AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NA APELAÇÃO CÍVEL EM PROCESSO DE EXECUÇÃO FISCAL Nº 264899-97.2009.8.09.0093 (200992648998)
COMARCA DE JATAÍ
AGRAVANTE : ESTADO DE GOIÁS
AGRAVADO : AUTO PEÇAS ASSIS MACHADO LTDA ME
RELATOR : DES. FAUSTO MOREIRA DINIZ
EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DECLARATÓRIOS NA APELAÇÃO CÍVEL. EXECUÇÃO FISCAL. JUNTADA DE CÓPIA DO PROCESSO ADMINISTRATIVO TRIBUTÁRIO DE LANÇAMENTO. SITUAÇÃO NOVA E RELEVANTE. DECISÃO AGRAVADA
RECONSIDERADA. Diante da
apresentação, pela parte agravante, de cópia do processo administrativo tributário, comprovando a qualidade do crédito tributário, qual seja, multa formal, somatizado à inexistência de contrarrazões pelo agravado, refluo do meu posicionamento e reconsidero o decisum vergastado, para cassar a sentença lançada
a fim de que se dê prosseguimento à execução fiscal, pelo não reconhecimento da decadência do crédito perseguido. AGRAVO REGIMENTAL CONHECIDO E PROVIDO.
A C Ó R D Ã O
Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NA APELAÇÃO CÍVEL EM PROCESSO DE EXECUÇÃO FISCAL Nº 264899-97.2009 (200992648998) (Agravo Regimental), Comarca de JATAÍ, sendo agravante ESTADO DE GOIÁS e agravado AUTO PEÇAS ASSIS MACHADO LTDA ME.
Acordam os integrantes da Segunda Turma Julgadora da Sexta Câmara Cível do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, à unanimidade de votos, em conhecer e prover o agravo regimental, nos termos do voto do Relator. Custas de lei.
Votaram, além do Relator, que também presidiu o julgamento, Doutor Wilson Safatle Faiad, em substituição ao Desembargador Norival Santomé e a Doutora
Sandra Regina Teodoro Reis, Juíza Respondente.
Presente a ilustre Procuradora de Justiça, Doutora Eliete Sousa Fonseca Suavinha.
Goiânia, 10 de dezembro de 2013. DES. FAUSTO MOREIRA DINIZ
AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NA APELAÇÃO CÍVEL EM PROCESSO DE EXECUÇÃO FISCAL Nº 264899-97.2009.8.09.0093 (200992648998)
COMARCA DE JATAÍ
AGRAVANTE : ESTADO DE GOIÁS
AGRAVADO : AUTO PEÇAS ASSIS MACHADO LTDA ME
RELATOR : DES. FAUSTO MOREIRA DINIZ
RELATÓRIO E VOTO
Trata-se de recurso de agravo regimental nos embargos declaratórios em apelação cível (fls. 74/80) interposto pelo ESTADO DE GOIÁS, em face da decisão singular (fls. 30/50) que deu parcial provimento ao impulso, reconhecendo a decadência de parte dos créditos constantes do período anterior a data de 14 de junho 2002.
Fundamenta o agravante, ESTADO DE GOIÁS, sobre a adequação do pedido, a tempestividade, bem como a inocorrência da decadência.
No mérito, reitera mais uma vez os fundamentos declinados no recurso, pugnado pelo provimento do presente agravo interno, alegando que “Estão postas duas soluções
divergentes com respeito ao dies a quo do prazo decadencial para
constituir o crédito tributário decorrente da aplicação da multa formal: 1ª) a data do cometimento da infração (conforme preconizado pelo Relator); ou 2ª) o primeiro dia do exercício seguinte àquele em que
o lançamento poderia ter sido efetuado, nos termos do artigo 173, I,
do CTN (a qual defendemos aqui como única solução correta).” (sic, fl. 77).
Assim, conclui que “Pelo exposto, requer do nobre Relator que dê provimento ao agravo, por meio de juízo de
retratação.” (sic, fl. 80).
Requer, ao final, seja o presente pleito conhecido e provido para reformar o decisum alvejado e, por consectário, afastar a decadência dos créditos.
Sem preparo, ex vi do § 1º do artigo 511 do Código de Processo Civil.
Instrui o processo com cópia integral do Processo Administrativo Tributário, ainda não conhecidos ao tempo da interposição.
Em apertada síntese, este é o relatório. Decido.
Preenchidos os pressupostos processuais atinentes à espécie, conheço do agravo regimental.
O agravante recorre da decisão proferida, por entender a inocorrência da decadência dos créditos que aponta, por sua vez objeto da ação de execução fiscal.
Destaco, do decisum objeto do presente recurso, que o entendimento já declinado convenceu-me contrariamente dos argumentos lançados neste impulso, mesmo que por uma desídia do recorrente em, desde o início, proceder à juntada dos documentos que ora me reporto, tão somente neste instante processual.
Primeiramente, quanto às normas aplicadas, afirmou o agravante que “A única solução aceitável, portanto, é a que confere à Fazenda Pública o direito de constituir o crédito tributário, por meio da lavratura de auto de infração, no prazo de 5 (cinco) anos, contados do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado.” (sic, fl. 79).
Neste ponto específico, entendo que tenha havido equívoco do recorrente quanto à interpretação do ato atacado, posto que no decisório restou expressamente consignado que “Levando-se em consideração que o lançamento – leia-se autuação no caso – se deu na data de 14 de junho de 2007 (consoante a certidão), os fatos geradores anteriores ao mês de junho de 2002 – cinco (5) anos
anteriores à constatação das obrigações tributárias identificadas pelo
ESTADO DE GOIÁS, impõe a reforma, neste aspecto, da sentença
recorrida.” (sic, fl. 49).
Neste sentido, a interpretação em ambas as exposições é a mesma, não havendo qualquer contradição entre os posicionamentos no presente julgado.
Relativamente à decisão singular, reitero o que restou consignado no decisum alvejado, que ora transcrevo:
“Seguindo a análise, diante da inexistência de demais documentos, os elementos que integram a certidão jamais poderão ser desconsiderados pela própria presunção que possuem, ou seja, de liquidez e certeza, consoante preconiza o artigo 204 do Código Tributário Nacional.
Se o próprio documento nos informa a data do fato gerador, bem com o do lançamento, a análise, tanto da decadência quanto da prescrição, deverão se embasar neste documento, a não ser, como referido, que existisse no processo elementos suficientes para analisá-los sob outro enfoque, como a cópia do processo administrativo tributário onde houvesse dilação no procedimento
(defesa por parte do contribuinte), o que não se percebe da instrução processual.
Partindo-se desses elementos materiais insertos nas certidões de dívida ativa, impende reconhecer que o crédito de fl. 04 foi devidamente lançado na data de 14 de junho
de 2007.” (fls. 36/37).
Entretanto, por ocasião da interposição deste impulso recursal, colacionou o agravante, a pedido, cópia do processo administrativo tributário de lançamento, às fls. 87/104.
Diante desta nova perspectiva probatória, passo a considerando questões processuais relativas à decadência na apresentação destes documentos, a esta altura processual, para rever meu posicionamento, pelos fundamentos que passo a alinhavar.
Quanto ao prazo para a decadência, é importante frisar existem quatro regras distintas quanto ao termo inicial, consoante agora analisamos.
A primeira regra dita geral, é aquela prevista no artigo 173, I, do Código Tributário Nacional. Neste caso, o termo inicial é o 1º dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado. É utilizado, principalmente,
nos casos de lançamento de ofício e por declaração.
A segunda regra, prevista no artigo 173, parágrafo único, do mesmo diploma, dispõe sobre a possibilidade de antecipação nesta contagem, caso em que será “... contado da data em que tenha sido iniciada a constituição do crédito tributário pela notificação”. É a regra aplicável quando, antes de se chegar ao 1ª dia do exercício financeiro seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado, a administração tributária inicia procedimento relativo ao fato.
A terceira regra encontra-se prevista no artigo 173, inciso II, do diploma tributário, que dispõe sobre a interrupção da decadência. Nesta, o termo inicial pode ser modificado, passando a ser a data em que se tornar definitiva a decisão que houver anulado, por vício formal, o lançamento anteriormente efetuado. Havendo tal hipótese, o prazo de cinco (5) anos para lançar é integralmente restituído.
Por fim, a quarta regra está prevista no artigo 150 cumulado com artigo 174, I, do já referido Codex, que dispõe sobre o lançamento por homologação. Neste caso, o termo inicial da decadência no lançamento por homologação variará conforme três situações, a saber:
pagamento (mesmo que em valor ínfimo). O termo inicial é exatamente a data do fato gerador que, com o passar de cinco (5) anos, haverá, a um só tempo, a homologação tácita e a decadência da administração tributária lançar, de ofício, as diferenças tributárias eventualmente existentes, artigo 150, § 4º.
A duas, o contribuinte não declarou e nem pagou, o que remete para regra geral, ou seja, o 1º dia do exercício financeiro seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado. Cumpre ressaltar que se o contribuinte declarou e não pagou, o crédito tributário já está constituído, não havendo que se falar mais em decadência.
A constatação de dolo, fraude ou simulação. Vai para a regra geral, ou seja, remete o termo inicial é o 1º dia do exercício financeiro seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado.
No caso dos autos, com a juntada do Processo Administrativo Tributário, passou-se a viabilizar uma melhor identificação da situação factual do caso, realidade translúcida até então, tanto o juízo a quo quanto este julgamento, que hoje não mais se percebe, diante da juntada exaustivamente reportada, impondo-se a revisão do julgado, visto que o decisum vergastado agora se mostrou em desconformidade com o entendimento predominante nos Tribunais Pátrios, existindo assim
razão suficiente para o provimento recursal.
Todavia, diante do acréscimo substancial no contexto probatório até então coligido aos autos, a situação impõe tanto a reconsideração da decisão ora atacada, como a cassação do julgado do juízo singular, para que o mesmo possa dar o devido andamento no feito, continuando a execução.
Pelo até aqui exposto, sinto-me honrado pela possibilidade de utilizar do presente meio como apontamento do vício encontrado, pelo que refluo do meu posicionamento quanto ao reconhecimento da decadência dos créditos apontados na decisão atacada, reconhecendo que no caso em concreto a regra aplicável é a prevista para a identificação do termo a quo para o prazo decadencial é o primeiro dia do exercício seguinte.
Vislumbro, portanto, que o pedido de reconsideração da decisão unipessoal, antes aludida, merece acolhimento, diante da comprovação material, pela parte ora agravante, com capacidade de possibilitar a alteração dos fundamentos do decisum vergastado.
Ante as razões expostas, por estar convencido de que deva modificar a decisão recorrida, atento ao disposto no artigo 364, § 3º, do Regimento Interno do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, reconsiderar o ato e submeto a
insurgência à apreciação do Órgão Colegiado, manifestando-me, desde logo, pelo provimento do recurso, com o reconhecimento da perfeita exigibilidade dos lançamentos discutidos, aptos, portanto, à persecução fiscal.
É o meu voto.
Goiânia, 10 de dezembro de 2013.
DES. FAUSTO MOREIRA DINIZ