UNIDADE VI – O território brasileiro: a dinâmica da natureza
Capítulo 29. Água: uso e problemas
Hidrosfera
Água: uma questão geopolítica
Mais uma obra a colocar os conteúdos de Geografia física ao final do livro e os conteúdos da temática ambiental no entremeio com os temas da Geografia humana. Os conteúdos que integram a chamada natureza integram a obra de forma pouco integrada.
A Obra GEOGRAFIA: GEOGRAFIA GERAL E DO BRASIL de José Willian Vesentini, publicada em 2007 pela Editora Ática, é composta por 416 páginas na versão para estudantes, enquanto ao exemplar do professor foram acrescidas 64 páginas na forma de
Manual do Professor. Do total de 416 páginas, 93 (22%) foram destinadas aos conteúdos de
geografia física e meio ambiente.
Na Apresentação, presente tanto no exemplar para aluno quanto naquele destinado ao professor, constata-se a concepção de geografia do autor.
Diferentemente da geografia tradicional, que utiliza o paradigma “a terra e o
homem”, esta obra fundamenta-se numa concepção de geografia como ciência humana e do espaço geográfico como espaço social, resultado da progressiva humanização da natureza. Nela, a sociedade precede o espaço, e não o inverso, o que significa que vamos entender a produção do espaço geográfico baseando-nos na sociedade, e não o contrário, como fazia – e ainda faz – a geografia tradicional.
A partir dessa concepção e de sua apresentação, o autor justifica a distribuição dos conteúdos ao longo da obra, semelhante ao que já havia feito em obra analisada anteriormente.
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Qual a razão para apresentarmos a parte humana antes da parte física ou ambiental? Trata-se de uma geografia do presente, e não do passado. No mundo contemporâneo, em que o capitalismo industrial e monopolista é o sistema internacional hegemônico, a natureza tornou-se mercadoria. Nesse sistema, o meio ambiente não é determinado pelos elementos naturais, como ocorre nas sociedades pré-industriais, mas sim pelas relações e contradições entre pessoas e grupos, que são simultaneamente políticas, econômicas e culturais.
Constatada essa realidade, não seremos capazes de compreender a sociedade moderna a partir do espaço natural. O caminho tem de ser percorrido em sentido inverso. É baseando-nos nos sistemas socioeconômicos, no subdesenvolvimento e na sociedade de consumo que vamos compreender as profundas alterações que ocorrem nas paisagens naturais do planeta.
Não se trata de uma simples inversão, mas de uma nova maneira de encarar a natureza, que passa a ser estudada, pelo menos em parte, como recurso para o homem, como um elemento da dinâmica social. Mas a natureza não é apenas isso. Ela também possui a sua própria dinâmica, seu encadeamento e seu equilíbrio, embora eles sejam alterados pela ação humana. Assim, a natureza não deve ser apresentada como palco que o ser humano vai meramente ocupar, como faz a geografia tradicional, nem apenas como recurso inerte para ávida econômica, como propõem alguns autores que optaram por uma abordagem economicista.
Com texto semelhante à apresentação do livro didático publicado em 1986, quando de sua 8ª edição, esta obra se diferencia ao inserir a questão ambiental e ao reconhecer que a natureza é estudada como recurso para o homem, mas que não deve ser apenas isso, pois existe uma dinâmica própria que é alterada pela ação humana. E completa:
Os elementos naturais são recursos para a sociedade moderna, reelaborados pela ação humana num processo histórico em que os conflitos e as contradições sociais assumem um papel importante. Mas os elementos naturais também são interdependentes, formando conjuntos ou sistemas integrados. Não devemos compartimentar a paisagem natural com o objetivo de encaixar cada um de seus elementos isoladamente na economia. Com esse procedimento, estaríamos perdendo a dimensão ecológica da paisagem natural, que constitui o que há de mais rico e inovador no atual estudo geográfico da natureza.
O Manual do Professor traz ao longo de suas 46 páginas, informações quanto à metodologia e objetivos da obra; estratégias, para o que o autor chamou de “novo ensino médio no Brasil” e textos para subsidiar o trabalho do professor, seguidos por “dicas” de como trabalhar cada capítulo.
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É quando trata da geografia crítica e socioconstrutivismo, em texto inserido no item referente à metodologia, que o autor esclarece sobre o estudo da natureza em sua obra.
Cabe esclarecer que uma verdadeira geografia crítica ao contrário do que pensam alguns, não elimina o estudo da natureza, ao contrário, renova-o. Não fica na pura retórica da denúncia e tampouco no ceticismo de conceitos fossilizados do materialismo histórico; pelo contrário, abre-se para o novo e é pluralista, incorporando inúmeras vertentes teórico-
críticas (neo)anarquismo, ecologismo, pós-modernismo, marxismo-heterodoxo,
fenomenologia... E, no plano escolar, ela deve se unir ao socioconstrutivismo, que, na nossa leitura, vê o educando como agente social, que (re)constrói o conhecimento pelo aprendizado da cidadania e tem uma história de vida a ser levada em conta no processo educativo. É um ensino para a cidadania, no qual o aluno é incentivado a refletir e discutir, a se motivar com o estudo da dinâmica da sociedade e da natureza-para-o-homem, com o estudo do espaço produzido pela humanidade.
E após apresentar a geografia crítica X geografia tradicional, buscando diferenciar o
olhar dessas duas correntes sobre conteúdos a serem trabalhados e de como trabalhá-los, o autor apresenta a forma de trabalhar o estudo integrado do físico e do social, assim começando:
O estudo do espaço geográfico pressupõe a compreensão: 1) da dinâmica da sociedade, que vive nesse espaço e o (re)produz constantemente; 2) da dinâmica da natureza, fonte primeira de todo o real, permanentemente apropriada e modificada pela ação humana. Não se trata da divisão acadêmica entre geografia humana e geografia física, muito menos da compartimentação operada pela geografia tradicional (relevo, clima, população, agricultura etc.). Trata-se de um estudo integrado do natural e do social, que não perde de vista a especificidade de cada aspecto do real.
E escrevendo diretamente ao professor, busca destacar a importância que os elementos da natureza assumem enquanto protagonistas de processos que explicariam seu estudo não apenas como recurso econômico.
Integrar não é diluir as diferenças, não é ignorar a lógica da natureza e estudá-la somente como recurso para a economia. A natureza deve ser entendida como um todo, daí os conceitos de sistema físico da Terra, ecossistema e biosfera serem fundamentais. Mas, como ensinar o método científico, para chegar ao todo é necessário analisar as partes que o compõem e as suas interações. Assim, os elementos da natureza sempre devem ser
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estudados em sua dinâmica própria e também em sua apropriação conflituosa pela sociedade moderna.
A obra é dividida em partes, quatro no total; as partes são divididas em unidades e estas em capítulos, num total de quinze e quarenta, respectivamente.
Das Partes que compõem a obra, apenas a IV, cujo título O meio ambiente do ser
humano, é dedicada aos conteúdos que tratam do meio físico ou natureza. A Unidade XIII, a
primeira dessa Parte, com o título Meio ambiente e paisagem natural, inicia o conteúdo do capítulo 35 questionando o que é meio ambiente. Depois de apresentar a Terra como um sistema que serve de habitat do homem e da relação que se estabelece entre o homem e o meio ambiente, o próximo capítulo trata da paisagem natural e dos elementos que a compõem.
A Unidade XV, composta pelos dois últimos capítulos do livro, 39 e 40, traz o título
Degradação, conservação e preservação do meio ambiente. O capítulo 39 trata dos impactos
ambientais decorrentes da ação antrópica, enquanto o capítulo 40 trata da conservação dos recursos naturais, destacando a politização da questão ambiental. A distribuição desses conteúdos pode ser verificada na compilação do sumário, abaixo:
SUMÁRIO
PARTE I – Indústria, tecnologia e produção do espaço PARTE II – Geografia política do mundo atual
PARTE III – Aspectos da população mundial
PARTE IV – O meio ambiente do ser humano