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próximo item, por exemplo, achamos relevante diferenciar os elementos aquáticos para observar diferenças nas ações do órgão internacional em reconhecer essas paisagens.

Figura 14 – Tabela explicativa das características culturais e físicas analisadas nas 30

Paisagens Culturais estudadas por Fowler. Fonte: FOWLER, p. 30, 2003.

O primeiro elemento estudado que aparece com mais frequência dentre as 30 Paisagens Culturais são os edifícios: mais da metade dos sítios apresentam esse elemento construtivo como significativo para a atribuição de valor universal, o que faz sentido ao observar a

frequência que o critério IV aparece nas justificativas. Os demais elementos significativos frequentes são de ordem natural como as cadeias montanhosas que aparecem em 16 dos 30 sítios representados e presença de água, que aparece em 21 sítios. Embora Fowler não faça distinção entre rios, mares e lagos, na nossa interpretação, essa distinção é relevante na hora de determinar se o valor universal de uma Paisagem é considerado relevante ou não justamente devido o primeiro dado apresentado pelo autor: o grande fator eurocentrista das decisões da UNESCO. Paisagens que mais se assemelham a padrões europeizados possuem maior chance de receberem o título? Por este motivo incluímos esta distinção em nossa análise que veremos no próximo item.

Fowler também já citou no início do seu estudo que as Paisagens Culturais nasceram de uma necessidade de proteger áreas rurais com grande valor cultural tradicional embutido, sendo assim, é evidente que grande parte das paisagens reconhecidas até então apresentem uma tendência a exaltarem mais suas qualidades e características naturais em detrimento de manifestações culturais humanas. Dez das trinta paisagens apresentadas já estavam sob a proteção de alguma legislação nacional antes de serem inscritas na listagem da UNESCO e 60% eram consideradas Paisagens Culturais rurais. Devido essa grande proporção de valor natural, a participação do IUCN é vital na avaliação da maioria dos casos encaminhados. A avaliação das Paisagens Culturais feitas pela IUCN é guiada pelas seguintes questões:

“- the presence of important natural and semi-natural ecosystems, and of wild species of fauna and flora;

- the presence of valuable of biodiversity within farming systems i.e. varieties of crops and livestock;

- the presence of sustainable land use practices;

- the existence of outstanding scenic beauty arising from the contrast between natural and artificial elements in the landscape.” (FOWLER, p. 33, 2003)

Outra característica recorrente é a presença de “towns” e “villages” dentro da área delimitada (23 paisagens no total), com muitos exemplares de arquitetura vernacular e pequenos aglomerados onde os habitantes, continuamente, tentam ganhar a vida. Embora o autor não faça uma descrição detalhada sobre o que entende-se por “towns” ou villages”, podemos perceber, pelos sítios listados, que nenhum dos representantes caracterizam áreas urbanas de larga escala, frutos de um processo de urbanização posterior ao séc. XIX. O valor da continuidade de uso

também aparece como característica marcante (21 dos sítios listados), muito atrelada ao grande número de paisagens enquadradas no critério V, que busca uma ligação entre um assentamento humano tradicional e seu respectivo modo de uso da terra.

O grande número de inscrições com essa característica, entretanto, pode indicar que a nova categoria de Paisagem Cultural esteja tornando-se apenas um refúgio para as sociedades mais conservadoras, levando a categoria à inércia. Deve haver espaço, continua Fowler, para as rupturas e mudanças também, expressando as experiências humanas no seu território natural:

“While of course the List must reflect examples of harmonious relations between nature and humanity, worldwide and through time that relationship is often far from harmonious. Nature can be very cruel to people; people can be very careless about their environment. A few disaster landscapes are required. They can illustrate not just the effects of such as earthquakes, volcanoes and floods but, more importantly in terms of cultural landscapes, the human reaction to natural disaster” (FOWLER, p. 33, 2003)

Dentre os aspectos imateriais listados pelo autor, 17 das paisagens contém elementos com significados importantes para a identidade nacional; 12 sítios apresentam forte dimensão religiosa ou sagrada e em 14 destaca-se a população local como parte importante na atribuição de valor à Paisagem Cultural reconhecida. Segue a tabela com o levantamento detalhado dos 30 sítios e suas respectivas características apresentado no artigo de Fowler (Figura 15 e Gráfico 7).

Um pouco mais adiante em seu estudo, já no capítulo 6, Fowler faz menção aos futuros direcionamentos que as Paisagens Culturais podem tomar dentro da UNESCO e, dentre as reflexões levantadas pelo autor está a questão das paisagens urbanas e industriais. Fowler critica abertamente a estreiteza com que o conceito das Paisagens Culturais vem sendo tratado e da pouca importância recebida pelas áreas urbanas e industriais, consideradas no meio acadêmico, paisagens culturais por excelência. Fowler aconselha: “Certainly the Committee would be advised, in the interests of maintaining the intellectual credibility of the World Heritage List, and of its concept of cultural landscapes in particular, to expand that concept, and its practice, to include urban landscapes, not just within cultural landscapes but as cultural landscape.” (FOWLER, p. 57, 2003)

Fowler termina sua publicação com uma lista com 12 recomendações para o Comitê do Patrimônio Mundial e, embora não podemos precisar quais delas foram de fato acolhidas pelo Comitê, é interessante observar um possível reflexo nas nomeações que se seguiram após esse estudo de 10 anos de prática das Paisagens Culturais.

Dentre as recomendações listadas está a necessidade da categoria estar explicitamente identificada no momento da inscrição do sítio; insistir na alta qualidade dos dossiês de candidatura, prezando pela qualidade e não pela quantidade de informações; melhorar os métodos de identificação, desenvolvimento e aplicação dos planos de manejo, trabalhando em conjunto com órgãos nacionais, sociedade local e iniciativa privada, além de elaborar um plano de monitoramento dos Sítios. Porém, dentre as recomendações mais relevantes citadas por Fowler está a necessidade de se expandir o conceito de Paisagem Cultural para englobar outros sítios além dos representantes rurais:

“Noting the concept of cultural landscape to be widely used and holistic in nature outside the World Heritage arena, certainly not restricted only to rural landscapes, the practice of identifying cultural landscapes for World Heritage purposes considers all types of landscape, for example urban, industrial, coastal and submarine, and, when finding such landscapes which express outstanding universal value and meet the criteria, inscribes them as cultural landscapes on the World Heritage List”. (FOWLER, p. 64, 2003)

Figura 15 - Tabela descritiva das características culturais e físicas analisadas nas 30 Paisagens Culturais estudadas por Fowler. Fonte: FOWLER, p. 31, 2003

Gráfico 7 – Resumo das características físicas e culturais das 30 Paisagens Culturais estudadas por Fowler de 1992 a 2002. Fonte: FOWLER, 2003 e gráfico elaborado pela

autora. 17; 8% 23; 10% 21; 10% 17; 8% 10; 5% 3; 1% 21; 10% 16; 7% 11; 5% 14; 6% 13; 6% 12; 5% 23; 10% 21; 9%

Características físicas e culturais das Paisagens Culturais de