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5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.2 Ocorrência de poluentes emergentes

5.2.2 Água Superficial

Foram analisadas 48 (quarenta e oito) amostras de água superficial durante o período de 12 meses, em 4 pontos de coleta, sendo, um ponto de coleta localizado no Rio Piraí, outro no Rio Paraíba do Sul e dois no Rio Guandu.

Dos 8 poluentes emergentes analisados, 6 foram detectados, os mais frequentes foram a cafeína, presente em 98% das amostras e o bisfenol A em 60%. Os hormônios femininos tiveram frequência de detecção menor, 17α-etinilestradiol e 17β-estradiol com 15%, estrona – 8% e estriol correspondente a 2%, presente em apenas uma amostra. Os hormônios progesterona e testosterona não foram detectados. Na Tabela 10, são apresentadas as frequências de detecção, concentrações máximas e mínimas dos poluentes.

Tabela 10 - Frequência de detecção e concentrações dos poluentes emergentes analisados em água superficial

Classe Composto Concentração (ng L

-1)

AP AQ N F Min Max Média

Farmacêutico Cafeína 47 46 48 98% 181,48 5.204,74 1.428,62 Hormônios 17α-etinilestradiol 7 5 48 15% 148,48 210,59 175,04 17β-estradiol 7 1 48 15% 164,50 164,50 164,50 Estriol 1 0 48 2% - - - Estrona 4 1 48 8% 145,26 145,26 145,26 Progesterona 0 0 48 0% - - - Testosterona 0 0 48 0% - - -

Compostos Industriais Bisfenol A 29 24 48 60% 104,00 3.443,69 839,76 Fonte: Arquivo pessoal.

Nota : AP - amostras positivas AQ - amostras quantificadas N - número de amostras analisadas F - frequência de detecção em % Min - mínimo

Max - máximo

(-) não detectado e/ou quantificado

As maiores concentrações quantificadas foram de cafeína, com valor máximo de 5.204,74 ng L-1 e médio de 1.428,62 ng L-1, seguido das concentrações de bisfenol A, valor máximo de 3.443,69 ng L-1 e médio de 839,76 ng L-1. As concentrações dos poluentes emergentes analisados em água superficial são apresentadas de forma detalhada no Apêndice B.

Em todos os pontos de coleta foram detectados 17β-estradiol, 17α-etinilestradiol, bisfenol A e cafeína. Estrona esteve presente em amostras do Rio Piraí e nos dois pontos de coleta do Rio Guandu. Já o estriol foi detectado uma única vez e no Rio Paraíba do Sul. Na Figura 17 são apresentados os números de amostras positivas para cada poluente emergente nos pontos de coleta.

Em estudo realizado por Von Der Ohe et al. (2011) com dados de quatro bacias europeias: Elbe, Scheldt, Danubio e Llobregat a cafeína foi o composto com maior frequência de detecção, em 97% das amostras. Neste mesmo estudo, bisfenol A foi detectado em 94% das mais de mil amostras analisadas.

Gonçalves (2012) analisou a ocorrência de poluentes emergentes em rios do estado do Rio de Janeiro, com pontos de coleta no Rio Guandu e no Rio Paraíba do Sul entre outros rios do estado, e detectou cafeína em 100% das amostras e bisfenol A em 95,7%.

Figura 17 - Quantitativo de amostras positivas por poluentes em cada ponto de coleta

Fonte: Arquivo pessoal.

INCTAA (2014) compilou dados de estudos realizados no Brasil sobre a ocorrência de cafeína. Na Tabela 11 são apresentados os dados de quatro estudos que utilizaram água de rio como matriz e as concentrações detectadas para cafeína.

Tabela 11 - Resultados de estudos publicados em revistas internacionais sobre ocorrência de cafeína em águas de rio no Brasil

Localização Cafeína (ng L-1)

Campinas - SP 174 - 127.092(1) Curitiba - PR 1.410 - 753.500(2) Rio de Janeiro 6,3 - 13.990,4(3) Fonte: Adaptado de INCTAA (2014).

Nota : (1) Montagner e Jardim (2011) (2) Froehner et al. (2010) (3) Gonçalves (2012).

As concentrações mínimas e máximas quantificadas no presente estudo para cafeína, 181,48 a 5.204,74 ng L-1, são inferiores aos encontrados na literatura para águas no território brasileiro, porém estão na mesma ordem de grandeza.

Starling, Leão e Amorim (2018) compilaram em seu trabalho dados de poluentes emergentes publicados em periódicos cuja detecção ocorreu em rios no Brasil. Na Tabela 12 são apresentados os resultados obtidos de bisfenol A em Atibaia – São Paulo e outro no Rio Doce em Minas Gerais.

0 2 4 6 8 10 12

Rio Piraí Rio Paraíba do Sul Rio Guandu - Dutra Rio Guandu -

Seropédica A m os tr as d et ec ta da s

Tabela 12 - Resultados de estudos publicados sobre ocorrência de bisfenol A em águas de rio no Brasil

Localização Bisfenol A (ng L-1)

Rio Atibaia – SP 204 – 13.016 (1) Rio de Janeiro 9,7 - 31.707,6(2) Fonte: Adaptado de Starling, Leão e Amorim (2018).

Nota : (1) Montagner e Jardim (2011) (2) Gonçalves (2012).

As concentrações mínimas e máximas quantificadas no presente estudo para bisfenol A, 104 a 3.443,69 ng L-1, assim como no caso da cafeína, estão na mesma ordem de grandeza das concentrações quantificadas para este poluente em ocorrências no Brasil.

As concentrações de cafeína e bisfenol A são variáveis, mas apresentam valores elevados ao comparar aos dados de ocorrência em efluentes domésticos. Froehner et al. (2011) detectaram concentrações de cafeína, 8.200 ng L-1, e bisfenol A, 84.110 ng L-1 em esgoto doméstico na cidade de Curitiba estado do Paraná, estas concentrações estão na mesma ordem de grandeza das detectadas em água de rio.

Essa situação evidencia a falta de tratamento de efluentes domésticos que são lançados

in natura nos rios impactando negativamente o ambiente e causando riscos para a vida

aquática e humana, considerando que o principal manancial de abastecimento das bacias estudadas é a água superficial.

Dentre os poluentes estudados, a cafeína é que apresenta maior padrão de consumo, 115 mg/pessoa (SARTORI; SILVA, 2013), e por consequência maior frequência de detecção. Por possuir elevada solubilidade em água e ser recalcitrante aos processos normalmente usados nas ETA, torna esse composto um indicador de contaminação antrópica em diversos estudos realizados em todo o mundo (INCTAA, 2014).

Nos rios estudados os hormônios 17α-etinilestradiol e 17β-estradiol foram detectados com a mesma frequência, 15%, a estrona em 8% e o estriol em 2%. Esse comportamento pode ser explicado considerando que o 17β-estradiol é o hormônio mais produzido pelo corpo humano sendo que os outros dois hormônios naturais, estrona e estriol, são produzidos em menor escala, chegando em menores quantidades aos rios.

Com relação ao 17α-etinilestradiol, este é um hormônio sintético utilizado em grande escala no país. Segundo Brito, Nobre e Vieira (2011) os contraceptivos hormonais são o método reversível mais utilizado pela população feminina brasileira, aproximadamente 25%, para planejamento familiar e consiste da associação entre um estrogênio (em geral,

etinilestradiol) e um progestagênio, o que justifica ter a maior ocorrência de detecção junto ao 17β-estradiol.

O hormônio sintético17α-etinilestradiol é derivado do 17β-estradiol e no corpo humano pode ser convertido em 17β-estradiol, no entanto, 80% do composto é excretado na sua forma conjugada. Diversos estudos apontam que o 17α-etiniestradiol é persistente no ambiente e os que hormônios endógenos são rapidamente biotransformados. Além disso, O 17α-etinilestradiol apresenta maior estrogenicidade, quando comparados aos hormônios naturais 17β-estradiol, estriol e estrona, o que indica a alta capacidade que esses compostos possuem de agir no sistema endócrino humano (LAI; SCRIMSHAW; LESTER, 2002).

Ensaios para detecção desses analitos foram realizados nos mananciais que abastecem a cidade de Campinas, e constataram a presença de 17β-estradiol em 20% das amostras, estrona em 74%, estriol em 54%, testosterona em 20%, progesterona e 17α-etinilestradiol foram detectados em 5% das amostras (RAIMUNDO, 2011).

Kuster et al. (2009) detectou nos rios do estado do Rio de Janeiro, o estriol presente em 70% das amostras e a progesterona em 50%, os demais poluentes abordados neste trabalho não foram detectados, exceto a testosterona pois esta não foi analisada no estudo do autor.

Esses dados confirmam a necessidade de criação de ações para monitoramento de outros parâmetros além dos convencionais nos rios e ações para tratamento dos efluentes nestas localidades, já que a presença desses contaminantes mesmo em pequenas concentrações podem causar efeitos prejudiciais a vida aquática e aos seres humanos.

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