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Em termos de antecedentes, na década de 1920 começaram a surgir os ambulatórios especializados em Saúde Mental, com a implantação da Política Assistencial de Higiene Mental, objetivando prevenir transtornos mentais na população. Desse modo, a psiquiatria estaria mais próxima da comunidade na perspectiva de normalização social, da eugenia, do exercício de uma vigília, do controle dos imigrantes e dos matrimônios, na tentativa de evitar uma deterioração hereditária (LOUGON, 2006).

Somente na década de 1980, foi criado o Conselho Consultivo da Administração de Saúde Previdenciária (CONASP) responsável pelo Plano de Reorientação da Assistência Psiquiátrica, através do qual ocorreu um grande investimento do Estado no sistema de atendimento público, priorizando a reforma dos hospitais psiquiátricos e a expansão de uma rede ambulatorial extramuros, na busca da reinterpretação do fenômeno do adoecimento mental.

O Serviço Social na área de Saúde Mental começou, no Brasil, “[...] como assistência aos trabalhadores para amenizar a relação entre capital e trabalho” através da intervenção em fábricas, previdência, assistência social (BISNETO, p.20). No entanto, o Serviço Social passou a fazer parte da área da saúde, sendo registrado como seu início em Saúde Mental o ano de 1946, influenciado pelo movimento de higiene mental da Europa.

Conforme Resende (1990 apud BISNETO, p.21):

Nos primeiros trinta anos de existência de Serviço Social no Brasil não havia muitos assistentes sociais trabalhando na área psiquiátrica em clínicas, hospitais ou manicômios simplesmente porque o número desses profissionais era reduzido até os anos 1960 (ainda não ocorrera a “privatização” dos serviços públicos de saúde). Havia hospícios estatais nas principais capitais do Brasil [...].

Os referidos hospícios atendiam apenas a população que carecia de recursos financeiros para obter tratamento em clínicas particulares, já que

havia poucos hospícios estatais e também eram poucos os assistentes sociais para desempenhar essa tarefa. As poucas clínicas psiquiátricas privadas não empregavam assistentes sociais e dedicavam-se ao atendimento das pessoas com melhores financeiras.

Vasconcelos (2006, p. 184) aponta que:

As clínicas atendiam as demandas reais da população infantil/juvenil e suas famílias por cuidados em saúde mental, até então não assumidas pelo Estado, e constituíam equipes multiprofissionais pouco hierárquicas, o que valorizava o status profissional e a participação do Serviço Social em relação aos outros profissionais. Entretanto, tinham sua proposta marcada por forte viés adaptativo, individualizador e normatizador, dada esta inspiração geral no higienismo, o seu enquadramento e subalternidade no paradigma médico (diagnóstico – tratamento – cura/ajustamento) e sua fundamentação teórica-técnica na psicologia do ego e na sociologia e antropologia funcionalistas.

Vasconcelos (2006, p. 185) resume a citação acima, esclarecendo que:

A constituição do Serviço Social como profissão no Brasil é marcada tanto pela vertente doutrinária católica quanto pela influência do movimento de higiene mental, por abordagens com forte ênfase nos aspectos individuais e psicológicos de problemas com dimensões políticas, sociais e econômicas mais amplas, constituindo uma clara estratégia de hiperpsicologização e individualização normatizadora e moralizadora da força de trabalho e da população em geral, como estratégia de Estado, das elites empresariais, da Igreja Católica e da corporação médica.

O modelo para Saúde Mental no Brasil é diferenciado por setores: público, privado, conveniado ou não, consultórios particulares e planos de saúde. O Serviço Social em Saúde Mental faz parte do Sistema Único de Saúde (SUS), e atua com outras profissões da área, no trabalho realizado junto aos pacientes portadores de transtornos mentais.

Os assistentes sociais atuam na reintegração social dos usuários nos Centro de Atenção Psicossocial (CAPS); Núcleo de Atenção Psicossocial (NAPS); Residências Terapêuticas e Hospitais Psiquiátricos. Suas ações nesses espaços referem-se à natureza da profissão, atuando junto à equipe interdisciplinar na efetivação dos direitos dos portadores de transtorno mental, no acolhimento, na orientação, nos encaminhamentos, e na mediação entre o

usuário e sua família. Nesse campo, os assistentes sociais são também profissionais da área da saúde.

Conforme análise e atuação durante a experiência de estágio no CAPSi – Centro de Atenção Psicossocial para Crianças e adolescentes, os assistentes sociais realizam atendimento individual (orientação); trabalho em grupos com os usuários e sua família (oficinas terapêuticas, e de geração de renda); visitas domiciliares com o objetivo de verificar a situação socioeconômica e familiar, buscando também recursos disponíveis na comunidade para reinserção social desses sujeitos; atividades comunitárias, entre outras.

Conforme a Lei nº 8.662/93 Art. 4º - Constituem competência do Assistente Social:

I - elaborar, implementar, executar e avaliar políticas sociais junto a órgãos da administração pública direta ou indireta, empresas, entidades e organizações populares;

II - elaborar, coordenar, executar e avaliar planos, programas e projetos que sejam do âmbito de atuação do Serviço Social com participação da sociedade civil;

III - encaminhar providências e prestar orientação social a indivíduos, grupos e à população;

V - orientar indivíduos e grupos de diferentes segmentos sociais no sentido de identificar recursos e de fazer uso dos mesmos no atendimento e na defesa de seus direitos;

VI - planejar, organizar e administrar benefícios e Serviços Sociais; VII - planejar, executar e avaliar pesquisas que possam contribuir para a análise da realidade social e para subsidiar ações profissionais;

VIII - prestar assessoria e consultoria a órgãos da administração pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades, com relação às matérias relacionadas no inciso II deste artigo;

IX - prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais em matéria relacionada às políticas sociais, no exercício e na defesa dos direitos civis, políticos e sociais da coletividade;

X - planejamento, organização e administração de Serviços Sociais e de Unidade de Serviço Social;

XI - realizar estudos socioeconômicos com os usuários para fins de benefícios e serviços sociais junto a órgãos da administração pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades.

Também, de acordo com a experiência citada anteriormente, foi possível identificar na prática profissional que cabe também ao assistente social: mobilizar os usuários tendo como base os preceitos da Reforma Psiquiátrica; trabalhar em prol da garantia dos direitos e exercício pleno da cidadania; intervir, juntamente com a equipe interdisciplinar, visando à troca de

experiências e planejamento de estratégia de atuação; reinserir os usuários à sociedade, facilitando o acesso ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e fortalecimento dos laços familiares e comunitários.

Uma das críticas realizadas por alguns autores referem-se ao fato de que os serviços públicos articulam-se em rede, organizados em modo de pirâmide. Na base, há um conjunto de serviços responsáveis pela atenção primária, oferecida aos usuários do sistema de saúde. No meio da pirâmide, estão os serviços de média complexidade e, no alto, os de alta complexidade, como os serviços hospitalares (CECILIO, 1997).

Passos e Barros (2004, apud SEVERO; DIMENSTEIN, 2011, não paginado),

[...] criticam a organização piramidal dos serviços no SUS pelo fato de funcionarem com processos de verticalização de cima para baixo, ou vice-versa. Além disso, afirmam que toda rede deveria operar de um modo descentralizado, sem um centro de gerenciamento. Destacam que o Ministério da Saúde, recentemente, através da Política Nacional de Humanização, vem desenvolvendo uma proposta de rede para além de um conjunto de serviços, programas ou prescrições, mas que funciona como um conjunto de ações que transversalmente vão se articulando.

Barros (2003) chama a atenção para a burocracia existente nas redes de saúde, especialmente, no caso da Saúde Mental, cuja situação se agrava, já que, historicamente, vem se consolidando o modelo hospitalocêntrico. Fato como este exclui o portador de transtorno mental do atendimento na rede de saúde.

Desarticulações como essas geram o que Barros (2003, p. 204-5) chama de cronicidades:

1.‘novas cronicidades’ dos pacientes: ex-pacientes, agora usuários (...), são postos como seres passivos frente ao desafio da produção de outra subjetividade. (...) 3. a cronicidade produzida pela inexistência ou fragilidade da rede de atenção em saúde: (...) que se verifica na existência desorganizada de várias portas de entrada (...) e uma falta de portas de saída”

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