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Subprograma VII.2 – Otimização do Uso da Água em Irrigação do PNRH, onde o

4 SEQUÊNCIA METODOLÓGICA

4.1 Área de estudo

O município de Russas possui uma área total de 1.582,10 km², está localizado na região nordeste do Estado do Ceará, e forma fronteira ao Norte com os municípios: Palhano, Beberibe e Morada Nova; ao Sul, com Limoeiro do Norte, Morada Nova e Quixeré; ao leste com Quixeré, Jaguaruana e Palhano; e ao Oeste com Morada Nova, dividido distritalmente em cinco distritos: Russas, Bonhu, Flores, Lagoa Grande, Peixe e São João de Deus, insere-se na Bacia Hidrográfica do baixo Jaguaribe possui clima do tipo Tropical Quente Semiárido, com pluviosidade de até 857,7 mm, cuja precipitação chuvosa ocorre ao longo do período de janeiro a abril (IPECE, 2012).

Quanto às referências mínimas sobre a sua realidade socioeconômica, Russas se encontra com um Índice de Desenvolvimento Municipal (IDM - 2012) médio de 36,24 o que o classifica na 21a posição estadual. No município são desenvolvidas atualmente atividades vinculadas às indústrias de cerâmica e calçadista, comércio, agricultura, pecuária, se expandindo também no ramo agroindustrial exportador, em decorrência do Projeto de Irrigação do Tabuleiro de Russas (IPECE, 2012).

Como área mais específica de estudo para análise de impacto socioambiental ora proposta, foi escolhida a Comunidade Rural Lagoa dos Cavalos, situada no interior do Estado do Ceará, a 145 km da capital do Estado, na zona rural do município de Russas, mais especificamente no Distrito de Peixe (ver figura 2 conforme segue abaixo), cuja caracterização ambiental do relevo é do tipo depressão sertaneja e planície fluvial, onde a composição dos solos consiste em: solos aluvias, areias quartzosas distróficas, cambissolo, solos litólicos, planossolo solódico, podzólico vermelho-amarelo e vertissolo e da vegetação em: caatinga arbustiva aberta, caatinga arbustiva densa, complexo vegetacional da zona litorânea e floresta mista dicotillo- palmácea (IPECE, 2012).

A opção por essa comunidade se deve à sua história de desenvolvimento comunitário centrado em relações associativo-solidárias e nas experiências de manejo agroecológico do meio ambiente, voltado para a convivência com o semiárido e de enfrentamento das problemáticas locais, como: estiagem, condições precárias de infraestrutura social e produtiva, assistência social, técnica e mais atualmente por ter capitaneado o movimento de resistência ao Projeto de Irrigação do Tabuleiro de Russas.

Figura 2 – Localização da Comunidade Lagoa dos Cavalos, segundo a divisão distrital do município de Russas.

O recorte espacial pode parecer, a priori, demasiadamente delimitado e pouco representativo, entretanto, a questão da escala territorial extrapola seu aspecto matemático, quando envolvida pela concepção de totalidade que até aqui tem norteado as elaborações desta pesquisa, ainda mais numa era de globalização, na qual as dimensões: macro, meso ou microespacial, se encontram permeadas pelos elementos da realidade concreta que possibilitam o vislumbre da totalidade que envolver e produz os espaços.

Destarte, é considerado que a dimensão espacial e a população aqui analisada, suprem a necessidade desta pesquisa, na medida em que o essencial não é a quantidade e tamanho, mas a substância e mediações, que um determinado espaço e sua população possibilitam evidenciar e estabelecer no tocante às contradições e problemáticas decorrentes do contexto paradigmático que envolve os fenômenos concretos, que compõem e caracterizam a totalidade.

Na concepção de Castro (1995, pp. 120 e 139), a questão da escala deve ser tratada

Como uma estratégia de apreensão da realidade, que define o campo empírico da pesquisa, ou seja, os fenômenos que dão sentido ao recorte espacial objetivado. [...] Para o campo da geografia não há recortes territoriais sem significado explicativo, o que há, muitas vezes, são construtos teóricos que privilegiam a explicação de fenômenos pertencentes a determinadas escalas territoriais.

O povoamento que deu origem à comunidade iniciou com vinte e uma famílias a partir de 1986, quando os primeiros moradores organizaram atividades produtivas coletivas em grupos informais de trabalho. Esse tipo de organização do trabalho sempre esteve muito presente no cotidiano da comunidade, que em 1995 já totalizava trinta e duas famílias, sensibilizadas desde então por entidades da sociedade civil como a Cáritas Diocesana e o Sindicato dos Trabalhadores Rurais, quanto à importância de se desenvolver práticas de agroecológicas (produção orgânica e manejo agrosilvopastoril) e de Economia Solidária, as quais contribuíram para marcar profundamente o projeto de desenvolvimento comunitário da Lagoa dos Cavalos, o qual passou a ser tido como exemplar.

Até 1995, as famílias se organizavam apenas como grupos de produtores, que logo viriam a se conscientizar da necessidade de melhorar a infraestrutura social e produtiva da comunidade, mobilizando-se nesse sentido para realizar no mesmo ano, o

registro da Associação Comunitária Porfirio Gomes Nogueira da Costa, a partir da qual puderam então acessar recursos do Projeto São José para a instalação da rede elétrica e construções posteriores como: a Casa de Farinha e a Casa do Mel; recentemente, conquistaram temporariamente o abastecimento comunitário de água para atividades domesticas via adutora do Projeto de Irrigação do Tabuleiro de Russas.

A produção comunitária, diversificada durante todo o ano, consiste basicamente na agricultura de sequeiro: milho e feijão, na época das chuvas e castanha de caju, na estiagem, ovinocultura e caprinocultura de criação e abate durante o ano todo, apicultura, quando da florada em época de chuvas, a horta comunitária e a casa de sementes. Tais atividades proporcionam o autoconsumo das famílias, bem como excedentes para comercialização, garantindo-lhes em certa medida, sua auto-sustentação inclusive a possibilidade da formação de fundos de reserva (constituído a partir da contribuição dos sócios) para emergências relativas ao fornecimento de energia e água ou como no caso da apicultura (30% do aferido destinado para investimento e 70% dividido conforme a participação, entre os 20 associados ao grupo de apicultores), para custeio/investimento da atividade.

Apesar da forte dependência de atravessadores quanto à comercialização, principalmente do mel, boa parte da produção ainda consegue ser destinada à Bodega Nordeste Vivo e Solidário de Aracati. De maneira geral, pode-se afirmar com segurança, que a gestão do espaço e da produção comunitária se realiza pelos moradores de maneira solidária, sendo o associativismo encarado pelas famílias em geral como um instrumento de luta e de conquistas, a partir de regras democráticas acordadas coletivamente, com elevado grau de cooperação, não se observando na realização das assembleias práticas discriminatórias, ao contrário, o estímulo ao envolvimento e manifestação da opinião dos moradores presentes, dentre jovens e idosos é claramente perceptível. Atualmente a Associação abrange também outras quatro comunidades, como: Peixe, Junco, Córrego Salgado e Barbatão.

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