RESPOSTA DA CULTURA DA CENOURA A ADUBAÇÃO ORGÂNICA
1Larissa Costa Melo; 2Mirielle Aline Grein; 4Robinson Jardel Pires de Oliveira,
3Romano RobertoValicheski, 3Leonardo deOliveira Neves.
RESUMO
O mercado de hortaliças orgânicas está em franca expansão no Brasil e tem na adubação orgânica uma ferramenta muito importante para a obtenção de produtos saudáveis. O presente trabalho foi conduzido na área experimental do setor de agroecologia do IFC – Campus Rio do Sul no período de 15/08/2016 a 28/11/2016. Os tratamentos consistiram em uma sub dose, a dose recomendada, o dobro da dose e uma superdose, seguindo as recomendações para o “Uso de resíduos orgânicos na agricultura”. Estes tratamentos foram dispostos em blocos inteiramente casualizados com 4 repetições. Utilizou-se a cultivar Brasília. Foi colhida aos 105 dias após a semeadura e avaliados o diâmetro e comprimento de raiz, massa seca e fresca de folhas e raízes. Os dados foram submetidos a análise de variância com aplicação do teste de F e quando significativo, foram comparadas pelo teste Scott Knott (α=1% e 5%) de probabilidade de erro, utilizando o programa SASm. Os resultados evidenciam que a máxima produtividade (62,34 ton ha-1), foi obtida na dose de 4,5 ton ha-1.
Palavras-chave: Esterco de peru 1. Cenoura 2. Nutrição mineral 3.
INTRODUÇÃO
A adubação orgânica na cultura da cenoura desempenha papel fundamental no aumento da produção de raízes comerciais e na diminuição de raízes deformadas, principalmente em solos com baixo teor de matéria orgânica (SOUZA, 1990). Contudo, a resposta da cenoura à aplicação de fertilizantes orgânicos é muito variável, devido à diversidade na composição desses materiais.
Os adubos orgânicos oriundos do esterco dos aviários de peru são considerados rico em NPK e mais consistente (CALDERON, 2009). A maior concentração em nutrientes da cama de aviário é devido essencialmente, ao menor teor de umidade (5 a 15% contra 65 a 85% nos demais estercos) e às rações concentradas fornecidas às aves (EPAGRI, 1992).
A adoção da adubação orgânica no cultivo de hortaliças tem crescido nos últimos anos devido, principalmente aos efeitos benéficos do material orgânico sobre as características físicas e químicas do solo e pelo custo elevado dos adubos minerais. Segundo SANTOS et al. (1994), a adubação orgânica não só incrementa a produtividade, mas também proporciona obtenção de plantas com características qualitativas distintas das cultivadas exclusivamente com adubos minerais.
No entanto são raras, na literatura, informações sobre a exigência nutricional da cenoura, no que tange a adubação orgânica. Em virtude da falta de informações sobre as doses de adubação orgânicas a serem efetuadas para a cultura nos Cambissolos Haplicos da região do Alto Vale do Itajaí, é que se objetivou avaliar o efeito de esterco de peru granulada sobre a produtividade da cenoura.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O presente trabalho foi implantado 15/08/2016, em área experimental do setor de agroecologia do IFC – Campus Rio do Sul. O solo da área experimental possui os seguintes atributos químicos: pH em água de 6,8 e CTC (11,45), em cmolc dm3; saturação por bases de 89,54%, teor de argila de 24% e teores de P (168,1) e K+ (294), em mg/dm³. A análise do fertilizante “esterco de peru”, por sua vez apresentou as seguintes concentrações de nutrientes: 495,2 mg/dm³ de fósforo, 9600 mg/dm³ de potássio e 14,6% de matéria orgânica.
O delineamento foi blocos casualizados, no esquema fatorial 5 x 4 e os tratamentos foram a testemunha (T1= 0 ton ha-1 de esterco de peru), uma subdose (T2= 1 ton ha-1 de esterco de peru), a dose recomendada (T3= 2 ton ha-1 de esterco de peru), o dobro da dose (T4= 4 ton ha-1 de esterco de peru), e uma superdose (T5= 8 ton ha-1 de esterco de peru), seguindo as recomendações para o “Uso de resíduos orgânicos na agricultura”, presente no livro “Fundamentos da matéria orgânica do solo” (SANTOS et al., 2008).
Utilizou-se a cultivar Brasília. O cultivo em canteiroscom 1,3 m de largura x 7,0 m de comprimento, sendo subdivididos em parcelas com 1,00 m de comprimento nos quais implementou-se os tratamentos, incorporando-se o fertilizante orgânico ao solo. O espaçamento de 0,25m entre linhas e profundidade de 10-15 mm, e raleio aos 10 dias após a emergência, com 5 cm entre plantas, totalizando 30 plantas por linhas. Foram avaliação 4 plantas aos 105 dias após a semeadura e determinado o diâmetro e comprimento de raiz, massa seca e fresca de folhas e raízes. Os dados foram submetidos a análise de variância com aplicação do teste de F e quando significativo, foram comparadas pelo teste Scott Knott (α=1% e 5%) de probabilidade de erro, utilizando o programa SASm-Agri (CANTIERI et al., 2001).
RESULTADOS E DISCUSSÂO
Na tabela 1 são apresentados os valores de F e o nível de significância para as fontes de variação, bem como o coeficiente de variação para diversas variáveis relacionadas ao desenvolvimento da parte aérea e de raízes da cenoura em função das diferentes doses de esterco de peru aplicadas no solo. Para massa seca de folha (MSF), observou-se efeito significativo (α<0,01). Para as demais variáveis, massa fresca de folha (MFF), massa fresca de raiz (MFR), massa seca de raiz (MSR), massa total seca (MTS), massa total fresca (MTF) e comprimento de raiz (CR) não houve resposta significativa (α=5%), em função das diferentes doses de esterco de peru aplicados no solo. Para a fonte de variação bloco, para todas as variáveis avaliadas, observou-se efeito significativo, indicando assim a necessidade de se utilizar este delineamento, uma vez que o solo da área experimental era heterogêneo.
Para a variável comprimento de raiz, mesmo não apresentando resposta significativa (α=5%), o comprimento médio foi de 13,61 cm, valor este dentro dos valores médios comerciais, que estão agrupados em três classes: curta (de 10 a 11,99 cm), média (de 12 a 16,99 cm) e longa (de 17 a 20 cm) (FREIRE et al., 1984). Este comprimento médio obtido para as raízes de cenoura (13,61 cm) atende a preferência do consumidor brasileiro (EMBRAPA, 2000), e vem ao encontro com os resultados obtidos por Bruno et al. (2007), onde observaram valores semelhantes para comprimento de raízes de cenouras adubadas com composto orgânico e
biofertilizante, e obtiveram média de 13,5 cm, conferindo às raízes, classificação comercial tipo média.
Tabela 1– Comprimento de raízes, massa fresca e massa seca de folhas e raízes de cenoura em função das diferentes doses de esterco de peru (Ton ha-1), valor de F, coeficiente de variação e efeito de bloco.
ns= não significativo, *=significativo (α=5%), **=altamente significativo (α=1%).
Para as variáveis MSF, MSR e MTS o modelo linear quadrático, de segunda ordem foi o mais adequado (figura 1), obtendo-se conforme este, o máximo ganho em matéria seca para MSF (9,39 g planta-1), com a dose 4 ton ha -1 de esterco de peru. Para a MSR (22,08 g planta-1), MTS (32,73 g planta-1), na dose 4,5 ton ha -1 de esterco de peru. Mesmo que os valores de R2= 0,48; 0,56 e 0,51 (respectivamente), sejam considerados baixos, o modelo adotado foi o mais ajustados, e estes valores se devem a grande variabilidade entre os dados.
Os valores obtidos para MSR (tabela 1), variaram entre 18 a 21 gramas, diferente de Welder et al. (2008) que encontraram massa seca de raiz variando entre 8,73 e 7,44 g planta-1, com uso de adubação química e orgânica, quando avaliando a “Produtividade de cultivares de cenoura sob diferentes densidades de plantio”. Para a MSF os valores obtidos variaram entre 7 a 11 gramas, também diferiram dos valores encontrados para MSF valores entre 6,82 a 5,73 g planta-1.
Figura 1– Massa seca de folha, raiz e total na planta de cenoura em função da dose de esterco de peru (Ton ha-1) aplicados no solo. Rio do Sul, SC, IFC – Campus Rio do Sul, 2017.
Mesmo não apresentando resposta significativa (α=5%) para MFR, MFF e MTF (figura 2), em função das diferentes doses de esterco de peru aplicados no solo, observamos um comportamento linear quadrático, com a máxima produtividade (MFR) 62,34 ton ha-1 na dose de 4,5 ton ha-1, quando colhida aos 100 dias. Segundo Filgueira (2013), a produtividade para a cultura da cenoura, colhida entre 85 a 110 dias, é variável, de 40 a 60 ton ha-1, entre os bons olericultores. Vale ressaltar que se trata de um cultivo convencional.
F.V. MFR MFF MTF MSR MSF MTS CR
Bloco 29,02* 46,91* 34,72** 19,84* 3,59* 2,58** 13,69*
Tratamento 2,42ns 3,12ns 2,69ns 1,78ns 3,85** 2,41ns 0,68ns
Resultados similares foram obtidos por Resende et al. (2006) que avaliou o desempenho de cultivares de cenoura em sistema orgânico, para a cultivar Brasília e obteve uma das maiores produtividades, chegando a 58,6 ton ha-1. Produtividades oscilando de 31,4 a 54,8 ton há-1 foram observadas por Resende et al. (2006), enquanto Clemente et al. (2006) encontraram variações de 26,8 a 51,5 ton ha-1. Salienta-se os bons resultados em termos de produtividade, sobretudo levando-se em consideração que a produtividade média nacional da cenoura cultivada convencionalmente é de 29,4 ton ha-1 e nível a mundial de 31,0 ton ha-1. Em níveis experimentais, valores superiores foram obtidos por Azeredo Neto et al. (2016), testando P e K em cenoura, chegando a 126,0 ton ha-1, colhida aos 105 dias. As variações das produtividades podem ser explicadas pelos diferentes graus de adaptação das cultivares. Para MFF e MTF mesmo não havendo resposta as doses de esterco de peru, observa-se um comportamento linear quadrático, com a máximo ganho em massa fresca (MFF= 58 g planta-1) obtidos com a dose 4,5 ton ha-1 de esterco de peru.
Figura 2– Massa fresca de folha, raiz e total na planta de cenoura em função da dose de esterco de peru (Ton ha-1) aplicados no solo. Rio do Sul, SC, IFC – Campus Rio do Sul, 2017.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados evidenciam que a máxima produtividade (62,34 ton ha-1), foi obtida na dose de 4,5 ton ha-1, sendo esta a dose recomendada para o cultivo de cenoura orgânica.
REFERÊNCIAS
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