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RECOMENDARÃO N 10/GABPRM2 JGBS 2 Ofício Arapiraca/AL

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Academic year: 2021

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

Procuradoria da República no Município de Arapiraca

Procedimento Administrativo n. 1.11.001.000126/2008-09 (Conflitos entre o grupo "Xucuru-Palmeira" e os índios Xucuru Kariri)

RECOMENDARÃO N° 10/GABPRM2 — JGBS — 2°Ofício —Arapiraca/AL

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, por meio do Procurador da República ao final assinado, no exercício das atribuições que lhes são conferidas pelos art. 127, caput, e art. 129, inciso II, da Constituição da República; art. 5°, I, II, "d", V, "a", da Lei Complementar n° 75/93 e demais dispositivos pertinentes à espécie;

CONSIDERANDO que é função institucional do Ministério Público da União a defesa dos direitos e interesses das comunidades indígenas, nos termos do art. 5°, III, "e" da LC 75/93;

CONSIDERANDO a prerrogativa conferida ao Ministério Público para expedir recomendações aos órgãos públicos, no exercício da defesa dos valores, interesses e direitos cuja promoção lhe couber, nos termos do art. 6°, XX, da LC n° 75/93;

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CONSIDERANDO que a Constituição Federal reconhece as especificidades étnicas e culturais dos povos indígenas, bem como o direito a suas terras tradicionalmente ocupadas, litteris:

Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.

§ 1° — São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais

necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições.

CONSIDERANDO o respaldo normativo dado pela Lei n° 6.001/73 — Estatuto do Índio — no que se refere a definição de índio, in verbis:

Art. 3 0 Para efeitos de lei, ficam estabelecidas as definições a seguir discriminadas:

I — Índio ou Silvícola: É todo indivíduo de origem e ascendência pré-colombina que se identifica e é identificado como pertencente a um grupo étnico cujas características culturais o distingue da sociedade nacional;

CONSIDERANDO a Convenção n° 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) que eleva a autoafirmação como critério fundamental de identificação étnica, litteris:

Art. I"

I. A presente convenção aplica-se:

a) aos povos tribais em países independentes, cujas condições sociais, culturais e econômicas os distingam de outros setores da coletividade nacional, e que estejam regidos, total ou parcialmente, por seus próprios costumes ou tradições ou por legislação especial;

b) aos povos em países independentes, considerados indígenas pelo fato de descenderem de populações que habitavam o país ou uma região geográfica pertencente ao país na época da conquista ou da colonização ou do estabelecimento das atuais fronteiras estatais e que, seja qual for sua situação jurídica, conservem todas as suas próprias instituições sociais, econômicas, culturais e políticas, ou parte delas.

2. A consciência de sua identidade indígena ou tribal deverá ser considerada como critério fundamental para determinar os grupos aos que se aplicam as disposições da presente Convenção. (grifo nosso)

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CONSIDERANDO que, a Convenção 169 e o Estatuto do Índio — naquilo que fora recepcionado pelo mandamento constitucional — complementam-se na disposição do assunto, oferecendo os normativos autodeterminante e a confirmação pela comunidade de origem à definição das identidades étnicas no Brasil;

CONSIDERANDO que, também a ciência antropológica, segundo Parecer Técnico Antropológico n° 03/2010 da lavra do douto antropólogo do MPF, Sr. Ivan Soares Farias, até o advento da Convenção 169, costumava adotar dois critérios para a identificação étnica: a autoafirmação e a afirmação da comunidade que o interessado dizia pertencer, vez que o terceiro critério, o do parentesco consanguíneo, por razões históricas, tem sido tortuoso aos estudos indigenistas na região do Nordeste brasileiro;

CONSIDERANDO que, em março de 2012 completará quatro anos de ocupação, por um grupo de famílias auto intitulado indígena Xucuru Palmeira, da fazenda denominada Monte Alegre, de 173 tarefas, situada no interior da terra indígena Xucuru Kariri no município de Palmeira dos Índios de acordo com a área definida na Portaria MJ n° 4.033, de 14/12/2010;

CONSIDERANDO que, os conflitos envolvendo o grupo auto intitulado Xucuru Palmeira, ocupante da fazenda Monte Alegre em Palmeira dos Índios, e as demais aldeias do grupo indígena Xucuru Kariri, dificultam o cumprimento de recomendação expedida por esta PRM visando a melhoria da assistência básica de saúde destinada aos povos indígenas de Alagoas e Sergipe;

CONSIDERANDO que, os conflitos internos ao grupo auto intitulado Xucuru Palmeira e as ameaças, a estes imputadas, dirigidas aos profissionais que compõem a Equipe Multiprofissional de Saúde Indígena de Palmeira dos Índios, às fls.15/16, trás insegurança aos profissionais e dificulta as ações de saúde destinadas aos índios Xucuru Kariri;

CONSIDERANDO que, em Termo de Declarações, às fls. 49/50, o Coordenador Técnico da FUNAI em Palmeira dos Índios, Sr. Magdiel Freitas Pereira, informa que tem informações de ameaças, agressões físicas, mutilações e até tentativa de assassinatos ocorridos no interior da fazenda Monte Alegre entre membros do grupo Xucuru Palmeira;

CONSIDERANDO que, nos termos de declarações, às fls. 49/50, 51/52 e 181/183, os declarantes informam que o Sr. Francisco José Lourenço, conhecido por Cacique

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Chiquinho, líder do grupo Xucuru Palmeira, teria expulsado da aldeia, e tentado excluir do cadastro de índios, várias famílias indígenas em razão destas não atenderem a determinação do mesmo para fixarem residência no local; no mesmo sentido, assentado e tentado incluir no cadastro de índios famílias de não índios, possivelmente para demonstrar à Justiça Federal um maior volume de ocupação humana na fazenda Monte Alegre, da qual tramita Ação de Reintegração de Posse na 8a Vara;

CONSIDERANDO que, o mesmo Sr. Francisco Xucuru Palmeira (Chiquinho) é acusado pelo Distrito Sanitário Especial Indígena de Alagoas e Sergipe (DSEI/AL-SE) de tentar impor, sob ameaça, uma relação nominal de famílias, possivelmente aliadas não indígenas, ao cadastro oficial do SIASI (Sistema de Informações de Assistência à Saúde Indígena), às fls. 54/55;

CONSIDERANDO que, dada a imposição de excluir e incluir famílias no referido cadastro de índios, à margem da anuência da FUNAI e DSEI, têm redundado em disputas, perseguições e violências de todo o tipo em Monte Alegre, conforme verificado no ICP em epígrafe às fls. 49/52 e 181/186;

CONSIDERANDO que, em razão destas dificuldades, não se sabe ao certo quantas famílias, das que ocupam a fazenda Monte Alegre, seriam indígenas devidamente cadastradas, nem quantas, mesmo não estando cadastradas, teriam parentesco indígena com as famílias xucurus kariris aldeadas;

CONSIDERANDO que, em diversas oportunidades, as comunidades indígenas Xucuru Kariri, representadas pelas 07 (sete) aldeias autônomas se uniram, desde 2008, para negar a identidade indígena de Francisco Lourenço da Silva (Chiquinho) enquanto membro da grande família étnica Xucuru Kariri, às fls. 101/113, 127/135 e 157/167, por meio de documentos encaminhados a este MPF, também em reuniões diversas e, por vezes, de forma violenta quando do atendimento de saúde indígena no Polo de Palmeira dos Índios, denunciando ainda que o mesmo cooptava famílias pobres de não índios para se fazerem passar por indígenas e fortalecerem sua liderança;

CONSIDERANDO o Parecer Técnico Antropológico n° 03/2010, da lavra do douto perito em antropologia do MPF, Sr. Ivan Soares Farias, que conclui:

1. Francisco José Lourenço da Silva, Chiquinho, não é índio Xucuru Kariri. Essa afirmação técnica se depreende, tanto, pela ausência de consanguinidade nas aldeias situadas em Palmeira dos índios, como, pelo veto das sete aldeias que compõe o grupo étnico Xucuru Kariri e,

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principalmente, pela autoafirmação indígena Pankararu que tem feito, inclusive a este analista que subscreve. Notemos aqui os três antigos critérios de identificação étnica presentes: nem autoafirmação, nem confirmação da comunidade étnica, nem tampouco parentesco consanguíneo. Portanto, este parecer não contesta a identidade étnica de Francisco Lourenço, apenas, e em razão das evidências, afirma não se tratar de identidade indígena Xucuru Kariri.

2. O grupo Xucuru Palmeira não deve ser entendido como grupo autônomo dos Xucuru Kariri. Essa afirmação técnica se depreende da ausência de evidências de cisão interna às aldeias Xucuru Kariri redundando nos Xucuru Palmeira, mesmo este sendo constituído de algumas famílias indígenas. Isso porque, a autonomia político-administrativa de uma aldeia deve ser reconhecida depois de esgotadas as possibilidades de composição com as comunidades existentes, e, pelas investigações antropológicas, nem mesmo as tentativas ocorreram até o momento.

3. A fazenda Monte Alegre situa-se no interior do território tradicional Xucuru Kariri, de acordo com o mapa constante no relatório de

identificação e delimitação da terra indígena, publicado pela FUNAI em outubro de 2008. Portanto, a disputa pela posse legítima pertence ao autor da ação de reintegração e aos índios Xucuru Kariri. Tanto as famílias não indígenas quanto aquelas indígenas de outra etnicidade, a

exemplo, Pankararu, não podem ser consideradas partes legítimas na lide possessória, nem mesmo em reivindicações do processo demarcatório da

terra indígena Xucuru Kariri, uma vez tal território ser de usufruto exclusivo do povo indígena que tradicionalmente o habita.

CONSIDERANDO que, ainda segundo os referidos termos de declarações, tem havido negociações irregulares de casas, lotes e arrendamentos no interior da fazenda Monte Alegre, visto se tratar de terras indígenas, segundo o qual, pelo mandamento constitucional, são inalienáveis, indisponíveis e de usufruto exclusivo dos índios, in verbis:

Art. 231.

§ 2° — As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a sua posse permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e

dos lagos nelas existentes.

§ 4° — As terras de que trata este artigo são inalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre elas, imprescritíveis.

CONSIDERANDO que, no mesmo sentido, a Lei 6.001/73 (Estatuto do Índio) preceitua:

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Art. 18. As terras indígenas não poderão ser objeto de arrendamento ou de qualquer ato ou negócio jurídico que restrinja o pleno exercício da posse direta pela comunidade indígena ou pelos silvícolas.

§ 1° Nessas áreas, é vedada a qualquer pessoa estranha aos grupos tribais ou comunidades indígenas a prática da caça, pesca ou coleta de frutos, assim como de atividade agropecuária ou extrativa.

Art. 22. Cabe aos índios ou silvícolas a posse permanente das terras que habitam e o direito ao usufruto exclusivo das riquezas naturais e de todas as utilidades naquelas terras existentes.

Parágrafo único. As terras ocupadas pelos índios, nos termos deste artigo, serão bens inalienáveis da União (art. 4°, IV, e 198, da Constituição Federal)

CONSIDERANDO também que, a ocupação da fazenda Monte Alegre — incidente em terras indígenas — pelo grupo Xucuru Palmeira, é irregular e não está em conformidade com os objetivos constitucionais que reconhecem aos índios — no caso específico, aos índios Xucuru Kariri — os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens, conforme determina a Constituição Federal em seu art. 231, capuz, colacionado acima;

CONSIDERANDO por fim que, na defesa das terras indígenas a Lei 6.001/73 (Estatuto do Índio) preconiza:

Art. 34. O órgão federal de assistência ao índio poderá solicitar a colaboração das Forças Armadas e Auxiliares e da Polícia Federal para assegurar a proteção das terras ocupadas pelos índios e pelas comunidades indígenas.

RECOMENDA à Fundação Nacional do Índio, regional Alagoas (FUNAI/AL) e ao Distrito Sanitário Especial Indígena em Alagoas e Sergipe (DSEI/AL-SE):

1) que promovam, em apoio conjunto, a distinção cadastral das famílias ocupantes da fazenda Monte Alegre, ou seja, identifique quais são as famílias indígenas Xucuru Kariri, orientem e apóiem o retorno destas famílias aos núcleos de origem dos aldeamentos já existentes;

Exclusivamente à FUNAI/AL:

10 que promova a retirada e a desocupação das famílias/pessoas não pertencentes a etnia indígena Xucuru Kariri da fazenda Monte Alegre, inserida

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no território indígena Xukuru Kariri, se necessário, recorrendo a via judicial;

Dê-se ciência da presente recomendação ao Coordenador Regional da FUNAI em Alagoas, Sr. Frederico Vieira Campos, e ao Chefe do Distrito Sanitário Especial Indígena em Alagoas e Sergipe (DSEI/AL-SE), Sr. Ronaldo Francisco Pereira da Silva.

A presente recomendação constitui em mora os responsáveis pelas providências recomendadas e poderá ensejar o manejo das ações cabíveis contra os que se mantiverem inertes.

Concedo prazo de 20 (vinte) dias para que a FUNAI/AL e o DSEI/AL-SE informem, a seu turno, as medidas tomadas para o cumprimento da recomendação.

Comunique-se a 6a Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público

Federal.

Arapiraca, 23 de novembro de 2011.

Jose erra de Souz

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