Comunicação
O ENSINO DE ARTE EM GOIÁS: UM RECORTE A PARTIR DO CENTRO DE ESTUDO E PESQUISA “CIRANDA DA ARTE”
ALCANTARA, Luz Marina de1
Palavras-chave: Cultura, Arte, Educação
RESUMO
Em consonância com as várias legislações vigentes, Goiás é um Estado que tem procurado inserir, em seu cotidiano escolar, discussões em torno da cultura e da arte. Assim sendo, esta reflexão parte de um recorte feito sobre o percurso histórico do ensino de arte em Goiás, marcando as conquistas e afirmações da arte na educação ao criar o Centro de Estudo e Pesquisa “Ciranda da Arte”.
COORDENAÇÃO DE ARTE: conquistas e reflexões.
Pretendo trazer algumas considerações evidenciadas no ano de 1998 e a seguir. Esta data marca a instituição da Coordenação de Arte nos Departamentos Pedagógicos das Subsecretarias, tanto as localizadas nas cidades do interior quanto na Metropolitana, sediada em Goiânia. Após observações e análises do cotidiano escolar, mediado pelas respostas de um questionário respondido por professores de arte e diretores das unidades escolares de todo o estado de Goiás, verificou-se concepções e práticas pautadas em atividades artísticas livres e descontextualizadas, que visavam proporcionar aos educandos momentos de relaxamento e descontração para aliviar o cansaço proporcionado pela “seriedade” das demais disciplinas. Outro fator, observado nos depoimentos, indicava a distribuição das aulas de arte entre os professores de todas as áreas para complementação de carga horária. Nesta pesquisa foi possível localizar a presença de apenas 17 professores com formação em arte, lotados nas escolas da rede estadual.
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A partir desta realidade, a Secretaria de Educação estabeleceu algumas diretrizes, primeiramente impedindo a modulação da arte para complementar outra disciplina, visando o fortalecimento da área e, conseqüentemente, das ações em torno do universo artístico. Posteriormente, em sintonia com os pressupostos educacionais da atualidade, são viabilizadas aprendizagens artísticas e experiências estéticas aos alunos, propondo, além do espaço da disciplina curricular, projetos de atividades educacionais complementares, como, por exemplo, Bandas, Fanfarras, Ensino Coletivo de Violão, Dança, Teatro, Coral e Ateliês de Artes Visuais, realizados no contra-turno. O caráter destes projetos é de ampliar saberes específicos numa das linguagens artísticas, de acordo com o interesse do aluno. Para os projetos foi autorizada contratação de profissionais especialistas em cada linguagem artística.
CIRANDA DA ARTE: solidificando as conquistas e as reflexões.
Pensando a qualidade do ensino de arte e as ações que envolvem esse universo artístico, a Secretaria de Educação cria o Centro de Estudo e Pesquisa “Ciranda da Arte”, instituição responsável para gerir as políticas públicas na área de arte, mantendo duas frentes de trabalho. A primeira ligada às questões pedagógicas, sustentada na formação continuada e contínua, nas orientações curriculares, em pesquisas que tangenciam o ensino de arte e n a formatação dos grupos de estudos formados pelos professores dos projetos de ações educacionais complementares. A segunda, diz respeito ao gerenciamento das ações administrativas que regulam o encaminhamento dos professores para as unidades escolares e na proposição e acompanhamento das parcerias estabelecidas pela Secretaria de Educação. Dentre elas, destaca-se, o Projeto Arte-Educação, firmada com a Fundação Jaime Câmara, atendendo, anualmente, um quantitativo de mil crianças da rede pública, em quatro bairros distintos da cidade, em horário inverso ao ensino regular. Este projeto promove a formação cidadã de crianças entre seis a quatorze anos, por meio da arte, e acontece desde o ano de 2002. Para esta parceria a Secretaria de Educação disponibiliza trinta professores, nas áreas de música, teatro, dança, cantinho de leitura, capoeira, artes visuais, xadrez, acompanhamento pedagógico e psicológico.
Atendendo às necessidades de um ensino de qualidade, o Governo do Estado deflagra política pública de formação continuada dos seus professores, atingindo, conseqüentemente, a área de arte. O Centro de Estudo e Pesquisa “Ciranda da Arte”, atendendo às políticas educacionais desta gestão, disponibiliza, em seu espaço, cursos de formação continuada na área de arte em suas diversas linguagens aos professores da rede pública estadual, ampliando as possibilidades das ações cotidianas nas unidades escolares e o investimento na educação dos professores que atuam nesta área do saber. Para tanto, destacamos Rosa (2005), quando afirma que “é necessário o Estado responsabilizar-se pela efetivação de políticas públicas que atuem diretamente no sentido de investir na educação dos professores” (p. 87). Entendendo ainda que a educação do professor tenha o espaço da escola, também como mais um dos locais destinados à continuidade da sua formação, pois são nos embates do cotidiano que “ele aprende, desaprende, reestrutura o aprendido, faz descobertas e, portanto, é nesse lócus que muitas vezes vai aprimorando sua formação” (CANDAU, 1997, p. 57).
Este processo inicia-se com cursos destinados aos professores da disciplina Arte, com formação em outras áreas do saber, e possibilitava a experimentação em todas as linguagens da arte, chamado de “sensibilização”. A intenção era oportunizar aos professores as diversas experiências estéticas das linguagens, auxiliando-o na definição de uma delas para a verticalização dos seus conhecimentos artísticos Após este momento de experimentação cada professor definiu uma das linguagens para a continuidade de sua formação. Atualmente, os professores participam de grupos de estudos, cursos semestrais de formação continuada e estão buscando, junto à universidade, sua inserção nos cursos de graduação na área de arte, como exemplo, cito o programa de formação à distância da Universidade Aberta do Brasil.
Somente em 2003, o primeiro concurso para a disciplina Arte foi realizado em Goiás, acrescentando ao quadro de professores, profissionais especialistas. Uma das maiores conquistas do “Ciranda da Arte” foi, em 2005, a inserção do cargo de professor de música, teatro e dança, além das artes visuais no seu segundo concurso público na área de Arte.
.A partir de 2007, o Centro de Estudo e Pesquisa Ciranda da Arte expande suas ações para além da região metropolitana e inicia um processo de discussão em torno das concepções e práticas pedagógicas no ambiente escolar, com
coordenadores pedagógicos e professores de Arte, que acontecerá gradativamente em todos os municípios do Estado de Goiás.
No que concerne à educação estética e artística, a Secretaria de Educação de Goiás, por meio do Centro de Estudo e Pesquisa “Ciranda da Arte”, norteia as ações que envolvem a arte no cotidiano escolar, agregando alguns dos paradigmas da pós-modernidade, do corpus teórico da arte educação, bem como dos pressupostos encontrados nos documentos oficiais, considerando as características e a realidade deste Estado. Para Ana Mae Barbosa (2007) dentre suas inúmeras possibilidades, a Arte capacita o indivíduo a conhecer e interagir com o seu meio, estruturando, assim, sua identidade. A Arte supera o estado de despersonalização, inserindo o sujeito no tempo e no espaço, reforçando e ampliando seus lugares no mundo. Desse modo, não se compreende as culturas, sem conhecer seus processos históricos e artísticos. Conclui-se, portanto, que em primeira instância, é “uma razão cultural que nos leva a estudar Arte” (p. 02).
Na perspectiva metodológica, tem-se pensado o ensino das artes de modo que os estudantes desenvolvam a autonomia, interpretando e compreendendo os artefatos culturais, por meio da leitura da obra de arte em todas as suas especificidades, da contextualização histórica e da produção artística.
A Secretaria de Educação compreende e procura adequar-se às reformulações da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394/96, defendendo a obrigatoriedade de oferta da disciplina, em todas as séries e níveis da educação básica, “mas também a superação da polivalência”. (ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO, 2006, P. 177), garantindo desse modo que a formação do professor seja respeitada e valorizada. A preocupação é garantir a consistência do ensino de Arte, e possibilitar que o professor atue na sua linguagem de formação. Considera-se ideal, e acreditamos chegar a esse objetivo num futuro próximo, que todas as escolas possam contemplar a todas as linguagens artísticas, mas com professores diferenciados e especializados em cada uma delas.
Nesta direção, o Centro de Estudo e Pesquisa “Ciranda da Arte”, como centro formador, cria e amplia as ações pedagógicas e administrativas no sentido de promover pesquisas, estudo e reflexão em torno das concepções e práticas artístico-pedagógicas em torno da arte/educação propiciando aos professores da rede estadual vivências práticas, teóricas e reflexivas inerentes ao ensino de arte na educação básica, compreendida nas áreas de música, teatro, dança e artes visuais e
audiovisuais, estimulando a integração com a produção artística local e de âmbitos mais abrangentes.
Para tanto, procuramos disponibilizar um espaço de constante criação e investigação, mobilizando recursos para a elaboração e o desenvolvimento de ações educativas culturais e estéticas, permitindo o acesso democrático aos saberes artísticos e culturais, a serem socializados entre os professores por meio de recursos diversos.
Sem dúvida, o investimento na atualização do arte-educador nos ambientes pedagógicos, por meio de discussões e reflexões em grupos de estudos e seminários, e artísticos, por meio do acesso a espetáculos, concertos e exposições, resultará no desenvolvimento estético de nossos estudantes e conseqüentemente na melhor qualidade de seu desempenho nas demais áreas do currículo escolar. Neste sentido, Barbosa (2005) afirma que a educação em arte, ”como expressão pessoal e como cultura, é um importante instrumento para a identificação cultural e o desenvolvimento individual” (p. 99). Temos, portanto, o foco de nossas ações voltadas para o contexto escolar, sendo objeto central desta proposta “capacitar o aluno a interpretar e representar o mundo à sua volta, fortalecendo processos de identidade e cidadania.” (PCNEM, 2005 p. 183). Vislumbramos, sem utopia, uma sociedade mais igualitária, composta por indivíduos sensíveis às diversidades culturais e étnicas, e, sobretudo, consciente do meio social.
Na pós-modernidade, o ensino de arte vem sendo objeto de pesquisas que buscam desenvolver processos de mediação entre arte e público, influindo significativamente no desenvolvimento cultural dos estudantes, por meio da recepção e produção crítica. As atuais pesquisas apontam para uma mediação que trabalhe ações mentais e sensoriais, ou seja, que leve os estudantes à construção de conhecimentos por meio da interpretação e representação de narrativas estéticas, de forma contextualizada e esclarecedora, permitindo diversas experiências simbólicas e compreensão de mundo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ALMEIDA, Célia Maria de Castro. Concepções e práticas artísticas na escola. In: O ensino das artes: construindo caminhos. FERREIRA, Sueli. (Org.) Campinas: Papirus, 2001.
BARBOSA, Ana Mae. Dilemas da Arte/Educação como mediação cultural em namoro com as tecnologias contemporâneas. In: Arte/Educação Contemporânea: Consonâncias Internacionais. BARBOSA, Ana Mae. (Org.) São Paulo: Cortez, 2005.
CANDAU, Vera M. F. (coord.) Novos Rumos da Licenciatura: INEP, 1987. BARBOSA, Ana Mae.Toda beleza. 2007. http://www.futura.org.br/main.asp. BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Média. Orientações curriculares para o ensino médio, 2006, http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/book_volume_01
Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio
ROSA, Maria Cristina da, A formação de professores de arte: diversidade e complexidade pedagógica. Florianópolis : Insular, 2005.
