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Capítulo II. Caroço de algodão para cabras leiteiras: perfil de ácidos graxos da gordura do

4.4. Ácidos graxos insaturados

4.4.1. Ácidos graxos mono-insaturados

A concentração de ácidos graxos insaturados na gordura do leite de cabras passou de 24,73 para 26,82 g/100g de ácidos graxos totais. Esta resposta está associada aos aumentos, também lineares dos ácidos graxos mono e poli-insaturados, sendo ácidos graxos mono- insaturados aqueles que têm maior peso sobre este valor.

Os ácidos graxos monoinsaturados cis podem ser originados de três diferentes fontes: a) diretamente da dieta, ao passarem pelo rúmen sem que sejam modificados pelas enzimas microbianas; b) das rotas intermediárias da bio-hidrogenação dos ácidos graxos poli- insaturados; ou c) da ação da enzima Δ9-desaturase sobre o 18:0 na glândula mamária. Aproximadamente, dois terços de todo 18:0 absorvidos pela glândula mamária são

metabolizados pela enzima Δ9-desaturase, explicando, em parte, a elevada concentração do 18:1 no leite (Chilliard et al., 2003; Haug et al., 2007).

Os ácidos graxos mono-insaturados não promovem acúmulo de colesterol como fazem os ácidos saturados e também, não se tornam rancificados tão rapidamente quanto os ácidos poli-insaturados. Além disso, os mono-insaturados possuem um efeito positivo na concentração de HDL, transportando o colesterol do sangue para o fígado, para ser degradado a ácidos biliares (Park et al., 2007).

A adição de caroço de algodão na dieta das cabras não influenciou os teores de 18:1. Entre ácidos graxos mono-insaturados cis, este foi o que participou em maiores percentuais no leite, sendo que no presente estudo o mesmo ficou em concentrações médias de 19,14 g/ 100 g de ácidos graxos totais. Este resultado concorda com o que relata Markiewicz-Kęszycka et al. (2013), indicando que dentre os ácidos graxos mono-insaturados, o 18:1 é o que está presente em maior quantidade, e no caso de leite de cabra, este encontra-se em torno de 18% do total de ácidos graxos.

De forma distinta, o cis 9 18:1 não acompanhou a concentração do 18:0. A atividade da enzima Δ9-desaturase apresentou um ponto mínimo de 1,02 em 13,04% de inclusão de caroço na TMR. Concomitantemente, o 18:0 apresentou um ponto de máxima de 18,86 g/ 100 g de ácidos graxos totais em 13,83% de inclusão de caroço. É provável que a atividade da Δ9- desaturase tenha sofrido certo nível de inibição com o aumento crescente das concentrações de ácidos graxos poli-insaturados e de vários 18:1 trans, que conforme Chilliard et al., (2007) é um efeito sentido mais na espécie caprina se comparada com a bovina. No entanto, houve uma elevação linear do isômero de cis 9, 18:1, que é o trans 9, 18:1, demonstrando que o ambiente ruminal favoreceu a sua forma trans, pois muitos outros ácidos trans também apresentaram um aumento linear em suas concentrações.

A bio-hidrogenação do 18:0 é frequentemente apresentada como um passo único e direto para a formação do cis 9, 18:1, sem que haja qualquer intermediário. No entanto, Jenkins et al. (2007) mostraram que é muito comum a ocorrência de isomerização cis ou trans (cis/trans) desse ácido graxo, influenciada pela presença de diferentes espécies de bactérias no ambiente ruminal. Esses autores propuseram que a rota de bio-hidrogenação do 18:1 pode ocorrer tanto diretamente para o 18:1 como para formar ácidos graxos intermediários com cadeias oxigenadas e com duplas ligações entre os carbonos 6 e 16 da cadeia carbônica. Essa teoria é reforçada pelo fato de que vacas leiteiras alimentadas com dietas ricas em cis 9, 18:1

tendem a secretar leite com maiores teores de ácidos graxos 18:1 trans (Selner e Schultz, 1980).

Os ácidos graxos mono-insaturados trans, em sua maioria, apresentaram concentrações lineares no leite das cabras alimentadas com caroço de algodão na TMR. Isso indica que a bio-hidrogenação produziu muitos intermediários, que foram capazes de passarem pelo rúmen sem serem transformados enzimaticamente. Dentre eles, destaca-se o trans11, 18:1. Estima-se que 25% deste, que é formado no rúmen, é desaturado na glândula mamária para cis 9, trans 11, 18:2, o principal isômero de CLA no leite (Mosley et al., 2006).

Chama atenção as concentrações do trans10, 18:1 terem sido mantidas inalteradas pela presença do caroço na dieta. Ele é considerado um inibidor da lipogênese mamária em vacas (Lock et al.,2007; Kadegowda et al., 2009; Shingfield et al., 2009). Naquela espécie é comum observar mudança nas proporções de trans 10, 18:1 em relação àquelas de trans 11, 18:1 (aumento do primeiro e redução do segundo), quando ocorre suplementação lipídica na dieta (Toral et al., 2015). Esta alteração tem sido associada com a depressão da gordura de leite, sendo a elevação na concentração do trans 10, 18:1 utilizada como um biomarcador, indicando alterações nas rotas da bio-hidrogenação ruminal (Bernard et al., 2015). No entanto, segundo Toral et al. (2014) as vacas são mais suscetíveis a estas mudanças do que as cabras.

A Δ9-desaturase tem baixa atividade nos ácidos com menos de 18 carbonos, por isso os ácidos mono e poli-insaturados são majoritariamente do tipo de cadeia longa.

4.4.2. Ácidos graxos poli-insaturados

Os ácidos graxos poli-insaturados também estão presentes na gordura láctea, sendo o ácido linoleico ω-6, o α-linolênico ω-3 e os isômeros de CLA seus principais representantes (Parodi, 1997; Jensen, 2002; O’Donnell-Mengaro et al., 2011).

O ácido α-linolênico (ω-3) é o principal substrato endógeno na síntese ácido ecosapentaenoico (EPA) 20:5 cis 5, cis 8, cis 11, cis 14, cis 17, docosahexaenoico (DHA) 22:6 cis 4, cis 7, cis 10, cis 13, cis 16, cis 19 e o docosapentaenoico (DPA) 22:5 cis 7, cis 10, cis 13, cis 16, cis 9 que, posteriormente, são convertidos a eicosanoides. Estes ácidos graxos têm importante papel no controle da agregação plaquetária e, por consequência, na redução de doenças coronarianas em humanos (Haug et al., 1992). Já o ácido linoleico (ω-6) é o principal substrato endógeno na síntese do ácido araquidônico (20:4 cis 5, cis 8, cis 11, cis 14).

Para aumentar as concentrações de ácidos graxos poli-insaturados no leite de cabras é preciso a ingestão de óleos com estes ácidos e fatores que diminuam sua bio-hidrogenação no rúmen, como altas relações volumoso:concentrado e lipídeos ricos em ácidos graxos poli- insaturados protegidos, que no caso do caroço de algodão, tal proteção dá-se pela forma física como o óleo se mostra misturado às sementes, o que aliás dá-se com várias oleaginosas quando fornecida como grãos inteiros ou semi macerados.

O caroço de algodão possui altas quantidades de ácidos graxos de cadeia longa, sendo que o ácido linoleico (18:2) compõe 51,1% do total de ácidos graxos, o 16:0 22,7%, e o 18:1 17,0% (NRC, 2001).

Dentre os ácidos graxos poli-insaturados, o 20:4 cis 5, cis 8, cis 11, cis 14 apresentou concentrações quadráticas no leite em função da incorporação desses ácidos (caroço) em quantidades crescentes na ração das cabras. Este é um ácido produzido a partir do 18:2 n-6, que por sua vez cresceu linearmente. É provável que tenha ocorrido uma saturação da enzima responsável pela transformação deste a partir de seu precursor.

Diferenças na concentração de ácidos graxos de 20 a 22 carbonos não ocorreram entre os tratamentos, dado que, o caroço de algodão não se caracteriza por apresentar grandes quantidades destes ácidos graxos. Os mesmos teriam que ser fornecidos na dieta para que fossem detectados no leite. Trabalhos anteriores (Farina et al., 2015; Selegato et al., 2015) demonstraram que estes ácidos graxos são mais abundantes no leite de vacas e cabras que possuem óleo de peixe na dieta, e que este tipo de óleo é o que geralmente está associado à depressão da gordura do leite em cabras, que acontece em menor proporção nesta espécie (NRC, 2007).

Conforme Chilliard et al., (2000) a baixa transferência de EPA e DHA para a gordura do leite é devido a bio-hidrogenação que ocorre no rúmen desempenhada pelas bactérias ruminais. Somente em casos onde estes ácidos são fornecidos em grande quantidade é que excede a capacidade das bactérias em transformar tais ácidos, sendo assim, os mesmos escapam do rúmen e chegam ao intestino.

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