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O FUTEBOL COMO EMPRESA: O CASO DO CUIABÁ ESPORTE CLUBE DE 2003 A

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA - PPGS

DARCY DE ARRUDA ABREU FILHO

O FUTEBOL COMO EMPRESA:

O CASO DO CUIABÁ ESPORTE CLUBE DE 2003 A 2018

CUIABÁ/MT 2020

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DARCY DE ARRUDA ABREU FILHO

O FUTEBOL COMO EMPRESA:

O CASO DO CUIABÁ ESPORTE CLUBE DE 2003 A 2018

CUIABÁ/MT 2020

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia, Instituto de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Federal de Mato Grosso, na área de concentração Sociologia, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Sociologia. Orientador: Prof. Dr. Francisco Xavier Freire Rodrigues

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DARCY DE ARRUDA ABREU FILHO

O FUTEBOL COMO EMPRESA:

O CASO DO CUIABÁ ESPORTE CLUBE DE 2003 A 2018

DATA DE APROVAÇÃO: _____/ _____/ ____

_________________________________________________________ Examinador: Prof. Dr. Edson Benedito Rondon Filho

Universidade Federal de Mato Grosso

_________________________________________________________

Examinador: Prof. Dr. Frankes Márcio Batista Siqueira Instituto Federal de Mato Grosso

________________________________________________________

Orientador: Prof. Dr. Francisco Xavier Freire Rodrigues Universidade Federal de Mato Grosso

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia, Instituto de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Federal de Mato Grosso, na área de concentração Sociologia, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Sociologia.

Orientador: Prof. Dr. Francisco Xavier Freire Rodrigues

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho primeiro a Deus, meu sempre e eterno amigo; à Minha Mãe Aide de Arruda Abreu, que me guiou pelos caminhos da vida com sabedoria, fé e amor; a meu falecido Pai Darcy Gomes de Abreu, homem que foi meu espelho de honestidade, hombridade, vontade e fé; à minha amada Irmã Dejacy de Arruda Abreu, por sua presença constante como guia intelectual, moral e sempre disposta a ser minha conselheira. Às pessoas que pela sociedade e pelos laços de sangue a mim foram trazidas: minha amada Esposa Flávia Brum Lopes, que dedica a vida a me fazer feliz, me apoiando em todos os momentos desde que nos conhecemos; a meus maiores legados, meus Filhos amados, as tochas que lançarei no abismo do tempo, Sofia Brum Lopes, minha primogênita que nos encanta com sua alegria, inteligência e beleza, meu Filho amado Daniel Brum de Arruda, menino de alegria ímpar, beleza altiva e espírito alegre e minha caçula, meu amor mais maduro, Alice Brum de Arruda, criança alegre, vida e alegria de nossa família.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos as pessoas que passaram por minha vida e contribuíram para a realização desse trabalho. Em especial ao meu orientador Professor Xavier Freire Rodrigues, cujo amor ao futebol e à ciência tornou meu caminho mais fácil; à minha banca, Professor Frankes Márcio Batista Siqueira e Professor Edson Benedito Rondon Filho, os quais leram e contribuíram grandemente para este trabalho.

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RESUMO

Esta pesquisa de mestrado se insere na área dos estudos da Sociologia do esporte. Objetiva-se compreender os fatos que contribuem para o entendimento da ascensão do Cuiabá Esporte Clube de time sem série ou relevância esportiva a clube de série B do Campeonato Brasileiro, com recorte temporal entre 2003 a 2018. O interesse em pesquisar a ascensão do clube empresa em âmbito nacional, no referido marco temporal, intenciona compreender os motivos de essa instituição esportiva ter aparente êxito onde muitas outras falharam. Também, o interesse sobre o futebol mato-grossense, marcado por lembranças e vivências que constataram que o outrora importante e bem frequentado campeonato estadual e, sobretudo o da capital, não atraía o mesmo número de frequentadores relatados nas memórias da população de mais idade. A fundação, no ano de 2001, do Cuiabá Esporte Clube trouxe nova proposta ao futebol mato-grossense, não mais ligada às questões políticas e culturais que permeavam os antigos clubes do estado, mas como atrativo que uniu gestão empresarial com marketing esportivo. Metodologicamente, esta investigação se orienta pela abordagem da Pesquisa Qualitativa. Para a coleta de dados desta pesquisa se realizou levantamento exploratório bibliográfico referente ao tema do futebol, reconstrução da história do clube, assim como dos resultados obtidos nos jornais e publicações do período em estudo e em sites especializados. Numa aproximação de modo mais empírico realizou-se, periodicamente, um trabalho de campo no estádio Arena Pantanal de Cuiabá Mato Grosso, com torcedores do time, assim como com dirigentes, ex-atletas e jornalistas, o que caracterizou observação participante e, posteriormente, uma pesquisa semiestruturada, considerando o futebol um modelo de sociedade dentro de uma sociedade mais ampla, fora da consciência individual dos brasileiros, resultando na construção de linhas de discussões para compreensão do futebol numa perspectiva de lócus inserido no mercado de entretenimento. Nessa mesma concepção, estudos apontam que o campo esportivo é tão significativo quanto o capital social, cultural ou econômico, onde a gestão esportiva pode ter um aspecto sociológico que escapa da explicação meramente econômica. Os achados desta dissertação foram que o Cuiabá Esporte Clube e seu modelo de gestão, foram exitosos, tanto nos resultados do time dentro de campo, quanto no crescimento e aprimoramento da gestão esportiva. O Clube se tornou, no período, um sucesso esportivo e de gestão.

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ABSTRACT

This master's research falls within the field of sport sociology studies. The objective is to understand the facts that contribute to the understanding of the rise of Cuiabá Esporte Clube in time without series or to produce sports for the B series club of the Brazilian Championship, with a time frame between 2003 and 2018. The interest in researching the rise of the club in nationally, in the referred timeframe, intends to understand the reasons why this sports institution seems to eliminate where many others have failed. Also, the interest in football in Mato Grosso, marked by memories and experiences that found that the once important and well attended state championship, and especially the capital, did not attract the same number of visitors reported in the memories of the older population. The foundation, in 2001, of Cuiabá Esporte Clube brought a new proposal to football in Mato Grosso, no longer linked to the political and cultural issues that permeated the old clubs of the state, but as an attraction that united business management with sports marketing. Methodologically, this investigation is guided by the Qualitative Research approach. For the data collection of this research, an exploratory bibliographic survey was carried out on the topic of football, reconstruction of the club's history, as well as the results obtained in newspapers and publications of the period under study and on specialized websites. In a more empirical approach, fieldwork was carried out periodically at the Arena Pantanal stadium in Cuiabá Mato Grosso, with time fans, as well as with managers, former athletes and journalists, which characterized participant observation and researchers from the time, a semi-structured research, considering football a model of society of a broader society, outside the individual consciousness of Brazilians, performing the construction of lines of impact for understanding football in a perspective of locus inserted in the entertainment market. In this same conception, studies point out that the sports field is as significant as social, cultural or economic capital, where sports management can have a sociological aspect that escapes the explanation of merely economic. The findings of this dissertation were that Cuiabá Esporte Clube and its management model were successful, both in results and time on the field, in the growth and improvement of sports management. The Club became, in the period, a sports and management success.

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Resultados dos jogos do Cuiabá Esporte Clube: 2003 a 2018 ... 72

Gráfico 2 - Resultados dos jogos do Cuiabá Esporte Clube: 2003 a 2018 ... 73

Gráfico 3 - Resultados dos jogos do Cuiabá Esporte Clube: 2003 a 2006 ... 75

Gráfico 4 - Resultados dos jogos do Cuiabá Esporte Clube: 2009 a 2018 ... 76

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - As teorias administrativas ... 56 Quadro 2 - Organograma de um clube de futebol ... 59

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Classificação do Cuiabá Esporte Clube no campeonato Mato-Grossense de

Futebol, 2003 a 2018 ... 71

Tabela 2 - Resultados dos jogos do Cuiabá Esporte Clube: 2003 a 2018 ... 72

Tabela 3 - Resultados dos jogos do Cuiabá Esporte Clube, por ano: 2003 a 2018 ... 73

Tabela 4 - Resultados dos jogos do Cuiabá Esporte Clube: 2003 a 2006 ... 74

Tabela 5 - Resultados dos jogos do Cuiabá Esporte Clube: 2009 a 2018 ... 75

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

APFUT Autoridade Pública de Governança do Futebol CBD Confederação Brasileira de Desportos

CBF Confederação Brasileira de Futebol

CFZ Centro de Futebol Zico do Rio Sociedade Esportiva

CND Conselho Nacional de Desportos

CTs Centros de Treinamentos

FIFA Federação Internacional de Futebol FMD Federação Mato-grossense de Desportos

FMF Federação Mato-grossense de Futebol

IBOPE Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística

LEC Liga Esportiva Cuiabana

MT Mato Grosso

NASL National American Soccer League

PPGS Programa de Pós-Graduação em Sociologia

PROFUT Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro

SPFC São Paulo Futebol Clube

UEMT Universidade Estadual de Mato Grosso UFMS Universidade Federal de Mato Grosso do Sul UFMT Universidade Federal de Mato Grosso

URSS União das Repúblicas Socialistas Soviéticas

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 12

1 ASPECTOS HISTÓRICOS E SOCIOLÓGICOS DO FUTEBOL ... 16

2 BREVE HISTÓRIA DO FUTEBOL EM MATO GROSSO ... 32

2.1 DOS PRIMÓDIOS À ARENA PANTANAL ... 32

2.2 ARENA PANTANAL – DA CONSTRUÇÃO AO “MILAGRE NO PANTANAL” 38 3 SOCIOLOGIA DO ESPORTE E GESTÃO ESPORTIVA ... 45

3.1 DO FUTEBOL LÚDICO AO FUTEBOL EMPRESA ... 45

3.2 A METAMORFOSE DO FUTEBOL EM ESPETÁCULO E O SURGIMENTO DO CLUBE-EMPRESA ... 54

3.3 CUIABÁ ESPORTE CLUBE – A TRAJETÓRIA DO CUIABÁ ESPORTE CLUBE ... 67

4 CUIABÁ ESPORTE CLUBE - E AS NARRATIVAS DE UMA EMPRESA A SERVIÇO DO FUTEBOL ... 79

4.1 RELAÇÃO ENTRE MODELO DE GESTÃO E DESEMPENHO EM CAMPO NO/DO CUIABÁ ESPORTE CLUBE ... 79

4.1.1 Divisão do trabalho baseado na especialização funcional ... 80

4.1.2 Hierarquia de autoridade ... 81

4.1.3 Sistema de regras e regulamentos ... 82

4.1.4 Formalização das comunicações ... 86

4.1.5 Impessoalidade no relacionamento entre as pessoas ... 89

4.2 A IMPORTÂNCIA DA ARENA PANTANAL NA ASCENÇÃO DO CUIABÁ ESPORTE CLUBE À SÉRIE B DO CAMPEONATO BRASILEIRO DE FUTEBOL ... 92

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 100

REFERÊNCIAS ... 106

ANEXOS ... 112

ANEXO 1 - Roteiro de entrevista: Empresário ... 112

ANEXO 2 - Roteiro de entrevista: Atletas ... 112

ANEXO 3 - Roteiro de entrevistas: Jornalistas ... 113

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INTRODUÇÃO

Esta pesquisa não se guia apenas pelo espírito científico da descoberta e da curiosidade, mas também pelo método científico estabelecido. O título do trabalho, O Futebol como empresa: O caso Cuiabá Esporte Clube de 2003 a 2018.

A escolha desse tema se deve ao nosso interesse pelo futebol, vez que formos atleta desse esporte na infância e adolescência, assim como morador de cidade pequena onde o estádio de futebol era uma das poucas praças de lazer. Durante os campeonatos regionais a cidade pulsava nos fins de semana, e essa formação de lembrança deixou marcas profundas em nossa vivência com o futebol. Ao mudar para a capital, constatamos que o outrora importante e bem frequentado campeonato estadual e, sobretudo o da capital, não atraía o mesmo número de frequentadores relatados nas memórias da população de mais idade. Até que no ano de 2001 foi fundado um clube que trazia uma nova proposta, não mais ligada às questões políticas e culturais que permeavam os antigos clubes do estado, era, sobretudo, uma nova proposta que podia tornar o futebol local atrativo novamente, unindo gestão empresarial com marketing esportivo.

O tema deste trabalho, Cuiabá Esporte Clube como time de futebol e empresa esportiva entre os anos de 2003 a 2018, busca entender os dilemas sobre o modelo de gestão tradicional x empresarial, e se os resultados do clube-empresa em questões foi influenciado por esse modelo.

Desse quadro foi levantado o problema de pesquisa, quais foram os fatores que levaram

o time de futebol Cuiabá Esporte Clube como empresa esportiva a ascender no cenário nacional do futebol? Com as seguintes questões secundárias: Quais os resultados obtidos no

período abordado pela pesquisa no âmbito econômico e esportivo? Quais os modelos de gestão adotados para a obtenção desses resultados?

Para tanto algumas hipóteses foram levantadas: o Cuiabá Esporte Clube pode ser considerado um sucesso enquanto empresa e time de futebol no Brasil. Até que ponto os resultados do Cuiabá Esporte Clube são um reflexo da adoção do modelo empresarial. O modelo de gestão refletiu nos resultados obtidos pelo time no campo de jogo. A gestão esportiva empresarial coloca o Cuiabá Esporte Clube como exemplo a ser seguido no estado de Mato Grosso.

Como seu objetivo geral está dissertação busca analisar quais os fatores que levaram o time de futebol Cuiabá Esporte Clube como empresa esportiva a ascender no cenário nacional de futebol. No que tange aos objetivos específicos buscamos: (a) Verificar os motivos que

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levaram o Cuiabá Esporte Clube a ascender de um time sem série no campeonato nacional ao recente acesso à série B do campeonato brasileiro; (b) Quantificar os resultados obtidos no período em questão com os dados orçamentários do clube; (c) Relacionar orçamento/investimento em futebol e sucesso em campeonatos de futebol; (c) Caracterizar os modelos de gestão esportiva adotados para obtenção dos resultados. Por fim, apontar os problemas e soluções obtidos pelas gestões durante o período em questão.

A justificativa da pesquisa está na existência de poucos trabalhos a respeito do tema, diferentemente de outros esportes, como o voleibol e futebol americano, portanto, pode contribuir grandemente na abordagem dessa temática, assim como lançar luz sobre aspectos comportamentais dos torcedores, atletas, jornalistas e dirigentes, suas motivações e interesses. Nesse sentido, o trabalho é original e cobrirá essa lacuna.

Os estudos que fizemos na área da Sociologia do esporte, também nos mostraram que o esporte é um fenômeno complexo, uma atividade abrangente, pois engloba diversas áreas sociais humanas, tais como, a saúde, a educação, o turismo. Ainda, o entendemos como uma ferramenta de inclusão social, sendo uma estratégia de sociabilização, formação humana integral dos sujeitos envolvidos. Nesse viés, esta pesquisa, voltada ao esporte mato-grossense, com ênfase no Cuiabá Esporte Clube, enseja aprofundar a discussão da Sociologia do esporte como benefício de prática esportiva numa perspectiva histórico-social e cultural e ajudar o esporte mato-grossense a ter melhor visibilidade, confiabilidade e reconhecimento local, estadual e nacional.

A pesquisa também poderá contribuir socialmente como nova fonte de conhecimento sobre o tema, além de trazer luz a fatos relacionados ao campeonato mato-grossense de futebol, com dados que podem ser usados por profissionais do meio para a geração de estratégias para a retomada da importância desse esporte em nosso estado, por meio do retorno do público aos estádios.

A metodologia para dar conta desses desafios vai além dos aspectos da sociologia do esporte; mesmo que essa seja a linha condutora, deve-se aqui abrir um leque para que outras áreas do conhecimento contribuam nesse processo. Pensar os caminhos da pesquisa científica sempre foi uma exigência para muitos estudiosos das metodologias das diversas áreas de conhecimento, o que não é diferente para área da Sociologia. Por isso, entendemos que este estudo deverá se alicerçar na Pesquisa Qualitativa, com ênfase na proposta descritiva, interpretativa, a qual considera o ambiente natural como sua fonte direta de dados e toma o pesquisador como seu instrumento, o que poderá nos assegurar uma inserção no universo da pesquisa dentro de uma perspectiva sociológica. É nesse sentido que compreendemos que esta

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construção, dentro dessa abordagem, exigirá de nós pesquisadores um trabalho intelectual artesanal para chegarmos a uma síntese de múltiplas compreensões sobre o objeto proposto.

Nesse sentido, os estudos realizados nos escritos de Paul Thompson (1935, p. 58), poderão ajudar na composição da postura diante do objeto de estudo, principalmente daqueles que pensamos entrevistar. Nesse viés de rigor científico, Minayo (2006, p. 48) nos ensina que “[...] a boa seleção dos sujeitos ou casos a serem incluídos no estudo é aquela que possibilita abranger a totalidade do problema investigado em suas múltiplas dimensões”. Nesse viés de entendimento, esta pesquisa em questão se propõe sustentar uma perspectiva qualitativa. Com essa abordagem analisamos os dados recolhidos, na medida em que eles foram se agrupando, ou seja, a partir de muitas informações coletadas, as quais se inter-relacionaram e constituindo, assim, o cabedal de informações necessárias para a análise e a interpretação dos dados.

Para construção do caminho metodológico, no que se refere às técnicas e coleta de dados, seguimos critérios que orientam a pesquisa qualitativa (entrevista individual, coleta de documentos, survey e questionários). Realizamos um estudo para construção e solidificação do referencial teórico-metodológico, com base nas obras e pesquisas oriundas dos campos da Sociologia do esporte e da Sociologia como um todo.

Tendo como fundamento os esclarecimentos de Minayo (2001, p. 23), que nos lembra: A compreensão desse espaço da pesquisa não se resolve apenas por meio de um domínio técnico. É preciso que tenhamos uma base teórica para podermos olhar os dados dentro de um quadro de referências que nos permite ir além do que simplesmente nos está sendo mostrado.

Assim, obedecendo esse movimento rigoroso da pesquisa em que, em um segundo momento, buscou-se realizar a localização dos dados/registros documentais por meio dos jornais da época, das súmulas dos jogos referentes ao período da pesquisa, assim como de balanços orçamentários do clube em questão, para entendermos as transformações que o time passou como fontes de construção histórica e marcos legais, os quais nos ajudarão a caracterizar o período estudado.

Num terceiro momento ou perspectiva, fez-se algumas tentativas de um estudo de campo para localizar possíveis torcedores, dirigentes, jornalistas e ex-atletas do time desse período para entrevistá-los, usando um roteiro de questões semiestruturadas. Essa técnica se caracteriza por uma comunicação verbal que reforça a importância da linguagem e do significado da memória daqueles que presenciaram o fenômeno. Os relatos desses sujeitos, como nossos atores sociais, tornaram-se narrativas das vozes que nos ajudaram a entender, por meio de suas percepções humanas, sociais, culturais e esportivas, o cenário desse período bem

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como o que decorreu dele para chegarmos aos dias atuais. Os roteiros de entrevistas constam nos anexos deste trabalho.

Diante deste contesto, esse trabalho se estrutura em quatro capítulos: o primeiro traz uma abordagem dos aspectos históricos e sociológicos do futebol, onde será apresentada uma cronologia do surgimento desse esporte, contando a trajetória a partir das mais remotas referências históricas até nossos dias, sempre levando em conta os impactos e desdobramentos sociais que permearam esse processo.

O segundo capítulo, por sua vez, contará, de forma breve, limitado pela escassez das fontes históricas e primárias, a história do futebol de Mato Grosso, desde a chegada desse esporte em nossas terras, com suas peculiaridades e especificidades locais, a construção de seus primeiros estádios e a epopeia da construção da Arena Pantanal, ou seja, buscando passar pelas diversas fases e seus principais eventos, tendo como foco principal a criação do Cuiabá Esporte Clube no ano de 2001, dando ênfase à estrutura do time como clube-empresa, características que, provavelmente, proporcionaram um feito inédito, o acesso à Série B do Campeonato Brasileiro de Futebol, com menos de vinte anos de criação.

O terceiro capítulo trará o referencial desta pesquisa, procurando demonstrar a importância sociológica do esporte e da sociologia geral, que se aproxime do tema do trabalhado, seus autores e principais conceitos, além de discorrer sobre o tema do clube empresa e seus desdobramentos.

O capítulo quatro traz as narrativas dos atletas, ex-atletas, torcedores e dirigentes do Cuiabá Esporte Clube, além dos jornalistas esportivos, com o intuito de dar vivacidade e profundidade à trajetória, ações e momentos da breve história que serve como fio condutor dessa pesquisa.

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1 ASPECTOS HISTÓRICOS E SOCIOLÓGICOS DO FUTEBOL

Neste capítulo traçamos uma linha histórica do surgimento do futebol, desde o aparecimento de atividades similares, como jogos com bolas e outros artefatos, num período que remonta a três mil anos até nossos dias, não com intuito de ser uma história linear, mas sim, de contar como a sociedade em diferentes períodos usava de criatividade lúdica para a distração, a socialização e, atualmente, o zelo pelo bem-estar físico e a comercialização deste que se tornou o maior esporte do mundo. Faremos, ainda, um breve sobrevoo por esses períodos, buscando dar pano de fundo aos diversos eventos que trouxeram o futebol até seu atual patamar.

Segundo Giulianotti (2002, p. 50), o futebol, ou uma atividade semelhante, pode ter sido criado ainda nas primeiras civilizações, onde se jogavam variações primitivas desse esporte. Por exemplo, na América Central, foram encontrados relatos sobre tais atividades, além de fontes culturais apontarem que algumas tribos indígenas da Amazonas já praticavam jogos de bola em 1500 a.C.

[...] o tlachtli. Ele era disputado em espaços retangular de tamanho variado, entre 25 e 63 metros de comprimento, seis a doze de largura. Cada um com dois grupos, geralmente de sete jogadores, deveriam trocar passes sem deixar cair a pequena (entre quinze e vinte centímetros) e pesada (mais de três quilos) bola de borracha maciça, depois arremessada ao campo adversário. (FRANCO, 2007, p. 15).

Além desses, outros relatos, que até certo ponto são considerados apócrifos aos textos históricos, narram a origem de algo semelhante ao futebol há mais de 2000 mil anos a.C. Segundo Franco (2007, p. 15), documentos da China, que datam de 2000 a 1500 mil anos a.C., também descrevem um tipo de diversão que consistia em chutar cabeças ou crânios decapitados para que esses ultrapassassem estacas encravadas no chão; tal diversão servia para relaxar a tensão pós batalhas. Soma-se a esses outros vestígios que podem ser encontrados na América Central, onde há pelo menos 900 anos a.C., foram descritas atividade lúdicas com a bola:

Também há relatos da prática de atividades com bola na Grécia Clássica, o epyskiros, que teria sido jogado por volta do século IV a.C. Em Roma, por volta do século III a.C., uma atividade denominada haspastum, que teria dado origem ao cálcio, já durante o Renascimento, no século XIV (FRANCO, 2007, p. 17).

Já sobre a etimologia da palavra "futebol", os cientistas sociais Norbert Elias e Eric Dunning esclarecem que a palavra foot-ball era empregada já no período medieval, na

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Inglaterra, mas não para designar um esporte, e sim, como referência ao objeto daqueles jogos populares, a "bola de chutar":

Não é improvável que a razão primordial pela qual os documentos medievais se referiam a alguns destes jogos locais com o nome de "futebol", enquanto outros eram conhecidos por nomes diferentes, fosse o fato de que se jogavam com objetos distintos. [...] De fato, alguns documentos medievais falam de jogar com um balão de couro, "com um futebol", não de "jogar futebol". [...] Porém não há razões para supor que o futebol medieval só era impulsionado com os pés nem, igualmente, que o hand o fosse só com a mão. [...] Porque as características elementares - o jogo concebido como luta entre grupos distintos, o franco e espontâneo desfrutar da batalha, o descontrole tumultuado e o nível relativamente alto de violência física socialmente tolerada - eram, pelo que se vê, sempre as mesmas. Igualmente o era a tendência a romper as regras costumeiras, fossem quais fossem, sempre que os jogadores se vissem movidos pelas paixões. (ELIAS; DUNNING, 1992, p. 269).

Embora algumas dessas narrativas sejam, em boa parte, relatos culturais, praticamente não documentados, os que apresentam dados históricos nos permitem estruturar a origem desse esporte em duas fases distintas. A primeira se refere às atividades lúdicas ligadas às guerras, às disputas urbanas (nas ruas de vilas e cidades). A segunda fase pode-se datar a partir do momento em que o império Britânico começa a desempenhar um papel de racionalização dessas atividades, chegando ao ponto de o futebol ser considerado como uma das características de dominância cultural do vasto império onde o “Sol nunca se punha”.

O futebol surge paralelamente ao Império britânico e por décadas teve seus caminhos ligado a ele. Desde 1848, data da primeira tentativa de uniformização das regras, até 1912, onde foram feitas várias adaptações, o futebol foi um representante importante da cultura inglesa.

Naquela fase, o novo esporte ecoou muito de perto as vicissitudes internas da Grã-Bretanha. Na fase posterior, também as vicissitudes externas do império, que em 1909 dominava 20% dos territórios e 23% da população mundiais. A propagação do futebol seguiu a lógica da influência cultural inglesa: de início nas próprias ilhas britânicas, a seguir na Europa germânica, depois na Europa latina, pouco mais tarde na América Latina. (FRANCO, 2007, p. 23).

A quase onipresença da ocupação britânica pelo mundo favoreceu a disseminação dos esportes modernos, principalmente o do futebol, por eles engendrados. Já que entre 1881 e 1901, na primeira onda da difusão do futebol, aproximadamente cinco milhões de pessoas deixaram o Reino Unido para iniciar uma vida nova no exterior, levando na bagagem uma cultura e a convicção de pertencer ao povo mais civilizado e progressista do planeta (MASCARENHAS, 2014, p. 39).

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Já na América Latina o futebol começa sua caminhada no século XIX, onde vários países times adotam nomes da língua inglesa; exemplos são: Banfield, Corinthians e Everton (Argentina, Brasil e Chile) (FRANCO, 2007, p. 63). A chegada do futebol no Brasil não fugiu a essa regra; exemplo é a famosa história de Charles Miller.

Para melhor entendimento da história do futebol no Brasil, costuma-se dividir esses pouco mais de cem anos em cinco fases distintas: (a) primeira fase (1894-1904); (b) fase amadora (1905-1933); (c) fase do profissionalismo (1933-1950); (d) consagração do “estilo brasileiro” de jogar futebol (1950-1970); (e) fase da modernização e comercialização do futebol, a partir dos anos 1970 até os dias de hoje (RODRIGUES, 2015, p. 26).

Na primeira fase destaca-se o evento da chegada de Charles Miller em 1894, retornando da Inglaterra trazendo consigo equipamentos para prática do esporte e um livro de regras, sendo São Paulo o primeiro palco das primeiras partidas. Outro fato importante dessa fase é a exclusão de negros e mulatos, mesmo de brancos pobres; o futebol, nessa fase, ainda era para poucos, pois havia um elitismo e ainda estava associado a uma certa visão de modernidade (RODRIGUES, 2015, p. 27).

Essa elitização do futebol também está vinculada ao fato de que algumas localidades dispunham de condições de enviar seus filhos privilegiados para estudar na Europa, tendo assim um canal de contato com essas novidades da civilização, ficando restrito, nesse momento, a esses grupos das elites locais.

Desnecessário repetir que o futebol se introduziu no Brasil principalmente como modismo europeu com traços higienistas, moralistas, cosmopolitas e de distinção social, bem mais adequado, portanto aos jovens de elite. Em nossas terras, o processo de popularização do futebol apresentou ritmo próprio, condizente com os limites de uma sociedade sobejamente rural e ainda herdeira de trações coloniais, com sua rigidez, hierarquia e fortes índices de exclusão das camadas empobrecidas. (MASCARENHAS, 2014, p. 107).

Traços da primeira fase podem ainda ser vistos na chamada segunda fase do futebol brasileiro, que é marcada pelo futebol ainda como distinção social e pelo amadorismo. Agora, além da composição dos times ser das classes mais abastadas da sociedade, o ainda pequeno público que acompanha os jogos também é composto por membros dessa classe social. Nas partidas desse período era possível ver rapazes de terno e gravatas, as moças com chapéus e flores. Os jogadores eram sócios dos clubes e frequentavam suas festas e bailes. Os filhos jogavam, as filhas e os pais ficavam na tribuna, assim os grandes times de futebol desse período eram uma segunda casa para essas boas famílias (LOPES, 1998, p. 70).

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No que tange ao falso amadorismo, este vigorou como concepção de prática esportiva preferida pela aristocracia nesse período, herança da classe dos lazeres de uma elite inglesa e, aos poucos, das elites locais. O futebol era praticado por jogadores originários dessas classes, ligados às escolas e empresas, mas também por alguns atletas operários de determinadas empresas. A discriminação racial também perdura nessa fase, no entanto, mesmo que de modo clandestino, jogadores negros e mulatos começam a ser introduzidos nas partidas. No cenário nacional a regra era a proibição de negros na seleção brasileira e em vários times. Além dessas características havia também um falso amadorismo romântico, que começa a mudar a partir de 1917, com a cobrança de ingressos no futebol de São Paulo e Rio de Janeiro, dinheiro que, a princípio, servia para cobrir os custos das partidas e, posteriormente, para o pagamento dos atletas.

A revolução vascaína no Rio de Janeiro, em 1923, configura-se como acontecimento fundamental no processo de popularização do futebol no Brasil. Na verdade, o Clube de regatas Vasco da Gama contribuiu com o processo de democratização no futebol brasileiro quando venceu o campeonato carioca naquele ano com uma equipe formada basicamente por jogadores negros, mulatos ou brancos pobres. (RODRIGUES, 2015, p. 25).

Na chamada terceira fase, ou fase da democratização e profissionalização, esse processo era distinto do profissionalismo, já que o profissionalismo era almejado pela classe trabalhadora que via no futebol uma profissão, já a profissionalização em sé era mal vista pelas elites, já que o futebol perderia o prestigio social de ser praticado apenas por essa classe social. Na profissionalização do futebol, pode-se destacar a introdução de uma regulamentação trabalhista, no período do governo de Getúlio Vargas; portanto, seguindo uma tendência de outros segmentos trabalhistas, ou seja, nada específico do mundo do futebol.

É nas primeiras décadas do século XX que começa a popularização do futebol. Sua democratização e consagração como elemento da cultura nacional dá-se a partir dos anos 1930, tendo como marco a profissionalização em 1933. (MOURA, 1998, p. 19).

Essa ruptura de paradigma tem outro elemento importante: a aceitação de jogadores de origem pobre nos grandes clubes da época, assim como da presença de negros de forma oficial nos times, que acabam caracterizando o surgimento do chamado futebol-arte.

Os jogadores negros e mestiços são os pioneiros no que viria a ser conhecido como o “estilo brasileiro de jogar futebol” (FREYRE, 1957, 1964, 1971a; RODRIGUES FILHO, 1964). Esses serão os atletas socialmente identificados como os criadores e a razão de ser do chamado futebol-arte, uma das

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peculiaridades brasileiras nesse esporte. (LOPES, 1998, p. 19, apud RODRIGUES, 2015, p. 26).

Freyre (1971, p. 102), também afirma que as chamadas qualidades do futebol no Brasil, a forma artística e plástica de jogar, os dribles geniais, muito semelhantes às nossas danças e gingados, expressariam a brasilidade desse estilo, sendo resultado, sem dúvida, da mistura de raças, positiva na constituição da identidade nacional. Tal característica é importante quando pensamos também nas ideias de democracia racial defendidas por Freyre, para se entender não apenas o futebol, mas a própria sociedade brasileira.

Lembramos que, mesmo agora oficialmente aceitos no futebol, tanto negros quanto mulatos já participavam de jogos, mesmo que de forma clandestina; esse fato ocorria devido à baixa quantidade de jogadores nas fábricas, desta forma completavam-se os times com esses indivíduos, às vezes usando de subterfúgios, como disfarçar jogadores negros e mulatos para que se parecessem brancos. Pode-se dizer que nessa fase supera-se o elitismo e amadorismo, com elementos pré-existentes no seu próprio bojo.

Em 1933, formalmente, temos a implantação do futebol profissional em nosso país. De forma ainda muito precária, é verdade, mas o suficiente para estabelecer talvez o mais importante marco na história do nosso futebol. [...] Estamos nos referindo às lutas dos jogadores para se profissionalizarem nesse esporte. (CALDAS, 1990, p. 37).

A quarta fase, ou da consagração do “estilo brasileiro” de jogar futebol, ganha forma a partir de 1950, durante o Mundial do Brasil desse ano, mesmo com o catastrófico desfecho desse evento, que marcou definitivamente não só a história do esporte, mas também deixou um grande legado, a consagração do um estilo próprio de jogar o esporte bretão.

No Mundial de 1950 o Brasil apresentou um belo estilo de jogo, terminou a competição em segundo lugar, consolidando seu estilo de jogar futebol, tendo como arquitetos os jogadores negros e mulatos. Era o futebol-arte, feito de magia, ginga e improviso que constrói a identidade nacional, tendo Leônidas, Domingos e Fausto como principais expressões. (RODRIGUES FILHO, 1964, apud RODRIGUES, 2015, p. 27).

A sequência de mundiais posteriores a 1950, com exceção a 1954 e 1966, onde a seleção foi eliminada nas quartas de final e na primeira fase, respectivamente; o Brasil consolida de forma definitiva seu estilo de jogo em 1958, 1962 e 1970, com os três títulos incontestáveis, em especial o de 1970. O país passa a ser considerado o grande detentor de um jeito ímpar de jogar

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futebol. O chamado futebol-arte dessa fase deixará marcas profundas no imaginário nacional e mundial.

Esse Paradigma, que só viria a ser superado no fim do século XX, com a ascensão de um estilo europeu de jogar, também chamado de futebol-força, que passa a estabelecer derrotas consecutivas ao estilo de futebol-arte, com exceção apenas da copa de 1994 nos Estados Unidos da América, vencida pelo Brasil, que na ocasião já demonstrava uma mescla ou equilíbrio entre as duas formas de jogar.

Por fim a quinta fase, ou da modernização e comercialização, apresenta algumas características que devem ser destacadas: a comercialização do futebol, a publicidade nas laterais dos campos, nas camisas dos jogadores, a transmissão ao vivo dos jogos pela TV, o futebol força, o surgimento dos modernos Centros de Treinamentos (CTs) e as conquistas das copas de 1994 e 2002.

A fase da modernização, pode ser datada de 1970 aos nossos dias. Se caracteriza pelo crescimento de recursos financeiros no futebol, televisionamento das partidas, crescimento no nível salarial dos jogadores e do êxodo de jogadores brasileiros para o futebol europeu nas últimas décadas do século XX. O surgimento do Clube dos Treze, a Lei Zico, a Lei Pelé e o fim do Passe são elementos que caracterizam esta fase recente do futebol brasileiro. (RODRIGUES, 2015, p. 29).

Essa modernização liberal capitalista tem como ápice uma grande competição que ocorre a cada quatro anos, mas que nessa fase ganhou dimensões realmente mundiais; reflexo disso são os números crescentes de espectadores a cada copa, a audiência deu saltos constantes: 5 bilhões acumulados de telespectadores em 1982, 8 bilhões em 1986, 32 bilhões em 1990 (FRANCO, 2007, p. 23). Tais números impulsionaram não só a comercialização dos eventos dos selecionados nacionais, mas também dos clubes, tanto dos países desenvolvidos e, igualmente potências futebolísticas, caso da Inglaterra e Alemanha, mas também dos em desenvolvimento, essas potências somente no futebol, caso do Brasil e Argentina. Essa nova fase do futebol está estritamente ligada ao esporte como parte da indústria do entretenimento.

A indústria do esporte é parte integrante da indústria do entretenimento. O entretenimento é uma das principais atividades econômicas do mundo atualmente. Essa indústria é dinâmica e associada aos setores de mídia e telecomunicações. Entende-se como indústria do esporte o mercado no qual os produtos oferecidos aos compradores relacionam-se a esportes, fitness, recreação ou lazer e podem incluir atividades, bens, serviços, pessoas, lugares ou ideais. (PITTS; STOTLAR, 2002 p. 7).

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Essa vertente de entretenimento do esporte, aqui em específico o futebol, tem sua marca, ou marcas, na introdução das propagandas nas laterais dos gramados e na, outrora controversa, exibição de símbolos e logotipos de empresas e indústrias nos uniformes das equipes. Nesse contexto de superexposição midiática, respeita-se, ainda, os uniformes das seleções, onde só figura a marca do patrocinador do material esportivo. Nos clubes, sobretudo dos menores, a “outdoorização”1 avançou avassaladoramente.

Em maio de 1982 foi aprovado o uso de publicidade nos uniformes dos times, as camisas passavam a apresentar propagandas de empresas. Tal medida foi aprovada pelo Conselho Nacional de Desportos (CND). Temia-se que os torcedores não aprovassem isto, pois poderia ser uma profanação do sagrado manto, da tradição da camisa. (RODRIGUES, 2015, p. 29).

Quanto à importância da transmissão ao vivo das partidas de futebol, como já foi exposto sobre o crescimento dos telespectadores nas Copas, o impacto pode ser mensurado pelo crescimento dos patrocínios, das receitas de marketing e, até mesmo, nos salários de alguns jogadores. No Brasil essa transformação, ou adaptação ao modelo liberal capitalista de se lidar com o esporte, fica evidente no domínio de algumas empresas sobre os direitos de transmissão das partidas. Fato a que não cabe análise neste trabalho. Devendo-se ressaltar que essa experiência promove um grande debate sobre a diminuição do número de torcedores nos estádios nacionais. No entanto é inegável que a transmissão televisiva provocou um grande salto mercadológico no futebol do país, gerando grande crescimento da receita de alguns clubes.

A partir do final da década de 1970 iniciou-se o processo de transformação das fontes de receitas dos clubes. A receita proveniente de bilheteria teve sua importância diminuída devido à exploração de novas fontes de receita, como a televisão e produtos licenciados. As mudanças no futebol não foram direcionadas pelos clubes ou ligas e sim por novas tecnologias, principalmente as que envolvem a transmissão dos jogos. (SZYMANSKI; KUYPERS, 2000 apud MAYER, 2010, p. 10).

No entanto, o futebol é mais do que um simples negócio. Os clubes são considerados ativos culturais e comunitários; essa mensuração meramente capitalista muitas vezes deve ser relativizada, pois nem todos os clubes com grande capacidade de angariar recursos têm sucesso no futebol; os casos de fracassos de clubes com grandes financiamentos e receitas se estendem pelas últimas décadas tanto no Brasil quanto no resto do mundo.

1 Neologismo criado a partir do substantivo outdoor com o objetivo de adjetivar a utilização de propagandas nas

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No caso do futebol nacional, essa crescente exploração comercial e midiática deve ser analisada de vários outros aspectos, como a recuperação de alguns clubes tradicionais, a organização de campeonatos mais racionalizados no que tange ao calendário das competições, na melhoria, mesmo que a passos lentos, das estruturas dos estádios e praças esportivas ligadas ao futebol, mesmo antes da copa de 2014.

Essa tentativa de melhoria, ou modernização tardia do futebol brasileiro, vai de encontro a um velho e já clássico dilema vivido no mundo desse esporte, o confronto entre o futebol-arte e o futebol-força. Debate alimentado pelos vinte e quatro anos de insucessos do primeiro sobre o segundo; foram seis copas do mundo, de 1974 a 1994, onde um futebol reconhecidamente mais alinhado com a descrição de futebol força venceu, e convenceu, tais disputas. O futebol-força apresenta-se como uma forma de parar o futebol-arte, vencedor das copas de 1958,1962 e 1970. Nesse momento se estabelece o polêmico debate envolvendo torcedores, imprensa esportiva, jogadores e dirigentes a respeito da forma de jogar futebol, bem como da preparação física e técnica da seleção brasileira.

Ressaltando-se que, nesse período, o futebol-arte seguiu muito bem representado nos campos pelo mundo; destaque pode ser dado às seleções formadas para as copas de 1982 e 1986, onde o Brasil pratica um futebol visualmente alinhado aos ditames do futebol-arte, no entanto são superadas por selecionados europeus, Itália em 1982 e França em 1986, derrotas que foram computadas dentro e fora do campo.

[...] Em 1982, uma equipe esplendorosa, imaginativa no ataque e no meio-campo, representada pela geração criativa e brilhante de Zico, Sócrates, Falcão, Cerezo e Júnior e dirigida por Telê Santana, tomba, ainda antes das semifinais, diante da prosa efetiva e nem tão estetizante Itália. (WISNIK, 2008, p. 329).

Por fim, a copa de 1990, com a derrota do Brasil para a Argentina, deflagra de forma definitiva o ataque a nosso estilo de futebol. A Copa de 1994, jogada nos Estados Unidos da América, foi vencida justamente pelo Brasil; embora este não tenha desempenhado, nem de longe, seus maiores espetáculos, a vitória sobre a Itália na final dá um bom exemplo de nossa adequação ao futebol-força.

O esquema de Pasolini equaciona com propriedade o tema dominante das duas décadas seguintes do futebol brasileiro e das seis Copas do Mundo que se seguiram a 1970, entre 1974 e 1994. Trata-se de um longo intermezzo sem vitórias, em que a questão discutida no Brasil passava a ser a do dilema entre o “futebol-arte” e o “futebol-força”. As vitórias da Alemanha, Argentina e Itália, nesse período, além da fulgurante passagem do “carrossel holandês” em 1974, colocavam na ordem do dia a ideia de que era preciso adotar um futebol

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eminentemente coletivo, taticamente responsável, compactamente defensivo, fisicamente forte, e que abrisse mão de devaneios individualistas. (WISNIK, 2008, p. 321).

No entanto, deve-se ressaltar que tanto o futebol-arte quanto o futebol-força são frutos de mundos simbólicos, nem um nem outro se sustentam em uma análise mais meticulosa, pois um estilo nunca foi abandonado totalmente, não são tipos ideais, nem puros, ambos coexistem e se misturam. Mesmo assim povoam o imaginário popular, teórico e técnico.

A maioria dos estudos sobre o futebol no Brasil enfatiza sua história e relação entre futebol e identidade nacional [...]. O trabalho de Gil acerca do drama do futebol-arte a partir dos anos 1970 insere-se nesta perspectiva. Gil (1994) destaca a relação entre futebol e nação, dando ênfase à imagem do futebol-arte como representação do povo brasileiro (miscigenação) e fonte da identidade nacional. A cultura mestiça brasileira teria dado origem ao estilo malandro de jogar futebol no Brasil. Alguns pensadores entendem o futebol como metáfora da nacionalidade. A construção da identidade nacional a partir do futebol-arte, no qual predomina a magia, habilidade, improviso e talento. (RODRIGUES, 2014, p. 4).

Essa associação do futebol com a arte, no Brasil, pode ser explicada também pela mistura do esporte com as festividades populares, num país onde a erudição, entendida aqui como cultura adquirida em instituições oficiais, escolas e universidades, ainda é insipiente; essas festividades esportivas seriam então uma das poucas atrações lúdicas e, porque não, artísticas para grande maioria, sendo assim, o futebol ganhou notoriedade pelo fato de trazer alegria, sonhos e realizações, mesmos sentimentos dos eventos artísticos.

Com o esporte, ademais, é possível criar uma zona intermediária entre a festa popular tradicional (elástica nas suas normas que ninguém a rigor controla ou conhece completamente) – festa que tendia a carnavalescamente confundir atores e espectadores – com seu oposto: o espetáculo erudito (o concerto e o desempenho teatral ou operístico), no qual atores e espectadores estão rigorosamente separado. (DAMATTA, 1994, p. 15).

Já fora do Brasil o reconhecimento do futebol praticado por nós passa pela comparação da rigidez de costumes e práticas esportivas, sobretudo tática, se comparado à nossa “malandragem” e inventividade, nos dribles e jogadas de efeitos construídas a partir de nossa cultura de improvisos e falta de previsibilidade.

Deste modo, fala-se do brasileiro esperto e malandro – aquele que sabe viver e “tirar vantagem de tudo” – como a pessoa que tem “jogo de cintura”. Expressão que se aplica tanto ao político populista (que sabe dar o “pulo do gato”, ou seja, viver positiva e cinicamente as contradições engendradas pelo seu comportamento), quanto ao bom jogador de futebol e o próprio estilo de

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praticar tal esporte no Brasil. Pois sabemos que o chamado “futebol brasileiro” se representa a si mesmo como uma modalidade caracterizada no uso excepcionalmente habilidoso do corpo e das pernas, o que cria um jogo bonito de se ver. (DAMATTA, 1994, p. 16).

Essas características culturais refletidas no nosso futebol durante muito tempo foram admiradas, tanto no Brasil quanto no exterior, visto o volume crescente de jogadores de nosso país que foram jogar em grandes centros, como a Europa, ou mesmo em pequenos e jovens mercados da bola, como a Ásia e a América do Norte. No entanto tal característica pouco agregou ao avanço de nosso futebol no que tange à modernização. O modelo capitalista liberal de esporte não aceita muito bem, por muito tempo, somente a arte, a beleza e o encantamento. Junto do processo civilizador tardio do futebol brasileiro, chegou também o pensamento mercadológico, do resultado, do lucro racionalizado e duradouro. O futebol-arte entra então nessa era em rota de colisão com o chamado futebol-força, teórico e racionalizado.

Em algumas ocasiões o chamado futebol-arte foi severamente subestimado pelo desenvolvimento científico de alguns países, mais avançados no desenvolvimento de técnicas científicas esportivas, foi o caso do confronto travado na Copa de 1958 contra a então superpotência União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).

Segundo Helal (1990, p. 120), nas vésperas de enfrentar essa grande equipe, moldada em parâmetros modernos, já que vinham de um país onde a tecnologia estava muito avançada, com conquistas como o lançamento do primeiro satélite artificial, o Sputnik, naquele mesmo ano, praticavam um “futebol científico”, apresentando esquemas de jogo bem estudados, calculados e reacionais. Com jogadores com maior preparo e força física que os nossos, ainda não inseridos nessa lógica objetiva e racionalizada. Mesmo com todas essas vantagens o que se viu em campo, não foi, nesse momento, uma predominância do futebol-força sobre a arte, pelo contrário, o que aconteceu surpreendeu a muitos, inclusive os soviéticos, já que o placar de 2 a 0 para o Brasil, marcou o confronto desses dois estilos pelas décadas seguintes. Portanto, essa transição até o predomínio do futebol-força sobre a arte, teve sobressaltos. No entanto, essa racionalização parecia algo inevitável.

Helal (1990, p. 134) afirma que como racionalização no âmbito esportivo pode-se entender uma busca cada vez maior na qualificação dos atletas, onde esses serão especializados nos papeis a serem executados, com desenvolvimentos táticos rígidos, formais e calculistas para um objetivo claro e específico, a melhoria do desempenho dos atletas e das equipes. Não que o futebol do Brasil não tenha avançado em condições físicas e atléticas, no entanto esse é um processo modernizante muito mais complexo que somente o desempenho dentro das quatro

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linhas, que envolve um contexto de planejamento, profissionalização e racionalização de todas as esferas envolvidas na prática do futebol.

É nesse contexto de modernização científica e futebol-força que começa o debate da inserção do futebol brasileiro; precisava-se urgentemente nos alinhar às novas técnicas e tecnologias desse período.

A valorização dos treinos cresceu nas últimas décadas. Isso em decorrência de uma nova concepção de futebol que domina o mundo futebolístico contemporâneo. Com os centros de treinamentos, alguns clubes passaram a treinar em campos diferentes do seu estádio sede, transformando os treinos em verdadeiros experimentos científicos de jogadas, destruindo totalmente a dimensão lúdica. (RODRIGUES, 2007, p. 52).

Portanto, a arte passa aos poucos a dividir espaço, cada vez menor, com as novas técnicas modernizantes, com clara tendência a deixar os atletas em melhores condições físicas competitivas, em detrimento à inventividade e à malandragem de outrora. Os Centros de Treinamento (CTs) são um marco nesse processo, onde o campo deixa de ser um lugar lúdico e informal, e passa a ser um ambiente de aplicações metrificadas e racionalizadas de conhecimento do corpo e seus limites.

Para Rodrigues (2015, p. 35), entre as virtudes dos atletas fabricados nos CTs estão a disciplina, pontualidade, capacidade de adaptação, técnica e preparação física. Além de seguirem uma rigorosa e controlada rotina, que conta com acompanhamento médico e, em muitos casos, psicológico. Quase um regime militar, alguns times chegam a ter um manual de conduta do comportamento para seus membros. Tudo com o intuito de aprimorar as novas exigências de um mercado cada vez mais competitivo e racional.

Esse é o pano de fundo das conquistas das Copas de 1994 e 2002; não entrando nos méritos e deméritos da Copa de 1998, o Brasil da copa de 1994 está longe de ser a essência do futebol-arte e também do futebol-força; o time treinado por Carlos Alberto Parreira mescla ambos os estilos, apresentando um futebol competitivo, defensivamente forte e com um ataque competente e tecnicamente equilibrado.

[...] Em 1994, uma equipe compactamente defensiva, prosaica por definição, dirigida por Carlos Alberto Parreira acompanhado de seu talismã, Zagallo, como supervisor, e contando a frete com a genialidade inventiva de Romário (vetado por eles até o último jogo das eliminatórias), vence a Itália nos pênaltis e reconquista a Copa do Mundo depois de 24 anos. (WISNIK, 2008, p. 329).

Inserir a copa de 1994 nesse contexto de modernização do futebol brasileiro pode ser bastante controverso, pois a glória da seleção não reflete os bastidores e os campos do futebol

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nacional. Pelo contrário, pode até escondê-los. A má gestão esportiva, o amadorismo de alguns clubes profissionais, leis ultrapassadas e o modelo de gerência esportiva dominados pelos “coronéis da bola” ainda emperravam as engrenagens do futebol nacional, dentro e fora do campo.

A “crise do futebol brasileiro” é explicada pelo modelo “tradicional” de organização do futebol, baseado no amadorismo dos dirigentes e na política de troca de favores entre clubes e federações. Este modelo é responsável pela desorganização dos campeonatos, gerando jogos deficitários que acabam contribuindo para a migração de craque para o exterior. Este êxodo não somente diminui a qualidade dos jogos, mas gera uma escassez de ídolos, elementos importantes para promover a identificação coletiva. Isto acaba levando à queda de público, que afeta as finanças dos clubes. (PRONI, 2000, p. 149).

Fernandes (2000, p. 50) reforça esses argumentos, apontando que a forma como é gerido e organizado o futebol ainda passa longe de ser moderna. Segundo ele, na organização, o principalmente entrave são os calendários e as condições de jogo. Sendo os calendários inchados por inúmeras competições, muitas com pouca relevância e público, que levam os principais clubes do país a jogar de duas a três vezes por semana, esse ritmo insano de competições afeta as condições de jogo, pois impossibilita a recuperação técnica e a preparação tática das equipes. Sem falar das condições dos estádios, ou, como o autor prefere chamar, “casas de espetáculo”, locais que no país carecem de conforto e segurança. Por fim, afirma que essa deficiência administrativa dos clubes brasileiros pode ser atribuída à penúria financeira em que a grande maioria se encontra, acrescentando-se a isso a total estagnação de ideias, e à pratica arcaica de administrar.

Percebe-se assim que, mesmo durante a eufórica sequência de finais 1994, 1998 e 2002 alcançada pela seleção brasileira, pouco se modificou na forma como o futebol nacional se organizava, e se organiza, pois sofria, e sofre, dos mesmos vícios administrativos e de gestão de outros períodos aqui citados. Fatos que têm reflexos dentro e fora do campo. No entanto, cabe ressaltar que movimentos contrários a essa mentalidade começam a aflorar, mesmo que essas iniciativas, num primeiro momento, tenham partido de setores externos ao esporte, movimentos oriundos da esfera governamental, caso da Lei Zico e Lei Pelé.

No contexto da década de 1990, com todos os seus aspectos econômicos e sociais, dentre eles a chamada reestruturação produtiva, o Plano Real que visa o confronto dos problemas econômicos do Brasil, principalmente a inflação, que acaba por criar uma moeda de mesmo nome. Os desdobramentos da adoção de políticas Neoliberais: privatizações, aberturas de

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mercados, flexibilização das leis trabalhistas, dentre outras. Tais transformações acabam também impactando no mundo do futebol.

É nesse contexto que a Lei Zico (Lei nº 8.672/93) se insere. Segundo Rodrigues (2002), foi adotada uma nova política de redefinição da intervenção estatal na esfera esportiva, revisando o papel do Conselho Nacional de Desportos frente à legislação esportiva.

A lei Zico tem como preocupações as mudanças em torno da melhoria de serviços prestados ao consumidor (torcedor) e do incentivo da participação da iniciativa privada no esporte, retirando, parte, do patrocínio público. Com isso, abria-se oportunidade para o avanço do marketing esportivo, uma das facetas do futebol-empresa em gestação. Tais mudanças pretendem libertar o futebol da tutela estatal. (PRONI, 2000, p. 162).

Cabe aqui dar destaques mais detalhados sobre o “Projeto Zico” encaminhado ao Congresso Nacional em 1991, que pretendia:

i) regulamentar a presença de empresas e as formas de comercialização no futebol profissional, ii) rever a participação nos recursos da Loteria Esportiva, iii) extinguir a ‘lei do passe’ e estabelecer uma nova norma para o contrato de trabalho do atleta profissional, iv) redefinir os mecanismos de supervisão e assegurar a autonomia estatuária dos clubes, assim como v) buscar mecanismos mais democráticos e transparentes de representação e de administração das federações e da CBF. (PRONI, 2000, p. 163).

Rodrigues (2002, p. 58) afirma que, depois de muitas discussões e reações dos dirigentes de clubes e federações, especialmente no que se refere ao fim do passe, o projeto foi aprovado com algumas modificações, entre elas a retirada do ponto que pregava o fim da Lei do Passe, além da obrigação de transformação dos clubes em empresas.

Uma das principais qualidades da Lei Zico foi a tentativa de democratizar as relações entre dirigentes e atletas, criando condições para a profissionalização do futebol. Uma outra questão foi tentar modificar a organização do futebol nacional, promovendo: (a) o fim do passe, proporcionando autonomia aos jogadores em forma de liberdade de contrato; (b) a ruptura com o modelo intervencionista do Estado nos clubes e federações; (c) o surgimento do futebol-empresa; (d) alterações no sistema eleitoral da Confederação Brasileira de Futebol (apud RODRIGUES; PIMENTA, 2000, p. 81).

Para Helal (1997), a modernização tentada pela Lei Zico acabou não se completando totalmente, já que acabou levando em conta uma ética dupla, a moderna e tradicional, onde essas acabaram se mesclando. Por exemplo, jogadores profissionais e dirigentes amadores. Havia outras falhas no projeto modernizante empreendido a partir da Lei Zico.

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A adoção do ‘futebol-empresa’, permitida após a Lei Zico (...) sem a transformação da estrutura de poder não representa uma mudança radical na organização do futebol no país, pois a política de troca de favores ainda prevaleceria na organização dos campeonatos. Com jogos deficitários, o campeonato daria prejuízo aos clubes, limitando o potencial de marketing e da comercialização do futebol, e é exatamente isto o que vem ocorrendo mesmo após a Lei Zico. Ou seja, a modernização administrativa, significando comercialização do espetáculo, teria que vir acompanhada de uma modernização política, entendida aqui como autonomia e independência dos clubes para organizar os campeonatos. (HELAL, 1997, p. 111 apud RODRIGUES, 2015, p. 114).

Já em 1997, Pelé, ou como é conhecido fora das quatro linhas, Edson Arantes do Nascimento, então Ministro dos Esportes do Governo de Fernando Henrique Cardoso, ajudou a desenvolver um projeto que acabou virando a chamada Lei Pelé.

Segundo Proni (2002), tal projeto de lei era inspirado na legislação espanhola, que buscava restaurar o controle do estado sobre as entidades esportivas. Rezava pela fiscalização do esporte e autonomia de organização dos clubes. Assim, “(...), ao propor a revogação da Lei 6.354/76, o projeto também pretendia retirar as proteções que a legislação garantia aos clubes (Lei do Passe) e aos atletas (15% na transferência e limite de três anos na duração do contrato), deixando que o esporte passasse a ser regulado pelas leis do mercado”. No entanto, as entidades esportivas da época não foram consultadas e reagiram com repúdio à proposta.

O projeto foi enviado ao Congresso Nacional sem qualquer consulta às entidades esportivas, o que levou dirigentes de clubes, da CBF e das federações estaduais a classificarem-no de idiota, estatizante, autoritário. Os principais clubes brasileiros se manifestaram contrário ao fim do passe estabelecido pela Lei Pelé, alegando que o passe era um a forma de repor os investimentos no processo de formação do atleta. (RODRIGUES, 2015, p. 115).

Rodrigues (2015), também afirma que a Lei Pelé provocaria uma extinção gradativa do passe e que, de acordo como essa nova regulamentação, quando ao fim ao contrato de trabalho, o jogador poderia se transferir para outro clube, mesmo sem o consentimento do clube atual. Deixando de existir um vínculo entre clube e jogador ao fim deste contrato. Mas, no caso de rompimento de contrato antes do fim deste, o jogador deveria pagar uma multa, estipulada anteriormente, de até 200 vezes o seu salário anual. Da mesma forma se fosse de um jogador durante o seu primeiro contrato deste como profissional, que teria duração de no máximo cinco anos. Tendo vínculo de seis meses após o final de seu primeiro contrato profissional com o clube que o revelou. Por fim, mesmo com algumas alterações, a controversa Lei Pelé foi aprovada.

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Sancionada em março de 1998, a “Lei Pelé”, 9.615/98, reformulou os artigos da Lei Zico referentes ao funcionamento do sistema esportivo profissional, redefinindo o marco legal que rege o futebol brasileiro. Entre as mudanças mais importantes, dois artigos devem ser destacados: o de nº 93, determinando prazo de três anos para o fim do “passe” entrar em vigor; e o de 94, conferindo aos clubes que participam de competições profissionais prazo de dois anos para se transformarem em empresas. (PRONI, 2000, p. 201).

Com a preocupação também de evitar que prejuízos financeiros fossem acarretados e, com o fim do passe, recaíssem sobre os clubes, foi incentivado o trabalho de formação de jogadores nas categorias de base; desta forma a Medida Provisória de número 2.141, de 200, posteriormente reeditada na Medida Provisória número 2.142-2, de 2002, promove modificações relevantes na Lei Pelé.

Trata-se da indenização por formação. O clube de futebol que formou o atleta profissional tem o direito de cobrar a indenização de formação se comprovar que o atleta esteja registrado no clube como não-profissional por um período de no mínimo dois anos. A indenização por formação é um valor cobrado ao novo empregador (clube que adquire os direitos federativos do atleta) pela cessão do jogador de futebol e não pode exceder a 200 vezes o total da remuneração anual do atleta pactuada no contrato anterior. Essa indenização deve ser paga antes do final do contrato, pois quando este chega ao seu término, inexiste a referida indenização. Se clube (formador) não ceder (negociar) o atleta durante a vigência do contrato de trabalho pode perder o investimento no atleta. (RODRIGUES, 2014, p. 11).

O processo de modernização conservado do futebol brasileiro dava mais um passo, onde mais se esperava e onde mais era preciso, no celeiro produtor de pés-de-obra, a base. O processo então contava agora com uma sustentação legal moderna e que tinha, teoricamente, amplitude; mesmo que sob contestação de membros dos diversos segmentos, a Lei Pelé é hoje considerada um marco desta tentativa de modernização, tentativa, pois muita coisa ainda teria que ser modificada até que a engrenagem modernizadora rodasse de forma sustentável e duradoura.

Trata-se de um ajustamento da sociedade brasileira à modernidade capitalista. As classes responsáveis pela dominação tentaram ajustar a sociedade brasileira ao capitalismo internacional em transformação e, ao mesmo tempo, preservar o caráter geral presente na própria gênese da sociedade brasileira. A solução encontrada foi a modernização conservadora, isto é, um processo de mudança sem povo e sem democratização do poder ou da propriedade, de forma que as mudanças institucionais encontravam-se enclausuradas em um formalismo burocrático-conservador e as mudanças produtivas não incorporavam a progressiva participação do mundo do trabalho nos excedentes econômicos. A modernização pela qual passou a sociedade brasileira no século XX é considerada conservadora pelo fato de ter ocorrido

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uma modernização nos meios de produção, mas não nas relações de produção. (RODRIGUES, 2014, p. 13).

Desta forma a modernização conservadora também pode ser aplicada ao futebol, já que o fim do passe no futebol brasileiro contribuiu para a modernização na produção de seu principal produto, o jogador tipo exportação, mas conservou a venda deste como um bem do clube.

Nas copas que sucederam a esse movimento de modernização o que vimos, em âmbito nacional, foi uma lenta tentativa de colocar nosso principal esporte nos trilhos dos ditames da contemporaneidade do futebol. A Copa do Mundo de 2002, vencida por uma geração oriunda desse período modernizante, não trouxe grandes novidades ao Brasil, muito pouco se avançou na profissionalização da maioria dos clubes.

O argumento é que existem pouquíssimos clubes realmente profissionais no Brasil, com condições de se manter lucrativamente. A maioria funciona num semiamadorismo e, se quiséssemos dar um salto qualitativo, teríamos necessariamente que criar uma classe dos clubes de maior torcida e outra dos com potencial para ascender. O resto dos clubes teria que se contentar com ligas amadoras regionais. A base para isso é que o número de clubes por população e por tamanho da economia é muito maior do que em todos os países onde a indústria do futebol funciona e dá lucro. De fato, a partir da sua inserção na indústria do entretenimento, o futebol (e, no mais, todos os outros esportes) tem se tomado uma atividade cada vez mais complexa, exigindo cada vez mais profissionalismo e especialização na sua gestão. (VÍDERO, 2002, p. 89).

Esse cenário de penúria e má gestão perdura durante toda a primeira década do século XXI e se estende até nossos dias. Os desdobramentos desse período são o pano de fundo para o nascimento dos primeiros clubes-empresas do Brasil, dentre eles o Cuiabá Esporte Clube, cujo nascimento, em 12 de dezembro de 2001, inspirou esta pesquisa.

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2 BREVE HISTÓRIA DO FUTEBOL EM MATO GROSSO

Esta dissertação mostra como o Cuiabá Esporte Clube se tornou, em menos de vinte anos, um dos exemplos de maior sucesso do modelo de clube empresa do Brasil. Esta pesquisa pretende se inserir no contexto propício e fértil da produção acadêmica científica, e ajudar a ampliar os debates em torno da temática, visando a compreensão dos processos que levaram o Cuiabá Esporte Clube à Série B (segunda divisão), de um dos campeonatos esportivos mais competitivos do mundo, o Campeonato brasileiro de Futebol. Para tanto será feito um estudo de caso, tendo como contexto os dados referentes à ascensão do clube, seu modelo de negócio, assim como suas estruturas organizacionais e seus impactos no cenário do futebol, nacional e estadual.

O objetivo principal desta pesquisa é analisar quais os fatores que levaram o time de futebol Cuiabá Esporte Clube como empresa esportiva a ascender no cenário nacional de futebol, advindo do seguinte problema: quais foram os fatores que levaram o time de futebol

Cuiabá Esporte Clube como empresa esportiva a ascender no cenário nacional do futebol?

Para dar conta de responder a essa problemática foram feitas algumas questões secundárias, a saber: Quais os resultados obtidos no período abordado pela pesquisa no âmbito econômico e esportivo? Quais os modelos de gestão adotados para a obtenção desses resultados? Mas antes se faz necessário inserir o Cuiabá Esporte Clube no cenário do futebol mato-grossense.

2.1 DOS PRIMÓDIOS À ARENA PANTANAL

Nas linhas a seguir faremos um breve histórico do futebol no Mato Grosso (MT). O intuito desta parte do trabalho é termos um vislumbre do processo de inserção do futebol na sociedade mato-grossense e como gradativamente o esporte passou a fazer parte desta sociedade, transformando-se em um elemento da cultura local.

A primeira partida de futebol registrada ocorreu na cidade de Cuiabá no ano 1911; nesta data foi disputado a primeiro confronto entre as equipes Internacional (porto) x Cuiabá (centro). Começa, nesse momento, uma prática que viria a ser adotada como esporte das multidões (POVOAS, 1983 apud DUARTE, 2013, p. 21). Essa primeira fase ficou conhecida como período amadorista do futebol de MT.

Referências

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