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1 Trabalho apresentado no NP01 – Núcleo de Pesquisa Teorias da Comunicação, XXV Congresso Anual em Ciência da Comunicação, Salvador/BA, 04 e 05. setembro.2002.

Enfoques teóricos dominantes nas Ciências da Comunicação e os

distintos olhares sobre o receptor

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Juçara Brittes*

*Professora do curso de comunicação social – jornalismo, da Universidade Federal do Espírito Santo; formada em Comunicação social (UFMG) e Antropologia social (Paris IV); mestre em Comunicação Social pela Umesp; doutoranda em Ciências da Comunicação pela ECA/USP

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1 Trabalho apresentado no NP01 – Núcleo de Pesquisa Teorias da Comunicação, XXV Congresso Anual em Ciência da Comunicação, Salvador/BA, 04 e 05. setembro.2002.

Resumo:

Comentário a respeito dos diferentes significados que o termo receptor recebe conforme

os enfoques teóricos predominantes

nas Ciências da Comunicação – desde as hipóteses da cibernética até os estudos culturais contemporâneos, chegando a seu status presumível na era do ciberespaço

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1 Trabalho apresentado no NP01 – Núcleo de Pesquisa Teorias da Comunicação, XXV Congresso Anual em Ciência da Comunicação, Salvador/BA, 04 e 05. setembro.2002.

1. Introdução

A primeira questão que se coloca ao buscarmos identificar o receptor no interior das teorias elaborados no campo da comunicação social remete à nomenclatura, isto é, ao termo utilizado pelos pensadores para referirem-se ao sujeito - o ser que, implícita ou explicitamente, está envolvido no universo da comunicação, e que tem uma natureza diversa da do emissor. Ele flutua de receptor a espectador e ouvinte; oscila de público alvo a consumidor, sendo tratado pelos estudos de natureza filosófica ora enquanto sujeito, ora enquanto objeto, ou é, ainda, visto em uma interação entre ambos. Significa que o termo esbarra em limites semânticos, como esclarece Sousa (1995, p.14) assim como nas fronteiras dos pressupostos teóricos pelos quais foram introduzidos.

A questão fundante, no entanto, remete à natureza deste elemento e esta encontra-se intimamente vinculada aos objetos de estudo. Tenha-encontra-se preencontra-sente que a palavra receptor tem circulado entre as diferentes teorias com significados distintos. Neste trabalho

pretendemos entender a diversidade de naturezas, ao mesmo tempo em que buscaremos nos situar em cada um dos paradigmas dominantes no segmento da comunicação. E aqui encontramos um outro problema. O que se refere à classificação. Cada autor organiza as contribuições acadêmicas segundo critérios próprios, não havendo consenso sequer sobre o fato das mesmas corresponderem ou não a paradigmas (ao ponto de vista khuniano). Sem pretender respostas definitivas, buscamos compor uma linha de raciocínio somando aportes de intérpretes das teorias comunicacionais, com o propósito de identificar as raízes dos estudos de recepção e o status ocupado pelo indivíduo nos diferentes estudos.

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1 Trabalho apresentado no NP01 – Núcleo de Pesquisa Teorias da Comunicação, XXV Congresso Anual em Ciência da Comunicação, Salvador/BA, 04 e 05. setembro.2002.

1- Olhar cibernético

Variante da visão sistêmica, este enfoque destina-se a estudar os mecanismos de comunicação e de controle tanto de máquinas quanto de seres vivos. É a ciência dos sistemas dirigidos e controlados e estuda, particularmente, os mecanismos da finalidade que comanda a evolução de um sistema . Considera que todos os elementos da cadeia comunicacional são interdependentes, isto é, que alterações a um único nível da mesma repercutem no conjunto da organização. (LARAMÉE et VALLÉE 1991, p. 68 e 69).

Tratando-se de modelo matemático, quantitativo, analisa o processo de

comunicação de modo linear, em cujas extremidades estão emissor e receptor, havendo informações circulantes. Para Marques de Melo (1998, p.84), a cibernética é a ciência que estuda o processo de obtenção do máximo de informação com o mínimo de deformação, de onde depreende-se que o sujeito é o destinatário das informações. Está reconhecido dentro do processo, no entanto não é alvo de estudos específicos, de natureza qualitativa a respeito de sua participação.

2. Olhar behavorista

Os estudos de comunicação com base no behavorismo centram-se na questão estímulo-resposta. Os meios de comunicação são tidos como poderosos instrumentos de estímulo face aos indivíduos - frágeis e vulneráveis. Este enfoque mantém o receptor na condição de destinatário, pois entende que seu comportamento pode ser alterado conforme a informação recebida. O comportamento do destinatário seria distinto caso o dado

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1 Trabalho apresentado no NP01 – Núcleo de Pesquisa Teorias da Comunicação, XXV Congresso Anual em Ciência da Comunicação, Salvador/BA, 04 e 05. setembro.2002.

Para Attallah (1994, p. 55) estes estudos alargam o olhar sobre o receptor, pois nascem da inquietação frente aos fenômenos aparentemente inéditos que são a cultura e a sociedade de massa, por meio de estudos atinentes a publicidade e a propaganda. Estes dois ramos geradores de produtos informativos levantam, de modo direto, a questão das relações entre as mensagens, as técnicas de comunicação e a subjetividade humana.

3- Olhar funcionalista

Os postulados funcionalistas merecem mais espaço neste texto uma vez que, em nosso ponto de vista, encerram maior número de contribuições às ciências da comunicação e inauguram estudos específicos sobre o sujeito da comunicação. E como adverte Souza (1998, pp 39 - 46) o termo é ainda hoje influenciado pelos pressupostos dessa corrente.

O principal fundamento deste paradigma consiste no entendimento da sociedade enquanto uma totalidade orgânica, na qual os diversos elementos são explicados pela função que assumem (LARAMÉE et VALLÉE, 1991, p.70). A comunicação de massa constitui um dos fenômenos sociais pertinentes a esse gênero de análise, em cujo seio foram desenvolvidas teses como a da seringa hipodérmica (bullet theory). Inspira vários conjuntos de pesquisas dedicadas ora ao estudos do emissor, ora da mensagem e a respeito da audiência e seus efeitos. Paul Attallah (1994, p. 49 e seguintes) defende que a interrogação behavorista assemelha-se "estranhamente" a esta, pois ambas colocam a questão das relações possíveis entre os sujeitos (seres humanos) e os meios massivos. A principal diferença entre as duas concepções a respeito do receptor são que os primeiros o

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1 Trabalho apresentado no NP01 – Núcleo de Pesquisa Teorias da Comunicação, XXV Congresso Anual em Ciência da Comunicação, Salvador/BA, 04 e 05. setembro.2002.

consideram frágil, vulnerável ao estímulo dos meios. Os funcionalistas emprestam-lhe relativa autonomia e liberdade.

Pode-se distinguir modos diversos de encarar o sujeito no interior do paradigma funcionalista.

3.1 O funcionalismo clássico, de Paul Lazarsfeld e Robert Merton, cujos estudos desenvolvem-se na Inglaterra dos anos 30 e 40, entendem o sujeito como um ser autônomo e racional, cuja principal característica é sua capacidade de distinguir vozes e mensagens que recebe. Sua principal motivação é melhorar seu modo de vida. Ele percebe o que é verdadeiro ou falso para ele, segundo seus valores e crenças e o que está ou não em conformidade com a tradição de seus grupos de pertencimento.

(ATTALLAH, 1994, p.312). No entanto, embora conciliando uma visão qualitativa da recepção com a ação dos meios, os trabalhos sobre a "audiência" ainda se apoiam sobre a hipótese de um indivíduo concebido como receptor puro, exposto às irradiações dos meios, de onde a ação deverá ser cada vez mais dominada pelos criadores, programadores e operadores. (LOPES, 1993, p. 79 -80). Responderiam a pergunta "o que os meios fazem com os indivíduos"?.

3.2 O funcionalismo dos usos e gratificações, estudos que tiveram entre os principais teóricos Katz e Foulkes, objetivaram a maximização dos efeitos dos meios sobre os indivíduos. Tentam responder quais os benefícios obtidos pela experiência do receptor com os meios. Aqui o sujeito é dotado de maior autonomia, racionalidade, e busca nos meios um modo de satisfazer suas necessidades. (ATTALLAH, 1994 - LOPES, 1993)

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1 Trabalho apresentado no NP01 – Núcleo de Pesquisa Teorias da Comunicação, XXV Congresso Anual em Ciência da Comunicação, Salvador/BA, 04 e 05. setembro.2002.

3.3 O funcionalismo de Palo Alto vem acrescentar a visão psicanalítica que faltava ao sujeito funcionalista, em estudos que podem situar-se au carrefour entre o

funcionalismo e o modelo cibernético. Distingue-se dos outros enfoques por elaborar uma teoria da comunicação humana e interpessoal, no lugar de uma teoria geral da sociedade, perseguida pelos demais. Aqui o indivíduo patogênico da psicoterapia paloaltista corresponde ao indivíduo imaginado pelo funcionalismo clássico, mas que teria sucumbido à torrente de mensagens mediáticas contraditórias. Procura dizer o que ocorre quando a autonomia e a racionalidade dos indivíduos são comprometidas - transita no imobilismo, na indecisão, no sofrimento e no paradoxo. A forma de evitar esse resultado é conformar-se com as normas sociais. (ATTALLAH, 1994, p.153)

3. Olhar frankfurteano ou da teoria crítica

Cabe salientar que na interpretação de Mauro Wolf1 os estudos de comunicação são classificados segundo suas motivações, daí a distinção que elabora entre os

administrativos (os inspirados por instituições empresariais visando maximizar sua potencialidades) e os críticos ( que se atém sobretudo à sociedade e ao papel que meios e mensagens desempenham junto a ela e a seus componentes). Já outros autores referem-se à Escola de Frankfurt, simplesmente, pela riqueza de abordagens e contribuições que aporta ao universo acadêmico.

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1 Trabalho apresentado no NP01 – Núcleo de Pesquisa Teorias da Comunicação, XXV Congresso Anual em Ciência da Comunicação, Salvador/BA, 04 e 05. setembro.2002.

Para Attalah, ela nasce no cruzamento do marxismo com a psicanálise ortodoxos, na década de 30. Passa por inúmeras fases até chegar em Jürgen Habermas. O sujeito aqui merece profunda reflexão. Ele nasce da família burguesa clássica, cujas

características essenciais são a afetividade maternal incondicional e a proteção paterna. Entende que o sujeito ideal é degradado pelas três grandes formas de arranjo social, que são o totalitarismo fascista, o totalitarismo comunista e "joie affirmative americaine", que pode ser resumida no vocábulo autoritarismo. (ATTALLAH, 1994, p. 191)

Na leitura de Wolf (edição 1995, p.76 e seguintes), o sujeito, na era da indústria cultural2, deixa de decidir autonomamente. Ele passa a ser um consumidor, ou seja, não é mais o sujeito, mas o objeto da indústria cultural. A sociedade é sempre vencedora. O sujeito não passa de um fantoche manipulado pelas normas sociais.

Sua principal qualidade é, para ATTALLAH, querer recriar na esfera pública a perfeição dos sentimentos da esfera privada. É motivado pela busca de um estilo de vida ético.

Outro momento da Escola de Frankfurt é associado ao surgimento da Teoria da Ação Comunicativa, ou do agir comunicativo, de Habermas, defendida nos anos 60, na Alemanha. O sujeito é dotado, neste momento, de racionalidade enraizada na estrutura do trabalho e da comunicação. Habermas distingue o saber tecnológico

necessário à sobrevivência da espécie humana do saber tecnológico tornado ideologia global do capitalismo, cuja função é privar a espécie humana de sua capacidade decisória.

2 Outra contribuição importante desta Escola, principalmente com Adorno e Horkheimer, é a mudança de

enfoque a respeito da comunicação de massa, adotando a expressão indústria cultural, com sua carga específica de significados.

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1 Trabalho apresentado no NP01 – Núcleo de Pesquisa Teorias da Comunicação, XXV Congresso Anual em Ciência da Comunicação, Salvador/BA, 04 e 05. setembro.2002.

Imagina uma esfera pública democrática e igualitária tendendo a solucionar os problemas humanos por meio do diálogo (competência comunicativa).

5. Outras visões

O fato de criarmos classificações implica sempre em reduções, daí a necessidade de abordarmos, ainda que sem a merecida atenção, outras contribuições ao tema da construção do receptor ao longo da história das ciências da comunicação. De correntes de pensamento a autores que fogem a modelos por elas estabelecidos, como Marshal

McLuhan. Sobre ele Wolf dedica capítulo especial, assim como muitos o fazem a respeito de Habermas, apesar de encaixado por outros na Escola de Frankfurt.

Cabe referir-se, aqui, ao estruturalismo inaugurado por Claude Lévi-Strauss, na França entre os anos 40 e 50. Ao analisar a sociedade a partir da leitura das línguas, mitos, relações de parentesco e sistemas de oposição, encontra na figura de Édipo o perfil ideal do sujeito, ou receptor. Ao substituir explicações sobre a lógica das sociedades pela natureza da lógica organizacional que governa todas as sociedades e todos os

comportamentos humanos, destrói o antigo sujeito, então objeto de reflexões filosóficas e éticas. Ele não é mais autônomo, pois é governado pelas estruturas, que lhe escapa, mas da qual ele não consegue escapar. É o próprio Édipo, filho, marido, rei, patricida, culpado, inocente. A regra das regras é a proibição do incesto, pois representa, para Strauss, a passagem da natureza para a cultura.

Em reação ao estruturalismo, surge a semiótica, que alguns colocam como escola sociológica européia, iniciada nos anos 60 por Roland Barthes. O sujeito não é mais influenciado pelas determinações: volta a ter autonomia. Ele se determina pelo uso

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1 Trabalho apresentado no NP01 – Núcleo de Pesquisa Teorias da Comunicação, XXV Congresso Anual em Ciência da Comunicação, Salvador/BA, 04 e 05. setembro.2002.

da razão. É evidente que esta corrente não se esgota em Barthes. A ela também se aliam Umberto Eco, Edgard Morin, Jean Baudrillard e outros. No entanto não nos ateremos a estes autores, passando, a seguir, a dados a respeito dos estudos culturais, já que alguns deles também podem inserir-se nessa linha de pensamento.

Antes vale abordar o que Wolf (1995, p.71) denomina de estudos culturológicos, referindo-se a estudos inaugurados em 1962 por Edgar Morin, em reação à teoria da comunicação de massa. Neste autor observa-se aproximações à teoria hipodérmica, vendo na realidade diálogos entre o prolixo e o mudo. O último é o consumidor, que responde com reações pavlovianas , com sim ou não, o que determina o sucesso ou o insucesso do "prolixo".

Sousa (1998, pp 44 e 45) refere-se ainda a outras contribuições, como as da École des Annales, que procura identificar "como universos distintos se unem a gestos e pensamentos que circulam na leitura de textos, criando uma aproximação diferencial da leitura". A recepção também é estudada pela Escola de Constança, conforme o mesmo autor. O fio analítico é a leitura, pela qual há questionamento e reinterpretação por parte do leitor. Há portanto, inúmeras abordagens sobre o receptor, mas nos ateremos às predominantes.

5.1 Olhar dos estudos culturais

Conhecida com Cultural Studies, ou teoria dos mass media, esta abordagem surge

na Inglaterra, por volta dos anos 50, em torno do Centre for Contemporary Studies of

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1 Trabalho apresentado no NP01 – Núcleo de Pesquisa Teorias da Comunicação, XXV Congresso Anual em Ciência da Comunicação, Salvador/BA, 04 e 05. setembro.2002.

Nos trabalhos sobre a produção dos mass media enquanto sistemas complexos de práticas determinantes para a elaboração da cultura e da imagem da realidade social;

Nos estudos sobre consumo da comunicação de massa enquanto espaço de

negociação entre práticas comunicativas extremamente diferenciadas. (Wolf, 1995, p. 97) Lopes (1993, p. 81) admite que os estudos culturais permitem uma

problematização mais elaborada da recepção, na qual as características sócio-culturais dos usuários são integradas na análise não de uma difusão, mas de uma circulação de mensagens no seio de uma dinâmica cultural. O pólo da reflexão é progressivamente deslocado dos próprios meios para os grupos sociais que estão integrados em práticas sociais e culturais mais complexas.

Autores como Hoggart, Williams e Hall analisam a produção e a recepção das mensagens massivas dentro de um quadro semiótico (inspirado no marxismo) e colocam a questão da recepção como prática complexa de construção social de sentidos.

Sousa (1998, p. 44) classifica os estudos culturais como "uma das pistas mais interessantes trilhadas nos dias atuais para a análise das práticas de recepção exatamente pelo olhar ressignificado com que propõem abordar a temática".

Na América Latina os estudos culturais surgem nos anos 80, "no bojo de um forte movimento teórico-crítico que procurava uma reflexão alternativa às análises funcionalistas, semióticas e frankfurteanas predominantes até então" (LOPES, 1993, p.83).

Seus eixos básicos de reflexão são o deslocamento dos meios para as mediações (Jesús Martín Barbero), e os processos de hibridização cultural ( Nestor Garcia Canclini).

É a partir dessas reflexões que os estudos sobre recepção são retomados atualmente, formando o que tem sido denominado novos olhares sobre a recepção.

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1 Trabalho apresentado no NP01 – Núcleo de Pesquisa Teorias da Comunicação, XXV Congresso Anual em Ciência da Comunicação, Salvador/BA, 04 e 05. setembro.2002.

aproximação das temáticas cultura, política e comunicação conferem novo status ao sujeito, agora definitivamente autônomo, ligado a uma pluralidade de espaços públicos parciais, no seio do qual a comunicação intervém na condição de elo negociador dos conflitos das sociedades democráticas emergentes.

5.2 A era do ciberespaço

Os enfoques teóricos até então observados, malgrado buscar atender às demandas epistemológicas advindas da evolução dos processos comunicacionais, apresentam-se insuficientes para analisar o novo ser que se apresenta no modo comunicacional em rede. Eugênio Trivinho (2000, pp. 179-192) resume bem o mal-estar das teorias frente a uma nova estrutura e a um novo processo comunicacionais provocados pelo surgimento do “ciberespaço”, ou como preferem outros autores, da aproximação da era da

informacionalização.

“Um balanço teórico sensato (...) constata (...) que, no contexto do ciberespaço, todos os elementos convencionais do esquema comunicacional, assimilando inéditas características, experimentam um processo imanente de inflação e de comutabilidade de funções antes jamais observado. Na situação on

line, o princípio de realidade interna de cada um adquire, por assim dizer, um

mais-volume funcional inesperado, uma elasticidade pragmática radical que obriga seus representantes conceituais à prova de um excesso de si mesmos, ou melhor, a uma expansão e redimensionamento semântico-epistemológico compoulsórios tais que, em reverso, minam o significado dos próprios conceitos até um ponto irreversível em que, na impossibilidade de o processo comunicacional ser mais abarcado, eles se deparam, fatalmente, com seu próprio colapso. É bem um desmoronamento em cadeia por inchaço inadministrável.” (TRIVINHO: 2000, p. 187)

Em tal situação observa-se, portanto, radical alteração no status do receptor, que ora se mescla à figura do emissor, ora na própria mensagem, tornando-se um novo

elemento, para o qual escassam nomenclaturas tanto quanto definições. Trivinho sugere a existência de um “indivíduo teleintegrante ciberespacial”, cujo traço marcante seria a

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capacidade de participar e, ao mesmo tempo, intervir nos conteúdos. Aqui, até mesmo a comunicação extrapola o sentido da massa 3, se atentarmos tanto para a virtualidade da inforrede, quanto para a hypertextualidade dos produtos ciberespaciais.

Pode-se adiantar, de suas características, a já citada capacidade de participação no processo comunicativo, dada sua condição de pesquisador compulsório, e capacidade de penetrabilidade , pois é capaz de acessar sempre novos conteúdos por meio do hypertexto. Mas ele também pode confundir-se com o emissor, ao ver-se acolhido pela rede,

produzindo e distribuindo informações sem que para tanto necessite estar vinculado a forte esquema informativo, como seria no caso de um jornal ou autor de um livro, para citar alguns exemplos. Para que se torne elemento da cadeia informativa criada pela rede, deve, necessariamente, estar diante de um computador. Neste instante fundem-se várias características, até então distintas nas categorias próprias à comunicação de massa.

De quem estaríamaos falando, então? Do navegador, do cibernauta, do ser digital de Negroponte? Poderímaos nos referir, igualmente, ao usuários dos tecnocratas, ao consumidor dos comerciantes, ao ser dos filósofos ou ao ator da sociologia. Ainda por algum tempo será um elemento metafórico, com extrema capacidade de metamorfose, até que sua existência alcance a universalidade conceitual suficiente para conferir

estabilidade a sua multifacetada categoria.

Bilbiografia

ATTALAH, Paul. Théories de la Communication - sens, sujets, savoirs. Québec, Presse Universitaire, 1994.

LARAMÉE, Alain et VALLÉE, Bernard. La Recherche en Communication . Éléments de

méthodologie. Québec, Presse Universitaire , 1991.

LOPES, Maria Immacolata Vassalo de. Estratégias metodológicas da pesquisa de

recepção. Revista Brasileira de Comunicação, São Paulo, V.XVI, nº2, jul/dez

1993.

3 É no âmbito da comunicação de massa que todos os conceitos aqui verificados a respeito do receptor são

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1 Trabalho apresentado no NP01 – Núcleo de Pesquisa Teorias da Comunicação, XXV Congresso Anual em Ciência da Comunicação, Salvador/BA, 04 e 05. setembro.2002.

MARQUES DE MELO, José. Teoria da comunicação: paradigmas latino-americanos. Petrópolis, Vozes, 1998.

SOUSA, Mauro Wilton. A recepção sendo reinterpretada. . Novos Olhares, São Paulo, ECA-USP, v.1, nº 1, 1998.

SOUSA, Mauro Wilton (org). Sujeito, o lado oculto do receptor. São Paulo, Brasiliense, 1995.

TRIVINHO, Eugênio. Epistemologia em ruínas: a implosão da teoria da comunicação na experiência do cibrespaço. In MARTINS, Francisco Menzes et all. Para navegar no

século 21. Tecnologias do imaginário e da cibercultura. Porto Alegre:

Edipucrs/Sulina, 2000. Pp 179 a 192.

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