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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA TÂMERA NUNES VIEIRA ALMEIDA

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL

E SAÚDE PÚBLICA

TÂMERA NUNES VIEIRA ALMEIDA

Avaliação da Ocorrência de Rotavírus do Grupo A após a

Implantação da Vacina Oral de Rotavirus Humano – VORH e

Análise Comparativa das Amostras Circulantes antes e após A

Implantação da VORH em Goiânia – Goiás

Goiânia

2011

(2)

TERMO DE CIÊNCIA E DE AUTORIZAÇÃO PARA DISPONIBILIZAR AS TESES E DISSERTAÇÕES ELETRÔNICAS NA BIBLIOTECA DIGITAL DA UFG

Na qualidade de titular dos direitos de autor, autorizo a Universidade Federal de Goiás (UFG) a disponibilizar, gratuitamente, por meio da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD/UFG), regulamentada pela Resolução CEPEC nº 832/2007, sem ressarcimento dos direitos autorais, de acordo com a Lei nº 9610/98, o documento conforme permissões assinaladas abaixo, para fins de leitura, impressão e/ou download, a título de divulgação da produção científica brasileira, a partir desta data.

1. Identificação do material bibliográfico: [x] Dissertação [ ] Tese 2. Identificação da Tese ou Dissertação

Nome completo do autor: Tâmera Nunes Vieira Almeida

Título do trabalho: Avaliação da Ocorrência de Rotavírus do Grupo A após a Implantação da Vacina Oral de Rotavírus Humano - VORH e Análise Comparativa das Amostras Circulantes antes e após a Implantação da VORH em Goiânia – Goiás

3. Informações de acesso ao documento:

Concorda com a liberação total do documento [ x ] SIM [ ] NÃO1

Havendo concordância com a disponibilização eletrônica, torna-se imprescindível o envio do(s) arquivo(s) em formato digital PDF da tese ou dissertação.

______________________________________ Data: 20/01/2017 Assinatura do (a) autor (a)

1 Neste caso o documento será embargado por até um ano a partir da data de defesa. A extensão deste prazo suscita justificativa junto à coordenação do curso. Os dados do documento não serão disponibilizados durante o período de embargo.

(3)

TÂMERA NUNES VIEIRA ALMEIDA

Avaliação da Ocorrência de Rotavírus do Grupo A após a

Implantação da Vacina Oral de Rotavirus Humano – VORH e

Análise Comparativa das Amostras Circulantes antes e após

A Implantação da VORH em Goiânia – Goiás

Dissertação

de

Mestrado

apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Medicina Tropical

e Saúde Pública da Universidade

Federal de Goiás para obtenção

do Título de Mestre em Medicina

Tropical, na área de concentração

em Microbiologia

Orientadora: Prof

a

. Dr

a

. Divina das Dôres de Paula Cardoso

Coorientadora: Profª. Drª. Fabíola Souza Fiaccadori

Goiânia

2011

(4)

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação na (CIP) GPT/BC/UFG

G633p

Almeida, Tâmera Nunes Vieira.

Avaliação da ocorrência de rotavírus do grupo A após a implantação da Vacina Oral de Rotavírus Humano - VORH e análise comparativa das amostras circulantes antes e após a implantação da VORH em Goiânia – Goiás [manuscrito] / Tâmera Nunes Vieira Almeida. - 2011.

xv, 82 f. : il., figs, tabs.

Orientadora: Profª. Drª. Divina das Dôres de Paula Cardoso; Co-orientadora: Profª. Drª. Fabíola Souza Fiaccadori.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Goiás, Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública, 2011.

Bibliografia.

Inclui lista de figuras, abreviaturas, siglas e tabelas.

1. Rotavírus do grupo A. 2. Gastroenterite Infantil. 3. Vacina. I. Título.

(5)
(6)

Dedico esse trabalho ao meu pai, Lauzânio, meu anjo da

guarda, à minha mãe, Giselva, símbolo de persistência, ao

meu marido Cristiano pela sincera dedicação e aos meus

filhos, Mikaela e João Pedro, por quem eu continuo.

(7)

AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos que direta ou indiretamente contribuíram para a realização e conclusão

desse trabalho, por sinal tarefa árdua e igualmente prazerosa.

Aos meus pais, Lauzânio e Giselva, pelo carinho e incentivo.

Ao meu marido, Cristiano, pela paciência, afeição, dedicação e cumplicidade pelas

inúmeras vezes em que foi mais “mãe” do que pai para meus queridos filhos.

Aos meus filhos, Mikaela e João Pedro, que não me deixam desistir.

À Jordelina e Regina, pelo carinho e apoio nos momentos necessários.

À Profª. Drª. Divina, sinônimo de firmeza e obstinação que me proporcionou a

oportunidade de realizar esse trabalho.

Às professoras e amigas Fabíola, Menira e Ana Maria, pelos ensinamentos e apoio dados

para a realização e conclusão desse trabalho.

À “doce” Teresinha, pessoa singular, pelo companheirismo e prestatividade.

Ao bom amigo Rodrigo que tanto me ensinou, aos “meninos” e “meninas” do Laboratório

de Virologia Humana, Victor, Ítalo, Marielton, Hugo, Isabela, Tatiane, Vanessa e Laís,

pelo trabalho partilhado, pelas muitas risadas e bom convívio.

Ao Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical do Instituto de Patologia

Tropical e Saúde Pública da Universidade Federal de Goiás pela oportunidade.

(8)

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq pelo apoio

financeiro.

Aos professores e funcionários, em especial à “Nicinha”, do Instituto de Patologia

Tropical e Saúde Pública/UFG, sempre prestativos e que contribuíram para o

desenvolvimento desse trabalho e para o meu crescimento.

(9)

SUMÁRIO

TABELAS, FIGURAS E ANEXOS ... i

SÍMBOLOS, SIGLAS E ABREVIATURAS... iii

RESUMO ... v

ABSTRACT ... vi

1 INTRODUÇÃO / REVISÃO DA LITERATURA ... 1

1.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS ... 1

1.2. CLASSIFICAÇÃO DOS ROTAVÍRUS ... 2

1.3. ROTAVÍRUS DO GRUPO A ... 3 1.3.1. Estrutura morfológica ... 3 1.3.2. Estrutura genômica ... 4 1.3.3. Estrutura proteica ... 5 1.3.4. Classificação ... 9 1.4. REPLICAÇÃO ... 12

1.5. SINTOMAS CLÍNICOS E PATOGENIA ... 16

1.6. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL ... 17 1.7. EPIDEMIOLOGIA ... 18 1.8. PREVENÇÃO E CONTROLE ... 23 2 JUSTIFICATIVA... 26 3 OBJETIVOS ... 28 3.1. Objetivo geral ... 28 3.2. Objetivos específicos ... 28 4 MÉTODOS ... 29 4.1. Material de estudo ... 29 4.2. Metodologia ... 30

4.2.1. Preparo das suspensões fecais ... 30

4.2.2. Detecção viral ... 30

4.2.2.1. Ensaio imunoenzimático (EIE) ... 30

(10)

4.2.3. Caracterização das amostras de RVA ... 31

4.2.3.1. Genotipagem de RVA ... 31

4.2.3.1.1. Extração do ácido nucleico viral ... 32

4.2.3.1.2. Genotipagem de VP7 e VP4 por RT-PCR ... 32

4.2.3.1.3. Detecção dos genes de VP6 e NSP4 ... 35

4.2.3.1.4. Eletroforese em gel de agarose... 35

4.2.3.2. Sequenciamento genômico ... 35

4.2.3.2.1. Purificação dos produtos de PCR ... 36

4.2.3.2.2. Reação de sequenciamento ... 36

4.3. Análise filogenética e de nucleotídeos ... 37

4.4. Dedução de aminoácidos ... 37

4.5. Análise estatística ... 37

5 RESULTADOS ... 38

5.1. Detecção viral ... 38

5.2. Padrão eletroferotípico ... 39

5.3. Caracterização das amostras de RVA ... 39

5.3.1. Genotipagem de VP7 e VP4 por RT-PCR ... 39

5.3.1.1. Associação de genótipos de VP7 e VP4 aos padrões eletroferotípicos ... 39

5.3.2. Sequenciamento genômico ... 40

5.3.2.1. Análises filogenética e comparativa de nucleotídeos e aminoácidos ... 40

5.3.2.1.1. Análises de VP7 ... 40

5.3.2.1.2. Análises de VP6 ... 44

5.3.2.1.3. Análises de NSP4 ... 48

5.3.2.2. Associação entre os genótipos de VP7, VP4, genogrupos de VP6 e genótipos de NSP4 ... 54

6 DISCUSSÃO ... 55

7 CONCLUSÕES ... 61

8 RECOMENDAÇÕES ... 62

(11)

i

TABELAS, FIGURAS E ANEXOS

Figura 1. Microscopia eletrônica de partículas completas e seccionadas de rotavírus.

3

Figura 2. Representação da partícula viral íntegra e seccionada de RVA. 4

Figura 3. Representação da estrutura básica de um segmento genômico de RVA.

5

Figura 4. Representação esquemática do processo de replicação de RVA. 15

Figura 5. Distribuição das amostras de RVA em relação aos genótipos de VP7 e VP4.

39

Figura 6. Árvore filogenética das sequências de nucleotídeos do gene de VP7 das amostras de RVA.

41

Figura 7. Alinhamento comparativo das sequências de nucleotídeos de VP7 (G1).

42

Figura 8. Alinhamento comparativo das sequências de nucleotídeos de VP7 (G2).

43

Figura 9. Alinhamento comparativo das sequências dos aminoácidos deduzidos de VP7 (G1).

44

Figura 10. Alinhamento comparativo das sequências dos aminoácidos deduzidos de VP7 (G2).

44

Figura 11. Árvore filogenética das sequências de nucleotídeos do gene de VP6 das amostras de RVA.

45

Figura 12. Alinhamento comparativo das sequências de nucleotídeos de VP6. 47

Figura 13. Alinhamento comparativo das sequências dos aminoácidos deduzidos de VP6.

48

Figura 14. Árvore filogenética das sequências de nucleotídeos do gene de NSP4 das amostras de RVA.

49

Figura 15. Alinhamento comparativo das sequências de nucleotídeos de NSP4. 52

Figura 16. Alinhamento comparativo das sequências dos aminoácidos deduzidos de NSP4.

54

Quadro 1. Genótipos de VP7 e VP4 e quantitativo de amostras por período de coleta.

(12)

ii Tabela 1. Principais características e funções das proteínas estruturais e não

estruturais de RVA.

8

Tabela 2. Classificação dos genótipos dos 11 segmentos genômicos de RVA. 11

Tabela 3. Correlação entre a classificação para os 11 segmentos genômicos de RVA e demais classificações.

11

Tabela 4. Iniciadores empregados na genotipagem de VP7. 33

Tabela 5. Iniciadores empregados na genotipagem de VP4. 34

Tabela 6. Características da população de estudo em relação à positividade para RVA.

38

Tabela 7. Associação entre positividade para RVA e administração da VORH. 38

Tabela 8. Combinação entre os genótipos de VP7 e VP4 com genogrupos de VP6 e genótipos de NSP4.

(13)

iii

SÍMBOLOS, SIGLAS E ABREVIATURAS

A – alanina

ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária

Caco-2 – cell line human colon from human (Caucasian colon adenocarcinoma) (linhagem de células de colon humano – adenocarcinoma de colon de caucasiano)

cDNA – complementary desoxyribonucleic acid (DNA complementar)

D – ácido aspártico Da – daltons

DEPC – diethylpyrocarbonate (dicarbonato de dietila) DMSO – dimetilsulfóxido

DNA – desoxyribonucleic acid (ácido desoxirribonucleico)

dsRNA – double-strand ribonucleic acid (ácido ribonucleico de fita dupla)

E – ácido glutâmico

EDTA – ethylenediamine tetracetic acid (ácido etilenodiamino tetra-acético) EGPA – eletroforese em gel de poliacrilamida

EIE – ensaio imunoenzimático

eIF4E – fator de iniciação eucariótica E eIF4G – fator de iniciação eucariótica G

hsp70 – heat shock protein 70 (proteína celular de choque térmico 70) HP – haplótipo

I – isoleucina INFα – interferon α IFNβ – interferon β

IRF3 – IFN regulatory factor 3 (fator de regulação três do interferon) K – lisina

KCl – cloreto de potássio

KH2PO4 – fosfato de potássio monobásico

L – leucina M – molar

MAbs – monoclonal antibodies (anticorpos monoclonais) ME – microscopia eletrônica

MgCl2 – cloreto de magnésio

(14)

iv N – asparagina

NaCl – cloreto de sódio

Na2HPO4 – fosfato de sódio dibásico

NaOH – hidróxido de sódio nm – nanômetros

NSP – non structural protein (proteína não estrutural) nt – nucleotídeos

OMS – Organização Mundial de Saúde

ORF – Open Reading Frame (quadro de leitura aberta) pb – pares de bases

PABP – polyadenylate-binding protein (proteína de ligação poliadenilada) PCR – polymerase chain reaction (reação em cadeia pela polimerase) PNI – Programa Nacional de Imunização

Q – glutamina

RCWG – Rotavirus Classification Working Group RRV-TV – tetravalent rhesus-human rotavirus vaccine

RT-PCR – reverse transcription polymerase chain reaction (reação em cadeia pela polimerase)

RVA – rotavírus do grupo A S – serina

SDS – sulfato duodecil sódio SG – subgrupos

TBE – tampão Tris/Borato/EDTA V – valina

VORH – Vacina Oral de Rotavírus Humano VP – viral protein (proteína viral)

χ2 – qui-quadrado

α2β1 – integrina alfa2beta1 a4β1 – integrina alfa4beta1 αvβ3 – integrina alfaVbeta

(15)

v

RESUMO

Rotavírus do grupo A (RVA) são reconhecidos como os principais agentes virais da gastroenterite aguda infantil e, devido aos relevantes índices de morbi-mortalidade, a vacinação tem sido considerada a melhor alternativa para a prevenção e o controle de RVA. No Brasil, em março de 2006 o Ministério da Saúde adicionou ao Programa Nacional de Imunização a Vacina Oral de Rotavírus Humano (VORH), a qual foi desenvolvida a partir de uma amostra monovalente atenuada G1P[8]. Neste contexto, o presente estudo objetivou a investigação da ocorrência das infecções por RVA na cidade de Goiânia após a implantação da VORH, bem como proceder a uma análise comparativa das amostras de RVA circulantes nos períodos pré e pós-vacinal. Para identificação de RVA, 65 espécimes fecais coletados no período de 2008 a 2009 de crianças com gastroenterite aguda, foram submetidos ao Ensaio Imunoenzimático e Eletroforese em Gel de Poliacrilamida, sendo observado um índice total de detecção de 16,9% (11/65). Após caracterização molecular, o genótipo G2 foi identificado em 10 amostras, sendo que quatro destas foram definidas como G2P[4]. Para análise comparativa, as amostras G2P[4], bem como outras 15 amostras coletadas nos períodos pré e pós-vacinal, foram submetidas ao sequenciamento genômico para as regiões codificantes das proteínas VP6, VP7 e NSP4. A caracterização molecular do gene de VP7 mostrou que as amostras G1 pertenciam às linhagens I e II, sublinhagens

d e b, respectivamente, e que todas as amostras G2 pertencem à linhagem II, com a

diferenciação de três sublinhagens, a, c e d, as quais foram correlacionadas com os períodos de coleta. Considerando os genogrupos de VP6 e genótipos de NSP4 identificados, observou-se predominância para genogrupo I e genótipo A no período pós-vacinal, enquanto, genogrupo II e genótipo B foram identificados com maior frequência antes da implantação da vacina. A associação entre os genótipos G e P com genogrupos de VP6 e genótipos de NSP4 revelou predominância da combinação G1-P[8]-II-B no período pré-vacinal e da associação G2-P[4]-I-A no período pós-vacinal o que sugere uma substituição destas combinações após a implantação da VORH.

(16)

vi

ABSTRACT

The group A rotaviruses (RVA) are recognized as the main viral agents of acute childhood gastroenteritis, and due to the high morbidity-mortality rates vaccination has being considered the best alternative for prevention and control of RVA. In Brazil, in March, 2006 the Ministry of Health included the human rotavirus oral vaccine – VORH, which was developed from a monovalent attenuated strain G1P[8], in the National Immunization Program. In this context, the present study aimed at the investigation of the occurrence of RVA infections in the city of Goiânia after the implementation of the VORH, as well as the comparative analysis of the RVA circulating strains during the pre- and post-vaccination periods. For the RVA identification, 65 fecal samples obtained from children with acute gastroenteritis, in the period from 2008 to 2009, were tested by an immunoenzymatic assay and by polyacrilamide gel electrophoresis, with a total detection rate of 16.9% (11/65). After molecular characterization, the G2 genotype was identified in 10 samples, and four of those were considered as G2P[4] genotype. For the comparative analysis, the G2P[4] samples, as well as other 15 samples, obtained in the pre- and post-vaccination periods, were submitted to genomic sequencing of the coding regions for the proteins VP6, VP7 and NSP4. The molecular characterization of the VP7 gene showed that the G1 samples belonged to lineages I and II, sublineages d and b, respectively, and that all the G2 samples belonged to lineage II, with the differentiation of three sublineages, a, c and d, which were correlated with the collection periods. Regarding the VP6 genogroups and the NSP4 genotypes, a predominance of genogroup I and genotype A in post-vaccination period was observed, whereas a predominance of genogroup II and genotype B was identified in the period before de vaccine implementation. The association between the G and P genotypes with VP6 genogroups and NSP4 genotypes revealed the predominance of the G1-P[8]-II-B combination in the pre-vaccination period, and the association G2-P[4]-I-A in the post-vaccination period, which suggests the substitution of these combinations after the implementation of the VORH.

(17)

1

1 INTRODUÇÃO / REVISÃO DA LITERATURA

1.1. CONSIDERAÇÕES GERAIS

A diarreia é o sintoma característico da infecção do trato gastrointestinal, e tem como causas bactérias, vírus ou protozoários, sendo ainda, definida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como a ocorrência de três ou mais evacuações pastosas ou líquidas no período de 24 horas podendo ainda distinguir-se em três tipos clínicos: diarreia aguda aquosa com duração de até 14 dias, diarreia aguda com sangue ou disenteria e diarreia persistente com duração superior a 14 dias (WHO, 2009).

A diarreia persistente e repetidas infecções causadas por enteropatógenos contribuem para a severidade da gastroenterite devido à possibilidade de desidratação que, por sua vez, constitui um fator importante para o óbito (Banerjee et al., 2004; Santosham et al., 2010). Ademais, estudos apontam que repetidos episódios de diarreia nos dois primeiros anos de vida podem comprometer o desenvolvimento psicomotor e cognitivo infantil (Berkman et al., 2002; Niehaus et al., 2002).

A doença diarreica é uma importante causa de morbidade e mortalidade em crianças menores de cinco anos de idade em todo o mundo. Segundo a OMS, em 2004, em países de média e baixa renda foram registradas cerca de 1,87 milhões de mortes com aproximadamente 78% destas ocorrendo em países em desenvolvimento como os da África e sudoeste da Ásia (WHO, 2009). Observa-se que os maiores índices de mortalidade ocorrem em locais com limitadas condições de acesso a saneamento básico, água potável e cuidados de saúde (Petri et al., 2008).

Estudos ressaltam que o melhoramento das condições de higiene, sanitização e suprimento de água em países em desenvolvimento tem reduzido a quantidade de agentes bacterianos e parasitários envolvidos na gastroenterite aguda, porém, não se observa um impacto significativo nas hospitalizações por agentes virais (Velázquez et al., 2004; Ramani & Kang, 2009). Neste contexto, a gastroenterite viral se apresenta como um problema de saúde pública tanto em países em desenvolvimento quanto em países desenvolvidos (Iturriza-Gómara et al., 2007; Chen et al., 2009; Forster et al., 2009; Tran

et al., 2010).

Dentre os diferentes vírus reconhecidos como agentes etiológicos desta enfermidade, quatro têm maior destaque, rotavírus, calicivírus, astrovírus e adenovírus

(18)

2 (Wilhelmi et al., 2003; Clark & Mckendrik, 2004), sendo os rotavírus do grupo A os enteropatógenos mais frequentemente relatados na gastroenterite infantil (Chen et al., 2009; Johargy et al., 2010).

Rotavírus foi identificado pela primeira vez como patógeno humano em 1973 em Melbourne, Austrália, através da microscopia eletrônica (ME) a partir da observação de cortes ultrafinos do epitélio duodenal de crianças com diarreia não bacteriana (Bishop et

al., 1973). No mesmo ano, na Inglaterra, Flewett et al. (1973), também verificaram a

presença de partículas virais nas fezes de crianças hospitalizadas. Os vírus foram inicialmente denominados como reovirus-like, orbivirus-like ou duovirus. Assim, considerando sua aparência de roda quando observado ao microscópio eletrônico foi nomeado Rotavirus (do latim rota = roda). Uma vez caracterizados os rotavírus humanos logo foram associados a agentes virais descritos como causadores de diarreia em camundongos (Adams & Kraft, 1963) e bezerros (Mebus et al., 1969) recém-natos, além de um vírus identificado a partir de swab retal de macaco saudável (SA11 [Simian Agent

11]) (Malherbe & Strickland-Chomley, 1967).

No Brasil, o primeiro registro de rotavírus associado à doença diarreica ocorreu em 1976, na cidade de Belém, Pará, por meio de ME de espécimes fecais provenientes de crianças com quadro de gastroenterite aguda (Linhares et al., 1977). Desde então, sucederam-se inúmeros estudos com relação a este vírus (Cardoso et al., 2003; Gurgel et

al., 2009; Gómez et al., 2010; Mascarenhas et al., 2010; Rigotto et al., 2010).

1.2. CLASSIFICAÇÃO DOS ROTAVÍRUS

Rotavirus é um gênero da família Reoviridae que também comporta outros oito

gêneros: Aquareovirus, Coltivirus, Cypovirus, Fijivirus, Orbivirus, Orthoreovirus,

Oryzaviru e Phytoreovirus. Rotavirus e Orthoreovirus infectam humanos e animais,

enquanto os Aquareovirus, Coltivirus, Cypovirus e Orbivirus, até o momento, foram descritos apenas em animais. Os demais gêneros infectam plantas (Fijivirus,

Phytoreovirus e Oryzavirus) ou insetos (Cypovirus) (ICTV, 2009).

O gênero Rotavirus inclui sete (A-G), dentre estes, três (A-C) infectam humanos, sendo rotavírus do grupo A (RVA) os de maior importância epidemiológica (Estes & Kapikian, 2007).

(19)

3 1.3. ROTAVÍRUS DO GRUPO A

1.3.1. Estrutura morfológica

RVA mede aproximadamente 100 nanômetros (nm) de diâmetro (incluindo as espículas). São vírus desnudos e apresentam um capsídeo com simetria icosaédrica (Figura 1) formado por três camadas proteicas que envolvem o genoma viral, o qual é composto por 11 segmentos de RNA de fita dupla (dsRNA – double-strand ribonucleic

acid). Essas camadas são referidas como, capsídeo externo, intermediário e interno ou core (Estes & Kapikian, 2007).

Figura 1. Microscopia eletrônica de partículas completas e seccionadas de rotavírus isolados de espécimes fecais de humano. Fonte: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/ICTVdb/WIntkey/Images/ em_reovi.htm).

O capsídeo externo é formado pelas proteínas VP7 e VP4. O arcabouço desta camada é formado por 260 trímeros resultantes do agrupamento de 780 cópias de VP7 do qual protrudem 120 cópias de VP4 que formam dímeros. Abaixo desta camada externa encontra-se o capsídeo intermediário que é formado por 780 moléculas de proteína VP6 que se organizam em trímeros. Essa camada, por sua vez, envolve o core o qual é constituído de 120 cópias de VP2 ordenadas na forma de dímeros, cuja superfície interna é ligada ao complexo enzimático formado pelas proteínas estruturais VP1 e VP3. Esta camada mais interna engloba o genoma viral (Estes & Kapikian, 2007).

A reconstrução tridimensional da partícula viral por meio crio-eletromicroscopia revelou a existência de 132 canais que atravessam as camadas externa e intermediária e ligam a superfície externa ao core. Estes canais permitem o trânsito de íons e moléculas para dentro e para fora da partícula e distinguem-se em três tipos, I, II e III. Os canais tipo I são em número de 12 e estão localizados no vértice quíntuplo do icosaedro atravessam as três camadas proteicas. Os canais tipo II são em número de 60 e circundam os canais

(20)

4 tipo I, sendo ainda, parcialmente preenchidos por VP4 a qual interage por meio destes com VP7 e VP6. Esta interação está relacionada com a manutenção da estrutura icosaédrica e dos domínios funcionais da partícula viral. Os canais tipo III consistem em 60 unidades e circundam os vértices triplos do icosaedro (Pesavento et al., 2006, Estes & Kapikian, 2007).

Figura 2. Representação da partícula viral íntegra e seccionada de RVA. A. Representação da partícula completa. Os números romanos indicam os canais I, II e III que permitem a comunicação entre o interior e o exterior da partícula viral. Em vermelho estão representadas as espículas de VP4 e em amarelo a proteína VP7 do capsídeo externo (Adaptado de Pesavento et al., 2003). B. Corte transversal expondo o capsídeo intermediário e o core. A proteína VP6 do capsídeo intermediário está destacada em azul, enquanto VP2 do core é representada em verde. A estrutura vermelha apontada na superfície do capsídeo interno representa o complexo enzimático formado por VP1 e VP3 (Adaptado de Prasad et al., 1996).

1.3.2. Estrutura genômica

Como referido, RVA têm genoma dsRNA segmentado que consiste em aproximadamente 18.550 pares de bases (pb) cujos segmentos apresentam tamanhos que variam de 667pb (segmento 11) a 3.302pb (segmento 1) e, massa molecular de 2,0 x 105 a 2,2 x 106 daltons (Da). Cada segmento genômico é transcrito em um RNA mensageiro (mRNA – messenger ribonucleic acid) que inicia no sentido 5’ com uma estrutura cap (m7 GppG(m)GPy) não codante, seguida por uma região codante e finaliza com uma

extremidade 3’ também não codante que não apresenta sinal de poliadenilação e se encerra com duas citosinas (Figura 3). Os tamanhos das sequências não codantes 5’ e 3’

(21)

5 são variáveis entre os diferentes segmentos, contudo, estas sequências são conservadas entre amostras homólogas (Estes & Kapikian, 2007).

Os mRNAs apresentam uma sequência consenso 5’-UGUGACC-3’ que contém importantes sinais para expressão e replicação gênica. Ademais, evidências indicam que a sequência terminal GACC atua no sentido de promover a tradução do mRNA (Chizhikov & Patton, 2000). Considerando os quadros de leitura aberta (ORF – Open

Reading Frame) observa-se que cada uma delas codifica uma proteína, à exceção da ORF

do gene 11 que codifica duas proteínas. Deste modo, os RVA codificam 12 proteínas, seis estruturais (VP1-4, 6-7) e seis não estruturais (NSP1-6) (Estes & Kapikian, 2007).

Figura 3. Representação da estrutura básica de um segmento genômico de RVA (Adaptado de Estes & Kapikian, 2007).

1.3.3. Estrutura proteica

As seis proteínas estruturais de RVA têm atividade na estruturação da partícula, na replicação viral, bem como na elicitação da resposta imune do hospedeiro. Neste sentido, a proteína VP1 representa 2% da massa do vírus e, juntamente com a proteína VP3 forma um complexo enzimático que se associa ao genoma viral (Estes & Cohen, 1989). VP1 é reconhecida como a RNA-polimerase-RNA-dependente do vírus e atua como transcriptase e replicase, enquanto VP3 exerce atividade de guanililtransferase e metiltransferase (Liu et al., 1992; Patton et al., 1999; Patton & Chen, 1999). Este complexo enzimático está disposto na superfície interna do core que é formado por VP2 que possui atividade antigênica e imunogênica sendo necessária no processo de replicação do RNA viral (Cohen et al., 1989; Mansell & Patton 1990; Patton et al., 1997). A proteína VP6 que constitui o capsídeo intermediário ocupa cerca de 60% da massa viral e possui um papel fundamental na conformação da estrutura do vírus visto sua interação com o capsídeo externo e o core, sendo ainda altamente antigênica e

REGIÃO 5’ NÃO CODANTE REGIÃO 3’ NÃO CODANTE

GACC Sequência terminal Promotor de tradução

(22)

6 imunogênica (Estes & Cohen, 1989; Charpilienne et al., 2002; Greig et al., 2006; Estes & Kapikian, 2007).

Em relação à VP4, ressalta-se sua atividade hemaglutinante e sua capacidade de induzir a formação de anticorpos neutralizantes. Ademais, esta proteína é sensível à ação de proteases e participa ativamente na etapa de adsorção do vírus à célula hospedeira. A clivagem de VP4 potencializa a penetração e a infectividade viral e os produtos proteicos resultantes deste processo, VP8* e VP5*, respectivamente, estão envolvidos na interação com o ácido siálico e às integrinas celulares (αvβ3, a4β1, α2β1) (Dormitzer et al., 2002; Estes & Kapikian, 2007). Como referido, esta proteína forma espículas que emergem do icosaedro formado por VP7 a qual é glicosilada e, assim como VP4, também elicita formação de anticorpos neutralizantes (Estes & Kapikian, 2007).

Considerando as seis proteínas não estruturais, verifica-se a associação da maioria destas com o RNA genômico, bem como a participação das mesmas na morfogênese e patogenicidade de RVA. Neste contexto, NSP1 é reconhecida como uma das proteínas mais variáveis entre os RVA demonstrando maior conservação em amostras que infectam a mesma espécie de hospedeiro (Dunn et al., 1994).

Estudos sugerem a implicação de NSP1 na modulação da resposta imune inata, uma vez que foi demonstrado que esta proteína pode interagir com o fator de regulação três do interferon (IRF3 – IFN regulatory factor 3) impedindo sua ativação e, por conseguinte, interferindo na resposta imunológica (Barro & Patton, 2005). O IRF3 está presente no citoplasma celular e quando da infecção viral este fator sofre mudanças estruturais que resultam na sua ativação (Sharma et al., 2003). Esta forma ativada é então translocada para o núcleo onde interage com promotores específicos que estimulam a expressão dos interferons α e β (INFα e IFNβ) (Au et al., 1995). Assim, o impedimento da ativação do IRF3 pode suprimir a estimulação dos INFα e IFNβ. Portanto, é possível que NSP1 tenha um papel na determinação da virulência de RVA (Broome et al., 1993; Barro & Patton, 2005).

A proteína NSP2, juntamente com NSP5, está envolvida na formação do viroplasma em células infectadas, além de participar dos processos de replicação do genoma e montagem da partícula viral (Silvestre et al., 2004). NSP5 é uma proteína fosforilada encontrada em intermediários de replicação do core associada não só com NSP2, mas também com VP1, VP2 e VP3 (Gallegos & Patton, 1989). Adicionalmente tem sido verificada a presença de NSP6 em associação com NSP5 na estrutura viroplasmática. Ademais, NSP6 tem demonstrado afinidade pelo ácido nucleico assim

(23)

7 como NSP2 e NSP5, o que indica seu provável envolvimento nos processos de síntese do RNA e replicação do vírus (Torres-Vega et al., 2000; Rainsford & McCrae, 2007).

A proteína NSP3 também é encontrada em intermediários de replicação o que sugere sua participação na morfogênese viral. NSP3 tem função semelhante à proteína de ligação poliadenilada celular (PABP – polyadenylate-binding protein) de eucariotos que junto com os fatores de iniciação eucariótica eIF4E e eIF4G promovem a circularização do mRNA celular o que parece ser importante para um início eficiente da tradução (Imataka et al., 1998; Preiss & Hentze, 1998).

Como referido, RVA não possui poliadenilação na extremidade 3’, ao contrário, apresenta uma sequência consenso que por sua vez se liga especificamente ao domínio N-terminal de NSP3. Esta proteína não estrutural também apresenta um domínio C-terminal que interage com alta afinidade com eIF4G (Poncet et al., 1993; Piron et al., 1998; Deo et al., 2002; Groft & Burley, 2002; Jayaram et al., 2004). Desta forma, a ligação de NSP3 ao eIF4G acaba por inibir a ligação deste à proteína de ligação poliadenilada celular e, por conseguinte, promove a tradução dos mRNAs dos rotavírus concomitantemente à interrupção da tradução do mRNA celular (Vende et al., 2000; Padilla-Noriega et al., 2002).

Em relação a NSP4, vários estudos têm demonstrado seu envolvimento no processo de replicação (Maass & Atkinson, 1990; Taylor et al., 1996). Além disso, esta proteína é reconhecida como uma enterotoxina viral visto sua capacidade, bem como de seu peptídeo sintético NSP4 114-135, de induzir diarreia idade-dependente em camundongos jovens na ausência de alterações histológicas no tecido epitelial do intestino delgado (Ball et al., 1996). Como referido, devido a diversidade genética de NSP4 é possível sua classificação em seisgrupos genéticos (A-F) (Cunliffe et al., 1997; Horie et al., 1997; Ciarlet et al., 2000; Mori et al., 2002; Estes & Kapikian, 2007), com os genótipos A e B sendo os mais frequentes em isolados de humanos (Iturriza-Gómara

et al., 2003).

A tabela 1 resume as principais características das proteínas estruturais e não estruturais de RVA.

(24)

8 Tabela 1. Principais características e funções das proteínas estruturais e não estruturais de RVA (Adaptado de Estes & Kapikian, 2007).

Gene Tamanho (pb) Proteína Aminoácidos Massa Molecular (kDa) Atividade

1 3.302 VP1 1.088 125 RNA-polimerase RNA-dependente

2 2.690 VP2 881 84 Composição o core viral; é necessária para a atividade de replicase

de VP1 3 2.591 VP3 835 88 Metiltransferase; guanililtransferase 4 2.362 VP4 VP5* VP8* 776 529 247 88 60 28

Hemaglutinina; adsorção à célula hospedeira; sensível à proteólise; induz anticorpos neutralizantes; antígeno P

5 1.581 NSP1 491 53 Ligação ao RNA; interação e degradação do IRF3

6 1.356 VP6 397 41 Composição do capsídeo intermediário; antígeno viral; permite a

definição dos grupos de rotavírus

7 1.104 NSP3(1) 315 34 Ligação ao RNA; promove a tradução do mRNA viral e inibe a

tradução celular

8 1.059 NSP2(1) 317 35 Ligação ao RNA; participa da formação do viroplasma junto com

NSP5

9 1.062 VP7(1) 326 38 Glicoproteína estrutural; induz anticorpos neutralizantes; antígeno

G

10 751 NSP4 175 28 Glicoproteína transmembrana do retículo endoplasmático; receptor

intracelular de VP6; atua na morfogênese; enterotoxina viral

11 667 NSP5 198 26 Ligação ao RNA; participa da formação do viroplasma junto com

NSP2; interage com NSP6

NSP6 92 11 Interage com NSP5 no viroplasma

*Produtos de clivagem de VP4.

(1)

(25)

9 1.3.4. Classificação

RVA é classificado sorologicamente por meio da especificidade de anticorpos monoclonais (MAbs – monoclonal antibodies) para a proteína VP6, sendo verificados quatro subgrupos (SG) de VP6: SG I, SG II, SG I+II e SG não-I/não-II (Estes & Kapikian, 2007). Além disso, RVA pode ser classificado em genogrupos ou subgrupos genéticos a partir da caracterização molecular de uma região que abrange o epítopo subgrupo-específico do gene de VP6. De acordo com esta classificação há dois subgrupos ou genogrupos: genogrupo I (SG I), com duas linhagens genéticas, IA e IB, e genogrupo II (SG II, SGI+II e SG não-I/não-II), com três linhagens genéticas, IIA, IIB e IIC (Iturriza-Gómara et al., 2002).

Há também uma classificação binária feita em função das proteínas VP7 e VP4 do capsídeo externo que designam os sorotipos/genótipos G e P, respectivamente. Esta denominação é dada devido à proteína VP7 ser considerada uma glicoproteína e, VP4 ser sensível a ação de proteases. Os sorotipos são definidos a partir da reatividade do vírus a ensaios de neutralização com soros hiperimunes ou ensaios imunoenzimáticos com MAbs, enquanto os genótipos são determinados por meio da reação em cadeia pela polimerase (RT-PCR – reverse transcription polymerase chain reaction) a partir de DNA complementar do genoma viral, hibridização dos genes que codificam para estas proteínas e ainda pelo emprego da técnica de sequenciamento genômico das sequências parciais ou totais dos nucleotídeos dos referidos genes (Estes & Kapikian, 2007).

Os sorotipos e genótipos G são correspondentes e atualmente são reconhecidos 23 genótipos G (G1-G23), dos quais 14 sorotipos foram descritos em humanos, sendo 11 isolados nessa espécie (Estes & Kapikian, 2007; Matthijnssens et al., 2008a; Ursu et al., 2009).

Em relação à classificação de P, até o momento, foram descritos 32 genótipos (P[1]-P[32]) (Matthijnssens et al., 2008a; Schumann et al., 2009; Collins et al., 2010) e, 20 sorotipos, com 11 destes, relatados em infecções de humanos (Estes & Kapikian, 2007). A relação entre os sorotipos e genótipos P não mostra concordância e, por esta razão, o sorotipo é expresso por um número disposto após a letra P, o qual pode estar ou não acompanhado de uma letra maiúscula indicando seu subtipo, enquanto o genótipo se dispõe ao final da notação como um número dentro de colchetes (Santos et al., 2008).

Adicionalmente RVA pode ser classificado a partir da análise do gene que codifica a proteína NSP4 para o qual têm sido definidos seisgrupos genéticos (A-F) que parecem

(26)

10 se agrupar de acordo com a espécie do hospedeiro (Cunliffe et al., 1997; Horie et al., 1997; Ciarlet et al., 2000; Mori et al., 2002; Estes & Kapikian, 2007). A maioria dos isolados de humanos apresentam os genótipos NSP4-A e NSP4-B, no entanto, amostras provenientes de humanos também podem ser caracterizadas como genótipo C, porém, com menor frequência (Iturriza-Gómara et al., 2003; Cho et al., 2006). Os genótipos NSP4-A e NSP4-B têm sido associados aos genogrupos I e II de VP6, respectivamente. Diferenças nesta relação são sugestivas de recombinação entre amostras de RVA (Iturriza-Gómara et al., 2003).

Atualmente, também tem sido considerada uma nova classificação proposta pela

Rotavirus Classification Working Group (RCWG) que foi definida após a análise das

sequências completas das ORFs dos 11 segmentos de 53 amostras de RVA (Matthijnssens

et al., 2008a). O intuito é minimizar erros de classificação evitando a duplicidade de

informações em relação a novos genótipos, visto a possibilidade da ocorrência de rearranjos intra ou interespécies entre os segmentos de RVA os quais podem originar amostras quimeras (Matthijnssens et al., 2008b).

Deste modo foram propostas as notações Gx-P[x]-Ix-Rx-Cx-Mx-Ax-Nx-Tx-Ex-Hx que representam, respectivamente, os genótipos dos segmentos que codificam VP7-VP4-VP6-VP1-VP2-VP3-NSP1-NSP2-NSP3-NSP4-NSP5/6, com a letra x indicando o número de genótipos. Considerando o segmento 11 observa-se apenas uma classificação, uma vez que a ORF de NSP6 está dentro da ORF de NSP5 e a análise em separado das sequências de ambas origina árvores filogenéticas semelhantes (Matthijnssens et al., 2008b).

A tabela 2 apresenta o resumo dos genótipos dos segmentos de RVA, bem como, o ponto de corte (cut-off) da identidade das sequências de nucleotídeos para a definição dos referidos genótipos.

A nova classificação proposta pela RCWG não se opõe às classificações usadas rotineiramente e, até o momento, tem sido observada a correspondência entre os genótipos de ambas as classificações. A tabela 3 representa a correlação entre a classificação proposta para os 11 segmentos de RVA e as classificações frequentemente utilizadas para os genótipos de VP7 e VP4, bem como para os genogrupos de VP6 e genótipos de NSP4.

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11 Tabela 2. Classificação dos genótipos dos 11 segmentos genômicos de RVA (Adaptado de Matthijnssens et al., 2008b).

Proteína Identidade dos nucleotídeos

cut-off (%)

Genótipos Características da proteína

VP7 80 23G Glicosilada

VP4 80 32P Sensível a Protease

VP6 85 11I Capsídeo Interno

VP1 83 4R RNA-polimerase RNA-dependente

VP2 84 5C Proteína do Core

VP3 81 6M Metiltransferase

NSP1 79 14A Antagonista de interferon

NSP2 85 5N NTPase

NSP3 85 7T Potencializador de Tradução

NSP4 85 11E Enterotoxina

NSP5 91 6H Fosfoproteína

Tabela 3. Correlação entre a classificação para os 11 segmentos genômicos de RVA e demais classificações.

Proteína Classificação A* Classificação B**

VP7 G1-G23 G1-G23 VP4 P[1]-P[32] P[1]-P[32] VP6 I1 SG II (Wa-like) I2 SG I (DS1-like) I3 SG I (AU1-like) VP1 R1-R3 - VP2 C1-C3 - VP3 M1-M3 -

NSP1 A1-A3, A9, A11 e A12 -

NSP2 N1-N3 - NSP3 T1-T3, T6 - NSP4 E1 B (Wa-like) E2 A (DS-1-like) E3 E7 E4/E11 E10 C (AU1-like) D (EW-like) E (PO-13) F (Ch-1) NSP5 H1-H3, H6 -

*Classificação proposta para os 11 segmentos de RVA.

**Classificação frequentemente empregada para os genótipos de VP7, VP4, NSP4 e genogrupos de VP6 encontrados em isolados de humanos.

(28)

12 1.4. REPLICAÇÃO

A maioria das informações referentes ao ciclo de replicação de RVA foi obtida a partir de estudos de cultivo celular em células de rim de macaco e células polarizadas do epitélio intestinal. Outras informações são provenientes de ensaios in vitro baseados na expressão e interação de proteínas individuais e do RNA as quais têm sido gradativamente confirmadas pelo uso de microscopia confocal e RNA de interferência. Considerando a infecção in vivo, tem-se observado o tropismo destes vírus por enterócitos diferenciados do intestino delgado o que presume a existência de receptores celulares específicos (Estes & Kapikian, 2007).

A etapa inicial da replicação de RVA esquematizada na figura 4 envolve a adsorção destas à célula hospedeira a qual é mediada pelas proteínas VP4 e VP7. Para o início desta etapa admite-se que o ácido N-acetilneuramínico, também denominado ácido siálico, seja requerido por amostras de rotavírus animal e, como consequência, a ligação vírus-célula é sensível à ação da neuraminidase (Estes & Kapikian, 2007). Entretanto, muitas amostras de rotavírus animal e humano são resistentes à neuraminidase (Ciarlet & Estes, 1999).

Para amostras sensíveis à neuraminidase e que utilizam o ácido siálico como receptor, admite-se que para o início da adsorção o domínio para a ligação esteja na VP8* e que, seguida uma mudança conformacional, o domínio VP5* torna-se disponível para se ligar à integrina α2β1. Nas amostras resistentes à neuraminidase pode existir uma conformação que permite a ligação direta de VP5* à integrina α2β1. Após a ligação inicial podem ocorrer interações adicionais de VP5* e VP7 com a proteína celular de choque térmico 70 (hsp70 – heat shock protein 70) e as integrinas αvβ3, αxβ2 e a4β1, na dependência do tipo celular de estudo (Estes & Kapikian, 2007).

Os passos seguintes correspondem à penetração e desnudamento da partícula viral. Estas duas etapas ainda não estão completamente desvendadas, no entanto, sabe-se que a clivagem de VP4 por enzimas proteolíticas em seus produtos, VP5* e VP8*, potencializa a penetração e infectividade do vírus (Estes et al., 1981). Apesar de desconhecido o modo como ocorre o processo de clivagem da VP4 foi observado que partículas virais tratadas com tripsina penetram mais rapidamente nas células do que aquelas não tratadas (Kaljot et at., 1988). Sugere-se que situação semelhante também possa ocorrer in vivo, no lúmen do intestino como uma etapa prévia da infecção do enterócito (Ludert et al., 1996).

(29)

13 Estudos de microscopia eletrônica sugerem que as partículas virais seguem dois caminhos dentro do citoplasma celular quando tratadas ou não com tripsina. Considerando as amostras tratadas com tripsina, verificou-se a passagem rápida e direta destas para o citoplasma, diferente do observado para as partículas virais não tratadas, as quais levaram cerca de quatro vezes mais tempo para serem internalizadas sob a forma de vesículas endocíticas (Suzuki et al., 1985).

Admite-se ainda, um modelo endocítico cálcio-dependente no qual a ligação de RVA aos receptores celulares induz a formação de uma vesícula endocítica, deste modo, a partícula viral completa é internalizada em um compartimento contendo Ca2+, cuja concentração inicialmente assemelha-se àquela do meio extracelular diminuindo gradativamente até os níveis do microambiente intracelular. Uma vez a concentração de Ca2+ tendo alcançado níveis críticos, uma mudança conformacional no capsídeo externo é ativada, as proteínas são solubilizadas e a vesícula endocítica é lisada liberando partículas com dupla camada proteica transcricionalmente ativas (Clark et al., 1980; Ruiz

et al., 1997).

A seguir ocorre a síntese dos transcritos primários que é efetuada nas proximidades do eixo quíntuplo do core viral devido à localização do complexo transcricional formado pelas proteínas VP1 (RNA-polimerase RNA-dependente) e VP3. Desta forma, os transcritos recém-sintetizados são liberados para o citoplasma através dos canais tipo I (Lawton et al., 1997). Estes transcritos são mRNAs utilizados para a síntese das proteínas estruturais e não estruturais, bem como molde para a síntese da fita negativa do RNA genômico (Chen et al., 1994).

No processo de tradução os mRNAs capeados, mas não adenilados, são traduzidos em proteínas virais pela maquinaria celular. A maior parte das proteínas estruturais e não estruturais é sintetizada nos ribossomos livres, enquanto as glicoproteínas VP7 e NSP4 são sintetizadas nos ribossomos que estão associados à membrana do retículo endoplasmático (Estes & Kapikian, 2007).

Estudos demonstram que a NSP3 está envolvida na etapa de tradução os quais mostraram que o domínio N-terminal de NSP3 se liga às sequências 3’- consenso do

mRNAs, enquanto sua porção C-terminal se associa com elevada afinidade ao eIF4G,

desta forma os mRNAs virais são transferidos para os ribossomos celulares para a síntese proteica (Estes & Kapikian, 2007).

As proteínas virais recém-formadas se acumulam em inclusões elétron densas denominadas viroplasmas as quais são formadas pouco depois da infecção celular

(30)

14 (Altenburg et al., 1980). No viroplasma ocorre a transcrição secundária, a replicação e o empacotamento do genoma viral, além da montagem da partícula de dupla camada proteica. No processo, admite-se que a síntese da fita negativa de RNA ocorre concomitante ao empacotamento da fita positiva de RNA dentro dos intermediários de replicação do core (Estes & Kapikian, 2007), os quais são formados pela adição sequencial de VP2 e VP6 ao pré-core que consiste em VP1, VP3, NSP2, NSP3 e NSP5 associados ao RNA (Gallegos & Patton, 1989).

As partículas com dupla camada produzidas no viroplasma brotam para dentro do retículo endoplasmático, processo que ocorre em virtude da interação entre o domínio citoplasmático C-terminal da proteína NSP4 que se localiza na membrana do retículo e a proteína VP6 das partículas com dupla camada (O’Brien et al., 2000). Nesta etapa as partículas incompletas de rotavírus adquirem um envelope temporário que é perdido durante o trânsito destas ao longo do retículo endoplasmático sendo substituído pelas proteínas VP4 e VP7 que compõem o capsídeo externo (Estes & Kapikian, 2007).

Estudos utilizando RNA de interferência para VP7 indicam que esta proteína é adicionada à partícula viral dentro do retículo endoplasmático sendo necessária para a remoção do envelope lipídico (López et al., 2005; Cuadras et al., 2006). Considerando a proteína VP4, ainda não existe consenso quanto ao seu local de montagem. Há indícios de que VP4 seja adicionada ao arcabouço de VP7 no retículo endoplasmático, porém, um estudo com células Caco-2 polarizadas sugere que a montagem de VP4 ocorre em um evento posterior à liberação das partículas do retículo endoplasmático (Delmas et al., 2004; Cuadras et al., 2006).

A etapa final da morfogênese dos rotavírus consiste na migração das partículas completas para o citoplasma celular com subsequente liberação destas por lise em células não polarizadas (Estes & Kapikian, 2007).

(31)

15 Figura 4. Representação esquemática do processo de replicação de RVA (Adapatado de Trask et al., 2012).

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16 1.5. SINTOMAS CLÍNICOS E PATOGENIA

A infecção por RVA pode resultar em doença clínica podendo também ser assintomática. Ambas as condições são influenciadas por fatores do vírus e do hospedeiro infectado (Linhares & Bresse, 2000). Quando sintomática, os sintomas mais frequentemente observados são diarreia, febre, vômito, dor abdominal e desidratação. A doença é frequentemente autolimitada, contudo, a diarreia pode perdurar por até 10 dias com possibilidade do agravamento do quadro clínico em virtude de condições prévias de morbidade do hospedeiro que associadas à ausência de tratamento adequado podem levar ao óbito (Estes & Kapikian, 2007).

A patogenia resultante da infecção por RVA é considerada um processo complexo e multifatorial que envolve efeitos diretos e indiretos da amostra infectante, bem como a resposta do hospedeiro (Ramig, 2004). Ademais, estudos admitem que RVA tenha rota de transmissão fecal-oral, tendo como componente a água e alimentos contaminados, além do contato pessoa-pessoa (Linhares et al., 1981). Quando da infecção, o período de incubação tem sido estimado em aproximadamente 48 horas sendo os enterócitos diferenciados das vilosidades intestinais as células de tropismo para o vírus (Conner et

al., 1997).

Os enterócitos maduros constituem uma linhagem celular do intestino delgado que apresentam microvilosidades em sua superfície apical, cujas funções são digestão e absorção. No intestino delgado também estão presentes as células da cripta que são precursoras dos enterócitos diferenciados as quais têm por função a secreção ativa de íons cloro no lúmen intestinal. A ação conjunta dos enterócitos diferenciados e das células da cripta resulta em um fluxo bidirecional de água e eletrólitos entre o epitélio e o lúmen intestinal, o que favorece o balanço entre absorção e secreção (Moon, 1994; Loo et al., 2002).

Os danos ocasionados ao epitélio do intestino delgado pela infecção por RVA são menores quando comparados aos de outros enteropatógenos, porém, o resultado desta infecção é a alteração das funções dos enterócitos. As mudanças na capacidade de absorção e secreção destas células e de seus precursores podem ser originárias de efeitos histológicos como vacuolização dos enterócitos, diminuição das microvilosidades, atrofia dos vilos e hipertrofia das criptas. Estas modificações morfológicas podem culminar com a destruição dos enterócitos funcionais e, em razão disso, gerar uma má-absorção

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17 secundária que, por sua vez, pode comprometer a absorção de água, sais, carboidratos, lipídios e proteínas, cujo resultado final é a diarreia osmótica (Ramig, 2004).

A proteína não estrutural NSP4 também parece estar envolvida na diarreia associada à infecção por RVA. Esta proteína tem sido considerada uma enterotoxina viral visto sua capacidade, assim como de alguns de seus peptídeos, de induzir a diarreia em camundongos jovens (Ball et al., 1996). NSP4 parece provocar um aumento na permeabilidade da membrana celular aos íons cálcio gerando maior fluxo desse íon para o interior do citoplasma. Adicionalmente esta proteína tem demonstrado ser capaz de mobilizar este próton do retículo endoplasmático para o citoplasma. O aumento na concentração de íons cálciocitoplasmático pode desencadear eventos que acarretam a lise celular, cuja principal consequência é o comprometimento da capacidade de absorção dos enterócitos (Perez et al., 1998). Ademais, NSP4 também parece atuar nas células da cripta onde, o aumento de íons cálciointracelular induz uma maior secreção de íon cloro e, por conseguinte, de água para o lúmen intestinal (Angel et al., 1998; Morris et al., 1999).

Admite-se também que uma das causas da diarreia por rotavírus seja a estimulação do sistema nervoso entérico pela proteína NSP4 que teria como resultado o extravasamento de fluídos eletrolíticos para o lúmen intestinal (Lundgreen et al., 2003). Este sistema se situa nos gânglios dos plexos submucoso e mioentérico abaixo do epitélio intestinal sendo responsável pelo controle das funções contrátil, secretora e endócrina do sistema gastrointestinal (Costanzo, 2007).

Sugere-se ainda, que a infecção por rotavírus promove uma diminuição no trânsito intestinal e com isso um aumento na motilidade intestinal também pela estimulação do sistema nervoso entérico (Michelangeli & Ruiz, 2003).

1.6. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL

Como referido, a infecção por RVA quando sintomática é caracterizada por diarreia, febre e vômito, sintomas comuns a diferentes patógenos (Sheikh & El-Assouli, 2001; Orlandi et al., 2006) o que impede que o diagnóstico seja feito apenas pela avaliação dos sintomas clínicos. Deste modo, o diagnóstico laboratorial é necessário para correta identificação do agente etiológico (Estes & Kapikian, 2007).

A detecção de RVA pode ser feita pela visualização da partícula viral diretamente das fezes por meio da microscopia eletrônica e imunoeletromicroscopia. Ambas as

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18 técnicas apresentam elevada especificidade devido à morfologia característica da partícula viral (Brandt et al., 1981).

Há ainda diversas técnicas para detecção do antígeno viral ou de anticorpos para os RVA, tais como aglutinação em látex, ensaios de hemaglutinação passiva, imunofluorescência e ensaio imunoenzimático (EIE), com destaque para esta última metodologia. O EIE é aplicado em larga escala como “kits” comerciais e está baseado na análise de material fecal in natura. Neste ensaio são utilizadas placas sensibilizadas com anticorpos específicos para a detecção do antígeno viral sendo considerada uma técnica específica (Yolken & Wilde, 1994). Este método associado à MAbs específicos também é destinado à caracterização dos sorotipos G e P de RVA (Thouless et al., 1982).

Por outro lado, uma técnica bastante utilizada em laboratórios de pesquisa é a eletroforese em gel de poliacrilamida que permite a pesquisa direta do dsRNA viral. Para o procedimento, o dsRNA é extraído a partir da suspensão fecal e posteriormente submetido a corrida eletroferética em campo magnético (Pereira et al., 1983). Devido à característica segmentar do genoma dos rotavírus, pode-se observar o padrão eletroforético dos 11 segmentos de RVA para o qual é possível inferir grupo e subgrupo dos rotavírus, além de permitir inferência de infecções mistas (Lourenço et al., 1981).

Métodos moleculares também têm sido utilizados para detecção e caracterização de amostras de RVA. Dentre estas, podem ser citadas as reações de hibridização in situ, hibridização em microarranjos, reação em cadeia pela polimerase (PCR – polymerase

chain reaction), PCR em tempo real e ainda, sequenciamento genômico (Santos et al.,

2008).

Habitualmente, a PCR é empregada não só para a detecção de RVA, mas também para a sua caracterização. Neste contexto, para a realização desta técnica, após extração do dsRNA viral, procede-se a transcrição reversa visando a obtenção do DNA complementar (cDNA – complementary desoxyribonucleic acid), posteriormente, segue-se a amplificação com iniciadores específicos para os diferentes genes segue-sendo de grande utilidade os genes que codificam para as proteínas VP7 e VP4, as quais determinam os genótipos G e P (Gouvea et al., 1990; Gentsch et al., 1992; Das et al., 1994). O método também tem sido bastante utilizado para os genes codificantes das proteínas VP6 e NSP4 considerando que estas são antigênicas e que também permitem a classificação de amostras (Lee et al., 2000; Iturriza-Gómara et al., 2002).

A técnica de sequênciamento genômico é bastante específica sendo frequentemente empregada na caracterização molecular de amostras previamente

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19 detectadas por outras metodologias. A partir desta técnica é possível determinar a sequência nucleotídica completa ou parcial do DNA amostral (Santos et al., 2008).

1.7. EPIDEMIOLOGIA

Desde a sua descoberta, os RVA têm se mostrado como importantes agentes etiológicos da gastroenterite aguda infantil e, em razão disso, inúmeros estudos epidemiológicos vêm sendo conduzidos em todo o mundo afim delinear o quadro desta infecção (Estes & Kapikian, 2007).

A gastroenterite aguda por rotavírus tem um papel significativo na morbi-mortalidade infantil tanto em países desenvolvidos quanto em desenvolvimento, entretanto, os maiores índices de mortalidade associado a esta infecção são encontradas em países em desenvolvimento (Estes & Kapikian, 2007). Estima-se que as infecções por RVA sejam responsáveis por cerca de 111 milhões de episódios diarreicos, 25 milhões de visitas médicas, dois milhões de hospitalizações e aproximadamente 611.000 óbitos anuais entre crianças menores de cinco anos de idade em todo o mundo, com cerca de 80% das mortes ocorrendo no sul da Ásia e na África subsaara (Parashar et al., 2003, 2006).

No Brasil, a análise de estudos publicados de 1992 a 2004 verificou que a gastroenterite por rotavírus foi responsável por 92.525.053 episódios diarreicos, 92.453 hospitalizações e 850 mortes entre crianças menores de cinco anos de idade neste período considerando todas as regiões (Sartori et al. 2008).

Na Europa, um estudo realizado nos anos de 2005 e 2006 em doze hospitais de base da França, Alemanha, Itália, Espanha e Inglaterra verificou um índice global de infecção por RVA de 43,4% entre crianças com até cinco anos de idade (Forster et al., 2009). No mesmo período na Carolina do Norte, EUA, uma pesquisa para averiguar o impacto das rotaviroses no sistema de saúde mostrou um índice de detecção de 38% no mesmo grupo etário (Mast et al., 2010).

Na península de Anatólia, Turquia, no período de 2006 a 2007 foi verificada positividade de 54% para as infecções por RVA (Altindis et al., 2010). Em Manipur, Índia, uma vigilância realizada por 28 meses, entre os anos de 2005 e 2008, detectou a presença de RVA em aproximadamente 50% das amostras coletadas (Mukherjee et al., 2010).

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20 Na América Latina estudo conduzido por Kane et al. (2004) verificou que aproximadamente 65% a 85% das crianças são hospitalizadas ainda no primeiro ano de vida em razão das rotaviroses. Considerando os índices de detecção para RVA observou-se que estes variam de 4% a 42% entre pacientes ambulatoriais e de 16% a 52% entre crianças hospitalizadas.

No Brasil diferentes estudos mostram uma prevalência de 12% a 48% entre crianças atendidas em ambulatórios e hospitais (Linhares, 2000; Carvalho-Costa et al., 2006; Munford et al., 2007; Serravalle et al., 2007). No Centro-Oeste os índices de detecção para RVA mostram variação de 11,8% a 41,8% (Cardoso et al., 1992, 2000, 2003; Costa et al., 2004; Andreasi et al., 2007; Munford et al., 2009).

Investigações quanto a prevalência mundial dos genótipos G e P de RVA têm mostrado a associação entre os tipos G (G1-G4) e P[8] ou P[4] (Gentsch et al., 2005; Santos & Hoshino, 2005). Adicionalmente, o genótipo G9 associado a P[8] ou P[6] tem emergido de modo que G9 pode ser considerado o quinto genótipo G mais frequente no mundo (Laird et al., 2003; Gentsch et al., 2005; Santos & Hoshino, 2005). Outros genótipos tais como G5, G6, G8, G10 e G12 também têm sido descritos (Santos et al., 1998; Le et al., 2008; Martini et al., 2008; Mukherjee et al., 2010).

Estudos publicados entre 1986 e 2006 mostraram que os genótipos circulantes no Brasil antes da implementação da vacina para RVA eram G1P[8] (43%), G9P[8] (22%) e G2P[4] (7%) (Gurgel et al., 2008). Na região Centro-Oeste diferentes índices de detecção dos genótipos G e P têm sido observados revelando uma flutuação entre a frequência e predominância dos quatro genótipos mais comuns (G1-G4), bem como a emergência de outros genótipos menos prevalentes (G5 e G9) (Cardoso et al., 2000; Souza et al., 2003; Costa et al., 2004; Andreasi et al., 2007).

Além dos genótipos G e P, atualmente tem-se dado ênfase à diversidade existente para os genes seis e 10 que codificam, respectivamente, a proteína estrutural VP6 reconhecida como o antígeno viral e, a proteína não estrutural NSP4, definida como a enterotoxina de RVA (Estes & Kapikian, 2007).

Como referido, a proteína VP6 de RVA pode ser classificada sorologicamente em quatro subgrupos: SG I, SG II, SG I+II e SG não-I/não-II (Estes & Kapikian, 2007), ou ainda, genotipicamente em genogrupos, com o genogrupo I incluindo o subgrupo I e apresentando duas linhagens genéticas, IA e IB e, o genogrupo II incluindo os subgrupos II, I+II e não-I/não-II, com três linhagens genéticas, IIA, IIB e IIC (Iturriza-Gómara et

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21 Habitualmente tem sido observada uma correlação entre os grupos sorológicos de VP6 e genótipos G e P (Estes & Kapikian, 2007). Do mesmo modo, esta interligação também é verificada para os genogrupos de VP6 e combinações genotípicas de G e P. Assim, amostras definidas como SG I ou genogrupo I, frequentemente, estão associadas às combinações G2P[4] e G9P[6], enquanto aquelas caracterizadas como SG II ou genogrupo II, estão associadas às combinações, G1P[8], G3P[8], G4P[8] ou G9P[8] (Iturriza-Gómara et al., 2002; Kerin et al., 2007).

Diferentes estudos corroboram estas associações, além de relatarem outras combinações não usuais entre genótipos G e P com genogrupos de VP6. Na Itália, amostras positivas para RVA coletadas no período de 1987 a 1990, com genótipos G2P[4] foram caracterizadas como genogrupo I, bem como as amostras mistas G1+G2P[4]. Do mesmo modo, a amostra usual G1P[8] e outras combinações G1P[4]+P[8] e G1P[6]+P[8] foram caracterizadas como genogrupo II (Medici et al., 2007). No Teerã, Irã, amostras provenientes de crianças infectadas com RVA coletadas nos anos de 2003 e 2004 apresentando as combinações comuns G1P[8] e G9P[8] foram determinadas como genogrupo II, assim como a combinação não usual G12P[8] e, as amostras mistas G1+G4P[4] e G1+G9P[8]. Neste estudo também foram observadas as associações entre os genótipos G2P[4] e G1P[10] com genogrupo I (Farahtaj et al., 2007).

No Brasil amostras coletadas em diferentes anos compreendidos entre 1986 e 2004, provenientes de crianças hospitalizadas no Rio de Janeiro e identificadas como G1P[8], G5P[8] e G9P[8] foram caracterizadas como genogrupo II, enquanto as amostras com genótipos G2P[4] foram associadas ao genogrupo I (Araújo et al., 2007). Na mesma localidade, amostras coletadas em um período de 10 anos que apresentaram as combinações G1P[8], G3P[8], G4P[8], G5P[8] e G9P[8] foram determinadas como genogrupo II, enquanto as amostras G2P[4], G2P[6] e G9P[6] foram associadas ao genogrupo I. Outras combinações incomuns de G1P[9], G2P[8] e G9P[9] foram caracterizadas como genogrupo II, por outro lado, amostras G3P[9] e G9P[4] foram identificadas como genogrupo I (Benati et al., 2010).

No Centro-Oeste brasileiro amostras positivas para RVA com genótipos usuais G1P[8], G4P[8] e G9P[8], assim como não usuais, G2P[8], G1P[6] e G4P[6] foram caracterizados como genogrupo II, enquanto as combinações G2P[4], G3P[6] e G9P[6] foram associadas ao genogrupo I (Tavares et al., 2008a).

Assim como VP6, a proteína NSP4 apresenta diversidade genética e, por meio da análise nucleotídica do segmento 10 tem sido possível a sua classificação em cinco

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22 genótipos (A-E) (Cunliffe et al., 1997; Horie et al., 1997; Ciarlet et al., 2000; Mori et al., 2002). Dentre estes, A e B, são os genótipos mais frequentemente relacionados aos rotavírus que infectam humanos (Lee et al., 2000; Iturriza-Gómara et al., 2003).

Estudos têm demonstrado uma íntima associação entre genótipos de NSP4 e genogrupos de VP6, com o genótipo A estando normalmente ligado ao genogrupo I e, o genótipo B ao genogrupo II (Iturriza-Gómara et al., 2003; Araújo et al., 2007). Apesar desta mesma correlação não ser observada entre os genótipos de NSP4 e de G e P, não raras têm sido as associações entre as amostras G2P[4], G2P[6] e G9P[6] com genótipo A, e G1P[8], G3P[8], G4P[8] e G9P[8] com genótipo B (Iturriza-Gómara et al., 2003; Wang et al., 2007; Benati et al., 2010).

Uma investigação conduzida nos Estados Unidos relativa à diversidade genotípica de NSP4 de isolados de RVA obtidos no período de 1996 a 1997 mostrou que as combinações G2P[4] e G9P[6] foram caracterizadas como genótipo A, enquanto amostras G1P[8] e G9P[8] foram identificadas como genótipo B (Kirkwood et al., 1999). Na Itália, um estudo de caracterização de amostras G3P[8] verificou a associação desta combinação com genótipo B e genogrupo II (De Grazia et al., 2009).

Na Argentina amostras positivas para RVA coletadas entre 1996 e 1999 com genótipos G9P[6] foram caracterizadas como genótipo A, por outro lado, as amostras obtidas no período de 2002 a 2004 que apresentaram a combinação G9P[8] foram caracterizadas como genótipo B (Stupka et al., 2007).

No Brasil estudos realizados no Rio de Janeiro observaram a associação entre os genótipos G1P[8] e G9P[8] com genótipo B de NSP4, adicionalmente, também foram observadas combinações de G3P[8] e G4P[8] com genótipo B, bem como de G2P[4], G2P[6] e G9P[6] com genótipo A (Araújo et al., 2007; Benati et al., 2010). Na Região Centro-Oeste do Brasil, também foi verificado a associação entre a combinação G9P[6] e genótipo A, assim como a associação dos genótipos usuais G1P[8], G4P[8] e G9P[8] e, o não usual G2P[8] com genótipo B de NSP4 (Tavares et al., 2008b).

Do mesmo modo que tem sido verificada a correlação entre os genótipos de VP7 e VP4 e, genogrupos de VP6 e genótipos de NSP4, a associação entre os genótipos e genogrupos destas quatro proteínas também tem sido observada. Neste sentido, uma investigação conduzida nos Estados Unidos nos anos de 1996 e 1997 observou a combinação de G2P[4] e G9P[6] com genogrupo I e genótipo A, bem como a associação de G1P[8] e G9P[8] com genogrupo II e genótipo B (Kirkwood et al., 1999).

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