2.5. MECANISMOS DE PROMOÇÃO DE CRESCIMENTO VEGETAL DAS
2.5.3. Ácido indol-3-acético (AIA)
O ácido indol-3-acético (AIA) é o mais estudado entre as auxinas e mais predominante nas plantas e é conhecido por regular o crescimento e desenvolvimentos dos vegetais em três aspectos principais, divisão, alongamento e diferenciação celular (Teale et al. 2006). Desse modo, na raiz o AIA regula a formação da raiz embrionária, raízes laterais e de emergência, enquanto, na parte aérea, o hormônio regula a formação de flores e folhas, atuando também na distribuição dessas folhas ao longo do caule (filotaxia), além de coordenar os processos de senescência e abscisão foliar e floral (Weijers et al. 2018; Li et al. 2016; Teale et al. 2006).
As SH são dotadas de atividade semelhante ao AIA. A sinalização exógena fornecida por SH, além de promover efeitos biológicos similares à auxina, atuam na translocação do AIA endógeno (Trevisan et al. 2010). Sintetizado principalmente nas folhas jovens (Zhao 2010), necessita ser transportada para diversos tecidos e órgãos vegetais que são locais alvos da ação do fitormônio. As SH otimizam o transporte de AIA, modulando a transcrição de genes que codificam proteínas transportadoras do hormônio (Tahiri et al. 2016). O influxo de AIA é facilitado por membros das famílias permeases AUXIN RESISTANT1 (AUX1) (Marchant et al. 1999) e LIKE-AUX1 (LAX1) (Swarup & Péret 2012), e o efluxo por membros das famílias PIN-FORMED (PIN) (Carraro et al. 2006) e P_GLYCOPROTEIN ABC transporter (Geisler & Murphy 2006).
A sinalização por AIA influencia a expressão de um conjunto grande e diversificado de genes em uma via dependente do hormônio, a TRANSPORT INHIBITOR RESISTANT 1 (TIR1). Na ausência de auxina, proteínas repressoras AUX/AIA, se ligam a um fator de transcrição, denominado Auxin Response Factors (ARFs), inibindo os ARFs de se ligarem a promotores de genes que são induzidos pela auxina (Mockaitis & Estelle 2008). A proteína TIR1 e a Auxin F-box Binding
(AFBs), (TIR1/AFB), são receptoras de auxina e componentes do complexo ubiquitina E3 ligase, denominado SCF. Quando os complexos SCFTIR1/AFB são ativados pelo AIA, ubiquitinam as proteínas AUX/AIA, promovendo sua degradação pela proteassoma 26S (Figura 1). Com a remoção da AUX/AIA dos ARFs, os fatores de transcrição ficam livres, formam dímeros ARF/ARF e se ligam a uma região promotora conservada dos genes, denominada de Elementos de Resposta à Auxina (AuxRE: TGTCTC), modulando genes responsivos à auxina (Wang & Estelle 2014; Grones & Friml 2015).
Em milho, foram identificados 36 genes que codificam os fatores de respostas a auxina (ZmARFs) (Wang et al. 2012). Além de membros desta família serem regulados por auxina endógena e exógena, alguns também são regulados por microRNAs (Xing et al. 2011). Membros de ZmARF na presença de auxina induzem a expressão de genes que codificam enzimas de remodelação de parede celular, expansinas, canais iônicos e ATPase de membrana plasmática que desencadeiam o processo de expansão celular (Perrot-Rechenmann 2010) (Figura 1).
Figura 1 - Mecanismo de expansão celular induzido por auxina exógena presente em SH. O
esquema representa os efeitos na parede celular e membrana plasmática promovidos pela ação da auxina. A auxina é reconhecida por uma proteína receptora (ABP1) que interagem com outras proteínas de membrana plasmática. Isso ativa a bomba de prótons ATPase, provocando acidificação (H+) no apoplasto e, por conseguinte, ativação das expansinas que
favorecem o afrouxamento da rede polissacarídica da parede celular (celulose, hemicelulose e pectina). A atividade da H+-ATPase também induz a hiperpolarização da membrana
plasmática, levando a ativação de canais iônicos como o de potássio (K+), sendo os íons,
essenciais para geração um gradiente eletroquímico, atuando na captação de água para o meio intracelular e manter a pressão de tugor no vacúolo, contribuindo no processo de expansão celular por aumento do volume interno. A atividade da bomba de H+, ainda,
garante o influxo de nitrato para o citoplasma da célula, onde NO3- se acopla ao H+, e ambos
passam pelo de transportador de NO3-. Além dos efeitos não transcricional induzido pela
auxina, também modulam a expressão de genes que codificam ATPase de membranas, canais iônicos, proteínas condutoras de água (aquaporinas), transportadores de nitrato, enzimas que atuam na remodelagem (expansinas), e outros componentes da parede celular. Esquema adaptado de Perrot-Rechenmann (2010).
A sinalização mediada por auxina tanto endógena quanto exógena, promove a ativação não transcricional das H+-ATPases. A auxina é percebida por uma
proteína receptora (ABP1), que interage com a proteína CBP1 e outras proteínas desconhecidas de membrana. Essas interações provocam ativação das H+-ATPase
de membrana plasmática que acarretam numa rápida acidificação por extrusão de prótons (H+) no apoplasto, favorecendo ações enzimáticas (expansinas) que
promovem um relaxamento da parede celular, gerando condições para o alongamento celular de acordo com a teoria do crescimento de ácido (Rayle & Cleland 1992; Canellas 2014; Perrot-Rechenmann 2010). A atividade das H+-
ATPases não apenas favorece o processo de alongamento celular, como também, tem um papel importante no influxo de nutrientes. O influxo de NO3-, por exemplo,
consiste num transporte acoplado dependente de prótons H+. Portanto, o aumento
da extrusão de prótons H+ pela ATPase de membrana plasmática possui uma
relação direta com a absorção do nitrogênio pelos vegetais (Sorgonà et al. 2011; Mora et al. 2010).
Além da ativação das H+-ATPases por auxina, o hormônio induz a expressão
de uma família multigênica (MHA) que codificam as H+-ATPase de membrana
plasmática na via SCFTIR1/AFB (Perrot-Rechenmann 2010). Esta mesma via é responsável pela biossíntese de canais de íons como potássio (K+) (Philippar et al.
relacionados a transportadores de NO3- e canais condutores de água, conhecidos
como aquaporinas (Péret et al. 2012). As proteínas PIPs são aquaporinas de membrana plasmáticas, enquanto as TIPs são aquaporinas de tonoplasto (Kaldenhoff et al. 2008). A atividade dessas proteínas condutoras, principalmente de tonoplasto, facilita o influxo de água e manutenção da pressão de turgor no vacúolo, sendo esse processo essencial para o alongamento e crescimento celular (Perrot- Rechenmann 2010) (Figura 1).
2.6. TRANSCRIPTÔMICA PARA ANÁLISE FUNCIONAL DE PLANTAS TRATADAS