Nestas cooperativas, a demanda no âmbi- to da saúde do trabalhador se coloca de forma equivalente a de qualquer pequena empresa do setor de comércio. A diferença essencial está no fato delas não se estruturarem por meio da re- lação assalariada e sim por meio de agentes au- tônomos cooperativados que mantêm decisões gerenciais próprias, inclusive sobre a prevenção de acidentes e doenças do trabalho. Exames mé- dicos preventivos para doenças do trabalho po- deriam se associar à realização de outros exigidos pela Vigilância Sanitária em segurança alimentar para aprovação do comércio de alimentos. Exa- mes médicos periódicos compostos de screening de avaliação preventiva de agravos poderiam ser realizados na Unidade de Saúde da Família do município, o que não ocorre. Esses exames repre- sentariam a estratégia central para o diagnóstico precoce de doenças do trabalho na pesca artesa- nal e nas orientações para as ações da VISAT, fo- cadas nas informações epidemiológicas por meio de protocolos de diagnósticos de LER em pesca- dores e marisqueiras, inscrita em uma política de atenção integral à saúde dos povos da floresta e das águas.
Os antecedentes da construção de uma pedagogia de vigilância em saúde do trabalhador resultam de demandas concretas por formação de agentes públicos com a institucionalização gradativa dos Programas de Saúde do Trabalhador, no decorrer dos anos 1990. Atuando como formuladores e instrutores de cursos de capacitação durante mais de 15 anos em demandas trazidas pela área técnica do Ministério da Saúde e pelas secretarias de saúde de vários estados e municípios brasileiros, foram ministrados cursos de Visat em várias unidades federativas: AL, AP, AM, DF, GO, MT, PA, PB, PE, PI, RJ, RN, RS, RO, RR, SC, SE e TO (Vasconcellos, 2007). Em alguns desses estados, o curso foi aplicado mais de uma vez na modalidade de formação básica (1º nível) e, em outros, foi aplicada, também, a modalidade de formação de multipli- cadores (2º nível).
Resumo Este ensaio busca contribuir para a cons- trução de uma modalidade participativa e dialógica de vigilância em saúde para os locais de trabalho, no- tadamente para o serviço público federal. Nele desen- volve-se uma reflexão com base na revisão da literatura especializada e foco na legislação e na política em vigor no país. Constata-se que as conquistas histó- ricas realizadas no âmbito dos movimentos sociais de trabalhadores propiciam a produção de novas relações entre o Estado e a sociedade, favorecendo o apare- cimento de espaços participativos nas instituições públicas. Além disso, evidencia-se a necessidade capi- tal da organização de comissões de saúde do trabalha- dor por locais de trabalho como forma elementar de implantação da política de vigilância em saúde nos ambientes laborais. Por fim, sob a égide do campo da educação crítica, apresentam-se alguns preceitos do aporte teórico da pedagogia freiriana para que sirvam de base à criação de espaços de fala e escuta no trabalho. Defende-se a ideia de que o diálogo e a participação são os fundamentos educativos de uma perspectiva democrática de vigilância em saúde do trabalhador. Palavras-chave participação social; vigilância em saúde do trabalhador; serviço público federal; edu- cação dialógica.
No contexto atual do mundo do trabalho, é fundamental que a Vigilância em Saúde do Trabalhador possa, por meio de mecanismos de investigação, análise e intervenção sobre os processos, os ambientes, as organizações e as relações de trabalho, promover a saúde dos trabalhadores e a prevenção de acidentes e de do- enças relacionadas ao trabalho. O objetivo deste ensaio é refletir sobre o processo de Vigilância em Saúde do Trabalhador com ênfase no município de São Paulo. Com base em revisão bibliográfica e documental, abordamos o fluxo e os impe- dimentos das ações atuais nessa área, no contexto do Sistema Único de Saúde, enfocando a distância entre conhecimento teórico, sua apreensão e sua aplicação. Iniciamos por uma retrospectiva histórica e conceitual do campo da Saúde do Tra- balhador. Na sequência, fazemos uma reflexão sobre as políticas de governo para Vigilância em Saúde do Trabalhador e sobre os conceitos de Vigilância em Saúde e Vigilância em Saúde do Trabalhador. Complementando a reflexão, a Vigilância em Saúde do Trabalhador é analisada a partir da perspectiva de diferentes autores. Concluímos que é preciso requalificar a estrutura organizacional da saúde pública no Brasil, incluindo indicadores qualitativos de avaliação do impacto das ações e contemplando os diferentes processos de trabalho e a diversidade de necessidades de cada serviço voltado à ST no âmbito do SUS.
Consequentemente, novas formas de diagnóstico precisam ser desenvolvidas para confrontar práticas instituídas na saúde pública, nas perícias do INSS e na justiça do trabalho, ainda calcadas nos modelos positivistas, matemáticos e biomédicos. A matematização operada pelo saber e prática epidemiológicos funda ações de catalogação de problemas em saúde mental. Essas são importantes, porém deixam à margem o sofrimento, posto que é categoria impassível à quantificação. Não podemos negar que a criação de indicadores de saúde mental relacionada ao trabalho é uma importante ação para dimensionar os problemas da classe trabalhadora. Uma ação de vigilância epidemiológica em saúde do trabalhador.
Uma consideração abrangente sobre esta revisão é que a prática no âmbito da vigilância em saúde do trabalhador relacionada aos distúrbios vocais em professores foi consis- tente e crescente ao longo do período estudado. A crescente contribuição sobre promoção de saúde/prevenção de alterações vocais em professores é corroborada pela crescente ocorrência de estudos descritivos de intervenção fonoaudiológica entre professores e de avaliação do efeito de programas de saúde vocal. A caracterização do problema vocal do professor é feita principalmente por descrições dos sinais e sintomas e por análise perceptivo-auditiva da voz. A identificação das condições de uso da voz no trabalho de determinadas amostras populacionais deu origem a uma série de estudos descritivos, com deslocamento da ótica de análise da voz do sujeito para o ambiente e organização do trabalho docente. Evidenciou-se, com a realização desta revisão, a busca pela identificação de problemas a serem minimizados em favor da saúde vocal dos professores.
A compreensão da rede de serviços de saúde contemplou o conhecimento do território do CEREST, um serviço regional que abrange três cidades da Baixada Santista: Santos, São Vicente e Praia Grande. O CEREST, de acordo com a RENAST, atua oferecendo à população trabalhadora: assistência específica, VISAT e a educação em saúde. Dentre as ações desenvolvidas pelo grupo PET no CEREST, inclui-se: acompanhamento do atendimento médico, que pesquisa e confere o nexo causal, ou seja, a relação entre o adoecimento e o trabalho. A roda de conversa versou sobre o nexo causal para Burnout, Fadiga Generalizada e Lombalgia. Entender o adoecimento pelo trabalho, as doenças mais frequentes e o caminho para firmar o nexo é fundamental para as ações em vigilância em saúde do trabalhador. Também se abordou a coleta e registro de dados realizados pelo CEREST. A importância da Vigilância e da coleta de dados é apontada pelo grupo:
Introdução: compreender, como premissa do ensaio, a Vigilância em Saúde do Trabalhador (VISAT) como ação pública capaz de intervir de forma mais ostensiva e eficaz nos fatores que determinam os agravos à saúde dos trabalhadores. Objetivo: estabelecer um parâmetro teórico-conceitual que balize a práxis esperada no aparelho de saúde pública responsável pela saúde do trabalhador no Brasil. Método: a metodologia fundamentou-se em duas vertentes: a produção bibliográfica sobre a VISAT e a empiria acumulada na formação de agentes públicos para a VISAT. Discussão: a partir de bases teóricas e experiências vivenciadas na formação, propõe-se estabelecer vínculos entre a episteme que acompanha a construção da VISAT, no Brasil, e a expectativa de uma práxis ainda debilmente exercida. Na análise conceitual de VISAT, cujas dimensões hermenêuticas são polissêmicas e complexas, sistematizou- se dez categorias significativas que buscam ampliar seu próprio conceito. Foram consideradas como dimensões ampliadas do conceito estudado as seguintes questões: Política; Ética; Legal; Institucional; Epidemiológica; Metodológica; Técnica; Pedagógica; Epistemológica; e Transformadora (ideológico-revolucionária).
Este artigo tem como objetivo analisar a relação entre trabalho, saúde e agronegócio no âmbito da estruturação da política de vigilância em saúde do trabalhador a partir da perspectiva de atores locais. O estudo realizou-se no município de Lagoa da Confusão, TO, sob a vertente da pesquisa participante. Sucederam-se quatro reuniões, com a presença de até 11 pessoas, de modo a se respeitar a ideia de constituição de grupos participativos. No que concerne à interpretação dos materiais de campo, adotou-se a técnica de análise do discurso, sendo identificados três categorias empíricas de análise, a saber: Trabalho Precário e Agronegócio; Agrotóxicos; e Política. Além disso, obteve-se como produto das reuniões um Plano de Vigilância Participativa em Saúde do Trabalhador para o município. Quanto às discussões dos materiais, sobressaiu o sentido do importante papel que o Estado tem a desempenhar como formulador de políticas para intervenção na realidade, bem como na ordenação de ações democráticas de vigilância em saúde do trabalhador. Além disso, constatou-se o imprescindível apoio às organizações locais dos trabalhadores, de modo a torná-las mais fortes, tendo em vista uma ampliação da capacidade coletiva de defesa da saúde. Palavras-chave: saúde do trabalhador; vigilância em saúde; agronegócio; pesquisa participante.
O desenvolvimento de ações de saúde do trabalhador pelos Programas de Saúde do Trabalhador na rede pública, principal- mente no estado de São Paulo, gerou a necessidade de construir um arcabouço legal para dar suporte a estas ações e permitir a sua consolidação no SUS. No ano de 1998 duas portarias foram editadas com este objetivo, a primeira aprovando a Instrução Normativa de Vigilância em Saúde do Trabalhador e a segunda estabelecendo procedimentos para orientar e instrumentalizar as ações e serviços de saúde do trabalhador no SUS (5-6) .
Resumo A análise de acidentes de trabalho é importante para a vigilância e a prevenção des- ses eventos. Métodos atuais de análise buscam superar visões reducionistas que enxergam essas ocorrências como eventos simples explicados por erros dos operadores. O objetivo do artigo é ana- lisar o modelo de análise e prevenção de acidentes (MAPA) e seu uso em intervenções de vigilância, destacando aspectos vivenciados na apropriação da ferramenta. Optou-se por método descritivo analítico apresentando as etapas do modelo. Para ilustrar contribuições e ou dificuldades foram se- lecionados casos nos quais foi usada a ferramenta em contexto de serviço. O MAPA integra abor- dagens teóricas já experimentadas em estudos de acidentes fornecendo apoio conceitual útil desde a etapa de coleta de dados à conclusão e intervenção. Além de revelar fragilidades da abordagem tradi- cional, ajuda a identificar determinantes orga- nizacionais como falhas gerenciais, de concepção de sistemas e da gestão de segurança envolvidas na acidentalidade. Os principais desafios encon- tram-se no domínio dos conceitos pelos usuários, na exploração de aspectos organizacionais mais à montante na cadeia de decisões ou em níveis su- periores da hierarquia, bem como na intervenção para mudanças nos determinantes destes eventos. Palavras-chave Acidente de trabalho, Método de análise, Vigilância e prevenção, Saúde do trabalhador
Resumo Esse texto trata de diferenças e desigualdades. Discute-se o atual modelo de vigilância sanitária em saúde do trabalhador, apontando a necessidade de incorporação de um olhar de gênero nessa prática. Mostra-se que certas noções clássicas devem ser revistas e que os mapas de riscos podem ser mais úteis se forem capazes de indicar as distribuições das exposições segundo o gênero, evidenciando as modalidades de divisão do trabalho que são operadas. As propostas das trabalhadoras são colocadas ao lado das análises advindas da sociologia, no que se refere à articulação entre produção e reprodução, e do debate sobre a perspectiva de gênero na apreensão do processo saúde-doença. Ao final do texto, procura-se caminhar no sentido de uma nova for- ma de pensar a vigilância em saúde do trabalhador, ressaltando a centralidade do trabalho e da intersubjetividade na determinação da relação produção/saúde.
Resumo O presente texto tem como objetivo trazer algumas indagações sobre a Vigilância em Saúde do Trabalhador (VISAT), no Brasil, a partir de vários elementos de análise, visando subsidiar o debate sobre o tema na IV Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora. Os tópicos analisados são: papel dos Centros de Refe- rência em Saúde do Trabalhador (CEREST) como lugar de fala da VISAT; formação de agentes de VISAT; compromisso dos trabalhadores enquanto sujeitos da ação de VISAT; estratégias de articu- lação intersetorial com outras áreas do Estado; e o diálogo estruturante entre os pares que atuam no campo da pesquisa e ação da VISAT. Consta- ta-se a existência de ampla e específica legislação sobre a VISAT, inclusive como prioridade da Polí- tica Nacional do Trabalhador e da Trabalhadora. Conclui-se que é necessário intenso investimento na formação de agentes e na elaboração de diretri- zes específicas para implementar ações sistemáti- cas e intersetoriais a esse respeito. Neste momento de realização da Conferência, a maior expressão do exercício do controle social, é recomendável que se avalie a sua participação nos processos de vigilância, enquanto pressuposto para garantir a eficácia dessas ações.
Tema: Fonoaudiologia e Saúde do Trabalhador. Objetivo: apresentar uma revisão de conceitos, concepções e histórico ligados à Vigilância em Saúde do Trabalhador em seu sentido amplo, abran- gendo as vigilâncias epidemiológica, ambiental e sanitária, referindo a importância da utilização de tais aspectos na prática da Fonoaudiologia. Conclusão: considerando-se que a Vigilância em Saúde do Trabalhador pauta-se nos princípios do Sistema Único de Saúde, é necessário que o fonoau- diólogo incorpore as estruturas de vigilâncias à sua prática, identifi cando e modifi cando os riscos provenientes das atividades ocupacionais. Assim, a vigilância tem que ter caráter antecipatório, pos- sibilitando o fornecimento de informações importantes para o planejamento de ações, garantindo a qualidade da assistência à saúde da população de trabalhadores.
Por outro lado, nos últimos 10 anos, in- fluências da prática cotidiana da vigilância em saúde do trabalhador também podem ser no- tadas, por contraposição e por interlocução entre instituições, empresas e trabalhadores, como a discussão permanente de limites de to- lerância à exposição aos agentes químicos no ambiente de trabalho. Estudos epidemiológi- cos e toxicológicos e o processo de negociação estabelecido caso a caso (Mattos et al., 1995) muitas vezes se contrapõem aos valores insti- tuídos pela legislação e se incorporam ao de- bate interno da Higiene Industrial (Castleman & Ziem, 1988; Arcuri & Cardoso, 1991) na cons- tante perseguição dos patamares seguros para os valores dos indicadores de exposição bioló- gicos e ambientais, para que cheguem os pri- meiros à normalidade fisiológica e ao mínimo tecnicamente possível nos índices ambientais. Outro exemplo de temática recorrente é o estabelecimento de nexo causal entre as con- dições de trabalho e os casos de doenças, em que a fragmentação institucional tem efeito restritivo, e a previdência social, por intermé- dio da perícia médica do Instituto Nacional de Seguridade Social-INSS, tem a palavra final. Em locais onde houve uma integração com ou- tros órgãos do subsistema de saúde do traba- lhador, como em Belo Horizonte com a criação do Núcleo de Saúde do Trabalhador-NUSAT , ou onde são estabelecidos atendimentos dire- cionados aos trabalhadores no SUS, com a criação de centros de referência, foi significati- vamente ampliado o número de doenças rela- cionadas ao trabalho (Buschinelli, 1994), de- monstrando a existência de epidemias sub- mersas na incompetência institucional calcada na deformação técnica, na falta de articulação entre as ações de avaliação clínica e aquelas realizadas no local de trabalho, e nos critérios de avaliação, voltados para a diminuição de pagamento de prêmios do seguro.
Resum o A experiência de acom panham ento do Acordo do Benzeno é relatada e contextua- lizada com o prática de vigilância em saúde do trabalhador. Sendo destacados o processo de- senvolvido internacionalm ente e a evolução dos últim os 20 anos de história na redução do uso do benzeno no Brasil. A periodização apre- sentada aponta para quatro momentos distin- tos. Inicialmente o momento em que são cons- tituídas as bases técnicas e alianças fundamen- tais que vão propiciar o acordo; a seguir, o pe- ríodo de formatação do acordo com seus avan- ços conceituais, de restrição de uso do benze- no e de estabelecim ento de form as de acom pa- nham ento; e posteriorm ente o resultado desse processo de acompanhamento com seus desafios e propostas a serem colocadas em prática no futuro. O m odelo de vigilância em saúde do trabalhador do Brasil é discutido à luz das ações relacionadas ao benzeno e da consolida- ção de seus elem entos estratégicos e estrutu- rantes.
Frente às mudanças no mundo do trabalho contemporâneo e suas repercus- sões sobre a saúde e o ambiente, novos desafios se impõem à Atenção Integral à Saúde do Trabalhador no Sistema Único de Saúde. Com o objetivo de analisar as experiências neste campo, estudamos o Projeto de Vigilância dos Postos de Combustível do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador de Campinas/ SP. A partir de entrevistas com profissionais de saúde e outros atores envolvidos no projeto, reconstruímos seu percurso, avaliando potencialidades e dificulda- des enfrentadas. Observamos que a construção coletiva das ações e a formação de agentes para a realização da vigilância nos postos de combustível articulou profissionais de diversas formações, especialidades e de diferentes instituições. Para os entrevistados, tal processo ampliou o olhar dos envolvidos sobre a expo- sição ao risco químico e uniu esforços, repercutindo na melhoria das condições de trabalho, no aumento do controle social e na regulamentação das formas de produção, distribuição e consumo dos combustíveis. As dificuldades apontadas consistem naquelas relativas ao trabalho em grupos, ao que se alia a sobrecar- ga de trabalho. Concluímos que a definição de ações prioritárias que visem à formação de redes intra e intersetoriais é estratégica para modificar de forma positiva os processos de trabalho em prol da saúde e ambiente.
Resumo Este artigo aborda a questão da saúde mental no contexto da vigilância em saúde do tra- balhador (VISAT). Busca-se apresentar aspectos teóricos e políticas institucionais que contribuam para incorporar dimensões da saúde mental nos processos de Visat, considerando a necessidade premente de responder a essa demanda que cada vez se torna mais explícita na área de saúde do trabalhador, especialmente no âmbito da Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Traba- lhador (RENAST). Nessa direção, são sistemati- zadas e discutidas algumas abordagens teóricas e experiências práticas em saúde mental e trabalho. Realiza-se também uma reflexão em torno das estratégias possíveis para a integração da saúde mental no escopo das ações de VISAT. Entende- se que a origem dos sofrimentos e agravos guarda estreita relação com os elementos que compõem a organização e a gestão do trabalho e, nesse senti- do, as ações da vigilância devem incluir e identi- ficar os componentes geradores desses agravos. A diversidade de sofrimentos gerados nas condições e processos de trabalho exige um grande investi- mento para conhecer e transformar as situações que lhes dão origem.
A vigilância em saúde do trabalhador, enquanto campo de atuação, distingue-se da vigilância em saúde em geral e de outras disciplinas no campo das relações entre saúde e trabalho por delimitar como seu objeto especíico a investigação e intervenção na relação do processo de trabalho com a saúde. Na prática, entretan- to, essa concepção não está ainda incorporada em seu sentido amplo, dados sua fragmentação e o pequeno grau de articulação existente entre os componentes diretamente envolvidos nessa relação (Tambellini, 1986). O atual modelo brasileiro de vigilância em saúde do trabalhador conigura-se nessa polarização: de um lado, a perspectiva de ampliação da atuação institucional, aliada ao movimento sindical relativo às condições de saúde e trabalho, implanta ações de saúde do trabalhador no ainda incipiente SUS; de outro, a atuação institucional, restrita às ações das Divisões Regionais do Trabalho, aliada a um controle gerencial interno das empresas, estabelece, a partir de pressões e políticas industriais, os parâmetros de autovigilân- cia, constituindo um modelo patronal de intervenção (Machado, 1997) ou que, simplesmente, se demonstra ineicaz (Oliveira, 1994). Em síntese, esse processo de conlito e de interação está presente no modelo brasi- leiro de vigilância em saúde do trabalhador .
Atualmente, a Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (Renast), atualizada pela Por- taria MS nº 2.728/09 (BRASIL, 2009), tem respondido às dificuldades, em especial no que tange aos recur- sos e à capacitação. Por outro lado, uma nova limita- ção se apresenta justamente pelo modelo Renast que, segundo Gomez e Lacaz (2005), adotou o modelo de serviços específicos de nível secundário, em apoio à rede SUS, substituindo o modelo anterior que as- sumia a compreensão da categoria trabalho e articu- lava a assistência com a vigilância a partir da pers- pectiva do trabalho como determinante de formas específicas de morbimortalidade. Esta articulação se dava particularmente com a inserção dos serviços na esfera de gestão no nível central. O modelo atual, com a priorização da assistência, acaba por apresentar um impacto pequeno na intervenção sobre os ambientes e os processos de trabalho nocivos à saúde (GOMEZ; LACAZ, 2005). Esta situação ainda não se mostrou de melhor operacionalidade com a inserção da Saúde do Trabalhador na Secretaria de Vigilância em Saúde, no âmbito do Ministério da Saúde, e copiada pelas estru- turas adjacentes de Estados e Municípios.