Braz. J. vet. Res. anim. Sci..
São Paulo, v. 34, n. 6, p. 321-326, 1997.
Pesquisa anatômica sobre o funículo umbilical em bovinos
azebuados
Anatomical research on the fu n icu lu s um bilicalis in zebu cattle
Antonio A u gu sto C oppi M aciel R IB E IR O 1; M aria A ngélica M IG L IN O 2; L ib erato João Afonso D ID IO 3
RESUMO
Mediante esta pesquisa, obtivemos dados sobre os aspectos morfológicos da disposição e da constituição das artérias e
das veias do funículo umbilical em bovinos azebuados. Utilizamos para isto 30 fetos (13 machos e 17 fêmeas), com idades
variando de 2 a 7 meses, cujos vasos umbilicais foram injetados com solução de látex-Neoprene 650 corada e posterior
mente dissecados. O comprimento do funículo umbilical variou de 3 a 43 cm em fetos de 2 a 7 meses de idade. Quatro vasos
umbilicais (duas artérias e duas veias) e um dueto alantóide constituíam o funículo umbilical desses ruminantes, sendo que
existia entre eles uma grande quantidade de gelatina de Wharton e pequenos vasos ( vasa vasorum). Todas as estruturas
estavam envolvidas pelo epitélio amniótico. Em 28 (93,33% ± 4,5) dos 30 fetos examinados, observamos uma anastomose
interarterial umbilical.
UNITERMOS: Funículo umbilical; Bovinos; Vasos.
C O R R E S P O N D E N C E TO: M aria A ngélica M iglino D epartam ento de Cirurgia Faculdade de M edicina Veterinária e Zootecnia da USP Av. Prof. Dr. O rlando M arques de Paiva, 8 7 - C idade
Universitária A rm a ndo de Salles O liveira
05508-900 - S ão P aulo - S P - B rasil
e-m ail: m iglino@ usp.br 1- D epartam ento de Anatom ia, UNESP, Botucatu, SP 2 - D epartam ento de Cirurgia Faculdade de M edicina Veterinária e Zootecnia da USP 3- U niversidade de S anto A m aro S ão P aulo - SP
IN T R O D U Ç Ã O
E
sta pesquisa an atôm ica teve por finalidade obter dados sobre os aspectos m orfológicos e sobre a disposição das artérias e das veias do funículo um bilical em bovinos azebuados. A e s c a sse z de d a d o s b ib lio g rá fic o s so b re o a ssu n to em bovinos de orig em in d ia n a e a o p o rtu n id a d e , o ra co n c re ta , de com parar nossos achados com resultados de sem elhantes pesquisas realizadas em bovinos das raças H olstein e H ereford, de origem européia, constituíram incentivos im portantes para a execução desta pesquisa.M A T E R IA L E M É T O D O
Para a realização deste trabalho, obtivem os úteros de 30 vacas zebuínas abatidas em diversos frigoríficos dos E stados de São P au lo e M inas G erais, em diferentes estágios de prenhez. D eterm ina mos o tem po de gestação de cada anim al pela m ensuração do co m primento do feto, de acordo com a T abela descrita por R oberts" (1986).
A lista dos espécim es por nós estudados, com as ca racterís ticas individuais principais, pode ser expressa na Tab. I .
P oucos m inutos após o abate e abertura d a cavidade abdo minal retiram os de cada anim al o útero com seu conteúdo, de acor do com as técnicas convencionais utilizadas nos frigoríficos.
A seguir fizem os um a incisão d orsal ao longo d a cérvix uterina até o co m o uterino gestante, tom ando os cuidados necessá rios para evitar que os placentônios fossem seccionados. Incisam os então as m em branas fetais, separadam ente, rem ovendo desta for ma o feto.
C om o feto exposto, ainda conectado à placenta por inter m é d io d o fu n íc u lo u m b ilica l, to m a m o s a m ed id a de d istâ n c ia cefalococcígea (CR = “C row n-R um p” ) para auxiliar-nos, juntam ente com outros caracteres, na verificação da idade gestacional.
A pós a identificação do corno uterino gestante e do sexo do feto, seccionávam os o funículo um bilical ao nível de sua conexão com a parede abdom inal, m edíam os o com prim ento do funículo um bilical e a altura (em relação ao feto) da anastom ose interarterial.
C ada peça devidam ente identificada era, a seguir, subm eti da às técnicas utilizadas neste estudo.
No laboratório, as peças eram invertidas, sendo a inversão realizada através da incisão que havíam os utilizado para rem over o feto e os líq u id o s feta is. U m a p ré v ia se c ç ã o dos lig am en to s intercom uais se fazia tam bém necessária para o afastam ento dos dois cornos uterinos.
E sta m an o b ra p erm itiu ex p o r toda a superfície interna do órgão, em p a rticu la r a m em b ran a cório-alantóide, na qual se d is punham os cotiléd o n es e onde se verificava a d istribuição vascular. A se g u ir as peças eram lavadas em água m orna, ao m esm o te m p o em q u e e ra m m a s s a g e a d a s su a v e m e n te em d ire ç ã o à ex tre m id a d e se cc io n ad a do fun ícu lo um bilical, com o objetivo de se e l i m i n a r o s a n g u e r e s id u a l. A p ó s e s s e p r o c e d im e n to , c o lo c á v a m o s u m a c â n u la em c a d a um d os v asos do funículo um bilical e injetávam os lá tex-N eoprene 650 (D uP ont) corado com p igm ento esp ec ífico (S uvinil, G lasurit do Brasil Ltda.), em quatro ton alid ad es de cor: azul e branco para as veias; am arelo e verm elho p ara as artérias um bilicais.
A fixação e a conservação das placentas foram feitas com solução aquosa de form ol a 10% durante 48 horas, no mínimo. Nesta etapa, tom am os os cuidados necessários para distender as peças de form a conveniente à posterior dissecação e docum entação.
RIBEIRO, A.A.C.M.; MIGLINO, M.A.; DIDIO, L.J.A. Pesquisa anatômica sobre o funículo umbilical em bovinos azebuados. B raz. J . vet. Res. anim . Sei., São Paulo, v. 34, n. 6, p. 321-326, 1997.
Tabela 1
Lista dos espécimes estudados e suas características
individuais. (São Paulo, 1995).
OBS. CORNO UTERINO GESTANTE COMPRIMENTO DO FETO (CM) IDADE APROXIMADA DO FETO (MESES) SEXO 01
Direito
2 4 4macho
02Direito
2 3 4fêmea
03Esquerdo
2 5 4fêmea
04Esquerdo
53 6fêmea
05Direito
30 4macho
06Direito
06 2fêmea
07Direito
3 8 5macho
08Direito
22 4fêmea
09Direito
4 7 6macho
10Esquerdo
3 3 5macho
11Direito
3 0 4fêmea
12Direito
22 4fêmea
13Direito
18 3fêmea
14Direito
3 4 5macho
15Esquerdo
4 3 6macho
16Direito
50 6macho
17Direito
2 9 4macho
18Direito
28 4fêmea
19Esquerdo
2 7 4fêmea
2 0Direito
2 6 4macho
21Direito
32 5macho
22Esquerdo
4 8 6fêmea
2 3Direito
5 7 7fêmea
2 4Esquerdo
4 6 6fêmea
2 5Esquerdo
3 4 5fêmea
2 6Esquerdo
4 5 6macho
27Esquerdo
19 3fêmea
28Direito
19 3fêmea
29Direito
17 3macho
30Direito
17 3fêmea
A dissecação foi iniciada pela individualização dos vasos do fun ícu lo um b ilical, retira n d o -se p rim e ira m e n te a m em b ran a cório-alantóide e. a seguir, a gelatina de W harton que se dispunha no seu trajeto.
De cada caso, fizem os um desenho da anastom ose interarterial do funículo um bilical, sendo que os casos considerados m ais interes santes foram fotografados e alguns ilustram este trabalho.
RESU L TA D O S
O funículo um bilical dos 30 bovinos azebuados apresentou, em todos os casos, secção transversal ovóide contendo (A) vasos um bilicais e (B) vasos funiculares.
O com prim ento do funículo um bilical variou de 3 a 43 cm em fetos de 2 a 7 m eses de idade.
As correlaçõ es entre o sexo dos fetos, co m p rim en to dos funículos u m bilicais e a p rese n ça de an asto m o ses interarteriais um bilicais estão expressas na Tab. 2.
Tabela 2
Correlações entre o sexo, o comprimento do funículo e a
presença de anastomose interarterial. (São Paulo, 1995).
OBSERVAÇAO
SEXO
DO FETO
COMPRIMENTO
DO FUNÍCULO
(CM)
ANASTOMOSE
INTERARTERIAL
01
macho
14
Présente
02
fêmea
13
Présente
03
fêmea
13
Présente
04
fêmea
25
Présente
05
macho
19
Présente
06
fêmea
03
Présente
07
macho
11
Présente
08
fêmea
12
Présente
09
macho
13
Présente
10
macho
17
Présente
11
fêmea
15
Présente
12
fêmea
18
Présente
13
fêmea
16
Ausente
14
macho
20
Présente
15
macho
43
Présente
16
macho
20
Présente
17
macho
18
Ausente
18
fêmea
15
Présente
19
fêmea
12
Présente
20
macho
13
Présente
21
macho
16
Présente
22
fêmea
19
Présente
23
fêmea
26
Présente
24
fêmea
16
Présente
25
fêmea
19
Présente
26
macho
19
Présente
27
fêmea
11
Présente
28
fêmea
13
Présente
29
macho
07
Présente
30
fêmea
08
Présente
D ispondo-se os dados de acordo com a ordem crescente da idade dos fetos em m eses de vida intra-uterina, obtêm -se os seguin tes dados:
Tabela 3
Correlações entre a idade fetal, comprimento do funículo
umbilical e presença de anastomose interarterial, com ou sem
ramos funiculares. (São Paulo, 1995).
OBS. IDADE APROXIMADA DO FETO (MESES) COMPRIMENTO ANASTOMOSE D0 FUNÍCULO INTERARTERIAL/ (CM) NÚMERO DE RAMOS FUNICULARES
06
02
03
Presente/ 02 ramos
13
03
16
Ausente
27
03
11
Presente/ sem ramos
28
03
13
Presente/ 01 ramo
29
03
07
Presente/ 01 ramo
30
03
08
Presente/ 01 ramo
01
04
14
Presente/ sem ramos
RIBEIRO, A.A.C.M.; MIGLINO, M.A.; DIDIO, L.J.A. Pesquisa anatômica sobre o funículo umbilical em bovinos azebuados. B raz. J. vet. Res. anim. Sei., São Paulo, v. 34, n. 6, p. 321-326, 1997. (continuação) 0BS. IDADE APROXIMADA DO FETO (MESES) COMPRIMENTO ANASTOMOSE DO FUNÍCULO INTERARTERIAU (CM) NÚMERO DE RAMOS FUNICULARES
02 0 4 13
Presente/ sem ramos
03 0 4 13
Presente/ sem ramos
05 0 4 19
Presente/
01ramo
08 0 4 12
Presente/ sem ramos
11 0 4 15
Presente/
01ramo
12 0 4 18
Presente/
01ramo
17 0 4 18
Ausente
18 0 4
15
Presente/
01ramo
19 0 4 12
Presente / sem ramos
20 0 4 13
Presente /
01ramo
07 0 5 11
Presente/
01ramo
10 0 5 17
Presente /
01ramo
14 0 5 2 0
Presente / sem ramos
21 05 16
Presente / sem ramos
25 0 5 19
Presente / sem ramos
04 0 6 2 5
Presente / sem ramos
09 0 6 13
Presente /
01ramo
15 0 6 4 3
Presente / sem ramos
16 0 6 2 0
Presente /
01ramo
22 0 6 19
Presente /
01ramo
24 0 6 16
Presente / sem ramos
26 0 6 19
Presente /
01ramo
23 0 7 2 6
Presente /
01ramo
C o m o se p o d e o b s e rv a r p e la T ab. 3, a o c o r r ê n c ia de an a sto m o se in te r a r te r ia l u m b ilic a l fo i in d e p e n d e n te d a fa se gestacional e do com prim ento do funículo um bilical.
Vasos u m b ilic a is
Os vasos um bilicais foram contados em núm ero de 4, em todos os 30 casos (100% ), sendo 2 artérias, 2 veias um bilicais e um dueto alantóide, entrem eados pela g elatina de W harton (Fig. I) e rodeados pelo epitélio am niótico.
A s v e ia s o c u p a v a m p o s iç ã o p e r if é r ic a e as a r té ria s dispunham -se, centralm ente, com o dueto alantóide localizado em situação m ediana (Fig. 1).
As veias atravessavam sep arad am en te o anel um bilical e fundiam -se 1-2 cm antes de atingir o fígado.
U m a anastom ose interarterial ocorreu em 28 dos 30 casos, ou seja, 93,33% ± 4,5 (Fig. 2). Esta anastom ose era única nos 30 casos (100%) (Fig. 3).
De acordo com a sua direção, a anastom ose interarterial foi classificada em:
1 ) Transversal: 19 sobre 30 casos, ou seja, 63,33% ± 8,8. 2) Em “V": 7 sobre 30 casos, ou seja, 23,33% ± 7,7. 3) O blíqua: I sobre 30 casos, ou seja, 3,33% ± 3,3. 4) Em “ H ” : 1 sobre 30 casos, ou seja, 3,33% ± 3,3.
De acordo com a altura da anastom ose em relação ao feto, a anastomose interarterial foi assim classificada:
1) A nastom ose interm ediária: 3 casos sobre 30, ou seja, 10,0% ± 5,5.
2) A nastom ose ju sta-placentária: 25 casos sobre 30, ou seja, 83,33% ± 6,8.
Figura 1
Fotografia de um feto (F) de bovino azebuado, com aproxim ada mente 3 meses de idade, unido à placenta (P) através do seu funículo umbilical (fu), mostrando suas porções justa-fetal (jf), in term ediária (i), justa-placentária (jp).
E m nenhum caso, a anastom ose interarterial um bilical foi encontrada na porção justa-fetal do funículo um bilical.
D e a c o r d o co m a p r e s e n ç a ou n ã o d e ra m o s f u n ic u la re s o r iu n d o s d a a n a s to m o s e in te r a r te r ia l, e s ta fo i c l a s s i f i c a d a em :
I ) A nastom ose com ram os funiculares (Fig. 2): 16 casos so bre 30, ou seja, 53,33% ± 9 , 1.
2) A nastom ose sem ram os funiculares: 12 casos sobre 30, ou seja, 40% ± 8,9.
0 núm ero de ram os funiculares originados nas anastom oses variou de acordo com a seguinte distribuição:
1 ) A nastom ose com I ram o funicular: 15 sobre 30 casos, ou seja, 50% ± 9, I (Fig. 4).
2) A nastom ose com 2 ram os funiculares: l sobre 30 casos, ou seja, 3,33% ± 3,3.
O ram o fu n icu lar ou os ram os fun icu lares o riginados da anastom ose interarterial dirigem -se para a placenta, onde vão se d istrib u ir nos cotilédones, nas regiões intercotiledonárias ou em am bos.
RIBEIRO, A.A.C.M.; MIGLINO, M.A.; DIDIO, L.J.A. Pesquisa anatômica sobre o funículo umbilical em bovinos azebuados. lir a /. J . vet. Res. anim . Sei.. São Paulo, v. 34. n. 6. p. 321-326, 1997.
Figura 2
Fotografia da porção justa-placentária do funículo umbilical de bovi no azebuado, mostrando a disposição dos seus vasos entrem ea dos à gelatina de W harton (GA). Pode-se observar tam bém uma anastomose interarterial umbilical (a).
Figura 3
Fotografia dos vasos umbilicais de bovino azebuado, mostrando 2 artérias (A) e 2 veias (V) umbilicais onde se nota a anastom ose interarterial umbilical (a) disposta transversalm ente, de onde se ori gina um vaso funicular (vf), o qual está endereçado à placenta (P).
Em síntese, o funículo um bilical dos bovinos exam inados continha o dueto alantóide, duas artérias e duas veias um bilicais, um a anastom ose interarterial e vasos funicu lares, além d a vasa
v a s o r u m .
D IS C U S S Ã O
O s resu ltad o s po r nós en c o n tra d o s n e sta p e sq u isa serão a se g u ir co te ja d o s com au to re s d iv e rso s q u e e s tu d a ra m o fu n ícu lo u m bilical de ru m in a n tes sob asp e c to s g e n é ric o s, p rin c ip a lm e n te m acro scó p ico s, tais com o: M ig lin o ; D id io 7 (1 9 9 3 ) e M ig lin o et
a l* ( 1994), os q u ais p esq u isaram tal assu n to em b o v in o s de raças
eu ro p é ias (H o lstein e H erefo rd ), e B arclay e t a l.' (1944), q u e se ded icaram a re a liz a r p esq u isa se m e lh a n te em o vinos.
Figura 4
Fotografia do funículo umbilical de bovino azebuado demonstrando a porção justa-placentária (jp) do funículo umbilical (fu) onde se lo caliza uma anastom ose interarterial umbilical (a). Nota-se que um vaso funicular (vf) tom a origem nesta anastomose, dirigindo-se à placenta. P a r tic u la r m e n te e m r e la ç ã o a o s b o v in o s d e o r ig e m in d ia n a , a p e n a s C a ra m b u la e t a l.3 (1 9 9 5 ) p r e o c u p a ra m - s e em e s t u d a r a r a m i f ic a ç ã o e d is p o s iç ã o d a s a r té r i a s e v e ia s do f u n íc u l o u m b ilic a l e d a p la c e n ta em b o v in o s d a r a ç a N e lo re . R e s s a lta m o s a in d a q u e d u ra n te a e la b o ra ç ã o d e ste tr a b a lh o , re c o rre m o s à ú ltim a e d iç ã o d o I n te rn a tio n a l C o m m itte e on V ete rin a ry G ro s s A n a to m ic a l4 (1994), p a ra q u e nos d esse su b s íd io s em r e la ç ã o à c o rre ta n o m e n c la tu ra de a lg u n s te rm o s e m p re g a d o s n e s ta p e s q u isa .
A ssim e m b a s a d o s , u tiliz a m o s a te rm in o lo g ia “ D u e to A lan tó id e” ao invés de “ Ú ra co ” e tam bém “ F un ícu lo U m b ilical” em su b stitu iç ão ao term o “ C o rd ão U m b ilic a l” , com o p refere a m a io ria dos autores por nós co nsultados.
A p ó s e s s a s b r e v e s e l u c id a ç õ e s , p a s s a r e m o s a g o r a a t e c e r c o n s id e r a ç õ e s a c e r c a d e a lg u n s ite n s q u e fo ra m o b je to d e n o s s a s in v e s tig a ç õ e s .
In icialm e n te , a n a lisa n d o os an e x o s feta is, m ais e s p e c ifi ca m e n te dos ru m in a n te s, co n c lu ím o s atra v é s das d e scriçõ e s de M o n ta n é; B o u rd e lle 1' (1917) q u e os m e sm o s são rep rese n tad o s pelo s e n v o ltó rio s fe ta is (có rio , âm n io n e a la n tó id e ) e ain d a pela p la c e n ta e fu n íc u lo u m b ilica l.
D a m esm a fo rm a que aqueles que realizaram estudos se m elh an tes em ru m in a n tes, en c o n tram o s, nos 30 fetos de bovinos az eb u ad o s, o fu n ícu lo u m bilical c o n stitu íd o por 4 vasos u m b ili cais p rin cip ais, ou seja, 2 artérias e 2 veias um b ilicais e ainda um dueto alan tó id e, além de p equenos vasos sang ü ín eo s que co m põem a vasa vasorum . E stes vasos m enores, de acordo com H arper (1 9 4 3 ) a p u d B a rc la y e t a l.' (1 9 4 4 ), são n u trid o re s do d u eto alantóide, porém este, a nosso ver, c o n stitu iria assunto de um outro trabalho, pois; apesar d a p resença constante deles ao redor do dueto a l a n tó id e , n ã o p o d e r ía m o s a f ir m a r q u e o s m e s m o s fo sse m n u tr id o r e s e x c l u s i v o s d e s te d u e to . O b s e r v a m o s a in d a , à sem elh an ça de B arclay et a l.' (1944), to d o s os vasos um bilicais e n tre m e a d o s em to d a a e x te n s ã o d o fu n íc u lo a u m a g elatin a se m iflu id a (g ela tin a de W harton) e todo o co n ju n to en volvido pelo ep itélio am niótico.
RIBEIRO, A.A.C.M.; MIGL1NO, M.A.; DÍDIO, L.J.A. Pesquisa anatômica sobre o funículo umbilical em bovinos azebuados. B raz. J . vet. Res. anim. Sei., São Paulo, v. 34, n. 6, p. 321-326, 1997. S e g u n d o M a rsh a ll6 ( 1 9 5 2 ) , e x i s te m r a m o s n e r v o s o s no f u n íc u lo u m b ilic a l d o s b o v in o s , p o r é m e s te a s p e c to n ão c o n s titu iu o b je tiv o d e s ta d i s s e r ta ç ã o . N o to c a n te ao c o m p rim e n to do fu n íc u lo u m b ilic a l, v e rificam os q u e e le v a rio u d e 3 a 4 3 cm em fe to s de 2 a 7 m e se s de id a d e, com a te n d ê n c ia ao a u m e n to d o r e fe r id o c o m p r i m ento em fu n ç ã o da id a d e . O s a u to re s c o n s u lta d o s faz em uma a lu sã o g e n é r ic a ao c o m p rim e n to do f u n íc u lo u m b ilic a l sem le v a r e m c o n t a a id a d e d o f e to , c o m o p o r e x e m p lo M ontané; B o u r d e lle 1', 1917 (4 0 -4 5 c m ); B a rc la y e t a l . ' , 1944 (20-25 cm ) e B a ro n e 2, 1986 (4 0 -4 5 cm ).
O u tro tó p ic o a se r r e s s a lta d o e q u e m e re c e n o ssa a te n ção esp ecial d iz r e s p e ito a um a c o m u n ic a ç ã o a rte ria l u m b ilic a l já d em o n strad a n os d e s e n h o s d e L e o n a rd o d a V inci (K e e le 5, 1983) e d esc rita a n te rio rm e n te p o r A lb in u s (1748) a p u d Y o u n g 12, 1967, nos ru m in a n te s e no h o m e m . E sta c o m u n ic a ç ã o foi ta m bém o b je to d e e s tu d o de o u tro s a u to re s, ta is co m o P a n ig e l11' (1959) e Y o u n g 12 (1 9 6 7 ). T o d o s o s a u to r e s c i ta d o s tr a d u z ir a m a n o s s o v e r, de fo rm a g e n é r i c a e p o u c o a l u s i v a , o c o m p o r t a m e n t o d a a n a sto m o se i n te r a r te r ia l u m b ilic a l em r u m in a n te s . P u d e m o s e v id e n c ia r q u e , em 28 d o s 3 0 fe to s e x a m in a dos (9 3 ,3 3 % ), a c o m u n ic a ç ã o a r te ria l o c o rr e u n o s b o v in o s conform e re la ta m M ig lin o ; D id io 7, 1993 ( 7 2 ,5 % ) e C a ra m b u la e t a l } , 1995 (7 5 % ). E s s a a n a s t o m o s e f o i s e m p r e ú n i c a n o s b o v i n o s azebuados, re su lta d o q u e n ão se so m a à q u e le e n c o n tra d o po r outros au to re s, os q u a is se re fe re m a a n a s to m o s e s d u p la s em bovinos da raça N e lo re e b o v in o s d as ra ç a s H o lste in e H erefo rd . Q uanto à d ire ç ã o d e s ta a n a sto m o se , v e rific a m o s se r a m e sm a p re d o m in a n te m e n te tr a n s v e r s a l ( 6 3 ,3 3 % ), d a d o q u e e s tá de acordo com os a c h a d o s de M ig lin o ; D id io 1' (1993) em ta u rin o s , mas em d e s a c o rd o co m o s r e s u lta d o s d e C a ra m b u la e t a l } (1995) em b o v in o s da raç a N elo re , o n d e a a n a sto m o se tran v e rsal teve a m esm a in c id ê n ria (3 0 % ) d a a n a sto m o se em fo rm a de “V ” . Em n o sso s a c h a d o s e n a q u e le s d e s c rito s p a ra os b o v in o s de origem e u ro p é ia , a a n a sto m o se “ V ” te v e a se g u n d a m a io r freqüência (2 3 ,3 3 % ).
U m a a n a s to m o s e o b líq u a e u m a a n a s to m o s e em “ H ” ocorreram em a p e n a s 1 d o s 30 c a so s q u e o b s e rv a m o s , e n tre tanto, som ente a q u e la em fo rm a de “ H ” foi m e n c io n a d a p or C aram bula et a l } (1 9 9 5 ) em b o v in o s d a raç a N e lo re , ra ra m e n te (1 caso) tal c o m o o c o rre u n o s b o v in o s az e b u a d o s.
N o to c a n te à s a l t u r a s d a a n a s t o m o s e em r e l a ç ã o ao feto , a s s in a la m o s s e re m e l a s i n t e r m e d i á r i a s em 10% d o s casos p o r n ó s e s t u d a d o s e j u s t a - p l a c e n t á r i a s em 8 3 ,3 3 % . Em n e n h u m c a s o e s te v a s o c o m u n i c a n t e fo i e n c o n t r a d o na p o rç ã o j u s t a - f e t a l d o f u n í c u l o u m b i l i c a l , r e s u l t a d o s e m e lh a n te ao e x a r a d o p o r M i g l i n o ; D i d i o 7 ( 1 9 9 3 ) n o s ta u rin o s.
N a c o rre la ç ã o fe ita e n tre a id a d e fe ta l, c o m p rim e n to do funículo u m b ilical e p re s e n ç a de a n a sto m o se in te ra rte ria l, v e
rific a m o s q u e e s ta c o m u n ic a ç ã o a p a re c e in d e p e n d e n te do c re s c im e n to do fu n íc u lo e id ad e fe ta l, j á q u e, co m o nos m o stra a o b s e rv a ç ã o 6 (Tab. 3), um feto co m 2 m e ses de id ad e a p re se n ta u m a a n a sto m o se in te ra rte ria l co m 2 ram o s fu n ic u la re s e n d e re ç a d o s à p la c e n ta . R e l a t i v a m e n t e à p r e s e n ç a d e r a m o s f u n i c u l a r e s o r i u n d o s d a a n a s t o m o s e i n t e r a r t e r i a l ( 5 3 ,3 3 % ) , n o s s o s r e s u lt a d o s sã o b a s ta n te s e m e lh a n te s à q u e le s d e s c r ito s p o r M ig l in o ; D id io 7, 1993 ( 5 9 ,3 % ) e p o r C a r a m b u la e t a l } , 1995 ( 6 0 ,0 % ) . O n ú m e r o d e r a m o s f u n i c u l a r e s o r i g i n a d o s n a s a n a s to m o s e s v a rio u n o s b o v in o s a z e b u a d o s de I (5 0 % ) a 2 ( 3 ,3 3 % ), p r e d o m in a n d o d e s te m o d o as a n a s to m o s e s c o m I ú n ic o ra m o f u n ic u la r , tal c o m o d e m o n s tr a r a m a n t e r io r m e n te M ig lin o ; D id io 7 (1993) e C a ra m b u la e t . a l } ( 1 9 9 5 ). C O N C L U S Õ E S
Do que acabam os de expor, ju lg am o s poder concluir que: 1) O c o m p r im e n to d o f u n íc u lo u m b ilic a l v a rio u de 3 a 4 3 cm em f e to s d e 2 a 7 m e s e s de id a d e . E x is te u m a c o r r e la ç ã o p o s itiv a e n tr e o d e s e n v o lv im e n to fe ta l e o a u m e n to do c o m p r im e n to do f u n íc u lo ; 2) O s v a s o s u m b ilic a is fo ra m c o n ta d o s em n ú m e ro de 4 em to d o s o s 30 c a s o s ( 100% ) e s tu d a d o s , se n d o 2 a r té ria s e 2 v e ia s u m b ilic a is e um d u e to a la n tó id e e n tre m e a d o s à g e la ti na de W h a rto n . O s fu n íc u lo s e s tã o e n v o lv id o s p e lo e p ité lio a m n ió tic o ; 3) N o f u n íc u lo u m b ilic a l d e s s e s ru m in a n te s , as v eias o c u p a v a m p o s iç ã o p e r if é r ic a e as a rté ria s se d is p u n h a m c e n tr a lm e n te , s e n d o o d u e to a la n tó id e lo c a liz a d o em s itu a ç ã o m e d ia n a . H a v ia v a s o s m e n o r e s q u e c o n s t i t u í a m a v a s a v a s o r u m ; 4 ) U m a a n a s t o m o s e i n t e r a r t e r i a l u m b i l i c a l o c o r r e u e m 2 8 c a s o s s o b r e 3 0 e x a m i n a d o s ( 9 3 ,3 3 % ) ; 5 ) E s t a a n a s t o m o s e i n t e r a r t e r i a l u m b i l i c a l f o i ú n i c a n o s 3 0 c a s o s ( 1 0 0 % ) ; 6 ) D e a c o r d o c o m a s u a d i r e ç ã o , a a n a s t o m o s e in te ra rte ria l foi: tra n sv e rsa l (6 3 ,3 3 % ) em “ V ” (2 3 ,3 3 % ); o b lí q u a (3 ,3 3 % ); em “H ” (3 ,3 3 % );
7) D e a c o rd o com a a ltu ra d a a n a sto m o se em rela çã o ao feto , a an a sto m o se in te rarteria l foi c la ssific a d a em : in te rm e d iá ria (1 0 % ) e ju s ta - p la c e n tá r ia (8 3 ,3 3 % ). Em n en h u m ca so a a n a s to m o s e foi e n c o n tra d a na p o rç ã o ju s ta - fe ta l do fu n íc u lo u m b ilica l; 8 ) D e a c o r d o c o m a p r e s e n ç a o u a u s ê n c i a d e r a m o s f u n i c u l a r e s o r i u n d o s d a a n a s t o m o s e i n t e r a r t e r i a l , e s ta f o i c l a s s i f i c a d a e m : a n a s t o m o s e c o m r a m o s f u n i c u l a r e s ( 5 3 , 3 3 % ) e a n a s t o m o s e s e m r a m o s f u n i c u l a r e s ( 4 6 ,6 6 % ) ; 9 ) O n ú m e r o d e r a m o s f u n i c u l a r e s o r i g in a d o s n as a n a sto m o se s in te ra rte ria is v ariou de I (5 0 % ) a 2 (3,33% ).
RIBEIRO, A.A.C.M.; MIGLINO, M.A.; DIDIO, L.J.A. Pesquisa anatômica sobre o funículo umbilical em bovinos azebuados. Braz. J. vet. Res. anim . Sei., São Paulo, v. 34, n. 6, p 321-326, 1997.
SUMMARY
Morphologic aspects related to disposition and constitution of arteries and veins of the umbilicus funiculus were investigated
in 30 (13 males and 17 females) fetuses of crossbred zebu cattle. The age of the fetuses varied in a range of 2 to 7 months,
and the umbilical vessels were injected with a “650” Neoprene latex solution, properly stained and then dissected. Additionally
to this procedure, the umbilicus funiculus were cut at the juxta-fetal, juxta-placental and at the intermediate portions and were
studied histologically by means of different staining techniques. The length of the umbilical cord varied from 3 to 43 cm in
fetuses 2 to 7 months old. The umbilicus funiculus of the animals studied was constituted by 4 umbilical vessels, i.e., 2
arteries and 2 veins, and by one alantoid duct, and among these formations a large amount of Wharton gelatinous substances
and small essels (vasa vasorum) were observed. All these strctures were involved by the amniotic epithelium. Inter-aterial
umbilical anastomoses were found in 28/30 (93,33%) of the examined animals.
UNITERMS: Funiculus umbilicalis, Bovine, Vessels.
R E F E R Ê N C IA S B IB L IO G R Á F IC A S
1 BARCLAY, A.E.; FRANKLIN, K.J.; PRICHARD, M.M .L. The foetal circulation
and the cardiovascular system and the changes that they undergo at birth.
Springfield, Chalers C. Thom as, 1944. p. 119-49.
2 - BARONE, R. Anatomie com parée des m am m ifères dom estiques. Paris, Vigot, 1986.T.3, p.579-605.
3 - CARA M BU LA , S.; M IGLINO , M.A.; DIDIO, L.J.A.; TEIX EIR A FILHO, A.; SOUZA, W.M. Pesquisa anatôm ica sobre a ram ificação e disposição das ar térias e veias das placentas de bovinos aœ buados. Brazilian Journal of
Veterinary Research and Annimal Science (no prelo).
4 - INTERNATIONAL COM M ITTEE ON VETERINARY GROSS ANATOMICAL. Nom ina Anatôm ica, Histologica, Em briologica Veterinaria. 4. ed. Zurich. World Association o f Veterinary Anatom ists, G ent, 1994, 405 p.
5 - KEELE, K.D. Leonardo da V inci’s elem ents of the science o f m an. New York, A cademic Press, 1983, 158 p.
6 - M ARSHALL, F.H.A. Physiology o f reproduction. 3. ed. London, Longmans, 1952. p. 189-211.
Recebido para publicação: 31/10/95 Aprovado para publicação: 27/3/96 7 - M IG LIN O , M.A.; DIDIO, L.J.A. T he inter-arterial anastom osis in the bovine
funiculus um bilicalis. R evista C hilena de Anatom ia.. v.l I, n.2, p. 111-114, 199.3.
8 - M IGLINO , M A.; DIDIO, L.J.A.; TEOFILO V SK I-PA RA PID , G. Allantoid duct. arterius and veins o f the funiculus um bilicalis in bovines. Revista Chilena
de A natom ia, v. 12, il l, p. 61-4, 1994.
9 - M ONTANÉ, L.; B O U RD ELLE, E. A natom ie regionale des anim aux dom esti ques. II Rum inants. Paris. J.B.Baillière, 1917, p.53-61.
10 - PANIGEL, M. O bservations sur les rapports anatom iques qui s'établissent au cours du développem ent entre les circulations m aternelles et foetales dans le placenta de certains M am m ifères. I. Anatom ie vasculaire du placenta des R ogeurs. II. N ote prélim in aire su r l’an ato m ie vasculaire du cotyledon (placentom e) chez les Bovidés. C om pt. rend. A ssoc. Anat., n.46, p.565- 80. 1959.
11 - ROBERTS, S.J. Veterinary obstetrics and genital diseases (Thcriogenology). W oodstock. Vermont, David and Charles, 1986. 981 p.
12 - Y O U N G , A. On the distribution o f the transverse com unicating artery o f the um bilical cord within the order Arliodactyla. Journal o f Anatomy., v. 102, n.3, p.579, 1967.