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RELATO DE EXPERIÊNCIA DE UM CURSO DE FORMAÇÃO CONTINUADA EM LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS Libras

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RELATO DE EXPERIÊNCIA DE UM CURSO DE FORMAÇÃO CONTINUADA EM LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS – Libras

Rosa Gonçalves de Oliveira Luci Pastor Manzoli Aline Crociari Roberto Antônio Alves

Eixo 6: A Formação de Professores na Perspectiva da Inclusão Introdução

O presente trabalho resulta de um relato de experiência vivenciado por um grupo de integrantes do GEPEB-EDESP* focando a inclusão escolar de alunos surdos, a importância da formação continuada e de reflexões sobre a prática, possibilitando novos conhecimentos e aprendizados.

Estudos bibliográficos tem mostrado que a história da educação de surdos foi permeada de conflitos entre os adeptos do oralismo e do gestualismo. O Congresso de Milão no ano de 1880 foi decisivo para excluir a língua gestual e implantar o oralismo com o argumento de que a língua oral oferecia benefícios para o desenvolvimento do intelecto e essa ideia se propagou pelos continentes. Neste sentido, a educação dos surdos girava em torno de treinamentos fonoarticulatórios, da leitura orofacial e do treinamento oral, com professores e demais profissionais especializados para tais fins, permanecendo até a metade do século XX.

Através da história ficou evidenciado que essa vertente educacional, culminou em resultados insatisfatórios tanto na escolarização, quanto na socialização dos surdos. (Goldfeld, 1997).

Por volta de 1970 o oralismo foi cedendo lugar à Comunicação Total que de acordo com Ciccone (1996, p.6) “implica numa maneira própria de se entender o surdo”, continua a autora argumentando que “é uma filosofia educacional que entende o surdo como uma pessoa, e a surdez como uma marca, cujos efeitos adquirem, inclusive, as características de um fenômeno com significações sociais” (p.7).

Ainda sob a ótica da citada autora, um programa que envolve essa filosofia, dispõe de “uma suficiente liberdade na prática de quaisquer estratégias,

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que permitam o resgate de comunicações, total ou parcialmente bloqueadas” (p.7).

Com a Declaração de Salamanca 1994, que “reafirma o direito a educação de todos os indivíduos independentemente das diferenças individuais”, ficou assegurado “a importância da linguagem de signos como meio de comunicação entre os surdos [...] garantir que todas as pessoas surdas tenham acesso à educação em sua língua nacional de signos (Salamanca, 1994)”.

Garantida por movimentos institucionais mundiais, por estudos científicos sobre a condição linguística dos surdos, e às suas próprias reivindicações, a língua de sinais, numa proposta bilíngue, passou a ser compreendida como a melhor proposta educacional para o surdo. De acordo com Quadros (1997, p. 27) “o bilinguismo é uma proposta de ensino usada por escolas que se propõem a tornar acessível à criança duas línguas no contexto escolar [...] tendo em vista que considera a língua de sinais como natural e parte desse pressuposto para o ensino da língua escrita”.

Diante do contexto, houve avanços das políticas educacionais brasileiras, conforme aponta as determinações da Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000, que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida. O Capítulo VII, Art. 17 e 18, estabelece que cabe ao Poder Público tomar providências, a fim de garantir,

às pessoas portadoras de deficiências sensoriais e com dificuldade de comunicação o acesso à informação, educação (...), incluindo promover ‘a formação de profissionais intérpretes de língua de sinais para facilitar qualquer tipo de comunicação direta à pessoa portadora de deficiência sensorial e com dificuldade de comunicação. (BRASIL, 2000)

O movimento da inclusão intensificou-se na busca de direitos a uma comunidade linguística, alcançando respaldo decisivo com a promulgação da Lei nº 10436, de 24 de Abril de 2002, que reconhece a Língua Brasileira de Sinais – Libras, como a língua oficial da comunidade surda nacional. (BRASIL, 2002).

A Libras passou então a ser a primeira língua das pessoas surdas (L1) -viso/espacial, os quais, compreendem e interagem com o mundo por meio de experiências visuais. E a modalidade escrita da Língua Portuguesa (L2), passa a ser a língua segunda da pessoa surda (BRASIL, 2014).

Nesse sentido, ser surdo é uma experiência visual (SKLIAR, 1999) onde a língua de sinais é a língua materna da criança surda, adquirida de forma

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natural, na qual a criança surda passa a atribuir significado somente pelo o que é visto, necessitando de um ambiente em que a comunicação seja enfatizada na modalidade viso/espacial.

A oficialização da Libras veio fortalecer e garantir os direitos do surdo em receber um ensino que lhe garanta o acesso compatível à sua realidade linguística, conforme exposto no Decreto nº 5.626, de 22 de Dezembro de 2005, que estabelece normas e regras em torno dessa língua, onde o Art. 21 do Capt. V recomenda,

as instituições federais de ensino da educação básica (...) devem incluir, em seus quadros, em todos os níveis, etapas e modalidades, o tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa, para viabilizar o acesso à comunicação, à informação e à educação de alunos surdos. (BRASIL, 2005).

Visando cumprir as determinações do Decreto Federal e de atender esses direitos dentro de uma escola inclusiva, a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, conforme Resolução SE - 38, de 19-6-2009, considera “a necessidade de se garantir aos alunos surdos ou com deficiência auditiva, o acesso às informações e aos conhecimentos curriculares dos ensinos fundamental e médio”. (SÃO PAULO, 2009). Nesse sentido o § 1º do Art. 1º resolve: “Os docentes a que se refere o caput deste artigo atuarão na condição de interlocutor dos professores e dos alunos, nas classes e/ou nas séries do ensino fundamental e médio, inclusive da educação de jovens e adultos (EJA)”. (SÃO PAULO, 2009).

E recomenda no Art. 3º parágrafo V sobre a formação continuada do Professor interlocutor Libras/Língua Portuguesa,

Providenciar, quando necessário em sua região, a qualificação de professores da rede, mediante a realização de cursos de formação continuada em Libras, de no mínimo 120 (cento e vinte) horas, com expedição da certificação correspondente, promovidos por instituições credenciadas pela Secretaria da Educação. (SÃO PAULO, 2009).

A Resolução coloca como finalidade na atribuição do Professor Interlocutor, atender aos objetivos da escolarização de alunos com surdez/deficiência auditiva, contemplando as características do educando.

Conforme aponta o § 2º do artigo 10 daResolução SE - 38, de 19-6-2009 A admissão do docente interlocutor da LIBRAS/Língua Portuguesa assegurará, aos alunos surdos ou com deficiência auditiva, a comunicação interativa professor-aluno no desenvolvimento das aulas, possibilitando o entendimento e o

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acesso à informação, às atividades e aos conteúdos curriculares, no processo de ensino e aprendizagem.

Nesse sentido, o professor deve assumir o compromisso em buscar o domínio da sua prática, para proporcionar condições de aprendizagem a esses alunos.

Para Libâneo (s/d),

[...] a formação continuada pode possibilitar a reflexividade e a mudança nas práticas docentes, ajudando os professores a tomarem consciência das suas dificuldades, compreendendo-as e elaborando formcompreendendo-as de enfrentá-lcompreendendo-as. De fato, não bcompreendendo-asta saber sobre as dificuldades da profissão, é preciso refletir sobre elas e buscar soluções, de preferência, mediante ações coletivas (LIBÂNEO, s/d, p.227).

Como ressalta o PNE (2014), garantir a todos (as) os (as) profissionais da educação básica formação continuada em sua área de atuação, considerando as necessidades, demandas e contextualizações dos sistemas de ensino.

Objetivo

O presente trabalho teve por objetivo relatar as experiências vividas em um curso de formação continuada em Língua Brasileira de Sinais onde a teoria e as práticas se complementaram proporcionando reflexões e vivencias positivas.

Desenvolvimento

Conforme supracitado, com a Resolução Estadual de 2009, criou-se a necessidade de um novo profissional da educação inclusiva no estado de São Paulo. Esse cenário configurou-se na falta de professores capacitados em Libras para assumir o cargo de professor interlocutor, o que levou os autores desse relato a realizar um curso de capacitação.

A primeira autora citada, ao assumir o cargo, logo no início, percebeu que os seus conhecimentos sobre Libras era muito pouco para atuar na condição de interlocutora de aluno surdo. Nesse sentido, seu envolvimento com o GEPEB-EDESP que realiza estudos na área da surdez, deficiência auditiva e Libras,

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visando “uma maior capacitação e conhecimentos exigidos na profissão docente para atender a complexidade social e educacional da contemporaneidade”, foi de grande importância. A mesma passou também a complementar seus conhecimentos com estudos alternativos consultando dicionários, assistindo vídeos e realizando leituras em livros e artigos científicos dentre outros.

Após tomar conhecimento de um curso de formação continuada para professores em um Centro de Capacitação de Profissionais da Educação e Atendimento às Pessoas com Surdez – CAS, localizado em uma em cidade do interior do Estado de São Paulo e autorizado pelo Ministério da Educação – MEC e pela Secretaria Municipal de Educação ingressou-se no referido curso que será descrito a seguir.

Curso de Libras organizado em forma de Oficinas I e II, onde cada oficina tinha carga horária de 60 horas, totalizando 120 horas. As aulas ocorriam semanalmente às segundas-feiras no período noturno, contando com uma professora surda graduada em Pedagogia com especialização na docência em Libras e certificado de proficiência em Libras para ministrar as aulas práticas e uma professora ouvinte pedagoga mestre em educação e coordenadora do referido CAS para ministrar as aulas teóricas.

Oficina I:

Referiu-se aos aspectos teóricos: caracterização da surdez, história da educação dos surdos (Antiguidade, Idade Média, Idade Moderna), Legislação, cultura, identidade e comunidade surda, os 5 parâmetros da língua de sinais.

As aulas práticas tiveram os conteúdos voltados para o cotidiano como: alfabeto manual, identificação pessoal, localização, verbos, vocabulário (família, calendário, cores, escola,...), classificadores, diálogos pertinentes ao conteúdo estudado para a prática no desenvolvimento da conversação em Libras.

O critério de promoção para a Oficina II era através de prova avaliativa dividida em quatro partes, sendo todas realizadas no mesmo dia e organizada da seguinte forma:

Prova teórica escrita (prova dissertativa sobre conteúdo estudado), prova objetiva em Libras (questões feitas em Libras pela professora surda sobre o conteúdo das aulas práticas, devendo ser anotado a alternativa correta) tradução de vídeo em Libras (vídeo em Libras, devendo ser traduzido para o português) e prática individual (gravação de tema sorteado aos alunos, onde os mesmos deveriam interpretá-lo em Libras).

Finalizada a Oficina I com a devida aprovação em todos os itens da avaliação descrita acima, o participante estaria apto a frequentar a Oficina II

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sendo esta voltada para a continuação das aulas teóricas e a prática, voltada principalmente para as atividades diárias para lidar com o aluno surdo.

Oficina II:

Teve como conteúdo para as aulas teóricas o Oralismo, a Comunicação Total, Integração, Bilinguismo, Inclusão, AEE - Atendimento Educacional Especializado e Introdução a Gramática da Libras. As aulas eram interativas e participativas sempre agregando novos vocabulários pertinentes ao assunto estudado, onde a professora ouvinte procurava dialogar em língua de sinais, estimulando a comunicação, levando todos a refletir sobre essa língua. Durante os estudos teóricos, a parte estruturante da língua de sinais se destacou na importância do entendimento da condição linguística da pessoa surda.

As aulas práticas embasaram-se no estudo: das configurações de mãos, metáforas, dinâmicas de interpretação, práticas de conversação, expressão facial (interrogação, negação, intensidade) e corporal, classificadores, verbos/ações e introdução de novos itens lexicais. As aulas eram desenvolvidas de maneira muito participativa, alegre e envolvente, a professora surda utilizava como ferramenta vários vídeos em Libras para enriquecer as aulas e estimular a prática.

Ao final da Oficina II, foi aplicada outra prova avaliativa organizada no mesmo molde da oficina I para certificar no caso de aprovação, a conclusão do curso.

Considerações Finais

O presente curso foi de grande importância para o conhecimento sobre como a Libras funciona, além de fundamental para a reflexão de questões a cerca da prática educacional, bem como a compreensão da identidade e cultura surda, peculiaridades para a convivência diária com o aluno surdo.

Os reflexos pode ser sentido na prática diária, tornando a mediação interlocutor/aluno prazerosa e enriquecedora, o conhecimento adquirido sobre o universo da Libras transformou a rotina pedagógica e social dentro do contexto escolar. A confiança conquistada através do curso pode ser sentida e transmitida ao aluno surdo, de modo que, a formação recebida pelos professores influencia diretamente no desenvolvimento dos alunos (LIBÂNEO, 1998).

A conclusão das 120 horas do curso trouxe também a consciência de que a formação em Libras não estava finalizada, exigindo-se uma constante formação para melhor desempenho profissional.

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Nesse sentido a formação continuada para o professor é de suma importância para a efetivação do processo de inclusão escolar, visando potencializar a qualidade do atendimento oferecido aos alunos surdos e o suporte pedagógico aos professores das salas regulares. A profissão não se resume apenas na decodificação dos sinais ou na transmissão da informação, faz-se necessário trocas de experiências, conhecimentos e adequações entre professor interlocutor/professor de sala regular, professor interlocutor/aluno surdo, para que o objetivo do ensino seja alcançado.

As novas demandas da escola exigem um novo perfil de professor, com uma base formadora que vá além da que este recebeu inicialmente, para que consiga atender as exigências sociais da democracia e no âmbito social de forma igualitária e solidária (MISUKAMI, 2002).

Esse relato mostrou a importância na constante formação do professor interlocutor de Libras para fluência na língua e domínio da prática visando um ensino de qualidade para os alunos surdos.

*Grupo de Estudos e Pesquisa no Ensino Básico e Educação Especial vinculado ao Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Ciências e Letras – UNESP/FCLAr, cujos estudos são voltados para a interface: educação básica, educação especial, atuação docente, práticas pedagógicas, adaptação curricular e formação de professor, bem como produzir e divulgar conhecimentos científicos, acadêmicos e técnico-profissional.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 25 de abr. 2002.

________. LEI No 10.098, DE 19 DE DEZEMBRO DE 2000. Estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências.

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________. Decreto-Lei nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei nº 10.436, de 24 de abril, de 2002, reconhece como língua oficial dos surdos brasileiros a Libras. Brasília: MEC, 2005.

________. LEI Nº 13.005, DE 25 DE JUNHO DE 2014. Aprova o Plano Nacional de Educação - PNE e dá outras providências.

CICCONE, M. Comunicação Total. Rio de Janeiro: Cultura Médica, 1990.

GOLDFELD, Marcia. A criança surda: linguagem e cognição numa perspectiva sócio-internacionalista. São Paulo: Plexus 1997.

LIBÂNEO J.C. Adeus professor, adeus professora?: novas exigências educacionais e profissão docente. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1998.

MIZUKAMI, M.G.N.et.al. Escola e aprendizagem da docência: processo de investigação e formação. São Carlos: EdUFSCar, 2002.

QUADROS, R.M. A educação de surdos: a aquisição da linguagem. Porto Alegre : Artes Médicas, 1997.

________. Relatório sobre a Política Linguística de Educação Bilíngue – Língua Brasileira de Sinais e Língua Portuguesa. Brasília: MEC/SECADI, 2014.

_______. Resolução nº 38 de 19 de junho de 2009. Dispõe sobre a admissão de docentes com qualificação na Língua Brasileira de Sinais - Libras, nas escolas da rede estadual de ensino. Secretaria da Educação do Estado de São

Paulo. Disponível em:

<http://siau.edunet.sp.gov.br/ItemLise/arquivos/38_09.HTM?

Time=8/19/2010%204:12 07%20AM>. Acesso em 11 nov. 2015.

SKLIAR, Carlos (Org.). Atualidade da educação bilíngüe para surdos: interfaces entre pedagogia e lingüística. Porto Alegre: Mediação, vol. I, 1999.

UNESCO. Declaração de Salamanca e Linha de Ação sobre Necessidades Educativas Especiais. Brasília: CORDE, 1994.

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