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Áreas de Formação Prioritárias em Saúde Ocupacional

4. APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DA INFORMAÇÃO

4.5 Áreas de Formação Prioritárias em Saúde Ocupacional

A educação é o principal fator responsável pela evolução das sociedades na procura pelo desenvolvimento e bem-estar humano e social, que leva ao crescimento, inovação e à procura de soluções (Loureiro, 1985 Cit. por Arroteia, 2008).

Assim sendo, com o propósito de promover o desenvolvimento da saúde ocupacional torna-se relevante conhecer quais as áreas de formação académicas prioritárias em saúde ocupacional mencionadas pelos participantes.

Nesta categoria Áreas de Formação Prioritárias em Saúde Ocupacional identificaram-se quatro subcategorias: Programas de Prevenção e Promoção de Saúde no Trabalho, Legislação, Conceção da Saúde Ocupacional e Comunicação (Quadro 6).

Quadro 6 - Áreas de Formação Prioritárias em Saúde Ocupacional

Subcategoria Unidades de Registo EU Programas de Prevenção e Promoção de Saúde no Trabalho

“(…) estratégias e programas na área da promoção da saúde e do bem-estar (…)”(E2)

“(…) prevenção de doenças em contexto de trabalho (…)”(E7)

“(…) como usarem os dispositivos (…), (…) em termos de ergonomia (…)”(E8)

“Pelo menos alertar para as questões ambientais e de prática segura em todos os contextos (…)”(E9)

“(…) área da prevenção (…)”(E10)

“(…) a promoção da saúde e a prevenção da doença.”(E11)

“Elaborar projetos e apresentar propostas para melhorar os serviços de saúde ocupacional nas instituições de saúde (…)”(E12)

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Legislação

“(…) os direitos (…) a que as pessoas têm direito (…)”(E1)

“(…) a nível de legislatura (…)”(E4)

“(…) do que é que as organizações são obrigadas a dar resposta, do que é que… a própria organização se deve munir para dar resposta à saúde ocupacional (…)”(E6)

“A legislação (…)”(E11)

“(…) esclarecer que há legislação acerca da saúde ocupacional (…)”(E12)

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Conceção da Saúde Ocupacional

“Se soubermos um bocadinho sobre a saúde ocupacional, eu acho que podemos ter (…) uma visão diferente do nosso trabalho.”(E1)

“(…) um panorama geral da saúde ocupacional e o que ela é no seu (…) fundamento.”(E10)

“(…) esclarecer o que é que é a saúde ocupacional (…) quais é que são as suas áreas de intervenção, quais são as competências de cada um dos elementos da equipa, se é que a equipa tem que ser constituída por diferentes profissionais de saúde (…)”(E12)

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Comunicação

“(…) a parte psicológica é sempre importante trabalhar (…)”(E1)

“(…) aprenderem estratégias (…) pra entrar em proximidade com os trabalhadores, (…) motivar (…) as pessoas (…)”(E5)

“(…) área da psiquiatria e da (...) saúde mental (…)”(E10)

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Programas de Prevenção e Promoção de Saúde no Trabalho

Esta subcategoria foi identificada por sete participantes que referenciaram como uma área de formação prioritária a elaboração de programas de promoção de saúde, a prevenção e a prática segura: “(…) estratégias e programas na área da promoção da saúde e do bem-estar (…)”(E2); “(…)

prevenção de doenças em contexto de trabalho (…)”(E7); “Pelo menos alertar

para as questões ambientais e de prática segura em todos os contextos (…)”(E9). A WHO (2007) corrobora esta perceção quando afirma que é de

prestar especial atenção à formação básica dos profissionais de saúde no que diz respeito às diversas temáticas da saúde ocupacional, tais como a promoção da saúde e prevenção e o tratamento de problemas de saúde dos trabalhadores, devendo esta ser uma prioridade especial nos cuidados de saúde primários. Já a Federation of Occupational Health Nurses within the European Union (FOHNEU) no currículo nuclear refere que deverão ser lecionados conteúdos relativamente à promoção da capacidade de trabalho e aos riscos profissionais (WHO, 2001b).

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Um exemplo de um programa de promoção de saúde no trabalho é o programa alargado implementado pela Portugal Telecom, cujo objetivo é melhorar o bem-estar físico e mental dos trabalhadores, através de várias campanhas de sensibilização passando pela promoção da atividade física e da boa nutrição, proteção do coração e redução da obesidade, prevenção dos riscos do tabagismo e da perda de memória, uma campanha permanente de prevenção do cancro da mama, e campanha sobre o stress, sendo estas iniciativas regulares complementadas com outras de âmbito excecional, como as relacionadas com a pandemia da gripe (European Telecommunications Network Operators Association (ETNO) e UNI Europa, 2009). Outro exemplo é o programa de promoção da saúde mental que foi implementado por uma empresa do Reino Unido, designado Mentalidade Positiva, revelando como resultados que 51% dos participantes apresentaram melhorias no seu bem-estar mental e 34% manifestaram que aprenderam algo de novo sobre a saúde mental, pelo que este programa ajudou a atenuar o impacto sobre os trabalhadores resultante de um contexto económico particularmente difícil (ETNO e UNI Europa, 2009).

Legislação

Esta subcategoria surgiu da referência feita por cinco participantes à necessidade de formação sobre a legislação referente à saúde ocupacional: “(…) esclarecer que há legislação acerca da saúde ocupacional (…)”(E12).

Como refere Rogers (2011) os enfermeiros estão cada vez mais envolvidos ao nível da promoção da saúde, da investigação, da legislação, da gestão dos serviços de saúde no trabalho, da saúde ambiental e da criação de relações sustentáveis na comunidade. Desta forma, fará sentido apresentar a legislação como uma temática na formação em saúde ocupacional, visto que os enfermeiros para realizarem a sua prática em conformidade e para poderem melhorar a mesma deverão saber o que a legislação preconiza. De igual modo, a FOHNEU afirma que a legislação deverá ser uma temática a abordar na educação dos enfermeiros do trabalho (WHO, 2001b).

97 “(…) os direitos (…) a que as pessoas têm direito (…)”(E1); “(…) do que é que

as organizações são obrigadas a dar resposta, do que é que… a própria organização se deve munir para dar resposta à saúde ocupacional (…)”(E6).

Esta temática é referenciada pelos códigos deontológicos das diferentes classes profissionais, nomeadamente pelo código deontológico do enfermeiro que preconiza os deveres dos enfermeiros e os direitos dos utentes (OE, 2009).

Conceção da Saúde Ocupacional

Esta subcategoria foi identificada por três participantes que apresentam as bases do saber em saúde ocupacional como uma área de formação a considerar: “(…) esclarecer o que é que é a saúde ocupacional (…) quais é que são as suas áreas de intervenção, quais são as competências de cada um dos elementos da equipa, se é que a equipa tem que ser constituída por diferentes profissionais de saúde (…)”(E12). As bases da saúde ocupacional

como as definições dos conceitos, as áreas de intervenção e os intervenientes são um aspeto fundamental a ter em consideração, pois só assim se poderá avançar para temáticas mais aprofundadas. A própria FOHNEU preconiza como área de formação os fundamentos da saúde ocupacional (WHO, 2001b). Desta forma, quando uma das áreas de formação é a saúde ocupacional, os conhecimentos base encontram-se inseridos nos conteúdos a lecionar, como acontece com o Mestrado em Saúde Ocupacional da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (Universidade de Coimbra, 2014) e com o Mestrado em Enfermagem Comunitária da Escola Superior de Enfermagem do Porto (ESEP) (ESEP, 2014).

Comunicação

Três participantes identificaram esta categoria, uma vez que referiram áreas para as quais é necessária a aquisição de conhecimentos e competências em comunicação: “(…) a parte psicológica é sempre importante trabalhar (…)”(E1); “(…) aprenderem estratégias (…) pra entrar em proximidade com

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comunicação define-se como um “comportamento interativo: dar e receber informações utilizando comportamentos verbais e não verbais, face a face ou com meios tecnológicos sincronizados ou não sincronizados”. Tal como refere Teixeira (2004) a qualidade da comunicação está relacionada com uma maior consciencialização dos riscos, motivação para a mudança de comportamentos, e comportamentos de adesão e de procura de cuidados, pelo que influencia o estado de saúde e a utilização dos serviços. Desta forma, melhorar a comunicação em saúde é um imperativo para os profissionais de saúde (Teixeira, 2004). Neste sentido, para que as intervenções da equipa de saúde ocupacional sejam mais eficazes, será pertinente a formação na área da comunicação. Já a FOHNEU refere que a enfermagem do trabalho tem por base uma comunicação e interação dinâmicas, devendo a comunicação fazer parte do currículo dos enfermeiros do trabalho (WHO, 2001b).

Para além destes componentes de formação mencionados pelos participantes, a ILO (2011) refere, também, que um tema que deverá ser abordado sobre a saúde ocupacional nos currículos escolares será a educação sobre os riscos profissionais, pois permitirá compreendê-los melhor e adotar atitudes positivas e preventivas face aos mesmos, reforçando, ainda, que os cursos de formação deverão focar a importância da saúde ocupacional, educando e consciencializando a população para a mesma.

Face à disciplina de Saúde Ocupacional lecionada no Mestrado em Enfermagem Comunitária pela ESEP, as temáticas abordadas têm por base conteúdos como a prevenção e promoção da saúde em contexto laboral; ergonomia, higiene e segurança no trabalho; avaliação e gestão do risco; patologia do trabalho; o papel dos profissionais de enfermagem na gestão da saúde no local de trabalho; legislação; e elaboração de programas de saúde ocupacional (ESEP, 2014). Outro exemplo é o Mestrado em Saúde Ocupacional lecionado na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, cujo plano de estudos apresenta como conteúdos a epidemiologia; bioestatística; higiene ocupacional; organização e administração da saúde ocupacional; psicologia e ciências sociais do trabalho; legislação; patologia

99 e toxicologia do trabalho; clínica do trabalho; engenharia ambiental; ergonomia e fisiologia do trabalho; e segurança do trabalho (Universidade de Coimbra, 2014).

Como é possível verificar, apesar das temáticas lecionadas, os enfermeiros referiram várias necessidades de formação em saúde ocupacional, nomeadamente ao nível da comunicação que não foi identificada nos conteúdos acima descritos.

Segundo o MTSS e ACT (2008) a relevância das matérias de saúde ocupacional nos currículos escolares nos diferentes níveis de ensino é ainda pouco expressiva, o que permite a entrada no mercado de trabalho de profissionais que não dispõem de qualificações mínimas nos domínios da saúde e segurança no trabalho.