• Nenhum resultado encontrado

José Antônio Borges Pereira 1 RESUMO

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "José Antônio Borges Pereira 1 RESUMO"

Copied!
12
0
0

Texto

(1)

TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA DE NATUREZA CAUTELAR INCIDENTAL PARA O INÍCIO DO ESTÁGIO DE CONVIVÊNCIA DE

CRIANÇAS/ADOLESCENTES INSTITUCIONALIZADAS MEDIANTE CONCESSÃO DE GUARDA PARA FINS DE ADOÇÃO

José Antônio Borges Pereira1

RESUMO

O presente trabalho foi desenvolvido no escopo de retratar como vem sido amenizado, no Juízo Especializado da Infância e Juventude de Cuiabá/MT, o descumprimento dos prazos quando da tramitação da ação de destituição do poder familiar, haja vista que, em sua maioria, não são julgadas no prazo máximo de 120 (cento e vinte) dias, contadas da propositura da ação e, se houver recurso, no máximo de 180 dias. A par disto, em que pese estarmos diante de situações jurídicas indefinidas envolvendo crianças e adolescentes institucionalizadas, valho-me do instituto da tutela provisória de urgência para início do estágio de convivência, requerendo a concessão da guarda para fins de adoção para casais inscritos no cadastro de pretendentes à adoção.

Palavras-chave: Tutela de urgência no estágio de convivência, Ação de destituição

do poder familiar, Tutela provisória de urgência e Estágio de convivência para fins de adoção.

1

* Publicitária: Corregedoria do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso

Mestre pela PUC/SP. Promotor de Justiça da Infância e Adolescência do Ministério Público do Estado de Mato Grosso. Autor de artigos jurídicos.

(2)

TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA DE NATUREZA CAUTELAR INCIDENTAL PARA O INÍCIO DO ESTÁGIO DE CONVIVÊNCIA DE

CRIANÇAS/ADOLESCENTES INSTITUCIONALIZADAS MEDIANTE CONCESSÃO DE GUARDA PARA FINS DE ADOÇÃO

1. INTRODUÇÃO

O Brasil passou por três doutrinas jurídicas que forjaram o enfrentamento da situação de nossas crianças e adolescentes. A primeira no império e no início da República que foi a Doutrina do Direito Penal do Menor com objetivo apenas punitivo dos menores infratores e sem preocupação humanística de seres em formação e sua integração familiar. A segunda Doutrina da Situação Irregular que tratava os menores como objeto de direito, misturando carência e delinquência e provocando o isolamento social em grandes abrigos, sem qualquer critério de faixa etária e dos motivos do afastamento familiar. Atualmente temos a Doutrina da Proteção Integral com o status constitucional de elevação das crianças e adolescentes como cidadãos com direitos comuns e especiais pela sua peculiar condição de pessoas em desenvolvimento.2

Dentre os direitos fundamentais especiais elegidos pelo constituinte de 1988, lapidados no art. 227 da Constituição Federal e, com a devida necessidade, justificado pela realidade social, apesar de parecer óbvio, foi no sentido de que lugar de criança e adolescente é convivendo no seio de sua família natural e que participe em tudo: indo à escola, postos de saúde, festas populares, igrejas, praças, brinquem nos logradouros públicos e adquiram os costumes sociais e culturais da sua comunidade. E, com isso, esvaziar os grandes abrigos onde eram depositadas crianças e adolescentes muitas vezes por simples pobreza de seus pais.3

A Lei 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente) que regulamentou a Constituição Federal nesta espera trouxe instrumentos para essa transformação social nos seus 25 anos de vigência e com avanços inegáveis, apesar da falta de vontade política e popular mais intensa para

2

PEREIRA, José Antônio Borges. O Direito Fundamental de Liberdade à Convivência Familiar e

Comunitária da Criança e do Adolescente. Mestrado PUC-SP, 2008, p.15.

3

ECA art.23. A falta ou carência de recursos materiais não constitui motivo suficiente para a

(3)

que de fato pudéssemos dizer que nossas crianças e adolescentes são tratados com prioridade absoluta como determina a Carta Magna.

Apesar do avanço norteado pelo Estatuto da Criança e Adolescente, no escopo de se evitar institucionalizações despiciendas e a constante busca do retorno à família natural, uma vez cessada a situação de risco ou, em último caso, a colocação em família substituta, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplica (IPEA) em parceria com o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA) fizeram no ano de 2003 o Levantamento Nacional de Abrigos, tendo sido encontrado aproximadamente 20 mil crianças e adolescentes abrigadas em 589 abrigos catalogados no Brasil sendo, na sua maioria, crianças de sexo masculino entre 07 e 15 anos, negros e pobres. Os dados mostraram ainda que 87% das crianças e adolescentes abrigadas têm família, sendo que 58% mantém vínculos com seus familiares. Verificou-se também a cristalização da vivência institucional por longos anos ou por uma década.4

Diante desses dados alarmantes o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA) e o Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), em conjunto, aprovaram em 13 de dezembro de 2006, o Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária, em 13 de dezembro de 2006, onde busca-se reordenar a rede de proteção, com foco na família, desenvolvendo políticas públicas para seu empoderamento. Primazia na colocação de crianças e adolescentes em sua família extensa ou ampliada (avôs, tios, primos, irmãos adultos ou padrinhos) e/ou em famílias acolhedoras, em programas que devem ser implantados pelos municípios e, na sua falta, na modalidade de Acolhimento em Abrigo Institucional e Casa Lar com no máximo 20 ou 10 crianças e adolescentes respectivamente, buscando assim o atendimento personalizado, minorando os danos do afastamento da família natural gerados por fatos gravíssimos considerados situação de risco.5

4

SILVA, Enid Rocha Andrade da – Coord. O Direito à Convivência Familiar e comunitária: Os

abrigos para crianças e adolescentes no Brasil. Brasília: IPEA/CONANDA, 2004.

5

BRASIL. Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e

Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária. Disponível em:<http://www.conselhodacriança.al.gov.br>. Acesso em:12/03/2016.

(4)

2. LEI 12.010/09

Buscando ainda mecanismos para o aperfeiçoamento da sistemática prevista para garantia do direito à convivência familiar e comunitária da criança e adolescente já travado no CONANDA e sociedade civil organizada foi aprovada a Lei 12.010/09, erroneamente chamada Lei da Adoção como se fosse seu principal alvo, já que trouxe inovações neste aspecto também no Estatuto da Criança e do Adolescente que tem seu principal objetivo evitar ao máximo a perpetuação dos acolhimentos como solução única para os casos de situação de risco de crianças e adolescentes, quando na verdade deve ser o último recurso e, quando usado, sempre numa visão de transitoriedade muito rápida, pois proporcionalmente pelo tempo de vida dos infantes esse caminho poderá ser cristalizado como fato normal em suas vidas, bem como por melhor que seja o tratamento dado dentro de um abrigo, ceifar a vivência familiar e comunitária ao qual faz jus.

Em razão da temporalidade urgente na vida de uma criança ou adolescente foi acrescido pela Lei 12.010/09 as seguintes medidas e prazos em destaque no ECA:

Art.19...

§1º Toda criança e adolescente que estiver inserido em programa familiar ou institucional terá sua situação reavaliada, no máximo, a cada 06 (seis) meses, devendo a autoridade judiciária competente, com base no relatório elaborado por equipe interprofissional ou multidisciplinar, decidir de forma fundamentada pela possibilidade de reintegração familiar ou colocação em família substituta, em quaisquer das modalidades previstas no art.28 desta lei.

§2º A permanência da criança e do adolescente em programa de acolhimento institucional não se prolongará por mais de 02 (dois) anos, salvo comprovada necessidade que atenda ao seu superior interesse, devidamente fundamentada pela autoridade judiciária.

Art. 101....

§ 9º Em sendo constatada a impossibilidade de reintegração da criança ou adolescente à família de origem, após seu encaminhamento a programas oficiais ou comunitários de orientação, apoio e promoção social, será enviado relatório fundamentado ao Ministério Público, no qual conste a descrição pormenorizada das providencias tomadas e a expressa recomendação, subscrita pelos técnicos da entidade ou responsáveis pela execução da política municipal de garantia do direito à convivência familiar, para a destituição do poder familiar, ou destituição de tutela ou guarda. §10. Recebido o relatório, o Ministério Público terá o prazo de 30 (trinta) dias para o ingresso com a ação de destituição do poder familiar, salvo se entender necessária a realização de estudos complementares ou outras providências que entender indispensáveis ao ajuizamento da demanda. Art. 136. São atribuições do Conselho Tutelar:

XI – representar ao Ministério Público para efeito das ações de perda ou suspensão do poder familiar, após esgotados as possibilidades de

(5)

manutenção da criança ou do adolescente junto à família natural.

Art. 163. O prazo máximo para conclusão do procedimento será de 120 (cento e vinte) dias.

Art. 199-D O relator deverá colocar o processo em mesa para julgamento no prazo máximo de 60 (sessenta) dias, contando da sua conclusão.6

Somando os prazos atribuídos ao Ministério Publico: 30 (trinta) dias para propor Ação de Perda do Poder Familiar aos 120 (cento e vinte) dias para o Juiz instruir e julgar o processo e aos 60 (sessenta) dias que o Relator deve colocar em mesa o recurso de apelação, temos 210 (duzentos e dez) dias. Sem contar o período que a criança ou adolescente encontra-se institucionalizada a partir da expedição de Guia de Acolhimento em que a Equipe Técnica da Instituição iniciará os trabalhos de aprofundamento dos fatos geralmente trazidos pelo Conselho Tutelar. Primeiro, como há possibilidade do retorno à família natural e caso não seja favorável, faz-se a busca pela família extensa ou ampliada, isso leva no mínimo 60 (sessenta) dias, perfazendo 270 (duzentos e setenta) dias, ou seja, 09 (nove) meses, para eventual prolação de sentença de perda do poder familiar.

Diante da perpetuação de crianças e adolescentes em instituições, com situação jurídica indefinida por tempo indeterminado, andou bem o legislador na Lei 12.010/2009 em outorgar esses prazos para os protagonistas do processo judicial que devem avocar a relevante responsabilidade de decidir, com a maior brevidade possível, o destino de uma criança, prevenindo revitimizações pelo próprio Sistema de Garantia de Direitos, quando os pune pela omissão funcional.

De outra banda, entre o ideal e o factível, restou constatado que muitas crianças e adolescentes não são reintegrados no seio de sua família, em razão da precariedade da estrutura dos setores interprofissionais do Poder Judiciário, que não contam com número suficiente de profissionais da área de Assistência Social e Psicologia, por conta da estrita obediência à Lei de Responsabilidade Fiscal que, de certa forma, acaba por criar entraves não autorizando a realização de licitação, para suprir essa demanda profissional.

Atualmente o Poder Judiciário vem assumindo papel de tomador de serviços terceirizados, em que os profissionais atuam em regime de contratação temporária, fato que prejudica sobremaneira a continuidade dos atendimentos “personalizados” do núcleo familiar que, caso fosse fomentados com servidores de carreira, muito enriqueceria na otimização dos trabalhos prestados pelos Setores

(6)

Interprofissionais dos Juizados da Infância e Juventude, rumo a prática e especialização da matéria, evitando emissão de pareceres técnicos inseguros e inconclusivos, que somente contribuem com a morosidade na prolação de sentenças em processos de colocação de crianças e adolescentes em família substituta.

Malgrado a existência do Provimento nº 36/2014 da lavra do Conselho Nacional de Justiça/Corregedoria Nacional de Justiça, que dispõe acerca da estrutura e procedimentos das Varas da Infância e Juventude, por justificativas plausíveis, muitos Tribunais de Justiça, não adimpliram plenamente, principalmente quanto à exclusividade de Vara da Infância e Juventude em comarcas com mais de 100.000 habitantes e com equipes multidisciplinares suficiente para essa finalidade.

3. TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA PARA INÍCIO DO ESTÁGIO DE CONVIVÊNCIA

Exposta essa realidade, patente está que, os prazos assinalados pela Lei nº 12.010/2009 não são adimplidos pelos protagonistas do processo: Juízes, Promotores de Justiça, Defensores Públicos, Advogados, Desembargadores e Procuradores de Justiça. Diante disto, indaga-se: em que momento processual, deve-se colocar uma criança e/ou adolescente institucionalizada em uma família apta para adoção?

Pois bem! Trago a baila duas situações jurídicas adotadas pelo Juízo da 1ª Vara Especializada da Infância e Juventude de Cuiabá/MT, na qual milito como Promotor de Justiça, quais sejam:

a) colocação de crianças e adolescentes em famílias substitutas mediante guarda para fins de adoção, no curso do processo de destituição do poder familiar, somente com decisão liminar de suspensão do poder familiar;

b) no caso de ultrapassada a fase de instrução processual, e confirmada por sentença de primeiro grau a perda do poder familiar, ao juiz é autorizado disponibilizar a criança ou adolescente para colocação em família substituta mediante guarda para fins de adoção, apesar da existência de recurso pendente de apreciação.

(7)

nome da criança e/ou adolescente somente poderá ser inserido no Cadastro de Crianças/Adolescentes aptos para Adoção e, por conseguinte, viabilizada a consulta ao Cadastro de Pretendentes à Adoção, após o trânsito e julgado da sentença de perda do poder familiar, evitando, desta forma, o risco da criança e/ou adolescente, após ter se adaptado à nova família, tenha que retornar a sua família natural, quando revertida a situação em sede recursal, desencadeando uma revitimização.

Neste viés: Murillo José Digiácomo, Procurador de Justiça e Coordenador do Centro de Apoio Operacional das Promotorias da Criança e do Adolescente do MPPR.

Acerca da 1ª situação - Colocação de crianças e adolescentes em famílias substitutas mediante guarda para fins de adoção, no curso do processo de destituição do poder familiar, somente com decisão liminar de suspensão do poder familiar:

a) em razão de comprovado por meio de estudos psicossociais do caso, uma remota chance de reversibilidade jurídica e, tendo por foco central, que a criança ou adolescente sofrerá graves prejuízos psicológicos caso seja postergado, de forma despicienda e desprovida de qualquer justificativa plausível, seu acolhimento em uma Casa Lar, Abrigo Institucional ou Família Acolhedora, recomenda-se que seja consultado o cadastro de pretendentes à adoção e disponibilizado, em sede de cautelar incidental, o início do estágio de convivência familiar, por meio da concessão da guarda instrumental para futura adoção, tendo como causa prejudicial a confirmação da sentença transitada em julgado da perda do poder familiar;

b) aliada à comprovação do fumus boni iuris e periculum in mora, pleiteio, no próprio pedido da inicial, ou no curso da ação de perda do poder familiar, incidentalmente, tutela provisória de urgência de natureza cautelar incidental para o início do estágio de convivência de crianças e adolescentes institucionalizadas, mediante concessão de guarda para fins de adoção.

Quanto a 2ª situação - Prolação de sentença de perda do poder familiar, no qual ainda não restou certificado nos autos o trânsito em julgado: na prática, adoto os idênticos meios processuais expostos na primeira situação.

(8)

prática forense nesses meus 16 (dezesseis) anos de militância como Promotor de Justiça nesta área da Infância e Juventude, felizmente, nunca fui surpreendido com decisões do Tribunal de Justiça de Mato Grosso reformando decisões do Juízo a

quo que tenha decretado a perda do poder familiar, determinado que as crianças

e/ou adolescentes fossem retiradas das famílias substitutas em que se encontram inseridas, mediante guarda para fins de adoção, para reintegração à sua família natural ou extensa.

Cabe ressaltar que, as crianças e adolescentes institucionalizadas que assim permanecem durante todo o trâmite processual nos feitos de Perda do Poder Familiar são aquelas em que não foram encontrados membros da família natural ou extensa/ampliada e, se foram, não restou comprovado reunirem condições favoráveis para o exercício da guarda ou, ainda que reúnam condições, não manifestaram interesse no difícil encargo de manter a prole de seus parentes.

Não podemos obrigar as pessoas que nutrem vínculos consanguíneos com as crianças e adolescentes acolhidos, a praticarem o ato de amor de assumirem os filhos alheios. Trata-se de um ato genuíno de amor que deve ser motivado por um coração aberto e, nunca, por imposição, pois obrigar uma relação desprovida de afeto em favor de crianças e adolescentes que, infelizmente, já passaram por graves traumas que, inclusive, ensejou a medida de afastamento da família natural é contraproducente e fere o Princípio da Afetividade que deve nortear as relações de família do século XXI.

Continuando, ante os inúmeros casos que aportaram na Promotoria da Infância e Juventude da qual sou titular, perfilho do entendimento de que: em ambas as situações jurídicas expostas alhures, acerca da concessão de guarda para fins de adoção, deve-se priorizar a inserção de crianças de até 03 (três) anos de idade em famílias substitutas, ou seja, defendo que - pelo Princípio do Melhor Interesse da Criança/Adolescente, o qual objetivou a cidadania ocupada por essa parcela da população na Carta Magna de 1988, principalmente, com crianças que tem o tempo certo para a base da sua formação psicológica, que é até os 03 (três) anos de idade -, NÃO fiquem aguardando por uma questão formal/processual o suposto direito de posse dos pais que foram negligentes ou atrozes sem condições de voltarem ter a prole.

Corroborando, com muita propriedade, assevera a Procuradora de Justiça do MPRJ, Dra. Kátia Maciel:

(9)

A pior coisa que pode acontecer para uma criança/adolescente é encontrar um profissional que fica com pena da situação apresentada pelo genitor ou parente e fica tentando manter um vínculo que, de fato, não existe. Ao agir dessa forma, o profissional está desrespeitando o princípio do superior interesse. Mesmo existindo norma expressa (§3º do art. 19 do ECA, acrescido pela Lei n.12.010/2009) determinando a manutenção e a reintegração familiar serão medidas que terão preferência sobre qualquer outra, não podemos nos esquecer de que a atuação de todos os profissionais da área da infância e juventude deverá ter em mente o que for melhor para o destinatário da medida. E o destinatário da medida é a criança/adolescente, não sua família. Esta nova regra não muda em nada a forma de atuar que havia antes de sua vigência, podendo ela vir a ser, até mesmo, um elemento pernicioso para uma atuação em prol das crianças e adolescentes.

Para a inclusão da criança/adolescente no cadastro, não é necessário que já esteja destituída do poder familiar, mas apenas que haja um estudo de caso com parecer da equipe interprofissional do juízo, ou de qualquer um dos programas de acolhimento, indicando à adoção como a medida que melhor atenderá os interesses da criança e do adolescente. A destituição do poder familiar se dará como pressuposto lógico da decretação da adoção.(grifei)7

Entendo não existir óbice algum, em último caso, e justificada pelas circunstâncias constatadas pelo Conselho Tutelar, Delegacia de Polícia Especializada de Defesa da Criança e do Adolescente, com fulcro em laudo emitido pela equipe multidisciplinar em um primeiro contato com a grave situação de risco, depois pela equipe multidisciplinar da Instituição de Abrigo e/ou Casa Lar com apresentação do Plano Individual de Atendimento (PIA) ou, até mesmo, pela equipe multidisciplinar do próprio Juízo no procedimento de averiguação da situação fática, após a expedição da Guia de Acolhimento, conforme previsto no art. 153 do ECA, seja consultado o cadastro estadual e/ou nacional de pretendentes à adoção, pela ordem de preferência de inscrição deferida a quem deseja, de pronto, assumir à criança/adolescente, esclarecendo o (s) pretendente (s) cadastrado (s), que ainda terá que aguardar o regular trâmite processual da ação de perda do poder familiar, mas que, em razão dos graves fatos constatados, a chance de retorno ao convívio com a família natural revela-se remota ou mesmo impossível.

Diante de embasada justificativa fática demonstrada na Ação de Destituição do Poder Familiar, primando o Princípio do Melhor Interesse da criança ou adolescente em ter uma família substituta de forma rápida para minorar os danos psicológicos, na medida em que voltará a ter uma família e convivência comunitária normal, com base no artigo 300 do novel Código de Processo Civil como à Tutela

7

MACIEL, Kátia, Curso de Direito da Criança e do Adolescente. 8ª ed., Saraiva, 2015, p. 315 e 316.

(10)

Provisória de Urgência, em consonância com o art. 1.584, §5º do Código Civil e Arts. 19. §1º (última parte), Art.28. (independente da situação jurídica), Art. 33, §1º (liminar ou incidentalmente nos procedimentos de tutela ou adoção), Art. 100, I, IV, VI, X, Art. 101,IV, §1º, §9º, §10, §11 e Art.167, todos do Estatuto da Criança e do Adolescente, pelo poder geral de cautela do Juiz, a decisão acertada é no sentido de que seja determinada à consulta do cadastro de pretendentes à adoção rumo a imediata desinstitucionalização da criança ou adolescente.

Perfilhando do mesmo entendimento e com lapidar argumentação o Professor Nucci na sua obra comentada justifica esse entendimento:

Art. 157 ECA

77. Menor confiado a pessoa idônea: o ideal, por certo, seria a entrega da criança ou adolescente a uma pessoa de confiança do juiz, que pode ser parente do menor ou não. Uma das possibilidades é convocar alguém do cadastro de adoção, que se adapte àquela criança ou adolescente, para assumir a guarda provisória, pois há intuito de permanência definitiva, o que reduz o trauma para o infante ou jovem. Na maior parte dos casos, a ação de destituição do poder familiar é procedente, pois o Ministério Público somente propõe quando esgotadas as chances de reintegração da família natural. Por outro lado, há casos em que inexiste pessoa disposta a assumir a guarda, razão pela qual o menor pode ser enviado a acolhimento institucional ou familiar. Não deixará de separar a criança ou adolescente de seus pais. (ou pai, ou da mãe) com quem conviva de maneira opressiva.8

Portanto, uma vez consultada, de forma clara e transparente, à lista/cadastro de pretendentes à adoção, cientificando os pretendentes acerca da pendência do processo de perda do poder familiar, mas que, malgrado a existência da ação ainda em curso, da análise acurada da situação fática, não há perspectiva alguma de retorno da criança/adolescente à família natural ou extensa, torna-se perfeitamente possível que, liminarmente, seja antecipado o estágio de convivência em pedido de adoção.

Nesse sentido, ultrapassada à fase de orientação e cientificação dos pretendentes à adoção acerca do risco, ainda que remoto, de retorno do infante ou adolescente ao seio de sua família natural ou extensa, em sede recursal e, aceito pelo (s) pretendente (s), ato contínuo será a propositura de Ação de Adoção c/c Pedido de Tutela Provisória de Urgência de Natureza Cautelar Incidental Para Início do Estágio de Convivência de Crianças/Adolescentes Institucionalizadas Mediante Concessão de Guarda Para Fins de Adoção e, uma vez recebida e acolhido os

8

NUCCI, Guilherme de Souza. Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado. 2ª ed., Forense, 2015, p. 558.

(11)

pedidos mediante deferimento liminar da guarda do infante e/ou adolescente em favor do (s) pretendente (s), deverá o feito permanecer sobrestado até o julgamento da ação principal prejudicial de Perda do Poder Familiar com transitado em julgado certificado nos autos.

Nunca é demais lembrar que, o processo judicial não pode se tornar em instrumento de barreira intransponível ad eternum de uma criança ou adolescente vivendo num abrigo, mas apenas um caminho/meio célere para que lhes sejam garantidos o direito a uma família substituta. Daí a crítica abalizada ao § 4º do artigo 160 do ECA, introduzido pela Lei 12.010/2009, que obriga oitiva de pais com sua condução coercitiva feita pelo Professor Nucci em sua obra comentada:

Art. 161....

88. Instrução compulsória: Com inteira razão, Luiz Carlos de Barros Figueiredo pondera: priorizam-se os pais, que maltrataram, abandonaram, não se interessam em defender-se, mantendo-se por tempo bem maior de que o indispensável a criança ou adolescente à instituição de acolhimento. Será que a institucionalização deixou de ser excepcional e transitória? Como vamos fazer para desobstruir as pautas de audiência, de forma a agilizar o julgamento do caso concreto? Como vamos dispor de equipes técnicas em quantidade suficiente para atender até os casos consolidados?(...) Não se alegue que casos existiram de uso abusivo do permissivo legal. Isto pode ocorrer em qualquer atividade humana. O remédio para isso é denunciar, apurar e punir, quando for o caso, jamais generalizações medíocres. Os redatores dessa ignomia devem satisfações não à opinião pública, mas às milhares de crianças e adolescentes que por conta desse parágrafo deixarão de ter direito à convivência familiar” (Comentários à nova lei nacional de adoção, p.97-98).9

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Espero ter atingido o objetivo neste breve trabalho na busca de uma posição pautada na sensatez e razoabilidade no enfrentamento dos temas mais difíceis no exercício da Judicatura e do Ministério Público que é à decisão segura acerca do destino de uma criança e um adolescente e o foco está exatamente em desmistificar “A FAMÍLIA DE QUE SE FALA E A FAMÍLIA DE QUE SE SOFRE”10, para cumprir a nossa missão nos casos extremos e sem possibilidade de retorno a família natural e/ou extensa, que seja oportunizada, com maior brevidade possível,

9

Ibidem, p. 564. 10

GAIARSA, José Ângelo. A família de que se fala e a família de que se sofre: O livro negro da

(12)

diante do tempo diferenciado na vida de uma criança e adolescente, a colocação em família substituta, antecipando liminarmente, o início do estágio de convivência, mediante concessão da guarda para a futura adoção e, assim, cumprindo com a determinação constitucional de que nenhuma criança/adolescente fique alijada de uma família e uma vida comunitária para sua formação física, moral, psicológica e emocional mais equilibrada ao qual faz jus.

REFERENCIAS

BRASIL. ECA art.23. A falta ou carência de recursos materiais não constitui

motivo suficiente para a perda ou a suspensão do poder familiar.

_____. Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças

e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária. Disponível

em:<http://www.conselhodacriança.al.gov.br>. Acesso em: 12/03/2016.

GAIARSA, José Ângelo. A família de que se fala e a família de que se sofre: O

livro negro da família, do amor e do sexo. 8ª ed., Agora Editora, 2015.

MACIEL, Kátia. Curso de Direito da Criança e do Adolescente. 8ª ed., Saraiva, 2015.

NUCCI, Guilherme de Souza. Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado. 2ª ed., Forense, 2015.

PEREIRA, José Antônio Borges. O Direito Fundamental de Liberdade à

Convivência Familiar e Comunitária da Criança e do Adolescente. Mestrado

PUC-SP, 2008.

SILVA, Enid Rocha Andrade da – Coord. O Direito à Convivência Familiar e

comunitária: Os abrigos para crianças e adolescentes no Brasil. Brasília:

Referências

Documentos relacionados

Our contributions are: a set of guidelines that provide meaning to the different modelling elements of SysML used during the design of systems; the individual formal semantics for

Pelo display você pode selecionar os valores de (4 e 20) mA, unidade de engenharia para pressão, amortecimento, o valor de corrente de saída durante o alarme. 3.6.2.1 A

O controlador integral age como um somador ou acumulador, o qual exami- na o sinal de erro e continua mudando a saída do controlador até que o erro seja zero. Porém, ele aumenta

§ 1º Será devida a contribuição adicional de 06% (seis pontos percentuais) em razão do grau 3, correspondente ao risco grave, a cargo das empresas de

Informar o tipo de estrutura de saída de água utilizada e o material do qual é feita: Não se aplica; Cotovelo ou joelho de PVC, fixo; Cotovelo ou joelho de PVC, móvel; Monge de

4.. Neste capítulo iremos analisar o modo como a política perspectiva o problema da protecção ambiental e como isso se reflecte na regulação

APÊNDICES APÊNDICE 01: Tabela de frequência das disciplinas dos programas figura 07 Disciplinas dos programas Disciplina Gestão ambiental Acompanhamento e avaliação de programas

Pretendo, a partir de agora, me focar detalhadamente nas Investigações Filosóficas e realizar uma leitura pormenorizada das §§65-88, com o fim de apresentar e