Os achados foram classiicados, contextua- lizados e interpretados à luz da literatura sobre a reformapsiquiátrica e a assistência ao doente mental, o que permitiu a construção de uma ver- são original sobre a atuação do enfermeiro em um cenário especializado. Além disso, o respaldo teórico dos conceitos de habitus e campo do soci- ólogo francês Pierre Bourdieu, evidenciou que a aquisição de capital cultural sobre assistência ao doente mental, pelos enfermeiros, consoante com as mudanças no campo da psiquiatria, conferiu poder aos detentores desse capital para enunciar o discurso autorizado sobre a assistência de en- fermagem em acordo com o novo paradigma, isso porque os indivíduos ou grupos ocupam posições no campo que dependem do capital acumulado. Por isso mesmo, a aplicação do conceito de ha- bitus se justiica pelo entendimento deste como uma disposição incorporada que funciona como princípio gerador do que fazemos ou das respos- tas que damos à realidade social. O conceito de campo subsidiou a compreensão da CSVR como espaço de trocas sociais entre os sujeitos envolvi- dos com o processo de transição da nova proposta de assistência psiquiátrica no município de VoltaRedonda.
Nas últimas décadas, a assistência à saúde mental no Brasil, sustentada pelo modelo convencional de exclusão social, que retira a pessoa do seu convívio, por meio de internações em instituições psiquiátricas, vem passando por transformações, sendo que a ênfase está em uma assistência comunitária e territorial, com a inclusão dessa pessoa nos planos dos direitos e do convívio social. Essas mudanças caracterizam o movimento pela ReformaPsiquiátrica, a qual inclui ações políticas de desinstitucionalização e propõe a ressignificação do sujeito, não apenas a partir da doença, mas considerando também que há implicações culturais, sociais, éticas, políticas e humanas e, principalmente, valorizando a idéia de fazer valer seus direitos de cidadania, preocupando-se com a sua saída das instituições psiquiátricas e com a viabilização dos instrumentos de suporte financeiro e social. Nesse contexto, o Programa “De Volta para Casa” insere-se como estratégia política no Brasil desde 2003 e tem como meta a inserção social de pessoas egressas de longas internações em hospitais psiquiátricos, por meio do auxílio- reabilitação psicossocial. O objetivo deste trabalho foi o de analisar o processo de implementação do Programa “De Volta para Casa” no município de Ribeirão Preto- SP, apontando as suas possibilidades e limites. A metodologia, de natureza qualitativa, foi conduzida por meio de seis (6) entrevistas semi-estruturadas com a equipe de saúde que coordena o referido Programa. Nos resultados e discussão são apresentados o processo de implantação do Programa “De Volta para Casa” no município de Ribeirão Preto e os seguintes temas de análise: o uso do auxílio reabilitação psicossocial, as limitações dos beneficiários decorrentes da institucionalização e o Programa “De Volta para Casa” - seus avanços e desafios. Diante da análise realizada, o processo de implantação ocorreu com dificuldades e seu desenvolvimento inicial mostrou incoerência entre a proposta de reinserção social e sua execução no município. O Programa abre possibilidades aos beneficiários de participação nos espaços sociais e ampliação do poder de troca; entretanto, alguns limites foram expostos com relação às limitações físicas e psicossociais dos usuários, o que exige, da equipe de saúde, o desenvolvimento de ações não apenas centradas no assistencialismo, mas que envolvam o acompanhamento, com criatividade e flexibilidade no cotidiano dos beneficiários, além de avaliações contínuas dos mesmos e do Programa como um todo.
Os proissionais que atuavam no interior das Residências Terapêuticas puderam ser contratados como técnicos de enfermagem, independente da classiicação quanto ao tipo I ou II que mais se assemelhavam. Nesse caso, a contratação dos téc- nicos de enfermagem não levaria a prejuízo maior, naquele momento, uma vez que as Residências, à época da implantação, não atendiam a todas as normas estabelecidas para o cadastramento ao SUS. Portanto, ainda precisavam ser feitos alguns ajustes para que esse novo dispositivo da rede de saúde mental icasse de acordo com o preconizado pelo Ministério da Saúde.
Para análise dos dados, foram utilizadas fontes secundárias que abordaram a ReformaPsiquiátrica, suas implicações para enfermagem e a sociedade e os estudos de história da enferma- gem sobre o tema. Essas fontes foram compostas por uma dissertação, localizada no Centro de Estudos de Saúde Mental (CESAM) da CSVR e na Biblioteca Setorial da Pós-Graduação da Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro; e artigos cientíicos indexados na base SciELO, identiicados a partir das buscas utilizando os descritores Enfermagem Psiquiátri- ca, Residência Terapêutica e História da Enfer- magem. Esse artigo, que aborda a implantação de Residências Terapêuticas em VoltaRedonda contribui para a análise sobre a implantação da ReformaPsiquiátrica no Brasil e como aconteceu a atuação do enfermeiro em um cenário de aten- dimento ao portador de distúrbios mentais, em VoltaRedonda, contribuindo para demarcar mais um espaço de atuação e consequente reairmação de sua importância para a sociedade.
2006), identificamos três diferentes formas de subjetivação predominantes entre aqueles que se ocuparam com o cuidado com a loucura, diretamente relacionadas com o regime de verdades de cada época. Assim, o discurso religioso, predominante à época do Brasil Colonial e Imperial, forjou um modo de subjetivação no qual o cuidador não tinha como preocupação curar o louco, mas garantir sua própria salvação espiritual, já que o cuidado estava relacionado à caridade - uma forma de expiar pecados e assegurar a salvação eterna. A partir do século XIX, é o discurso médico que detém a verdade sobre a loucura, inaugurando o trabalho especializado no cuidado com o que passou a ser denominado “doença mental”, com destaque para as figuras do médico psiquiatra - responsável desde a construção e administração do hospital psiquiátrico, até a definição e cura da doença mental - e o enfermeiro psiquiátrico - colocado em último lugar na escala hierárquica, que exercia prioritariamente a função de vigilante. Finalmente, outro discurso, identificado como ReformaPsiquiátrica, começou a disputar com o discurso médico, a legitimidade nos jogos de verdade a respeito da loucura, do louco e seu cuidado, propondo um deslocamento do saber médico-psiquiátrico para a interdisciplinaridade, da noção de doença para a de saúde, dos muros dos hospitais psiquiátricos para a circulação pela cidade, ou seja, uma passagem do discurso médico para o discurso da cidadania.
Esse movimento requer mudanças e o manejo de resistências tanto na atenção em saúde, quanto no ensino de enfermagem. Vale destacar que esse é um processo dialético, pois ao mesmo tempo em que lutamos contra práticas tradicionais de saúde, as legitimamos mantendo as condutas tecnicistas, curativas e o modo burocrático de gestão. As transformações são percebidas na Constituição, Leis, Resoluções, LDB, Diretrizes Curriculares Nacionais, implementação da ESF e dos serviços substitutivos na atenção à saúde mental. Em contrapartida, alguns entraves devem ser superados, como o modo rígido e formatado de gestão da ESF por meio de execução de programas prescritivos; a complexidade da implantação do processo de ReformaPsiquiátrica e as dificuldades da sua sustentação se não estiver sintonizado com os dispositivos de atenção primária, e ainda a necessidade de formação de uma rede de atenção e integração entre os serviços.
Destacaram-se, na sessão de abertura, as presenças da Coordenadora de Saúde Mental do Ministério da Saúde - Eliane Seidl, do Coordenador Geral do Brasil, dos Centros Colaboradores da OMS, na época Valentin Gentil Filho, e de representantes dos Secretários de Saúde do Estado e do Município de São Paulo.
Gráfico é a tentativa de se expressar visualmente dados ou valores numéricos, de maneiras diferentes, assim facilitando a compreensão dos mesmos (WIKIPEDIA, 2015). Q[r]
Dessa forma, é relevante pesquisar na área do acompanhamento terapêutico com o objetivo de compreender uma modalidade de cuidado não convencional que auxilia no processo de reinserção social dos sujeitos com transtorno psíquico no meio social. Destaca-se a enfermagem como profissão e ciência do cuidado, que está ao lado e presente junto aos usuários, revelando-se fundamental no seio da equipe interdisciplinar e na consolidação da ReformaPsiquiátrica. Ainda, especificamente neste serviço, a enfermagem desenvolve seu trabalho baseada nos princípios do acompanhamento terapêutico, utilizando métodos de cuidados, a fim de contribuir para a reabilitação e a reinserção social destes sujeitos, contribuindo no campo da saúde mental, o cuidado em liberdade, favorecendo a construção da autonomia, da cidadania e da busca da identidade de cada indivíduo, questões primordiais na reabilitação psicossocial. Com isso, o presente estudo pretende analisar as atividades e atribuições do acompanhamento terapêutico desenvolvidas pela enfermagem em um Serviço Residencial Terapêutico.
Estudio teórico acerca del proceso de forma- ción en Enfermería Psiquiátrica y Salud Men- tal, frente a los crecientes cambios en el mundo globalizado y su acelerado proceso de modernización científica y tecnológica. Objetiva discutir el quehacer pedagógico en la enseñanza de Enfermería Psiquiátrica y Sa- lud Mental, y su conexión con los principios de la ReformaPsiquiátrica y de las Directri- ces Curriculares Nacionales de los Cursos de Graduación en Enfermería. Para su susten- tación teórica, adopta como referencia algu- nos constructos de la ReformaPsiquiátrica y de las Directrices Curriculares Nacionales del Curso de Graduación en Enfermería, y su re- lación con factores constituyentes del que- hacer pedagógico en la Enfermería Psiquiá- trica y Salud Mental. Evidencia que no basta apuntar cuestiones técnicas relativas a con- tenidos y enseñanza, procedimientos didácticos, métodos y técnicas pedagógicas; es necesario superar desafíos e implementar los cambios, guiándose por una nueva pers- pectiva, y osando colocar en cuestión la na- turaleza del saber y de las prácticas institucionales psiquiátricas.
Nesse sentido, percebece-se que apesar das pro- postas da ReformaPsiquiátrica serem amplamente difundidas e conhecidas entre os universitários, o pre- conceito frente ao doente mental ainda é muito presente entre esses indivíduos, ancorado em ideias e valores da era manicomial, caracterizada pela exclusão, pela medi- calização e pela tutela dos portadores de transtornos mentais. Acerca disso, Maciel (2012) pontua que a rup- tura deinitiva com o manicômio deve contrapor-se à negatividade patológica, que articula conceitos, como incapacidade, periculosidade, invalidez e inimputa- bilidade como modos próprios e inerentes à loucura. Assim, é necessário que a Reforma atinja o campo ideológico, transformando a relação da sociedade com
O Seminário Nacional de Enfermagem em Saúde Mental, realizado em 1994, que tinha entre seus objetivos verificar quais aspectos da reforma psiquiátrica estavam sendo contemplados nos c[r]
Exemplo bastante forte desta política tem sido os anúncios dos ministros da Previdência Social (Sr. Berzoini) e da Fazenda (Sr. Palocci) do governo Lula, de que o teto do Regime Geral [r]
Analisar o cuidado de enfermagempsiquiátrica no con- texto da internação implica na responsabilidade de enfren- tar o desafio de encontrar respostas para uma prática de difícil teorização e sistematização, relacionada às próprias incertezas do tratamento do transtorno mental, e principal- mente, por se tratar de uma prática com muitas dimensões. Habitualmente, todo paciente admitido em uma uni- dade de internação, independente da clínica apresentada, espera receber um cuidado de qualidade pela equipe de enfermagem que irá atendê-lo. Porém, ao nos depararmos com a situação específica da internação psiquiátrica invo- luntária, em que o paciente deixa claro não querer estar ali e nem desejar receber qualquer cuidado prestado, as características dessa internação causarão implicações para a relação enfermagem/paciente, no contexto do cuidado prestado pela enfermagem.
A respeito das práticas avaliativas nas escolas a avaliação da aprendizagem enquanto ato valorativo (juízo de valor) que remete a uma ação posterior indica que mais comumente o que [r]
que a Organização Mundial de Saúde (OMS) organizou um Comitê de Expertos em EnfermagemPsiquiátrica, que se reuniu em Genebra, de 29 de agosto a 3 de setembro de 1955, para discutir a prática e a formação em enfermagempsiquiátrica. Tal comitê era composto por nove membros efetivos e três consultores. Os membros efetivos eram cinco enfermeiras psiquiátricas (representantes dos EUA, da Inglaterra, da Suécia, da Austrália e da União Sul-Africana) e quatro médicos, representantes da Inglaterra, dos Países Baixos, da Tailândia e do Egito. Como consultores, participaram uma enfermeira (dos EUA) e dois médicos (dos EUA e da Austrália). Em seu relatório, o Comitê recomendou que os programas de ensino fossem pautados no processo saúde/doença mental; no estudo das relações humanas, em diferentes grupos sociais, bem como em conhecimentos e técnicas sociais e psicológicas, necessárias à prática cotidiana da enfermagempsiquiátrica. O Comitê enfatizou ainda a necessidade de que a aluna desenvolvesse um autoconhecimento que lhe possibilitasse o desempenho de relações terapêuticas com pacientes em qualquer estágio da doença mental 5 .
A presente Orientação destina-se a dar cumprimento à Lei n.º 102/2009, de 10 de setembro, que estabelece o regime jurídico da promoção da saúde e segurança do trabalho, criando um registo de enfermeiros a prestarem cuidados de enfermagem do trabalho. São estabelecidos os critérios e procedimentos necessários para o reconhecimento de habilitação e para a autorização transitória para o exercício de enfermagem do trabalho.
O segundo desdobramento foi ter bloqueado por quase dois anos o empréstimo que o BM faria ao governo federal para financiar o Banco da Terra em todo país. Em outras palavras, foi a pressão internacional sobre o Painel de Inspeção que tencionou a negociação do novo empréstimo do BM ao governo brasileiro, a qual encontrava-se em estágio avançado em dezembro de 1998 (BANCO MUNDIAL, 1999, p. 3). Criou-se uma situação de impasse, na medida em que a implantação em larga escala do MRAM no Brasil não encontrava o necessário respaldo político. Afora o setor patronal ⎯ sempre a favor ⎯, havia apoio político apenas em nível local, por parte de alguns sindicatos de trabalhadores rurais no Nordeste, do braço agrário da Força Sindical em São Paulo e, mais importante, das federações sindicais nos estados do Sul, cuja bandeira central nunca foi a luta por terra, mas sim a disputa por políticas agrícolas mais favoráveis aos pequenos agricultores. Existia, portanto, uma adesão concreta de entidades sindicais, em parte reflexo da adesão social a tais programas. Porém, o fato era que as principais organizações nacionais de representação de trabalhadores rurais ⎯ a CONTAG e o MST ⎯ posicionavam-se em bloco contra o novo modelo através do Fórum Nacional pela Reforma Agrária e Justiça no Campo. Enquanto houvesse unidade política das entidades que compunham o Fórum
* Professor Assistente Doutor da disciplina Enfermagem Psiquiátrica da EEUSP.. ** Professor Assistente da disciplina Enfermagem Psiquiátrica da EEUSP.[r]