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AS SIGNIFICAÇÕES DO III PLANO NACIONAL DE POLÍTICAS PARA AS MULHERES E DO PROGRAMA MULHERES MIL: EDUCAÇÃO PROFISSIONAL PARA MULHERES POBRES

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AS SIGNIFICAÇÕES DO III PLANO NACIONAL DE

POLÍTICAS PARA AS MULHERES E DO

PROGRAMA MULHERES MIL: EDUCAÇÃO

PROFISSIONAL PARA MULHERES POBRES

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<http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/brasil_sem_miseria/cartilha_mulheres_mi l.pdf>. Acesso em: 29 abr. 2015.

UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO NAS CIÊNCIAS

DOUTORADO EM EDUCAÇÃO NAS CIÊNCIAS

FERNANDA DE MAGALHÃES TRINDADE

AS SIGNIFICAÇÕES DO III PLANO NACIONAL DE POLÍTICAS PARA AS MULHERES E DO PROGRAMA MULHERES MIL:

(4)

Ijuí 2017

FERNANDA DE MAGALHÃES TRINDADE

AS SIGNIFICAÇÕES DO III PLANO NACIONAL DE POLÍTICAS PARA AS MULHERES E DO PROGRAMA MULHERES MIL:

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EDUCAÇÃO PROFISSIONAL PARA MULHERES POBRES

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação nas Ciências da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, como requisito parcial para obtenção do título de Doutora em Educação nas Ciências.

Orientadora: Profa. Dra. Maria Simone Vione Schwengber

Ijuí 2017

Catalogação na Publicação

T832s Trindade, Fernanda de Magalhães.

As significações do III Plano Nacional de Políticas para as Mulheres e do Programa Mulheres Mil: educação profissional para mulheres pobres / Fernanda de Magalhães Trindade. – Ijuí, 2017.

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259 f.: il. ; 30 cm.

Tese (doutorado) – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Campus Ijuí e Santa Rosa). Educação nas Ciências.

“Orientadora: Maria Simone Vione Schwengber”.

1. Educação profissional. 2. Mulheres pobres. 3. Plano Nacional de Po- líticas para as Mulheres. 4. Programa Mulheres Mil. 5. Trabalho. I. Schwengber, Maria Simone Vione. II. Título. III. Título: Educação profis- sional para mulheres pobres.

CDU: 37.014

Gislaine Nunes dos Santos CRB10/1845

FERNANDA DE MAGALHÃES TRINDADE

AS SIGNIFICAÇÕES DO III PLANO NACIONAL DE POLÍTICAS PARA AS MULHERES E DO PROGRAMA MULHERES MIL:

EDUCAÇÃO PROFISSIONAL PARA MULHERES POBRES

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação nas Ciências da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, como requisito parcial para obtenção do título de Doutora em Educação nas Ciências.

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_____________________________________________________________ Profa. Dra. Maria Simone Vione Schwengber – Orientadora Universidade

Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – Unijuí

_____________________________________________________________ Profa. Dra. Noeli Weschenfelder Universidade Regional do Noroeste do Estado

do Rio Grande do Sul – Unijuí

_____________________________________________________________ Profa. Dra. Maria Regina Johann Universidade Regional do Noroeste do Estado

do Rio Grande do Sul – Unijuí

_____________________________________________________________ Profa. Dra. Carin Klein Universidade Luterana do Brasil – Ulbra

_____________________________________________________________ Profa. Dra. Raquel Lunardi Instituto Federal de Educação, Ciência e

Tecnologia Farroupilha – IFFar

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Às mulheres, Marias,

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Mulheres Mil.

AGRADECIMENTOS

Nesta tese, foram as significações produzidas por mulheres que me moveram a questionar, indagar e ir além. Após concluir o processo de escrita, encontro-me no lado oposto: sou eu que as produzo. E há somente uma significação capaz de definir meus sentimentos neste momento: gratidão.

Sou grata a todas as pessoas que, de alguma forma, colaboraram com esse processo, que em algum momento cruzaram o meu caminho, marcaram minha trajetória, contribuíram com a minha formação pessoal e/ou profissional. Aos sorrisos espontâneos e aos abraços fraternos que se fizeram presentes, sou grata.

Um agradecimento especial à Maria Rita, Maria Teresa, Maria Inês e Ana Maria. Marias que representam, nesta tese, todas as mulheres que participaram do Programa Mulheres Mil – curso de Produção, Elaboração e Distribuição de Alimentos Derivados da Pesca – no ano de 2012, nos municípios de São Borja/RS e Itaqui/RS. Marias, Mulheres Mil, que ao compartilharem suas narrativas de vida, tornaram esta pesquisa possível. A elas, minha gratidão.​Agradeço à minha orientadora, Profa. Dra. Maria Simone Vione Schwengber, por compartilhar muito mais do que ensinamentos, por abrir a casa e o coração. Minha gratidão pela acolhida, pelas inúmeras leituras e correções, pela confiança, pela paciência, pelos artigos aprovados e por tornar esse percurso para a obtenção do título de doutora menos solitário. Ganhei uma professora, uma orientadora e uma amiga.

Agradeço às professoras doutoras Carin, Noeli, Raquel e Regina, que prontamente aceitaram meu convite para participar desta banca, e cujas contribuições foram valiosas para o aprimoramento da minha escrita. Obrigada pela leitura atenta, pelas sugestões e pela partilha de saberes.

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Também contribuíram neste processo de formação, com a constante troca de

conhecimentos, as colegas e amigas do grupo de pesquisa da Unijuí. Em comum tínhamos a orientadora e a vontade de aprender. Obrigada pelas discussões, pelas trocas de conhecimento, pelas risadas, por me encharcarem de otimismo e ânimo para ir adiante toda quarta-feira.

Além do grupo de pesquisa da Unijuí, agradeço ao grupo de pesquisa da Ufrgs. Primeiramente agradeço à minha orientadora pelo convite e pela oportunidade de participar. Sou grata também a todos(as) os(as) integrantes, pela acolhida e pela generosidade em compartilhar leituras, discussões, pontos de vistas, aprendizagens, experiências. Aprendi muito com vocês.

Agradeço às secretárias do Programa de Pós-Graduação em Educação nas Ciências, que sempre foram solícitas no atendimento de minhas dúvidas, auxiliando em questões específicas, facilitando, sempre que possível, e reduzindo a distância entre São Borja/RS e Ijuí/RS.​Obrigada aos meus parceiros de viagem, que dividiram mais do que a gasolina e o carro. Dividimos o chimarrão, o lanche, as conversas, os anseios, as vitórias. Hoje, quero dividir com vocês esta conquista.

Meus sinceros agradecimentos à Profa. Dra. Alcina Manuela Martins, minha orientadora durante o Programa Doutorado Sanduíche no Exterior – PDSE – realizado na Universidade Lusófona do Porto, em Portugal. Obrigada por abraçar esse programa junto comigo, por proporcionar a ampliação de conhecimentos em nível internacional, e pelas dicas gastronômicas a cada orientação.

Agradeço, cheia de saudade, aos melhores ​flatmates ​do mundo, que me permitiram a convivência com as culturas portuguesa, alemã, dinamarquesa, italiana e síria. Mais do que dividir a casa, dividimos a vida. Os conhecimentos científicos obtidos com o PDSE foram muito importantes, assim como a oportunidade de conhecer diferentes lugares do continente

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europeu, mas foram vocês que tornaram essa viagem inesquecível. Obrigada. ​Danke. Tak.

Grazie. Shokran.

Sou grata aos meus colegas do Instituto Federal Farroupilha, ​campus ​São Borja/RS, que permitiram meu afastamento integral para cursar o Doutorado em Educação nas Ciências e supriram minha ausência durante esse período.

Da mesma forma, agradeço aos meus alunos, a quem abandonei no meio do semestre, por compreenderam os motivos pelos quais me afastei e pela forma carinhosa que

organizaram nossa despedida. Tenham certeza que são lembrados com muito carinho e que é também por vocês a minha constante busca por conhecimento.

Aos meus/minhas amigos(as), obrigada por compreenderem minha ausência. Mesmo distante fisicamente, meu ombro amigo sempre pertenceu a vocês.

Não poderia deixar de mencionar minha família, que faz de mim uma pessoa melhor a cada dia. Com vocês, aprendi valores que hoje me constituem, como honestidade, dignidade, respeito, profissionalismo, justiça, perseverança, determinação, generosidade. Ensinaram-me que o conhecimento é a melhor forma de investimento. São meus melhores exemplos, a melhor parte de mim.

Agradeço, ainda, a Deus, pelas oportunidades proporcionadas. A todos(as) vocês minha eterna gratidão.

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Simone de Beauvoir (1980, p.9). RESUMO

Esta tese tem como objetivo analisar o capítulo 1 do III Plano Nacional de Políticas para as Mulheres (2013-2015) – “Igualdade no mundo do trabalho e autonomia econômica” – e o Programa Mulheres Mil. E ainda, de modo particular, compreender a produção de significações em um grupo de mulheres beneficiárias desse Programa. Para tanto, recorri à análise documental, às análises descritiva, conceitual e normativa de Peter et al. (2007), a entrevistas narrativas e à análise do conteúdo. Os resultados permitiram concluir que o III PNPM e o Programa Mulheres Mil emergem no contexto contemporâneo econômico neoliberal, que tem no indivíduo – nas mulheres – a sua força de trabalho, o seu capital. A educação profissional atravessa essas políticas como forma de aprimorar o capital humano e incluir produtivamente as mulheres em situação de vulnerabilidade social no mundo do trabalho público, assalariado e/ou empreendedor, o que denomino de ​economização do social​. O trabalho e a consequente geração de renda são fundamentais nesse contexto neoliberal para um suposto desenvolvimento da igualdade e da autonomia econômica para as mulheres, valores esses que justificam a existências dessas políticas públicas, para a modificação das relações de gênero existentes no país. Contudo, as significações produzidas nas mulheres beneficiárias mostraram resultados diferentes dos propostos nas análises dos documentos. A educação profissional, nesse caso, atende aos interesses do capital, utilizando a capacitação das mulheres para o desenvolvimento econômico do país. Além disso, são políticas compensatórias de desiguais condições históricas e sociais enfrentadas por elas, que não contemplam o direito à diferença de gênero e que contribuem para uma igualdade e autonomia econômica imaginárias, e não reais. Trata-se de uma educação pobre, que capacita mulheres pobres para a realização de atividades operacionais, que não exigem o desenvolvimento intelectivo, desvalorizadas socialmente e com baixa remuneração. Dessa forma, as mulheres pobres têm acesso, ainda que mínimo, à renda, ao consumo imediato, mas não modificam suas precárias condições de vida em longo prazo. Assim, são necessárias mudanças educacionais que aliem a educação básica de qualidade com a educação profissional, na direção de formar cidadãs conscientes econômica, social, cultural e politicamente, que preparem as mulheres não somente para o ingresso no mundo do trabalho público e para a geração de renda, mas que eduquem para a vida.

Palavras-chave: ​Educação profissional. Mulheres pobres. Plano Nacional de Políticas para as

Mulheres. Programa Mulheres Mil. Trabalho.

ABSTRACT

(14)

(National Women Policy Plan) (2013-2015) – “Equality in the world of work and economic autonomy” – and the Mulheres Mil (Thousand Women) Program. And, in a particu- lar way, to understand the production of meanings in a group of women who are beneficiaries of this program. For that, we used documentary analysis and the conceptual, descriptive and normative analysis from Peter et al. (2007), narrative interviews and content analysis. The re- sults allowed us to conclude that the III PNPM and the Mulheres Mil Program emerge in the contemporary neoliberal economic context, which has in the individual – women – its work- force, its capital. The professional education crosses these policies as a way to improve the human capital and productively include the women in social vulnerability status in the world of public, salaried and/or enterprising work, which I call ​social economization​. The work and the consequent income generation are fundamental in this neoliberal context for a supposed development of equality and economic autonomy for women, principles that justify the exis- tence of these public policies, to the modification of gender relationships existing in Brazil. However, the meanings produced in women beneficiaries presented different results of those proposed in the document analysis. The professional education, in this case, serves to the in- terests of capital, using the women’s empowerment to the economic development of the coun- try. In addition, they are compensatory policies of unequal historical and social conditions faced by women that do not encompass the right of gender differences and contribute for an imaginary, and not real, equality and economic autonomy. It’s a poor education that empow- ers poor women only for the performance of professional activities, which does not require an intellectual development and which is socially devalued and low remunerated. In this way, poor women have access, even a minimal one, to income and immediate consumption, but it does not modify their precarious living conditions in a long term. Thus, educational changes are necessary. Ones that ally basic and qualified education with professional education, in a direction to form aware citizens in economic, social, cultural and political areas and prepare the women not only to the world of public work and for income generation, but to an educa- tion for her entire life.

Key Words: ​Professional education. Poor women. National Women Policy Plan. Thousand

Women Program. Work.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Conceitos e valores centrais do capítulo 1...71

Figura 2 – Indicadores estruturais do mercado de trabalho – 2014...82

Figura 3 – Conceitos e valores centrais do Programa Mulheres Mil...104

Figura 4 – Site da Associação de Pescadores de São Borja/RS...132

(15)

Figura 6 – Etiqueta das bijuterias...135

Figura 7 – Foto do artesanato produzido por Maria Teresa...147

Figura 8 – Modelo de carteira de pescador(a) profissional...171

Figura 9 – Assinatura do contrato de abertura da Coopermil...175

Figura 10 – Foto de pastel e de lasanha de peixe...176

Figura 11 – Blog Coopermil...177

Figura 12 – Divulgação no blog Cooperativa Coopermil Itaqui/RS...179

Figura 13 – Foto do perfil no ​Facebook​...180

Figura 14 – Foto da capa no ​Facebook​...181

Figura 15 – Capa que ilustra a tese...207

LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Estado da arte sobre o III PNPM...31

Quadro 2 – Estado da arte sobre o Programa Mulheres Mil...33

Quadro 3 – Diferenças entre políticas de Estado e políticas de governo...50

Quadro 4 – Metas do capítulo 1 do III PNPM (1)...81

Quadro 5 – Metas do capítulo 1 do III PNPM (2)...85

Quadro 6 – Metas do capítulo 1 do III PNPM (3)...86

Quadro 7 – Linha de ação do capítulo 1 do III PNPM...87

Quadro 8 – Metas do capítulo 1 do III PNPM (4)...88

Quadro 9 – Metas do capítulo 1 do III PNPM (5)...93

Quadro 10 – Linha de ação: Promoção da inserção e da permanência das mulheres em rela- ções formais de trabalho não discriminatórias em razão de sexo, origem, raça, etnia, classe so- cial, idade, orientação sexual, identidade de gênero ou deficiência, com igualdade de rendi- mentos e fomento à ascensão e à permanência em cargos de direção...93

(16)

tribuição de Alimentos Derivados da Pesca...111 Quadro 12 – As mulheres entrevistadas...120

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Média de horas semanais trabalhadas no trabalho principal, média de horas gastas em afazeres domésticos e jornada total dos homens de 16 anos ou mais de idade ocupados na semana de referência, no Brasil 2004/2014...84

Tabela 2 – Média de horas semanais trabalhadas no trabalho principal, média de horas gastas em afazeres domésticos e jornada total das mulheres de 16 anos ou mais de idade ocupadas na semana de referência, no Brasil 2004/2014...84

LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS

ACCC: Associação das Faculdades Comunitárias Canadenses

Acessuas Trabalho: Programa Nacional de Promoção do Acesso ao Mundo do Trabalho ARAP: Sistema de Avaliação e Reconhecimento de Aprendizagem Prévia

Art.: Artigo

ATER: Assistência Técnica e Extensão Rural BPC: Benefício de Prestação Continuada BSM: Brasil Sem Miséria

Capes: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior Cepal: Comissão Econômica para América Latina e Caribe

CLT: Consolidação das Leis Trabalhistas

CNDM: Conselho Nacional dos Direitos da Mulher CNPM: Conferência Nacional de Políticas para Mulheres

Coopermil: Cooperativa Agropecuária de Pesca e Criação de Peixe Mulheres Mil CRAS: Centro de Referência em Assistência Social

(17)

EAD: Educação à Distância

EJA: Educação de Jovens e Adultos

Emater: Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural EST: Escola Superior de Teologia

Feaper: Fundo Estadual de Apoio ao Desenvolvimento dos Pequenos Estabelecimentos Rurais FGTS: Fundo de Garantia do Tempo de Serviço

FIES: Fundo de Financiamento Estudantil HDR: ​Human Development Report

IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IDH: Índice de Desenvolvimento Humano

IES: Instituição de Ensino Superior

IF: Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia

IFAP: Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amapá IFCE: Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará IFFar: Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha IFMA: Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão

IFNMG: Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Norte de Minas Gerais IFRS: Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul IFS: Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Sergipe

IFSul: Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-rio-grandense IFTO: Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Tocantins IPEA: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

IPH: Índice de Pobreza Humana MA: Maranhão

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MDS: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome MEC: Ministério da Educação

Mercosul: Mercado Comum do Sul MF: Ministério da Fazenda

MPS: Ministério da Previdência Social MPV: Medida Provisória

MRE: Ministério das Relações Exteriores MTE: Ministério do Trabalho e Emprego MTur: Ministério do Turismo

NPEA: População não economicamente ativa ODM: Objetivos de Desenvolvimento do Milênio OEI: Organização dos Estados Ibero-Americanos OIT: Organização Internacional do Trabalho ONU: Organização das Nações Unidas PAA: Programa de Aquisição de Alimentos PD: População Desocupada

PDSE: Programa Doutorado Sanduíche no Exterior PE: Políticas de Estado

PEA: População Economicamente Ativa PG: Políticas de governo

PIA: População em Idade Ativa PIB: Produto Interno Bruto

PNAE: Programa Nacional de Alimentação Escolar PNPM: Plano Nacional de Políticas para as Mulheres

(19)

PO: População Ocupada PR: Presidência da República

Proeja: Programa Nacional de Integração da Educação Básica com a Educação Profissional na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos

Proeja FIC: Proeja Formação Inicial e Continuada

Pronatec: Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego Prouni: Programa Universidade para Todos

Rede Certific: Programa de Certificação Profissional RGP: Registro Geral de Pesca

RS: Rio Grande do Sul

SDH: Secretaria dos Direitos Humanos

SDR: Secretaria do Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo Seade: Sistema Estadual de Análise de Dados

Secom: Secretaria de Comunicação Social

Senac: Serviço Nacional de Aprendizagem do Comércio Senai: Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial Senar: Serviço Nacional de Aprendizagem Rural

Seppir: Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial SESC: Serviço Social do Comércio

Sescoop: Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo SESI: Serviço Social da Indústria

SEST: Serviço Social de Transporte SG: Secretaria Geral

SNJ: Secretaria Nacional de Juventude SP: São Paulo

(20)

SPM: Secretaria de Políticas para as Mulheres SRI: Secretaria de Relações Internacionais UFES: Universidade Federal do Espírito Santo UFPB: Universidade Federal da Paraíba

UFRB: Universidade Federal do Recôncavo da Bahia Ufrgs: Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFSM: Universidade Federal de Santa Maria Ulbra: Universidade Luterana do Brasil

Unijuí: Universidade do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul Unipampa: Universidade Federal do Pampa

Univali: Universidade do Vale do Itajaí

SUMÁRIO

PARTE I – A COMPOSIÇÃO DO TERRENO INVESTIGATIVO...22

1 O TEMA E A TRAJETÓRIA DA PESQUISA...23

2 PROBLEMATIZAÇÃO DO TEMA E ESTADO DA ARTE...26

3 OBJETIVOS DA PESQUISA...37

4 QUESTÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS...38

PARTE II – POLÍTICAS PÚBLICAS DE INCLUSÃO PRODUTIVA PARA AS MULHERES NO BRASIL...48

1 A EMERGÊNCIA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA MULHERES NO BRASIL49 1.1 A POBREZA COMO QUESTÃO DE INVESTIMENTO SOCIAL...53

2 PROGRAMAS DE FORMAÇÃO E AÇÃO: O III PLANO NACIONAL DE POLÍTICAS PARA AS MULHERES (2013-2015)...64

(21)

2.1 IGUALDADE NO MUNDO DO TRABALHO E AUTONOMIA ECONÔMICA:

MULHERES PRODUTORAS DE RENDA...68

2.1.1 Trabalho no contexto neoliberal...71

2.1.2 Igualdade na divisão generificada do trabalho...78

2.1.3 Autonomia econômica e os pressupostos da ​economização do social​...89

PARTE III – O PROGRAMA MULHERES MIL E SUAS SIGNIFICAÇÕES: O QUE DIZEM AS MULHERES...99

1 PROGRAMA MULHERES MIL: EDUCAÇÃO, CIDADANIA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL...100

1.1 O INSTITUTO FEDERAL FARROUPILHA – ​CAMPUS ​SÃO BORJA/RS...107

1.2 PROGRAMA MULHERES MIL: CURSO DE PRODUÇÃO, ELABORAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ALIMENTOS DERIVADOS DA PESCA...109

1.3 AS MULHERES-ALVO...113

2 AS SIGNIFICAÇÕES DO PROGRAMA MULHERES MIL...117

2.1 MARIA RITA: “O RIO NÃO ESTÁ PARA PEIXE”...120

2.2 MARIA TERESA: “NA IDADE QUE ESTOU NÃO PEGO TRABALHO”...135

2.3 MARIA INÊS E ANA MARIA: “ESTUDAR PARA SER GENTE”...152

3 AS SIGNIFICAÇÕES E OS PONTOS PARA AMARRAR... A TESE FALA...187

3.1 UMA EDUCAÇÃO POBRE PARA MULHERES POBRES...195

3.1.1 Educação profissional: Promessa de autonomia econômica para mulheres pobres ...196 3.1.2 Políticas de inclusão produtiva para as mulheres pobres: Uma “discriminação

(22)

positiva”...205 4 PARA FINALIZAR, MAS NÃO CONCLUIR...213 REFERÊNCIAS...220 APÊNDICES...241 ANEXOS...247

PARTE I – A COMPOSIÇÃO DO TERRENO INVESTIGATIVO

23

1 O TEMA E A TRAJETÓRIA DA PESQUISA

Nesta seção, contemplo aspectos da minha formação pessoal e profissional, que possibilitaram a minha trajetória até o doutorado em Educação nas Ciências e que, de alguma forma, influenciaram minha escolha por esta temática de pesquisa. Um tema de pesquisa dificilmente tem um único ponto de partida. Normalmente é resultante de experiências vividas

(23)

que se entrelaçam, gerando dúvidas, questionamentos e curiosidades que nos levam ao tema problema. Segundo Alfredo Veiga-Neto1 ​(1996, p.18), “[...] nossas escolhas não são livres

porque nossos pensamentos não o são. Nossos pensamentos estão conformados pelos

discursos que nos cruzam desde sempre”. Dessa forma, nossas escolhas não são neutras e nem acontecem por acaso; estão diretamente ligadas às nossas vivências, ao que somos e ao que nos tornamos.

A delimitação do tema e os rumos que esta pesquisa tomou foram atravessados por experiências que me assujeitaram e me subjetivaram ao longo da minha vida, tanto pessoal, como profissional e acadêmica (Sandra CORAZZA, 1996). Minha trajetória (em constante construção) é formada pela interface de três áreas distintas – Turismo e Hotelaria,

Empreendedorismo e Educação – marcadas pela centralidade nas mulheres. Possuo graduação2 ​e mestrado3 ​em Turismo e Hotelaria, enfatizando estudos sobre o

empreendedorismo por mulheres proprietárias de empresas turísticas neste último. Meus caminhos tomaram o rumo da Educação após a aprovação no concurso para docente do eixo tecnológico Turismo, Hospitalidade e Lazer no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha (IFFar), ​campus ​São Borja/RS​4​, em 2010. Desde então, surgiu um

interesse crescente em aprofundar meus conhecimentos nessa área.

Além dos cursos técnicos, tecnológicos, bacharelados, licenciaturas e pós-graduações, entre outros, oferecidos pelo IFFar, interessou-me o Programa Mulheres Mil, voltado à

1​Nesta tese, minhas citações não seguem as normativas tradicionais, com a intenção de visibilizar as ​contribuições das autoras mulheres, o que se dá igualmente com os autores homens, no sentido de pensar a linguagem como um artefato inclusivo e de promoção da igualdade de gênero, de acordo com o Manual para o uso não sexista da linguagem (2014). Dessa forma, utilizo o nome e sobrenome dos(as) autores(as) na primeira vez em que são mencionados(as).

2​Trabalho de Conclusão de Curso apresentado no Curso de Turismo e Hotelaria da Universidade do Vale do ​Itajaí (Univali), ​campus ​São José/SC, intitulado “Proposta de melhoria da comunicação entre os setores do Hospital Moinhos de Vento”, 2006.

(24)

3​Dissertação apresentada no Programa de Pós-Graduação em Turismo e Hotelaria da Univali, c ​ampusBalneário Camboriú/SC, intitulada “Empreendedorismo por mulheres: um estudo com mulheres proprietárias de empresas turísticas em Florianópolis (SC)”, 2009.

24 capacitação de mulheres em situação de vulnerabilidade5 ​social e integrante do III Plano

Nacional de Políticas para as Mulheres (PNPM)6​, que vigorou no período compreendido entre

2013 e 2015. Fui docente do Programa nos municípios de São Borja/RS e Itaqui/RS7​, do curso

de Produção, Elaboração e Distribuição de Alimentos Derivados da Pesca, realizado em 2012, e meu interesse surgiu por abranger temas como Mulheres, Empreendedorismo e Educação, possibilitando dar continuidade a pesquisas anteriormente estudadas, mas retomando-as na tentativa de olhar o seu avesso e construir, assim, novos significados. De acordo com Corazza (1996, p.111), “[...] toda e qualquer pesquisa nasce precisamente da insatisfação com o já- sabido. [...] somente nesta condição de insatisfação com as significações e verdades vigentes é que ousamos tomá-las pelo avesso, e nelas investigar e destacar outras redes de

significações”.

Dessa forma, esta pesquisa nasce da vontade de reavaliar as coisas ditas e escritas anteriormente, “[...] pois isso me coloca num inusitado espaço de liberdade permitindo que, daqui a pouco, eu possa contrapor minhas próprias ideias, negá-las, negligenciá-las ou apenas abandoná-las” (Kamila LOCKMANN, 2013, p.299). Portanto, trato nesta tese de temas já estudados anteriormente, mas com novos olhares e enfoques diferenciados.

Durante o mestrado, analisei o empreendedorismo por mulheres em situações financeiras estáveis, donas de empresas, responsáveis pelo seu sustento e, muitas vezes, de suas famílias. Nesta tese, analiso políticas públicas de inclusão produtiva8​, sendo elas o

(25)

4​São Borja é o núcleo habitacional permanente mais antigo do Rio Grande do Sul, sendo considerado o ​“Primeiro dos Sete Povos das Missões” e a “Terra dos Presidentes” – Getúlio Vargas e João Goulart. Situa-se na fronteira oeste do estado, sendo banhado pelo Rio Uruguai, que é fronteira natural com a cidade de Santo Tomé, localizada na província de Corrientes, na Argentina, onde se encontra o primeiro centro unificado de fronteira do Mercosul. Limita-se, ainda, com os municípios de Garruchos/RS, Santo Antônio das Missões/RS, Maçambará/RS, Itaqui/RS, Itacurubi/RS e Unistalda/RS. Possui uma população de 61.671 habitantes e está a aproximadamente 600 km da capital, Porto Alegre/RS (IBGE, 2010; PREFEITURA DE SÃO BORJA, 2016).

5 ​“Vulnerável em versão literal é o lado ou o ponto fraco pelo qual alguém pode ser atacado ou ferido. Dessa perspectiva, a discriminação é um dos determinantes da vulnerabilidade das mulheres; outras situações como as de desarticulação ou o impacto de variáveis como raça, classe ou idade, também tornam as mulheres mais vulneráveis” (Jussara PRÁ, 2010, p.21).

6​Utilizo, ao longo desta tese, a sigla PNPM para referir-me ao Plano Nacional de Políticas para as Mulheres. ​Tanto o III PNPM quanto o Programa Mulheres Mil serão detalhados, respectivamente, nas partes II e III desta tese.

7​Assim como São Borja/RS, Itaqui/RS também se situa às margens do Rio Uruguai, na fronteira com o ​município de La Cruz e Alvear (Argentina). Limita-se, ainda, com os municípios de Alegrete/RS, Maçambará/RS, Manoel Viana/RS, São Borja/RS e Uruguaiana/RS. Conta com uma população de 38.159 habitantes e localiza-se a uma distância de 670 km da capital Porto Alegre/RS (IBGE, 2010).

25 econômica”, e o Programa Mulheres Mil. Analiso ainda, por meio de entrevistas narrativas, as significações que tais políticas produziram em mulheres de baixa renda e vulneráveis

socialmente9​, que participaram dos cursos de capacitação profissional oferecidos por esse

Programa.

Para tanto, esta tese foi organizada em três partes complementares: Parte I –

“Composição do terreno investigativo”; Parte II – “Políticas públicas de inclusão produtiva para as mulheres no Brasil”; e Parte III – “O Programa Mulheres Mil e suas significações”. A Parte 1 foi dividida nesta seção – “O tema e a trajetória da pesquisa” – e, ainda, nas seções “Problematização do tema e estado da arte”, “Objetivos da pesquisa” e “Questões

metodológicas”.

(26)

Brasil” e “Programas de formação e ação: O III Plano Nacional de Políticas para as Mulheres (2013-2015)”. Já a Parte III apresenta-se dividida em três seções: “Programa Mulheres Mil: Educação, Cidadania e Desenvolvimento Sustentável”; “As significações do Programa Mulheres Mil”; e “As significações e os pontos para amarrar... A tese fala”. Na sequência, apresento as últimas considerações “Para finalizar, mas não concluir”.

8 ​As políticas públicas de inclusão produtiva são políticas voltadas para a oferta de oportunidades de ​qualificação, ocupação e renda (BRASIL, 2013b).

9​De acordo com a Cartilha Mulheres Mil (BRASIL, 2014a), as mulheres público-alvo do Programa Mulheres ​Mil são mulheres a partir de 16 anos, chefes de família, em situação de extrema pobreza, cadastradas ou em pro - cesso de cadastramento no Cadastro Único, com as seguintes características: em vulnerabilidade e risco social, pertencentes a famílias de baixa renda que ganham até meio salário mínimo por pessoa ou até três salários míni- mos de renda mensal total, vítimas de violência física, psicológica, sexual, patrimonial e moral, com escolarida- de baixa ou defasada e, preferencialmente, ainda não atendidas pelo Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) do Plano Brasil Sem Miséria (BSM).

26

2 PROBLEMATIZAÇÃO DO TEMA E ESTADO DA ARTE

Apresento aqui a problematização do tema de pesquisa. Trata-se de “um jeito de olhar para objetos e situações comuns com um distanciamento necessário para que haja uma

(27)

desnaturalização, uma desconstrução das noções de verdadeiro/falso, certo/errado,

bonito/feio, etc.” (Julianna COUTINHO; Luiza PETRY, 2016), para que depois possa realizar minha própria análise, que levará a resultados específicos. Para tanto, realizei um

levantamento sobre o que já foi produzido sobre as mulheres e as políticas públicas analisadas: o III PNPM e o Programa Mulheres Mil.

De acordo com a Síntese de Indicadores Sociais, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2015), as mulheres são mais da metade da população do Brasil,

correspondendo a 51,6%, contra 48,4% de homens residentes no país. As mulheres experienciam suas vidas de modo não uniforme, existindo marcadores como renda, classe social, raça, etnia, religião, faixa etária, sexualidade, nível educacional, trabalho, entre outros, que as caracterizam e as diferenciam umas das outras. Por esse motivo, utilizo a expressão mulheres no plural ao longo do texto desta tese, a qual tem a ver com uma opção teórica que assumo, baseada em Dagmar Meyer (2003; 2004) e Simone Schwengber (2014) de pensar a pluralidade dos sujeitos femininos a partir de múltiplos atravessamentos.

Mesmo sendo a maior parte da população brasileira, as mulheres foram e são

consideradas um grupo excluído socialmente, assim como os negros, os índios, as pessoas de baixa renda e outros. E esse é um dos motivos que leva o movimento feminista, nos últimos 50 anos, a lutar por igualdade de gênero em termos sociais, políticos e econômicos, como a luta pela escolarização de mulheres e pela entrada no mundo do trabalho público10​.

É importante destacar que as mulheres geralmente trabalharam realizando,

conjuntamente, atividades domésticas, dedicando-se ao lar e ao cuidado com os filhos. A inovação foi a entrada no mundo do trabalho público em serviços que se caracterizam pelo trabalho feminino, como os serviços nos domínios da educação, da saúde, do

10Utilizo o termo ​mundo do trabalho em vez de ​mercado de trabalho , pois “[...] o conceito de mundo do ​trabalho é mais amplo que a função laboral no sentido estrito. Incluem-se nele tanto as atividades materiais, produtivas, como os processos sociais que lhe dão forma e sentido no tempo e no espaço” (Nilsa CANTERLE, 2003). Utilizo, ainda,

(28)

mundo do trabalho público​, conforme empregado pelas feministas em oposição ao trabalho privado, doméstico e familiar. O trabalho no espaço privado “[...] tem figurado como confinador e restritivo, um espaço de que as mulheres devem migrar a fim de se libertarem para realizar as liberdades que os homens assumem no espaço público. Esse espaço público tem figurado como um espaço de liberdade e de libertação, caracterizado pela oportunidade de trabalho e de educação, e pela proteção da lei” (Tina CHANTER, 2011, p.28). Conforme a autora, o trabalho privado é marcado pelo feminino, enquanto que o trabalho público, pelo masculino.

27 desenvolvimento do setor terciário. Dessa forma, muitas mulheres, de um modo geral,

associam o trabalho público e o trabalho doméstico, desempenhando a posição tanto de complementação da renda familiar, como também, em muitos casos, assumindo o sustento do lar como chefes da família (Carlos PASSOS et al., 2008).

Claudia Goldin (2006) denomina essa inserção das mulheres no mundo do trabalho público como uma “revolução silenciosa”. Positiva, mas silenciosa. Ela é resultado da organização de mulheres na luta por seus direitos. Uma revolução sem armas, sem alarde. Mulheres revolucionando suas próprias vidas. Contudo, Gosta Esping-Andersen (2009) considera essa uma “revolução incompleta”, pois o acesso ao mundo do trabalho público não significou, para a maioria, uma diminuição do trabalho realizado dentro de suas casas e no cuidado com seus filhos. As transformações no seio das culturas familiares parecem lentas e, segundo Tânia Fonseca (2010), ainda hoje, o tempo dedicado ao cuidado com os filhos segue sendo maior entre mulheres do que entre homens.

Para Michelle Perrot (2008), o trabalho doméstico é fundamental para o

funcionamento e reprodução da vida em sociedade. Entretanto, a responsabilidade recai, geralmente, sobre as mulheres. Germaine Greer (2001) complementa que o trabalho

doméstico, no mundo todo, é quase que exclusivamente realizado pelas mulheres, além de ser uma atividade não remunerada11 ​e que não entra no cômputo econômico. Para a autora, o

trabalho doméstico é tão invisível para os métodos convencionais de coleta de dados quanto o trabalho dos animais.

(29)

Dados do IBGE (2015) demonstram que a participação das mulheres em atividades domésticas caiu nos últimos anos. Contudo, ainda é maior que a dos homens. Enquanto elas dispensam uma média de 21,2 horas semanais com cuidados com o lar e com os filhos, eles dedicam, em média, 10 horas. Além das atividades realizadas em casa, a distribuição de mulheres no mundo do trabalho público, em 2013, dava-se nos seguintes setores de atividade: 9% agrícola; 21,2% indústria; 0,6% construção; 29,2% comércio; e 40% serviços.

A atuação das mulheres no mundo do trabalho público tem gerado emprego e renda, contribuindo para o desenvolvimento econômico de diversos locais do Brasil (Neidi

CASSOL; Amelia SILVEIRA; Marianne HOELTGEBAUM, 2007). São muitos os fatores que explicam a entrada das mulheres no mundo do trabalho público, que vão desde o maior

11​Ao pontuar que o trabalho na esfera pública é remunerado, ao passo que o trabalho doméstico não o é, ​tendemos a repetir o erro de considerar invisíveis as mulheres que trabalham na casa dos outros (CHANTER, 2011).

28 nível de escolaridade em relação aos homens e a mudança na estrutura familiar – com a redução do número de filhos – até o incentivo das políticas públicas para a inclusão produtiva (PASSOS et al., 2008).

No entanto, mesmo com o aumento da participação das mulheres no mundo do trabalho público, dados do IBGE (2015) mostram que ainda é menor que a dos homens. São muitas as barreiras que as mulheres enfrentam para ingressar no espaço público e produtivo – condições precárias, jornadas em tempo parcial, emprego temporário, falta de direitos

trabalhistas – e que implicam em menores salários. Assim, com o advento do capitalismo, enfrentamos o paradoxo de que há mais oportunidades de trabalho para as mulheres, mas também há uma intensificação e exploração desse capital produtivo, exigindo polivalência e multiatividade por parte dessas mulheres.

(30)

A distinção entre mulheres e homens nos empregos e organizações e a desigualdade remuneratória persistem, principalmente quando se trata de mulheres negras. Cabe destacar, de acordo com dados do IBGE (2015), que a desigualdade de rendimentos atinge de forma mais favorável as pessoas que se identificam como de cor/raça preta ou parda. Esses representavam “76% das pessoas entre os 10% com menores rendimentos e 17,4% no 1% com maiores rendimentos, em 2014”. Nota-se que persiste uma grande diferença em relação àqueles que se declaram brancos, que eram estimados em 79,6% no 1% com maiores

rendimentos e 22,8% entre os 10% com menores rendimentos. “É importante ressaltar que a baixa participação da população de cor preta ou parda no estrato de maiores rendimentos contrasta com sua elevada participação na composição da população geral, que chegou a 53,6% em 2014” (Ibidem, p.89).

Uma análise da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) dos

rendimentos médios por hora, raça/cor e sexo, na região do ABC12 ​Paulista, no biênio 2011-

2012, mostra que essa desigualdade é ainda maior quando se refere às mulheres: as mulheres não negras recebem 30,1% menos do que os homens não negros, enquanto que as mulheres negras recebem 58,5% menos para o mesmo trabalho (SEADE, 2013). Esses dados

comprovam o já exposto por Laís Abramo (2004, p.18) de que, no Brasil, “a pobreza não é neutra. A pobreza tem sexo, tem cor”.

12 ​Compreende os municípios de Diadema/SP, Mauá/SP, Ribeirão Pires/SP, Rio Grande da Serra/SP, Santo André/SP, São Bernardo do Campo/SP e São Caetano do Sul/SP.

29 Nesse contexto, o Estado brasileiro incentiva a criação de políticas destinadas às mulheres, na tentativa de retirá-las da situação de pobreza extrema. Dentre essas políticas,

(31)

opto por estudar inicialmente o capítulo 1 do III PNPM, que contempla uma série de

programas13 ​e, entre eles, minha escolha dá-se pelo Programa Mulheres Mil, cujo enfoque está

na inclusão produtiva de mulheres, na capacitação profissional e no ingresso no mundo do trabalho público. Sendo assim, o III PNPM e o Programa Mulheres Mil constituem o corpus desta pesquisa.

Como docente do Programa, inquieto-me com algumas questões que pretendo analisar ao longo de minha tese: 1) Como se dá a relação entre o capítulo 1 do III PNPM – “Igualdade no mundo do trabalho e autonomia econômica” – e o Programa Mulheres Mil? 2) O que essas políticas propõem para modificar as relações de gênero vigentes no país? 3) Quais as ênfases, tensões e desafios presentes nessas políticas para a inclusão produtiva de mulheres? 4) Quais as significações produzidas nas mulheres beneficiárias do Programa Mulheres Mil?

Mesmo tratando-se de um Plano e de um Programa voltados exclusivamente às mulheres, tenho por premissa que essas políticas, de alguma forma, propõem mudanças nas relações de gênero vigentes na sociedade brasileira. Para atingir a igualdade de gênero, faz-se necessário oferecer condições para que as mulheres possam compensar a falta de autonomia, controle e poder, que historicamente lhes foram atribuídas, tanto em suas relações pessoais, laborais, como nos espaços sociais, econômicos e políticos.

O uso que faço do conceito de gênero me afasta das abordagens que “colam” um determinado gênero a um sexo anatômico que lhe seria naturalmente correspondente – e que tendem a focalizar desigualdades e subordinações derivadas do desempenho de funções e características culturais próprias de mulheres e de homens – para aproximar-me de

abordagens que tematizam o social e a cultura, em sentido amplo, assumindo que esses são constituídos, atravessados e/ou organizados por discursos instituintes de feminilidades e de masculinidades que, ao mesmo tempo, produzem-nos e/ou ressignificam (Linda

(32)

Meyer (2004) considera que tais processos foram/são permeados por confrontos e resistências e, no contexto de tais debates, algumas feministas se viram frente ao desafio de demonstrar que não são características anatômicas e fisiológicas, em sentido estrito, ou

13 ​Programa Gênero e Diversidade na Escola, Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher, Programa Mulheres da Paz, Programa de Organização Produtiva das Mulheres Rurais, Programa Nacional de Documentação das Trabalhadoras Rurais, Rede Cegonha.

30 tampouco desvantagens socioeconômicas tomadas de forma isolada, que definem diferenças apresentadas como justificativa para desigualdades entre mulheres e homens. Mas os modos pelos quais determinadas características femininas e masculinas são representadas como mais ou menos valorizadas, as formas pelas quais se distingue feminino de masculino, aquilo que se torna possível pensar e dizer sobre mulheres e homens vai constituir o que é inscrito no corpo e definido e vivido como masculinidade e feminilidade em uma dada cultura, em um determinado momento histórico.

Carin Klein (2010) complementa afirmando que, além das formas corporais, o termo gênero inclui dimensões relativas a comportamentos, habilidades e personalidades. Para a autora, nada é natural ou fixo. São processos de significações, históricos, contingentes e objetos de constante disputa e (re)construção. Após o entendimento de que o gênero é culturalmente construído e não biologicamente determinado, acredito que tanto o III PNPM quanto o Programa Mulheres Mil utilizam as mulheres como forma de combater a

desigualdade de gênero no país, que historicamente atribui maior poder aos homens.

Em momento algum desconsiderei os trabalhos já produzidos sobre o mesmo objeto que escolhi investigar, porém com outros olhares, outras teorias, outras abordagens, o que me levou a procurar por pesquisas no Banco de Teses e Dissertações da Coordenação de

(33)

Marlucy Paraíso (2012, p.17), movimentar-me “ziguezagueando no espaço entre nossos objetos de investigação e aquilo que já foi produzido sobre ele, para aí, estranhar, questionar, desconfiar”, para, então, buscar o meu caminho.

Nesse processo de busca por trabalhos que tratassem dos mesmos temas de estudo, primeiramente, utilizei como palavra-chave “Plano Nacional de Políticas para as Mulheres”, e encontrei doze trabalhos publicados entre 2008 e 2016, sendo nove dissertações e três teses. Desses trabalhos, selecionei uma tese e quatro dissertações, que mais se aproximaram com o tema de minha pesquisa, apresentadas no quadro 1.

31

Quadro 1 – Estado da arte sobre o III PNPM Tipologia Título Autor(a) IES Ano

Tese Gênero e justiça social: fundamentos ético-políticos da Política Nacional para as Mulheres

Fundação Alex Myller Duarte Lima

Universidade Federal do 2014

Piauí Dissertação

A gestão das políticas públicas de gênero: uma análise ao Plano Plurianual 2010-2013 e 2014-2017 enquanto política pública de empoderamento e autonomia da mulher no município de Santa Cruz do Sul-RS

Quelen Brondani de Aquino Universidade de Santa Cruz do Sul 2014

Dissertação ​Ganhadeiras e Zungueiras: autonomia ​participação em rede no Brasil e Angola e

Ligia Margarida Gomes de Jesus Universidade Federal da Bahia 2014

Dissertação Políticas públicas no Brasil e os programas de educação e trabalho para a emancipação da mulher

Ircineide Santos Soares Centro Universitário Curitiba 2015

Dissertação

Programa Mulheres Mil: interfaces de gênero na capacitação de mulheres para o mercado de trabalho em Palmas Evelin Lorenna Paixao de Gois

(34)

2016

Fonte: A autora (2016).

Percebe-se que estudos envolvendo o III PNPM são recentes e poucos no Brasil, o que justifica a existência desta tese. A tese e as dissertações selecionadas possuem algumas similaridades com a minha pesquisa, pois contemplaram, de alguma forma, o III PNPM, a educação profissional e/ou a inclusão de mulheres no mundo do trabalho público.

A tese de Alex Lima (2014) investigou se os fundamentos ético-políticos implicados no desenho da Política Nacional para as Mulheres, em especial no III PNPM, possuem consistência e alcance suficientes para equacionar as complexas demandas sociais do início do século XXI, especialmente diante das diversas – e mesmo conflitantes – frentes de luta por justiça social.

Quelen Aquino (2014) estudou, no terceiro capítulo de sua dissertação, a gestão das

políticas públicas com a perspectiva de gênero. Desse modo, realizou um esboço conceitual e metodológico, para compreender a necessidade da transversalidade das políticas públicas com a perspectiva de gênero, abordando, especialmente, o PNPM enquanto mecanismo de

empoderamento feminino no cenário nacional.

Lígia Jesus (2014), em sua pesquisa, identificou e propôs ferramentas de intervenção para potencializar o monitoramento da implementação das políticas de promoção da

autonomia, previstas no III PNPM e nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). 32 O trabalho de Ircineide Soares (2015) contemplou os problemas enfrentados pelas minorias no Brasil, em especial as mulheres, e as políticas públicas como forma de o Estado

harmonizar as atividades em prol dos serviços públicos destinados aos cidadãos. A autora analisou ações afirmativas – como o PNPM – para o fortalecimento e participação das mulheres nos espaços de poder e decisão.

Destaco a dissertação de Evelin Gois (2016), intitulada “Programa Mulheres Mil: interfaces de gênero na capacitação de mulheres para o mercado de trabalho em Palmas”, pois, além de conter a palavra-chave “Plano Nacional de Políticas para as Mulheres”,

apareceu também na segunda busca que realizei no Banco de Teses e Dissertações da Capes, utilizando como palavra-chave “Mulheres Mil”, a qual retomo no quadro 2. Nessa nova busca, na tentativa de encontrar trabalhos referentes ao Programa Mulheres Mil, encontrei

(35)

trinta e dois trabalhos publicados entre 2011 e 2016, sendo duas teses e trinta dissertações. As duas teses, muito embora tenham em comum com esta pesquisa o mesmo objeto de análise – o Programa Mulheres Mil – as variáveis são bem distintas. Enquanto pretendo olhar o trabalho e o lugar dos processos educativos, uma teve como foco a segurança alimentar e nutricional das participantes14​, e a outra o letramento multissemiótico, por meio do

infográfico15​.

Das dissertações, cinco apresentaram a visão dos gestores e/ou educadores sobre o Programa Mulheres Mil16​; duas verificaram a relevância do Programa para o capital social das

beneficiárias17​; uma pesquisou sobre o desenvolvimento territorial18​; uma contemplou a

avaliação de aprendizagens19​; uma analisou os aspectos linguísticos à luz da ótica laboviana20​;

uma tratou da reinserção das mulheres de uma penitenciaria feminina21​; uma utilizou o

14 ​Jussara Campos (2015).

15 ​Valeria Costa (2014).

16 ​Suede Araujo (2015); Geocivany Cardoso (2015); Marcia Lopes (2015); Juliana Pereira (2015); Cleonice Silva (2015).

17 ​Sullien Bravin (2015); Suzana Guerra (2016).

18 ​Pedro Macedo (2014).

19 ​Adriana Michelotti (2013).

20 ​Regiani Couto (2013).

21 ​Crisoneia Gomes (2015).

(36)

empoderamento como variável de análise22​; uma apropriou-se do viés teórico da Tecnologia

Social e dos parâmetros de referência (Propósito, Processo e Pessoas atendidas pelo Programa Mulheres Mil)23​; uma baseou-se nos pressupostos da governamentalidade de Michel

Foucault24​; uma estudou as possibilidades de comercialização das participantes25​; uma

trabalhou com a inclusão social em comunidades quilombolas26​; e uma destinou-se a analisar

as narrativas do livro “Mulheres Mil: do sonho a realidade”, para compreender como o Programa atua na construção identitária de mulheres27​.

Outras duas dissertações encontradas, de Hanen Kanaan (2015) e de Tassia Silva (2015), apresentaram similaridades com as propostas desta tese ao analisarem o Programa Mulheres Mil enquanto política socioeducativa para mulheres no Brasil, no início do século XXI, para a elevação da escolaridade e a qualificação profissional. Porém, ambas utilizaram apenas a análise documental, com a consulta de documentos como textos da construção da política nacional, documentos locais referentes ao Programa e documentos institucionais, tais como fichas de matrículas, planos de cursos, planos de aulas, cadernos de aulas, matérias de jornais referentes ao tema e imagens públicas.

Depois de identificadas algumas diferenciações da pesquisa que proponho, com relação às teses e dissertações do Banco da Capes, o quadro 2 apresenta aquelas que possuem maior proximidade com minha investigação.

Quadro 2 – Estado da arte sobre o Programa Mulheres Mil Tipologia Título Autor(a) IES Ano

Dissertação al e cidadã: um estudo Mil, a partir da Federal de Goiás, Leticia Erica Goncalves Ribeiro Leticia Erica Goncalves Ribeiro Universidade Brasília de Universidade Brasília de

(37)

Universidade Brasília de 2013 2013 2013 2013 Dissertação no Instituto Federal de educação e o trabalho Maria Auxiliadora Silva Moreira Oliveira Maria Auxiliadora Silva Moreira Oliveira Fundação Universidade Federal de Sergipe Fundação Universidade Federal de Sergipe Fundação Universidade Federal de Sergipe 2013 2013 2013 2013 22 ​Jordania Coutinho (2015). 23 ​Maura Santos (2015). 24 ​Carla Silva (2015). 25 ​Ana Braga (2011). 26 ​Marcia Lagos (2014). 27 ​Silvana Silva (2014). 34

Quadro 2 – Estado da arte sobre o Programa Mulheres Mil

Continuação

Tipologia Título Autor(a) IES Ano

Dissertação

Mulheres, conquistando espaços dentro do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) –

campus ​Iguatu

Silvelena Alves de Araujo Oliveira Escola Superior de

Teologia (RS) 2014 Dissertação

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curso de Assentamento de Cerâmica e Porcelanato na vida das egressas Arlene da Silva Gomes Universidade Federal Rural do 2014 Rio de Janeiro

Dissertação

Políticas públicas para mulheres de baixa renda no Brasil: estudo de caso sobre o Programa Mulheres Mil no Instituto Federal do Norte de Minas Gerais – ​campus ​Pirapora

Erica Souza Tupina Universidade Federal de Santa 2015 Catarina

Dissertação

Geração de renda para as mulheres: uma avaliação de impactos do Programa Mulheres Mil na ótica das egressas em São Luís/MA

Sara Diniz Nascimento Universidade Federal do 2015 Maranhão

Dissertação

Programa Mulheres Mil no ​campus ​Aparecida de Goiânia do Instituto Federal de Goiás: uma possibilidade de inclusão social e acesso à educação

Claudia Beatriz Carrião Alves Pontifícia Universidade 2015 Católica de Goiás

Dissertação ​Programa Mulheres Mil: um olhar sobre a ​inserção das egressas no mundo do trabalho Fabiene Brito Mendes Teles

Universidade Brasília de 2015

Dissertação

A política de formação profissional no Programa Mulheres Mil: uma análise da experiência desenvolvida no Instituto Federal do Paraná

Talita Rafaele D’Agostini Mantovani Universidade do

Oeste Paulista 2015 Dissertação

Mulher e o mundo do trabalho: histórias de vida de estudantes no Programa Nacional Mulheres Mil – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Tocantins – IFTO

Janaina Miranda Muradas Amorim Universidade Federal de Santa Maria 2015

Dissertação

Programa Mulheres Mil: interfaces de gênero na capacitação de mulheres para o mercado de trabalho em Palmas Evelin Lorenna Paixão de Gois

Universidade Federal do Tocantins 2016

Fonte: A autora (2016).

(39)

contribuições do Programa na vida das egressas da primeira turma do curso básico de auxiliar de cozinha, formada no Instituto Federal de Goiás, ​campus ​de Luziânia. Maria Auxiliadora Oliveira (2013) analisou o Programa Mulheres Mil, desenvolvido no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Sergipe (IFS), ​campus ​Aracaju, e suas interfaces com as

35 políticas de educação e trabalho, observando se os objetivos propostos pelo referido

Programa, na esfera nacional, estavam, em Sergipe, sendo alcançados, especificamente aqueles que se referiam à inserção das egressas no mundo do trabalho público, à elevação da escolaridade e da autoestima.

Silvelena Oliveira (2014) avaliou o programa Mulheres Mil enquanto política pública desenvolvida no IFCE, ​campus ​Iguatu. Em sua dissertação, questionou se os objetivos do Programa de fato foram conquistados. Arlene Gomes (2014) propôs-se a analisar a

implantação do Programa Mulheres Mil no IFAP, ​campus ​Macapá, enfocando seus objetivos, as expectativas e os resultados gerados na vida das egressas do curso de Assentamento de Cerâmica e Porcelanato ofertado no ano de 2012. A dissertação de Erica Tupina (2015) teve como objetivo estabelecer uma discussão a partir do referencial de políticas sociais de gênero e de populações de baixa renda no Brasil, por meio da análise das fragilidades e dos

potenciais do Programa Mulheres Mil no Instituto Federal do Norte de Minas Gerais

(IFNMG), ​campus ​Pirapora, destacando as percepções da equipe responsável pelo programa e das mulheres participantes das suas atividades.

Sara Nascimento (2015) avaliou os impactos em termos de geração de renda para mulheres em situação de vulnerabilidade que foram qualificadas pelo referido Programa desenvolvido no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IFMA), c​ampus ​Monte Castelo, nos anos de 2009 e 2013. O objetivo de Claudia Alves (2015) em sua dissertação foi pesquisar a implementação, execução e alcance do Programa no âmbito do c​ampus ​Aparecida de Goiânia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de

(40)

Goiás. Fabiene Teles (2015) analisou a inserção das egressas no mundo do trabalho, por meio do Programa Mulheres Mil no IFNMG, ​campus ​Salinas.

Talita Mantovani (2015) identificou os principais condicionantes envolvidos na implantação da política de formação profissional do Programa Mulheres Mil no Instituto Federal do Paraná e a inserção social das alunas no mundo do trabalho público. Janaina Amorim (2015) buscou compreender de que forma as estudantes do Programa Mulheres Mil do IFTO, c​ampus ​Palmas e Porto Nacional ressignificaram suas histórias de vida, sejam pelas convivências nos espaços sociais e educacionais, como também pelas relações pessoais e coletivas, pelas influências ou não, positivas ou negativas, e se após a conclusão do curso buscaram a inserção no mundo do trabalho. Evelin Gois (2016), em sua pesquisa, refletiu sobre as assimetrias de gênero existentes na qualificação para o mundo do trabalho, com foco

36 no curso Cuidador de Idoso oferecido pelo Programa Nacional Mulheres Mil, no Instituto Federal Tecnológico do Tocantins, ​campus ​Palmas.

Assim sendo, mesmo apresentando aspectos comuns com os trabalhos encontrados – como o foco na educação profissional, inclusão social no mundo do trabalho público, geração de renda –, esta pesquisa diferencia-se, pois não pretende verificar pontualmente as

contribuições do Programa Mulheres Mil e/ou se os objetivos propostos por essa política foram alcançados. Não tenho a intenção de investigar as fragilidades e as potencialidades do Programa, se as participantes ingressaram (ou não) no mundo do trabalho público e os impactos da geração de renda. Tampouco me interessa aspectos da implantação e

implementação. Embora essas questões sejam tratadas aqui, não constituem o objetivo central desta tese, que é analisar o capítulo 1 do III PNPM e o Programa Mulheres Mil e, ainda, por meio de entrevistas narrativas, compreender as significações do Programa Mulheres Mil, enquanto política de educação profissional.

(41)

Percebe-se que as pesquisas sobre o Programa Mulheres Mil têm aumentado nos últimos anos, talvez, devido à expansão dos Institutos Federais, responsáveis pelo

desenvolvimento desse Programa. Entretanto, mesmo o Rio Grande do Sul possuindo três desses institutos – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS), Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-rio-grandense (IFSul) e Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha (IFFar) –, foram encontradas duas dissertações produzidas no Estado – pela Escola Superior de Teologia (EST) e pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

Dessa forma, esta tese pretende, além de contribuir com uma lacuna existente na literatura sobre as políticas e programas para a inclusão produtiva de mulheres em situação de vulnerabilidade social – em especial sobre o III PNPM e o Programa Mulheres Mil –,

conhecer a realidade e as significações produzidas por essas políticas no estado do Rio Grande do Sul. Pretende-se, ainda, contribuir com o aperfeiçoamento das políticas públicas destinadas às mulheres no Brasil.

37

3 OBJETIVOS DA PESQUISA

Analisar o capítulo 1 do III Plano Nacional de Políticas para as Mulheres (2013-2015) – “Igualdade no mundo do trabalho e autonomia econômica” – e o Programa Mulheres Mil. E, ainda, de modo particular, compreender a produção de significações em um grupo de

mulheres beneficiárias desse Programa.

38

4 QUESTÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS

(42)

pesquisa e atingir o objetivo proposto. Para tanto, aproximei-me dos pensamentos que me movem e que colocam em xeque minhas verdades, a fim de encontrar caminhos para responder e/ou talvez pensar sobre minhas interrogações.

A metodologia foi construída de acordo com as questões de pesquisa formuladas e de acordo com as necessidades colocadas pelo corpus desta pesquisa – o III PNPM e o Programa Mulheres Mil – durante o processo de investigação. Segundo Meyer e Paraíso (2012, p.16), o termo ​metodologia ​é tomado “[...] de modo bem mais livre do que o sentido moderno

atribuído ao termo método”. Metodologia consiste em “[...] um certo modo de perguntar, de interrogar, de formular questões e de construir problemas de pesquisa que é articulado a um conjunto de procedimentos de coleta de informações” (Idem). Já o ​método ​é compreendido como “[...] uma certa forma de interrogação e um conjunto de estratégias analíticas de descrição” (Jorge LARROSA, 1994, p.37).

Utilizo, nesta tese, uma metodologia qualitativa, que difere da quantitativa por não empregar um instrumento estatístico como base do processo de análise de um problema (Roberto RICHARDSON, 1999). Dessa forma, não pretendo numerar ou medir unidades ou categorias homogêneas, e sim analisar a complexidade de um determinado problema,

multiplicar sentidos, formas e lutas. Trata-se de explorar modos alternativos de pensar, falar e potencialmente fazer determinadas práticas sociais.

A pesquisa qualitativa caracteriza-se, segundo Denise Gastaldo (2012, p.12),

[...] como uma abordagem teórico-metodológica flexível, inserida em contextos específicos que falam das micropolíticas do cotidiano que constituem e são constituídas pelos discursos dominantes de nossa sociedade, na qual a subjetividade do/a pesquisador/a é uma ferramenta a serviço da investigação, um exercício simultaneamente rigoroso e político permeado pelas relações de poder que pretende estudar.

Tenho como premissa as transformações sociais e culturais pelas quais passamos no Brasil, nas últimas décadas do século XX e primeiras décadas do século XXI, e as conquistas significativas do movimento feminista e de grupos diversos de mulheres. Por isso a escolha pelo III PNPM, em especial o capítulo 1: “Igualdade no mundo do trabalho e autonomia

(43)

econômica”. Além do III PNPM, interessou-me pesquisar, de modo particular, o Programa Mulheres Mil, no qual fui docente e constitui-se em um dos programas abordados no capítulo

39 1 desse Plano para atingir os objetivos propostos de igualdade e autonomia econômica para as mulheres. ​Além da análise documental do III PNPM e do Programa Mulheres Mil, recorri a alguns referenciais existentes sobre políticas públicas (Antônio AMABILE, 2012; Janete AZEVEDO, 1997; João Pedro SCHMIDT, 2008), educação profissional (Antonio

GRAMSCI, 1991; Ramon de OLIVEIRA, 2001; Marise RAMOS, 2006, 2012) e trabalho (Michel FOUCAULT, 2008) para sustentarem teoricamente a análise que aqui desenvolvo.

Para a construção desta tese, dediquei esforços em construir a metodologia, pois, conforme Paraíso (2012), as teorias pós-críticas28 ​não possuem um método recomendado para

investigação, o modo como fazemos nossas pesquisas dependerão dos nossos

questionamentos, das interrogações que nos movem e dos problemas formulados. Os métodos escolhidos para me auxiliar durante a trajetória de construção desta tese divergiram conforme as questões de pesquisa propostas, a fim de atingir o objetivo de analisar o III PNPM, bem como o Programa Mulheres Mil, e as significações produzidas nas mulheres beneficiárias nos municípios de São Borja/RS e Itaqui/RS, assim sendo:

1. Como se dá a relação entre o capítulo 1 do III PNPM – “Igualdade no mundo do trabalho e autonomia econômica” – e o Programa Mulheres Mil?

2. O que essas políticas propõem para modificar as relações entre mulheres e homens vigentes no país?

Como mencionado anteriormente, o capítulo 1 do III PNPM e o Programa Mulheres Mil foram escolhidos como corpus deste estudo. Para responder essas duas primeiras questões

(44)

de pesquisa, selecionei para análise alguns documentos que regulamentam a implantação29 ​e

orientam a implementação30 ​de tais políticas, sendo eles:

• Plano Nacional de Políticas para as Mulheres (2013-2015) (BRASIL, 2013c); • Plano Brasil Sem Miséria no seu Município (BRASIL, 2013b);

• Cartilha Pronatec (BRASIL, 2012a; 2014b);

28 ​Multiculturalismo, pós-estruturalismo, estudos de gênero, pós-modernismo, pós-colonialismo, pós-gênero, pós-feminismo, estudos culturais, estudos étnicos e raciais, pensamento da diferença e estudos ​queer. 29 ​De acordo com o Dicionário Aurélio (1999), implantar é utilizado nesta tese com o sentido de introduzir, inaugurar, estabelecer uma política pública.

30 ​Implementar uma política pública significa dar execução, seja de um plano, de um programa ou de uma ação, ​ou seja, levar a prática por meio de providências concretas (Idem).

40 • Cartilha Mulheres Mil (2014a);

• Programa Nacional Mulheres Mil: Educação, Cidadania e Desenvolvimento Sustentável – Preâmbulo (BRASIL, 2011).

Optei pela análise documental, pois se constitui em um importante instrumento na pesquisa qualitativa, que consiste na organização e interpretação de documentos previamente selecionados, com uma finalidade específica – neste caso, a de compreender como se dá a relação entre os documentos que institucionalizam o III PNPM e o Programa Mulheres Mil. Com a análise documental, foi possível extrair informações, bem como ampliar o

entendimento sobre o corpus da pesquisa.

Para pensar sobre essas questões, utilizei a análise de documentos, objetivando extrair deles informações, investigando, examinando, organizando os dados encontrados para serem posteriormente analisados, articulando ambas as políticas (Plano e Programa), elaborando

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sínteses e problematizando os resultados encontrados.

A descrição e a análise dos documentos oficiais foram importantes para mostrar como eles foram/são constitutivos das ações que se materializam nas atividades educativas

propostas às mulheres-alvo dessas políticas. Contudo, nesta tese, a pesquisa documental é utilizada como um instrumento complementar, para um primeiro movimento de análise. A seguir, apresento os demais métodos utilizados para responder a terceira e a quarta questão de pesquisa.

3. Quais as ênfases, tensões e desafios presentes nessas políticas para a inclusão produtiva de mulheres?

Para problematizar essa questão, além da análise documental, recorri às três dimensões analíticas de Elizabeth Peter et al. (2007) – descritiva, conceitual e normativa – para analisar em profundidade tanto o capítulo 1 do III PNPM (2013-2015) quanto o Programa Mulheres Mil. Segundo essas autoras, por meio da dimensão descritiva, são identificados elementos- chave relevantes das políticas analisadas.

Já a dimensão conceitual explicita os valores, os princípios e as suposições presentes no objeto de pesquisa – neste caso, no III PNPM e no Programa Mulheres Mil. Essa dimensão conceitual, de acordo com Michael Yeo (1996, p.18, tradução minha), é empregada “para resolver os vários significados de conceitos-chave e para descompactar termos carregados com valores e suposições questionáveis”.

41 A dimensão normativa, por sua vez, envolve a avaliação dos princípios e valores que devem orientar as políticas públicas e sua aplicação. Esse tipo de análise deve destacar os valores implícitos e explícitos encontrados após a realização das análises descritiva e conceitual.

Referências

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