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Esse processo de “retalhar” as áreas macro étnicas africanas permite, paulatinamente, que se possa observar a imensa variedade de povos e culturas desse continente. Seguindo esses passos, outros mapas podem ser elaborados como, por exemplo, na Área Norte a região do Maghreb ou na Área Sudanesa a região conhecida como África ocidental. Com isso se vai percebendo que termos como sudaneses e bantos são referências amplas no qual pouco se explica sobre as culturas e sociedades da África, mas que servem como parâmetros iniciais para que se possa adentrar, com maior acuidade, nas variadas situações específicas africanas. Esse referencial macro étnico é um expediente que pode auxiliar nas referencias geográficas africanas que se faz mais adiante quando da abordagem do processo de construção da historiografia

sobre a África. No entanto, isso não esconde a importância que tem a discussão da problemática das divisões regionais africanas. Por isso vale ainda se deter um pouco mais sobre essa questão.

Em oposição a uma divisão em duas Áfricas a partir da referência “etnocultural”, o aludido historiador africano Djait, utilizando duplo critério das relações internacionais e existência de documentação escrita, aponta para outra possibilidade de divisão em duas macro áreas africanas:

Assim somos tentados a opor uma África mediterrânica, desértica e de savana, incluindo o Magreb, o Egito, os dois Sudões, a Etiópia, o chifre da África e a costa oriental até Zanzibar, a uma outra África “animista”, tropical e equatorial - bacia do Congo, costa guineense, área do Zambeze-Limpopo, região interlacustre e, finalmente, a África do Sul. E é verdade que essa segunda diferenciação se justifica, em grande parte, pelo critério de abertura para o mundo exterior e, nesse caso, pela importância da penetração islâmica. Esse fato de civilização é confirmado pelo estado das fontes escritas, que opõem uma África bem servida de documentos - com gradações norte-sul - a uma África completamente desprovida deles, ao menos no período em estudo. “Mas a dupla consideração da abertura para o exterior e do estado das fontes escritas corre o risco de permitir julgamentos de valor e de ocultar sob o véu da obscuridade quase metade da África (central e meridional)” (DJAIT, 2010, p. 81).

Percebe-se que mesmo divisões baseadas nos critérios acima elencados podem levar a um juízo de uma área desenvolvida e outra atrasada. Isso significa reforçar a ideia de que houve uma área da África que não possuía história até a chegada de povos estrangeiros. Estas reflexões nos levam a pensar que devemos ter cautelas com o recurso às macro divisões africanas. Djait pensa que a solução mais adequada seria criar modelos com múltiplas áreas, o próprio historiador tunisino elaborou um exemplo constituinte de várias regiões históricas africanas argumentando que “essa classificação tem a vantagem de não opor duas Áfricas; estrutura o continente segundo afinidades geo-históricas orientadas dentro de uma perspectiva africana...” (DJAIT, 2010, p. 82). Em outro momento desse trabalho é retomada a questão da possibilidade em se criar modelos de múltiplas áreas históricas da África. Neste momento cabe registrar que apesar de estar ciente de suas debilidades, para iniciar o entendimento do processo histórico de criação de uma historiografia sobre a África, que se discorre a partir de agora, o referencial da divisão macro étnica pode auxiliar na localização mais ampla de regiões e povos africanos.

Discuti-se a seguir a possibilidade de existência de trabalhos sobre a história africana durante a Antiguidade. Como a cronologia da história da África não

corresponde à da Europa cabe a resalva do medievalista tunisino de que “aqui, a noção de Antiguidade certamente não se compara à que vigora na história do Ocidente, na medida em que só se identifica parcialmente com a Antiguidade “clássica”; o período não se encerra com as denominadas invasões bárbaras, mas com o súbito aparecimento do Islã.” (DJAIT, 2010, p. 80). Reflexões importantes sobre essa temática podem ser encontradas no texto anteriormente citado de John Fage, como também no capítulo cinco do primeiro volume da Coleção História Geral da África escrito pelo igualmente citado Hichem Djait. Nestes dois artigos, tanto o africanista inglês como o historiador africano coloca que as iniciativas de pesquisas históricas sobre a África na Antiguidade estavam concentradas na porção norte desse continente.

Ambos os autores mencionam os trabalhos de Heródoto que estudou as civilizações do norte da África e a região da Núbia, resaltando que o objetivo do historiador grego era o conhecimento do mundo a seu alcance e não propriamente a África como objeto específico de estudo. Djait salienta que muitos escritores da Antiguidade tiveram uma preocupação em conhecer a África, inclusive, “entre os autores, encontramos grandes nomes, que, embora, em sua maioria, não tratem especificamente da África, concedem-lhe um lugar mais ou menos importante dentro de uma perspectiva mais ampla” (DJAIT, 2010, p. 86). A questão levantada é que esses escritos antigos não podem ser considerados como obras relacionadas à historiografia da África, se constituindo mais precisamente como fontes para construção da historia africana antiga. Nisso está sua importância, pois estas fontes comprovam a historicidade africana nesta época.

A ideia central apresentada por esses autores é que na Antiguidade os trabalhos relacionados ao conhecimento histórico não tomaram a África como objeto específico de seus estudos. Mesmo assim, os gregos, por exemplo, consideravam a África mediterrânea como parte do mundo por eles alcançada e por isso sendo objeto de suas observações e descrições. No norte africano houve incursões diretas desses escritores antigos no intuito de estudar as culturas existentes, sendo que na África subsaariana as informações contidas nos textos antigos são esporádicas e o pouco conhecimento que adquiriram era proveniente de intermediários (FAGE, 2010).

Se pode então propor que a rigor não existiu uma historiografia africana na Antiguidade, mas escritos estrangeiros que fizeram abordagens a respeito das sociedades e culturas africanas desta época, sendo isso o início da interpretação exógena da África. A esse respeito o mencionado historiador norte africano avalia que

“é fato que, desde a época helenística, a maior parte de nossas fontes antigas é escritas em grego e latim.” (DJAIT, 2010, p. 80). Neste aspecto é importante lembrar que embora estivesse sujeito às interpretações estrangeiras, o caso do Egito antigo traz mais complexidade a essa questão à medida que tinha uma escrita própria com um rico manancial de textos históricos de origem interna, se configurando como um exemplo de construção de uma produção autóctone do conhecimento histórico africano. O mais adequado seria não negar a existência de uma produção africana de sua história na Antiguidade, mas acentuar a preponderante visão estrangeira sobre a África neste período.

O conhecimento do passado das sociedades africanas ampliou-se substancialmente a partir da chegada dos árabes. Na visão do historiador Djait, o significado da presença muçulmana sobre a história e a escrita histórica da África possui um caráter de mudança radical, representando um novo período. A favor dessa ideia o autor argumenta que “precisamente pela profundidade e alcance de seu impacto, o Islã representa uma ruptura com o passado que poderíamos chamar antigo, pré- histórico ou proto-histórico, conforme a região.” (DJAIT, 2010, p. 80). Trata-se aqui de um pensamento elaborado por um historiador com formação na cultura islâmica, o que é comum na historiografia africana, desde tempos remotos até a atualidade. A ideia de uma missão civilizatória islâmica para as sociedades africanas não é novidade, precedendo ao mesmo procedimento criado pelos europeus. Essa crítica não deixa de reconhecer a importância que os estudiosos mulçumanos tiveram para ampliar e requalificar a escrita da história da África. Neste sentido, o referido historiador africano, quando aborda a produção de documentação e obras históricas sobre a África, é coerente em colocar que “o século VII, século do aparecimento do Islã e das fontes árabes, deve ser considerado o início de uma nova idade...” (DAJAIT, 2010, p. 80). É possível Levantar a possibilidade de vir a considerar o período islâmico como sendo o início de uma historiografia africana, em detrimento do período anterior, a Antiguidade, que proporcionaram escritos documentais de relevada importância.

A ação islâmica se deu em três áreas do continente africano: ao norte, compreendendo o deserto do Saara e a África mediterrânea; na área ao sul do Saara, conhecida como Faixa Sudanesa e na costa indica africana, região oriental do continente. Desta época, surgiram obras feitas por escritores árabes ou africanos que escreviam em língua árabe. O comércio transsaariano permitiu que eruditos mulçumanos de várias origens tivessem contato com as civilizações do Saara, da faixa

sudanesa e da floresta ocidental africana. As caravanas comerciais do Saara favoreceram a presença de mulçumanos árabes e africanos nestas regiões, criando oportunidades de conhecerem os reinos sudaneses, assim como, em contato com a tradição oral, de escrever obras sobre estas sociedades. Do mesmo modo, o comércio da costa oriental africana levou vários eruditos árabes a percorrem as cidades costeiras e portos ligados às ilhas vizinhas. O comércio (do oceano índico africano) ligava a costa oriental da África à Índia e China. Esta rota comercial favoreceu o conhecimento dos árabes sobre as civilizações urbanas, costeiras, comerciais e marítimas africanas, dando origem à síntese cultural denominada Swahili.

A época que compreende os escritores árabes na África foi dividida por Djait (2010) em dois períodos denominados por ele de “Idades Islâmicas”. O período inicial compreenderia do século VII ao IX e trouxe uma enorme quantidade de material histórico criando especialmente uma série de fontes narrativas e arquivísticas. Estas documentações foram produzidas fundamentalmente por viajantes e geógrafos. No entanto, entre estes materiais houve obras que se constituíram em estudos históricos. Dessa forma, desde o início da presença árabe a história era objeto de pesquisa em variadas regiões islamizadas da África.

No que diz respeito ao conhecimento histórico sobre a África, na visão desse historiador africano um dos aspectos que diferencia o momento árabe da Antiguidade se deve ao fato da mudança na documentação acontecer tanto no aspecto quantitativo como na variação das tipologias das fontes, pois “a natureza do material documentário altera-se. Quantitativamente, torna-se abundante e variado; qualitativamente, quanto mais avançamos no tempo, maior o número de fontes...” (DJAIT, 2010, p. 80). O segundo período islâmico pensado por esse autor abarca o século XI ao XIV e é exatamente nesta época mais avançada no tempo que se encontra a maioria dos trabalhos islâmicos dedicados à história africana. Essa é considerada a grande época da participação dos historiadores muçulmanos na construção de uma história relacionada à África:

(...) no que diz respeito à segunda Idade Islâmica, nossa documentação é abundante, variada e em geral de boa qualidade, em contraste com o período precedente. Na África propriamente islâmica, esses escritos trazem muitos esclarecimentos sobre o funcionamento das instituições e sobre as tendências profundas da história. Já não se contentam em traçar apenas um simples quadro político. No que concerne à África negra, o século XIV é o período do apogeu de nosso conhecimento. (DJAIT, 2010, p. 103).

Constata-se que, em comparação ao período da Antiguidade, a abordagem sobre a História da África negra é melhor nos historiadores da “segunda Idade Islâmica”. Não obstante, o importante a ser frisado é a mudança de sentido que os textos históricos islâmicos empreendem na análise, consistindo em não somente descrever as estruturas sociais, mas buscar estudar “as tendências profundas da história”, ou seja, se preocuparam em elaborar uma filosofia da história.

O destaque a ser colocado neste período é a importância do século XIV para os estudiosos da historiografia africana a exemplo de Fage e Djait (2010) que apresentam este século como o momento mais importante da produção historiográfica de influência muçulmana que trabalhou com a África. Os dois autores mencionados fazem alusões a nomes de estudiosos norte africanos tratados por eles como entre os maiores da humanidade, merecendo referencia primordial os historiadores al’Umari e Ibn Khaldun e o geógrafo Ibn Batuta.

Na opinião de Djait, “a obra capital do século XIV para o historiador da África negra é a de al’Umari: Masalik al Absar. Testemunho de um observador de primeira ordem...”, continuando nos diz que “a obra de al’Umari apresenta, além do interesse de sua descrição, o problema do aparecimento do Estado no Sudão e o da islamização...” e acrescenta que “a obra de al’ Umari é completada por outra, de um observador direto da realidade sudanesa e magrebiana: Ibn Battuta”. (DJAIT, 2010, p. 101). Percebe-se que a obra de al’Umari não se ocupa apenas com a descrição ou narrativa dos acontecimentos, mas com a investigação das origens dos Estados, especialmente os da região conhecida como Faixa Sudanesa. Esse historiador se preocupou com o estudo do aparecimento do Estado nas sociedades e tomou como objeto de investigação os Estados desenvolvidos na África negra.

Na perspectiva de Fage (2010), no século XIV o nome a ser considerado é o historiador norte africano ibn Khaldun, pois em sua opinião tratava-se de “um grande historiador no sentido amplo do termo” que “poderia legitimamente roubar de Heródoto o título de “pai da história” (FAGE, 2010, p. 3)”. Ibn Khaldun criou um método criterioso nos procedimentos de pesquisa, desde o processo de seleção das fontes à utilização do princípio da analogia entre os dados:

Ora, ibn Khaldun distingue-se de seus contemporâneos não somente por ter concebido uma filosofia da história, mas também - e talvez principalmente - por não ter, como os demais, atribuído o mesmo peso e o mesmo valor a todo fragmento de informação que pudesse encontrar sobre o passado; acreditava que era preciso aproximar-se da verdade passo a passo, através da crítica e da comparação. (FAGE, 2010, p. 4)

Para Ibn Khaldun o trabalho do historiador envolve tudo aquilo que faz parte da sociedade, com isso afirmava ter criado um método inovador de se abordar o trabalho do historiador. Na visão de Senko (2011) Ibn Khaldun desenvolveu em sua obra al’Muqaddimah uma série de estudos acerca da sociedade, objetivo que lhe obrigou a estabelecer uma rigorosa metodologia de análise da História. Mas esse estudioso muçulmano africano foi também um filósofo da história. A esse respeito, a autora citada estabeleceu como objetivo para seu trabalho exatamente a concepção “cíclica” de história desse pensador: “o que motiva o presente artigo é justamente a busca de uma reflexão que esclareça a relação entre tal concepção cíclica de existência da sociedade para com as circunstâncias vividas pelo autor em seu tempo (...)” (SENKO, 2011). Compreender dessa forma a ideia que o referido pensador africano tinha do processo histórico não é um consenso. A historiadora Bissio (2012), por exemplo, reflete diferenciadamente sobre esse tema, pois para ela:

Ele fala de uma repetição do processo social que faz evocar uma concepção cíclica da história. Mas, trata-se, na verdade, de um processo em espiral. A dinâmica não exclui um certo progresso, já a luta das sociedades que se sucedem no tempo origina uma mudança. Nisso radica a diferença entre a concepção cíclica helênica, ou lineal cristã da história e a ideia de Ibn Khaldun, que afirma ser a mudança o único elemento permanente. (BISSIO, 2012)

Pode-se perceber que na consideração da citada autora, Ibn Khaldun não elaborou uma concepção cíclica, mas elíptica do processo de desenvolvimento das sociedades. Ele apresentou uma teoria da história que enfatiza o aspecto da decadência das sociedades e sua superação por novos processos históricos, não se tratando de uma simples repetição. As teorias históricas, sociais, políticas e antropológicas elaboradas por esse filósofo da história africano tem sido objeto de estudo em várias pesquisas acadêmicas na atualidade a exemplo dos trabalhos das autoras mencionadas Elaine Senko e Beatriz Bissio. O aludido africanista inglês John Fage insiste em colocar que Ibn Khaldun “é, realmente, um historiador muito moderno e é a ele que devemos o que se pode considerar quase como história da África tropical, em sentido moderno.”

(FAGE, 2010, p. 4). Vale a ressalva de que, assim como o citado historiador da cidade de Damasco al’Umari, o norte africano de Tunis Ibn Khaldun também trabalhou com a História da África negra.

Vale a pena fazer uma consideração importante sobre os estudos que tratam dos trabalhos de Ibn Khaldun. Existem apropriações das obras de autores norte africanos que são feitas pelos estudiosos arabistas. Por conta disso, nos trabalhos acadêmicos normalmente Ibn Khaldun é apresentado como intelectual árabe. O juízo de que o norte da África é árabe está bastante acentuada na historiografia arabista, ignorando a existência da longevidade dos povos originários dessa região africana como os egípcios, líbios, berberes e tuaregues. A raiz étnico-cultural desses povos é ofuscada quando se usa o termo árabe para denominá-los. Um trabalho acadêmico que expressa esse tipo de apropriação é um estudo sobre a teoria da decadência dos Estados de Ibn Khaldun realizado no Brasil: trata-se da pesquisa de Araújo (2007) que em seu trabalho assume a posição de ser um estudo arabista e não como pertencente à historiografia africanista. A propósito, o autor menciona que “ibn Khaldun é um dos poucos sábios mulçumanos que conseguiu superar a imensa barreira do desconhecimento e da falta de interesse do mundo árabe-muçulmano no ocidente” (ARAÚJO, 2007, p. 15).

A obra desse estudioso da sociedade fez dele o precursor das ciências humanas. Observando a totalidade dos estudos desse intelectual africano, Bissio observa que se trata de um pioneiro, em muitos aspectos, das ciências sociais da atualidade, pois:

(...) apresenta semelhanças surpreendentes, reconhecidas por muitos estudiosos, com a antropologia cultural ou social atual. Ele fez, no século XIV, do homem e da sociedade um objeto de estudo da ciência; e apresentou o conceito da universalidade e unidade do ser humano, que só apareceria na Europa depois do século XVIII; além disso, separou a filosofia e a ciência, fato que no Ocidente só se concretizaria no século XIX. (BISSIO, 2012)

A grande referencia que aqui se faz a Ibn Khaldun se deve tanto a sua importância histórica por representar o auge de uma longa tradição historiográfica mulçumana, bastante ignorada em nossa cultura ocidental, mas também por ser um historiador que se debruçou intensamente no processo histórico das sociedades africanas tanto no norte como em regiões da África negra. Vale insistir que toda essa tradição historiográfica islâmica desconhecida por nós tomou o continente africano como objeto de estudos históricos, ainda que estivessem circunscritos ao espaço por eles alcançado

na África. No Brasil os trabalhos voltados para a análise das teorias de ibn Khaldun, especialmente aqueles dos citados historiadores Elaine Senko, Richard Araújo e, sobretudo, Beatriz Bissio estão disponíveis em livros e artigos na internet, portanto, ao alcance dos professores da Educação Básica, se constituindo em material de consulta que permite conhecer a grandeza e profundidade desse historiador africano.

Em analogia com a Antiguidade, a época mulçumana, ampliou o espaço de estudos históricos na África. Se anteriormente o conhecimento histórico estava limitado às beiradas do mediterrâneo africano e à região nilótica, envolvendo o Egito e indiretamente a Núbia e a Etiópia antiga, com a presença árabe a totalidade da região norte foi plenamente envolvida nestes estudos, assim como as regiões da África negra conhecidas como Faixa Sudanesa, acrescentada da Etiópia medieval e a Costa africana do oceano índico. Além da ampliação do espaço estudado, adiciona-se o crescimento gigantesco do manancial e das modalidades das fontes escritas. No entanto, a mudança qualitativa é o aspecto diferencial da época mulçumana. Isso se deu com o surgimento de uma historiografia no continente africano. O início da historiografia na África tem a evidente influência islâmica, sem por isso deixar de ser africana.

Não obstante, a Antiguidade e a época muçulmana se caracterizaram pela predominância da visão estrangeira sobre a África. A esse respeito vale observar a ponderação de um historiador norte africano em sua reflexão sobre as fontes para a escrita da história africana na Antiguidade e na época muçulmana:

Por outro lado, ainda que nossas fontes tenham sido redigidas no quadro de culturas “universais”, cujo ponto focal se situa fora da África - culturas “clássicas”, cultura islâmica - têm a vantagem de ser, em sua maioria,

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