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As Áreas de Livre Comércio brasileiras buscam promover as cidades fronteiriças

PARTE II FORMAÇÃO SOCIOESPACIAL BRASILEIRO-COLOMBIANA: AS

3 CAPÍTULO III POROSIDADE TERRITORIAL NA FRONTEIRA

3.3 As Áreas de Livre Comércio brasileiras buscam promover as cidades fronteiriças

O governo brasileiro a partir de 1989 por meio da edição de leis federais reconheceu algumas cidades amazônicas como Áreas de Livre Comércio (ALC) e concedeu benefícios fiscais a territórios que formam a Zona Franca de Manaus58 (ZFM), os quais foram sendo gradativamente estendidos a outras cidades da região amazônica sob a forma de Áreas de Livre Comércio.

Essa extensão do regime jurídico-tributário da Zona Franca de Manaus foi sendo replicado em várias outras unidades, denominadas ALCs, que passaram a ficar sob a tutela da

58 A Zona Franca de Manaus foi criada em 1967 pelo governo brasileiro da época como um modelo normativo

Superintendência da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA), como órgão fiscalizador da adequação das atividades produtivas aos requisitos legais necessários ao gozo dos incentivos fiscais (PONTES59, 2009).

Dessa forma, todos os Estados da Amazônia Legal, com exceção do mais novo Tocantins, passaram a ter pelo menos uma cidade contemplada como Área de Livre Comércio. No Amazonas, além da Zona Franca de Manaus, a cidade de Tabatinga foi considerada Área de Livre Comércio; o mesmo ocorre com a cidade de Guajará-Mirim no Estado de Rondônia; Brasiléia e Cruzeiro do Sul no Acre; no Estado de Roraima, a capital Boa Vista e Bonfim; e no Amapá, as cidades de Macapá e Santana. Essas ALCs estão submetidas a um regime jurídico tributário privilegiado que favorece o comércio e a indústria, sendo instituídas e regidas por Leis Federais.

No que concerne ao Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS), as operações praticadas por empresas situadas nas Áreas de Livre Comércio podem obter uma redução final de carga tributária em torno de 40% a 65%, em função da isenção tributária deste imposto estadual nas remessas internas e interestaduais e no crédito presumido concedido ao contribuinte adquirente das mercadorias.

Os benefícios fiscais se estendem aos tributos federais. As aquisições de mercadorias por contribuintes situados em ALCs são totalmente desoneradas de PIS60/COFINS61, o que significa uma redução de 9,25% no preço de custo de todas as mercadorias e que deve constar expressamente na nota fiscal. A entrada de mercadorias nas Áreas de Livre Comércio, destinadas ao consumo, venda ou industrialização, ficam isentas, ainda, do Imposto de Importação e sobre Produtos Industrializados (IPI).

Ao contrário dos benefícios fiscais contemplados às Zonas de Processamento de Exportação (ZPE) que são voltados ao mercado externo e exigem um aparato burocrático adicional do Fisco Federal, as Áreas de Livre Comércio têm um amplo espectro de

59 Helenilson Cunha Pontes, Doutor, Livre-Docente em Legislação Tributária pela USP (2004), Doutor em

Direito Econômico e Financeiro pela USP (2000).

60 PIS - Programa de Integração Social é uma contribuição social de natureza tributária devida pelas pessoas

jurídicas aos funcionários de empresas privadas, com objetivo de financiar o pagamento do seguro- desemprego e do abono para os trabalhadores que ganham até dois salários mínimos. A mesma contribuição relativa aos funcionários públicos é denominada de PASEP.

61 CONFINS - Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social é uma contribuição federal, de natureza

tributária, incidente sobre a receita bruta das empresas em geral, destinada a financiar a seguridade social. Sua Alíquota é de 7,6% para as empresas tributadas pelo lucro real e de 3,0% para as demais. Fonte: Secretaria da Receita Federal: < http://www.receita.fazenda.gov.br>

abrangência e praticamente só precisam da edição de uma lei federal para se transformar em realidade, haja vista o regular funcionamento da SUFRAMA, órgão que controla as operações praticadas nesses territórios privilegiados.

Ainda no mesmo ano, foi criada a Área de Livre Comércio de Tabatinga (ALCT), em 22 de dezembro de 1989, através da Lei nº 7.965. O projeto de criação da mesma para a cidade de Tabatinga-AM, originou-se de trabalhos levados a efeito através do subprojeto Piloto Tabatinga, elaborado pela Secretaria de Assessoramento de Defesa Nacional, inserido no contexto do Projeto Calha Norte e pelo Ministério do Interior. O Plano Modelo Tabatinga- Apaporis desenvolvido conjuntamente com o Governo colombiano, de acordo com a diretriz do Governo brasileiro de humanizar a faixa de fronteira e de buscar a fixação do homem na região evitando o fluxo migratório (BRASIL, [SUFRAMA], 2009).

A ALCT se constitui em uma área de livre comércio de importação e exportação com regime fiscal especial tendo a finalidade de promover o desenvolvimento da região de fronteira do extremo oeste do Estado do Amazonas. Territorialmente ficou situada à margem esquerda do rio Solimões com área contínua em superfície de 20 km2, envolvendo o perímetro

urbano da cidade de Tabatinga e integrando a faixa de superfície dos rios adjacentes nas proximidades de seu porto observadas as disposições, Tratados e Convenções Internacionais.

O regime fiscal estabelecido à Área de Livre Comércio de Tabatinga (ALCT) suspendeu os impostos de importação e de produtos industrializados dos produtos destinados às atividades de: consumo interno; beneficiamento de pescado, recursos minerais; matérias- primas de origem agrícola ou florestal; agropecuária e piscicultura; atividades de turismo e serviços; estocagem para comercialização local ou emprego em outros pontos do território nacional; atividades de construção e reparos navais; industrialização local de outros produtos autorizados pela SUFRAMA e estocagem para reexportação.

Tais privilégios foram concedidos a produtos entrados pelo porto, aeroporto ou posto de fronteira da cidade de Tabatinga, exigida consignação nominal ao importador estabelecido na ALCT. As bagagens acompanhadas procedentes da Área de Livre Comércio no que se refere aos produtos de origem estrangeira passaram a ser desembaraçadas com isenção de tributos, observado o limite estabelecido pela ZFM. Produtos nacionalizados entrados pela ALCT foram isentos de IPI. Armas e munições, perfumes, fumos e seus derivados, bebidas alcoólicas, automóveis de passageiros e bens finais de informática, não foram incluídos no benefício fiscal.

Qualquer atividade de exportação de produtos da Área de Livre Comércio de Tabatinga ficou isenta de imposto de exportação e a Secretaria da Receita Federal (SRF) foi encarregada da vigilância das áreas territoriais limites das ALCT, assim como a repressão ao contrabando sem prejuízo da competência da Polícia Federal (PF).