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A categoria APA destaca-se no cenário nacional a partir da Lei 6.902/1981 (BRASIL, 1981), que reconheceu a categoria de UC vinculada à Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA), instituída em 1973. As APAs apresentam-se como uma tipologia inspirada no modelo de Parques Naturais Regionais europeus, que visavam estabelecer um modelo de proteção que resguardasse áreas com certo nível de ocupação, sobretudo em áreas urbanas, sem a necessidade de a União adquirir essas terras.

Incluídas no grupo de unidades de uso sustentável, o SNUC, em seu Capítulo III, artigo 15, descreve as APAs como:

[...] uma área em geral extensa, com certo grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas, e tem como objetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais. (BRASIL, 2000).

Como características gerais, as APAs são constituídas por mosaicos de terras públicas e privadas onde podem ser estabelecidas normas e restrições para a utilização das terras, respeitando os limites legais. Com isso, podemos dizer que a realização de pesquisa e visitação pública são atividades que dependem de anuência do proprietário, quando se tratar de terras particulares.(BRASIL, 2010).

Ressalta-se nas características das APAs, pela sua realidade de gestão dos recursos naturais e ordenamento da ocupação em terras públicas e privadas, a questão do direito do uso da propriedade, o qual não pode ser negligenciado. Ou seja, não existe abertura legal para desapropriação de terras cujo uso não se enquadre nos objetivos e normas da UC, cabendo a sua gestão compatibilizar e gerenciar tais situações existentes.

Segundo Corvalan (2009), a característica marcante das APAs é a possibilidade de manutenção da propriedade pública ou privada e do estilo de vida tradicional da região, onde programas de proteção à vida silvestre podem ser implantados sem haver necessidade de desapropriação de terras. Essa estratégia é compatível com a realidade brasileira, uma vez que a falta de recursos financeiros para a desapropriação de terras limita a implantação e consolidação de outros programas de conservação da natureza.

Diegues (2008) afirma que a conservação da natureza não é somente um tema “naturalista” de proteção da natureza selvagem e intocada, mas também um tema social,

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cultural e político. E com isso, podemos afirmar que a interação desses temas apresenta-se de maneira mais incisiva e transformadora nas APAs pelas suas características inerentes.

Dessa maneira, é importante citar que a maioria dos entraves de gestão verificados nas APAs é justamente oriunda dessas interações e dos possíveis conflitos advindos do mau uso dos recursos naturais, dos interesses locais e das atividades executadas nas propriedades privadas em locais de alta fragilidade ambiental, sendo necessário o estabelecimento de normas e regras que possam compatibilizar tais relações conflitantes.

Neste contexto, as APAs merecem especial atenção, devido ao elevado grau de interferência por meio das atividades antrópicas junto aos recursos naturais. O que as difere das áreas não protegidas são as diretrizes estabelecidas no plano de manejo e a gestão da área pelo órgão ambiental, vinculada aos objetivos de criação. Portanto, as APAs com gargalos de gestão e sem plano de manejo dificilmente cumprirão com a função de uma UC (ESTEVES; SOUZA, 2014).

De fato, é oportuno afirmar que, pelas características das APAs, não se deve esperar que a implantação dessa categoria de UC seja, por si só, a solução para as questões de conflito socioambiental. Nesse contexto, Fantin e Miranda (2005) expõem que:

Dentro de uma interpretação restritiva, levando em consideração apenas o SNUC, as APAs são apenas mais um componente que veio a somar dentro do Sistema de Unidades de Conservação brasileiro, não sendo uma solução para um problema crônico e estrutural, não só das áreas protegidas como da questão ambiental como um todo no Brasil, sendo apenas uma alternativa e uma complementação para a proteção de áreas com grande significância ambiental (FANTIN e MIRANDA, 2005).

De maneira complementar, Côrte (1997) ressalta o fator econômico, enfatizando a importância das APAs:

Potencialmente, todas as atividades têm interesses econômicos, ou ligados a grupos específicos ou de interesse da população como um todo. As APAs, principalmente por permanecerem sob o domínio particular, estarão sempre sujeitas aos interesses econômicos. Isto não contradiz o conceito de APA, pois não se pretende criar uma APA para tornar a área improdutiva, como se esta fosse a melhor maneira de protegê-la. Portanto, as atividades de interesse econômico sempre estarão presentes e o papel da unidade gestora da APA é buscar a forma destas atividades acontecerem sem ultrapassar a já mencionada capacidade de suporte da área. (CÔRTE, 1997, p. 39).

Neste sentido, a autora enfatiza ainda que um tema importante a ser considerado é a forma e a intensidade como as atividades antrópicas acontecem numa área com valores e fragilidades ambientais comprovadas. Neste sentido, o que se deveria limitar ou restringir não é tanto "o que fazer", mas o "como e/ou o quanto fazer". Dessa forma, objetiva-se a necessidade de alterar a qualidade do desenvolvimento pretendido para a área, mas não de

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privá-la deste desenvolvimento, como uma alternativa para que o mesmo seja sustentável ao longo do tempo.

Quando esses princípios não são observados, as atividades antrópicas podem ser consideradas conflitantes com os objetivos da APA, pois, a forma e a intensidade como são praticadas podem provocar degradação ambiental, ou seja, a área de uso, pela sua fragilidade, não responde positivamente aos impactos gerados por estas atividades (CÔRTE, 1997).

Com isso, identificar áreas com fragilidades em relação a diferentes intervenções, pelas suas características e dinâmicas ambientais, é essencial para definir a intensidade e/ou o tipo de uso a ser realizado nas diversas áreas da APA, proporcionando estabelecer um zoneamento consolidado nas suas vocações, fragilidades e potencialidades.