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DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE (VERSÃO NÃO CONFIDENCIAL)

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Mod.016_01 DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA

ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE

(VERSÃO NÃO CONFIDENCIAL)

Considerando que a Entidade Reguladora da Saúde exerce funções de regulação, de supervisão e de promoção e defesa da concorrência respeitantes às atividades económicas na área da saúde nos setores privado, público, cooperativo e social;

Considerando as atribuições da Entidade Reguladora da Saúde conferidas pelo artigo 5.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto;

Considerando os objetivos da atividade reguladora da Entidade Reguladora da Saúde estabelecidos no artigo 10.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto;

Considerando os poderes de supervisão da Entidade Reguladora da Saúde estabelecidos no artigo 19.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto;

Visto o processo registado sob o n.º ERS/87/2013;

I. DO PROCESSO

I.1. Origem do processo

1. Em 23 de outubro de 2013, tomou a ERS conhecimento de notícia divulgada na comunicação social, dando conta que o utente N., internado no Centro Hospitalar e

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Mod.016_01 Universitário de Coimbra, E.P.E., prestador de cuidados de saúde com o NIPC 510103448, sede na Av. de Bissaya Barreto, 3000 - 075 Coimbra e registado no Sistema de Registo de Estabelecimentos Regulados (SRER) da ERS sob o n.º 21486, no âmbito de pós-operatório de traumatismo crânio-encefálico, foi objeto de transferência inter-hospitalar para o Hospital Distrital de Santarém, E.P.E. prestador de cuidados de saúde com o NIPC 506361462, sede na Av. Bernardo Santareno, 2005 - 177 Santarém e registado no SRER da ERS sob o n.º 12297, no qual não foi recebido, sendo encaminhado para o Centro Hospitalar do Médio Tejo, E.P.E, prestador de cuidados de saúde com o NIPC 506361608, sede Av. Maria de Lourdes de Mello e Castro, 2304 – 909 Tomar e registado no SRER da ERS sob o n.º 10593, onde terá percorrido as unidades de Torres Novas, Abrantes e Tomar até ser realizado o seu efetivo internamento.

2. Após análise da referida exposição, o então Conselho Diretivo da ERS, por despacho de 23 de outubro de 2013, ordenou a abertura de processo de inquérito registado sob o n.º ERS/87/2013.

I.2. Diligências

3. No âmbito da investigação desenvolvida pela ERS, realizaram-se, entre outras, as diligências consubstanciadas em:

(i) Pesquisa no Sistema de Registo de Estabelecimentos Regulados (SRER) da ERS relativa ao registo do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, E.P.E. (CHUC), do Hospital Distrital de Santarém, E.P.E. (HDS) e do Centro Hospitalar do Médio Tejo, E.P.E. (CHMT);

(ii) Pedido de informação ao CHUC, por ofício de 26 de dezembro de 2013, respondido em 23 de janeiro de 2014;

(iii) Pedido de informação ao HDS, por ofício de 26 de dezembro de 2013, respondido em 08 de janeiro de 2014;

(iv) Pedido de informação ao CHUC, por ofício de 05 de fevereiro de 2014, respondido em 12 de fevereiro de 2014 e complementado a 14 de fevereiro de 2014;

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Mod.016_01 (v) Pedido de informação ao CHUC, por ofício de 12 de maio de 2014,

respondido em 05 de junho de 2014;

(vi) Pedido de informação ao Hospital Distrital de Santarém, E.P.E., por ofício de 12 de maio de 2014, respondido em 19 de maio de 2014.

II. DOS FACTOS

II.1. A resposta do CHUC

4. Na sequência do pedido de informação formulado pela ERS a 26 de dezembro de 2013, no âmbito do qual foi solicitado ao CHUC, e num primeiro momento, que explicitasse, de forma fundamentada, se possível acompanhada de elementos documentais, a situação descrita nas notícias;

5. Veio aquele prestador, em resposta rececionada pela ERS em 23 de janeiro de 2014, informar que por deliberação do conselho de administração do CHUC de 24/10/2013, foi determinada a abertura de processo de inquérito sobre o qual recaiu decisão de arquivamento, por deliberação de 07/11/2013 do mesmo conselho de administração, enviando documento relativo ao respetivo relatório final1.

6. Não obstante, da análise dos elementos constantes da resposta supra, constatou-se que o mesmo não apresentava versão integral dos documentos que o compunham, não tendo sido rececionadas todas as informações necessárias para o correto enquadramento da factualidade noticiada, pelo que, por ofício de 5 de fevereiro de 2014, foi solicitado ao CHUC o “[…] envio integral do Relatório Final do Processo de

Inquérito […], cujo teor terá merecido a aprovação do Conselho de Administração, determinando o arquivamento do processo em curso […]”, bem como a “[…] confirmação da existência de protocolo escrito, contendo as normas de procedimento em vigor no âmbito da operacionalização de transferência inter-hospitalar, acompanhada do envio do respetivo documento de suporte.”.

1 Também como anexo à resposta remetida, o CHUC junta troca de correspondência com a IGAS1

dando conta do entendimento manifestado pelo CHUC de que, face às discrepâncias existentes entre as versões dos factos apresentados pelas diversas instituições envolvidas compete à IGAS “a confrontação e colação das diferentes versões apresentadas pelos funcionários das [mesmas]”.

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Mod.016_01 7. Por resposta rececionada a 12 de fevereiro de 2014 veio o CHUC remeter cópia

integral do predito Relatório de Inquérito2, do qual, em suma, cumpre então salientar: “[…]

(i) O doente deu entrada no SU [no dia 12/10/2013] às 00h53m, transportado pela

VMER […], vítima de atropelamento […];

(ii) Foram pedidos todos os exames complementares inerentes a um

politraumatizado, com traumatismo craniano grave;

(iii) O doente foi observado pela neurocirurgia à 01h32m.Foi colocada indicação de

cirurgia urgente, tendo sido o doente enviado para o bloco operatório e iniciada a intervenção cirúrgica às 03h00m. Drenagem do hematoma;

(iv) Em 15/10/2013 […] estava presente a esposa do doente [que foi informada] [d]a

situação clínica e [d]a evolução favorável que apresentava […] informou ainda a família, que mantendo-se o progresso clínico e a evolução apresentada, o doente seria transferido, nos próximos dias para o Hospital de Santarém […];

(v) Em 17/10/2013 da avaliação do doente continuava-se a verificar melhoria

clínica […] a avaliação clínica determinou que o doente não necessitava de cuidados específicos de neurocirurgia pelo que decidiu transferir o doente para um Hospital próximo da residência do doente;

(vi) No dia 17 procedeu-se ao contacto com o Hospital de Santarém constituindo

esta a unidade hospitalar mais diferenciada da residência do doente. Foi efetuado contacto telefónico através da central telefónica dos HUC_CHUC às 10:12 horas, pelo médico do Serviço de Neurocirurgia […] para o Chefe de Equipa do serviço de urgência do Hospital de Santarém […], que foi informado da situação clínica do doente, da necessidade de continuação de cuidados hospitalares, não necessitando de cuidados específicos de Neurocirurgia. Foi ainda referido que o doente residia em Alcanena. O Médico do Hospital de Santarém […] aceitou a transferência, ficando garantida a recepção do doente nesse Hospital;

(vii) Foi elaborada carta de alta com referência ao contacto com o médico do

Hospital de Santarém […] e com informação de não necessitar de cuidados neurocirúrgicos […]. A carta ia acompanhada da folha terapêutica em curso, resultado das última análises realizadas e a informação de um site onde as

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imagens poderiam ser observadas on line. Junto com a carta de alta médica seguia a carta de enfermagem;

(viii) [foi informada, através de contacto telefónico] a esposa do doente […] que

se iria proceder à transferência;

(ix) Analisada a estratificação de doentes – score de risco e recomendações para o

transporte, concluiu que reuniam condições de assegurar a transferência do doente acompanhado por um enfermeiro [in casu pela enfermeira responsável pelo doente nesse turno] […] foi accionado um transporte que assegurasse a vigilância de parâmetros vitais, administração de oxigénio e aspiração de mucosidades;

(x) Após formalização do pedido de transporte, foi enviada a requisição do mesmo

ao serviço de transporte com a indicação das condições de ambulância, a identificação do Enfº acompanhante e a indicação da hora mais conveniente para efectuar o transporte;

(xi) O doente foi então transferido em ambulância medicalizada, acompanhado [por enfermeira] a quem foram dadas indicações para fazer o processo de

internamento nos serviços administrativos de admissão naquela unidade hospitalar, e, entregar a carta de alta ao médico do hospital de Santarém, com quem tinha sido acordada a transferência do doente;

(xii) O transporte foi realizado sem intercorrências, não sendo necessária qualquer

intervenção de enfermagem […];

(xiii) Tendo chegado ao Hospital de Santarém […] a enfermeira […] dirigiu-se ao serviço de admissão de doentes da urgência e entregou as cartas médicas e de enfermagem relativas ao doente. O segurança que estava à porta da urgência testemunhou a entrada do utente no serviço, assim como o tripulante de ambulância que levava a maca […];

(xiv) No guichet de admissão a administrativa introduziu os dados relativos ao utente no computador e passados uns breves momentos devolveu as cartas à enfermeira, referindo que não poderia admitir o utente naquela instituição uma vez que aquela não era o hospital da área de residência do doente, e que o destino do doente deveria ser o Hospital de Torres Novas;

(xv) A enfermeira […] insistiu, referindo que a indicação dada nos HUC era de que Santarém seria o Hospital de destino do doente e que tinha sido feito um contacto prévio entre as equipas médicas, tal como ela poderia verificar na carta

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médica, onde estava registado o nome do médico de Santarém que recebeu o contacto;

(xvi) Foi recusada a Recepção e abertura da carta dirigida [ao médico do Hospital de Santarém];

(xvii) A administrativa lamentou a situação, mas manteve a sua posição, referindo

que se tratava de um erro por parte do nosso hospital (HUC) que teríamos de assumir;

(xviii) Referiu que “as pessoas” têm o mau hábito de ver apenas o distrito de

residência do utente definindo o hospital de destino através deste critério, o que está errado, uma vez que o destino do doente deve ser definido verificando as áreas de influência de cada hospital (existindo muitos casos até em que o hospital de referência do doente se localiza fora do seu distrito de residência);

(xix) Concluiu referindo que Santarém era apenas o distrito de residência do utente e que o Hospital de referência do utente era efectivamente e com certeza absoluta o Hospital de Torres Novas. Referiu inclusivamente que o utente nunca tinha recorrido anteriormente por nenhum motivo ao Hospital de Santarém e que nem sequer estava inscrito no mesmo, o que provava mais uma vez que aquele não era o seu hospital de referência;

(xx) [Perante a não aceitação do utente pelo Hospital de Santarém a enfermeira]

iniciou contactos com o CHUC para obter indicações de como proceder […]

[tendo sido contactada] a equipa médica que estava no serviço e que

inclusivamente tinha sido responsável pela transferência do doente […]. Foi

[contactado] o Hospital de Torres Novas e [foram dadas] indicações para o

utente seguir para o Hospital de Torres Novas [o que foi transmitido à esposa

do utente sendo explicitada a situação];

(xxi) À chegada ao Hospital de Torres Novas […] foi feita admissão/inscrição do utente […] na triagem a enfermeira da urgência de Torres Novas leu as cartas e informou que o utente não poderia ficar naquele hospital uma vez que só tinham internamento de cardiologia e pneumologia. Foi realizado novo contacto com o CHUC […] [tendo sido estabelecidos] contactos com os colegas de Torres Novas e Abrantes tendo […] sido confirmado que aquele era o Hospital da área de residência do utente, mas que devido a uma reestruturação hospitalar as várias especialidades médicas e cirúrgicas estavam distribuídas pelos três hospitais que compunham o [CHMT] […];

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Mod.016_01 (xxii) No sentido de minorar o desconforto do doente a equipa médica e de

enfermagem presentes no serviço de urgência realizaram os contactos que julgaram necessários, e após todas estas diligências aceitaram a admissão do doente, instalando o mesmo na Sala de Observações daquela unidade, onde foi devidamente acomodado numa cama e monitorizado. Foi realizada transmissão oral à enfermeira de serviço, os diagnósticos e intervenções de enfermagem e entregues cartas médicas e de enfermagem, assim como a roupa do doente

[….];

(xxiii) Após realizar a transferência a enfermeira [contactou o CHUC] confirmando

a [sua] conclusão […] à chegada aos HUC foi realizado registo da ocorrência no Processo Clínico Electrónico do utente e libertada cama de seguida;

(xxiv) Resumindo e concluindo dos factos narrados […] [a] decisão de alta do

doente […] do serviço de neurocirurgia e transferência para hospital de proximidade, pela ausência de necessidade de cuidados da esfera neurocirúrgica com doente estabilizado mas a necessitar de cuidados gerais de internamento e reabilitação;

(xxv) A decisão da sua transferência para o Hospital de Santarém radicou no facto

de ser o Hospital da capital de Distrito e, do ponto de vista dos profissionais do Serviço de Neurocirurgia do CHUC, melhor serviria este doente;

(xxvi) Foi assegurada a aceitação do doente no Hospital de destino através de

contacto telefónico entre neurocirurgião e chefe de equipa de urgência do Hospital de Santarém;

(xxvii) O reencaminhamento do doente para o Hospital de Torres Novas resulta da

não aceitação do doente em Santarém, do facto daquele ser o da área de residência e de estar apenas a 20 minutos do local onde se encontrava, causando menor transtorno ao doente;

(xxviii) A carta de alta que acompanhava o doente continha toda a informação

necessária para a continuidade de tratamento e informava dos contactos estabelecidos com o Hospital de destino e identificava o Médico com quem esse contacto tinha sido estabelecido;

(xxix) O doente ficou no Hospital de Torres Novas para uma avaliação clínica e só

mais tarde foi encaminhado para Abrantes. É de salientar o comportamento correcto dos profissionais daquele Hospital, evitando que, no imediato, seguisse para o Hospital de Abrantes criando eventual desconforto ao doente.”

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Mod.016_01 (xxx) A transferência do doente foi decidida após se comprovar uma evolução

clínica positiva e a não necessidade de cuidados específicos da neurocirurgia. Todos os procedimentos para esta transferência foram acautelados, inclusivamente o assegurar que o doente seria recebido no Hospital de Distrito;

(xxxi) À Enfermeira [que acompanhou o utente], coube assegurar o mínimo de

transtornos para o doente, tendo sido a sua principal preocupação e função, garantir a sua segurança e conforto. Houve a preocupação de manter a família informada, não só antes do início da transferência […] como após a recusa do doente no Hospital de Santarém e transferência do mesmo para o Hospital de Torres Novas;

(xxxii) [É considerado] irrepreensível o comportamento dos profissionais […],

nomeadamente quanto ao seu carácter, dignidade, comportamento ético, rigor científico e clínico e também quanto às circunstâncias deste infeliz acontecimento […];

(xxxiii) Considerando as audições feitas, verifica-se ter havido profissionalismo,

competência e zelo no tratamento deste doente […] considera-se correta a decisão de alta do doente […] do serviço de neurocirurgia e transferência para o hospital de proximidade, pela ausência de necessidade de cuidados da esfera neurocirúrgica com doente estabilizado mas a necessitar de cuidados gerais de internamento e reabilitação;

(xxxiv) Foram acauteladas todas as condições de transporte. Considera-se que o

CHUC e os seus profissionais não têm qualquer responsabilidade na não aceitação do doente no Hospital de Santarém;

(xxxv) O processo de inquérito deve ser arquivado […].”.

8. Em complemento à resposta vinda de analisar, por ofício rececionado pela ERS a 14 de fevereiro de 2014, veio o CHUC complementar os esclarecimentos prestados informando que “[…] no Serviço de Urgência A do CHUC, a transferência de doentes

entre hospitais é realizada de acordo com a rede de referenciação, tendo sempre em conta a condição clínica do doente. A transferência do doente para outra instituição é sujeita a uma avaliação prévia para determinar o score clínico e, de acordo com este, definir o tipo de transporte a solicitar e a equipa de profissionais a realizar a transferência”, mais tendo sido remetida a Norma de Serviço instituída para o efeito,

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Mod.016_01 denominada “Avaliação prévia ao transporte de doentes”, aplicável ao serviço de urgência e em vigor desde 2008-05-053.

9. Posteriormente, por ofício de 12 de maio de 2014, foi enviado novo pedido de informação ao CHUC, onde era solicitado que:

“[…]

(i) Concretização dos cuidados específicos que se visavam acautelar com a transferência do utente, com referência ao tipo de vaga de internamento pedida e acordada em momento prévio à transferência com o Hospital de Santarém, E.P.E.

(ii) Explicitação da fundamentação que determinou que, face à recusa de aceitação do utente pelo Hospital de Santarém, não tenha o CHUC diligenciado pela aceitação do utente nos termos acordados.

(iii) Concretização da afirmação “[…] O Médico do Hospital de Santarém, Dr. L. aceitou a transferência, ficando garantida a recepção do doente nesse Hospital”, no que diretamente respeita à formalização da garantia prestada.

(iv) Quais os procedimentos internos existentes, acompanhados dos respetivos documentos de suporte, para a operacionalização da transferência inter-hospitalar de utentes, e no que concretamente respeita ao:

a) Meio de contacto com hospital de destino;

b) Meio de formalização do pedido e consequente aceitação; e

c) Meio de formalização da conclusão da transferência, mediante admissão do utente na entidade hospitalar de destino.”.

10. Por resposta rececionada a 05 de junho de 2014 veio o CHUC informar que: “[…]

(i) Não foi pedido nenhum tipo específico de vaga de internamento dado que se

desconhece a organização interna do Hospital de Santarém. Apenas foi assegurada a receção do doente no sentido de lhe poderem ser prestados “cuidados médicos gerais” (não específicos e portanto sem necessidade de especificação), bem como cuidados de reabilitação;

(ii) Face à recusa do Hospital de Santarém em receber o doente e com todo o

desconforto criado por esta recusa, resolveu a equipa médica responsável pelo

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doente proceder de acordo com orientação administrativa, que obrigava a transferir para o Hospital de Torres Novas;

(iii) A garantia prestada em relação à aceitação do doente […] apenas se pode

basear na palavra dos profissionais envolvidos, para além do registo do contacto telefónico facilmente comprovável. Se não tivesse havido aceitação do doente não teria, obviamente, sido transferido;

(iv) No Serviço de Urgência A- HUC-CHUC, a transferência de doentes ocorre mediante os seguintes procedimentos:

a) Contacto telefónico prévio do médico responsável pelo doente com a equipa médica do hospital que receberá o doente.

b) O contacto é efetuado através do secretariado clínico, cujo contacto fica registado.

c) A transferência só ocorre com a autorização do chefe de equipa e depois de ser efetuada uma avaliação clinica prévia ao pedido de transporte, para determinar a equipa a constituir para permitir uma transferência segura.” – cfr. resposta do prestador, junta aos autos.

II.2 A resposta do Hospital de Santarém

11. Na sequência da decisão de abertura do presente processo de inquérito, a 26 de dezembro de 2013, foi igualmente solicitado ao Hospital de Santarém que, e num primeiro momento, que explicitasse, de forma fundamentada, se possível acompanhada de elementos documentais, a situação descrita nas notícias.

12. Veio aquele prestador, por resposta rececionada a 08 de janeiro de 2014, informar que para resposta ao solicitado pela ERS remete “[…] um exemplar do Relatório

circunstanciado sobre a transferência do doente Sr. N4”, mais acrescentando que:

“[…]

(i) O Hospital não pode apresentar quaisquer documentos porque, para quaisquer

efeitos, o doente nunca foi admitido nos seus serviços, nem foi recusada qualquer admissão, resumindo-se os factos por nós conhecidos aos pontos 1 e 2 da Parte A do Relatório [circunstanciado sobre a transferência do doente];

(ii) De tal forma assim foi que no dia 18/10 pelas 9 horas [o médico do HDS que recebera o contacto do CHUC] ao sair de serviço e ao passar a Chefia de

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Equipa de Urgência ao colega […] informou que seria provável a chegada de um doente transferido do HUC, conforme pedido telefonicamente no dia anterior, desconhecendo o que terá acontecido com o doente no dia 17/10/2013.

13. Da análise do referido “[…] Relatório circunstanciado” cumpre destacar: “[…]

(i) Médico dos HUC […] contacta o Chefe de equipa da Urgência do HDS para

efeitos de transferência do doente que teria alta, para seguimento de tratamentos em Hospital da área de residência (na zona de Santarém);

(ii) O médico do HDS […] informou que o HDS não dispunha de internamento de

neurocirurgia mas que o Serviço de Cirurgia poderia aceitar o doente supondo ser da área de residência servida pelo Hospital, e por aí ficou o contacto;

(iii) Até ao dia 22/10, 3ª feira nada mais consta no Hospital de Santarém sobre este

doente, isto é, o doente não deu entrada nos nossos serviços e desconhece-se se confirmou a alta dos HUC e se o doente foi ou não transferido e para onde;

(iv) No jornal CM de 22/10 é noticiada uma transferência de um doente dos HUC

para o seu Hospital da zona de residência, que decorreu em circunstâncias anormais, e visando o Hospital de Santarém como tendo “recusado o acesso por não ser da sua área de residência”;

(v) Efetivamente estas transferências são, em regra, para os Hospitais da área de

residência dos doentes e, residindo o doente em Alcanena, seria o [CHMT] o Hospital de destino, onde o doente acabou por ser internado, e bem;

(vi) Mas a notícia não é verdadeira porque nem o Hospital de Santarém recusou,

em caso algum, o acesso ao doente, nem havia qualquer registo ou memória dos possíveis intervenientes num processo de admissão. Registe-se que a transferência de doentes nestas circunstâncias é comum, tal como também é comum o erro de referenciação geográfica por parte dos Hospitais de Origem, o que parece ter sido o caso presente;

(vii) Questionados os Serviço de neurocirurgia dos HUC […] foi afirmado que o

doente foi enviado para o Hospital de Santarém supondo que seria este o Hospital que servia do Conselho de Alcanena […] tal como foi ainda referido que o doente fora acompanhado por enfermeira […] circunstância ainda mais estranha por não haver registo no Serviço de Urgência do HDS, de ter sido

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apresentado para internamento qualquer doente acompanhado de enfermeira dos HUC, no dia 17/10;

(viii) Nesta Sr.ª Enfermeira residia a chave do esclarecimento dos factos, pelo que o HDS procurou insistentemente o seu contacto, o que não foi alcançado, e que permitiria esclarecer porque razão tendo o doente sido referenciado para o HDS, embora indevidamente, nunca chegou aos seus Serviços de Urgência;

(ix) O que parece ter acontecido, embora as funcionárias administrativas do HDS

insistam não ter registo nem memória dos factos, e segundo a Sr.ª Enfermeira responsável dos serviços dos HUC, [...] foi:

a) A Sr.ª Enfermeira terá chegado ao HDS e, dirigindo-se, sem qualquer apresentação ao guichet, terá afirmado acompanhar um doente residente em Alcanena para transferência para o Hospital da zona de residência;

b) À Sr.ª Enfermeira, que não se apresentou como tal, terá sido dito, com naturalidade, que o Hospital de referência para o Conselho de Alcanena era o [CHMT];

c) Repete-se […] que em caso algum, foi recusada a admissão do doente, nem os serviços administrativos tem qualquer competência para tal. Cabe-lhes informar e esclarecer. A decisão de admissão é sempre Clínica;

d) Sem quaisquer outras “démarches” junto dos Serviços HDS, a Sr.ª Enfermeira terá entrado em contacto com os Serviço dos HUC, dando conta que teriam informado no HDS, e que o Hospital de referência seria o CHMT, por o doente residir em Alcanena;

e) Em conformidade terá recebido (?) instruções para transportar o doente para o CHMT, o que terá feito de seguida, desconhecendo-se mo Hospital de Santarém o desenvolvimento do processo, nomeadamente porque razão o doente foi admitido no Hospital de Torres Novas […].”.

14. Na sequência da análise dos elementos constantes da resposta supra, em 12 de maio de 2014, foi enviado pela ERS novo pedido de informação ao HDS, questionando sobre:

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i. Quais os procedimentos internos existentes, acompanhados dos respetivos documentos de suporte, para a operacionalização da transferência inter-hospitalar de utentes, no que concretamente respeita a:

a) Meio de formalização da aceitação por V. Exas. do pedido de transferência efetuado pelo hospital de origem do utente;

b) Meio de divulgação interna da previsão de ocorrência de uma transferência inter-hospitalar e de salvaguarda da adoção dos procedimentos necessários à sua operacionalização.

c) Procedimentos de admissão de utente proveniente de outro prestador de cuidados de saúde, por via de transferência inter-hospitalar, com referência aos concretos serviços de admissão envolvidos e responsabilidades atribuídas aos diferentes interlocutores.

ii. Em face da sustentação de que:

“[…]

a) O Médico do HDS […] informou que o HDS não dispunha de internamento de neurocirurgia mas que o Serviço de Cirurgia poderia aceitar o doente”; b) […] no dia 18/10 pelas 9 horas, […] ao sair de serviço e ao passar a Chefia

de Equipa de Urgência ao Colega […], informou que seria provável a chegada de um doente transferido do HUC.”;

c) Até ao dia 22/10, 3ª feira nada mais consta no Hospital de Santarém sobre este doente.”;

Queiram V. Exas. explicitar quais as diligências encetadas, seja para a não aceitação da transferência do utente, seja para o seu encaminhamento, in casu para o Hospital de Torres Novas, identificando a cadeia de responsabilidade com autonomia para tal decisão.”.

15. Por resposta rececionada pela ERS a 19 de maio de 2014, veio o HDS esclarecer que: “[…]

(i) A transferência de doentes entre hospitais do SNS, para continuidade de

cuidados, é matéria não formalmente regulada e constitui prática corrente de elementar bom senso na articulação de cuidados em rede que caracteriza o

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Mod.016_01 (ii) Por razões económicas para o SNS […] cuidados de continuidade prestados

num Hospital estruturalmente menos diferenciado têm um custo inferior e libertam no Hospital de origem os recursos mais diferenciados;

(iii) […] subentende-se que a transferência se opera para o Hospital da área de

residência do doente, geralmente aferida pela área de influência institucional definida para cada hospital […] no caso em apreço o Hospital cuja área de influência abarca o Concelho de Alcanena, onde reside o doente, é o [CHMT];

(iv) A operacionalização da admissão de um doente por transferência

inter-hospitalar é feita normalmente pelo Serviço de Urgência, como qualquer outra admissão, apenas com a diferença de o doente ser portador de uma carta de referência médica passada pelo Hospital de origem, geralmente precedida por um contacto telefónico;

(v) A aceitação, não carecendo de outra formalização é a regra, operacionalizando-se a admissão pelo Serviço de Urgência, para avaliação clínica e internamento;

(vi) A transferência de doentes para continuidade de cuidados pressupõe tratar-se

de situações clínicas estáveis para cuidados de reabilitação. O contacto telefónico prévio atrás referido permite esclarecer atempadamente alguma circunstância como, por exemplo, a disponibilidade de resposta pretendida;

(vii) O procedimento de admissão de utente proveniente de outro prestador de

serviços de saúde, por via de transferência hospitalar, é sempre feito pelo Serviço de Urgência com a identificação do doente, como em qualquer outra situação, a que se junta a carta de referência passada pelo Hospital de origem;

(viii) Neste processo cabe ao Posto Administrativo, proceder à admissão administrativa do doente e prestar os esclarecimentos administrativos que lhe forem solicitados. A admissão administrativa não é condicionada;

(ix) [quanto ao utente in casu, o médico do HDS e chefe de Equipa de Urgência] foi

contactado por médico dos HUC […] para a hipótese de transferência de um doente “da área de santarém”, para continuidade de cuidados [tendo o médico

do HDS alertado] para a verificação da área de residência do doente e, apesar

do Hospital não dispor de neurocirurgia, o Serviço de Cirurgia a que pertence, poderia aceitar o doente […] é regra confirmar a área de residência, não sendo contudo razão de não admissão, podendo até funcionar como fase intermédia de reabilitação;

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Mod.016_01 (x) No dia 18/10 [o chefe de equipa de urgência do HDS] comentou o caso com o

médico a quem passava a chefia de equipa, pelo facto de o doente não ter chegado no dia anterior, não sendo contudo razão para o HDS questionar os HUC [pois] […] poderiam ter mudado de decisão, o estado do doente poderia ter-se agravado, poderiam ter verificado que o doente não era, de facto, residente na área de influência do HDS, era do CHMT, e alterado a referenciação, podiam ter retardado a transferência […];

(xi) O HUC nunca voltou a contactar o HDS […] até hoje, nem foi possível obter

qualquer esclarecimento junto daquele Hospital;

(xii) O Hospital de Santarém não encontra qualquer registo ou evidência de ter sido

recusado a admissão do doente, nem essa recusa faz sentido;

(xiii) Ouvidos os profissionais administrativos presentes na Admissão de Doentes

[no dia em causa] não tem memória de ter sido acordados neste caso, e muito

menos de terem recusado qualquer admissão, competência que sabem não ter.”

III. DO DIREITO

III.1. Das atribuições e competências da ERS

16. De acordo com o n.º 1 do artigo 5.º dos Estatutos da ERS, esta tem por missão “[…] a

regulação da atividade dos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde.

17. Ainda, de acordo com o disposto no n.º 2 do artigo 5.º dos seus Estatutos, as atribuições da ERS compreendem “[…] a supervisão da atividade e funcionamento dos

estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde no que respeita:

[…]

b) À garantia dos direitos relativos ao acesso aos cuidados de saúde, à prestação de cuidados de saúde de qualidade, bem como dos demais direitos dos utentes;

c) À legalidade e transparência das relações económicas entre os diversos operadores, entidades financiadoras e utentes.”.

18. Sendo que estão sujeitos à regulação da ERS, nos termos do n.º 2 do artigo 4.º dos seus Estatutos “[...] todos os estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde, do

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jurídica, nomeadamente hospitais, clínicas, centros de saúde, consultórios, laboratórios de análises clinicas, equipamentos ou unidades de telemedicina, unidades móveis de saúde e termas.”;

19. O que é o caso dos vários prestadores identificados, que detêm a qualidade de estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde e se encontram presentemente inscritos no SRER da ERS sob os n.º 21486 (CHUC), n.º 12297 (HDS) e n.º 10593 (CHMT).

20. No que se refere ao objetivo regulatório previsto na alínea b) do artigo 10.º dos Estatutos da ERS, de assegurar o cumprimento dos critérios de acesso aos cuidados de saúde, a alínea a) do artigo 12.º do mesmo diploma legislativo estabelece ser incumbência da ERS “assegurar o direito de acesso universal e equitativo à prestação de cuidados de saúde nos serviços e estabelecimentos do Serviço Nacional de Saúde (SNS), nos estabelecimentos publicamente financiados, bem como nos estabelecimentos contratados para a prestação de cuidados no âmbito de sistemas ou subsistemas públicos de saúde ou equiparados, acrescentando a alínea b) do mesmo

artigo o dever de “prevenir e punir as práticas de rejeição e discriminação infundadas

de utentes nos serviços e estabelecimentos do SNS, nos estabelecimentos publicamente financiados, bem como nos estabelecimentos contratados para a prestação de cuidados no âmbito de sistemas ou subsistemas públicos de saúde ou equiparados”;

21. Podendo fazê-lo mediante o exercício dos seus poderes de supervisão consubstanciado no dever de “zelar pela aplicação das leis e regulamentos e demais

normas aplicáveis às atividades sujeitas à sua regulação, no âmbito das suas atribuições”, bem como na emissão de ordens e instruções, bem como recomendações

ou advertências individuais, sempre que tal seja necessário, sobre quaisquer matérias relacionadas com os objetivos da sua atividade reguladora, incluindo a imposição de medidas de conduta e a adoção das providências necessárias à reparação dos direitos e interesses legítimos dos utentes – cfr. al. a) e b) do artigo 19.º dos Estatutos da ERS. 22. E, no que concretamente respeita à obrigação de assegurar o cumprimento dos

critérios de acesso aos cuidados de saúde, se é certo que a violação do direito de acesso, como direito complexo, pode surgir sob diferentes formas, ou ser originada por diferentes causas, é igualmente certo que uma das suas violações mais gravosas e últimas se consubstancia na rejeição infundada de pacientes;

23. É também competência da ERS, prevenir e punir as práticas de rejeição e discriminação infundadas de utentes nos serviços e estabelecimentos do SNS, nos

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estabelecimentos publicamente financiados, bem como nos estabelecimentos contratados para a prestação de cuidados no âmbito de sistemas ou subsistemas públicos de saúde ou equiparados.

24. Sendo estabelecido na alínea b) do n.º 2 do artigo 61.º dos Estatutos da ERS, que “Constitui contraordenação, punível com coima de 1000 EUR a 3740,98 EUR ou de

1500 EUR a 44 891,81 EUR, consoante o infrator seja pessoa singular ou coletiva: […]

b) A violação das regras relativas ao acesso aos cuidados de saúde:

i) A violação da igualdade e universalidade no acesso ao SNS, prevista na alínea a) do artigo 12.º;

ii) A violação de regras estabelecidas em lei ou regulamentação e que visem garantir e conformar o acesso dos utentes aos cuidados de saúde, bem como práticas de rejeição ou discriminação infundadas, em estabelecimentos públicos, publicamente financiados, ou contratados para a prestação de cuidados no âmbito de sistemas e subsistemas públicos de saúde ou equiparados, nos termos do disposto nas alíneas a) e b) do artigo 12.º”.

III.2. As Redes de Referenciação Hospitalar (RRH) como regras de acesso do utente aos cuidados de saúde do Serviço Nacional de Saúde

25. O direito à proteção da saúde, consagrado no art. 64.º da Constituição da República Portuguesa (CRP), impõe o acesso dos cidadãos aos cuidados de saúde no âmbito de um Serviço Nacional de Saúde (SNS), e com respeito pelos princípios fundamentais plasmados naquele preceito constitucional, designadamente a universalidade, generalidade e gratuitidade tendencial.

26. Por sua vez, a Lei de Bases da Saúde, aprovada pela Lei n.º 48/90, de 24 de agosto (LBS), em concretização da imposição constitucional contida no referido preceito, estabelece no n.º 4 da sua Base I que “os cuidados de saúde são prestados por

serviços e estabelecimentos do Estado ou, sob fiscalização deste, por outros entes públicos ou por entidades privadas, sem ou com fins lucrativos”;

27. Neste âmbito, os estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde identificados nos autos integram, assim, o conjunto das “instituições e serviços oficiais prestadores de

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18

Mod.016_01 como definido pelo n.º 2 da Base XII da Lei de Bases da Saúde, e cujo Estatuto foi aprovado pelo Decreto-Lei n.º 11/93, de 15 de janeiro.

28. Acresce que, conforme resulta da alínea b) da Base XXIV da LBS, os cidadãos têm o direito a que lhes sejam prestados integradamente todos os cuidados de saúde, não só os hospitalares, mas também os primários, os continuados ou até os paliativos;

29. Uma forma de manifestação do princípio da generalidade no âmbito do SNS prende-se com a necessidade de se garantir uma correta referenciação de cuidados de saúde entre os diversos estabelecimentos nele integrados.

30. As RRH são pois essenciais ao cumprimento da característica de generalidade do SNS, constituindo um sistema integrado e hierarquizado que visa satisfazer, de forma concertada, as necessidades de assistência hospitalar nodiagnóstico, de formação, de investigação, de colaboração interdisciplinar e de garantia de qualidade no âmbito de determinada especialidade.

31. Por outro lado, o funcionamento e as imposições adjacentes ao funcionamento das RRH consubstanciam regras que, necessariamente, se manifestam no direito de acesso do utente aos cuidados de saúde como consagrado na Constituição e na lei. O seu deficiente funcionamento impacta negativamente com o direito de acesso do utente aos cuidados de saúde, produzindo um efetivo não acesso (ou um acesso tardio ou inadequado) aos cuidados de saúde necessários.

32. Nesse âmbito, considerando que que as regras respeitantes às RRH constituem regras de acesso, nos termos e para os efeitos dos Estatutos da ERS, devem as mesmas, ser garantidas pela ERS e, caso aplicável, o seu incumprimento ser sancionado ao abrigo dos poderes que lhe foram atribuídos pelas alínea a) e b) do artigo 12.º e alínea b) do n.º 2 do artigo 61.º de tal diploma.

33. Ora, a cada estabelecimento hospitalar que integra a rede devem ser atribuídos uma área geográfica e populacional de influência e um papel específico na área assistencial, tendo em conta a sua articulação, nomeadamente no âmbito de uma rede de referenciação, quer com as unidades de cuidados primários, quer com os demais estabelecimentos hospitalares.

34. Efetivamente, a atual organização do SNS assenta numa identificação clara e inequívoca da cadeia (vertical) de atribuições, competências e responsabilidades, para que o SNS seja, não somente de iure mas também de facto, um conjunto de instituições e de serviços oficiais prestadores de cuidados de saúde organizado e hierarquizado.

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19

Mod.016_01 35. Nesse sentido, cada instituição deve conhecer, sem dúvida ou incerteza, o que concretamente a si compete – e por tanto o que de si é esperado – para contribuir para a garantia constitucional da prestação de cuidados de saúde nas melhores condições de acesso, qualidade e segurança5.

36. Nesse sentido, interessa que os prestadores de cuidados de saúde que concorrem para o funcionamento de cada uma das redes, não só se articulem entre si, desde os cuidados primários até aos diferenciados, em função dos recursos de que dispõem, e consideradas as condicionantes de cada uma das regiões e da valência a que respeitam, mas também se complementem, com a finalidade de aproveitarem os recursos de que cada um é possuidor.

37. E tanto não deixa de resultar na revisão das Redes de Referenciação Hospitalar projetada pela Portaria n.º 82/2014, de 10 de abril, que veio estabelecer os critérios que permitem categorizar os serviços e estabelecimentos do SNS mas não determinou quais as valências concretas que cada unidade hospitalar deverá disponibilizar, e principalmente pela Portaria n.º 123-A/2014, de 19 de junho, que estabeleceu os critérios de criação e revisão das Redes Nacionais de Especialidades Hospitalares e de Referenciação, bem como as áreas que as mesmas devem abranger;

38. Estando ali salientado que “a existência de mecanismos de referenciação deve estar

baseada numa cobertura territorial adequada às necessidades das populações, tendo em conta a demografia e a acessibilidade geográfica, de forma a garantir um atendimento de doentes que assegure o cumprimento de tempos mínimos de resposta garantidos”;

39. E ainda, que as Redes deverão obedecer a determinados princípios, entre eles,

permitir a programação do trânsito dos utentes, garantindo a orientação correta para o centro indicado, definir um quadro de responsabilização dos hospitais face à resposta esperada e contratualizada;

5

Nesse âmbito, os contratos programa surgem como instrumentos detidos quer pelas ARS, quer pelos prestadores de cuidados de saúde, para a operacionalização das suas concretas responsabilidades. Neles são definidos os objetivos do plano de atividades de cada um dos estabelecimentos hospitalares e a subsequente contratualização com o Estado, mediante o pagamento de contrapartidas financeiras em função da produção contratada e dos resultados obtidos, devendo cada um dos prestadores garantir o cumprimento das suas obrigações para garantirem, obviamente e in fine, o dever de garantir o acesso dos utentes aos cuidados de saúde. Assim, os contratos programa devem garantir os meios necessários ao cumprimento pelos hospitais contratantes, das regras determinadas por cada uma das RRH das quais os mesmos fazem parte integrante.

(20)

20

Mod.016_01 40. Princípios estes que não divergem, em essência, do vindo de expor sobre as RRH

enquanto regras de acesso no âmbito do SNS.

III.3. As áreas de influência

41. A definição de uma área de influência é essencial para um planeamento hospitalar apropriado, uma vez que associa – de forma organizada e geograficamente definida – populações residentes às unidades hospitalares da Rede Hospitalar, permitindo que a capacidade assistencial e a especialização de um hospital sejam adequadas às necessidades das populações.

42. As áreas de influência dos hospitais podem ser primárias/diretas ou secundárias/indiretas;

43. A área de influência indireta de um hospital engloba todas as populações cobertas pelas áreas de influência primárias dos hospitais que referenciam utentes para o hospital em causa.

44. Por seu turno, a área de influência primária de um hospital abrange a população que reside em torno do hospital, numa região pré-definida, seja por via contratual (como no caso das PPP), por referência legal (como no caso das ULS) ou mesmo por regulamento interno do hospital.

45. Excetuando o caso contratual das PPP e respeitando-se as delimitações das áreas de atuação das ARS, as áreas de influência primárias indicam as populações que cada hospital deve abranger, mas sem impedimento do acesso de utentes não cobertos pelas áreas de influência, fundamentalmente para que a liberdade de escolha dos utentes seja globalmente garantida.

46. Por outro lado, importa ressaltar6 que alguns hospitais não têm áreas de influência primárias bem delimitadas, o que pode potencialmente resultar em desorganização na referenciação dos utentes, com consequentes atrasos e má referenciação, em prejuízo do acesso dos utentes aos cuidados de saúde hospitalares.

47. Se, por um lado, há hospitais que têm áreas de influência definidas detalhadamente e com elevado rigor, inclusive ao nível de freguesias, por outro lado evidencia-se incerteza relativamente às populações abrangidas por alguns hospitais;

6

(21)

21

Mod.016_01 48. O que determina a necessidade definição das áreas de influência dos hospitais, com vista à melhor organização e adequação dos hospitais para um maior acesso dos utentes aos cuidados de saúde hospitalares e à melhor satisfação das suas necessidades, sendo que tal definição não deve ser determinante para o acesso dos utentes aos cuidados de saúde, mas apenas indicativo da referenciação ideal dos utentes, tendo em conta o tipo, a capacidade e o grau de especialização de cada hospital, bem como a distribuição geográfica dos hospitais.

49. Neste enquadramento, no âmbito dos trabalhos anteriormente desenvolvidos pela ERS7 foi possível aferir que área de influência do Hospital de Santarém corresponde aos concelhos de Santarém, Cartaxo, Almeirim, Rio Maior, Salvaterra Magos, Coruche, Chamusca e Alpiarça8.

50. Informação confirmada pelo Regulamento Interno do HDS9 que no n.º 3 do artigo 6.º determina que “[…] a área de influência do HDS EPE abrange oito concelhos do

Distrito de Santarém (Almeirim, Alpiarça, Cartaxo, Chamusca, Coruche, Rio Maior, Santarém e Salvaterra de Magos), estendendo-se a todo o distrito nas especialidades de que dispõe e que não existem no Centro Hospitalar do Médio Tejo”;

51. Sendo que a predita área de influência é também coincidente com a informação disponibilizada pelo Portal da Saúde.10

52. Por outro lado, foi também possível concluir11 que a área de influência do Centro Hospitalar do Médio Tejo, E.P.E. abrange os concelhos de Abrantes, Alcanena, Constância, Entroncamento, Ferreira do Zêzere, Golegã, Mação, Sardoal, Tomar, Torres Novas, Vila Nova da Barquinha, Ourém, Gavião, Ponte de Sôr e Vila de Rei12.

III.4. Análise da situação concreta

53. Recorde-se que os factos em análise se reportam à transferência inter-hospitalar do utente N., o qual, encontrando-se internado no serviço de Neurocirurgia do CHUC, foi

7

Estudo para a Carta Hospitalar, publicado em www.ers.pt..

8

Conforme resposta endereçada à ERS pelo HDS, a 17 de fevereiro de 2012, no âmbito de ofício enviado em sede dos trabalhos preparatórios do Estudo para a Carta Hospitalar.

9

Publicado em www.hds.min-saude.pt.

10

Cfr. www.portaldasaude.pt.

11

No âmbito dos trabalhos desenvolvidos no Estudo da Carta Hospitalar, mediante resposta endereçada à ERS pelo CHMT, também a 17 de fevereiro de 2012.

12

Embora tal informação não esteja disponível para consulta no sitio da internet do prestador nem no Portal da Saúde.

(22)

22

Mod.016_01 objeto de transferência para o HDS, onde não foi aceite, vindo depois a ser internado no CHMT.

54. Assim, tendo por base as versões dos factos reportadas pelos vários intervenientes nos autos, cumpre destacar as incongruências e contradições que ficaram patentes, relevando concretamente para a presente análise:

55. As afirmações produzidas pelo CHUC em sede de resposta aos pedidos de informação da ERS:

“[…]

(i) […] o doente não necessitava de cuidados específicos de neurocirurgia pelo

que [se] decidiu transferir o doente para um Hospital próximo da residência do doente;

(ii) A decisão da sua transferência para o Hospital de Santarém radicou no facto de

ser o Hospital da capital de Distrito e, do ponto de vista dos profissionais do Serviço de Neurocirurgia do CHUC, o que melhor serviria este doente;

(iii) […] procedeu-se ao contacto com o Hospital de Santarém constituindo esta a

unidade hospitalar mais diferenciada da residência do doente [através] de contacto […] para o Chefe de Equipa do serviço de urgência do [HDS] […], que foi informado da situação clínica do doente, da necessidade de continuação de cuidados hospitalares, não necessitando de cuidados específicos de Neurocirurgia. Foi ainda referido que o doente residia em Alcanena. O Médico do [HDS] […] aceitou a transferência, ficando garantida a recepção do doente nesse Hospital;

(iv) Foi elaborada carta de alta com referência ao contacto com o médico do [HDS] […] e com informação de não necessitar de cuidados neurocirúrgicos […]; (v) No guichet de admissão a administrativa introduziu os dados relativos ao utente

no computador e […] devolveu as cartas à enfermeira, referindo que não poderia admitir o utente naquela instituição uma vez que aquela não era o hospital da área de residência do doente, e que o destino do doente deveria ser o Hospital de Torres Novas;

(vi) A enfermeira […] insistiu, referindo que […] tinha sido feito um contacto prévio

entre as equipas médicas, tal como ela poderia verificar na carta médica, onde estava registado o nome do médico de Santarém que recebeu o contacto;

(23)

23

Mod.016_01 56. As afirmações produzidas pelo HDS em sede de resposta aos pedidos de informação

da ERS:

(viii) [A 17/10 quanto ao utente in casu, o médico do HDS e chefe de Equipa de Urgência] foi contactado por médico dos HUC […] para a hipótese de

transferência de um doente “da área de santarém”, para continuidade de cuidados [tendo o médico do HDS alertado] para a verificação da área de residência do doente e, apesar do Hospital não dispor de neurocirurgia, o Serviço de Cirurgia a que pertence, poderia aceitar o doente […] é regra confirmar a área de residência, não sendo contudo razão de não admissão, podendo até funcionar como fase intermédia de reabilitação

(ix) O médico do HDS […] informou que o HDS não dispunha de internamento de

neurocirurgia mas que o Serviço de Cirurgia poderia aceitar o doente supondo ser da área de residência servida pelo Hospital […];

(x) No dia 18/10 pelas 9 horas [o médico do HS que recebera o contacto do CHUC]

ao sair de serviço e ao passar a Chefia de Equipa de Urgência ao colega […] informou que seria provável a chegada de um doente transferido do HUC, conforme pedido telefonicamente no dia anterior, desconhecendo o que terá acontecido com o doente no dia 17/10/2013;

(xi) Até ao dia 22/10 […] nada mais consta no [HDS] sobre este doente, […] não

deu entrada nos nossos serviços e desconhece-se se confirmou a alta dos HUC e se o doente foi ou não transferido e para onde;

(xii) […] estas transferências são, em regra, para os Hospitais da área de residência

dos doentes e, residindo o doente em Alcanena, seria o [CHMT] o Hospital de destino […];

(xiii) […] nem o [HDS] recusou […] o acesso ao doente, nem havia qualquer

registo ou memória dos possíveis intervenientes num processo de admissão.

57. Não obstante as contradições existentes, certo é que o CHUC e o HDS concordam que foi combinada a transferência do utente em causa, certificando o teor da conversa telefónica tendente à confirmação da existência de vaga necessária à operacionalização da transferência.

58. As divergências surgem assim apenas quanto ao que terá ocorrido no momento da admissão do utente para internamento no serviço de urgência do HDS, altura em que terá sido levantada a questão da admissibilidade do utente, porquanto o respetivo concelho de residência não seria abrangido pela área de influência do HDS.

(24)

24

Mod.016_01 59. Quanto à questão da área de influência do HDS, e tendo como adquirida a residência do utente em Alcanena, facto aceite por ambas as entidades hospitalares, temos como

supra exposto, que o concelho de Alcanena pertence à área de influência do CHMT e

não à do HDS;

60. O que igualmente não é afastado pelo facto do regulamento interno do próprio HDS prever que a respetiva área de influência se estende não só aos 7 concelhos elencados como “[…] a todo o distrito nas especialidades de que dispõe e que não existem no

Centro Hospitalar do Médio Tejo”;

61. Pois que da informação recolhida, o utente seria internado no serviço de cirurgia geral do HDS, conforme combinado telefonicamente pelos dois interlocutores do CHUC e HDS, serviço que igualmente se encontra disponível no polo de Tomar do CHMT13. 62. Por outro lado, procurando perspetivar a escolha do HDS de acordo com as alegações

produzidas pelo CHUC de que “[…] decidiu transferir o doente para um Hospital

próximo da residência do doente” e de que “[…] a decisão da sua transferência para o Hospital de Santarém radicou no facto de ser o Hospital da capital de Distrito e, do ponto de vista dos profissionais do Serviço de Neurocirurgia do CHUC, melhor serviria este doente”;

63. Concluiu-se que também elas são contraditórias entre si, pois que nem sempre o hospital da capital de distrito é o mais próximo da residência, como se veio a verificar. 64. Sendo que, igualmente, as referidas alegações não ganham cabimento à luz da

dissonante afirmação de que “[…] O reencaminhamento do doente para o Hospital de

Torres Novas resulta da não aceitação do doente em Santarém, do facto daquele ser o da área de residência e de estar apenas a 20 minutos do local onde se encontrava, causando menor transtorno ao doente”;

65. Pois que fica por esclarecer se o utente necessitava de cuidados médicos gerais de reabilitação a serem prestados no hospital da área de residência;

66. O que diverge da abordagem inicialmente preconizada de que o Hospital de Santarém, por ser o de capital de Distrito era o que, na ótica dos profissionais do Serviço de Neurocirurgia do CHUC, melhor serviria este doente;

13

(25)

25

Mod.016_01 67. Ou se necessitava de cuidados médicos a serem prestados por uma especialidade médica ou cirúrgica específica, aí se compreendendo a necessidade da diferenciação imposta pela transferência para o hospital da capital de distrito;

68. Deduzindo-se que tal não era a situação, porquanto não só o CHUC não manteve a necessidade dessa diferenciação ao aceitar a recusa do utente pelo HDS, mesmo depois do contacto telefónico estabelecido entre os profissionais médicos envolvidos, não pugnando por um segundo contacto como o mesmo interlocutor que, em caso de imprescindível benéfico para o utente, pudesse garantir a vaga pretendida;

69. Como aceitou o reencaminhamento do utente para o CHMT, confirmando ser este o hospital da área de residência, assim evidenciando a ocorrência, ab initio, de um erro de referenciação do utente com base na área de residência e de influência do hospital respetivo.

70. Acresce que também não se compreende como compagina o CHUC o facto de atestar seguir a rede de referenciação existente, com a circunstância de alegar que foi assegurada a receção do doente no sentido de lhe poderem ser prestados “cuidados médicos gerais”, por si só não enquadráveis nas redes de referenciação específicas existentes, que não sejam as regras de referenciação para a área de residência para prestação de cuidados de reabilitação.

71. Assim, se concluindo que, não obstante o bom fundamento da decisão de transferência do utente na perspetiva de prestação dos referidos cuidados de reabilitação numa ótica de proximidade a mesma falhou na identificação da unidade hospitalar elegível para a admissão do utente.

72. Ainda assim, não será de escamotear o incontornável facto de ter sido estabelecido contacto prévio com o HDS no sentido de garantir a vaga necessária à admissão do utente N.;

73. Bem como o acordo de transferência alcançado, com base no qual foi desencadeada a preparação de todo o processo de transferência, o qual não só tinha interlocutores bem definidos como um plano de cuidados previamente acordado e formalizado por via da carta de transferência redigida.

74. Tanto assim é, que o próprio chefe de equipa de urgência do HDS, responsável pelo contacto com o CHUC no dia 17/10, comunicou ao seu sucessor a previsibilidade da ocorrência da transferência daquele utente.

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26

Mod.016_01 75. O que, conforme visto, não só não veio a ocorrer, como só foi do conhecimento do HDS por via das notícias divulgadas na comunicação social, altura em que terá diligenciado pelo esclarecimento dos factos ocorridos.

76. O que não deixa de merecer estranheza, pois que se questiona o que terá sucedido no hiato temporal ocorrido entre a “cativação” da vaga para aquela transferência e o momento em que o HDS ficou a saber que a mesma não viria a ser necessária.

77. Não obstante, da ponderação global das atuações do CHUC e do HDS no processo de transferência do utente N., cumpre considerar que os procedimentos empregues, procuraram ser garantísticos do ponto de vista da proteção dos direitos e interesses legítimos do utente, mormente do direito à proteção da saúde e à continuidade dos cuidados prestados, pugnando pela articulação entre as entidades hospitalares intervenientes.

78. Com efeito, compreende-se que a necessidade de agilização do procedimento de transferência melhor seja alcançada por meio de comunicação telefónica entre os interlocutores privilegiados para o efeito, no caso, médico especialista do hospital de origem e chefe do serviço de urgência do hospital de destino;

79. E até, que a formalização de tais procedimentos, uma vez alcançado consenso na realização da transferência, se baste com a emissão de uma carta de transferência dirigida ao interlocutor do hospital de destino.

80. O que já não se compreende é que o mesmo hospital de origem e de destino, aceitem a recusa de admissão previamente acordada, recusem a abertura de carta de transferência com interlocutor definido, ignorem, por um período de 5 dias, a formalização/confirmação da transferência, sem que sejam empregues quaisquer diligências no sentido de confirmar a manutenção do acordo de transferência alcançado, que se presume ter tido em vista a salvaguarda dos melhores interesses do utente.

81. Pelo que se concluí que, no caso concreto, por óbice do erro de referenciação ocorrido, e não obstante os procedimentos empregues, não foi garantida de forma cabal a continuidade dos cuidados prestados ao concreto utente, porquanto por via do erro ocorrido foi o mesmo constrangido à realização de uma segunda deslocação, como tal desnecessária.

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27

Mod.016_01 82. Sendo que a mesma não será de molde a configurar uma violação do direito de acesso, que à ERS cumpre acautelar, porquanto, efetivamente o mesmo foi garantido por via do internamento no CHMT;

83. Relevando ainda o facto dos profissionais envolvidos terem procurado diligenciar por uma resolução da situação.

84. Ou seja, embora se conclua pela existência de um erro de referenciação por parte do CHUC, não pode deixar de se considerar que o HDS igualmente concorreu para a ocorrência desse erro, a partir do momento em que houve um acordo de transferência entre o médico do serviço de neurocirurgia do CHUC e o Chefe de equipa de urgência do HDS, tendo-se este bastado com um alerta para “[…] a verificação da área de

residência do doente”, o que especialmente releva se considerado que a própria

instituição estará em condição privilegiada de conhecer a respetiva área de influência; 85. Ao que acresce que, tendo o HDS num primeiro momento, e pelo interlocutor “normal”

para decisão deste tipo de transferências, aceite a transferência, independentemente de ela não se revelar correta do ponto de vista do critério da área de residência do utente, deveria ter desencadeado os mecanismos internos necessários para garantir a efetiva aceitação do utente;

86. O que, a ter acontecido, obviaria à possibilidade de ocorrência de uma situação idêntica à verificada no caso concreto;

87. A saber, uma administrativa, ou outrem que não o interlocutor que previamente aceitou a transferência, poder tomar uma decisão diferente da inicialmente assumida e acordada, sem que sequer fique registado o fundamento da alteração da decisão de aceitação previamente definida.

88. Por todo o vindo de expor, considerando que:

(i) É incumbência desta Entidade Reguladora, entre outras atribuições a garantia dos direitos relativos ao acesso aos cuidados de saúde;

(ii) O legislador, por via da recente publicação dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto, reforçou as competências da ERS em matéria de violação de direito de acesso, tipificando como contraordenação:

(28)

28

Mod.016_01

a) A violação dos deveres que constam da «Carta dos direitos de acesso»14 b) A violação das regras relativas ao acesso aos cuidados de saúde15:

i) A violação da igualdade e universalidade no acesso ao SNS, prevista na alínea a) do artigo 12.º;

ii) A violação de regras estabelecidas em lei ou regulamentação e que visem garantir e conformar o acesso dos utentes aos cuidados de saúde, bem como práticas de rejeição ou discriminação infundadas, em estabelecimentos públicos, publicamente financiados, ou contratados para a prestação de cuidados no âmbito de sistemas e subsistemas públicos de saúde ou equiparados, nos termos do disposto nas alíneas a) e b) do artigo 12.º;

(iii) A adoção/manutenção de comportamentos que potenciem a violação das regras atinentes à garantia do direito de acesso, será consubstanciadora de ilícito contraordenacional.

89. Embora não se tenha ocorrido uma efetiva violação do direito de acesso do utente, não deixou de se verificar um constrangimento no acesso, em virtude quer de uma errada escolha do hospital de destino, com base no critério da área de residência do utente, por parte do CHUC, quer de uma recusa baseada em critérios meramente administrativos por parte do HDS em aceitar o utente após ter havido um prévio acordo de transferência entre o médico de neurocirurgia dos CHUC e o Chefe de Equipa de Urgência do HDS;

90. Pelo que se considera pertinente a emissão de uma instrução ao Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, E.P.E. e ao Hospital Distrital de Santarém, E.P.E. no sentido de garantirem sempre o cumprimento das regras aplicáveis em matéria de transferência inter-hospitalar de utentes, obviando à repetição de situações futuras de índole idêntica à ocorrida.

IV. AUDIÊNCIA DOS INTERESSADOS

91. A presente deliberação foi precedida de audiência escrita dos interessados, nos termos e para os efeitos do disposto no n.º 1 do artigo 101.º do Código do Procedimento

14

Cfr. artigo 61.º n.º1 alínea a)

15

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