Nesta análise do filme A falecida (1965), Ismail Xavier comenta sobre o paralelismo entre São Bernardo e A falecida nos assinalando os traços do estilo próprio do cineasta, estilo esse “que não depende do texto de origem” (XAVIER : 2003, p. 257). Hirszman, que até então havia dirigido Cinco vezes Favela, segmento "Pedreira de São Diogo" (1962), Maioria Absoluta (1964), Sexta-feira da Paixão, Sábado de aleluia (1964), A Falecida (1965), Garota de Ipanema (1967) e América do Sexo (1969), 9 contou com um elenco experiente para a transcriação 10 do romance de Graciliano Ramos. O filme tem as atuações de Othon Bastos (Paulo Honório), Isabel Ribeiro (Madalena), Nildo Parente (Luís Padilha), Vanda Lacerda (D. Glória), Mário Lago (João Nogueira), Jofre Soares (Padre Silvestre) e Joseph Guerreiro (Gondim). O diretor rodou também filmes curtos e documentários no período da repressão política, pós-golpe de 1964, tais como Nelson Cavaquinho (1969), Ecologia (1973), Megalópolis (1973), Cinema brasileiro: mercado ocupado (1975) e Partido alto (1976/).
O artigo descreve Paulo Honório, narrador do romance São Bernardo (1934), como sendo um intelectual. Partindo de proposições tomadas à fortuna crítica de Graciliano Ramos, propõe-se a aprofundar algumas noções consagradas sobre este romance desse autor. Nesse sentido, as leituras que atribuem ao romance a condição de ficção autobiográfica (MIRANDA, 1992) e de confissão (CANDIDO, 1992 e MOURÃO, 1969) são instrumentalizadas para identificar, dentro de um artefato iminentemente ficcional que é São Bernardo, elementos que situariam seu narrador como uma pessoa que escreve efetivamente uma autobiografia com teor altamente confessional. Para tanto, o conceito de confissão (FOUCAULT, 1988) é utilizado para aprofundar a noção de “descontrole” (LAFETÁ, 1977), ideia estruturante para se compreender São Bernardo. O fito é alcançar uma descrição do público leitor que seria o leitor da autobiografia confessional escrita pelo narrador, ao mesmo tempo em que se explicitaria esse narrador como sendo um escritor intelectual que, ao eleger o público literário como interlocutor de sua confissão, faz um elogio da palavra escrita, da literatura e da vida pública como espaço de resolução de problemas.
atos dignos de nota, como os registra Paulo Honório. O que vemos depois é a car- reira de um indivíduo que consegue ascender pela fraude, pela usura, pelo avanço da cerca, pelo assassinato. Num crescendo, enquanto aumenta seu poderio econô- mico antes nulo, Paulo Honório prepara a ruína de Luís Padilha, herdeiro desfi- brado, emprestando-lhe dinheiro alto (para investir em agricultura, em tipografia, em jogo), em troca da hipoteca de São Bernardo; consegue a fazenda; briga com o vizinho, Mendonça, por causa da cerca no limite das propriedades; temendo seus cabras, desiste de brigar com o velho e manda matá-lo na estrada, avançando por fim a cerca para além de seus direitos; em seguida, invade a terra do Fidélis, vizi- nho paralítico de um braço, e a dos Gama, outros vizinhos, enquanto estão no Recife estudando direito. Violências miúdas, como diz, que passaram despercebi- das; questões mais sérias seriam resolvidas no fórum graças à astúcia do advogado, João Nogueira.
Acompanhemos as últimas linhas de São Bernardo, publicado por Graciliano Ramos em 1934. O objetivo será atar as duas pontas do livro por meio de uma comparação de seus traços mais evidentes. Depois, teremos instrumentos para generalizar uma postura que nos guiará até o final deste artigo: “E eu vou ficar aqui, às escuras, até não sei que hora, até que, morto de fadiga, encoste a cabeça à mesa e descanse uns minutos” (RAMOS, 1995, p.191). Trata-se de um parágrafo composto por uma só frase. O motivo principal é um homem, à mesa. A locução “vou ficar” prevê o futuro imediato. Pode aparecer ao leitor a imagem de um vulto betumoso, encurvado sobre uma mesa, escrevendo, não sem certo esforço, numa sala vazia.
This work proposes an alternative reading of Graciliano Ramos’ São Bernardo. In the critical legacy on this author’s work there is as yet no consensus to whether or not the revolution which breaks soon after Madalena’s death is the Revolution of 1930 and, more important than this, to what function does this revolution have in the romance’s economy. In the perspective here considered, the book’s theme is the Revolution of 1930, allegorically articulated to the fictional facts, in which Paulo Honório, industrialist coronel of the 1920s, struggles against the ongoing revolutionary movement. Paulo Honório, hence, doesn’t regret, and the romance loses its connotations of confession: who writes the “confessional” chapters is actually Gondim, they are the two lost and purged chapters. Paulo Honório is no longer seen here as a self-made-man, but as a politically structured being, integrating a party that defends the exporting model, based on the monoculture of coffee. Therefore, the romance suggests to the reader a very comprehensive politico- economical view of the revolutionary period of 1930-32 and the facts that preceded it. Finally, this reading here advanced draws us to propose, as a very distinct view of literature, that the basis of Graciliano’s thought is economical and that literature is, in the last analysis, a privileged means for cognitive knowledge of history.
O processo persuasivo com finalidade de assegurar o poder, que cons- titui um dos elementos caracterizadores da instância a que chamamos monologizada em São Bernardo, se dá não somente no plano da enuncia- ção, com artifícios empregados pelo narrador, em sua atitude manipula- dora, no empenho de influenciar o narratário acerca da validade de seu posicionamento. Ocorre também no plano do enunciado, no qual se evi- dencia uma relação de exploração, possibilitada pelo poder de conven- cimento do protagonista Paulo Honório sobre os demais personagens. Para verificar a interação personagem-personagem, no plano do enunciado do romance, num contexto em que a persuasão está relacio- nada à ideia de competição e de dominação, são propícias as colocações de Bellenger (1987, p.42), para quem a persuasão se faz presente quan- do há diferença ou divergência. Segundo o autor, ela manifesta-se na adversidade: para vencer ou defender-se, é preciso agir sobre o outro e, por isso, torna-se uma prática de comunicação e incitação intencional, calculada em função de um resultado. Ela se enquadra no pensamento estratégico, leva em conta as vulnerabilidades do outro, ao mesmo tempo em que o eu pensa e administra seu próprio arsenal de meios. Um momento exemplar em que Paulo Honório evidencia, de forma intencionalmente explícita, o seu poder persuasivo está no Capítulo 4 do romance, em que é narrado passo a passo o processo de sua conquista da fazenda São Bernardo, para o qual emprega diversas estratégias de convencimento sobre o outro. Nesse caso, a persuasão aparece como processo de influência com vistas a induzir ao erro. Paulo Honório é mobilizado em torno de seus projetos individuais, da sua vontade de levar a fazer, que dependem sempre do outro num contexto de com- petição e interdependência.
Alguns, prossegue Bernardo, espalham dinheiro com essa arte arquitetural, de sorte que ela se multiplica, gerando copiosidade, suntuosidade, riqueza e colorido. Os homens são incitados a admirar mais a beleza das imagens do que a venerar seu caráter sagrado. Gastam para ornamentar, deixando de cuidar dos pobres. A esse respeito, Bernardo assim expressa sua indignação:
Em 1998, após a realização do 7º Congresso de História do Grande ABC, constituiu-se a Comissão Técnica das Instituições Oficiais de Memória do ABC, formada pelo Museu de Santo André, Serviço de Memória e Acervo de São Bernardo do Campo, Fundação Pró Memória de São Caetano do Sul, Centro de Memória de Diadema, Museu Barão de Mauá, Museu Família Pires e Centro de Apoio Técnico ao Patrimônio de Ribeirão Pires 2 . Não havia (e ainda não há) uma
Aliado a esse processo de formação dos discentes da UFMA, obtivemos como resultado a produção de conhecimentos, unindo os saberes populares e acadêmicos acerca da temática afro- brasileira. O embasamento teórico e prático foi fundamental para uma jornada como pesquisador. Partindo do pressuposto de que o projeto de extensão articulou saberes dos campos históricos, antropológicos, sociológicos, artísticos e culturais, como resultado transversal de sua implementação, observamos o incentivo à produção dos conhecimentos interdisciplinares dentro da Universidade Federal do Maranhão, em São Bernardo, além da integração dos cursos que compõem o Campus das Licenciaturas Interdisciplinares, Linguagens e Códigos, Ciências Naturais e Ciências Humanas.
The author closes the second chapter concluding that, despite all the differences between the two novels, there are some similarities in the way the narrative is conducted in both utterances, for both reveal a narrator who holds the floor and sets the tone of his account, evidencing the centrality of his narrative. In both Infância [Childhood] and São Bernardo [São Bernardo: A Novel] , “all forms of reporting are therefore at the service of this centralizing narrator – author/narrator, in the first case and narrator/character, in the second case” (p.125, our translation). 5
resumo: Análise do conto “A enxada”, de Bernardo Élis, publicado em Veranico de janeiro (1966) e tornado antológico por Alfredo Bosi, que o selecionou para compor sua coletânea O conto brasileiro contemporâneo (1975). A análise procura mostrar um dos procedimentos estruturantes da narrativa, que consiste no recorrente e variado uso da metonímia. A relação entre essa figura de linguagem e o realismo literário foi estudada por linguistas como Román Jakobson e Tzvetan Todorov e pelo semiólogo Roland Barthes, cujos trabalhos consistem no fundamento teórico da análise proposta. Nessa perspectiva, o objetivo é mostrar que, embora o conto de Bernardo Élis, por seu forte conteúdo social, tenha sido explorado principalmente em seu viés sociológico, a relação que a narrativa estabelece com a realidade rural brasileira não se pretende factual ou documental, mas encontra-se explicitamente mediada pela linguagem e pela tradição literária brasileira, em que se insere pela retomada de um episódio do romance A bagaceira (1928), de José Américo de Almeida.
Diante dos pontos supracitados, o romance de Bernardo Kucinski torna-se importante para a constituição de uma identidade nacional. No que se refere ao romance como literatura é importante ressaltar o conceito de literatura como um produto social abordado por Antonio Candido em Literatura e Sociedade (1980), em que a literatura é fruto de um contexto histórico, carrega em si as impressões de uma sociedade, mesmo se tratando de uma obra ficcional. Percebe-se como ainda faltam produtos sociais no que se refere ao período da Ditadura Militar brasileira. Também percebe-se que a falta de literatura a respeito deste tema reflete no apagamento dos rastros e no esquecimento dos atos violentos e repressores do Estado, bem como no esquecimento das várias vidas ceifadas pela repressão.
A produção de fármacos muito potentes é um processo complexo que acarreta riscos inerentes à sua manipulação, nomeadamente, a exposição ocupacional que pode pôr em causa a inte[r]
Neste sentido, sendo imprescindível a garantia de segurança e desempenho eficaz dos DM, torna-se imperativo que o seu constante controlo e vigilância sejam os pre[r]
O objectivo principal da empresa é dar a conhecer tanto aos portugueses como a estrangeiros, a riqueza que Portugal tem nesse campo através de um website em forma de loja virtual e bib[r]
As pesquisas, sobretudo em história da educação, têm utilizado a literatura para chamar a atenção para a construção e estruturação das relações de gênero, acentuando, sobretudo, a experiência feminina (cf. Alves, 2007; Lopes, 1998; Magaldi, 1992) . Neste trabalho, sem abandonar as representações de feminilidade, identificamos e analisamos as diferentes facetas da masculinidade apresentadas na obra de um dos mais importantes literatos brasileiros do século XIX : o mineiro Bernardo Guimarães. Pretendemos enfocar como o autor, em suas diversas obras, constrói as relações de gênero e produz representações sobre homens e mulheres, dando especial relevo às experiências de masculinidade. Desse modo, pretendemos contribuir para uma maior compreensão da forma como, no final do século XIX , a literatura colaborou para a produção de representações e práticas de masculinidade (e de feminilidade) no Brasil.
Bernardo Soares, heterónimo atípico, partilha características com Fernando Pessoa, mas fá- lo de forma intencional: possui, como tópicos, a consciência-de-si e a intromissão da subjectividade do poeta na objectividade da natureza contemplada, transformando ou aniquilando-a; Soares herda estas características da tradição literária romântica, à semelhança da qual escreve uma obra cujo protagonista é um anti-herói que tenta justificar a sua condição a futuros leitores, por alegada falta de capacidade em justificá-la a outros interlocutores. O Livro do Desassossego ganha uma forma análoga à da prosa romântica do século XIX, que inclui romances confessionais, romances epistolares ou romances de formação e onde se podem encontrar análises pessoais e do mundo físico, assim como comentários extensos e sistemáticos sobre arte, literatura, política e sociedade. Os autores destas obras são, de resto, diversas vezes, evocados por Soares; neles, salientam-se autores de língua francesa, ao contrário do que acontece na restante obra pessoana. Este facto foi notado por António M. Feijó, que assinala a “extensão do uso de autores de expressão francesa como modelos ou rivais do seu autor – Chateaubriand, Sénancour, Amiel, Vigny, et alii” (143). Segundo este, e como se verá ao longo deste trabalho, a tensão que Soares produz, por palavras, entre objectos quotidianos e vulgares e a posição elevada do poeta que deseja ser, assim como o propósito claro de destacar autores de uma língua que lhe é estrangeira 5 , e por isso estranha, revela
Os objetivos deste estudo são medir e comparar a percentagem de células vivas após contacto com os extratos de dois cimentos endodônticos, o AH Plus e o MTA Fillapex, modi[r]
Diversos efeitos adversos estão associados ao uso de fármacos do grupo das quinolonas, sendo que os mais comuns e significativos são relacionados com o trato gas[r]