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Um dos maiores desafios da moderna biologia da conservação é a identificação das áreas críticas para a conservação da biodiversidade. Em escala global, várias iniciativas metodológicas foram apresentadas, mas duas destacam-se: os programas IBA (Important Bird Areas) e KBA (Key Biodiversity Areas). Na escala nacional, destaca-se o esforço brasileiro para identificar áreas prioritárias para conservação.

1.5.1. Áreas Importantes para Aves (AIA)

O programa de IBAs (Important Bird Areas, Áreas Importantes para Aves) é uma iniciativa da BirdLife International, uma organização não governamental, que busca identificar e proteger as áreas mais importantes para a conservação das aves e seus hábitats em todo o mundo. O conceito resulta de uma série de estudos conduzidos na Europa durante a década de 1980. A partir destes teve início o programa europeu de AIAs, impulsionando o desenvolvimento de ações de preservação e manejo por todo o continente, na qual a cooperação entre diversas organizações conservacionistas governamentais e não governamentais é considerada fundamental (Eken et al., 2004). Entre os critérios que definem uma AIA (Birdlife International, 2010) estão:

A área regularmente abriga uma espécie globalmente ameaçada de extinção classificada como Criticamente Ameaçada ou Ameaçada (segundo as categorias de ameaça da IUCN, 2008), ou números significativos (definidos regionalmente) de espécies classificadas como Vulnerável ou Quase Ameaçada.

(2) Espécies de distribuição geográfica restrita

A área que, comprovada ou presumivelmente, abriga um subconjunto significativo das espécies de distribuição restrita, cujos locais de reprodução definem uma Área Endêmica para Aves (AEA) ou uma Área Secundária (AS).

(3) Espécies endêmicas de um bioma (EEB)

A área comprovada ou presumivelmente abriga um subconjunto significativo das espécies confinadas a um bioma ou região zoogeográfica em particular.

(4) Espécies gregárias

(a) A área comprovada ou presumivelmente abriga em uma base regular, 1% da população biogeográfica de uma espécie aquática gregária ou,

(b) A área comprovada ou presumivelmente abriga, em uma base regular, 1% da população global de uma espécie terrestre ou marinha gregária ou,

(c) A área comprovada ou presumivelmente abriga, em uma base regular, 20.000 aves aquáticas ou 10.000 pares de aves marinhas de uma ou mais espécies (critério RAMSAR – ver abaixo) ou,

(d) A área comprovada ou presumivelmente excede os limites estabelecidos para espécies migratórias em sítios ou pontos de paradas intermediários.

As AIAs são selecionadas de forma que, em conjunto, configurem uma rede de áreas ao longo da distribuição geográfica das espécies (Bennun et al., 2005). No Brasil, 163 áreas originais reconhecidas como potenciais AIAs estão no Bioma da Mata Atlântica (Bencke et al., 2006), nas quais inúmeras aves da Ordem dos Passeriformes foram consideradas espécies-chave. Mais recentemente o mesmo exercício englobou os biomas Amazônia e Cerrado, incluindo o Pantanal, listando outras 74 áreas (Lucca et al., 2009). Nessa última avaliação foram consideradas as concentrações de Charadriidae e Scolopacidae neárticos na costa norte do país como indicadores

de AIAs. Nos Estados Unidos e Canadá, a mesma iniciativa também utilizou vários Charadriidae e Scolopacidae como espécies-chave para identificar áreas importantes para a conservação (Audubon, 2010).

1.5.2. Áreas Críticas para Biodiversidade (ACB)

As Áreas Críticas para a Biodiversidade (ACBs) são uma extensão do conceito de AIAs (Áreas Importantes para Aves) para incluir todos os grupos biológicos além das aves. Elas são definidas como áreas chave globalmente importantes para a conservação da biodiversidade extensas o suficiente ou insuficientemente inter-conectadas e que abrigam populações viáveis de espécies. Sua metodologia se propõe a selecionar sítios importantes através da aplicação de critérios quantitativos (Eken et al., 2004). Estes podem ser aplicados através de regiões biogeográficas e grupos taxonômicos, a nível nacional ou regional num processo interativo, envolvendo os atores locais (proprietários de terra, governos, organizações não governamentais). No Brasil foi utilizada para a determinação dos sítios importantes para as plantas raras (Giulietti et al., 2009), o qual utiliza 4 critérios baseados na presença e/ou ausência de espécies e/ou grupos taxonômicos:

(1) Espécies globalmente ameaçadas – sítios nos quais espécies globalmente ameaçadas ocorrem em números significativos.

(2) Espécies com distribuição restrita – sítios que compreendem proporções significativas a nível global de uma ou mais populações de distribuição restrita.

(3) Espécies gregárias – sítios que compreendem proporções significativas a nível global de populações de espécies gregárias.

(4) Espécies restritas a biomas – sítios que compreendem proporções significativas de um grupo de espécies, cuja distribuição está restrita a biomas ou subunidades deste.

Para os Charadriidae e Scolopacidae neárticos, os critérios 1 e 3 são os que possuem aplicação direta, seja no caso das espécies ameaçadas, seja nos locais onde há grandes concentrações de aves em migração ou no período não reprodutivo.

1.5.3. Áreas Prioritárias para Conservação

Avaliar e identificar áreas e ações prioritárias para a conservação dos biomas brasileiros mostra-se como desafio e iniciativa instigantes, devido à grande representatividade e importância da biodiversidade brasileira, para o desenvolvimento sustentável do Brasil. Entre estes como já comentado sobre a Convenção de Biodiversidade, através do Ministério do Meio Ambiente, e com o apoio do PROBIO (Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira), entre 1997 e 2000 foi possível identificar áreas prioritárias para conservação da biodiversidade, avaliar os condicionantes socioeconômicos e as tendências atuais da ocupação humana do território brasileiro, bem como formular as ações mais importantes para conservação dos nossos recursos naturais (MMA, 2007).

Através de ampla consulta para a definição de áreas prioritárias para conservação na Amazônia, Caatinga, Cerrado e Pantanal, Mata Atlântica e Campos Sulinos, e na Zona Costeira e Marinha.

Os insumos, metodologia de discussão e critérios de definição de áreas variaram ligeiramente entre as avaliações para cada bioma. De maneira geral, a definição das áreas mais relevantes foi baseada nas informações disponíveis sobre biodiversidade e pressão antrópica, e na experiência dos pesquisadores participantes dos seminários de cada bioma. O grau de prioridade de cada uma foi definido por sua riqueza biológica (extremamente alta, muito alta, alta e insuficientemente conhecida), importância para as comunidades tradicionais e povos indígenas e sua vulnerabilidade.

No final desse processo, foram escolhidas 900 áreas que foram reconhecidas pelo Decreto no. 5092, de 21 de maio de 2004 e instituídas pela Portaria no 126 de 27 de maio de 2004 do Ministério do Meio Ambiente (MMA, 2007). A portaria determina que essa lista - deverá ser revista periodicamente, em prazo não superior a dez anos, à luz do avanço do conhecimento e das condições ambientais, pela Comissão Nacional de Biodiversidade (CONABIO).

Em 2006 foi realizada atualização deste documento em função da disponibilidade de novas informações e instrumentos, resultando na adição de 1.561 novas áreas, das quais 1.125 em áreas protegidas (MMA, 2007).