Outra questão terminológica levada ao palco dos debates científicos refere-se à composição da estrutura da regra-matriz de incidênciatributária por aspectos ou critérios. Geraldo Ataliba [1995, p. 69 e ss.], seguido por Sacha Calmon N. Coelho [1982, p. 91] e Misabel de A. Derzi [p. 1982, p. 220], preferiu falar em aspectos da hipótese de incidência. Paulo de Barros [2005, p. 167], por sua vez, passou a adotar critérios, que do conceito legislativo podem ser extraídos tanto para identificar o fato descrito na hipótese como a relação jurídica prescrita no mandamento. Marçal Justen Filho, no entanto, apresentou críticas contundentes no que pertine à adoção de critérios para o mandamento, visto que se este é prescritor de uma relação o certo seria falar em determinações [1985, p. 46]. Ademais, este autor paranaense entende que a norma não teria apenas a função de determinar uma quantia, mas antes de determinar a própria conduta de dar, de fazer ou de não fazer do sujeito passivo. E a “particularidade de a norma tributária sempre conter dados acerca do valor a ser entregue ao Estado não torna a estrutura da norma tributária diversa daquela de todas as normas de conduta” [1982, p. 53]. Deste modo, Marçal Justen Filho defende que o vocábulo quantitativo deve ser substituído pelo vocábulo objetiva, de tal sorte que o mandamento possui determinações subjetiva e objetiva.
O presente trabalho visa abordar discussões tributárias sobre as contribuições previdenciárias e suas hipóteses de incidência, considerando a regramatriz, teoria das normas e a fenomenologia da incidênciatributária. Além de destacar os princípios constitucionais da legalidade e principalmente da isonomia, não confisco, razoabilidade e proporcionalidade eis que são de suma importância porque a maioria das instituições e empresas enfrentam constantes autuações fiscais para cobrar contribuição sobre valores que não se enquadram como salário ou remuneração. O objetivo específico é partir dos conceitos da regramatriz, teoria da norma, da competência e limitações constitucionais ao poder de tributar, dos princípios basilares do direito tributário até concluirmos de forma clara e objetiva se a contribuição previdenciária cumpri os elementos legais do critério material fazendo, ainda, contraposição entre o artigo 195 “a” com a Lei n. º 8.212/91, a fim de possibilitar a apresentação das discussões sobre a constitucionalidade ou não, legalidade da instituição da contribuição previdenciária sobre verbas não enquadradas nos conceitos de salário, hipótese de incidência. A seguridade social, nos termos do artigo 194 da Constituição Federal, “compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social”. Para tanto o financiamento deve ser por toda a sociedade de forma direta ou indireta, por recursos decorrentes das contribuições sociais determinadas nos termos do artigo 195 da Constituição Federal. As contribuições diferentemente dos impostos são vinculadas, possuem destinação legal, o que significa que a lei ao instituir contribuição social deve conter o fim específico, qual seja a seguridade social, tutelado pela Constituição Federal, ao qual se destina o produto de sua arrecadação, para ser válido. A hipótese de pesquisa do trabalho será estabelecer, através da Constituição Federal, legislação e doutrina, a discussão sobre a constitucionalidade ou não da criação de incidência de contribuição previdenciária para determinados fatos que não guardam relação com salário ou remuneração, hipótese de incidência, como ajuda de custo, auxílios educação ou transporte, verbas de cunho indenizatório, entre outros, que são alvos da fiscalização previdenciária e que sobrecarregam as empresas com as defesas e ações judiciais.
O trabalho constrói a regramatriz de incidência do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores – IPVA –, cuja competência para instituição e cobrança foi outorgada aos Estados e ao Distrito Federal pelo artigo 155, inciso III, da Constituição Federal do Brasil de 1988. Para o estudo do tema foi utilizada a metodologia idealizada pelo Construtivismo Lógico-Semântico, que toma o Direito positivo como objeto cultural expresso em linguagem e que parte de categorias da Filosofia da Linguagem para, inicialmente, realizar uma análise analítica do objeto, para em seguida reconstruí-lo, dando-se ênfase aos aspectos sintático, semântico e pragmático dos termos. O trabalho inicia-se com breves considerações a respeito da norma jurídica e da regramatriz de incidênciatributária. Em seguida, foram examinados os aspectos históricos envolvendo o IPVA e a eventual necessidade da prévia edição de lei complementar nacional dispondo sobre elementos da regramatriz de incidência deste imposto para que as pessoas políticas competentes possam instituí-lo. Foram estudados, também, os princípios constitucionais aplicáveis ao IPVA. Por fim, é construída a regramatriz de incidência do IPVA, com o desenvolvimento de todos os seus critérios constitutivos.
As normas jurídicas apresentam um esquema padrão, repetido e composto de elementos significativos necessários à sua composição pelo legislador: a regra-matriz de incidênciatributária. Este trabalho foi elaborado com o objetivo de explicar o significado da regra- matriz e determinar sua importância para o intérprete do direito tributário, no que tange à construção e extração de normas dos textos jurídicos, bem como distinguir algumas figuras relacionadas ao tema. Como justificativa deste trabalho, há a importância do entendimento da regra-matriz de incidênciatributária para o intérprete do direito tributário. Os métodos empregados neste trabalho foram o dedutivo, sistêmico, com emprego de pesquisa bibliográfica: doutrina, artigos científicos e o ordenamento jurídico. O leitor terá a oportunidade de esclarecer algumas dúvidas quanto à regra-matriz de incidênciatributária, as distinções das figuras evento, fato, fato jurídico, fato imponível, fato gerador e a diferença entre o critério temporal do antecedente da RMIT e o fato gerador.
Neste sentido, se pretende firmar que, embora a destinação legal do produto arrecadado não integre a regra-matriz de incidênciatributária, é requisito fundamental na instituição de contribuições, exigido pela norma constitucional de produção normativa tributária 25 , com a especial finalidade de contribuir para a discussão e elaboração de novos estudos, com vista ao contínuo aperfeiçoamento do sistema constitucional tributário brasileiro — como almejado e brilhantemente defendido pelo saudoso Geraldo Ataliba 26 que lembrou e enalteceu o precedido “sistema constitucional tributário” de Amílcar de Araújo Falcão 27 — primordialmente, no sentido de que a respectiva exação possa dar-se de modo legítimo, atendendo aos desígnios constitucionais e não apenas como mais uma forma que permite ao Estado carrear desenfreadamente recursos aos cofres públicos, procurando apenas aumentar a arrecadação como forma de prover os valores necessários à consecução de seus fins, sem promover qualquer controle dos seus gastos públicos, para assim reduzir a pesada e insuportável carga tributária que não corresponde ao atendimento, nem ao menos satisfatório, das suas finalidades de promover a segurança pública e a prestação jurisdicional, e muito menos, o bem-estar e a justiça sociais, corolário do princípio fundamental de nossa Constituição que preconiza a dignidade humana como fundamento da República.
O trabalho trata do imposto sobre transmissão causa mortis de quaisquer bens ou direitos (ITCM) e tem entre seus objetivos construir a sua regra-matriz de incidência, a partir do exame das normas constitucionais que disciplinam esse tributo, identificando as duas equações que a compõem: o antecedente (hipótese tributária), descrevendo os seus critérios material, espacial e temporal; e o conseqüente (relação jurídica tributária), identificando os seus critérios pessoal (sujeitos ativo e passivo) e quantitativo (base de cálculo e alíquota). Construída a regra-matriz de incidênciatributária, examina as normas da Lei n. 10.705/2000 do Estado de São Paulo, objetivando verificar em que medida elas são compatíveis com o perfil constitucional desse tributo. A seguir, a legislação paulista volta a ser o foco, com a finalidade de se analisar o fenômeno da isenção do imposto sobre transmissão causa mortis. Posteriormente, trata do lançamento tributário do ITCM, constatando os traços peculiares a esse tributo, sobretudo quando apurado no âmbito de processos judiciais. O tópico final visa enfrentar duas intrincadas questões: a decadência e a prescrição do ITCM, onde se verifica, igualmente, que esse imposto possui singularidades decorrentes da sua forma de apuração.
Trata-se de investigação da função linguística da Regra-Matriz de IncidênciaTributária (regra geral e abstrata) por meio do confronto dialético dos conceitos trazidos pela teoria de Paulo de Barros Carvalho com noções e ferramentas do acervo teórico posto por Marcelo Lima Guerra, que dizem respeito à noção de Normas como Moldura Inferencial. Normalmente, identifica-se norma geral e abstrata como uma espécie de prescrição, arranjo linguístico expressivo de um comando. No entanto, as contribuições dos estudos em filosofia da linguagem e filosofia da mente, autorizam proceder a uma reavaliação do status da norma jurídica em relação a sua função linguística, por meio do manejo de instrumentos pouco utilizados pela doutrina jurídica tradicional. Assim, de posse desse novo instrumental teórico, empreende-se demonstrar que a função de tal Regra-Matriz, para longe de expressar uma prescrição, em verdade, cumpre o relevante e intrigante papel de Inference Ticket no contexto da justificação jurídica do comportamento dos utentes da norma tributária.
Assim, o presente capítulo será inteiramente voltado na análise dos critérios da regra-matriz de incidênciatributária do imposto territorial rural, conforme classificação adotada por Paulo de Barros Carvalho, sendo que cada um dos itens da exposição será utilizado para explicar cada critério, conforme adiante será demonstrado. E, para realizar tal tarefa, os critérios em questão serão construídos com base nas previsões da Lei nº 9393/1996, do artigo 153, VI da Constituição Federal e dos artigos 29, 30, 31 e 32 do Código Tributário Nacional.
Este trabalho objetiva analisar a validade da norma jurídica que impõe a Taxa de Turismo Sustentável de Jericoacoara, sob a perspectiva da norma geral que versa sobre a incidência da espécie tributária taxa. Para a consecução deste fim, realiza o cotejamento entre ambos os juízos normativos supracitados, baseando-se na Teoria da Regra-matriz de IncidênciaTributária. Como corolário da referida análise comparativa, verifica, no que se refere à norma impositora legislada pelo Município de Jijoca de Jericoacoara, a carência de elementos tidos como necessários para que haja a percussão impositiva de uma taxa, mormente a especificidade e a divisibilidade do serviço que constitui seu critério material. Conclui, por fim, pela sua invalidade.
26. Mesmo previsto na lista de serviços, o leasing financeiro caracteriza-se como autêntica prestação de coisa, podendo o leasing operacional também sê-lo, quando não exista cláusula de assistência técnica. Como tais, de acordo com a orientação aqui adotada, não são passíveis de tributação pelo ISS, por desrespeitarem as limitações a que estão limitadas as normas gerais em matéria tributária, no caso, a subversão do conceito de base de serviço.
parcelas da aptidão dos entes legiferantes, focada na prerrogativa de legislar para a expedição de normas jurídicas sobre tributos. Adverte os doutrinadores que a competência tributária não se confunde com a capacidade tributária ativa. Aquela significa poder legislar, definir a regra e expedi-la. Esta é ser apta a integrar a relação jurídica, como sujeito ativo. Aliás, PAULO DE BARROS CARVALHO afirma que: “o estudo da competência tributária é um momento anterior à existência mesma do tributo, situando-se no plano constitucional. Já a capacidade tributária ativa, que tem como contranota a capacidade tributária passiva, é tema a ser considerado no ensejo do desempenho das competências, quando o legislador elege as pessoas componentes do vínculo abstrato, que se instala no instante em que acontece, no mundo físico, o fato previsto na hipótese normativa.” (Curso de Direito Tributário, p. 213)
4 Carvalho, 1999, p. 170. Segundo Marcos Bernardes de Mello (1999, p. 37-38): “A expressão suporte fáctico – com que Pontes de Miranda traduziu a alemã Tatbestand – foi utilizada inicialmente no Direito Penal, e trazida para o Direito privado por Tohl, segundo depoimento de Cammarata. O conceito, conforme demonstra Pontes de Miranda no prefácio do seu Tratado de Direito Privado, é de aplicação universal na Ciência Jurídica, não sendo privativo de um determinado ramo do Direito. Tanto isso é verdade que nos diversos campos jurídicos o vemos empregado muitas vezes disfarçado por outras denominações, como pressuposto de incidência, tipificação legal, tipo legal, hipótese de incidência. No Direito Tributário, emprega-se a expressão fato gerador, embora com muita impropriedade, como mostramos em nossa Contribuição do Estudo da Incidência da Norma Jurídica Tributária, pág. 34, porque na verdade o fato gerador da obrigação tributária é o fato jurídico, portanto, o suporte fático depois da incidência, já juridicizado, e não o suporte fático apenas. Entre os autores italianos está difundido o uso do termo fattispecie – proposto por Betti – e entre os autores de língua espanhola a expressão supuesto de hecho”.
(…) será possível perceber que não se trata, apenas, de uma regra de direito, porquanto dois foram os cortes conceptuais promovidos no suporte fáctico, como duas foram as relações jurídicas que se propagaram pela ocorrência dos respectivos acontecimentos: a obrigação tributária e o vínculo no bojo do qual emergiu o direito ao crédito. Duas ocorrências no mundo físico-social, sendo uma de aquisição de insumos para o processo de industrialização e, outra, operação de venda e compra mercantile, entre Manaus e São Paulo, tendo por objeto produtos industrializados, abriram espaço para a percussão de duas normas jurídicas: a da regra-matriz de direito ao crédito pelo valor do imposto pago nas compras para o processo de industialização e a regra- matriz de incidência do IPI.
A dissertação foca na guerra fiscal do ICMS, que é um fenômeno em que os entes federativos buscam atrair empresas para seu território através de incentivos fiscais. Para a concessão de incentivo fiscal de ICMS é necessária aprovação unânime dos Estados no âmbito do CONFAZ, o que é muito difícil. Assim, se tornou comum que quando um incentivo irregular seja concedido por determinado Estado de origem, o Estado de destino não reconheça o crédito de ICMS gerado, com base no artigo 8º, I da Lei Complementar 24/1975. A doutrina majoritária tem se pacificado no sentido de ser contra esse não reconhecimento, chamado glosa, e o Supremo Tribunal Federal não possui ainda posicionamento definitivo sobre o tema. A proposta do texto é construir uma doutrina sólida que se oponha à majoritária e defenda a possibilidade de glosa de créditos de ICMS quando oriundos de benefício fiscal inconstitucional. Debatemos questões como norma jurídica, validade, federalismo fiscal, direitos fundamentais do contribuinte, regramatriz de incidência, obrigação tributária, não cumulatividade, créditos de ICMS, e glosa de créditos. Ao fim, utilizando os subsídios apresentados, sustentamos nossa tese quanto à possibilidade do ato de glosa.
serviços (CF, 155, §2º, III); as alíquotas das operações e prestações, interestaduais e de exportação, são fixadas pelo Senado Federal, por resolução (CF, 155, §2º, IV); nas operações e prestações que destinem bens e serviços a consumidor localizado em outro Estado, quando este for contribuinte do imposto, será adotada a alíquota interestadual e a alíquota interna quando não for (CF, 155, §2º, VII , e ); incidirá sobre o total da operação quando mercadorias forem fornecidas com serviços não compreendidos na competência dos municípios (CF, 155, §2º, IX, ); não incidirão sobre exportação de mercadorias de serviços a destinatário no exterior, assegurado, entretanto, crédito do imposto cobrado nas operações anteriores (CF, 155, §2º, X, ); o ICMS não incidirá sobre operações interestaduais com petróleo, combustíveis e energia elétrica (CF, 155, §2º, X, ), bem como, sobre o ouro quando definido em lei como ativo financeiro ou instrumento cambial (CF, 155, §2º, X, ); não compreenderá, em sua base de cálculo, o montante do IPI, quando a operação realizada entre contribuintes e relativa a produto destinado à industrialização ou à comercialização, configure a hipótese de incidência dos dois impostos (CF, 155, §2º, XI); a lei complementar # seus contribuintes, # a substituição tributária, # o regime de compensação, # o local das operações e prestações de serviço (para efeito de sua cobrança e definição do estabelecimento responsável), # os casos de manutenção de crédito com relação às operações e prestações para outro estado, # a forma como concessão de isenções e benefícios fiscais serão concedidos, por deliberação dos estados e Distrito Federal, # os combustíveis e lubrificantes incidirá uma única vez, # a base de cálculo, de modo que o montante do imposto a integre, inclusive nas importações (CF, 155, §2º, XII, a ); e por fim, é facultado ainda ao Senado Federal fixar alíquotas mínimas para as operações internas e fixar alíquotas máximas também para as operações internas, para resolver conflito específico que envolva interesse de Estados.
Relevante notar a pluralidade nas matérias tratadas nos trabalhos e que ,embora todas sejam ligadas a temas atuais demandando soluções. Há preocupações de cunho principiológico /teórico, bem assim de cunho prático, ligadas à eficiência da arrecadação tributária, de forma que possa fazer face ás necessidades financeiras do estado, sejam aquelas relacionadas ao cumprimento do papel estatal no que diz respeito aos direitos fundamentais dos cidadãos, sejam aquelas vinculadas à necessidade da manutenção do equilíbrio orçamentário.
O texto discute o conceito e o regime jurídico dos incentivos e das renúncias fiscais no ordenamento jurídico brasileiro. Essas medidas jurídicas resultam do exercício da mesma competência legislativa que fundamenta a cobrança de tributos, mas os problemas jurídicos que suscitam não são exatamente os mesmos que se apresentam ordinariamente no debate tributário. Mais do que simplesmente normas tributárias, as leis que instituem incentivos fiscais configuram instrumentos para intervir na realidade social e modificá-la e precisam ser assim examinadas. Já não se trata apenas de resguardar o interesse privado do contribuinte contra a tributação indevida, excessiva ou intempestiva. O conflito entre fisco e contribuinte dá lugar à cooperação, e a norma tributária converte-se em ferramenta jurídica de indução de comportamentos e transformação da sociedade. Por isso, no estudo do tema, destaca-se não apenas a maneira como a regra de incentivo opera em relação ao dever fiscal, para eliminá-lo ou reduzi-lo, mas especialmente o modo como ela afeta a arrecadação fiscal e a conduta dos destinatários legais. Para tanto, propõe-se modelo de análise atento a três elementos: finalidade, regra e efeito externo. É fundamental considerar os propósitos que orientam a formulação da regra de incentivo, assim como os resultados concretos que produz. Essa forma de enxergar o fenômeno da exoneração fiscal favorece o controle de resultados e permite dar conta dos incentivos e renúncias fiscais como dois aspectos do mesmo fenômeno jurídico.
Reconhecendo o princípio da proporcionalidade como princípio geral de direito, aplicável, portanto, no direito administrativo brasileiro, busca-se, no presente artigo, especular acerca de como se dá, ou deveria se dar, essa aplicação, sobretudo nos processos administrativos fiscal, disciplinar e desapropriatório, esclarecendo, desde logo, que o que se defende aqui é a sua plena observância pelo administrador. A escolha destes três âmbitos de atuação não é aleatória: é que, especialmente nessas searas, na prática dos atos administrativos, ainda não se observa, na grande parte dos casos, o princípio da proporcionalidade. Quando o assunto é fiscalização tributária, sanção disciplinar e desapropriação, a conduta do administrador, infelizmente, ainda se pauta, via de regra, pelo primado poder-dever – calcado na idéia de poder de império do poder público, que legitima, desde o regime militar até os dias de hoje, condutas arbitrárias - ao invés de avançar para o conceito de dever-poder, no qual se inserem, harmonicamente, os subprincípios da adequação, necessidade e proporcionalidade em sentido estrito, conforme será tratado a seguir.
a alíquota limitada a 100%, no exato limite da base de cálculo, que deverá corresponder, por sua vez, ao valor nuclear da hipótese de incidência. Vislumbramos que não há tributos fixos em nosso sistema positivo e, por isso, entendemos que os tributos vinculados têm suas regras-matrizes constituídas pelos mesmos critérios dos não vinculados, ou seja, material, temporal, espacial, pessoal e quantitativo (base de cálculo e alíquota). Nesse cenário, então, imaginamos que a base de cálculo dos tributos vinculados deva corresponder ao valor intrínseco da hipótese material de incidência e a alíquota poderá ser de até 100%. Em regra, a cobrança dos vinculados se dá pela alíquota de 100% da base de cálculo, mas nada impede que seja graduada entre 0% e 100%, conforme a capacidade econômica do sujeito passivo. Por exemplo, pode-se estabelecer uma taxa de serviço público com alíquota de 0% (com efeito de isenção) para as pessoas carentes de recursos financeiros, pobres na acepção jurídica do termo, para dar eficácia aos fundamentais valores da cidadania e dignidade da pessoa humana, e 100% para quem não prove tal carência.
Se, via de regra, é com o encerramento contratual o momento em que serão verificados os pressupostos, requisitos e valores para a incidência da Indenização de Clientela, debate-se, ultimamente, a possibilidade de constituir-se a Indenização de Clientela antes de encerrado o contrato de agência. Especialmente a doutrina alemã cuidou de agrupar algumas situações denominadas de TEILBEENDIGUING, ou extinção parcial do contrato, por meio das quais seria possível a cobrança em vida do contrato, também proporcional à cessação parcial do ajuste, dos valores da Indenização de Clientela. São situações como a restrição substancial da zona ou mesmo do número de clientes entregues ao serviço de cada agente, ou no caso do principal, mesmo mantendo a produção de determinado bem, retirar ao agente o direito de promover a negociação de tal produto – vide, nesse último caso, SANZ.Martinez. ,op. cit. pp. 135/142 - A orientação que rege tal doutrina é a prática de ato, pelo principal, decorrente do seu poder volitivo, que retire a possibilidade do agente de prestar seus serviços junto aos clientes que lhe eram confiados. Dificuldades decorrem quanto ao exercício de cobrar a Indenização de Clientela, pelos óbvios motivos de se realizar tal medida ainda vigente a relação contratual. Desse modo, tem-se elastecido o início do prazo prescrional para o término da agência, uma vez que, nessa situação, ausentes o constrangimento e embaraço que pesariam sobre o agente de ajuizar medida judicial contra o principal na vigência de relação contratual personalíssima como a agência. Ver, a esse respeito, CUNHA, Carolina. op.cit. p. 33-48. Idem LEITÃO, Luís Menezes. op.cit. p.40, a quem “Ao nosso ver, a extinção parcial apenas deverá determinar a atribuição de imdenização de clientela quando ocorra um alteração essencial da primitiva relação contratual, o que se verifica na redução do território ou do círculo de clientes, mas não em caso de alterações da veriedade de produtos ou da taxa de comissão.”