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Nos últimos anos, inúmeros historiadores têm se destacado por suas pesquisas em Bibliotecas O BRASIL COLONIAL: POSSIBILIDADES INTERPRETATIVAS*

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O BRASIL COLONIAL:

POSSIBILIDADES INTERPRETATIVAS*

* Recebido em: 15.02.2015. Aprovado em: 22.04.2015.

** Graduado em História pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Mestrando na UEM. E-mail: caio-cobianchi@hotmail.com.

*** Doutora em História pela Universidade Estadual Paulista/Assis. Professora de História do Brasil na UEM. E-mail: kamasil@bol.com.br.

N

os últimos anos, inúmeros historiadores têm se destacado por suas pesquisas em Bibliotecas e Arquivos públicos principalmente da Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Pernambuco – fiéis depositários de manuscritos, memórias e outros documentos do Brasil dos séculos da colonização. Segundo Russel-Wood (2001, p. 84), essas instituições são o ‘bred and

butter’ para os historiadores do Brasil colonial, ou seja, provedores vitais de fontes para se conhecer

a História não apenas por meio da discussão historiográfica, mas também por meio de suas fontes primárias, o que lhes oferece novas possibilidades de análise e de interpretação histórica.

Caio Cobianchi da Silva**, Karla Maria Silva***

Resumo: este trabalho pretende analisar duas possibilidades interpretativas acerca do

Brasil colonial. Inicialmente, entenderemos as interpretações tradicionais, como a de Caio Prado Júnior e Fernando Novais, e depois apresentaremos os novos estudos, associados à Escola do Rio, o objetivo é proporcionar ao pesquisador da América portuguesa uma base de apoio metodológico e bibliográfico alternativa àquelas mais clássicas.

Palavras-chave: Brasil colonial. Caio Prado Júnior. Escola do Rio.

COLONIAL BRAZIL: INTERPRETATIVE POSSIBILITIES

Abstract: this article suggests to analyze two interpretative possibilities about colonial

Brazil. Initially we’ll understand the traditional interpretations, such as Caio Prado Júnior and Fernando Novais, then we’ll present the new studies, associated to the Rio’s School, the purpose is to provide to the Portuguese America’s researcher a methodological and bibliographic support base alternative to classical studies.

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A movimentação desses pesquisadores em torno de tais arquivos e documentos tem se desdobrado, marcadamente nas duas últimas décadas, em uma retomada dos estudos do período colonial, os quais, durante um longo período, não tiveram prioridade na agenda de grande parte dos historiadores, ou seja, foram “relegados a um segundo plano pouco honroso”, como escreveu Laura de Mello e Souza (2009, p. 63).

Atualmente, dentre os historiadores brasileiros que têm se destacado por seus trabalhos relati-vos ao Brasil colonial podemos citar alguns a título de exemplo, tais como João Luís Fragoso, Maria Fernanda Bicalho, Antônio Carlos Jucá de Sampaio e Manolo G. Florentino. Pesquisadores estran-geiros também têm ocupado lugar de destaque junto à produção historiográfica referente ao tema, como é o caso do português Nuno Gonçalo F. Monteiro e de Antônio Manuel Hespanha, que apesar de não desenvolverem estudos específicos acerca do Brasil, ao esmiuçarem Portugal da era moderna inevitavelmente acabaram abordando questões referentes à América portuguesa e complementando as investigações sobre o período colonial1.

Esses novos estudos - os quais analisam as mais variadas facetas do período colonial: a econo-mia, a administração, as relações de poder, a diplomacia, os aspectos culturais, etc. - trazem inúmeros e importantes elementos para a compreensão da história do período em questão, mas o aspecto que mais chama atenção é a ruptura com antigas abordagens históricas relacionadas ao Brasil colonial2.

Enquanto as obras tradicionais têm por foco a dependência da colônia em sua relação com o comércio exterior, os estudos de João Luís Fragoso (1998), por exemplo, observam suas estruturas internas, afirmando inclusive a existência de uma relativa autonomia frente às oscilações do mercado externo. Mais do que uma nova concepção, Fragoso confrontou a tese “caiopradiana”, de modo que essa retomada dos estudos coloniais proporcionou não apenas a emergência de novos elementos, mas também o surgimento de novas abordagens.

Assim sendo, um olhar panorâmico sobre os escritos mencionados revelam uma distância significativa entre as novas e as antigas abordagens, o que demonstra uma constante e importante revisão de nossa história. A seguir, veremos as interpretações clássicas acerca do período colonial e, posteriormente, veremos algumas das reflexões mais recentes trazidas pelos historiadores, de forma a demonstrar alguns caminhos para pensar o Império português com suas possessões.

ABORDAGENS CLÁSSICAS

Os estudos de Caio Prado Júnior formaram a base para o entendimento do período colonial, marcando presença em grande parte dos livros didáticos ainda hoje. A teoria de sentido da colonização, segundo a qual o desenvolvimento da economia brasileira esteve vinculado desde os primórdios às necessidades do mercado externo, consolidou-se em uma historiografia que se estendeu até a década de 1980, de maneira pouco contestada (MENDES, 2011, p. 88).

Até a década de 1960, acreditava-se que para compreender os problemas enfrentados pelo Brasil seria necessário recorrer à história e, mais especificamente, ao período colonial, encontrando em sua superação a chave para solucioná-los. Era uma característica da historiografia brasileira não trabalhar com um período específico, mas inter-relacionar passado, presente e futuro (MENDES, 2011, p. 88). É o que chamamos de ensaio3.

Já na Introdução da obra Formação do Brasil contemporâneo, Caio Prado (1961, p. 7) afirma que, em função da organização econômica e social do Brasil colonial, nossa produção era – ainda em 1942, quando escreveu - “extensiva para mercados do exterior” e que se sentia “a falta de um largo mercado interno solidamente alicerçado e organizado”. O historiador via na deficiência do mercado interno um problema histórico, fruto do passado colonial, e na superação deste passado o melhor caminho para o desenvolvimento da nação. Nas palavras do historiador Claudinei Mendes, “é a posição do autor diante das questões de sua época que explica sua interpretação, e não ao contrário” (2008, p. 23).

Vejamos a seguir um trecho em que Prado Júnior (1961, p. 123, grifos do autor) resume sua percepção da economia colonial:

De um lado, na sua estrutura, um organismo meramente produtor, e constituído só para isto: um pequeno número de empresários dirigentes que senhoreiam tudo, e a grande massa da população

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que lhe serve de mão-de-obra. Doutro lado, no funcionamento, um fornecedor do comércio internacional dos gêneros que este reclama e de que ela dispõe. Finalmente, na sua evolução, e como consequência daquelas feições, a exploração extensiva e simplesmente especuladora, instável no tempo e no espaço, dos recursos naturais do país.

Assim, segundo esta perspectiva, teria se construído no Brasil um ambiente voltado às necessidades alheias, caracterizado, sobretudo a partir da efetiva escravização negra, como for-mado em larga escala por grandes unidades produtoras com muitos trabalhadores subordinados a ela (PRADO JÚNIOR, 1961, p. 23). Seriam, portanto, os produtos disponíveis e interessantes ao comércio europeu, os empresários interessados em explorá-los e a mão de obra escrava que resultaram do sentido da colonização e que iriam determinar os rumos da história do Brasil a partir do descobrimento.

Parafraseando uma de suas fontes, que infelizmente possui um autor desconhecido, Prado Junior (1961, p. 120) expõe sua linha de seu pensamento:

As colônias existem e são estabelecidas em benefício exclusivo da metrópole; êste benefício se realiza pela produção e exportação, para ela, de gêneros de que necessita, não só para si própria, mas para comerciar com o supérfluo no estrangeiro; que, finalmente, o povoamento e organização das colônias deve subordinar-se a tais objetivos, e não lhes compete se ocuparem em atividades que não interessam o comércio metropolitano. Admite no máximo, mas como exceção apenas, a produção de certos gêneros estritamente necessários à subsistência da população e que seria impraticável trazer de fora.

Uma vez que a economia colonial se organizava de maneira submissa aos interesses que lhe são exteriores, é inevitável a contradição de interesses entre os polos. Caio Prado, com a teoria de sentido

da colonização, quis mostrar que tudo, ou pelo menos os fatores de primeira ordem, teria girado em

torno de uma mola mestra, que é a economia, que se volta ao mercado externo. Nas suas palavras: “tudo mais que nela existe, e que é aliás de pouca monta, será subsidiado e destinado unicamente a amparar e tornar possível a realização daquele fim essencial” (1961, p. 113). Desta maneira, as pequenas propriedades, o trabalho autônomo e a produção para subsistência seriam de importância ínfima se comparadas às grandes propriedades, de monocultura e mão de obra escrava, destinadas a fornecer minérios e gêneros tropicais para a Europa.

Também Fernando Novais é expoente desta historiografia e compartilha da visão de que o desenvolvimento da colônia depende dos fatores externos, mas avança a discussão sugerindo que a exploração correspondeu à acumulação primitiva de capital na Europa4. Em suas palavras,

O monopólio do comércio das colônias pela metrópole define o sistema colonial porque é através dele que as colônias preenchem sua função histórica, isto é, respondem aos estímulos que lhes deram origem, que formam a sua razão de ser, enfim que lhe dão sentido (NOVAIS, 1969, p. 51, grifos do autor).

Entende-se que o caráter mercantil da Metrópole condenava o desenvolvimento interno da Colônia em prol de seus próprios interesses, ou seja, para enriquecer a Metrópole subordinava a Co-lônia por meio uma política exclusivista e autoritária de extração de riquezas. Tudo isso se inseria no contexto mais geral de acumulação primitiva de capital, pois

uma parte significativa da massa de renda real gerada pela produção da colônia é transferida pelo sistema de colonização para a metrópole e apropriada pela burguesia mercantil; essa transferência corresponde às necessidades históricas de expansão da economia capitalista de mercado na etapa de sua formação (NOVAIS, 1969, p. 52).

Entendemos, com isso, que estes historiadores elaboraram uma tradição historiográfica que tem como princípio entender a história do Brasil em sua relação com a história de Portugal. Mais que isso, entendem que as estruturas econômicas da colônia desenvolveram-se em prol da Metrópole e da conjuntura histórica na qual esta se inseria. Para Novais, “é desta estrutura básica que, a nosso ver,

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se tem de partir, se se pretende compreender os movimentos históricos, em os seus níveis, dos três séculos de nossa formação colonial” (NOVAIS, 1969, p. 62).

NOVAS INTERPRETAÇÕES

A partir de 1970, e com maior veemência após a década de 1990, alguns historiadores, vinculados à denominada Escola do Rio, buscaram analisar o período colonial de modo a repensar algumas con-siderações de autores como Caio Prado Júnior e Fernando Novais. Um dos principais objetivos destes pesquisadores foi o de demonstrar que “a empresa colonial fez aparecer sociedades com estruturas internas que possuem uma lógica que não se reduz à sua vinculação externa com o comércio atlântico e com suas respectivas metrópoles políticas” (CARDOSO; BRIGNOLI apud FRAGOSO, 1998, p. 28). De acordo com tais estudos, a colônia teria desenvolvido mecanismos que asseguraram certa independência ao mercado externo e, além disso, notou-se que o controle exercido pela Metrópole não era total, sendo frequentemente contrariado pelos órgãos políticos locais5. Nas

pala-vras de Russel-Wood (2001, p. 14):

O que os historiadores têm demonstrado é que a visão de pacto colonial, baseada em posições dualistas, polarizadas, ou mesmo bipolarizadas, necessita ser recolocada a partir de uma pers-pectiva mais aberta, mais holista e flexível, que seja mais sensível à fluidez, permeabilidade e porosidade dos relacionamentos pessoais, do comércio, da sociedade e do governo dos impérios, assim como da variedade e nuança de práticas e crenças religiosas.

A partir do momento em que o foco deslocou-se da dicotomia entre Metrópole e Colônia, os estudiosos puderam analisar a dinâmica interna da colônia, que estava mais de acordo com as neces-sidades dos homens que ali viviam. De acordo com Mendes, dentre as principais conclusões destes estudos encontram-se o da existência de um mercado interno com grande dimensão, além da cons-tatação de que, a partir de determinado momento, o controle do tráfico de escravos passou a ser feito a partir da colônia (2011, p. 101). Tudo isso possibilitou a acumulação interna de capital, contrariando a noção de que todo nosso excedente era exportado para a Metrópole.

Vale ressaltar que os estudos da Escola do Rio não negam totalmente a perspectiva “caiopra-diana”. Logo na introdução de Homens de Grossa Aventura, Fragoso ressalva que o escravismo e a exportação eram traços estruturais mais amplos da economia, contudo, esta era mais complexa do que os modelos explicativos tradicionais pressupunham, pois possuía outros traços estruturais, como formas de produção para além da escravista e monocultora (FRAGOSO, 1998, p. 25).

Está para além do limite deste trabalho explicar todos essas formas de produção, todavia, podemos afirmar que, a partir desta perspectiva, a sociedade colonial se torna mais complexa, por não reduzi-la a sua relação com a Europa mercantilista. É preciso entender que a colônia desenvolveu estruturas que nem sempre estiveram voltadas para fora e que muitas de suas instituições estariam de acordo com as necessidades internas da sociedade colonial.

Contudo, para compreender a lógica interna desta sociedade, temos que levar em conta a in-serção do Brasil colônia como parte constitutiva do Império ultramarino português. Isto significa que os homens de todo Império compartilhavam determinadas visões de mundo, devido à intensa circulação de homens, ideias e mercadorias. Estes pesquisadores afirmam que apesar das singula-ridades presentes em cada possessão, as mesmas “acabaram resultando na formação de sociedades reguladas pela economia e pela cultura política do Antigo Regime português” (FRAGOSO; BICALHO; GOUVÊA, 2001, p. 23-4).

Este conceito refere-se, segundo Vainfas (2001, p. 44), a uma sociedade “estruturada por uma complexa hierarquia de status, em que nem sempre a riqueza exercia papel determinante, e na qual era a busca de distinção que comandava as aspirações de ascensão social”. A reprodução desta so-ciedade hierarquizada dependia, sobretudo, de favores régios, pois, enquanto a Coroa assegurava sua grandeza, tornando os diversos segmentos da sociedade dependentes de seus favores, ela determinava quem seria incluído ou excluído da participação no Império. Segundo Russel-Wood (2001, p.16-7), “na raiz deste processo emergia o sistema que caracterizava o Antigo Regime e que assumia a forma

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de mercês reais, de doações régias, concessões de direitos monopolistas, concessão de privilégios e grupos corporativos e isenções a outros setores”.

Como visto anteriormente, segundo Novais (1969), a época dos descobrimentos significava para a Europa a transição da economia feudal para a capitalista, por meio da acumulação primitiva de capi-tal. Todavia, os estudos de João Luís Fragoso (1998) vão à contramão desta interpretação, mostrando que as conquistas no além-mar favoreceram a permanência das antigas estruturas e não a transição.

A sociedade portuguesa da época dos descobrimentos seria essencialmente aristocrática e os privilegiados tinham, certamente, interesse em manter a ordem. Quando Portugal foi atingido pela depressão agrária, a nobreza debilitada viu na centralização do Estado uma possibilidade de subsis-tir. Assim, o Estado centralizado pôde recolher os impostos sobre o total da população e acumular recursos suficientes para investir no mercado. Todavia, ao atuar como empresário, o Estado incen-tivava o crescimento da burocracia e não da produção, surgindo “como variável fundamental para a reprodução da sociedade pré-capitalista” (FRAGOSO, 1998, p. 81).

A partir deste momento, três estamentos teriam se configurado: o Estado, passando a atuar como empresário; a aristocracia, disposta a se mercantilizar; e a burguesia, que viu na associação com o Estado a possibilidade de aristocratizar-se, alcançando posições de prestígio na sociedade. Entende-se com isso que o investimento nos negócios do além-mar tinha por objetivo: “o surgimento e a manu-tenção de uma estrutura parasitária, consubstanciada em elementos como a hipertrofia do Estado e a hegemonia do fidalgo-mercador e de sua contrapartida, o mercador-fidalgo” (FRAGOSO, 1998, p. 81).

Desta forma, encontramos, por um lado, a interpretação de Novais, segundo a qual os des-cobrimentos dariam início a uma nova fase na história de Portugal, com a ascensão da burguesia e encadeamento do capitalismo e, por outro, a análise de Fragoso, demonstrando que os descobrimen-tos favoreceram a permanência das estruturas. Além disso, mesmo a burguesia, condicionada a uma ótica de Antigo Regime, buscaria inserir-se nos meios aristocráticos reanimando a antiga ordem. Esta consideração é de suma importância para compreender a sociedade colonial, já que os homens que para lá se dirigiam estavam imersos nesta realidade. Nas palavras de Russel-Wood (2001, p. 16), com os novos estudos “destaca-se uma reavaliação do Antigo Regime e do grau no qual o Brasil e outras partes do império encontravam-se perpassados pelas mentalidades e práticas do Antigo Regime”.

Podemos destacar então duas contribuições de pesquisa oferecidas pela Escola do Rio para se pensar a América portuguesa: primeiramente, a análise de mecanismos internos da sociedade colonial, buscando entender como os homens que para cá vieram desenvolveram mecanismos e instituições que estavam de acordo com suas reais necessidades; por segundo, refletir sobre como as práticas e costumes oriundas da Metrópole refletiram na sociedade colonial e a configuraram.

CONCLUSÃO

Neste trabalho buscamos fornecer uma visão geral de duas possibilidades interpretativas acerca da América portuguesa. Não pretendemos analisar detalhadamente a historiografia relacionada ao tema, mas apenas apontar algumas de suas características, sem esgotar as contribuições proporcio-nadas pelas correntes aqui mencioproporcio-nadas.

Em um primeiro momento, a historiografia buscou analisar a relação entre a Metrópole e sua possessão no Atlântico Sul com base em uma contradição de interesses, a primeira seria a melhor beneficiada, criando mecanismos autoritários de extração de riquezas. Historiadores preocupados com o desenvolvimento da nação encontraram no passado uma explicação para os problemas enfrenta-dos pela sociedade, para eles a economia brasileira esteve por muito tempo subordinada a interesses exteriores e não aos de sua população.

Para historiadores como Fernando Novais (1969), por exemplo, a análise de nossa história só pode ser realizada se inserida no contexto mercantilista da Europa. A colônia possui uma razão de ser, que é enriquecer sua Metrópole, e sua lógica e instituições realizam-se neste sentido.

Contudo, pesquisas mais recentes acerca do período colonial, sobretudo aquelas realizadas por historiadores da Escola do Rio, propõem compreendê-lo lançando mão de novos conceitos e metodologias. Não consideram ser suficiente para entender as estruturas da América portuguesa sua relação com a Europa mercantilista, até porque a legislação metropolitana não exercia um poder total

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sobre sua colônia, abrindo espaço para que os colonos agissem de acordo com suas condições de vida diárias. Assim, novas possibilidades de pesquisa se apresentam ao considerarmos as formas de agir e pensar do homem colonial.

Notas

1 Destacamos como obras referentes ao tema: Homens de grossa Aventura (FRAGOSO, 1998); A Cidade e o Império (BICALHO, 2003); Na Encruzilhada do Império (SAMPAIO, 2003); Em Costas Negras (FLOREN-TINO, 1992); Elites e Poder (MONTEIRO, 2003) e Poder e Instituições no Antigo Regime (HESPANHA, 1992).

2 Como “antigas abordagens” compreende-se aqui aquelas feitas a partir da interpretação de Caio Prado Junior e de seus “discípulos” – como se costuma dizer – entre os quais se coloca Fernando Antônio Novaes. Em contrapartida, as “novas abordagens” seriam aquelas oriundas dos novos estudos mencionados.

3 Para se aprofundar na questão relativa aos ensaios recomendamos a leitura do artigo “O ensaísmo na his-toriografia brasileira” (MENDES, 2012).

4 Segundo Claudinei Mendes, é comum “atribuir-se a Caio Prado a afirmação de que as colônias eram ins-trumento de acumulação primitiva de capital nas metrópoles, o que é específico de Novais”. (MENDES, 2011, p. 99).

5 Se referindo às abordagens clássicas, Júnia Furtado esclarece que “para eles, a Metrópole não podia permitir que a classe dominante colonial usufruísse das riquezas locais, drenadas para a burguesia mercantil me-tropolitana. Nesta medida, um conflito latente se estabelecia entre as duas classes, intercedido pela Coroa, que buscava a transferência dessas riquezas para dentro dos limites da nação, o que só podia ser feito por meio de uma política despótica e autoritária” (FURTADO, 2006, p. 17).

Referências

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FURTADO, Júnia Ferreira. Homens de negócio: a interiorização da metrópole e o comércio das minas

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