego; hoje temos cerca de 12.000
trabalhadores; os nossos Sindicatos fundiram-se com a metalurgia. Apenas o sector dos têxteis técnicos estão a funcionar em pleno.
Holanda – têm 8 empresas nas ITVC; os tapetes são hoje fabricados a tempo
Eslovénia – o emprego passou de 85.000 para 13.000 nas ITVC. O desemprego no
País está nos 11%; o horário de trabalho semanal é de 36 horas. A idade da reforma aumentou de 61 anos para os 65 anos.
Bósnia – ainda não é membro da UE. As ITV vivem apenas da subcontratação
permanente, o que cria enormes dificuldades.
Sérvia – a situação social é muito difícil para os trabalhadores. Não existe direito à
saúde; o subsídio de desemprego não é pago aos trabalhadores. As exportações do vestuário cresceram em 2009. Existem 44.000 trabalhadores nas ITV; em 2001 eram 111.000. A economia informal tem um peso elevado, de tal forma que o sector formal não é competitivo. O salário médio nas ITV é de 150 euros.
Bélgica – o salário médio no vestuário é de 1.600 euros, vezes 14 meses; na têxtil
cerca de 2.200 euros.
Espanha – de Espanha apenas estiveram presentes no Seminário a CIG (Galiza) e
a USO de Barcelona (Catalunha). As ITV continuam a ser muito importantes mas perderam muito com a crise; temos uma elevada taxa de precariedade (contratos a termo certo). Temos muitas dificuldades em sindicalizar e em organizar os trabalhadores ao nível das empresas. Existem cerca de 200.000 trabalhadores nas ITVC; mais de 80% das empresas têm menos de 10 trabalhadores. O SMN é de 633 euros.
Croácia – situação muito difícil; as mulheres ganham menos 32% do que os
homens; as empresas são médias e grandes. Uma parte significativa destas empresas estão falidas, o que poderá trazer problemas muito sérios no curto, médio prazo. Existe um ataque organizado do patronato e do Governo aos Sindicatos, procurando que as cotizações pagas aos Sindicatos pelos trabalhadores possam ser aplicadas em seguros.
Hungria – existem cerca de 44.000 trabalhadores nas ITV. O salário médio líquido
dos operários é cerca de 364 Euros; a taxa de desemprego é de 11,9%. Nesta fase durante a semana, três dias são de trabalho e dois dias de formação profissional. Os impostos foram aumentados e há tentativas de privatizar o sector da saúde; a idade da reforma foi aumentada de 62 para os 65 anos.
Portugal – a delegação da FESETE fez uma intervenção na linha da apreciação e
das decisões da Direcção Nacional.
Notas Finais (Dirk Uyttenhove da ACV-CSC:
• A crise financeira e económica teve grande impacto nas ITV; esta crise iniciada
em 2008, ainda não terminou e as consequências negativas vão continuar;
• Existe uma pequena retoma em alguns países, mas devemos ser prudentes em
relação ao futuro;
• Neste período difícil os Sindicatos devem estar mais próximos dos trabalhadores, devemos reforçar a acção e a solidariedade;
• As soluções para a crise continuam a depender das políticas dos governos;
• É necessária a regulação do sistema financeiro;
• É necessário combater a pobreza crescente e recusar as políticas económicas
que conduzem ao aumento da pobreza;
• O diálogo social é um dos elementos importantes para responder à crise, mas o
diálogo social não é praticado na maioria dos países e em momentos de crise governos e patronato procuram utilizar o diálogo social numa lógica negativa;
• A precariedade é uma ameaça aos trabalhadores e à sua organização sindical.
Não podemos aceitar o modelo japonês onde apenas uma minoria dos trabalhadores têm direitos no trabalho;
• O sistema de segurança social deve continuar a ser universal e solidário;
• Os salários das ITV na Bélgica superam cinco vezes Portugal e dez vezes a
Bósnia, mas a crise faz-se sentir em todos os países, independentemente dos custos salariais;
• O futuro das ITV tem hoje uma maior relação com os produtos, sua inovação e
serviços prestados do que com os custos salariais;
• Os vários países devem analisar quais os seus pontos fortes e os seus pontos
fracos e procurar as saídas para a crise.
3.2 Representatividade Sindical
Este ponto da ordem de trabalhos do Seminário viu prejudicada a sua discussão aprofundada porque a discussão dos temas anteriores da ordem de trabalhos prolongaram-se para lá dos horários previstos.
Dirk, representante da ACV-CSC – fez uma curta introdução relevando: estamos
em perda de trabalhadores filiados nos últimos anos e precisamos de aumentar novamente o número de filiados. A estrutura empresarial das ITV operou mudanças significativas com o domínio das micro e PME’s, o que exige dos Sindicatos novas estratégias para representar os trabalhadores destas empresas e responder aos problemas concretos dos trabalhadores. Penso que estas alterações exigem dos Sindicatos uma maior proximidade destas empresas e dos trabalhadores. É preciso agir para que os direitos dos CCT’s sejam aplicados.
Face ao término do tempo disponível não foi possível discutir este ponto da ordem de trabalhos.
Mesa do Seminário: Dirk Uyttenhove da ACV-CSC presidiu ao Seminário
4. Próximo Seminário em 2011 sobre os temas: “Precariedade do Emprego e Representatividade dos Sindicatos nas ITV”
Dirk – fez a proposta à delegação da FESETE para que o próximo Seminário se
realize em Portugal, entre Maio e Junho de 2011.
A delegação portuguesa trocou impressões e decidiu aceitar o desafio de organizar o próximo Seminário em Portugal, sujeitando no entanto esta discussão à ratificação da Direcção Nacional em próxima reunião.
Porto, 22 de Julho de 2010 A Delegação da FESETE: Manuel Freitas Fátima Coelho Carlos João Sónia Monteiro