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EMIGRAÇÃO QUALIFICADA NA EUROPA DO SUL. O INVESTIMENTO PERDIDO NOS CASOS DE PORTUGAL E ESPANHA

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EMIGRAÇÃO QUALIFICADA NA EUROPA DO SUL. O INVESTIMENTO 

PERDIDO NOS CASOS DE PORTUGAL E ESPANHA

 

Cabrito, B., Institute of Education, University of Lisboa, Lisbon, Portugal

b.cabrito@ie.ulisboa.pt

Cerdeira, L., Institute of Education, University of Lisboa, Lisbon, Portugal

luisa.cerdeira@ie.ulisboa.pt

Patrocínio, T., Institute of Education, University of Lisboa, Lisbon, Portugal

patrocinio.tomas@gmail.com

Machado-Taylor, M. L., CIPES -Centre for Research in Higher Education Policies, Matosinhos, Portugal lmachado@cipes.up.pt

Brites, R., ISEG, University of Lisboa, Lisbon, Portugal

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Resumo 

Um dos problemas com que alguns países se deparam actualmente é o da emigração da sua mão-de-obra qualificada. Este problema é tanto mais grave quanto é verdade que ele implica simultaneamente o empobrecimento intelectual e financeiro dos países exportadores daquele tipo de emigração. Tendo em consideração o elevado número de emigrantes altamente qualificados que saem de países como Portugal e Espanha, em direcção a países desenvolvidos da OCDE e da UE e das despesas que cada país fez com a formação académica daqueles emigrantes, nesta comunicação discute-se o fenómeno do “brain drain” nestes países da Europa do Sul. Partindo dos dados fornecidos pela OCDE determinam-se os montantes que aqueles países realizaram com a formação da sua mão-de-obra qualificada e sua relação com indicadores como o orçamento desses países para a educação superior e o PIB, e questiona-se a racionalidade subjacente à exportação a custo zero desse investimento educativo para os países mais desenvolvidos da OCDE e da UE. Palavras-chave: Emigração qualificada, investimento em educação superior, rendimento da educação, investimento educativo perdido

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3 1. Introdução

Um dos problemas com que alguns países se deparam é, certamente, o da emigração de indivíduos portadores de elevadas qualificações académicas e profissionais. Esta situação é urgente ser estudada e combatida quando ocorre dos países menos desenvolvidos para os mais desenvolvidos dado que este tipo de emigração deixa as economias dos países menos desenvolvidos com uma oferta reduzida de pessoas qualificadas na investigação, na produção e nos serviços públicos e privados.

Naturalmente, este tipo de emigração ainda se torna mais problemático porque corresponde a uma fuga de cérebros que limita o retorno do investimento que os países de envio realizaram com a educação da sua mão-de-obra, criando condições favoráveis para a sua utilização pelos países mais desenvolvidos. Numa palavra, a fuga de cérebros significa que os países receptores vão beneficiar de capital humano altamente qualificado a custo zero.

Embora as estatísticas existentes sobre este tipo de emigração ainda sejam bastante precárias na metodologia usada e limitadas no seu alcance, é indubitável que o fenómeno deve ser estudado, dadas as consequências que dele podem resultar. Para Portugal esse estudo é, de facto, premente, dado que é reconhecido em estudos internacionais publicados nos últimos anos que Portugal é um dos países europeus em que a fuga de cérebros mais se acentuou na última década.

Docquier e Marfouk (2007) estimavam em 19,5% a proporção de trabalhadores com grau académico superior que emigraram nos últimos anos e que Portugal teria perdido 1/5 da sua força de trabalho mais qualificada.

A chamada fuga de cérebros, “brain drain” na terminologia inglesa, refere-se, pois, à transferência internacional de recursos humanos qualificados de países menos desenvolvidos para os mais desenvolvidos (Beine, Docquier, & Rapoport, 2007). O “brain drain” concretiza, portanto, a transferência de capital humano com elevados níveis educativos dos países menos para os mais desenvolvidos (Hamilton, 2003; Castles & Miller, 2003), de que decorrem efeitos que se podem repercutir negativamente nos sistemas educativo e produtivo das economias menos desenvolvidas agravando o gap de desenvolvimento entre os dois conjuntos de países, ao acentuar as assimetrias na distribuição dos recursos humanos no processo de globalização educacional, cultural e económica (Heuer, 2011).

Para Lodigiani, Marchiori, & Shen (2013), o uso desta expressão deve ser aplicado exclusivamente aos movimentos identificados como movimentos Sul-Norte.

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4 Todavia, apesar de nas referências ao Sul os cientistas geralmente terem em conta os países menos desenvolvidos dos continentes africano, asiático e latino-americano, neste artigo estendemos essa designação aos países do Sul da Europa, dada a situação conhecida de dependência de países que se encontram a experimentar fortes programas de austeridade como Portugal, Espanha, Itália ou a Grécia, programas impostos pela EU e defendidos pelo países do Norte Europeu que, simultaneamente, são os maiores receptores da mão-de-obra altamente qualificada que os países mais fragilizados têm vindo a produzir.

Neste artigo, limitamos o nosso estudo a Portugal e Espanha. Pretende-se verificar se o fenómeno do “brain drain” nestes dois países, países vizinhos que partilham séculos de história e valores comuns, com uma trajectória política semelhante e atravessados por graves problemas económicos de que decorrem taxas mínimas de crescimento do PIB e elevadas taxas de desemprego de indivíduos altamente qualificados, ocorre com igual intensidade.

2. Êxodo versus Diaspora? Hipóteses teóricas

O fenómeno da emigração altamente qualificada tem vindo a ser analisada de acordo com dois modelos contrastantes:

a) êxodo - sublinha a ideia de que os indivíduos mais qualificados são forçados para o exílio, permitindo-lhes obter um emprego e uma remuneração correspondente à sua formação;

b) diáspora - salienta os benefícios mútuos de intercâmbio intercultural aberto pela circulação de elites cosmopolitas académicas, científicas e culturais.

Este duplo cenário, Diáspora vs Êxodo acerca dos fluxos migratórios de indivíduos altamente qualificados, inclina-se mais para uma ou para outra das hipóteses consoante as condições de estabilidade social e económica dos países exportadores dessa mão-de-obra. Em condições de estabilidade, a mobilidade dos indivíduos altamente qualificados tipifica, preferencialmente, o modelo da Diáspora.

Aliás, em geral os países europeus têm vindo a testemunhar na última década o crescimento deste tipo de migração temporária, assente em programas de experiências interculturais e de finalização de estudos especialmente por parte dos estudantes do ensino superior. Em 1987/88 o Programa de Mobilidade Estudantil (Erasmus) começou timidamente, apenas com 3,244 estudantes; mas em 2013/2014, apesar de o número de estudantes em mobilidade ainda ser reduzido (mas atingindo, já, os 272,497 estudantes), em 2012/2013 já eram mais de 3 milhões os estudantes com uma experiência de mobilidade.

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5 Figura 1. Evolução dos estudantes em mobilidade decorrente do programa Erasmus

0 50.000 100.000 150.000 200.000 250.000 300.000 1987/88 1990/91 1995/96 2000/01 2005/06 2010/11 2012/13 2013/14 3.244 27 .9 0 6 84 .6 4 2 111.0 9 2 154.421 231.408 267.547 272.497 Erasmus Students

Fonte: Produção dos autores a partir de: Comissão Europeia (2015). Erasmus. Facts, figures & trends. The European Union support for student and staff exchanges and university cooperation in 2013-2014. http://ec.europa.eu/education/library/statistics/erasmus-plus-facts-figures_en.pdf

A importância destes movimentos internacionais não deve ser negligenciada não só pela fertilização cruzada de elites mas também pela circulação de conhecimentos e construção de redes com vista à transferência dos resultados de tecnologia e conhecimento, provenientes dos países de acolhimento para os países de origem. Para além disso, e como refere Breinbauer (2007) correntemente as estadias curtas ou longas no exterior são indispensáveis para o desenvolvimento científico e progressão profissional. Todavia, e porque existe uma correlação negativa entre idade e extensão do período de emigração, o perigo e de migração permanente, emigração “para a vida” é particularmente forte neste grupo dos emigrantes, resultando numa fuga de cérebros (Constant & Massey, 2002).

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6 indivíduos altamente qualificados tipifica o modelo de Êxodo, reforçando a ideia de que estes indivíduos são forçados ao exílio a fim de obterem um trabalho e uma remuneração correspondente à sua educação. Efectivamente, em condições económicas deprimidas, caracterizadas por elevados níveis de desemprego e de subemprego é mais provável que os indivíduos procurem no exterior a resposta às suas necessidades de desenvolvimento pessoal e profissional (Hamilton, 2003; Castles et al., 2003). Neste quadro, quando a situação socioeconómica de um país se concretiza em elevados níveis de desemprego nos indivíduos mais qualificados, é propícia à emigração destes profissionais. Quadro 1. Taxa de desemprego por nível educacional, em Portugal e Espanha (%)

Total ISCED 2 ISCED 3-4 ISCED 5-8

1992 2014 1992 2014 1992 2014 1992 2014

Espanha 17,7 24,5 18,7 33,8 19,6 24,2 11,9 14,8

Portugal 4,0 14,1 4,4 15,3 4,3 15,3 1,1 10,0

Fonte: Produção dos autores a partir de PORDATA.

Nota: A UNESCO desenvolveu o International Standard Classification of Education (ISCED) para facilitar comparações de indicadores entre países a partir de definições acordadas internacionalmente. Assim:

ISCED 2 – Lower Secondary Education

ISCED 3-4: Secondary and Post-secondary no Tertiary Education ISCED 5-8: Tertiary Education

Ler mais em: http://www.uis.unesco.org/Education/Pages/international-standard-classification-of-education.aspx#stash.PP3U9wh5.dpuf

Considerando os elevados valores que a taxa de desemprego dos indivíduos com educação superior têm vindo a atingir em Portugal e Espanha, como têm respondido estes dois países e estes indivíduos à situação?

3. Alguns dados sobre emigração: Portugal e Espanha

Assim, a população emigra para procurar conhecimento ou um emprego adequado? De facto, não existe ainda evidência científica que permita enfatizar uma ou outra das hipóteses; em consequência, pode afirmar-se que ambas as hipóteses, Diáspora e Êxodo, podem explicar a emigração altamente qualificada. Todavia, alguma investigação tem vindo a provar que a hipótese

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7 do Êxodo é a mais importante razão para a emigração dos países do Sul (ONU, 2013). Por outro lado, a pesquisa em Portugal demonstra o mesmo (Gomes et al., 2015).

Nesse sentido, a recessão económica que Portugal tem vindo a experienciar, conjugada com a intervenção das instituições financeiras internacionais que impuseram um programa de profunda austeridade, será, em grande medida, a razão de ser do recente crescimento das taxas portuguesas de emigração.

Considerando que não foi encontrada investigação semelhante pata o caso espanhol e que, simultaneamente, este país também tem vindo a experienciar uma situação de recessão económica e de intervenção internacional, consideramos que, até certo ponto, a emigração altamente qualificada deste país, à semelhança do que acontece em Portugal, é fruto da crise económica que ocorre. Observe-se o número de emigrantes e dos emigrantes altamente qualificados em Portugal e Espanha, no quadro abaixo.

Quadro 2. População emigrante maior de 15 anos na OCDE, em 2010/2011 População emigrante (milhares) Emigrantes altamente qualificados (milhares) Taxa de emigração geral (%) Taxa de emigração da população altamente qualificada Espanha 738 212 1,9 2,3 Portugal 1492 147 12,9 12,9

Fonte: DIOC 2010/11 http://www.oecd.org/els/mig/dio.htm

A análise dos dados do Quadro 2 indicia, desde logo, um comportamento da emigração em geral e, mesmo da emigração altamente qualificada, tão diferente nos dois países que põe em causa a ideia de que em ambos os países se assiste a um fenómeno de “fuga de cérebros”. Esta conclusão ainda é “agravada” pelo facto de alguns dos emigrantes altamente qualificados de Espanha são antigos imigrantes que entretanto obtiveram nacionalidade espanhola e que decidem regressar aos países de origem (Arango, 2016).

Assim, se é certo que no caso português se pode sustentar a hipótese da “fuga de cérebros”, dificilmente se poderá favorecer esta hipótese, no caso de Espanha. De facto, sendo a população portuguesa várias vezes menor que a espanhola, é singular o facto de o número de emigrantes portugueses, geral e altamente qualificados, ser muito maior (praticamente o dobro) do que o dos emigrantes espanhóis. Maior ainda é a diferença entre os valores das taxas de emigração geral e de

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8 indivíduos altamente qualificados, já que as taxas relativas a Portugal são cerca de dez vezes superiores às taxas homólogas de Espanha.

A situação percebida causa tanto mais perplexidade quanto é um facto de que as taxas de desemprego em Espanha, nomeadamente dos indivíduos altamente qualificados, são muito superiores às registadas no caso Português, desde há longos anos.

Na falta de evidência científica explicativa, podemos sugerir razões como: - o facto de Portugal ser, historicamente, um país de emigração

- as condições de apoio social aos desempregados, nomeadamente aos indivíduos altamente qualificados, serem mais apelativas em Espanha de tal forma que não favorecem a sua emigração; - constituir, em Espanha, um fenómeno de regresso aos países de origem.

4. Exportar mão-de-obra qualificada a custo zero: os casos de Portugal e Espanha

Já se referiu acima que um dos objectivos do presente artigo era o de explicitar o esforço financeiro realizado por cada um destes dois países na educação superior dos seus cidadãos em situação de emigração, uma vez que desse investimento não terão qualquer retorno se a situação de emigração for de longo prazo. Seguidamente, determina-se a riqueza que os países receptores desta mão-de-obra, países desenvolvidos da Europa recebem, a custo zero, por parte dos países exportadores, países mais pobres que, desta maneira, se vêem desbaratados das mais-valias que esta mão-de-obra altamente qualificada deveria trazer-lhes. Para determinar aqueles montantes utilizaram-se dados do Education at a Glance (OECD 2014) que disponibiliza dados de 2010/2011.

Este cálculo inclui não só os gastos realizados pela colectividade através do Estado, os designados custos públicos de educação, como os realizados pelos próprios estudantes, e respectivas famílias, os custos privados de educação.

Educar é uma actividade muito exigente em termos financeiros (Cabrito, 2002; Cerdeira, 2009; Cerdeira et al., 2014), em consequência não só dos recursos que necessita, da natureza altamente qualificada da mão-de-obra que a executa e dos custos de oportunidade vividos pelos estudantes e que se concretizam nos salários perdidos durante o tempo de estudo e que só vem a dar resultados a médio/longo prazo. Em consequência, no caso da emigração qualificada, esses resultados virão a ser apropriados pelos países receptores dessa mão-de-obra que obtêm a custo zero ao mesmo tempo que os países exportadores empobrecem. Regressando a uma ideia de Maurice Dobb nos anos da década de 1970, os países menos desenvolvidos são o quintal dos países desenvolvidos com a diferença de que neste momento e nesta situação, a matéria-prima de que os países desenvolvidos se apropriam é o conhecimento.

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9 Para determinar a riqueza que os países receptores da emigração qualificada Portuguesa e espanhola obtiveram, utilizou-se a metodologia seguida por Altbach (2013), que no seu trabalho The State of Higher Education 2013 (capítulo 8, pp. 103-107), mostra, através de exemplos, quanto os países exportadores “oferecem” aos países receptors neste processo de mobilidade.

Seguindo Altbach (2013), para este cálculo teve-se em conta:

- os recursos utilizados pelos países/contribuintes para educar os seus jovens, os “custos públicos directos”;

- impostos que os países receberiam sobre o rendimento que seria provavelmente ganho pelos jovens se estivessem a trabalhar em vez de estarem a estudar;

- os custos de oportunidade para os jovens, isto é, os salários perdidos por estarem a estudar; - as despesas em educação dos estudantes e respectivas famílias, os “custos privados directos”.

Para o cálculo foi considerado que para um jovem atingir o ensino superior teve de realizar, bem como o país, despesas com o nível educativo anterior, o nível secundário. Em consequência, os valores de seguida apresentados correspondem ao total que um país e os estudantes e respectivas famílias despendem para que um jovem atinja um diploma de ensino superior. Os valores para cada um dos indicadores acima mencionados foram obtidos em

2014 Education at a Glance: OECD Indicators, Indicator 7: What are the incentives to invest in education? e referem-se a 2010.

Quadro 3. Custos públicos, privados e total para um homem/mulher obtenha um diploma do ensino superior, em 2010 (em US$ ppps)

Custos Públicos Custos Privados Custo Total

Portugal (2010) Mulher 41.166 37.060 78.226 Homem 41.340 38.318 79.658 Espanha (2010) Mulher 53.274 46.984 100.258 Homem 53.360 47.921 101.281

Source: Education at a Glance: OECD Indicators, Table A7, 2014 (adaptado)

Nota: Em anexo (Anexos 1 e 2) apresentam-se, de forma desagregada, o cálculo dos custos públicos e privados para cada país. Os valores referem-se a 2010, última data de que se conhecem dados oficiais relativos à emigração qualificada.

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10 - em ambos os países, é mais caro formar um jovem do que uma jovem, ainda que os valores correspondentes, particularmente no caso espanhol, sejam bastante próximos; esta situação poderá ser decorrente, em especial no caso português, da diferença salarial por género, ainda existente; - em Portugal é mais barato concluir estudos superiores do que em Espanha, para o que concorre, certamente, o nível de vida neste país ser, em geral, mais caro do que o português;

- em ambos os países, a participação dos estudantes e suas famílias no financiamento da educação é inferior à participação pública, o que remete para o papel, ainda importante, do Estado no financiamento deste nível de ensino.

De seguida, e considerando o elevado custo que cada país realiza para formar os seus jovens, comparam-se aqueles valores com PIB per capita. Uma vez que os dados oficiais são apresentados por género, utiliza-se, apenas, os referentes aos jovens do sexo masculino. Observe-se o quadro 4. Quadro 4. Relação entre o custo total para formar um jovem com estudos superiores e o PIB per capita, em US $, em 2010

PIB pc € (1) PIB pc $ (2) * Custo total para um jovem atingir um grau superior US $

Custo total Total versus PIB pc (3/2)

Portugal 17000 22309 79658 3,6

Espanha 23200 30445 101281 3,3

* Nota: Foi usada para conversão a taxa média de conversão da semana 20 a 26 de Dezembro 2010, partir de OANDA, www.OANDA.com: 1€=1,3123 USA $

Fonte: PIB pc, EUROSTAT, National Accounts, em htpp://ac.europa.eu/eurostat, acedido em 26 de Fevereiro de 2016.

Os valores do Quadro 4 denotam bem quão caro é providenciar estudos superiores a um jovem, em ambos os países.

Continuando a seguir Altbach (2013), calculou-se, ainda que de forma algo grosseira, quanto cada país gastou na formação dos seus emigrantes qualificados. O cálculo foi determinado de acordo com o número de emigrantes qualificados de cada país, em 2010 por género.

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11 Quadro 5. Custo total estimado (público + privado) da formação dos emigrantes portadores de qualificações superiores, residentes nos países da OCDE, em 2010 (US $ ppps)

Número total de emigrantes qualificados (milhares) Homem (milhares) Mulher (milhares)

Homem Mulher Total Custos US$ Custos US$ Custos totais US$

Portugal 147 71 76 5.655.718.000 5.945.176.000 11.600.894.000* Espanha 212 100 112 10.128.100.000 11.228.896.000 21.356.996.000** Nota: *cerca de 8,8 mil de milhões de euros; **cerca de 16,3 mil de milhões de euros; utilizaram-se as taxas de conversão relativas à taxa média de conversão da semana 20 a 26 de Dezembro 2010, partir de OANDA, www.OANDA.com.

Fonte: Elaboração dos autores a partir de OCDE 2014

Os valores do Quadro 5 acima demonstram bem o elevado nível de riqueza que estes dois países gastam para formar os seus emigrantes qualificados que ascendeu a mais de 25 mil milhões de euros. Significa, pois, que Portugal e Espanha exportaram para os países da OCDE, em 2010, mais de 25 mi de milhões de euros, valor que os países recebedores desta mão-de-obra recebeu a custo zero.

Finalmente, analisou-se o peso destas despesas no PIB de cada um dos países. Observem-se os valores do Quadro 6:

Quadro 6. Peso do custo total de educação dos emigrantes altamente qualificados no PIB PIB – ESA10 (biliões €) Custo total (biliões €) Custo total/PIBx100 Portugal 179.9 8.8 4.9 Spain 1080,9 16.3 1.5

Fonte: PIB, EUROSTAT, National Accounts, em htpp//: ac.europa.eu/eurostat, acedido em 26 de Fevereiro de 2016.

Os valores acima ilustram de forma bem clara o peso das despesas que ambos os países realizam a formar os seus emigrantes altamente qualificados. Portugal é, entre os dois países, aquele que

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despende maior percentagem do PIB naquela formação, situação que decorre, certamente, do facto de o número de emigrantes altamente qualificados portugueses ser muito superior ao de Espanha.

5. Considerações finais

O estudo levado a cabo dá-nos, em primeiro lugar, um quadro da emigração altamente qualificada de Portugal e Espanha para os países da OCDE. O comportamento dos dois países relativamente a este movimento leva-nos a colocar algumas questões a que apenas investigação posterior poderá dar resposta:

- êxodo ou diáspora? Partiu-se do princípio de que se estava perante um fenómeno caracterizado pelo Êxodo dos profissionais altamente qualificados nos dois países; ora, se é certo que isso se poderá afirmar relativamente a Portugal, será que se poderá afirmar o mesmo em relação a Espanha considerando que os dados são menos claros? Aranga (2016) refere-se ao fenómeno como uma situação emergente de diáspora.

- como explicar que Portugal, país com uma população várias vezes inferior à de Espanha e com menores taxas de desemprego qualificado, apresente um número muito superior de emigrantes qualificados que Espanha? Será que tal se poderá explicar pela “vocação atlântica” de Portugal, pela sua tradição emigratória? Ou, pelo contrário, por Espanha “tratar melhor” a sua população diplomada do que Portugal?

As questões acima, e outras que a problemática merece, favorecem investigações futuras que permitam respostas ajustadas à realidade dos dois países. Também será interessante analisar o fenómeno noutros países mediterrânicos com problemas próximos dos dois países ibéricos.

Todavia, apesar das diferenças que se detectam entre os dois países, é indiscutível que Portugal e Espanha perderam mais de 25 mil milhões de euros a favor das economias europeias mais ricas e desenvolvidas, colocando, de certo modo, o Sul da Europa a financiar o Norte da Europa.

Concluímos com Altbach: “O que pode ser feito?… Os países podem, no espírito dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, remeter para os países menos desenvolvidos, que são os maiores exportadores de talent, os custos em que estes países incorrem por educar os seus jovens académicos que não regressam ao país …” (2013, p. 106).

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Referências 

Altbach, P. G. (2013). The world is not flat: the brain drain and higher education in the 21st century. In: Glass, A. (Ed.). The state of higher education 2013. Paris: OECD Higher Education Programme (IMHE).

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Gomes, R., Lopes, J. T., Cerdeira, L., Ganga, R., Machado, M.L., Magalhães, D., Cabrito, B., Patrocínio, T., Silva, S., Brites, P. & Peixoto, P. (2015). Fuga de Cérebros. Retratos da emigração qualificada portuguesa. Lisboa: Bertrand Editora.

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14 Hamilton, K. (2003). Migration and development: Blind fact and hand-to-find Facts. Washington: Migration Policy Institute.

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PORDATA. Base de dados de Portugal contemporâneo, 2015. Disponível em http://www.pordata.pt/Home. Acedido em 4 de Junho de 2015.

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15 Anexos

Anexo 1. Custos públicos e privados de Portugal com um homem/mulher para adquirir educação secundária ou post-secundária não superior e superior (quando comparado com os custos para um homem/mulher obter o nível educativo abaixo) e custo total, em 2010 (em US% ppps)

Nível educativo Público Total Género Custo público directo Impostos sobre o rendimento perdidos Efeiro Bolsas Total custo público Custo privado directo Salários perdidos Custo privado total Público +Privado Ensino Superior Mulher 10295 2148 12443 4627 15481 20108 Homem 10295 2245 12540 4627 16181 20808 Ens. Secundário ou póssecundário não superior Mulher 26371 2352 28723 0 16952 16952 Homem 26371 2429 28800 0 17510 17510 Total Mulher 36666 4500 0 41166 4627 32433 37060 78226 Homem 36666 4674 0 41340 4627 33691 38318 79658

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16 Anexo 2. Custos públicos e privados de Espanha com um homem/mulher para adquirir educação secundária ou post-secundária não superior e superior (quando comparado com os custos para um homem/mulher obter o nível educativo abaixo) e custo total, em 2010 (em US% ppps)

Nível educativo Público Total Género Custo público directo Impostos sobre o rendimento perdidos Bolsas Total custo público Custo privado directo Salários perdidos Custo privado total Público +Privado Ensino Superior Mulher 31883 2523 3791 38147 8864 27626 36490 Homem 31883 2577 3791 38201 8864 28219 37083 Ens. Secundário ou póssecundário não superior Mulher 18107 811 18918 1613 8881 10494 Homem 18107 843 18950 1613 9225 10838 Total Mulher 49940 3334 3791 53274 10477 36507 46984 100258 Homem 49940 3420 3791 53360 10477 37444 47921 101281

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